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DIREITO PROCESSUAL EXECUTIVO

A ação executiva inicia-se com o requerimento executivo, art. 724º., do


CPC. Com a ação executiva visa-se realizar o direito do credor que é titular do
direito a uma prestação incumprida por parte do devedor e, cuja prestação,
reúna condições para que possa ser executada sobre o património do devedor,
tal como resulta do disposto nos arts. 817º a 826º do C.Civ., desde que esteja
em causa uma execução para o cumprimento de uma obrigação para
pagamento de quantia certa, ou então em casos e situações de conversão de
uma prestação para entrega de coisa certa, ou então de prestação de facto em
conversão de prestação substitutiva por indemnização devida pelo
incumprimento do respetivo facto.
Muito pelo contrário, na execução específica para entrega de coisa ou
prestação de facto, quer positivo quer negativo, trata-se de prestações
específicas e dada a natureza das obrigações, por regra, não há lugar à penhora
de bens. É pelo título executivo, como é referido no art. 10º/5, que se determina
o fim e os limites da execução, se pelo título se obriga a entregar uma coisa, esta
será apreendida e faz-se a entrega ao exequente, só no caso de a mesma, por
qualquer motivo tiver desaparecido e não for possível a entrega, então o
exequente só pode ressarcir-se pelo seu equivalente pecuniário. Contudo, como
o título contém uma prestação específica de entrega de coisa móvel ou imóvel,
art. 10º/6, e no art. 827º do C.Civ., o exequente tem de requerer a execução
judicial para entrega de coisa certa e convolar o pedido, art. 867º, no seu valor
monetário equivalente. Em tudo semelhante quando se trata de título para a
prestação específica de facto positivo ou negativo, 828º e 829º, do C.Civ., e art.
10º/6, nos casos em que não seja possível as respetivas execuções pelo
executado, é também convertido, arts.869º e 870º, no seu valor pecuniário.
Então neste caso já haverá lugar à penhora, pelo que penhorar-se-ão bens do
executado para o respetivo ressarcimento.
Diferente é a ação de execução específica do contrato promessa, que
surge na lei inserida na execução específica da obrigação, mas nada tem a ver
com a execução de uma pretensão, antes pelo contrário, efetiva-se por via da
ação declarativa constitutiva, art. 10º/3/c), com o que se visa operar uma
modificação da situação latente, pela ponderação valorativa, pelo juiz, dos
direitos contidos no contrato promessa que, por efeito da sentença, se efetiva
na transferência do direito em conflito da esfera patrimonial do promitente
vendedor, faltoso, para a esfera patrimonial do promitente comprador, tal como
decorre do previsto no art. 830º/1, do C.Civ.

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O exercício da ação executiva insere-se no âmbito do direito de ação civil,
nos termos previstos no art. 20º da CRP, (direito fundamental potestativo dos
cidadãos diante do Estado), e art. 2º do CPC, o que nos remete par uma noção
delimitadora da ação executiva como um direito ou um poder jurídico de
requerer as providências jurisdicionais adequadas à satisfação de uma prestação
patrimonial contida num documento escrito e subscrito que reúna as exigências
legais de exequibilidade para o respetivo efeito garantistico e efetivador do
direito fundamental à propriedade privada.
Para os efeitos atrás referidos, importa agora atender aos pressupostos
específicos como exigência para a execução:
 o título executivo, como pressuposto formal, como decorre do
disposto nos arts. 10º/4/5/6, e 703º e sgts., do CPC;
 a certeza, a exigibilidade e a liquidez da obrigação exequenda,
como pressupostos substanciais, como decorre das disposições
dos arts. 713º a 716º do CPC.
A ação executiva quanto à espécie é compreensível nos termos previstos
no art. 10º/6, do CPC, em três espécies:
 ação executiva para pagamento de quantia certa (como prestação
pecuniária, arts. 550º a 558º CC);
 ação executiva para entrega de coisa certa (como prestação de “dare”,
coisa diferente de dinheiro, ainda que de coisa fungível se trate, art. 861º
CC);
 ação executiva para prestação de facto, quer positivo quer negativo,
fungível ou infungível (como prestação de facere- arts. 828º e 829º CC.
Identificada a espécie de ação vamos, seguidamente, perceber a estrutura,
no que respeita aos pressupostos processuais, importando aqui ter presente os
requisitos necessários ou imprescindíveis para que possa exercer-se a respetiva
ação. Neste sentido importa saber:
 quem pode exercer a ação e contra quem a mesma é exercível
 em que tribunal deve ser proposta
 assim como as características materiais e formais que têm de estar
presentes na ação executiva.
Desde logo é preciso saber-se quem tem personalidade e capacidade
judiciárias, arts. 11º a 29º, do CPC., a legitimidade processual, arts. 53º a 57º do
CPC, a competência do tribunal, arts. 85º, a 90º, do CPC.
Noção de título executivo: o art. 10º/5, dispõe que toda a execução tem
por base um título, pelo qual se determina o fim e os limites da ação executiva.
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Sem título não há execução, tendo de ser um título dos previstos no art. 703º/1.
do CPC., em conjugação com o disposto no nº 6 do art. 10º, do mesmo diploma.
Sobre documentos deve-se partir da noção como documento escrito e assinado
nos termos enunciados nos arts. 362º, 363º, 369º,a 378º, do C.Civ., e 153º./1/3,
do CPC. (ver arts. 704º. a 708º., do CPC, ou então em legislação extravagante.
O título executivo pode o mesmo ser compreendido como o documento
escrito e subscrito representativo da constituição ou reconhecimento de uma
obrigação patrimonial, para uma das partes, e o direito de crédito para a outra
parte, advinda de uma relação jurídica, que tenha por objeto uma prestação
pecuniária, para entrega de coisa certa, móvel ou imóvel, ou então uma
prestação de facto positivo ou negativo, fungível ou infungível e que preencha
os requisitos legais previstos nos arts. 703º/1, e 704º a 708º do CPC., ou então
previsto em legislação especial.
É ainda pela espécie do título, enquanto requisito formal fundamental da
ação executiva, que se determina também a forma de processo que a execução
vai prosseguir:
 forma sumária quando o título prevê o pagamento de quantia certa,
como se prevê no art. 550º./2, e 859º e sgts., com a salvaguarda do
previsto no nº.3, do 550º, que segue o previsto no nº2 do 626º, todos do
CPC, onde se refere que a execução de decisões judiciais condenatórias
proferidas em processo declarativo, salvo as proferidas em processo
especial de despejo, são tramitadas, de forma autónoma, nos próprios
autos do processo declarativo, al.a), do nº 2 parte final, como previsto
nos arts. 85.º/1, e respetivo 626.º, do CPC, na forma sumária.
Aclarando ideias, no que convém não confundir, a sentença condenatória,
bem como qualquer despacho que contenha segmento condenatório, (desde
que transitada em julgado) obviamente, constitui título executivo, tal como
decorre do previsto nos arts. 703º/1/a) e 704º./1., onde se ressalva as situações
das sentenças que estejam em sede de recurso interposto com efeito
meramente devolutivo, art. 647º./1 (sem os efeitos previsto no nº 4 deste art.,
onde se prevê a hipótese do recorrente, nos termos ali previstos, requerer os
efeitos suspensivos da sentença) é também exequível, com a salvaguarda das
situações das ações de despejo, procedimento especial de despejo, cuja
regulação está prevista no art. 15º. Do NRAU/2006, nas alterações operadas
pela Lei nº 13/2019, de 24/2., ver 626º./1.
Nos casos em que a decisão judicial tenha condenado em prestação
(obrigação) genérica, tal como se prevê no nº 2, do art. 609º, cuja liquidação
não dependa de simples cálculo aritmético, a sentença só é exequível após a

