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OBJECTO DA PENHORA

Nos termos do art. 817º, do C. C., quando a obrigação não for


voluntariamente cumprida, pode o credor pode exigir judicialmente o seu
cumprimento e executar os bens do devedor.
A penhora consiste num acto judicial de apreensão dos bens do
executado, sendo a manifestação do exercício do poder coercivo do
tribunal.
O executado, na pendência da penhora, embora continue a ser o
proprietário do bem, fica privado do exercício de todos os poderes sobre o
bem.
O bem fica afectado, desde a penhora, à satisfação do crédito do
exequente, que adquire um direito real de garantia, nos termos do art. 822º,
do C.C.
Podemos dizer que a penhora, constitui o acto executivo mais
importante e identificador da acção executiva.

Nos termos do art. 735º, nº 1 do cpc, estão sujeitos à execução


todos os bens do devedor, susceptíveis de penhora, nos termos da lei
substantiva.
Também de acordo com o art. 747º, nº 1 do cpc, os bens do
executado são apreendidos, mesmo que se encontrem em poder de terceiro
(estranho à execução).
De acordo com o art. 735º, nº 2 do cpc, existe a possibilidade de
serem penhorados bens de terceiro, nos casos especialmente previstos na
lei, desde que a execução tenha sido movida contra ele. Isto acontece - art.
818º, do C.C., - quando bens de terceiro estão vinculados à garantia do
crédito, no caso de ter sido prestada uma fiança, aval, ou ter prestado uma
garantia real.
Aqui o terceiro é executado, utilizando-se o termo terceiro, no
sentido de que é estranho relativamente à obrigação principal.
Independentemente dos bens que possam ter sido indicados pelo
exequente, o nº 3 do art. 735º, do CPC, estabelece uma regra de
proporcionalidade entre o valor dos bens a penhorar e o valor da obrigação
exequenda.
Assim, a penhora deve limitar-se aos bens necessários para
pagamento da dívida exequenda, acrescido das despesas previsíveis da
execução, as quais se presumem, para efeitos da realização da penhora, no
valor de:
- 20% (até 5.000,00€)
- 10% (entre 5.000,00€ e 120.000,00€)
- 5% (valor igual ou superior a 120.000,00€)
nos termos do art. 735º, nº 3

De acordo com o artigo 751 n.º 1 A penhora deve começar pelos


bens cujo valor seja de mais fácil realização (dantes não era assim, uma vez
que havia uma ordem a respeitar) respeitando o princípio da adequação
(art. 751º, nº1).
Agora o Agente de execução deve respeitar as indicações de
penhora do Agente de exequente – artigo 751 n.º 1.
Só não respeitará se (artigo 751 n.º 2):
1) Violarem a lei;
2) Ofenderem o principio da proporcionalidade;
3) Ofenderem a regra do número 1 do artigo 751º.
Assim, de acordo com o estipulado na lei, o agente de
execução, caso sejam indicados para penhora bens em excesso, deverá
efectuar a penhora, apenas sobre bens necessários para pagamento da
quantia exequenda e despesas. Art. 751º, nº 1.

Isto é assim, sem prejuízo do estipulado no art. 751º, nº 3, que


permite:
a) A penhora de outros bens presumivelmente não permita a satisfação
integral do credor no prazo de 12 meses, no caso de a dívida não
exceder metade do valor da alçada do tribunal de 1.ª instância e o
imóvel seja a habitação própria permanente do executado;
b) A penhora de outros bens presumivelmente não permita a satisfação
integral do credor no prazo de 18 meses, no caso de a dívida exceder
metade do valor da alçada do tribunal de 1.ª instância e o imóvel seja
a habitação própria permanente do executado;
c) A penhora de outros bens presumivelmente não permita a satisfação
integral do credor no prazo de seis meses, nos restantes casos.

Quanto à alínea b) :
Exemplo: Se a dívida ascender a 30.000,00€, e o executado apenas
possuir um prédio urbano de valor estimado, em 60.000,00€, e um
veículo automóvel no valor de 15.000,00€, a citada norma permite a
penhora do imóvel, embora de valor excessivo, deixando livre o
automóvel, por não se prever que a sua venda satisfaça o crédito
exequendo.
Se o agente de execução penhorar bens em demasia, poderá o
executado opor-se à penhora excedentária, nos termos do art. 784º-A,
n. 1, al. a), 2ª parte.

