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I. Introdução
Os Direitos Reais consistem num ramo do Direito Civil que tem por base os direitos subjetivos,
nomeadamente os direitos de crédito (incidem sobre pessoas) e os direitos reais (incidem sobre
coisas).
O Direito das Coisas corresponde ao direito que regula a atribuição de coisas corpóreas come
eficácia real perante terceiros. Tal como defende OLIVEIRA ASCENSÃO, o Direito das Coisas
disciplina a atribuição das coisas em termos reais.
Tem as seguintes características:
• Natureza patrimonial
• Liberdade e igualdade – têm tutela constitucional (art. 62º/1 CRP)
• Fora do âmbito comercial
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GOMES DA SILVA confronta dos direitos de crédito com os direitos reais da seguinte forma:
• O direito fundamental do credor tem por objeto exclusivamente um ato humano; os
direitos que se exercem diretamente sobre coisas hão de diferir sempre ao direito à
prestação
• O fim do direito de crédito deve alcançar-se por meio de um ato humano enquanto que
o objetivo dos direitos reais se consegue pela utilização direta das coisas
• Define o direito subjetivo como afetação autónoma de um bem à realização de um ou
mais fim de pessoas individualmente consideradas
Para o PROF. PEDRO DE ALBUQUERQUE, poder e direito subjetivo são realidades distintas, e
por isso o direito subjetivo não é um poder, nem o direito real é um poder
OLIVEIRA ASCENSÃO defende que os direitos reais são direitos subjetivos absolutos, inerentes
a uma coisa e funcionalmente dirigidos à afetação desta aos interesses do sujeito.
• Os direitos absolutos são não relativos, por serem independentes de uma relação
• A inerência respeita à coisa, que está de tal maneira afetada pelo direito que não pode
ser desvinculado deste na ausência de causalidade; a coisa continua a ser objeto do
direito real mesmo que passe por 1000 mãos
Segundo MENEZES CORDEIRO, Um direito real é uma permissão normativa específica de
aproveitamento de uma coisa corpórea. Considera que esta distinção entre direito de crédito e
direito real, segundo a qual os direitos reais são direitos absolutos, não tem cabimento no
Direito português.
• Circunstância de alegadamente existirem direitos reais inoponíveis – hipóteses em que
um direito real, por força das regras do registo e da aquisição tabular, em que o titular
de um direito real vê formar-se contra si uma posição contrária à sua
• Ao contrario do que seria pretendido pelo OLIVEIRA ASCENSÃO, haveria direitos reais
não absolutos, na medida em que afastada a ideia de que o aproveitamento
proporcionado pelo direito real, existiria a possibilidade de direitos reais relativos – ex.
servidão de vistas pela qual o beneficiário, podendo abrir janelas a menos de 1,50m de
sua extrema, aproveitaria a obrigação do vizinho de não construir a menos de 1,50m
(1362º CC)
• A diferenciação entre direitos de crédito e de direitos reais dependeria do respetivo
regime, sublinhando o facto de o direito civil não estar só na lei; muita da sua
problemática surge no plano dos problemas concretos que o intérprete-aplicador não
pode deixar sem solução
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Em relação aos direitos reais de gozo, a oponibilidade erga omnes pode ser exercida através de,
p.e., uma ação de reivindicação (art. 1311º a 1315º CC). Quanto aos direitos reais de garantia,
será através dos rendimentos da coisa.
3.2. Inerência
Significa que os direitos reais estabelecem coma coisa uma relação especialmente intensa, já
que a coisa corpórea não pode se separar do direito real, por ser o seu objeto. Para além disso,
a coisa deve ser existente, certa e determinada para pode ser objeto de um direito real.
3.3. Sequela
Constitui uma manifestação da inerência, e significa que titular pode ir buscar a coisa,
independentemente de quem for o seu possuidor.
O direito, a partir do momento em que seja constituído, não se afasta da coisa; ou seja,
continua a haver direito real independentemente de onde esteja a coisa.
Isto significa que, p.e., numa ação de reivindicação, o titular pode sempre buscar a coisa,
mesmo que tenha sido transmitida para um terceiro de boa-fé.
3.4. Prevalência
Significa que o direito real que se constitui em 1º lugar prevalece sobre os que se constituam ou
registem posteriormente, mesmo que o direito posterior seja um direito de crédito.
Ex. A vende um imóvel a B que, por sua vez, vende-o a C. A propriedade do imóvel
pertence a B, salvo se C registar o imóvel 1º.
O principio da prevalência tem 2 dimensões:
1. Os direitos reais, em caso de se encontrarem em situação de conflito, prevalecem por
ordem de prioridade (ex. alguém vende 2x o mesmo bem)
a. PIRES DE LIMA - temos uma manifestação do princípio da prevalência, na medida
em que o 1º direito prevalece perante o 2º, nos termos do art. 1578º e 1579º CC
b. PINTO COELHO e PROF. PEDRO DE ALBUQUERQUE – estão contra, por
entenderem que só se pode falar em prevalência quando há um conflito efetivo
de direitos; neste caso, o 2º ato é nulo e, portanto, não dá origem a nenhum
direito que se possa dizer que está em conflito com o 1º direitos
Não havia impedimento a que a ideia de prevalência seja usada para significar que o
1º direito impede o aparecimento do 2º, muito embora a questão se aparente como
meramente vocabular. Por isso, há quem entenda que o princípio da prevalência se
circunscreve apenas a alguns direitos reais, concretamente no âmbito dos direitos
reais de garantia.
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• Coisas móveis – todas as que não sejam coisas imóveis (art. 205º CC)
o Simples – não se podem decompor noutras coisas sem que percam a identidade
o Compostas– resultam de várias coisas simples que, unidas, passam a ser
consideradas uma única coisa; p.e., automóvel
▪ Universalidades de facto – pluralidade de coisas pertencentes a uma
mesma pessoa
o Fungíveis – estão determinadas pelo seu género, qualidade e quantidade (art.
207º CC)
o Infungíveis – estão individualmente determinadas
▪ Se as coisas não estiverem totalmente determinadas não podem ser
objeto de direitos reais, apenas de direitos de crédito
o Consumíveis – coisas cujo uso regular conduz à alienação ou destruição (art. 208º
CC)
o Não consumíveis
▪ Duradouras – não se deterioram com o seu uso regular (p.e., estátuas)
▪ Deterioráveis – deterioram-se com o uso regular (p.e., alimentos)
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o Divisíveis – coisas que podem ser fracionadas sem que haja alteração da
substância, diminua o seu valor ou prejuízo para o seu uso (p.e., terreno)
▪ Podem ser criados limites – legais ou convencionais – à divisão da coisa
▪ Determina a extinção do direito real sobre a coisa e a criação de novos
direitos reais sobre as parte fracionadas
o Indivisíveis
o Principais – não estão subordinadas a qualquer outra coisa
o Acessórias (ou pertenças) – não são partes integrantes, mas são afetadas ao
serviço de uma coisa principal
▪ Segundo CASTRO MENDES, pelo princípio da boa-fé, não se pode aplicar o
art. 210º CC às coisas acessórias sem valor autónomo; neste caso aplica-se
o nº2
▪ O PROF. MENEZES CORDEIRO entende que se pode afastar o 210º/2 CC
por via da interpretação ou dos deveres acessórios resultantes da boa-fé
o Presentes – coisas que existem naquele momento e que pertencem a
determinado titular
o Futuras – ainda não existem ou ainda não pertencem ao disponente (art. 211º
CC)
o Frutos – tudo o que uma coisa produz esporadicamente, sem que se altere a sua
substância (art. 212º CC)
▪ Naturais – os que provém diretamente da coisa (frutos orgânicos)
• Quem colher prematuramente os frutos naturais está obrigado a
restituí-los (art. 214º CC)
▪ Civis – rendas e interesses que a coisa produz em virtude de uma relação
jurídica
▪ Pendentes – já foram produzidos pela coisa, mas ainda não foram
separados desta
▪ Percebidos – foram separados da coisa principal por ação humana
o Benfeitorias (art. 216º/1 CC) – todas as despesas feitas para conservar ou
melhorar a coisa
▪ Necessárias – visam evitar a perda, destruição ou deterioração da coisa
▪ Úteis – não são indispensáveis mas aumentam o valor
▪ Voluptuárias – servem apenas para recreio do benfeitorizante
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Quanto às obrigações propter rem, já que são obrigações cujo devedor é determinado pela
titularidade de um direito real.