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respetiva liquidação ser feita no processo declarativo, nos termos previstos nos
358º. a 361º., isto sem prejuízo de se poder executar a parte do título que já
seja líquida, como se dispõe no art.704º./6. Porém, se a iliquidez da obrigação a
executar tiver por objeto mediato uma universalidade e não for possível
determinar os elementos todos que a compõem, a universalidade é logo
entregue ao exequente, após a apreensão, como decorre do disposto no art.
716º./7.
Partindo do que se dispõe no art. 703º, do CPC, pode-se estruturar uma
perceção dos títulos executivos do seguinte modo:
 títulos judiciais e equiparados, como sentenças condenatórias nacionais
ou estrangeiras, e decisões dos tribunais arbitrais e julgados de paz, como
decorre do, 703º/1/a), e 704º/1;
 atos judiciais como os previstos no art. 705º/1;
 decisões arbitrais nacionais ou estrangeiras, como decorre dos
arts.,705º/2 e 706º/1, todos do CPC.
 títulos extrajudiciais como os títulos negociais como o são os documentos
elaborados ou autenticados por notário ou por outras entidades ou
profissionais com poderes e competência para tal, como decorre do
previsto no 703º/1/b);
 títulos de crédito previstos na alínea c), respetivamente; títulos criados
por disposição especial, previstos na alínea d) do art. supracitado.
Devemos sublinhar, neste ponto, que embora os documentos elaborados por
notário tenham exequibilidade plena, dado serem criados no âmbito da
autonomia negocial das partes e dentro dos limites da lei que, pelo seu
conteúdo, possam servir de base às execuções de quaisquer obrigações
patrimoniais para pagamento de quantia certa, para a entrega de coisa certa,
móvel ou imóvel, ou para prestação de facto positivo ou negativo, previstas e
referidas no art. 10.º/6, do CPC., na condição de que seja lícito aos outorgantes
poderem dispor dos direitos e obrigações ali mencionados. Mas se sobre estes
títulos executivos, para efeitos de exequibilidade não impende quaisquer
restrições ou limites, em comparação com os títulos judiciais, o mesmo já não se
verifica no que respeita à oposição a tais execuções. Neste ponto, o âmbito de
oposição é bem mais latitudinário, dado que de acordo com as disposições do
art. 731.º, do CPC, onde se refere que o executado pode invocar, para além dos
fundamentos especificados no art. 729.º, do citado diploma, todos os meios de
defesa, por impugnação ou exceção que lhe seria lícito deduzir em sede do
processo de declaração, nos termos previstos nos arts. 342.º, do C.Civ., e 571.º,
576.º a 579.º, do CPC., o que se não verifica na oposição aos títulos judiciais ,

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dado aqui estar-se limitado ao que a lei elenca e não a qualquer meio alegável
no âmbito da ação declarativa. Ora, aqui há diferenças que convém reter.
Feita esta distinção, importa rever nesta matéria o valor probatório formal
tal como resulta do disposto no art. 370.º/2, do C.Civ., cuja presunção pode ser
ilidida mediante prova em contrário, mediante alegações que demonstrem e
provem a sua falsidade, art. 371.º, e 372.º., do mesmo Diploma, que incumbe ao
executado demonstrar e provar em sede de embargos que a lei põe ao seu
dispor, nos arts. 446.º e sgts., do CPC.. Isto sem prejuízo do conhecimento
oficioso do tribunal, nos casos de manifesta indicação de falsidade do
documento em execução e cuja permissão resulta do disposto nos arts. 370.º/2,
e 372.º/2, do C.Civ.
Um outro pormenor distintivo entre estes dois títulos executivos, (judiciais e
extrajudiciais autênticos e autenticados) é observável na forma de processo,
referindo-se no art. 550.º/2/c) e d), do CPC.:
 onde é referido que tratando-se de título extrajudicial, desde que dele
conste obrigação pecuniária vencida, garantida por hipoteca ou
penhor, ou mesmo de qualquer obrigação pecuniária vencida de valor
não excedente ao dobro da alçada do tribunal de 1ª instância, seguir-
se-á a forma de processo sumário.
 ora, para as execuções de títulos judiciais, a forma é sempre sumária
independentemente do valor, como resulta das alíneas a) e b), do
mesmo nº. e art., ressalvando-se as executadas no próprio processo e
as do nº 3, atendendo à natureza das obrigações em causa a executar.
(genéricas, etc.).
Para uma melhor perceção distintiva dos casos que seguem a forma
sumária e ordinária, dado a lei não o especificar com a desejada clareza, importa
referir os casos que não seguem a forma sumária e que, sem dúvidas, são muito
menos. Neste propósito e para o efeito seguem forma ordinária: todos os casos
previstos nos arts. 714 e 715, por configurar, v.g., obrigações alternativas e cuja
prestação estar sujeita a uma escolha ou então sob a verificação de uma
condição suspensiva, etc.; nas situações em que a obrigação exequenda
necessite de ser liquidada num enxerto declaratório onde se possa fazer prova
do direito a executar, art. 716º/4/5; as situações em que o título executivo é da
espécie extrajudicial e é exercido apenas contra um dos cônjuges e o exequente,
no requerimento executivo, alegue a comunicabilidade da dívida, como se prevê
nos arts. 724º/1/e) e 741º/1; nos casos em que a execução é movida apenas
contra o devedor subsidiário que não tenha renunciado ao benefício da
excussão prévia, como decorre do disposto na art. 745º/1/2.

