UPIS/2022 – Aula 2 - DIREITO EMPRESARIAL II (TÍTULOS
DE CRÉDITO)
SAQUE (Waldo Fazzio Junior – Amador Paes de Almeida – E.
Enedino – M. Tomazette – Esdras Neves) - ATOS CAMBIÁRIOS
CAMBIAL – CAMBIÁRIO – RELATIVO A TÍTULOS DE CRÉDITO
O título de crédito é constituído por um ato unilateral; a partir de então
pode manter-se até o pagamento. Pode, também, haver uma série de
atos unilaterais, que poderão, a um só tempo, FAZER CIRCULAR E
GARANTIR O PAGAMENTO DO TÍTULO
- O título de crédito nasce quando se dá o SAQUE (emissão). Através
do saque indica-se quem deve pagar o título (sacado, que pode ser o
próprio sacador). Se ocorrer o pagamento do título, este estará extinto.
SAQUE – é o ato de criação, de emissão de um título de crédito. O
sacador é coobrigado nos títulos, exceto no cheque. No cheque, o
sacador é o devedor principal.
Atos cambiários mais comuns: saque, aval, aceite, endosso, protesto.
ENDOSSO:
- ENDOSSAR É TRANSFERIR COM RESPONSABILIDADE DE
PAGAR SE O ENDOSSATÁRIO NÃO O FIZER
Na maioria dos casos, os títulos de crédito circulam através do endosso,
o que traz para o título uma nova figura: o endossatário. Cada pessoa a
quem o título é transmitido por endosso torna-se coobrigado ao
pagamento do título, na medida em que indique um novo beneficiário.
- Os títulos de crédito garantem a expansão da moeda e podem circular
como ativos financeiros. O credor de um título a vencer em 30 dias pode
vendê-lo, hoje, com desconto. Para isso, o título pode CIRCULAR por
tradição, por endosso ou , excepcionalmente, por cessão civil de
crédito.
Os títulos comportam 3 espécies: a) títulos emitidos ao portador; b)
títulos nominativos com a assinatura do beneficiário (endosso ao
portador); c) títulos nominativos com endosso em branco. Nesses
casos, a simples tradição (entrega) do título transfere sua propriedade
ao novo portador. O devedor não pode recusar o pagamento a quem
esteja de posse da cártula. Se o título é transmitido pela tradição, a
posse do título faz presumir a propriedade e, portanto, a propriedade do
crédito.
ENDOSSO - EUNÁPIO BORGES – é a declaração cambial lançada na
letra de câmbio (ou em qualquer título à ordem) pelo seu proprietário, a
fim de transferi-lo para terceiro
- o endosso corresponde a uma declaração cambiária porque
a sua falta não desnatura o documento como título de crédito;
- o endosso também corresponde a uma declaração cambial
SUCESSIVA, porque manifestada no título após a declaração
cambial originária (saque);
- CLÁUSULA À ORDEM: para que se efetive o endosso,
pressupõe-se que o título de crédito contenha a CLÁUSULA À
ORDEM. Essa cláusula é condição para que seja transferido o
título mediante o endosso. PORÉM, A CLÁUSULA À ORDEM É
PRESUMIDA NA LETRA DE CÂMBIO E NA NOTA
PROMISSÓRIA (LUG – art. 11) E TAMBÉM NO CHEQUE (LEI
7.357/85 – art. 17). EM TODOS ESSES TÍTULOS, COM OU
SEM A CLÁUSULA À ORDEM EXPRESSA, O TÍTULO PODE
SER TRANSMITIDO POR ENDOSSO. CASO SE QUEIRA
PROIBIR O ENDOSSO DO TÍTULO, DEVE SER ESCRITO
“NÃO À ORDEM” NO TÍTULO OU CLÁUSULA EQUIVALENTE.
- ao apor sua assinatura no título, o ENDOSSANTE torna-se
devedor INDIRETO, SOLIDÁRIO E DE REGRESSO, sendo este
o efeito vinculante do endosso.