Fazem parte do conteúdo do direito real estas estão sujeitas ao princípio da tipicidade do art.
1306º/1 CC, já que vinculam o titular do direito real, pelo que não estão sujeitas ao princípio da
autonomia privada.
o Se forem constituída obrigações fora dos casos previstos na lei, a obrigação é
considerada comum
Tendo em conta que acompanha o direito real, a partir do momento em que este se transmite,
também se transmite a obrigação propter rem, passando a vincular o titular do direito.
Mas se a obrigação se tiver vencido enquanto a coisa estava na titularidade do alienantes, já
não se transmite, uma vez que o vencimento passou a vincular o titular do direito real.
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o Nas obrigações propter rem o titular só fica vinculado ao cumprimento das prestações
que se constituíam na vigência do seu direito
o No ónus real, fica vinculado ainda ao cumprimento das prestações anteriores à aquisição
do direito
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Outra classificação: direito real maior (atribui ao titular todas as faculdades inerentes à coisa)
VS direito real menor – não atribuem todas as faculdades inerentes à coisa).
Teoria do desmembramento – os direitos reais menores são formados através da
fragmentação do direito de propriedade
Teoria da oneração (PROF. MENEZES CORDEIRO e OLIVEIRA ASCENSÃO) – os direitos
reais menores surgem de um direito novo em termos de conteúdo e que comprime o
direito real maior; mas que, pela sua elasticidade, possa recuperar o seu conteúdo
original
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II. A posse
Segundo o art. 1251º CC, a posse é um poder que se manifesta quando alguém atua por forma
correspondente ao exercício do direito de propriedade ou de outro direito real. Poderá ser um
direito efetivo ou um direito real, que pode ser um direito efetivamente existente (p.e., quando
alguém simultaneamente é proprietário e possuidor) ou pode ser um direito meramente suposto,
que não existe, p.e., quando um possuidor se comporta como proprietário, mas não é.
A posse é uma situação jurídica que corresponde ao exercício fáctico de poderes sobre as
coisas, através do qual se tutela a exteriorização do direito, independentemente da sua
titularidade.
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Para OLIVEIRA ASCENSÃO, que defende uma conceção objetiva da posse, vem dizer que o
sentido desse preceito é de atribuir relevância negativa à vontade, no sentido em que, por
força desse preceito temos uma situação em que a vontade do possuidor não confere a
posse, antes a retira em situações que normalmente seriam de posse.
Para JOSÉ ALBERTO VIEIRA, corresponde aos casos de constituto possessório, em que a
posse se transmite para o adquirente da coisa. Por isso a alínea a) tem uma formulação
objetivista, uma vez que a referência à intenção não serve para transformar toda a
detenção em posse. Vem ainda dizer, numa 1ª fase, que a vontade não tem valor
constitutivo da posse; quanto muito, terá um valor negativo, no sentido em que não
confere posse, mas que afasta a aplicação do regime da posse em situações que seriam de
posse.
Tanto OLIVEIRA ASCENSÃO e JOSÉ ALVERTO VIEIRA defendem que determinadas
situações de poder material não dariam lugar à posse sempre que o sujeito manifestasse
uma vontade negativa de ser possuidor, isto é, que não quisesse ser possuidor. Isto pelo
facto de a posse não dar apenas origem a direito mas também a deveres, e por isso não
ser admissível que o sujeito que tenha o poder material sobre a coisa através de um
protesto em sentido contrário, afastar a aplicação destes mesmos deveres. No limite, o
autor do furto, por muito que não queria ser possuidor, é de facto possuidor, e aplicam-
se-lhe as consequências de ser possuidor. Por outro lado, no âmbito da teoria do
negócio jurídico, o protesto em sentido contrário ao comportamento efetivo tido, não
levar à destruição e à aplicação do regime que responde ao comportamento efetivo e
material.
• O PROF. PEDRO DE ALBUQUERQUE defende que a crítica que JAV faz a MC no que
diz respeito ao 1253º/a) não tem fundamento, este preceito faz referência a
situações em que há uma degradação, por força de um determinado regime, do
controlo de facto em situações de detenção, mas também deve juntar-se a isso a
situação do constituto possessório.
Para o PROF. PEDRO DE ALBUQUERQUE, aplica-se a teoria da causa para enquadrar o 1253º/a),
para o qual ficam abrangidas as seguintes situações:
1. As situações que correspondem ao exercício do poder de facto sobre bens de domínio
publico
2. As hipóteses do art. 2096º/2 CC
3. Os casos em que se assiste ao constituto possessório em que o alienante do direito real
que transmite a sua posição passa de possuidor a mero detentor, mesmo que conserve
o controlo material sobre a coisa, e o novo possuidor é o adquirente do direito real
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2. Âmbito da posse
Tendo em conta que o art. 1251º CC se refere ao exercício do direito de propriedade ou de
outro direito real, podemos considerar que a posse só pode ter por objeto coisas suscetíveis de
serem tuteladas por um direito real.
Segundo o art. 1302º CC, a posse só pode ter por objeto coisas corpóreas – móveis ou imóveis –
, não podendo incidir sobre coisas incorpóreas, sobre coisas fora do comércio ou sobre coisas
insuscetíveis de apropriação individual.
• Prédios rústicos e urbanos – a posse vale quanto aos respetivos limites horizontais e
verticais
• Águas – a posse vale quanto à sua massa individualizada pela sua localização
• Energia – a posse vale para quem a emite ou a conduz
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3. Classificação da posse
OLIVEIRA ASCENSÃO e CARVALHO FERNANDES distinguem a posse como categoria jurídica e
como regime:
• Como categoria jurídica, a posse é ampla, e abrange todas as situações em que são
concedidas ações possessórias.
• Enquanto regime, a posse só se aplicaria aos direitos reais de gozo
Segundo o art. 1258º CC, a posse pode ser:
• Titulada ou não titulada
• De boa ou de má-fé
• Pacífica ou violenta
• Pública ou oculta
• Causal ou formal
Classificações do PROF.
• Civil ou interdital MENEZES CORDEIRO
• Efetiva ou não efetiva
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seja substancialmente inválido (art. 1259º/1 CC), o vício de forma gera uma posse não
titulada, mesmo que haja eficácia real para a aquisição do direito de propriedade.