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Refere-se aqui o pormenor distintivo entre o valor do documento
autêntico e autenticado, que embora ambos constituam prova plena e
aparentemente tenham o mesmo valor, refere-se no art. 377.º do C.Civ., que o
documento particular não substitui o documento autêntico, quando para a
validade do contrato a lei o exija. Nestes casos não está em causa o valor do
título executivo, mas sim a validade da obrigação a executar, ou seja, os
requisitos substantivos legais da obrigação exequenda, por falta de forma do
negócio que lhe dá causa, como resulta do art. 220.º, do C.Civ., o que constitui
fundamento de indeferimento liminar imediato, como resulta do disposto na al.
c), do nº2, do art. 726.º, do CPC.
Surgem aqui outros documentos autenticados por entidades ou
profissionais com competência legal para os produzir e que, por lei, são
equiparados ou semelhantes aos documentos autenticados por notário, tal
como os conhecemos. Dão conteúdo aos referidos documentos o
reconhecimento, para o efeito, a determinados profissionais ou instituições,
como conservadores, oficiais de registo, advogados, solicitadores e câmaras de
comércio e indústria, cuja competência lhes foi atribuída a partir da publicação
do DL. 244/92,de 29/10, e desde que em conformidade com o disposto no art.
38.º, do DL., 76-A/2006, de 29/3, mas cuja validade se faz depender do
necessário registo em sistema informático, como se prevê no nº 3, do art. 38.º.,
exigência reconduzida e regulamentada com atualidade pelo disposto no art.
24.º/6, do DL. Nº 116/2008, de 4/7, que confere autoridade e competência, às
entidades autenticadoras, para arquivarem os originais de tais documentos. Em
termos de exequibilidade, estes documentos enquadram-se nos previstos na art.
703.º/1/b), do CPC.
Ainda voltando à ideia dos títulos judiciais importa referir que a lei alude
a sentenças condenatórias devendo aqui entender-se como tais todas aquelas
que condenam o réu no cumprimento de uma obrigação patrimonial, como
sejam condenações na realização de prestações que podem ser de pagamento
de uma quantia pecuniária, de entrega de coisa, que pode ser móvel ou imóvel,
ou de prestação de facto positivo ou negativo. Em síntese, qualquer decisão
judicial que contenha um segmento condenatório incumprido constitui título
exequível e preenche os requisitos previstos noa art. 703º./1/a) do CPC. Ver arts.
550º./2, 284º., e 290º./3, 729º./1/i), 291º, do CPC., para aferir da conformidade
das exigências de exequibilidade.
Na execução de título judiciário, para além dos montantes especificados
no título é possível acrescentar ao especificado os juros de mora legais, desde o
trânsito em julgado da decisão e que não tenham sido pedidos na ação que
produziu o título a executar, como decorre do disposto no nº 2, do art. 703º.,