- Um título de crédito pode ser transferido a outrem mediante
SIMPLES TRADIÇÃO. Entrega-se o título a terceiro. Estará
sendo transferido apenas o documento, sem responsabilidade
solidária pelo pagamento do título. A simples tradição transmite
a cártula. Exemplo: tenho um cheque não nominativo e pós-
datado emitido por Vanise; entrego esse cheque a você; isso
não me torna, automaticamente, um coobrigado de Vanise, caso
o cheque não seja pago pelo banco no dia do vencimento.
Todavia, se transfiro a você o cheque de Vanise, nominativo a
mim, mediante endosso, estou transferindo o direito ao valor
contido no documento. O endosso transmite o direito
mencionado na cártula. Do endosso resulta A
TRANSFERÊNCIA DA PROPRIEDADE DO TÍTULO e também
A GARANTIA DO PAGAMENTO PONTUAL DA OBRIGAÇÃO
CAMBIÁRIA, isto é, a responsabilidade pela realização de seu
valor.
- O endosso é uma declaração cambiária ACESSÓRIA pela
qual o credor do título de crédito (endossante) transmite seus
direitos a outrem (endossatário). É o meio próprio de
transferência dos títulos de crédito. SEU PRINCIPAL EFEITO É
FAZER O TÍTULO CIRCULAR.
O endosso, a um só tempo: A) TRANSFERE A PROPRIEDADE
DO TÍTULO E DO CRÉDITO; B) RESPONSABILIZA O
ENDOSSANTE, QUE PASSA A SER CODEVEDOR DO
TÍTULO. O endossante garante tanto a aceitação como o
pagamento do título, salvo cláusula em contrário. MAS, se o
endosso for dado acompanhado da CLÁUSULA SEM
GARANTIA, o ENDOSSANTE FICA EXONERADO DE
RESPONSABILIDADE PELA OBRIGAÇÃO CONSTANTE DO
TÍTULO, SERVINDO O ENDOSSO, NESSE CASO, APENAS
COMO TRANSFERÊNCIA DO TÍTULO.
- CUIDADO CUIDADO CUIDADO o art. 914 do Código Civil
dispõe que o endossante não se obriga pelo pagamento do
título, salvo cláusula expressa em contrário. As leis especiais
que regulam os títulos de crédito dispõem de modo diferente e
prevalecem sobre o Código Civil. Todas as normas cambiárias
especiais determinam a corresponsabilidade do endossante.
- É NULO O ENDOSSO PARCIAL OU LIMITADO A CERTO
VALOR DA DÍVIDA – o título não pode ser cindido para permitir
endosso parcial.
- No caso da letra de câmbio, endossar significa transferir,
responder solidariamente pelo aceite e garantir o pagamento.
Se o endossante paga ao endossatário, PODE RISCAR O
PRÓPRIO ENDOSSO, uma vez que o título volta a seu poder.
Torna-se credor novamente. Se o título volta ao endossante,
mesmo que o endosso não tenha sido riscado, presume-se que
o detentor seja o proprietário.
- PROIBIÇÃO DE NOVO ENDOSSO: se for proibido novo
endosso, o endossante responde pelo pagamento do
endossatário; não responde pelas demais pessoas a quem o
endossatário transferir o título. É válida a cláusula que proíbe
novo endosso. Cláusulas como “NÃO ENDOSSÁVEL” ou “NÃO
TRANSFERÍVEL”.
- Identificação do endosso: deve ser lançado no DORSO ou
VERSO do título; é a simples assinatura do endossante; se o
endosso é completo, constará a assinatura e a declaração de
que se trata de endosso e pode ser lançado no ANVERSO.
PODE SER LANÇADO NA FOLHA DE ALONGUE OU FOLHA
ANEXA, DESDE QUE ASSINADO PELO ENDOSSANTE.
