Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ENQUADRAMENTO GERAL
1
De referir que a execução específica pode ter por finalidade a simples produção coerciva de um
efeito jurídico, sem envolver, necessariamente, a prática de actos materiais, mormente nos casos de
efeitos decorrentes do exercício judicial de direitos potestativos. Esta modalidade de execução especí-
fica de mero efeito jurídico é realizada não por via da ação executiva, mas por meio de ação declara-
tiva constitutiva, como sucede com a execução específica do contrato-promessa nos termos do artigo
830.º do CC.
1
Em suma, pode dizer-se que:
- A função ou finalidade da ação executiva é satisfazer uma
prestação patrimonial de pagamento de quantia pecuniária, de
entrega de coisa que não dinheiro ou de facto positivo ou nega-
tivo, efetivando deste modo o direito violado - art.º 10.º, n.º 4 e 6,
do Código do Processo Civil (CPC)2;
- O objeto da ação executiva corresponde à alegada pretensão
insatisfeita.
Por um lado:
2
Doravante, a indicação de artigos com a menção de CPC, ou mesmo sem qualquer menção, refere-se
ao Código de Processo Civil português na redação introduzida pela Lei n.º 41/2013, de 26 de junho
com as alterações resultantes das Leis n.º 49/2018, de 14-08, n.º 55/2019, de 05-08, e n.º 117/2019, de
13-09, bem como do Dec.-Lei n.º 97/2019, de 26-07.
2
de simples apreciação positiva ou negativa (art.º 10.º, n.º 3, al. a,
do CPC);
b) - pretensões de condenação em prestação pecuniária, em
prestação de entrega de coisa certa e em prestação de facto positi-
vo ou negativo patrimoniais ou não patrimoniais - ações de conde-
nação (art. 10.º, n.º 3, al. b, do CPC);
c) - pretensões constitutivas propriamente ditas, modificati-
vas e extintivas de determinado efeito jurídico – ações constituti-
vas em sentido amplo (art. 10.º, n.º 3, al. c, do CPC).
3
Este direito de ação:
- tanto respeita às pretensões declarativas, que visam dizer o direi-
to no caso concreto;
- como às pretensões executivas, que se destinam a satisfazer, coa-
tivamente, quer as prestações impostas por decisão judicial (art. 2.º,
n.º 1, parte final, do CPC), quer as prestações resultantes de título
extrajudicial que reúna os requisitos legais de exequibilidade (art. 2.º,
n.º 2).
Convém, no entanto, não confundir aquele direito à jurisdição, de ca-
ráter genérico, erigido em garantia constitucional, com o concreto di-
reito de ação, cujo exercício depende da verificação de vários pressupos-
tos respeitantes à sua titularidade e objeto – os pressupostos processuais
da ação. Na eloquente metáfora de Castro Mendes, o direito de ação está
para o direito à jurisdição como a água do mar está para o mar; um pouco
de água do mar, que já não é mar mas ainda é água do mar3.
Assim, o direito de ação civil executiva é postulado também ele pelo
referido direito à jurisdição consagrado no artigo 20.º da Constituição e
convoca, correspondentemente, o exercício da função jurisdicional.
Em síntese, o direito de ação civil executiva define-se como sendo o
poder jurídico de requerer as providências jurisdicionais destinadas
a satisfazer uma prestação patrimonial configurada em documento
(incluindo sentenças condenatórias ou decisões equiparadas) que re-
úna os requisitos de exequibilidade legalmente exigidos para esse
efeito.
As providências processuais correspondentes ao direito de ação exe-
cutiva são de três espécies: providências de afetação de bens ou direitos
(penhora ou apreensão de bens); providências expropriativas (venda ou
adjudicação dos bens penhorados); providências satisfativas (pagamento
pelo produto da venda dos bens ou direitos penhorados, ou entrega dos
bens adjudicados ou apreendidos)4.
