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Do Direito das Coisas

Conceito e características;
Diferença entre direitos reais e obrigacionais;
Titularidade e obrigações propter rem;
Classificação dos direitos reais
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS E POSSE
No texto do CC de 2002, Direitos Reais é o que se dedica ao
tratamento legislativo da posse, da propriedade, dos direitos reais
sobre coisa alheia (direitos reais limitados), não apenas no momento
da aquisição, mas principalmente no período da sua existência.
• CONCEITO: O Direito das Coisas é o segmento do Direito Civil que
congrega o conjunto de regras e princípios que regem a relação
de senhoria, de poder, de titularidade,que submete a coisa à uma
pessoa. Está fundado primordialmente na função social e na boa-
fé e sua importância é representada pela significação econômica,
política e social dos institutos inseridos nas denominadas
situações jurídicas reais devido à influência e repercussão que
eles geram na estrutura da sociedade e da economia de uma
nação (Arts. 1.196 a 1.510 do CC).
PARTE HISTÓRICA
• Em termos históricos, o Direito das Coisas sofreu influência do direito francês,
que identificava o direito de propriedade como direito privado. Entretanto,
devido à nossa colonização portuguesa, a história da ocupação das terras no
Brasil se iniciou em Portugal. Compreendem-se neste contexto a concessão de
terras devolutas pelo poder público a determinados privilegiados mediante o
compromisso, pelo advento da Lei de Terras; e pela Lei Hipotecária n° 1.237, de
1864, que criou a obrigatoriedade do registro dos títulos.
• O CC brasileiro de 1916, seguindo a tendência codificante originada na Europa,
reconheceu a propriedade, desprovida, contudo, de função social. As
desigualdades e a exploração daí resultantes deram início ao período que
culminou com o Estado do Bem Estar Social (Welfare State) e a concepção da
função social da propriedade e da posse surgiu da idéia de se aproximar a
análise dos institutos da realidade social e econômica subjacente, aplicando-se
no campo e na cidade, tanto nos bens móveis quanto nos imóveis. Exemplares
de tais mudanças, no âmbito pátrio, são a Constituição Federal de 1988 e o já
referido CC de 2002.
CARACTERÍSTICAS
a) tipicidade e taxatividade (somente são direitos reais os
taxativamente elencados em lei como direitos reais. Estão previstos
no art. 1.225 do CC e em leis especiais, dentre elas os Decretos-Lei
n° 261/67 e 911/69 e a Lei nº. 6.766/79);
b) direito de seqüela (a circunstância de o direito real aderir
imediatamente à coisa, sujeitando-a diretamente ao seu titular de
modo a poder segui-la em poder de qualquer detentor ou
possuidor);
c) preferência (privilégio de obter o pagamento da dívida com o
valor do bem vinculado exclusivamente à sua satisfação, restrito
aos direitos reais de garantia);
d) oponibilidade erga omnes (ou seja, o direito real tem eficácia
contra todas as pessoas, reconhecendo-se, pois, a presença de um
dever geral negativo de respeito ao direito real titularizado);
CARACTERÍSTICAS
e) publicidade (possibilidade de conhecimento
acerca da titularidade e da existência de alguma
limitação ao direito);
f)elasticidade (possibilidade de desmembramento
de algum ou alguns poderes do direito de
propriedade);
g) exclusividade (inadmissibilidade de existência de
duas ou mais pessoas com direitos reais iguais
sobre a mesma coisa; apenas uma delas é titular do
direito real sobre o bem).
OBJETO
• Em regra, exige-se que a coisa, de modo a ser objeto de direito real,
apresente três características fundamentais:
• a) corporeidade;
• b) possibilidade de apropriação;
• c) função utilidade ou valor econômico.
Contudo, se faltar a corporeidade, ainda assim poderá haver a
encampação do sistema de direito real caso a lei preveja,
expressamente, modos específicos de transferência, ou que remeta,
também de modo expresso, o regime de transferência ao de um dos
direitos reais previstos na lei, ou ainda, que preveja que determinado
direito real pode se exercer sobre determinados direitos reais ( são
exemplos o usufruto sobre universalidades, os direitos reais de
garantia sobre direitos ou títulos de crédito e a comunhão hereditária).
DIFERENÇA ENTRE DIREITOS REAIS E
OBRIGACIONAIS
• A propósito dos critérios de distinção entre direitos reais e direitos pessoais, surgiram
duas principais correntes doutrinárias para justificar a separação rígida dos regimes
jurídicos a eles pertinentes:

a) as teorias clássicas (ou teorias realistas), que defendem ser o direito real o poder
imediato da pessoa sobre a coisa que se exerce erga omnes, ao passo que o direito pessoal
opõe-se apenas e unicamente à uma pessoa, de quem se exige determinado
comportamento prestacional;
b) as teorias personalistas, cujos adeptos consideram que os direitos reais são relações
jurídicas entre pessoas, como os direitos pessoais, não havendo relação jurídica entre
pessoa e coisa: a diferença, assim, está no sujeito passivo, pois, enquanto no direito pessoal
(de crédito), o sujeito passivo é pessoa certa e determinada, no direito real, é
indeterminado, daí a noção de uma obrigação passiva universal – a de respeitar o direito
real;
c) a teoria eclética, que atua como autêntica “síntese da dialética hegeliana”, uma vez que
considera o núcleo da teoria clássica (poder imediato e direto sobre a coisa) como o lado
interno do direito real, e o núcleo da teoria personalista (a oponibilidade erga omnes) como
seu lado externo.
DIFERENÇA ENTRE DIREITOS REAIS E
OBRIGACIONAIS
• Alguns outros critérios distintivos são também apresentados:
a) o objeto do direito é a coisa determinada, ao passo que a prestação do devedor, nos direitos
pessoais, como objeto da obrigação, pode ser genérica, desde que seja determinável;
b) a violação a um direito real consiste, em regra, num fato positivo, o que nem sempre se
verifica na violação de um direito pessoal;
c) o direito real concede ao seu titular um gozo permanente da coisa porque tende à
perpetuidade, como regra, já o direito pessoal é transitório, extinguindo-se no momento em
que a obrigação é adimplida;
d) somente os direitos reais são adquiridos através da usucapião, o que não ocorre com os
direitos pessoais;
e) em termos designativos, o direito real é conhecido como “ius in re” (direito à coisa), ao
passo que há determinados direitos pessoais que correspondem ao “ius ad rem” (exercido
contra pessoas), ou seja, nestes há a pretensão à aquisição de um direito real, como no
exemplo do contrato de compra e venda de bem móvel sem que, ainda, tenha ocorrido a
entrega do bem (tradição);
f) os direitos reais caracterizam-se pelo verbo “ter” (ínsito à idéia de poder sobre os bens), ao
passo que os direitos obrigacionais, pelo verbo “agir” (exigir determinado comportamento
alheio).
DIFERENÇA ENTRE DIREITOS REAIS E
OBRIGACIONAIS
• Críticas à distinção entre direitos reais e obrigacionais:
a) Com as denominadas “situações mistas” que apresentam aspectos e características típicas de direitos
reais e direitos obrigacionais, como no exemplo da obrigação propter rem;
b) Insuficiente contraposição entre dever genérico e dever específico relacionada a algumas das relações
reais (exemplo disso seria o usufruto, que, como espécie de direito real, gera o dever geral de abstenção
– oponível à coletividade quanto ao respeito à titularidade do direito pelo usufrutuário -, mas também
proporciona o surgimento de deveres específicos entre usufrutuário e nu-proprietário – há, neste
exemplo, uma estrutura externa, ínsita aos direitos reais, e uma estrutura interna que, diga-se en
passant, em nada se distingue das prestações devidas nas relações obrigacionais);
c) Princípio da relatividade dos efeitos dos contratos e, conseqüentemente, das obrigações daí
decorrentes, uma vez que há contratos que produzem efeitos a outras pessoas que não apenas os
contratantes, como nos exemplos da cessão de crédito;
d) Os valores mobiliários passaram a ser mais valorizados do que no passado, contribuindo para que o
direito de crédito se aproxime cada vez mais do direito de propriedade, fazendo nascer a idéia de
“propriedade de créditos”;
e) Em decorrência da funcionalização das relações patrimoniais à plena realização das relações de
caráter existencial.
DIFERENÇA ENTRE DIREITOS REAIS E
OBRIGACIONAIS
• CONCLUSÃO: Diante disto, constata-se que, nas relações
obrigacionais, há predominância do aspecto pessoal, em
que a satisfação do credor normalmente se operará na
concretização das prestações de dar, de fazer ou de não-
fazer pelo devedor, ao passo que, nas relações reais,
devem ser reputados predominantes os aspectos reais,
porquanto as faculdades de usar, de fruir, de dispor e de
reivindicar se relacionam apenas à atuação do titular do
direito real. Contudo, não se deve cogitar de
exclusividade eis que haverá situações em que a relação
pessoal assumirá feições reais e vice-versa.
TITULARIDADE E OBRIGAÇÕES PROPTER REM
• No Direito das Obrigações é estudada a relação jurídica entre
duas pessoas, com o estabelecimento de vínculo entre
devedor e credor.
• O Direito das Coisas, por sua vez, regula a submissão da coisa