- ENDOSSO PARCIAL OU LIMITADO – é ineficaz; NÃO PODE
HAVER ENDOSSO PARCIAL NO BRASIL; quem endossa
transfere INTEGRALMENTE o crédito contido no
documento; não se admite o fracionamento; O ENDOSSO
DEVE SER PURO, SIMPLES, INCONDICIONADO; é ineficaz a
restrição; considera-se não escrita
- TEMPO EM QUE DEVE SER REALIZADO O ENDOSSO:
normalmente, o endosso deve ser feito até o vencimento do
título, isto porque, vencido o título, o normal é que o credor
busque receber o título. Não é normal que o credor queira
transferir o título para outra pessoa.
ENDOSSO POSTERIOR AO VENCIMENTO DO TÍTULO –
PORÉM, nada impede que o endosso seja feito DEPOIS do
vencimento do título; esse endosso é válido e produz os
mesmos efeitos do endosso ANTERIOR ao vencimento
ENDOSSO PÓSTUMO, POSTERIOR OU TARDIO - é o
endosso efetuado depois de o título ter sido protestado por falta
de pagamento ou depois do prazo para o protesto por falta de
pagamento; ELE NÃO PRODUZ EFEITOS DE ENDOSSO; TEM
EFEITO DE MERA CESSÃO ORDINÁRIA DE CRÉDITOS
(CESSÃO CIVIL);
O ENDOSSANTE TARDIO NÃO RESPONDE PELA
SOLVÊNCIA DO DEVEDOR; ESSE ENDOSSO NÃO
REPRESENTA TRANSFERÊNCIA COM RESPONSABILIDADE.
- ENDOSSO SEM DATA - presume-se que o endosso sem data
foi lançado antes de expirado o prazo legal para o protesto.
Em termos práticos: em geral contra o endossatário podem ser
opostas as defesas oponíveis ao endossante
EXEMPLO DADO POR MARLON TOMAZETTE (resumido):
JOHN comprou uma bateria de CHARLES; para pagar a
bateria, JOHN emite nota promissória com vencimento para
16/08/2019 e a entrega a CHARLES. A bateria não foi
entregue a JOHN. Porém, CHARLES endossou a nota
promissória para RICHARD. Em regra o endosso transfere
um direito novo e, por isso, RICHARD teria direito a receber
o valor relativo à Nota Promissória, porque seu direito
independe do direito do endossante. Supondo que o endosso
tenha ocorrido em 25/08/2019, sendo um endosso póstumo ou
tardio. Nesse caso, RICHARD não recebeu um direito novo,
mas um direito derivado, o mesmo direito que CHARLES
possuía. Se JOHN não tem que pagar CHARLES, porque a
bateria não foi entregue, não terá que pagar também a
RICHARD, pois o direito é o mesmo. Ambos se sujeitam às
mesmas defesas.
-CLASSIFICAÇÃO:
Endosso próprio: é aquele ato cujo objeto é a transferência da
propriedade do titulo de crédito em favor do endossatário; o
endosso é translativo; o endossatário fica legitimado para o
exercício de TODOS os direitos previstos no título de crédito.
Endosso impróprio: é aquele que se destina a legitimar a
posse de certa pessoa sobre um título de crédito, SEM lhe
transferir o direito creditício; tem aplicação em situações em que
é preciso separar a titularidade do direito constante do título de
crédito, da posse da cártula que documenta o mesmo, a fim de
possibilitar que terceira pessoa diversa daquela que é
proprietária do título de crédito exerça algum ou alguns dos
direitos decorrentes do referido título, tais como protestá-lo,
cobrá-lo ou dar quitação.
A qualificação do endosso como impróprio deve-se exatamente
à sua peculiaridade de não produzir o efeito principal inerente ao
endosso que é o de transferir a titularidade do crédito
documentado no titulo creditório.
São espécies de endosso impróprio o endosso-mandato e o
endosso-caução.
