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Introdução ao Estudo do Direito II

1.º Ano Noite – Exame final da época de coincidências

19 de julho de 2016

Suponha ter sido hoje publicada uma Lei nos termos de cujo artigo único “Não podem aceder à
profissão de professor dos graus de ensino básico e secundário, bem como à de educador de
infância, quaisquer pessoas condenadas por crime de pedofilia”.

a) Quando entra em vigor a Lei? (1 v.)


- Na falta de disposição legal de previsão de vacatio legis, conforme o disposto no n.º 1 do
artigo 2.º da Lei-Formulário, aplica-se o prazo de vacatio legis de 5 dias do n.º 2 do mesmo
artigo, havendo o aluno de ter presente a noção de vacatio legis;
b) Se, de hoje a um ano, entrasse em vigor um regime geral da carreira dos educadores
de infância e dos professores do ensino básico e secundário, com normas sobre o
acesso à profissão que não contivessem a proibição de acesso às ditas profissões por
parte de condenados por crime de pedofilia, poderia sustentar-se que semelhante
proibição deixaria de vigorar? (2 v.)
- Equacionar a relação entre lei geral - da careira em geral - e lei especial - que tutela a
componente criminal -, colocando o problema interpretativo ao abrigo do n.º 3 do artigo
7.º do Código Civil e, nomeadamente, de se poder observar na lei posterior uma intenção
inequívoca de derrogar a norma criminal, o que era difícil; tudo a ter por antecedentes o
domínio dos critérios da posteridade e da especialidade como critérios de prevalência
conflituantes entre si;
c) Se Abel tivesse sido condenado por prática de pedofilia há quinze anos atrás, poderia
candidatar-se à carreira de educador de infância no concurso de ingresso à carreira
que abrisse daqui a um mês? (3 v.)
- Não, pois, daqui a um mês, ele cairia sob o âmbito de aplicação da lei nova e, à luz da lei
nova, era prejudicado por ter praticado um crime anteriormente. Trata-se de retroconexão
e não de retroatividade, pois o facto constitutivo - ingresso na carreira - é posterior à
entrada em vigor da lei: simplesmente, é influenciado por um facto pressuposto que é
anterior a essa entrada em vigor - prática do crime.
d) Que tipo de sanção está previsto na Lei da hipótese? (1 v.)
- Subjetiva, punitiva, de natureza criminal.
e) Independentemente do acesso à profissão de Professor, se Abel fosse, amanhã,
surpreendido num parque praticamente em vias de perpetrar um ato de pedofilia com
uma criança relativamente indefesa, e Bento, porque o surpreendesse e trouxesse
consigo uma arma para cujo porte estava licenciado, disparasse sobre Abel para livrar
a criança de semelhante crueldade, causando a morte ao mesmo Abel, deveria ser
Bento condenado por homicídio? (3 v.)
- Tendencialmente, não. Pressupostos da legítima defesa em princípio reunidos - devem
ser indicados na resposta -, derrogação da parte final do n.º 2 do artigo 337.º do Código
Civil pelo artigo 32.º do Código Penal.
II

Responda a três das seguintes questões (2 v. cada):

a) Como se distingue a revogação expressa da revogação tácita?


- Enunciação do critério de distinção baseado na indicação expressa das normas a revogar
ou na simples incompatibilidade entre norma anterior e posterior.
b) Como se distingue a vagueza da polissemia?
- Vagueza como compreensão do conceito com fronteiras não totalmente explicitadas pela
linguagem; polissemia enquanto susceptibilidade de um termo comportar, segundo o
código de equivalências semânticas da língua, vários significados.
c) Lei geral pode revogar lei especial?
- Problemática do n.º 3 do artigo 7.º, discutir.
d) Como carateriza sinteticamente o funcionalismo jurídico?
- Escola de pensamento jurídico em que o Direito é encarado como instrumento de
prossecução de fins sociais em si mesmo não jurídicos: a democracia política, o
totalitarismo, determinada ordem económica, o domínio de certas maiorias ou a
salvaguarda de certas minorias, etc... Discriminar as espécies e desenvolver a ideia.

III

Desenvolva um dos seguintes temas (3 v.):

a) Em Estado de Direito democrático, um jurista há-de ser, por definição e por imperativo
da ordem jurídica, positivista.
- Conceito de Estado de Direito democrático; positivismo/positivismos; a tendencial
submissão dos operadores jurídicos, no Estado de Direito, à normatividade constitucional,
seu sentido e limites; pré-compreensões e janelas do sistema, seu lugar.
b) A intangibilidade do caso julgado não é prescrita pela ordem jurídica portuguesa.
- Considerar o n.º 3 do artigo 282.º da Constituição e as proibições constitucionais de
retroatividade; discutir o alcance geral ou especial dessas mesmas normas; relacionar a
questão com o princípio do Estado de Direito e suas concretizações ao nível da separação
de poderes, da segurança jurídica e da proteção da confiança.

Redação e sistematização: 1 valor

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