Imaginemos que o negócio jurídico que fundava a posse era considerado inválido, neste caso
haveria na mesma posse titulada; ou seja, há posse titulada independentemente da validade
material do negócio jurídico.
Segundo o art. 1259º/2 CC, o título não se presume, devendo este ser provado por quem o
invoca.
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O PROF. MENEZES CORDEIRO considera que a posse pública é definida como tal, não por
referência ao momento da sua constituição, mas antes de acordo com o modo como é
exercido. Ou seja, a posse pode passar de oculta a pública (e vice-versa), pelo modo como é
exercida; nesse sentido parece apontar o art. 1297º CC.
O PROF. PEDRO DE ALBUQUERQUE defende que uma posse totalmente oculta desde o início
do exercício dos atos materiais não é uma verdadeira posse.
O art. 1267º CC refere-se às situações de perda de posse e o nº2 refere-se à perda de posse
quando a nova posse for tomada publicamente ou ocultamente:
• Se foi tomada publicamente, e se ela se mantiver pública por mais de 1 ano, isso
significa que o antigo possuidor perde a posse, quer tenha conhecimento da nova posse,
quer não tenha (1267º/1d) e 2 CC)
• Se for tomada ocultamente, ela só origina a perda da anterior posse se for do
conhecimento do esbulhado (1267º CC)
A posse do antigo possuidor mantém-se durante 1 ano, e concorre com a posse do novo
possuidor; depois desse ano, cessa a posse do antigo possuidor e subsiste a do novo.
A posse oculta não pode ser registada (art. 1295º/2 CC) e não permite a contagem do prazo
para a usucapião (art. 1297º e 1300º/1 CC).
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4. Vicissitudes da posse
4.1. Constituição da posse
4.1.1. Apossamento:
Consiste na prática de atos materiais sobre a coisa, de forma repetida e com publicidade, ou
seja, há um aproveitamento direto da coisa.
Os atos materiais devem corresponder a uma forma de apropriação da coisa:
• Nas coisas móveis, deve implicar a deslocação para a esfera de atuação do novo
possuidor
• Nas coisas imoveis, deve implicar o efetivo aproveitamento do imóvel, p.e., com a sua
habitação
Também têm de corresponder ao exercício de determinado direito sobre a coisa e devem ser
reiterados, ou seja, repetidos, uma vez que a posse pressupõe que haja uma certa duração da
relação com a coisa.
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posse. Dizendo que, em todos os casos em que alguém celebra um contrato transmissivo de um
direito real, a posse se transmite automaticamente por mero efeito do contrato, havendo um
causa jurídica de transmissão da posse, independentemente da transmissão do controlo
material da coisa.
No âmbito do constituto possessório, JOSÉ ALBERTO VIEIRA defende que existem 3 requisitos:
1. Existência de um negócio jurídico de transmissão de um direito real de gozo
2. O facto de o transmitente do direito real ser efetivamente possuidor
3. Existência de uma causa para detenção
a. Podia constituir um contrato. Ex. o comprador celebra, ao mesmo tempo que,
realiza, um outro contrato de cv com o comprador, nos termos do qual se
constitui um direito que requer uma atuação material sobre a coisa) – a doutrina
defende que o comprador adquire a posse anterior do transmitente vendedor e
referente ao direito real transmitido, mesmo que, em cumprimento do contrato
celebrado, o alienante vendedor permanece com a coisa em seu poder. A vende
a B um pc e, ao mesmo tempo, celebra um contrato de locação por força do qual
o vendedor pode conservar o pc– ainda assim, não obstante A ter conservado a
coia em seu poder, a posse transmite-se para o adquirente, mesmo que, em
cumprimento do 2º cotrato, a coisa permanece sujeita ao controlo material do
alienante.
b. De acordo com JAV, a possibilidade de, em vez de haver 2 negócios distintos,
termos um só contrato no qual é aposto uma cláusula em que se permite ao
alienante conservar o poder material sobre a coisa. Ex. compra e venda com
reserva de usufruto, por força do qual A vende o pc a B, mas reserva para si o
usufruto do pc; nós temos aqui uma situação em que há um contrato de cv com
uma cláusula de reserva de usufruto, que justifica a transferência da posse, por
força do regime do constituto possessório, sem que haja entrega da coisa.
Todavia, JOSÉ ALBERTO VIEIRA sé Alberto Vieira e a generalidade da doutrina defendem que,
não ocorrendo uma 2ª causa justificadora, a não entrega da coisa ao adquirente do direito real
não determinaria a transferência da posse, como consequência da vontade das partes.
A causa jurídica de um constituto possessório seria uma figura que poderia levar à transferência
da posse, verificados estes 3 pressupostos. Exige como requisito da transmissão da posse uma
vontade das partes a permitirem que o alienante possuidor e que transmite possa conservar a
coisa em seu poder – sem isso, não há constituto possessório.
O PROF. PEDRO DE ALBUQUERQUE defende que nada impediria a possibilidade de o
constituto possessório funcionar sem qualquer convenção nesse sentido. A questão está
em saber se, à luz da conceção objetivista da posse, se pode considerar que o art. 1264º
estar para a posse como o art. 408º para os direitos reais. Defende que sim, porque a
tradição deixou de ser necessária para a transmissão do direito real; por isso se debateu
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se, em virtude do mero contrato ou título, não se devia operar também a transferência
da posse.
Se o alienante for também possuidor, permitindo ao adquirente o recuso do regime da posse,
independentemente de a coisa lhe ter sido entregue; esta situação tem tido expressão em
alguma doutrina, onde aparecem manifestações de que o constituto possessório opera a mera
transmissão da posse, independentemente de qualquer vontade no sentido da transmissão da
posse ou de qualquer transferência do poder material sobre a coisa.
A ideia subjacente a este entendimento vai, todavia, normalmente na linha das
orientações subjetivistas da posse, pelo que o PROF. PEDRO DE ALBUQUERQUE rejeita
esta entendimento por defender uma conceção objetivista da posse. A questão que
devemos colocar é se a posse se pode transmitir apenas com a transmissão do direito
real, independentemente da transferência do poder de facto sobre a coisa.
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5. Efeitos da posse
5.1. Direitos do possuidor
Presunção de titularidade do direito: segundo o art. 1268º CC, presume-se que o possuidor
tem a titularidade do direito, dispensando-se a prova de titularidade para exercer a posse. Mas
esta presunção não atribui a titularidade do Direito a quem tenha a posse da coisa (não vigora o
princípio de “posse vale título”).
Só não se verifica a presunção se outra pessoa tiver registado a aquisição da coisa antes do
início da posse por outra; neste caso, a presunção vale a favor de quem registou a coisa.
Direito de uso da coisa, que corresponde ao exercício da posse sobre ela. Há direito (lícito) de
uso da coisa nos casos de boa e de má-fé, já que só há responsabilidade do possuidor só ocorre
com a perda ou deterioração da coisa (art. 1269º a contrario CC); ou seja, o simples uso da
coisa não incorre o possuidor no dever de indemnizar.
Direitos aos frutos percebidos da coisa, que é atribuído ao possuidor de boa-fé, nos termos do
art. 1270º CC. O possuidor de má-fé deve restituir os frutos e responde nos termos do art.