No atual modelo de processo executivo, no âmbito do processo para
pagamento de quantia certa, sob a forma sumária, compete ao agente de
execução praticar a larga maioria das providências que lhe são inerentes,
embora sujeito ao controlo judicial a posteriori, mormente a requerimen-
to dos interessados (art.º 855.º, n.º 2, do CPC). Nesses casos, torna-se
mais episódico e fragmentário o controlo judicial preventivo, ficando
assim confiando aos casos em que seja suscitada a intervenção do juiz
pelo agente de execução, ao abrigo do artigo 855.º, n.º 2, alínea b), do
3
Vide Castro Mendes, O Direito de Acção Judicial, Revista da Faculdade de Direito da Universidade
de Lisboa, Suplemento, 1959, pag. 105.
4
Vide Prof. Alberto dos Reis, Processo de Execução, Vol. 1º, 2.ª Edição, reimpressão, Coimbra Edito-
ra, 1982, pags. 37 e segs..
4
CPC, ou nos termos do artigo 734.º do mesmo Código, quando, por al-
guma razão, o processo seja concluso ao juiz para prolação de despacho,
nomeadamente a autorizar diligência coativa com vista à efetivação da
penhora.
À luz do art. 2.º do CPC, o direito de ação executiva tem por fim ou
função satisfazer um direito ou um interesse acertado, judicial ou extra-
judicialmente, em título idóneo, sob as espécies previstas no art.º 703.º
n.º 1, do CPC, e consiste no poder de requerer em juízo:
- a execução do património do devedor, ou excecionalmente de
terceiro, nos termos configurados de forma genérica, respetivamente,
nos artigos 817.º e 818.º do CC;
- a execução específica para entrega de coisa certa ou para presta-
ção de facto positivo ou negativo, nos termos dos artigos 827.º e 829.º
do CC;
5
da em que se consubstancia num poder jurídico de impor a outrem um
estado de sujeição. Na verdade, o direito de ação judicial confere ao de-
mandante o poder de colocar o Estado, forçosamente, na posição jurídica
de julgador e o demandado na situação de sujeição de réu ou de executa-
do6.
Porém, a autonomia do direito de ação executiva, face ao direito
material subjacente, não se revela com tanta evidência como na ação de-
clarativa. Na verdade, quando se promove a ação declarativa não se sabe
se o direito que se pretende fazer valer em juízo existe. Diversamente, o
direito que se pretende satisfazer por via da ação executiva encon-
tra-se certificado no título executivo, sentença, título negocial ou outro
documento a que a lei atribua força executória.
Só que o facto de o direito se encontrar certificado no título não signi-
fica, sem mais, que esse direito exista. Pode muito bem verificar-se des-
conformidade entre o título executivo e a realidade jurídica que lhe está
subjacente, o que acontecerá com alguma frequência no caso dos títulos
extrajudiciais, mas que também pode ocorrer em caso de sentenças. É o
que acontece nos casos de execução com base em sentença ainda não
transitada de que se interpôs recurso com efeito meramente devolutivo,
nos casos de execução pendente com base em sentença objeto de recurso
extraordinário de revisão, quando se execute sentença transitada, mas em
que surjam factos extintivos ou modificativos supervenientes nos termos
do artigo 729.º, al. g), do CPC.
Ora, no título executivo como que se opera a abstração do efeito
jurídico certificado relativamente à relação substantiva em que se ins-
creve (a sua causa), de modo a tornar operacional a via executiva.
Tal fenómeno de abstração como que isola o efeito jurídico da respe-
tiva causa7. No entanto, a relação subjacente ao título pode ainda ser res-
suscitada, mediante o meio técnico dos embargos de executado, previsto
nos artigos 728.º e seguintes do CPC, com vista à destruição da eficácia
desse título.
Em suma, para que exista direito de ação executiva é necessário,
ainda que não suficiente, a apresentação do título executivo; porém,
6
O Prof. Teixeira de Sousa sustenta o caráter potestativo do direito de ação, in Direito Processual
Civil, Vol. I, lições fotocopiadas, AAFD Lisboa, 1978/79, pags. 154 e segs.. Por sua vez, o Prof. An-
tunes Varela inclui o direito de ação na categoria dos direitos subjetivos “stricto sensu”, vide “O
Direito de Acção e a sua natureza jurídica”, in RLJ Ano 125º, pags. 325 e segs., mais precisamente,
in RLJ Ano 126º, pags. 13. O certo é que, com a propositura da ação, o demandante constitui, motu
próprio, a relação jurídico-processual, colocando, inevitavelmente, o Estado na posição de julgador e
o demandado na de réu ou executado, com os estatutos processuais que lhes são inerentes. Assim, a
natureza potestativa do direito de ação manifesta-se, desde logo, no modo de constituição da
própria relação processual.