O art. 601º, do C.C., diz-nos que respondem pelo cumprimento


da obrigação, todos os bens do devedor, mesmo os que passarem a
integrar o seu património, após a constituição da dívida.

No entanto, esta regra tem duas limitações essenciais:


1 – A dos bens serem insusceptíveis de penhora;
2 – A autonomia patrimonial resultante da separação de patrimónios.

1 – Quanto aos bens insusceptíveis de penhora, temos uma tripla


modalidade:
a) – Bens absoluta ou totalmente impenhoráveis – artº 736º CPC;
b) – Bens relativamente impenhoráveis – art. 737º;
c) – Bens parcialmente impenhoráveis – art. 738º.

1.a) - Bens absoluta, ou totalmente impenhoráveis – o art. 736º, refere-se


aos bens totalmente impenhoráveis, ou seja aqueles bens, que em
circunstância alguma poderão ser penhoráveis.

São impenhoráveis:
- Os bens inalienáveis, uma vez que é inútil apreender bens que não
possam ser apreendidos, ou vendidos. Art. 736º, al. a):
- É o caso do direito de uso e habitação – art. 1488º, do C.C
- O direito a alimentos – art. 2008º, do C.C.
- Direito à sucessão de pessoa viva – art. 2028º CC
- Direito ao arrendamento habitacional – porque inalienável, art.
1059º. C.C.
- A propriedade do nome ou insígnia do estabelecimento,
separadamente deste – artº 297º, do CPI.

- São impenhoráveis, por disposição especial da lei, por exemplo:


- O crédito de alimentos, art. 2008º, nº 2 do C.C.;
- Os manuscritos inéditos, esboços, telas ou esculturas quando
incompletos, salvo com consentimento do seu autor. Art. 50º
CDADC;
- Os créditos provenientes do direito à indemnização por acidente
de trabalho e por doenças profissionais. Assim o estipulava os
antigos artigos 302º e 309º do C.T., ora revogados. O artigo 78º da
Lei 98/2009 de 4 de Set. (REGULAMENTA O REGIME DE
REPARAÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO E DE DOENÇAS
PROFISSIONAIS) ainda estabelece que são impenhoráveis. Mas o

Tribunal Constitucional tem decidido que tais normas impõem um


sacrifício excessivo do direito do credor. A este propósito e nesse
sentido, veja-se o Ac. do Tribunal da Relação de Coimbra de
24.1.2012 (proc. 159-I/1991.C1) que decide no sentido da
penhorabilidade, disponível em www.dgsi.pt;
- Os subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos – art.
17º do D.L 496/80 de 20 de Outubro;
- Direito de subsidio de morte de funcionário publico – artº 8º, do
D.L 223/95 de 8 de Setembro;
- Prestação inerente ao direito ao rendimento de inserção social –
art. 23º, da Lei 13/2003 de 21 de Maio.
- Também são impenhoráveis porque são inalienáveis, os bens que
integram o domínio público do estado e das restantes pessoas colectivas
públicas.
Estes bens estão sujeitos a um regime especial, dado estarem
afectos à realização de fins de utilidade pública – artº 736º, al. b).

- Por motivos de ordem moral, são também absolutamente


impenhoráveis, os objectos cuja apreensão seja ofensiva dos bons
costumes, ou que careça de justificação económica pelo seu diminuto valor
venal, pelo que a sua apreensão apenas teria como objectivo envergonhar,
ou prejudicar o executado. – art. 736º al. c).

- Os objectos especialmente destinados ao exercício de culto público e


enquanto se mantiverem afectados a esse fim.
Assim, são penhoráveis imagens ou símbolos religiosos que estejam em
qualquer casa particular, ou em antiquários – art. 736º, al. d).
A doutrina entende que as capelas particulares e seus adornos são
penhoráveis.

- Os túmulos, incluindo toda a espécie de sepulturas livres ou


ocupadas, bem como os objectos que nela se encontrem tal como jarras,
cortinados, etc.
Estes bens só serão impenhoráveis quando estiverem no cemitério.
– art. 736º, al e).

