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2, Saraiva, 2018)
1 Conceito
As letras de câmbio representam uma ordem de pagamento dada pelo sacador ao sacado. Nesse
sentido, a única declaração de vontade essencial para o nascimento da letra de câmbio é a vontade do
sacador (saque). No nascimento da letra de câmbio, o sacado não precisa manifestar sua vontade, ele é
apenas uma pessoa indicada para a satisfação daquela ordem de pagamento, ou seja, a manifestação de
vontade de sacado não é um elemento essencial da letra de câmbio.
Nos títulos de crédito, as obrigações são assumidas mediante declarações de vontade. Ora, se o sacado
não manifestou sua vontade, não se pode imputar a ele a obrigação de pagar o título. A vontade do
sacador não é suficiente para tornar o sacado devedor do título. Assim sendo, o sacado pode, a seu
critério, efetuar ou não o pagamento dessa obrigação. Caso não o faça, o credor não pode obrigá-lo a
pagar, pois ele não assumiu nenhuma obrigação.
A título ilustrativo, imagine-se o banco (sacado) no cheque. Como sacado que é, o banco também não
manifesta sua vontade na emissão do título e, por isso, não assumiu qualquer responsabilidade. Basta a
manifestação do sacador (cliente) para fazer surgir o cheque. Caso o cheque não seja pago pelo banco, é
óbvio que ele não pode ser executado para pagar o título, pois ele não expressou sua vontade. A mesma
ideia se aplica à letra de câmbio, isto é, o sacado que não anunciou sua vontade no sentido de assumir a
obrigação de pagar o título não pode ser compelida a pagá-lo.
Por questões de segurança e proteção do crédito, o credor da letra de câmbio tem a possibilidade de
verificar se o sacado vai ou não efetuar esse pagamento. Como se trata de uma opção do sacado pagar
ou não, o credor pode indagá-lo, antes do vencimento, se ele realmente vai realizar o pagamento ou não.
O sacado tem ampla liberdade para dizer se vai fazer ou não o pagamento.
Caso ele se manifeste no sentido de que vai pagar o título de crédito, ele deve expressar essa vontade no
próprio título assumindo a condição de obrigado pelo pagamento da letra de câmbio. Ao declarar sua
vontade no sentido de que vai efetuar o pagamento, o sacado se torna devedor do título e pode ser
eventualmente compelido a realizar esse pagamento. Ele deixa de ser um mero nome indicado no
documento e passa a ser um obrigado pelo pagamento, pois manifestou sua vontade nesse sentido. Essa
declaração de vontade que torna o sacado obrigado a pagar a letra de câmbio é chamada de aceite,
que existe apenas nas letras de câmbio e duplicatas, não se encontrando no cheque ou nas promissórias.
O aceite é sempre facultativo e representa o "ato formal segundo o qual o sacado se obriga a efetuar, no
vencimento, o pagamento da ordem que lhe é dada”. (MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 5. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1995, v. 1, p. 180.). Mais detalhadamente, o aceite seria "a declaração unilateral de
vontade, facultativa, pela qual o sacado assume a obrigação de realizar o pagamento de soma indicada
no título dentro do prazo ali especificado, tornando-se assim responsável direto pela execução da
obrigação incondicional”.( SANTOS, Theóphilo de Azeredo. Do aceite. Rio de Janeiro: Forense, 1960, p.
16.) EM OUTRAS PALAVRAS, O ACEITE É "A DECLARAÇÃO CAMBIAL EM VIRTUDE DA QUAL O
SACADO MANIFESTA SUA CONCORDÂNCIA COM A ORDEM QUE O SACADOR FEZ COM A
LETRA, E SE COMPROMETE A PAGÁ-LA EM SEU VENCIMENTO Á PESSOA QUE SE
APRESENTAR COMO LEGÍTIMA POSSUIDORA”. (CARBONERES TEROL, Francisco. La acpetación
de la letra de cambio. Madrid: Tecnos, 1976, p. 23, tradução livre de "Ia declaración cambiaria en virtud de
la cual el librado manifiesta su conformaidade a la petición que el librador le ha hecho con la letra, y se
comprome a pagaria a su vencimiento a la persona que resulte su legítimo tenedor".)
Em suma, o aceite é a manifestação de vontade do sacado no sentido de que vai pagar a letra, ou seja, é
o ato pelo qual ele assume o compromisso de cumprir a ordem que lhe foi dada. Sem o aceite o sacado é
um mero nome constante do título. Com o aceite ele se torna obrigado a pagar o título. De qualquer
forma, trata-se de uma declaração cambiária sucessiva e acessória, vale dizer, não essencial, pois a letra
existe mesmo que não haja o aceite.