7
Sobre o referido fenómeno de abstração operado pelo título executivo, vide Prof. Alberto dos Reis,
in Processo de Execução, Vol. 1.º, (1982) pags. 15 a 22.
6
para que a execução atinja o seu fim é necessário que o título não seja
destruído ou considerado desconforme com o direito material subjacente,
o que revela bem a autonomia do direito de ação executiva.
7
. interesse em agir.
B - Os pressupostos específicos:
. o título executivo (pressuposto formal) – artigos 10.º, n.º 4,
e 703.º e seguintes do CPC;
. a certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação exequen-
da (pressupostos substanciais) – art.º 713.º a 716.º do CPC.
10
A palavra pecuniário deriva do vocábulo latino pecus, que significa gado, então utilizado como pa-
drão das trocas comerciais. A palavra dinheiro deriva do vocábulo latino denario, uma das primitivas
8
cies monetárias em que ele se realiza, mas como o valor que tais espécies
representam. Se a obrigação tiver por objeto a entrega de determinadas
espécies monetárias ou de géneros de espécies monetárias, enquanto tais,
não estaremos perante uma obrigação pecuniária propriamente dita, ou
de valor, mas sim perante uma obrigação de entrega de coisa certa.
As obrigações pecuniárias constituem uma espécie de obrigação
genérica submetida, no entanto, a um regime próprio, que se encontra
previsto nos artigos 550.º a 558.º do Código Civil, e distribuem-se por
três modalidades:
i) - obrigações de quantidade (artigos 550.º e 551.º do CC);
ii) - obrigações de moeda específica (artigos 552.º a 557.º do
CC);
iii - obrigações em moeda estrangeira também designadas
por valutárias (art.º 558.º CC).
moedas romanas, em prata, cunhada, supostamente, desde 212-211 a.C. (durante a 2.ª Guerra Púnica),
que correspondia a dez (deni) asses (denário significa etimologicamente, “que contém dez”); o asse,
aes ou as era uma moeda romana mais antiga (280 a.C.), primeiro de bronze e depois de cobre, equi-
valente a 12 onças. No início do Principado, o denário correspondia ao salário diário de um trabalha-
dor. A palavra moeda deriva de Moneta, pois a deusa romana Juno Moneta, correspondente à deusa
grega Mnemosyne, mãe das musas e deusa da Memória; era a guardiã dos fundos e era no templo que
se cunhavam as moedas. De referir que a moeda desempenha três funções essenciais: padrão co-
mum de valor nas trocas comerciais; meio de pagamento e instrumento geral das trocas (poder libera-
tório) e meio de reserva de valor ou de entesouramento. Para compreender a emergência dessas fun-
ções, importa ter presente a evolução histórica da moeda, desde os sistemas primitivos da troca direta
ou escambo, passando pelos sucessivos sistemas de mercadoria-moeda, moeda metálica (em lingo-
tes ou moeda cunhada), moeda-papel – representativa de fundos com cobertura integral (certificados
de depósito e notas de banco) e fiduciária (com cobertura parcial) -, culminando no papel-moeda
(curso forçado e inconvertibilidade) e na moeda escritural ou moeda bancária.