à pessoa e, por isso, neste segmento do Direito Civil observa-
se a ligação instituída entre a pessoa e sua titularidade sobre
um bem (a título de posse, propriedade, usufruto, servidão,
etc.).
• É importante observar algumas hipóteses que não há clareza
a respeito de se a ligação entre credor e devedor é pessoal
(Direito das Obrigações) ou real (Direito das Coisas). Daí a
necessidade de identificar outros casos, tais como ocorre na
obrigação propter rem.
OBRIGAÇÕES PROPTER REM
a) as obrigações propter rem (também denominadas obrigações ob rem ou in
rem scriptae), que podem ser conceituadas como aquelas que decorrem de
um direito real sobre determinada coisa. Vinculam-se tais obrigações a esta
coisa, razão pela qual a acompanha nas várias modificações. Trata-se, de
hipótese em que se associa a coisa a uma obrigação, apresentando natureza
ambulatória já que sua titularidade acompanha aquela referente ao direito
real. Apresentam as seguintes características: referem-se ao titular de um
direito real; o devedor se libera da obrigação diante do abandono da coisa,
abdicando do direito real; a obrigação se reveste de uma acessoriedade
especial, dotada de ambulatoriedade, o que faz com que a obrigação se
transmita automaticamente com a transferência da titularidade da coisa;
seguem o princípio da taxatividade (do numerus clausus), não sendo
admitida qualquer outra obrigação propter rem além daquelas
expressamente previstas na lei;
ÔNUS REAIS
b) os ônus reais que consistem em obrigações que limitam o uso e o gozo da
propriedade, constituindo direitos ou gravames oponíveis erga omnes e que
aderem à coisa, como na renda constituída sobre imóvel. Diferem das
obrigações propter rem, pois: o inadimplemento do conteúdo do ônus repercute
no próprio bem objeto do direito que serviu de causa ao surgimento do ônus
como garantia (gravame); traduzem-se, sempre, em posição jurídica passiva de
natureza pecuniária, ou seja, geram ao onerado a prestação de pagar quantia
em dinheiro devido à situação jurídica real sobre determinado bem; do
inadimplemento decorre uma sujeição do onerado no sentido de reconhecer-se
ao credor a excussão preferencial da coisa sobre a qual é fundado o direito real
do onerado; têm sua responsabilidade limitada ao bem onerado, além de cujo
valor não responde o devedor; seus efeitos desaparecem com o perecimento da
coisa, enquanto os da obrigação propter rem podem persistir; implicam
prestação positiva e são exigíveis por ação de natureza real, enquanto as
obrigações propter rem podem se expressar em prestação negativa, e sua ação é
de índole pessoal;
OBRIGAÇÕES COM EFICÁCIA REAL
c) as obrigações com eficácia real, também
denominadas obrigações oponíveis a terceiros,
podem ser consideradas figura híbrida. Revelam-se
autênticas obrigações stricto sensu – com direito a
uma prestação -, com a nota peculiar de serem
oponíveis a terceiros, como ocorre nos casos de
anotação preventiva do contrato de locação no
Registro de Imóveis para fins de proporcionar a
continuidade da locação mesmo em caso de alienação
do bem imóvel (art. 8°, da Lei n° 8.245/91).
CLASSIFICAÇÃO
• Há vários critérios de classificação dos direitos reais, mas, dentre os
que realmente interessam à melhor compreensão do tratamento
jurídico existente, podem ser apontados:
1. aquele que leva em conta a noção de pertencimento da coisa ao seu
titular (critério da titularidade do objeto) e divide os direitos reais em:
a) direito na própria coisa (jus in re propria, também denominado
“direito real ilimitado”. Trata-se da propriedade);
b) direitos na coisa alheia (jus in re aliena, da mesma forma conhecidos
como “direitos reais limitados”. São todos os demais que não o direito de
propriedade);

2. aquele que se refere à natureza da coisa objeto do direito real. Por


este critério, têm-se os direitos reais imobiliários e os direitos reais
mobiliários, conforme a natureza jurídica da coisa objeto do respectivo
direito real;
CLASSIFICAÇÃO
3. aquele que leva em consideração o aspecto intrínseco (funcional) inerente aos
direitos reais, classificando-os em:
a) direitos reais de gozo ou fruição;
b) direitos reais de garantia e
c) direitos reais de aquisição;

4. aquele que secciona os direitos reais em:


a) acessórios, que não existem independentemente ou autonomamente, como o
penhor, a hipoteca e a anticrese;
b) principais, que podem ser constituídos e mantidos independentemente de outro
direito.

5. aquele que leva em conta a amplitude dos poderes:


a) direito real ilimitado – o direito de propriedade;
b) direitos reais limitados – os demais direitos reais.

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