I – ENDOSSO PRÓPRIO:
- ENDOSSO TRANSLATIVO DE PROPRIEDADE – É O
ENDOSSO PRÓPRIO: PODE SER ENDOSSO EM PRETO OU
COMPLETO, quando indica o endossatário na frente ou no
verso do título; ENDOSSO EM BRANCO OU AO PORTADOR,
quando não indica o endossatário (só pode ser anotado no
verso).
PORTANTO, O ENDOSSO EM PRETO – contém a indicação do
beneficiário (endossatário); endosso em branco (simples
assinatura do endossante). O primeiro é nominal e o segundo é
ao portador; O art. 19 e § 2º, da Lei n. 8.088/90 determinam que
devem ser emitidos os títulos sob a forma nominativa , com
transmissibilidade via endosso em preto, pena de inexigibilidade
dos créditos neles representados.
O endossatário adquire os direitos inerentes ao título de modo
autônomo, desde que esteja de boa-fé. Ele recebe esses
direitos completamente desvinculados da situação do
endossante. Os problemas ligados ao direito do endossante não
seguem o título no endosso. O endossatário de boa-fé terá
direito de receber o valor constante do título, ainda que o
endossante não tivesse esse direito por fatos que somente a ele
dissessem respeito. O endosso tem uma força renovadora dos
direitos inerentes ao título, simplificando e protegendo a
circulação dos créditos.
II – ENDOSSO IMPRÓPRIO:
- II.1 - Endosso mandato ou endosso procuração (contém a
expressão para cobrança ou por procuração) – o endossante
indica o endossatário como seu procurador, outorgando-lhe
poderes para cobrar, executar, protestar e receber o título. São
acrescentadas expressões como: “valor a cobrar”, “para
cobrança”, “por procuração”. Traduz um mandato, ensejando ao
endossatário o exercício dos direitos emergentes do título, mas
só lhe permitindo endossar como procurador. Pelo endosso
mandato o endossante não transfere a propriedade do título (é
IMPRÓPRIO); ao contrário, o endossante apenas confere
poderes ao mandatário para agir em nome, dele, endossante; o
endossante não transfere seus direitos; ele outorga a outrem a
aptidão de exercer os direitos que possui sobre o título. Não há
translatividade
Exemplo: o BANCO que não opera com diligência que lhe cabia
na cobrança da cambial, de que é endossatário-mandatário, e
entrega ao devedor, devidamente quitada, mediante o
pagamento por meio de cheque falso, deve responder pelos
prejuízos a que deu causa
Porém, como não há transferência da propriedade do título, o
MANDANTE é responsável pelos atos praticados por sua ordem
pelo endossatário-mandatário.
IMPORTANTE: o mandato proveniente do endosso não se
extingue com a morte ou sobrevinda de incapacidade legal
do mandante (art. 18, alínea 3, LUG), o que o distingue do
mandato comum, que se extingue pela morte ou
incapacidade de qualquer das partes.
- II.2 - ENDOSSO CAUÇÃO OU PIGNORATÍCIO – o título é
transferido ao endossatário apenas como garantia de alguma
obrigação. O endossatário recebe, além do título como
documento, os poderes para cobrar e receber o valor do título.
Formaliza-se o endosso-caução pela inserção de expressões
como “VALOR EM CAUÇÃO”, “VALOR EM PENHOR”, “VALOR
EM GARANTIA”. Cumprida a obrigação garantida pelo penhor,
o título retorna ao endossante.
O endossatário exerce direito que lhe é próprio, assegurado
pelo título creditício, pois não é mero representante do credor
originário.
Segundo a Lei Uniforme, quando o endosso contém a menção
“valor em garantia”, “valor em penhor”, ou qualquer outra
menção que implique uma caução, o portador pode exercer
todos os direitos emergentes da letra; mas qualquer endosso
feito APÓS o endosso-caução só vale como endosso-
procuração.
- ATENÇÃO: uma assinatura sem identificação da finalidade,
feita no dorso do título, será um ENDOSSO. Se há duas
assinaturas no verso do título, sem declaração expressa da
finalidade, uma representa endosso em branco e a outra
representa um aval.