- Os instrumentos indispensáveis aos deficientes e objectos destinados


ao tratamento de doentes – art. 736º, al. f).
1.b) – Bens relativamente impenhoráveis – art. 737º

- Os bens relativamente impenhoráveis são os bens que só podem ser


penhorados em determinadas circunstâncias, ou para pagamento de
certas dívidas.
Estão isentos de penhora:
- Os bens do Estado, e das restantes pessoas colectivas públicas, de
entidades concessionárias de obras ou serviços públicos, ou de pessoas
colectivas de utilidade pública que se encontrem especialmente afectados a
fins de utilidade pública, salvo tratando-se de execução para pagamento de
dívida com garantia real.
Art. 737º, nº 1

- São impenhoráveis os instrumentos de trabalho e os objectos


indispensáveis ao exercício da actividade, ou formação profissional do
executado.
Art. 737º, nº 2
É o caso de um barco que o executado utilize no exercício da sua
profissão de pescador, uma biblioteca jurídica de um solicitador.
A lei pretende assim evitar que o executado fique privado dos
meios indispensáveis ao seu sustento e do seu agregado familiar.
No entanto, a penhora dos bens torna-se possível se:
a) O executado os indicar para penhora;
b) Se a execução se destinar ao pagamento do preço da sua
aquisição ou do custo da sua reparação;
c) Se forem penhorados como elementos corpóreos de um
estabelecimento comercial.
Artº 737º, nº 2 al.s a), b) e c).
- Os bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se
encontrem na residência permanente do executado, salvo se, se tratar de
execução destinada ao pagamento do preço da respectiva aquisição, ou do
custo da respectiva reparação. – art. 737º n.º 3.

1.c) – Bens parcialmente penhoráveis – art. 738º

Os bens parcialmente penhoráveis são aqueles que só podem ser


penhorados, em parte, baseando-se tal impenhorabilidade parcial, na
dignidade da pessoa humana.
Não podem ser alvo de penhora:
- 2/3 da parte liquida dos vencimentos, salários ou prestações de
natureza semelhante, auferidos pelo executado – art. 738 º nº 1 al. a);
- 2/3 da parte liquida das prestações periódicas pagas a titulo de
aposentação ou de qualquer outra garantia social, seguro, indemnização por
acidente, ou renda vitalícia, ou de quaisquer outras pensões de natureza
semelhante – art. 738 º, nº 1 al. a).

O juiz, tendo em atenção o montante e a natureza do crédito


exequendo, e as necessidades do executado e do seu agregado familiar,
pode excepcionalmente vir a reduzir, por período que considere razoável a
parte que considere razoável dos rendimentos, e mesmo isentá-los de
penhora por período não superior a um ano – art. 738º, nº 6.
Aqui, o legislador optou por proteger o devedor, evitando que este
se transformasse num indigente, sacrificando o direito do credor.
O artigo 738º, nº 3 tem uma redacção, segundo a qual a
impenhorabilidade prescrita no nº 1, tem como limite, o montante máximo
equivalente a 3 salários mínimos nacionais, à data de cada apreensão, e
como limite mínimo, quando o executado não tenha outro rendimento, o
crédito exequendo não seja de alimentos, o montante equivalente a um
salário mínimo nacional.
Assim, isto significa que, em 1º lugar, poderão ser penhorados mais
de 1/3 do vencimento do executado, caso a parte restante e não penhorada,
seja pelo menos igual a 3 salários mínimos nacionais, à data de cada
apreensão. Isto só será possível, se o salario for superior a 505,00€. Assim
será penhorável por completo o que sobrar acima de 505€ x 3.
Em 2º lugar, terá que sobrar o montante equivalente, a um salário
mínimo nacional.
Agora o n.º 4 do artigo 738 refere que se a obrigação exequenda for
de alimentos, pode penhorar-se mais do que 1/3 do rendimento, tendo no
entanto que sobre o montante equivalente à pensão do regime não
contributivo (hoje 199,53).
De acordo com o artigo 738º, nº 5, na penhora de dinheiro ou de
saldo bancário de conta à ordem, é impenhorável o valor global
correspondente a 1 salário mínimo nacional, garantindo-se assim ao
executado a satisfação das suas necessidades mais prementes.

São impenhoráveis, a quantia em dinheiro ou depósito bancário, a


prazo ou ordem resultantes da satisfação de crédito impenhorável, nos
mesmos termos em que o era o crédito originário 739º.
Assim, a parte restante do salário não pode ser penhorada,
enquanto se presumir que essa quantia ou depósito bancário, se destina ao
sustento do executado e da sua família.

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