11
O sistema de moeda metálica português encontrava-se estabelecido nos seguintes diplomas:
Dec.Lei n.º 293/86, de 12-9 (que revê o sistema de moeda metálica); Dec.Lei n.º 439-A/89, de 20-12
(que cria a moeda de 100$00); Dec.Lei n.º 130/91, de 2-4; Dec.Lei n.º 156/91, de 23-4 (que cria a
moeda de 200$00). No estabelecimento do sistema europeu da moeda única (EURO), foram postas
em circulação, em 1 de janeiro de 2002, notas de banco em euros, emitidas pelo Sistema Europeu de
Bancos Centrais (SEBC), e moedas metálicas também em euros, cuja emissão incumbe aos Estados-
Membros - vide Regulamento (CE) n.º 974/98 do Conselho, de 3 de março de 1998 relativo à intro-
dução do EURO. Com a entrada em circulação dos euros, as notas e moedas em escudos foram pro-
gressivamente retiradas até 1 de março de 2002, altura em que perderam o curso legal - para maiores
9
e banco e moedas metálicas, dentro dos respetivos limites liberatórios le-
galmente previstos12. Com efeito, a lei prevê limites liberatórios para al-
gumas espécies monetárias, pelo que será legítimo ao credor recusar o
pagamento de certa quantia em moedas cujo poder liberatório seja infe-
rior.
Às moedas são atribuídos diversos valores:
- o valor nominal, facial ou extrínseco, que aparece nelas ins-
crito, com que são postas a circular, expresso num número fracionário ou
múltiplo da unidade do sistema monetário13;
- o valor intrínseco ou metálico das moedas desta natureza que
se traduz no valor da substância em que as espécies monetárias são con-
fecionadas; no papel-moeda, tal valor é desprezável; nas moedas metáli-
cas, esse valor deverá ser inferior ao valor facial para desencorajar o en-
tesouramento pelos particulares.
- o valor aquisitivo ou de troca:
. interno, que consiste na quantidade de mercadoria correspon-
dente ao valor facial de determinada espécie monetária e, por-
tanto, na quantidade de mercadoria que é possível adquirir com
ela ;
. externo, que corresponde ao valor aquisitivo da moeda nacio-
nal expresso em moeda estrangeira por via das taxas de câmbio.
O cumprimento das obrigações pecuniárias de quantidade rege-se
pelo princípio nominalista, proclamado no art.º 550.º do CC, segundo o
qual a prestação deve ser realizada pelo valor nominal que a moeda de
curso legal tiver ao tempo do cumprimento.
desenvolvimentos, vide José Simões Patrício, Regime Jurídico do EURO, Coimbra Editora, 1998,
pags. 28 a 31.
12
Segundo a legislação em vigor, as notas de euro têm poder liberatório ilimitado, enquanto que as
moedas metálicas têm um poder liberatório limitado a 50 moedas correntes por cada pagamento
– artigo 11.º do Regulamento (CE) n.º 974/98 do Conselho, de 3 de março de 1998, relativo à intro-
dução do EURO, e artigo 7.º do Dec.-Lei n.º 246/2007, de 26 de junho.
A conversão de valores expressos em escudos para euros em legislação da área da justiça está regu-
lada no Dec.-Lei n.º 323/2001, de 17-12: por exemplo, os valores das alçadas, em matéria cível,
previstos no artigo 24.º da Lei n.º 3/99, de 13-1 (LOFTJ), dos tribunais da Relação e dos tribunais
de 1.ª instância eram, respetivamente, de € 14.963,94 e € 3.740,98; a partir da alteração daquele arti-
go introduzida pelo Dec.-Lei n.º 303/2007, de 24-8, passaram a ser, respetivamente, de € 30.000,00 e
€ 5.000,00, para os processos iniciados a partir de 1 de Janeiro de 2008 (arts. 11.º e 12.º do novo
Dec.-Lei). Os valores das alçadas, em matéria cível, são assim de € 30.000,00, para os tribunais da
Relação, e de € 5.000,00 para os tribunais de 1.ª instância, e passou a constar do disposto no artigo
31.º da Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto (Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judici-
ais – LOFTJ), mantendo-se hoje no art.º 44.º, n.º 1, da Lei n.º 62/2013, de 26-08, (Lei de Organiza-
ção do Sistema Judiciário – LOSJ), alterada pela Lei n.º 40-A/2016, de 22-12.