2. Forma
Para assumir a condição de devedor do título, o sacado deve expressar sua vontade aceitando a ordem
que lhe foi dada. Pelo princípio da literalidade, essa manifestação de vontade deve ser exteriorizada no
próprio título de crédito, mediante a assinatura do sacado ou de procurador com poderes especiais. Não
há uma fórmula solene para o aceite, podendo ser expresso das mais diversas maneiras, desde que
demonstre a intenção de se tornar obrigado pelo pagamento do título, na condição de aceitante. O STJ já
afirmou que "O aceite é ato formal e deve aperfeiçoar-se na própria cártula mediante assinatura (admitida
a digital) do sacado no título, em virtude do princípio da literalidade, nos termos do que dispõe o art. 25 da
LUG, não possuindo eficácia cambiária aquele lançado em separado à duplicata (STJ, 4, Turma, REsp
1202271/SP, Rel. MM. Marco Buzzi, j. 7-3-2017, DP 18-4-2017).
Para simplificar e agilizar a atuação do sacado, a legislação presume como aceite a simples assinatura do
sacado na frente do título, no anverso da letra de câmbio, mesmo sem qualquer indicação. Caso o sacado
assine o título no verso, tal assinatura só será considerada um aceite se for complementada por uma
declaração (não há fórmula solene) que indique que aquela assinatura é um aceite, como expressões do
tipo aceitação, aceitante ou de acordo.
John Bonham ou Aceito John Bonham
Em todo caso, o aceite deve ser firmado no próprio título, em razão do princípio da literalidade, pelo qual
vale o que está escrito no titulo (BORGES, João Eunapio. Títulos de Crédito. 2. Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1977, p. 69). Contudo, para Bulgarelli e Mamede, o aceite dado fora do título de crédito produz
efeitos normalmente (BULGARELLI, Waldirio. Títulos de crédito. 14. ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 157;
MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: títulos de crédito. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005, v. 3, p.
215), tornando o sacado devedor da obrigação. No entanto, Luiz Emygdio da Rosa Júnior sustenta que o
aceite dado em separado produz efeitos não cambiários, como um reconhecimento de dívida (ROSA
JÚNIOR, Luiz Emygdio da. Títulos de crédito. 4. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 190), mas admite a
possibilidade do aceite dado em documento separado, no caso do aceite riscado pelo sacado, nos termos
do art. 29 da LUG (REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 2,
p. 371; ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio da. Títulos de crédito. 4. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 204;
MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, v. 1, p. 193-194).
Com efeito, firmado o aceite no próprio título, garante-se ao sacado o direito de arrependimento
(CALLEGARI, Mia et al. Trattato di diritto commerciale: 1 titoli di credito. Padova: Cedam, 2006, v. 7, p.
359), isto é, uma vez que não é ele o criador daquele documento, ele pode se arrepender da obrigação
assumida. Para tanto, ele deve riscar o aceite antes de devolver o título a quem o apresentou (LUG — art.
29). Nesse caso, o aceite riscado não produz efeitos, ou seja, o sacado continua sem ter responsabilidade
pelo pagamento do título.
Todavia, se ele comunicou por escrito a qualquer dos signatários da letra que deu o aceite, ele fica
vinculado em relação a essas pessoas que receberam a comunicação. Nesse caso, protege-se a
confiança do terceiro que recebeu essa comunicação e com base nela se organizou em seus afazeres
(DE SEMO, Giorgio. Trattato di diritto cambiario. 3. ed. Padova: Cedam, 1963, p. 382.). Não se trata
exatamente de um aceite dado fora do título, mas da não produção de efeitos do cancelamento do aceite
em relação àqueles que foram comunicados (MARTORANO, Federico. 1 Citai di credito. Napoli: Morano,
1970, p. 463; ASQUINI, Alberto. 1 titoli di credito. Padova: Cedam, 1966, p. 215.). Assim sendo, a
vinculação do aceitante sempre decorrerá do ato cambiário de assinar o título, mesmo que essa
assinatura seja riscada, ressaltando, contudo, que nesse caso apenas com a comunicação escrita é que
haverá a vinculação do sacado.