1271º CC. Está subjacente o poder de fruição que legitima o titular de boa-fé a reclamar os
frutos pendentes e percebidos até ao momento em que souber que está a lesar o direito de
outrem.
Direito ao pagamento dos encargos da coisa, em caso de não atribuição dos frutos, que é
atribuído pelo art. 1272º CC; o titular do direito e o possuidor estão obrigados ao pagamento
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dos encargos da coisa, no período a que respeitam esses encargos – decorrência da proibição
do enriquecimento sem causa do art. 473º CC. O possuidor de má-fé está obrigado a restituir os
frutos, mas poderá ser indemnizado pelos custos relativos à produção e colheita, desde que
não sejam superiores ao valor dos respetivos frutos (art. 215º/2 CC).
Direito ao reembolso das benfeitorias realizadas pelo possuidor da coisa, que pode ser
exercido perante o proprietário da coisa. Mas o regime pode variar consoante se trate de
benfeitorias necessárias, úteis ou voluptuárias (art. 216º CC).
• Benfeitorias necessárias – o possuidor pode sempre pedir uma indemnização pela sua
realização (art. 1273º CC)
• Benfeitorias úteis – o possuidor pode levantar as benfeitorias desde que não deteriore a
coisa; se isso não for possível, será indemnizado nos termos do enriquecimento sem
causa (art. 1273º CC)
• Benfeitorias voluptuárias – o possuidor de boa-fé pode levantar as benfeitorias sem
deteriorar a coisa; se isso não for possível, não tem direito a indemnização; o possuidor
de má-fé pede as benfeitorias, de qualquer forma (art. 1275º CC)
Direito de indemnização por esbulho da coisa, nos termos do art. 1284º CC
Aquisição da propriedade por usucapião, nos termos do art. 1287º CC
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Responsabilidade pelos frutos que um proprietário diligente teria obtido, em caso de má-fé,
relativamente aos frutos que a coisa produziu até ao termo da posse, respondendo ainda pelo
valor deles (art. 1271º CC) – decorrência da proibição do enriquecimento sem causa
Obrigação de pagamento dos encargos da coisa, em caso de atribuição dos frutos, nos termos
do art. 1272º CC, desde que o possuidor esteja de boa-fé.
6. Defesa da posse
A é ameaçado na sua posse por B, que diz que se irá apropriar dos bens, mas ainda não o fez. O
que poderá A fazer? Independentemente da hipótese de esbulho violento, o possuidor pode
ser perturbado por 3 maneiras:
• O perigo de perturbação – ação de prevenção (art. 1286º CC), sendo necessário um justo
receito de perturbação
• Pela perturbação efetiva – ação de manutenção, só pode ser intentada no prazo de 1
ano a partir do momento da perturbação (art. 1282º CC)
• Pelo esbulho – ação de restituição, só pode ser intentada no prazo de 1 ano a partir do
momento do esbulho (art. 1282º CC), e não pode ser intentada contra terceiro de boa-
fé, nos termos do art. 1281º CC
A defesa da posse poderá ocorrer por:
• Ação de prevenção (art. 1276º CC)
• Ação de manutenção (art. 1278º CC)
• Ação de restituição (art. 1278º CC)
• Procedimento cautelar em caso de esbulho violento (art. 1279º CC)
• Embargo de terceiro (art. 1285º CC)
• Ação direta (art. 1277º e 336º CC) – forma de autotutela da posse
Segundo o art. 1251º CC, só quem tem a posse da coisa nos termos de um direito real é que
pode recorrer às ações possessórias; mas já não será possível relativamente, p.e., aos direitos
familiares. Por outro lado, as ações de tutela possessória não podem ser utilizadas
relativamente aos casos de mera detenção.
Relativamente à legitimidade passiva, esta encontra-se restringida ao perturbador da posse
(art. 1281º/1 CC); nos casos de esbulho, já abrange o perturbador e os seus herdeiros (art.
1281º/2 CC).
6.1. Regimes específicos
Ação de prevenção (art. 1276º CC) – encontra-se fundamentada no justo receio do possuidor
de que vai ser perturbado ou esbulhado da sua posse
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7. Natureza da posse
Existe uma divergência doutrinária, já que uns afirmam que a posse é um facto, outros que é
um direito e, por fim, uma posição intermédia que defende que é simultaneamente um facto e
um direito.
• Como facto (WINDSCHIED) – a posse é um facto porque, apesar de produzir efeitos
jurídicos, não decorre de um direito, mas do facto de estar vedada aos outros
coercivamente
• Como direito – é um direito porque não consiste só num poder direto e indireto sobre a
coisa, mas também atribui ao titular a faculdade de exigir dos outros a abstenção de
violação da sua posse
o Como direito real (CARVALHO FERNANDES) – é um direito real por estar inserido
no livro de Direitos Reais
o Como direito subjetivo (OLIVEIRA ASCENSÃO e o PROF. MENEZES CORDEIRO) –
não é um direito real por não ser um direito inerente à coisa; também não é um
direito relativo porque não assenta numa relação entre o titular da posse e o
titular da propriedade da coisa, mas tem mecanismos de defesa que vêm dos
direitos relativos
▪ MENEZES LEITÃO – a posse é um direito de gozo sem natureza real por
não haver ingerência na posse e porque a tutela possessória só surge
depois da atribuição do direito ao exercício da posse
• Como facto e direito (SAVIGNY) – é um facto porque é independente das regras
estabelecidas para a aquisição e perda de direitos, é um direito porque resulta da
concessão dos interditos, no caso da perturbação e do esbulho
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o Usucapião: sempre que ela seja invocada após uma situação de composse em
relação à coisa
o Ocupação: sempre que várias pessoas procedam em conjunto a esse ato
o Achamento: é imposta a compropriedade no achamento de tesouros, em virtude
da atribuição da compropriedade no achamento de tesouros, em virtude da
atribuição de metade do achado ao proprietário da coisa (art. 1325º CC)
o Acessão: a lei prevê a atribuição da compropriedade, a desfazer através da
licitação, em certos casos de acessão industrial (artigos 1333.º, n.º2, 1335.º, n.º3
e 1340.º, n.º2 CC)
o Sentença judicial: quando esta seja solicitada em relação às paredes e muros de
meação, nos termos do art. 1370º CC
o Disposição da lei: presunções de comunhão (art. 1358º/1, 1359º/2, 1368º e
1371º CC)
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pelas regras relativas à formação da vontade coletiva; sendo que o direito real pertence
à coletividade dos consortes
a. No entanto, esta teoria não faz sentido, porque a lei não personifica a
compropriedade, e por isso não pode ser considerada enquanto pessoa coletiva.
4.4. Usucapião
Segundo o PROF. PEDRO DE ALBUQUERQUE, a usucapião corresponde à constituição facultada
ao possuidor do direito real correspondente à sua posse, deste de que esta tenha determinadas
características e se mantenha por determinado lapso de tempo. (art. 1287º e ss. CC).
A usucapião assenta em determinados pressupostos:
• A posse deve ser púbica e pacífica (art. 1297º e 1300º/1 CC)
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Segundo o art. 300º CC, são nulos todos os negócios jurídicos que visem modificar os prazos
legais da usucapião ou a facilitar ou dificultar as condições em que a prescrição opera os seus
efeitos.