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assim como podem ser pedidos juros compulsórios, a partir daquele momento
do trânsito em julgado, como previsto na art. 829º.-A/4, do C.Civ., à taxa de 5%
ao ano. A repartir em partes iguais para o exequente e para o Estado, como
decorre do nº3.
A oposição à execução judicial está prevista nos termos do art. 729º., do
CPC., para outros casos ver o art. 291º/1., do mesmo diploma. Nas decisões
equiparadas a sentenças dispõe o art. 705º./1, e 817º. Do C.Civ., e arts. 152º./1,
417º./2, 437º., 508º./4, do CPC.; o art. 61º., da Lei 54/2013- 31-7, Julgados de
Paz. Deve ser aqui relevado a execução das decisões do Tribunal da EU, e do
Tribunal da Associação Europeia do Comércio Livre (EFTA), nos termos previstos
nos arts.280º a 299º., do Tratado sobre o Funcionamento da EU., na versão do
Tratado de Lisboa, desde que contenham aposta a fórmula executória pelo
presidente do Tribunal da Relação da área de residência do executado.
Outras sentenças estrangeiras seguem o previsto no art. 706º./1.,
combinado com o disposto no nº 1, do art. 978º., do CPC. Como é sabido as
sentenças proferidas por tribunais estrangeiros, que tenham transitado em
julgado, só podem servir de base à execução após processo de revisão regulado
nos arts. 980º., a 985º., pelo tribunal português competente, sem prejuízo do
que estiver estabelecido em tratados e leis especiais que Portugal tenha
subscrito, como decorre do previsto no art.979º., que estabelece o Tribunal da
Relação da área de residência do executado, nas adaptações possíveis do
disposto nos arts. 80º., a 82º., todos do CPC.
Chama-se a devida atenção para a nossa inserção na EU e de acordo com
o Regulamento (CE) n.º 44/2001 do Conselho da CE, de 22-12-2000, a vigorar
desde 1 de Março de 2002, relativo à competência judiciária, no respeitante ao
reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial, que
dispensam quaisquer processo de revisão, ficando apenas sujeitas ao exequatur
do tribunal de 1.ª instância, nos termos previstos nos arts. 38.º a 56.º do
regulamento supracitado. Após a entrada em vigor do Reg. da UE,
nº1215/2012 , no art.36º., afasta quaisquer requisitos formais permitindo que
uma decisão de um tribunal de qualquer Estado Membro, é exequível em
qualquer outro Estado Membro, permitindo oposição, do executado com os
fundamentos previstos no art. 45º do mesmo Diploma. No art. 39º, deste Reg.,
prevê também a exequibilidade, num outro Estado Membro, de qualquer título
que tenha força executiva num dos Estados, só se lhe opondo, art. 46º.,
qualquer dos motivos previstos no art. 45º.
As decisões dos tribunais arbitrais, que para efeitos de exequibilidade são
equiparadas às decisões judiciais. Estas decisões, ou sentenças arbitrais, são
proferidas pelos respetivos tribunais arbitrais, previstos na art. 209.º/2 da CRP,
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que podem ser necessários, instituídos por lei, art.1082.º a 1085.º do CPC.; ou
voluntários, constituídos por iniciativa dos particulares nos termos da lei, seja
como tribunais arbitrais ad hoc ou tribunais arbitrais institucionalizados, nos
termos previstos no art. 62.º da LAV., Lei n.º 63/2011, de 14/12., que revogou a
lei 31/86, de 29/8. Por força do art. 11.º do D L. 226/2008, de 20/11, é possível
a arbitragem nos conflitos do processo de execução.
Passada em revista o que se dispõe para os títulos executivos judiciais,
por documentos autênticos e autenticados, vamos agora observar os títulos de
crédito que possam servir de título executivo à ação executiva e referidos no art.
703.º/1/c), do CPC., desde que os factos constitutivos da relação subjacente
constem do próprio documento ou sejam alegados no requerimento executivo.
Dão corpo a estes títulos de crédito as letras, livranças e cheques, que aqui
trataremos com especial cuidado. Sendo estes documentos particulares não
autenticados mas assinados pelo devedor, mas sujeitos ao regime especial do
direito cartular que, mesmo perdendo a sua validade como título de crédito,
podem ainda ser exequíveis como meros quirógrafos. A uns e outros são
aplicadas as regras gerais para os documentos previstos nos arts. 373.º e sgts.,
do C.CIV., desde que assinados pelo seu autor ou por outrem a rogo, se o autor
não puder ou não souber assinar, n.º 1 deste art.
Ora, partindo do atrás observado, poder-se-á então dizer que se
consideram documentos particulares exequíveis os títulos de crédito que, à luz
da lei, possam valer como tal em conformidade com o regime cartular,
independentemente de alegação da relação subjacente, dado titularem
negócios jurídicos abstratos. Para além destes: ainda os títulos de crédito que
tenham perdido essa qualidade mas que passem a valer como meros
quirógrafos, desde que os factos constitutivos de relação subjacente constem do
próprio documento ou sejam alegados no requerimento executivo, nos termos
previstos na al. e) do n.º 1, do art. 724.º, do CPC.
Os títulos de crédito transportam sempre o direito e a obrigação que
permite uma execução para pagamento de quantia pecuniária certa e os
respetivos juros que podem ser liquidados por mero cálculo aritmético, tal como
se dispõe nos arts. 703.º/2, e 716.º/1/2, do CPC. O executado pode opor-se à
execução nestes títulos, ainda que meros quirógrafos, como meros documentos
particulares não autenticados, podendo usar todos os meios de defesa que lhe
fosse permitido no âmbito da ação declarativa. Contudo, importa ressalvar as
situações em que se reparte o ónus da prova previstas para os referidos
documentos: v.g., a impugnação da assinatura pelo aceitante (devedor), nos
termos do art.374.º, do C.Civ., coloca o exequente no dever de provar a
genuinidade do documento a executar desde que a assinatura contenha o

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requisito de estar reconhecida presencialmente dos intervenientes por notário,
caso em que incumbirá ao executado arguir e provar a falsidade desse
reconhecimento, como se dispõe no art.375.º/2, do C.Civ. Mas estes
documentos fazem prova plena no que respeita às declarações nele contidas em
relação ao seu autor, sem prejuízo de se poder alegar a falsidade do documento
como se dispõe no nº.2, do art.376.º, do C.Civ. Sobre estas questões, ver arts.:
360.º, 378.º, 347.º, 393.º, a 395.º, todos do C.Civ.

Importa ainda, no âmbito dos títulos de crédito cartulares, considerar as


situações no domínio das relações imediatas, onde cabe ao obrigado cartular
provar as exceções fundadas na relação causal ou extra cartular, nos termos
gerais de direito e especificamente o disposto nos arts. 10.º e 17.º, da LULL,
assim como o disposto nos arts. 13.º e 22.º, da LURC., a contrário sensu. Já no
que se refere ao domínio das relações mediatas, fica o devedor absolutamente
impedido de opor ao portador do título quaisquer exceções relacionadas com a
relação cartular subjacente, exceto se poder demonstrar que a posse do título
foi adquirida de má fé, como se prevê nos arts. 10.º e 17.º, parte final, da LULL,
e 13,º e 22.º, da LURC. Podendo o devedor impugnar a assinatura que lhe é
atribuída, e mesmo a prescrição.
No âmbito de relações imediatas importa sublinhar que os títulos de
crédito aceites sob a condição de pacto de preenchimento, (letra, livrança e
cheque) podem não ser tidos como títulos executivos desde que o executado se
oponha, nos embargos de executado e demonstre (prove) que o respetivo título
foi preenchido abusivamente, por violar o acordo prévio, como decorre do
previsto no nº 4 do art. 732º., com o fundamento de insuficiência de título.
Embora na parte final, da referida norma, se admita que o título possa ser só
parcialmente inválido e neste caso poder ser exequível na parte aceite no pacto
de preenchimento e a parte abusiva ser tida como não escrita, ou seja, o título é
revogado na parte do abuso.
O pacto cambiário de preenchimento convive com outros negócios que
importa também ter em conta dada a importância que têm para as execuções e
que importa perceber. Para o efeito devemos referir neste ponto,
nomeadamente, o protesto, o endosso e o aval. No primeiro caso como
requisito formal para se iniciar a execução: o protesto consiste num ato formal e
deve ser feito num dos dois dias úteis seguintes ao dia em que a obrigação
contida no título se venceu, arts. 44º., 77º., da LULL, e 41º, da LURC, e regulado
nos arts. 119º. A 130º., do C. Notariado. Este ato de protesto pode ser
substituído por uma cláusula inscrita no próprio título com os seguintes dizeres:

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“sem despesas” ou “sem protesto”, e nestes casos dispensa o protesto, como se
dispõe no art. 46º, da LULL.
O protesto é feito no cartório notarial da residência do devedor ou
aceitante do título. O endosso, como o meio adequado que agiliza o título de
crédito e efetiva a característica da circulabilidade, dado que é transmissível
desde que contenha a assinatura do endossante no próprio título ou então
numa folhe à parte mas anexada ao mesmo, como se dispõe no art. 13º/l, da
LULL. O endosso, enquanto negócio cambiário, pode ter várias modalidades de
vinculação, como é observável nas disposições dos atrs. 11º, a 20º., da LULL, e
arts. 14º, a 24º, da LURC.
Por fim o aval: o aval consiste numa garantia do pagamento do respetivo
título avalizado por quem assume a responsabilidade no cumprimento da
obrigação cambiária que, de acordo com o disposto nos arts. 30º, a 32º.,e
77º./lll, da LULL, e 25º, a 27º., da LURC, passa a ser devedor direto sem
reservas, trata-se de uma assunção da dívida em regime de solidariedade
previsto nos arts. 512º, e ss, do C.Civ. Bem diferente do fiador que assume a
responsabilidade pelo pagamento da dívida, por falta de património do
afiançado na forma subsidiária, ou seja, o seu património só é executado após
toda a execução do património do afiançado, à menos que o fiador tenha
abdicado da defesa de excussão prévia dos bens do devedor efetivo, como
decorre do previsto no art. 640º, do C:Civ. Casos em que passa a devedor
solidário.
Importa sublinhar que o exercício do direito cartular depende da posse
legítima do próprio título, exigência que desde logo decorre do disposto nos
arts. 16.º e 77.º, da LULL; e do decorrente do art. 19.º, da LURC; assim como do
disposto no art. 7.º, do DL. 19.940, de 21-3-1931, no que respeita ao extrato de
factura, (hoje totalmente derrogado, por falta de uso). Estes títulos de crédito
podem ser reformados nos termos previstos no art. 484.º do C.Com. No que
respeita à exigência do original do título para a execução prosseguir, ver o que
se dispõe no n.º 5, do art. 724.º, do CPC.
No que respeita aos documentos particulares assinados pelo devedor,
que não são títulos executivos, resta-lhes seguir o regime do requerimento de
injunção, a que tenha sido aposta formula executória, nos termos do art. 14.º,
do diploma anexo ao DL, 269/98, de 1/9. com muitas alterações, última das
quais, pelo DL,226/2008, de 20/11, para a execução de obrigações pecuniárias
emergentes de contrato de valor não superior a 15.000.00€, incluindo a taxa de
justiça paga pelo requerente, os juros de mora, desde a data de apresentação do
requerimento de injunção e os juros compulsórios de 5%, ao ano, contados a
partir da data da aposição da fórmula supra referida.
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Importa também referir que a lei prevê o requerimento de injunção para
remunerações emergentes de transações comerciais, desde que onerosas entre
empresas, ou entre estas e entidades públicas, independentemente, do valor,
natureza, forma ou designação e se prenda com o fornecimento de mercadorias
ou se relacione com prestações de serviços, como resulta das disposições dos
arts. 1.º, 2.º/2, 3.º/a), 7.º/1, do DL., 32/2003, de 17-2, que transpõe a Diretiva
nº 2003/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29-6.; e do art. 7.º, 2ª
parte, do diploma anexo ao DL., nº 269/98, de 1-9.
A execução baseada em requerimento de injunção com fórmula
executória, segue a forma sumária para pagamento de quantia certa, como se
prevê no art. 550.º/2, ressalvando o que se dispõe no n.º 3, do mesmo art., e
podendo haver oposição (restrita), nos termos previstos no art. 857.º, do CPC.
Para além dos títulos enunciados, existem muitos outros de natureza de serviços
e outras obrigações de prestações públicas/privados, como serviços de saúde,
judiciais, segurança social, fiscais, etc., e v.g., relações de condomínio,
respetivamente.
Observados os títulos e as hipóteses de títulos executivos, importa agora
observar-se alguma doutrina sobre a natureza e função do título executivo.
Espaço de reflexão onde marcam presença duas figuras de relevo: Carnelutti,
que caracteriza o título executivo como documento; e Liebman, para quem o
título executivo se perfila como um ato jurídico. Para o primeiro o título
executivo, seja judicial ou extrajudicial, consiste num documento a que a lei
atribui o efeito de prova legal, sintética e integral do crédito que se pretende
executar e surge como uma condição necessária de facto e de direito, para se
poder levar a cabo a pretensão executiva.
• Para Liebman o título executivo como ato jurídico de eficácia constitutiva,
acaba por exprimir a sanção latente na ordem jurídica e que consta do
documento, ou seja, o seu conteúdo. Para o primeiro o que importa é o
título, para o 2º, o que importa é o que o título contém.
• Para Carnelutti o que importa é a eficácia probatória; para Liebman o que
importa é a eficácia constitutiva. É importante acrescentar a estas teses
dum e doutro, faz total sentido o que ambos dizem, na medida em que
para que o direito seja exercido, em ação executiva, é imprescindível o
título com aqueles requisitos de forma, contudo, é importante admitir-se
que um título vazio, sem direitos, ou de conteúdo de direitos ainda
inexigíveis, tornam a execução inócua ou ineficaz.
Esta ideia reflete-se com atenta visibilidade no que a lei dispõe sobre a
espécie de títulos, ao referir-se a sentenças condenatórias, art. 703.º/1/a),