Data do aceite
Em regra, o aceite não precisa ser datado. Todavia, nas letras a certo termo da vista, é fundamental
identificar o dia do aceite para poder se chegar ao dia do vencimento, uma vez que o dia do aceite
funciona como termo inicial do prazo estabelecido para o vencimento. Também é essencial a data do
aceite, quando o teor literal do título determina que a apresentação para o aceite seja feita dentro de um
prazo fixado (LUG — art. 25). Nesses casos, o aceite deverá ser datado no próprio dia em que foi dado,
salvo se o portador exigir que seja datado com o dia da apresentação.
Caso não seja colocado o dia do aceite nas letras a certo termo da vista, o portador poderá promover um
protesto por falta de data do aceite, cujo dia será estabelecido como o dia do aceite. Tal protesto não é
essencial, na medida em que, para o efeito do vencimento do título, considera-se a data do aceite o último
dia do prazo para apresentação (LUG — art. 35)12, contando-se daí o respectivo prazo.
Para Waldo Fazzio Júnior13, além das duas opções, o portador poderia inserir a data, tendo uma espécie
de mandato para tanto. Pontes de Miranda reconhece a existência de um mandato no regime do Decreto
n. 2.044/1908, mas afasta esse mandato no regime da LUG14. Embora, na prática, seja isso que ocorra,
é certo que não vislumbramos a existência desse mandato para inserir a data. Assim, acreditamos que as
soluções passam pelo protesto por falta de data do aceite, ou pela presunção de que o aceite foi dado no
último dia do prazo.
Apresentação para aceite
Nas letras de câmbio, pelo princípio da cartularidade ou incorporação, o título deve ser apresentado ao
sacado, no vencimento, para que este efetue o pagamento. Ocorre que, antes do vencimento, o
beneficiário pode estar em dúvida se o sacado vai ou não realizar esse pagamento. Nesse caso, ele pode
fazer uma apresentação para que o sacado afirme se vai ou não pagar, isto é, ele pode fazer uma
apresentação para que o sacado dê ou não o aceite. Para que esse aceite ocorra, é essencial que o
próprio título seja apresentado ao sacado para que ele firme a sua assinatura, salvo quando o sacador já
entrega o título ao beneficiário com o aceite firmado.
Como o próprio aceite é facultativo, em regra, a apresentação para aceite também é facultativa. Todavia,
pela vontade de um signatário do título (LUG — art. 22) ou de acordo com o tipo de vencimento da letra
de câmbio (LUG — art. 23), a apresentação para o aceite pode se tornar obrigatória.
12. MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, v. 1, p. 294.
13. FAZZIO JUNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2000, p. 401.
14. PONTES DE MIRANDA. Tratado de direito cambiário. Campinas: Bookseller, 2000, v. 1, p. 295.
ACEITE 119
A obrigação do aceitante é uma obrigação literal, autônoma e abstrata. Além disso, ela é mais grave que
a obrigação dos demais signatários do titulo". Ele é o devedor final da obrigação, de modo que, apenas se
o aceitante não pagar, é que os demais coobrigados podem ser compelidos a pagar. Por ter assumido a
promessa direta de efetuar o pagamento da obrigação, o aceitante responde pelo pagamento do título
independentemente da realização do protesto, ao contrário dos demais devedores, cuja execução, a
princípio, depende de um protesto tempestivo (LUG — art. 53).
Ademais, quando ele efetua o pagamento todos os outros devedores do título ficam liberados, ou seja, ele
não tem direito de regresso contra ninguém, ou melhor, não nasce nenhum direito cambiário para o
aceitante32. O pagamento feito por ele é o pagamento final do título. Em razão disso, todos os portadores
do título poderão exigir do aceitante o pagamento, isto é, todos os outros devedores do título terão direito
de regresso contra ele, inclusive o sacador33, pois se presume que o sacado recebeu algum valor ao dar
o aceite.
Por fim, nessa condição de devedor principal, a prescrição da execução contra o aceitante tem um prazo
maior (três anos do vencimento) do que contra os outros devedores (LUG — art. 70). Sendo o devedor
final da obrigação, é natural que o prazo pelo qual ele se mantém vinculado seja maior.
Falta e recusa do aceite
Nas letras de câmbio, o aceite não é obrigatório, isto é, o sacado tem a faculdade de aceitar ou não a
ordem que lhe foi dada. Sua simples indicação como sacado não lhe imputa qualquer responsabilidade,
cabendo a ele assumir ou não responsabilidade pelo pagamento do título. Mesmo que o sacador seja
credor dele, ou tenha remetido dinheiro para ele, é o sacado que escolhe se vai ou não responder pelo
pagamento do título.