A usucapião tem que ser invocada, judicial ou extrajudicialmente, por aquele a quem aproveita,
pelo seu representante ou, tratando-se de incapaz, pelo MP (art. 303º por remissão do 1292º
CC). Mas pode ser invocada pelos credores e por terceiros com legítimo interesse da sua
declaração, ainda que o possuidor a ela tenha renunciado.
4.5. Acessão
A acessão da posse é um instituto pelo qual, para efeito de usucapião, o possuidor pode juntar
a sua posse à do anterior possuidor. Está prevista no art. 1326º CC, sendo que a transferência
da posse, há de ter de se operar designadamente por tradição ou constituto possessório. Além
disso, essa mesma tradição terá de assentar num titulo abstratamente idóneo para a
transmissão da posse.
Ex. A era possuidor de má-fé, há cerca de 13 anos, de um imóvel que transmite a B, de boa-fé.
Passado 1 ano da tradição C, antigo proprietário, exige através de uma ação de reivindicação a
devolução do bem; B, alegando a sua posse de boa-fé e o titulo aquisitivo da propriedade,
invoca a usucapião contra C através da acessão da sua posse com a posse de A.
Havendo diferenças nas características entre a posse do possuidor e do seu antecessor,
a acessão só opera no âmbito daquela que for melhor. Portanto, como a posse do
anterior possuidor é uma posse de má-fé se faltar o registo, não pode ser alegada por
usucapião.
No entanto, a acessão não é restrita à aquisição da propriedade, podendo ser adquiridos outros
direitos reais, p.e., usufruto (art. 1417º/2 CC) e da hipoteca (art. 691º/1 b) CC).
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Segundo o art. 1327º CC, a regra geral é a de que pertence ao dono da coisa tudo o que a esta
acrescer por efeito da natureza, ocorrendo assim uma extensão automática do direito real em
relação a tudo o que acrescer à coisa em virtude de fenómenos naturais.
A lei regula especialmente a acessão natural em resultado da força das águas, distinguindo as
situações de:
1. Aluvião (art. 1328º CC): atribui-se aos donos dos prédios confinantes quaisquer
correntes de água de tudo o que por ação das águas se lhes unir ou nelas for
depositado, sucessiva e impercetivelmente. O mesmo acontece quando, p.e., um
terreno for deslocado por ação das águas
2. Avulsão (art. 1329º CC)
a. Mudança de leito da corrente (art. 1330º CC)
b. Formação de ilhas e mouchões (art. 1331º CC)
c. Formação de lagos e lagoas (art. 1332º CC)
O regime da aluvião e da avulsão é aplicável com as necessárias adaptações à formação de ilhas
e mouchões na corrente de água, pertencendo estas ao dono da parte do leito ocupado (art.
1331º/1 CC).
Pelo contrário, se houver mudança de leito da corrente, o art. 1330º/1 CC determina que se a
corrente mudar de direção, os proprietários do leito antigo conservam o direito que tinham
sobre ele, e o dono do prédio invadido conserva igualmente a propriedade do terreno ocupado
pela corrente.
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8.4. Abandono
O abandono pressupõe um ato jurídico voluntário do titular, que visa a cessação voluntária da
relação material com a coisa e, como tal, a extinção da propriedade.
O abandono não é um negócio jurídico, uma vez que carece de liberdade de estipulação.
Só está previsto como forma de extinção da posse, nos termos do art. 1267º/1 a) CC.
8.5. Renúncia
Pode-se distinguir entre:
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8.6. Prescrição
A prescrição não se aplica aos direitos reais de gozo, uma vez que estes, nos termos do art.
298º/3 CC, estão sujeitos a uma causa de extinção própria que é o não uso, e que segue as
regras da caducidade.
Mas aplica-se em alguns direitos reais de garantia, como a hipoteca (art. 730º/b) CC ou o direito
de retenção (art. 761º CC). O mesmo já não acontece com a consignação em rendimento ou ao
penhor, situações em que a lei dispõe que não se podem extinguir por prescrição (art. 664º e
677º CC, respetivamente).
8.7. Caducidade
Corresponde aos casos em que se extingue um direito em virtude da superveniência de um
facto jurídico stricto sensu, como o decurso do tempo ou a morte.
Aplica-se relativamente aos direitos reais temporários, p.e., o usufruto (art. 1476º/1ª) CC) ou o
uso e habitação (art. 1485º CC); que se extinguem quando se extinguir o prazo de caducidade –
todos os direitos reais temporários se extinguem por caducidade.
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8.9. Confusão
Ocorre nos casos em que, na mesma pessoa, se concentra a figura do titular de um direito real
maior e do titular de um direito real menor; ou seja, o titular tem, simultaneamente, um direito
real maior e vários direitos reais menores que, por natureza, integram o direito real maior – o
que não justifica essa distinção.
8.10. Usucapião
Consiste na situação em que o titular do direito real maior consegue, por oposição ao direito
real menor, a liberação deste o qual lhe estava onerado.
Apesar de apenas estar previsto em relação às servidões prediais (art. 1547º CC), a doutrina
tem considerado que é uma forma de extinção dos direitos reais menores, em geral – isto
porque haveria liberação na mesma se o direito real menor fosse adquirido por um terceiro,
por usucapião.
Segundo o art. 1574º CC, a usucapião não constitui uma forma de aquisição da liberdade da
coisa por usucapião, porque a liberdade não é um bem que se adquire; mas sim uma forma de
extinção dos direitos reais menores.
Requisitos da usucapião:
1. Oposição ao exercício do direito real menor por parte do titular do direito real maior, ou
seja, que haja um desapossamento do direito real menor, passando o direito real maior
a impedir o exercício deste
2. Decurso do prazo legal para a usucapião (art. 1294º e ss. e 1298º e ss. CC)
o O prazo legal só se começa a contar a partir do momento da oposição, nos
termos do art. 1574º/2 CC
3. Invocação pelo beneficiário, nos termos da prescrição
Se estiverem preenchidos os pressupostos, a usucapião implica a extinção do direito real
menor, que ocorre a partir do momento da oposição (art. 1288ºe 1317º/c) CC).
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Princípio da obrigatoriedade:
O registo é obrigatório nos casos previsto no art. 8º-A CRPr:
a) Os factos referidos no art. 2º CRPr
b) As ações, decisões e providências referidas no art. 3º CRPr
Há, no entanto, algumas exceções em relação à obrigatoriedade do registo: não é obrigatório
registar aqueles que sejam provisórios por natureza (art. 92º/1 CRPr) nem das ações de
impugnação pauliana, dos arrestos, arrolamentos ou providências que afetem a livre disposição
dos bens (art. 8º-A/1 b) in fine CRPr).
Segundo o art. art. 8º-B/1 e 3 CRPr, a obrigação de registo incide sobre as entidades que
celebrem escritura pública, autentiquem os documentos particulares ou reconheçam as
assinaturas neles apostas. Mas essa obrigação cessa no caso de o registo já se encontrar
promovido por outra entidade com legitimidade para o efeito (art. 8º-B/5 CRPr).
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Princípio da legalidade:
Segundo o princípio da legalidade, o registo encontra-se subordinado ao conservador (art. 68º
CRPr). O conservador deve averiguar a viabilidade do pedido do registo, podendo recusá-lo ou
realizá-lo como provisório se estiver com dúvidas (arts. 70º e 71º CRPr). Deverá determinar a
identidade do prédio, a legitimidade dos interessados, a regularidade formal dos títulos e a
validade dos atos nele contidos.