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acolhendo aqui relevância ao conteúdo da decisão judicial, ao ato condenatório
numa prestação pertencente ou reconhecida ao credor e veiculada naquela
sentença; mas logo a seguir alude a documentos, al. b), deste mesmo art., pelo
que se pode concluir que uma ideia não sobrevive sem a outra e o nosso
legislador teve essa perceção. O que os dois autores defendem é ilustrável numa
ideia, por hipótese, no seguinte quadro: alguém diz que viaja rápido, mas o
viajar rápido não depende apenas da sua vontade, depende também do veículo
que pode utilizar para a rapidez da viagem que pretende fazer. Esta vontade, por
muita que seja, não se realiza sem o adequado veículo. Uma coisa sem a outra
não se efetiva, dependem uma da outra para se concretizarem. Em síntese, as
duas teses em confronto, a nosso ver, precisam uma da outra e complementam-
se para que se efetive a ação executiva.
Em conclusão, para efeitos da execução a obrigação para o executado
satisfazer o direito do credor exequente, seja em título judicial ou extra judicial,
não é possível sem o suporte documental, constituindo o título, em si, o próprio
documento que nesta espécie de ação representa e confere validade ao pedido
e a causa de pedir ao delimitar, assim, os fins e limites da ação executiva, como
decorre do disposto no nº 5, do art. 10.º, do CPC., sem necessidade de se alegar
quaisquer relações jurídicas subjacentes para ser exercido o direito em
execução.
Porém isto não invalida o que se dispõe para o título que é mero quirógrafo,
onde a lei exige que seja alegado o negócio subjacente, ou relação causal, no
próprio requerimento executivo, como se dispõe no art. 724.º/1/e), do CPC.
Caso isto se não verifique, observar-se-á a falta de um requisito do
requerimento executivo, o que, inevitavelmente, conduzirá à recusa do mesmo
pela secretaria ou pelo agente de execução, consoante os casos, por força do
disposto no art. 725.º/1/c), e 855º/2/a) respetivamente, sem que se descure o
poder-se reconduzir, em determinadas circunstâncias, a que haja lugar a
despacho de aperfeiçoamento, por parte do juiz, em consonância com o
disposto no nº 4, do artº726.º, do CPC., caso o documento cartular não esteja
prescrito, o que neste caso já não seria possível, dado a prescrição não ser de
conhecimento oficioso, antes pelo contrário: é vedado ao juiz, conhecer da
prescrição que não seja alegada pelo interessado, como se dispõe no art.303.º,
primeira parte, do C.Civ.
Por sua vez, a falta de apresentação do original do título ou então a sua
cópia, e a secretaria não tiver dado conta, nem o agente de execução, cumpre
ao juiz convidar o exequente a apresentá-lo, em prazo a fixar, sob pena de
indeferimento liminar mediato do requerimento executivo, tal como resulta do

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disposto nas disposições dos números 4 e 5, do art.726.º, ou então de rejeição
ulterior da execução, como se prevê no art. 734.º.
Nesta fase do nosso estudo da ação executiva, em nome da celeridade e
eficiência, importa agora aferir dos poderes e competências específicas das três
entidades que dinamizam a execução como seja a secretaria, o agente de
execução e o juiz, cujas funções se podem aferir na missão de cada uma delas,
como se harmonizam na interdependência de fins, na efetivação da proficuidade
a bem dos cidadãos utentes e da justiça esperada. Neste sentido e de acordo
com o que a lei dispõe avaliemos, pois, as disposições dos arts. 719º, 722º e
723º e sgts.
Ora, numa fase liminar incumbe à secretaria, de acordo com o disposto no
art. 719º/3, para além de exercer as funções que lhe estão adstritas, em termos
gerais, nas disposições do art. 157º, exerce todas as diligências de expediente
inerentes à execução, na primeira fase, no que respeita a procedimentos ou
incidentes de natureza declarativa, com ressalva da citação que incumbe ao AE,
notifica, oficiosamente, o próprio AE, como se dispõe no nº 4 do mesmo artigo.
São ainda incumbências da secretaria: receber, verificar e recusar, quando for
o caso, o requerimento executivo, na forma ordinária, com os fundamentos
previstos no art. 725º/1, cabendo reclamação para o juiz, do ato de recusa, de
cuja decisão não há recurso, como se dispõe no nº 2, do referido artigo; nos
termos do art. 726º/8, nos casos em que haja lugar à citação do executado, a
secretaria remete ao agente de execução, por via eletrónica, o requerimento
executivo e os documentos que o acompanhem, notificando-o de que deve
proceder à citação; Nos termos do nº1, do art. 748º, cabe ainda à secretaria
notificar o agente de execução de que deve iniciar as diligências da penhora, o
que significa que o agente de execução está dependente dessa notificação para
dar início às respetivas diligências.
O agente de execução, que exerce funções na ação executiva, nos termos
previstos no art. 129º/1, EOSAE, Lei, 154/2015, de 14/9, onde é referido que “o
AE é o auxiliar da justiça que exerce poderes (…) de autoridade pública no
cumprimento das diligências que realiza nos processos de execução, nas
notificações, nas citações, nas apreensões, nas vendas e nas publicações, no
âmbito de processos judiciais, ou em atos de natureza similar (…) equiparados
(…)”. Ora, partindo desta norma poder-se-á dizer, então, que estamos diante de
um auxiliar da justiça que, nas suas competências na ação executiva, exerce
poderes de autoridade pública. De resto esta ideia é reforçada pelo que se
dispõe no artº. 719.º/1, onde lhe é atribuído, subsidiariamente, poderes para
“todas as diligências do processo executivo que não sejam atribuídas à
secretaria nem sejam da competência do juiz (…)”.
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 Exerce os poderes que lhe são atribuídos nos termos do art. 720º/5/6/7/,
o poder de solicitar a outro colega as diligências no local, que pela
distância e custo, lhe pareçam desproporcionados para a respetivas
deslocações;
 Pode promover, sob a sua responsabilidade e supervisão, a realização de
algumas diligências materiais do processo executivo, por empregado ao
seu serviço;
 exerce os poderes/deveres de notificação e de outros atos nos prazos de
de 5 e 10 dias, respetivamente. Integram ainda os seus poderes extinguir
a ação executiva, sem necessidade de intervenção judicial nem da
secretaria, devendo comunicar por via eletrónica, a referida extinção ao
tribunal, como decorre do disposto no art. 849º/3;
 assinala-se ainda os poderes que lhe são reservados, após a extinção da
instância, para os atos emergentes do processo que careçam da sua
intervenção, art. 719º/2, ou, v.g., atos que se prendam com o
levantamento ou cancelamento de registos de penhora, art 763º, e a
comunicação à conservatória competente da conversão da penhora em
hipoteca, assim como a extinção desta após o cumprimento do acordo,
como decorre do disposto no art. 807º/4;
A lei prevê no art. 722º, que as funções do AE, possam ser efetuadas por
oficial de justiça em diversos casos e situações: Casos de execução em que o
Estado seja exequente ou em situações em que o MP represente o exequente,
nos casos em que o exequente o requeira ao juiz, com fundamento em que na
comarca não existe AE, inscrito onde corre a execução e os custos são
manifestamente desproporcionados para o AE, de outra comarca; se a execução
não tiver um valor superior a 10.000€; nos casos em que o valor da execução
não exceda o valor de 30.000€, e o crédito a executar seja de natureza laboral e
desde que o exequente o solicita no requerimento executivo e pague a respetiva
taxa de justiça.
No que respeita aos poderes de intervenção do juiz na ação de execução,
digamos que essencialmente, em termos funcionais e operativos intervém nos
atos da execução de reserva de juiz ou que representem restrições à direitos
fundamentais, quer das partes quer de terceiros; Remotamente, exerce poderes
de controlo e de supervisão de qualquer ação executiva, mas em grande parte
das execuções só intervém após ser requerida a sua intervenção, quer pelas
partes quer pelo próprio AE.
Porém, no processo executivo é da sua competência exclusiva do juiz:

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 decidir em processo ordinário, sobre o incidente de exigibilidade de
obrigação nos casos dispostos no art. 715º/3, ou seja, diante de
obrigações condicionais ou dependentes de prestação.
 decidir sobre a realização de diligências, que em princípio competem
ao AE, por oficial de justiça, desde que as mesmas lhe sejam
requeridas pelo exequente ou pelo AE, como resulta do disposto no
art. 722º/1/c)d);
 proferir despacho liminar, nos casos em que haja lugar a este, como se
dispõe nos arts. 723º/1/a), 726º/1 e 734º/1;
 julgar e decidir sobre todos o incidentes de natureza declarativa,
como se dispõe nos arts. 723º/1/b), como sejam v.g., a
comunicabilidade da dívida ao cônjuge do executado, 726º/2 a 7/,
741º e 742º;
 nos casos de oposição à execução, como decorre do disposto nos arts.
728º a 734º e 856º;
 na oposição à penhora, como resulta do disposto nos arts.784º, 785º
e 786º;
 na reclamação e graduação de créditos, arts. 788º a 791º;
 decidir sobre as reclamações de atos de impugnações de decisões do
AE, art. 723º/1/c);
 determinar a entrega do original do título executivo que não tenha
sido junto ao requerimento executivo, quando a execução tenha por
base um título de crédito, art. 724º/5;
 decidir as reclamações de recusa de recebimento do requerimento
executivo, 725º/2;
 proferir despacho de aperfeiçoamento para que o exequente possa
suprir irregularidades constantes no requerimento executivo ou sanar
eventuais faltas de pressupostos processuais, 726º/4 e 734º/1;
 proferir despacho de citação do executado ou do seu cônjuge,
726º/6/7;
 dispensar a citação prévia do executado, 727º;
 determinar, em caso de penhora da casa de habitação do executado,
que a venda fique a aguardar pela decisão definitiva do recurso de
sentença, ou pela decisão a ser proferida em primeira instância sobre
os embargos de executado ou sobre a oposição à penhora, desde que
aquela venda possa causar prejuízo grave e dificilmente reparável,
704º/4, 733º/5 e 785º/4.
 determinar a suspensão da execução em consequência do
recebimento de embargos de executado, 733º/1/b)c);

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 aprecia e decida sobre o incidente de substituição dos bens
penhorados por outros que garantam igualmente os fins da execução,
751º/5;
 suspender a execução em caso de registo provisório de penhora de
bem imóvel, quando tal suspensão lhe tenha sido requerida por
algum dos interessados, 755º/4;
 determinar o modo de exploração dos bens penhorados em caso de
desacordo entre executado e exequente, 760º/2;
 decidir o incidente de ilisão da presunção de propriedade do
executado em caso de penhora de coisas móveis não sujeitas a
registo, 764º/3;
 decidir sobre o arresto de bens do fiel depositário, 771º/2;
 presidir à abertura de propostas nos casos em que esteja em causa a
adjudicação ou venda de bem imóvel ou de estabelecimento
comercial, 800º/3 e 820º/1;
 resolver, na falta de acordo, na consignação de rendimentos, sobre a
pretensão do consignatário no sentido de proceder à resolução do
contrato de locação ou à venda de bens, 804º/4;
 julgar as reclamações em relação à decisão sobre a modalidade de
venda, 812º/7;
 decidir a requerimento das partes ou oficiosamente, que a venda de
bens imóveis tenha lugar no tribunal da situação dos bens, 816º/3;
 designar o dia e hora para abertura das propostas em caso de venda
mediante propostas em carta fechada, 817º/1;
 determinar o arresto de bens do proponente ou do preferente
remisso, 825º/1/c);
 determinar se as propostas de venda de estabelecimento comercial
são abertas na sua presença, 829º/2;
 decidir que a venda se realize por negociação particular, quando exista
urgência na venda, 832º/c);
 nomear o AE, como encarregado da venda por negociação particular
na falta de acordo de todos os credores ou oposição do executado,
833º/2;
 decidir sobre as reclamações se existiram irregularidades na venda em
estabelecimento de leilões, 835º/1;
 julgar os pedidos de anulação da venda e de pagamento de uma
indemnização ao comprador, 838º/2;
 determinar a suspensão da execução ou o diferimento da
desocupação no caso de bem imóvel arrendado para habitação,
863º/5, 864º/2;