Caso o sacado dê o aceite, ele se torna devedor principal e direto do título. Se não der o aceite, não surge
qualquer obrigação da sua parte, isto é, ele não integra a relação cambiária. Para o sacado, a recusa do
aceite não gera qualquer efeito.
Todavia, a recusa do aceite gera o vencimento antecipado do título (LUG — art. 43), vale dizer, a
obrigação constante do título se tornará exigível imediatamente, mesmo antes da data ali consignada.
Todos os que assinaram o título e se tornaram devedores da letra (sacador, endossantes e avalistas)
serão chamados a pagar o título imediatamente, mesmo antes da data prevista, pois garantiram que o
sacado aceitaria e efetuaria o pagamento. Com a frustração dessa promessa, sua responsabilidade se faz
presente imediatamente. Ora, se já se tem certeza que o sacado não vai realizar o pagamento da letra de
câmbio, não há motivo para aguardar.
31. WHITAKER, José Maria. Letra de câmbio. São Paulo: Saraiva, 1928, p. 154.
32. SANTOS, Theéphilo de Azeredo. Do aceite. Rio de Janeiro: Forense, 1960, p. 50.
33. MARTORANO, Federico. I titoli di credito. Napoli: Morano, 1970, p. 457.
120 CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL
Portanto, com a recusa do aceite, o beneficiário poderá cobrar o título imediatamen-te em face de todos
os signatários do título. Todavia, para exercer esse direito da cobran-ça antecipada do título, exige-se que
o beneficiário prove essa recusa do aceite. Tal prova, contudo, deve ser feita de forma solene, isto é, a lei
exige como prova da recusa do aceite o protesto lavrado pelo competente cartório (LUG — art. 44). Não
basta a declaração de recusa do sacado, a prova da falta de aceite será sempre feita pelo competente
cartório de maneira solene, atestando de forma indiscutível essa ausência do aceite. Com a prova da
recusa do aceite em mãos (protesto), o beneficiário poderá cobrar o título antecipadamente de todos os
signatários do título.
Para todos os efeitos, não interessa o motivo da não aceitação. Apesar disso, a dou-trina" distingue a falta
do aceite — quando o sacado não pode ser encontrado ou não puder firmar o aceite (morte ou
incapacidade) — da recusa do aceite — quando, embora tenha sido encontrado, ele se nega a assumir a
obrigação de pagar o título. Por questões didáticas, não faremos essa distinção. Usaremos
indistintamente as expressões falta ou recusa do aceite para demonstrar que o aceite não foi dado.
Apenas para ilustrar, podemos imaginar uma letra de câmbio com as seguintes pes-soas: ROMÁRIO
(SACADOR), EDMUNDO (SACADO) e RONALDO (BENEFICIÁRIO), com vencimento previsto para o dia
31-12-2008. No dia 4-4-2008, RONALDO (BENEFICIÁRIO) apresenta o título a EDMUNDO (SACADO), o
qual se recusa a assinar o título. No mesmo dia, para demonstrar que EDMUNDO (SACADO) não quis
dar o aceite, RONALDO (BENEFICIÁRIO) leva o titulo ao cartório que, fazendo as intimações devidas,
certifica, com fé pública, que EDMUNDO (SACADO) não aceitou o título. Com o título e o protesto em
mãos, RONALDO (BENEFICIÁRIO) poderá cobrar antecipadamente, antes do dia 31-12-2008, o título de
todas as pessoas que o assinaram, no caso apenas ROMÁRIO (SACADOR).
8 Aceite qualificado
Se o sacado pode aceitar a ordem que lhe foi dada, assumindo a condição de devedor principal, mas
também pode recusar o aceite, não assumindo qualquer obrigação, é certo que ele pode dar um aceite
qualificado, isto é, um aceite alterando alguma das condições
34. ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio da. Títulos de crédito. 4. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 200-
2CW MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, v. 1, p. 192-193.
ACEITE 121
aliem de pagamento. Dependendo do tipo de alteração imposta pelo sacado, pode-er um aceite limitativo
ou um aceite modificativo.
O sacado pode aceitar pagar todo o valor do título, mas pode também aceitar pagar valor diferente. Caso
aceite pagar mais do que está consignado, ele não responde iariamente pelo valor excedente, pois não
encontra fundamento o excesso no títu-Além disso, ele pode aceitar pagar apenas uma parte do valor ali
consignado. Esse é aceite limitativo. Nesse caso, o sacado aceita pagar menos do que o sacador havia
or-eimado (exemplo: aceito pagar 80, numa letra de valor original de 100).