O pedido poderá ser:
• Recusado: a recusa do registo só pode ser feita nos termos do art. 69º CRPr (taxativo)
o Ser manifesto que o facto não está titulado nos documentos apresentados
o Verificar-se que o facto já está registado ou não está sujeito a registo
o Ser manifesta a nulidade do facto
o Já ter sido o registo lavrado como provisório por dúvidas e as mesmas não se
mostrarem removidas
o Não ser possível fazer o registo como provisório por dúvidas, em virtude da falta
de elementos ou pela natureza do ato
• Lavrado provisoriamente por dúvidas: ocorre quando, não sendo possível o suprimento
oficioso de deficiências nos termos do art. 73º CRPr, existam motivos que obstem ao
registo definitivo e que não sejam fundamento de recusa (art. 70º CRPr)
É possível impugnar judicialmente a decisão de qualificação do ato de registo, caso o recurso
hierárquico seja julgado improcedente (art. 145º/1 CRPr), sendo que a impugnação judicial
deve ser proposta no prazo de 20 dias a contar da data da notificação da improcedência do
recurso hierárquico (art. 145º/2 CRPr).
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qualquer inscrição a favor de um adquirente do bem, sem que exista uma inscrição prévia a
favor do transmitente.
O art. 34º/1 CRPr estabelece que o registo definitivo de constituição de encargos por negócio
jurídico depende da prévia inscrição dos bens em nome de quem os onera, acrescentando o
nº2 que o registo definitivo de constituição de encargos por negócio jurídico depende da prévia
inscrição dos bens em nome de quem os transmite, quando o documento comprovativo do
direito do transmitente não tiver sido apresentado perante o serviço de registo.
Mas há algumas exceções:
1. Dispensa-se a inscrição prévia no registo de aquisição com base em partilha (art. 34º/3
CRPr)
2. Dispensa-se a inscrição intermédia em nome dos titulares de bens ou direitos que façam
parte de herança indivisa (art. 35º CRPr)
Se o trato sucessivo for interrompido, o adquirente do bem terá que proceder ao registo das
inscrições intermédias, em ordem a obter o seu reatamento. Se isso não for possível, o
adquirente terá que proceder à justificação por escritura notarial ou no âmbito doo processo
de justificação previsto nos artigos 116.º e seguintes CRPr.
Princípio da legitimação:
Segundo o art. 9º/1 CRPr, os factos de que resulte transmissão de direitos ou constituição de
encargos sobre imóveis não podem ser titulados sem que os bens estejam definitivamente
inscritos a favor da pessoa de quem se adquire o direito ou contra a qual se constitui o encargo.
O negócio só pode ser titulado se estiver comprovado o registo prévio a favor do transmitente.
Exceções:
1. A partilha, a expropriação, a venda executiva, a penhora, o arresto, a declaração de
insolvência e outras providências que afetem a livre disposição dos imóveis
2. Os atos de transmissão ou oneração por quem tenha adquirido no mesmo dia os bens
transmitidos ou onerados
3. Os casos de urgência devidamente justificada por perigo de vida dos outorgantes (art.
9º/2 CRPr)
Princípio da prioridade:
Segundo o art. 6º CRPr, o direito inscrito em 1º lugar prevalece sobre os que se lhe seguirem
relativamente aos mesmos bens, por ordem da data dos registos e, dentro da mesma data, pela
ordem temporal das apresentações correspondentes.
A prioridade do registo não é afetada pelos despachos de recusa ou de provisoriedade, caso os
mesmos sejam procedentemente impugnados ou se verifique a conversão do registo em
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Quanto à eficácia
o Atos de registo provisórios – têm um prazo de vigência limitado por existir algum
vício no facto ou deficiência no processo de registo que impede o seu registo
definitivo (registo provisório por dúvidas).
▪ Registo provisório por natureza (art. 92º CRPr): podem ser ações sujeitas a
registo, constituição de propriedade horizontal antes da construção do
prédio ou inscrições de penhora, declaração de insolvência e arresto
▪ Registo provisório por dúvidas (art. 70º CRPr) – situações em que existem
motivos que obstam ao registo do ato tal como é pedido e que não são
fundamento de recusa
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Art. 17º/2 CRPr – caso em que a declaração de nulidade do registo não afeta os direitos
adquiridos a título oneroso por 3º de boa fé, se o registo dos correspondentes atos for
anterior ao registo da ação de nulidade. Se a aquisição do terceiro tiver ocorrido a título
oneroso, o seu direito não é posto em causa pela declaração de nulidade da prévia
inscrição.
Art. 122º CRPr – caso em que a retificação do registo não prejudica os direitos
adquiridos a título oneroso por 3º de boa fé, se o registo dos factos correspondentes for
anterior ao registo da retificação ou da pendência do respetivo processo. O direito do
sub-adquirente que tenha registado a sua aquisição antes da retificação ou da
pendência do respetivo processo não vê o seu direito afetado pela posterior retificação
da prévia inscrição.
Art. 291º CC – caso em que a invalidade do negócio jurídico não prejudica aos direitos
adquiridos sobre os mesmos bens, a título oneroso, por 3º de boa fé que tenha
registado a sua aquisição. No entanto, os direitos do 3º não são reconhecidos se a ação
for proposta e registada dentro dos 3 anos posteriores à conclusão do negócio (art.
291º/2 CC).
o OLIVEIRA ASCENSÃO tenta resolver a questão aplicando analogicamente, por
maioria de razão, o artigo 291.º, n.º2 CC aos casos de invalidade registal
o O PROF. MENEZES CORDEIRO, CARVALHO FERNANDES e MENEZES LEITÃO
defendem que o art. 291.º CC não se aplica aos casos em que já existisse um
registo desconforme a favor do adquirente no negócio inválido, devendo aplicar-
se o art. 17º/2 CRPr.
o SARAIVA MATIAS: o art. 17º/2 CRPr só se pode aplicar quando se verifique e seja
declarada a nulidade do registo nos termos do art. 16º CRPr. Se não houver
registo ou este seja válido, aplica-se o art. 291º CC.
9.5.6.2. Posição do titular do direito real preterido pela aquisição tabular do terceiro
Segundo OLIVEIRA ASCENSÃO, a aquisição tabular funciona como facto resolutivo em relação à
primeira aquisição, cujo direito se extingue extinguindo consequentemente o respetivo direito.
Para o PROF. MENEZES CORDEIRO, não se extingue o direito, mas opera uma inoponibilidade,
através da qual o proprietário poderia recuperar outra vez a coisa em caso de devolução,
renúncia do terceiro ou transmissão para adquirente de má fé.
Para MENEZES LEITÃO, a aquisição tabular atribui o direito real em termos definitivos ao
adquirente com base no registo, extinguindo-se o direito real anterior.
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que o seu gozo não pertença ao respetivo proprietário como tal, não haverá servidão.
Para PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, a configuração do direito à água que nasce do
prédio alheio do título da sua constituição.
A constituição do direito de propriedade sobre as águas de fontes e nascentes depende da
verificação dos factos aquisitivos do art. 1316º CC em relação aos bens imóveis:
• Contrato
• Sucessão por morte
• Usucapião – só opera se for acompanhada por construção de obras visíveis e
permanentes, no prédio onde exista a fonte de nascente, que revele a captação de
posse de água nesse prédio.