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 determinar a demolição ou indemnização ao exequente em caso de
violação de obrigação de non facere, 876º e 877º;
 decidir em questões suscitadas pelo AE, pelas partes ou por terceiros
intervenientes, 723º/1/d) e 855º/2/b);
 adequar o valor da penhora de vencimentos à situação económica e
familiar do executado, 738º/6;
 determinar o levantamento da penhora, na sequência de pedido de
herdeiro do devedor, 744º/3;
 autorizar o fracionamento do prédio penhorado, 759º/1;
 autorizar a prática de atos que se afigurem indispensáveis à
conservação do direito de crédito penhorado, 773º/6;
 designar o administrador para a gestão ordinária do estabelecimento
comercial penhorado, 782º/2/3;
 autorizar a venda antecipada de bens penhorados em caso de
deterioração ou depreciação ou quando haja vantagem na
antecipação da venda, 814º/1;
 aprovar as contas na execução para a prestação de facto, 871º/1.
Como decorre do disposto no art. 6º, ao juiz cabe o poder/dever de
gestão processual, mas para o exercício desse controlo é necessário que o juiz
tenha contacto com o processo, controlo esse que em termos práticos, nas
atuais condições processuais executivas, está, em grande parte, nos poderes de
exercício do AE, ou oficial de justiça em certos casos, pelo que impende sobre o
AE, o dever de informação, tal como se dispõe no art. 754º, cuja inobservância é
competência do juiz aferir e determinar o que for adequado, dado que nada
obsta, nas leis processuais, que o juiz possa interferir nos atos praticados pelo
AE, desde que o entenda necessário.
Apreciados, ainda que levemente, os requisitos formais da ação
executiva, os poderes e as competências das entidades intervenientes que a
efetivam, relembramos agora, com o pormenor possível, os requisitos
substantivos da execução. Dispõe o art. 713.º, do CPC., que a obrigação
exequenda tem de ser certa, exigível e líquida, exigências legais intrínsecas da
obrigação a executar, que ou resultam do próprio título, ou então que o seja
possível por intermédio de procedimentos declaratórios preliminares (enxertos
de natureza declarativa no processo da ação executiva), como decorre do
previsto nos arts. 713.º a 716.º, do CPC.
Para o efeito vejamos então, v.g., a ideia conceptual de obrigação certa, o
que significa obrigação já determinada, sem condicionantes, ou seja, que já se
sabe o que é ou quanto é no caso concreto, sem equívocos (de certa) e que
reúne condições para a respetiva execução. Para que se perceba e para

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distinguir, nas obrigações alternativas, art. 543.º/2, do C.Civ., que falta escolher a
quem esse direito couber, como a lei ou a vontade das partes o determinar: ao
executado, ou terceiro, como se prevê no art. 714.º/1/2, do CPC,
respetivamente, mas podendo também recair na pessoa do credor. Neste caso
esta escolha tem de ser alegada no requerimento executivo, sob pena de recusa
do RE., pelo AE., tal como decorre das disposições dos arts. 724.º/1/h), e
725.º/1/c), do CPC.
Na ação executiva, no que às partes principais (exequente e executado)
diz respeito, convém abordar e esclarecer a posição do cônjuge do executado,
desde que citado nos termos e para os efeitos do disposto nos arts. 786.º/1/a),
e 787.º, do CPC., nos casos de terem sido penhorados bens ou direitos sobre
imóveis ou estabelecimento comercial que o executado não possa livremente
alienar (art. 1682-A, do C:Civ., ou quando citado nos termos do art. 740.º/1, do
CPC, aceite a comunicabilidade da dívida, como se prevê no art. 741.º. Contudo,
será apenas aceite como terceiro interessado, se não aceitar a comunicabilidade
da dívida, ou então tenha requerido a separação de bens, como previsto nos
arts. 740.º/1, e 741.º, do CPC.
Nos casos em que a execução recaia sobre obrigação genérica, (e
ressalvando os casos de universalidades, art. 716.º/7, do CPC,), ou
indeterminada, mas determinável: aplicar-se-á também, por analogia o que se
dispõe no art. 714.º, do CPC., para que se determine e delimite a
individualização ou concentração do objeto da obrigação exequenda e da
espécie em causa, tal como se prevê, nos arts. 539.º, e 542.º, do C.Civ., ou em
casos mais simples, como se prevê, no art. 861.º/2, do CPC.
No que respeita à exigibilidade (vencida), temos:
 num primeiro momento de atender às obrigações condicionais
suspensivas de facto e futuro incerto, previstas nos arts. 270.º e
sgts., do C.Civ.;
 as obrigações que dependam de prestação de um facto pelo
devedor ou por um terceiro, como as obrigações sinalagmáticas,
nos termos do art. 428.º, do C.Civ.;
 ou obrigações puras, que para a sua exigência apenas seja
necessário a interpelação, como se prevê no art. 771.º/1, do C.Civ.;
 obrigações a prazo: que é exigível após aquele lapso de tempo, art.
805.º/2/a), do C.Civ., ou os casos previstos no art. 777.º/2., do
C.Civ. (prazos a fixar pelo tribunal), etc., etc.

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