Além de reduzir o valor, o sacado pode dar aceite modificativo, alterando as condições de pagamento
(local, data, moeda). Por exemplo, se o título determina que o paga-
° seja efetuado no dia 8-8-2008 e o sacado afirma que vai pagar, mas apenas no dia 10-2008, estamos
diante de um aceite modificativo. A alteração de qualquer circunstância da ordem do sacador, que não
seja o valor do título, torna a declaração da vontade sacado um aceite modificativ036.
Tal conduta do sacado gera duas ordens de efeitos: para ele e para os demais signatários.
Para o sacado, o aceite qualificado, modificativo ou limitativo o torna devedor do ;mio, nos termos em que
foi dado o aceite. Sua vontade é suficiente para assunção da obrigação e ela também vai definir os
contornos dessa obrigação. Se o título tinha o valor R$ 1.000,00 (um mil reais), mas ele aceita pagar
apenas R$ 800,00 (oitocentos reais), sacado é devedor dos R$ 800,00 (oitocentos reais), vale dizer, ele
poderá ser compelido a pagar o valor aceito, mas não o título inteiro. Do mesmo modo, se o título vencia
no dia 8-8-2008, mas ele só aceita pagar no dia 8-10-2008, ele poderá ser compelido a pagar o título na
data por ele indicada.
No entanto, para as demais pessoas do título, o aceite qualificado equivale a uma recusa. Caso o
beneficiário se contente com o aceite qualificado, ele poderá exigir que o sacado cumpra sua declaração
de vontade. Todavia, ele também poderá considerar esse aceite qualificado como uma recusa que, se
devidamente comprovada por meio do protesto, facultará a cobrança antecipada do título.
No caso do aceite modificativo, não há qualquer dúvida de que eventual cobrança antecipada do título
poderá ser feita pela totalidade do valor escrito no título, pois houve o vencimento antecipado pela recusa
do aceite. Todavia, no aceite limitativo, há uma dúvida se o vencimento antecipado seria da obrigação
inteira ou apenas da parte não aceita.
Parte da doutrina" assevera que, nesse caso, houve apenas uma recusa parcial. Assim sendo, o
vencimento antecipado seria somente da parte recusada, e não da obrigação
35. VIVANTE, Cesare. Trattato di diritto commerciale. 5. ed. Milano: Casa Editrice Dottor Francesco
Vallardi, 1924, v. 3, p. 296; MOSSA, Lorenzo. La cambiale secondo la nuova legge. Milano: Casa Editrice
Dottor Francesco Vallardi, 1937, parte prima, p. 457; WHITAKER, José Maria. Letra de câmbio. São
Paulo: Saraiva, 1928, p. 152.
36. ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio da. Títulos de crédito. 4. ed, Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 196.
37. ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio da. Títulos de crédito. 4. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 193;
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 2, p. 372; MARTINS,
ACEITE 123
Além de todas essas vantagens, é certo que não há maiores prejuízos para o beneficiário, pois tal
cláusula não impede o aceite, mas apenas a cobrança antecipada em razão da recusa do aceite. Caso o
tomador apresente a letra antes da data marcada na cláusula não aceitável e o aceite for recusado, não
haverá o vencimento antecipado da obrigação, devendo o tomador aguardar a data estipulada para tomar
as providências para a cobrança do título.
Uma vez que não será possível a cobrança antecipada, é certo que a apresentação para o aceite se torna
no mínimo desinteressante, embora não seja proibida. Ocorre que esse desinteresse na apresentação
para o aceite não é admissível em alguns títulos, de modo que em algumas situações tal cláusula será
vedada. A proibição dessa cláusula decorre da proteção do próprio interesse do sacado4°.
Ela não é admitida nas letras a certo termo da vista, porquanto é fundamental a apresentação para o
aceite, sob pena de o título não vencer. Também não se admite a cláusula não aceitável nas letras
pagáveis em domicílio de terceiro ou fora do domicilio do sacado. Nestas últimas, a proibição da cláusula
existe porque o terceiro que tem de efetuar o pagamento precisa saber se o sacado aceitou a ordem41 e
na primeira porque o título precisa ser apresentado para o aceite para poder chegar ao seu vencimento.
40. MOSSA, Lorenzo. La cambiale secando la nuova legge. Milano: Casa Editrice Dottor Francesco
Vallar-di, 1937, parte prima, p. 435.
41. REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 2, p. 372.