• Acessão
O proprietário da fonte ou nascente pode sofrer restrições em relação ao direito de
aproveitamento de águas, uma vez que não lhe é possível mudar o curso da água, se os
habitantes não tiverem adquirido por titulo justo o uso das águas, nos termos do art. 1392º/1
CC. Nos termos do nº2, o proprietário das águas tem direito a uma indemnização.
Segundo o art. 1393º CC, o regime da propriedade das águas aplica-se analogicamente às águas
pluviais e aos lagos e lagoas compreendidas no art. 1386º CC.
Quanto às águas subterrâneas, há um regime especial das águas subterrâneas, mencionado no
art. 1394º CC, sendo que o proprietário tem direito à exploração das águas subterrâneas,
havendo limitação se existir um direito de 3º adquirido através de um título justo, nos termos
do art. 1390º CC.
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2. A propriedade horizontal
Segundo o art. 1414º CC, a propriedade horizontal faz coexistir 2 tipos de faculdades sobre o
mesmo edifício:
1. Faculdades correspondentes à propriedade exclusiva de cada fração autónoma
2. Faculdades ligadas à compropriedade das zonas em comum do edifício
Requisitos de constituição de propriedade horizontal, segundo o art. 1414º CC:
o Que o edifício tenha condições para ser dividido em frações
o Que as frações possam constituir unidades independentes
o A existência de partes comuns do prédio (art. 1421º CC)
o Zonas obrigatoriamente comuns – essenciais para o uso comum do prédio, não
sendo possível celebrar contratos de propriedade exclusiva relativamente a
qualquer condómino (p.e., solo, alicerces, paredes mestras, telhados, entradas,
escadas e corredores)
o Zonas presuntivamente comuns – o título constitutivo pode dispor de forma
diferente, podendo até atribuir a propriedade exclusiva a um dos condóminos
(p.e., pátios e jardins anexos)
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unilateral; em qualquer um destes casos, o negócio constitutivo deve ser feito por escritura
pública ou documento particular autenticado.
O negócio jurídico unilateral poderá ser celebrado pelo proprietário mesmo antes da
constituição do edifício, sendo que o registo é considerado provisório. Por outro lado, este
negócio encontra-se sujeito a uma condição suspensiva de alienação de uma das frações a um
terceiro – só a partir desse momento é que existe propriedade horizontal.
2.1.2. Usucapião
Relativamente à usucapião, esta geralmente só se aplica quanto a 1fração autónoma, mas isso
implica a sujeição de todo o edifício à propriedade horizontal. Assim, será possível considerar
que a usucapião da fração autónoma conduz indiretamente à constituição de propriedade
horizontal sobre todo o edifício.
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2.4.1. Prejudicar, quer com obras novas, quer por falta de reparação, a segurança, a
linha arquitetónica ou o arranjo estético do prédio
Segundo o art. 1422º/2 a) CC, é proibido aos condóminos prejudicar, por obras novas ou por
falta de reparação, a segurança, a linha arquitetónica, ou o arranjo estético do prédio, salvo se
forem autorizadas pela assembleia de condóminos por maioria representativa de dois terços do
valor total do prédio (art. 1422º/3 CC).
2.4.2. Destinar a sua fração a usos ofensivos dos bons costume (art. 1422º/2 b) CC)
2.3.4. Praticar quaisquer atos ou atividades que tenham sido proibidos no título
constitutivo ou, posteriormente, por deliberação da assembleia de condóminos,
aprovada sem oposição
Deste modo, será possível considerar que os condóminos dispõem de certa autonomia nas
limitações dos seus próprios poderes.
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É ao administrador que compete cobrar as receitas e efetuar as despesas comuns (art. 1436º/1
d) CC); mas se as despesas forem relativas a reparações indispensáveis e urgentes nas partes
comuns, estas podem ser feitas, na falta de impedimento do administrador, por iniciativa de
qualquer
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2.6.2. Administrador
O administrador desempenha as funções previstas no art. 1436º CC, sendo que a sua atividade
pode ser desempenhada por um condómino ou por um terceiro (art. 1435º/4 CC).
É eleito pela assembleia de condóminos (art. 1435º/1 CC), sendo que o período de funções é de
1 ano renovável (art. 1435º/4 CC).
Se a assembleia não eleger nenhum administrador, este será nomeado pelo tribunal a
requerimento de qualquer condómino (art. 1435º/2 CC); mas se isso aso tal não venha a
ocorrer, as funções de administrador são desempenhadas, a título provisório, pelo condómino
cuja fração ou frações representem a maior percentagem do capital investido. Depois de um
administrador ser eleito ou judicialmente nomeado, esse condómino cessa funções, devendo
entregar todos os documentos respeitantes ao condomínio que estejam confiados à sua guarda
(art. 1435º-A/3 CC).
O administrador tem 4 tipos de funções:
o Administração das partes comuns do prédio – verificar a existência de seguro contra
incêndio, regular o uso das partes comuns
o Gestão financeira do condomínio – elaborar o orçamento das receitas e despesas
relativas a cada ano, cobrar aos condóminos a sua parte as despesas necessárias e
prestar contas à assembleia
o Execução do regulamento do condomínio e executar as deliberações da assembleia de
condóminos
o Representação dos condóminos perante as autoridades administrativas
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3. Usufruto
Segundo o art. 1439º CC, o usufruto corresponde ao direito de gozo temporário e pleno de uma
coisa ou de um direito alheio, sem alteração da sua forma ou substância. É, por isso, um direito
real menor.
Tem as seguintes características:
• Atribui o gozo pleno de uma coisa, podendo o usufrutuário servir-se da coisa e dos seus
frutos, sejam eles naturais ou civis
o Gozo pleno – compreende qualquer utilidade a retirar dela, não estando
circunscrito a apenas algumas faculdades
• É um direito não exclusivo, uma vez que incide sobre coisa alheia à qual corresponde um
direito de propriedade, concorrendo com este
• É um direito temporário – tem limites máximos de duração, que não podem ultrapassar
a vida do seu titular; deste modo, a morte do titular conduz à extinção do usufruto Em
consequência, a morte do titular ou o decurso do prazo extinguem o usufruto
o Prof. Oliveira Ascensão e Prof. Menezes Leitão: a exigência mais genérica é a do
art. 1439º CC, que faz parte do próprio tipo de usufruto; o art. 1446º CC, sendo
supletivo, pode ser afastado
o Prof. Menezes Cordeiro: o art. 1439º CC, sendo uma definição legal, não tem
natureza imperativa, sendo que apenas se exige o respeito pelo destino
económico
Quanto ao objeto do usufruto, este encontra-se mencionado no art. 1439º CC, segundo o qual
o usufruto pode ter por objeto uma coisa ou um direito; mas desde que incida sobre uma coisa
corpórea, só assim é que tem natureza real e, assim, pode ser oponível a terceiro.
4. Disposição da lei
No caso da aquisição do usufruto por contrato ou testamento, a constituição do usufruto
corresponde a uma aquisição derivada constitutiva. Já no caso da constituição por usucapião,
trata-se de um caso de constituição originária.
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Obrigação de prestar caução – Se a caução for exigida, esta deve ser prestada uma cautio
usufrutuaria, que pode ser prestada nos termos gerais do art. 623º CC; no entanto, esta não
é exigida ao alienante com reserva de usufruto. Se a caução não for prestada quando
exigível, as consequências encontram-se previstas no art. 1470º/1 CC:
❖ Se se tratar de um bem imóvel, o usufrutuário perde a faculdade de o usar,
limitando-se a fruição a receber as rendas e outras quantias pagas pela
administração
❖ Se se tratar de um bem móvel, o proprietário pode exigir que a coisa lhe seja
entregue ou que esta seja vendida; mas o proprietário deve entregar ao usufrutuário
o valor da fruição da coisa ou os rendimentos do produto da coisa, bem como os
juros
❖ Em qualquer um dos casos, o proprietário pode requerer as medidas necessárias
para assegurar a tutela da coisa, desde que haja acordo com o usufrutuário
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reparações estão sujeitas a um limite máximo legal, segundo o qual não se consideram as
despesas necessárias se o seu valor exceder 2/3 do rendimento líquido desse ano.
Dever de avisar o proprietário em relação a reparações extraordinárias – O usufrutuário não
tem um dever de as realizar se se tornarem necessárias devido à sua má administração, ou
seja, por não ter realizado as reparações ordinárias a tempo. Mas deverá avisar o
proprietário a tempo de as mandar realizar (art. 1473º/1 CC). As despesas com as obras são
da responsabilidade do proprietário, depois de ser devidamente avisado, e não as suportar,
o usufrutuário pode fazer suas as despesas e depois exigir o seu valor ao proprietário. O
usufrutuário tem direito ao usufruto das reparações, sem ser obrigado a pagar juros das
somas desembolsadas pelo proprietário ou qualquer outra indemnização, mas se as
reparações aumentarem o rendimento da coisa, esse aumento pertence ao proprietário
(art. 1473º/3 CC).
Obrigação de pagar os impostos e outros encargos anuais que incidam sobre o rendimento
dos bens usufruídos (art. 1474º CC) – Esta obrigação poderá ser fundamentada pelo facto de
o usufrutuário auferir os rendimentos do bem; por isso, é justo que assuma os encargos
correspondentes a esse rendimento, nomeadamente os impostos, pagando-os ou
reembolsando-os ao proprietário da coisa.
Dever de avisar o proprietário de qualquer facto de terceiro de que tenha notícia, sempre
que ele possa lesar os direitos do proprietário – O artigo 1475.º CC atribui este dever, uma
vez que o usufrutuário tem um dever de custódia sobre a coisa, tendo por isso o dever de
avisar o proprietário de facto que possam lesar a propriedade. Se omitir o seu dever de
aviso, o usufrutuário é sujeito à responsabilidade civil.
Dever de restituir a coisa, findo o usufruto – Segundo o art. 1475º CC, este dever de
restituição da coisa encontra-se excluído no caso de estarmos perante coisas consumíveis.
Por outro lado, este dever de restituição pode ser suspenso se houver direito de retenção a
favor do usufrutuário.
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Tendo em conta que a propriedade é um direito pleno e exclusivo, o proprietário de raiz poderá
transmiti-lo a terceiro ou onerá-lo nos termos gerais. No entanto, não poderá constituir direitos
que possam prejudicar o direito de usufruto.
Relativamente às servidões prediais, determina o art. 1460º/2 CC que o proprietário pode
constituir servidões prediais sem o consentimento do usufrutuário, desde que delas não resulte
uma diminuição do valor do usufruto.
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4. Direito de superfície
Segundo o art. 1524º CC, o direito de superfície consiste na faculdade de construir ou manter,
perpetua ou temporariamente uma obra em terreno alheio, ou de nele fazer ou manter
plantações – mas este conceito não abrange toda a realidade abrangida pelo direito de
superfície.
O direito de superfície apenas abrange poderes individualizados e dirigidos funcionalmente a
construir ou manter obra ou a fazer ou manter plantações; e por isso, o direito do superficiário
não tem o conteúdo normal do gozo, nomeadamente, o uso e a fruição do imóvel, já que estes
pertencem ao proprietário do solo (por isso, enquanto não se iniciar a construção da obra ou a
realização da plantação, o proprietário pode continuar a gozar da coisa e ainda constituir outros
direitos a favor de terceiros, concedendo esse gozo). Esses poderes individualizados são:
✓ Poder de construir ou de fazer plantação no prédio (poder de transformação)
✓ Poder de manter a obra ou plantação sobre ou sob solo alheio durante o tempo de
duração do direito
✓ Poder de disposição
O direito de superfície não se confunde com o direito de propriedade do solo, apesar de ambos
incidirem sobre a mesma coisa: o direito de superfície só abrange a porção do solo necessária
para a construção ou manutenção da obra ou da plantação; apesar de as partes poderem
alargar o objeto da superfície à área adjacente ao imóvel, desde que haja proveito do uso da
mesma – ex. parques de estacionamento.
Quanto à duração do direito de superfície, esta poderá ser temporária ou permanente – mas
essa duração tem de resultar do título constitutivo: se o direito de superfície for temporário,
extingue-se por decurso do prazo (art. 1536º/ c) CC), sendo que se reverte para o proprietário
do solo.
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Decurso do prazo, sendo constituída por certo prazo: o direito de superfície pode
igualmente extinguir-se no termo do prazo, caso ela seja constituída por certo tempo,
sendo o decurso do prazo regulado pelas regras da caducidade
Reunião na mesma pessoa do direito de superfície e do direito de propriedade,
aplicando-se o regime da confusão como causa de extinção dos direitos reais
Desaparecimento ou inutilização
Expropriação por utilidade pública, sendo cada titular indemnizado
Destruição da obra ou das árvores ou verificação de qualquer outra condição resolutiva,
caso a mesma tenha sido estipulada no título constitutivo
5. Servidões prediais
Segundo o art. 1543º CC corresponde à atribuição ao titular de um prédio, dito dominante, de
utilidades provenientes de outro prédio, dito serviente – os 2 prédios devem pertencer a
proprietários distintos, não sendo admitidas as servidões pessoais.
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❖ Servidão de presa – não se limita apenas à recolha de águas em prédio alheio, abrangendo
ainda a faculdade de represar a água e a fazer derivar desse prédio
o Águas particulares (art. 1559º CC) – o titular pode constituir coercivamente uma
servidão de presa mediante o pagamento de uma indemnização correspondente ao
prejuízo causado
o Águas públicas (art. 1560º CC) – a servidão de presa só pode ser constituída nos casos
do nº1
❖ Servidão de aqueduto – reconduz-se à faculdade de conduzir sobre prédio alheio as águas a
que o titular da servidão tenha direito
o Águas particulares (art. 1561º CC) – a constituição de servidão obriga a indemnizar o
proprietário do prédio serviente pelo prejuízo que das obras resulte para o seu
prédio
o Águas públicas (art. 1562º CC) – a constituição forçada de servidão só é admitida no
caso de haver concessão de água
❖ Servidão de escoamento – consiste na faculdade de fazer escoar sobre prédio vizinho as
águas que existem em excesso em determinado prédio, podendo ser constituída nos casos
do art. 1363º/1 CC. Só pode ser constituída sobre os prédios que possam ser onerados com
a servidão legal de aqueduto (nº4).
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