13
A Lei de 29-7-1854 atribuiu à então unidade monetária nacional – que era 1.000 réis – o peso de
1,774 gramas-ouro; o Dec. de 22-5-1911 estabeleceu o escudo-ouro como unidade monetária nacio-
nal, com o peso de 1,8065 grama equivalente aos 1.000 réis da unidade precedente. Mais tarde, em
1931, o escudo foi definido através do peso de 0,0739 gramas-ouro; e o conto, com o valor de mil
escudos, equivalente a um milhão de réis, assumiu a natureza de unidade de conta.
10
Esse princípio admite, porém, exceções:
- a estipulação pelas partes, ao abrigo do art. 550.º, in fine, do
CC, de afastamento do critério nominalista, designadamente
com cláusulas estabilizadoras do valor da prestação pecuniária,
recorrendo a moeda de certo metal ou a determinada moeda es-
trangeira forte ou estável para o cálculo do montante da prestação;
cláusula de escala móvel com o recurso a índices variáveis ao lon-
go do tempo, como sejam os preços do consumidor, a taxa de in-
flação, ou outros;
- nos casos permitidos por lei (art. 551.º do CC), tais como : -
artigos 437.º e ss. (alteração anormal das circunstâncias); artigos
567.º, n.º 2, 1077.º, 2012.º, 2029.º, n.º 3, do CC; artigos 30.º e se-
guintes da Lei n.º 6/2006, de 27-2, sobre a atualização de rendas
no âmbito arrendamento urbano.
De notar que as hipóteses em referência admitem a atualização
das prestações pecuniárias, o que será feito, em regra, por indexação
ou por correção monetária, nos termos previstos no art. 551.º do CC14.
Em suma, as obrigações pecuniárias de quantidade são proces-
sualmente executáveis por via do processo para pagamento de quan-
tia certa.
14
De referir que, no âmbito das obrigações de capital, rege o princípio nominalista, enquanto as
obrigações de valor (v.g. de indemnização) estão sujeitas a atualização. Quanto às dívidas de valor,
vide Prof. Antunes Varela, Das Obrigações em Geral, Vol. I, 10.ª Edição, Almedina, pags. 858-860.
11
b) - obrigações de moeda específica-valor – cláusula ouro-
valor -, quando o pagamento se deva efetuar em moeda corrente,
mas pelo valor equivalente à moeda específica estipulada.
15
Prof. Castro Mendes, Acção Executiva, AAFDL, Lisboa 1971, pag. 38; Prof. Lebre de Freitas, A
Acção Executiva, 1993, pags. 131 e 132.
12
expressos em moeda estrangeira. O qualificativo de valutárias deriva
do termo “valuta”, utilizado para designar as espécies monetárias, moe-
das metálicas e notas de banco estrangeiras. As valutas integram ainda a
noção de divisas, em sentido amplo, a par dos títulos de crédito pagáveis
no estrangeiro (divisas em sentido restrito). Nesta categoria de obrigação
pecuniária, os traços distintivos são o género de moeda (v.g. dólar ame-
ricano, dólar canadiano, libra inglesa) e a quantidade.
13
Existem assim obrigações genéricas de entrega de coisa certa,
cujo objeto é definido por um determinado género (v.g. tipo de automó-
vel; trigo, etc.). Para o cumprimento da obrigação genérica importa con-
vertê-la em obrigação específica, ou seja, individualizá-la na espécie
corpórea concreta, o que é feito através da operação de concentração ou
especificação, nos termos dos artigos 541.º e 542.º do CC16.
A concentração ou especificação das obrigações de entrega de
coisa genérica, que não dinheiro, em sede de execução, será feita:
a) - em regra, mediante o mecanismo preliminar previsto no
artigo 714.º do CPC, uma vez que os critérios de escolha previs-
tos no artigo 542.º do CC são também aplicáveis à escolha das
obrigações alternativas, por via do artigo 549.º do mesmo Código;
b) - em caso de universalidade (art. 206.º do CC), por meio do
mecanismo preliminar de liquidação, quando o exequente pos-
sa, desde logo, concretizar os elementos dessa universalidade,
ou, não o podendo fazer, em momento imediatamente posteri-
or à apreensão, precedendo a entrega ao exequente, nos ter-
mos previstos no n.º 7 do artigo 716.º do CPC;
c) - quando a concentração dependa apenas de operações de
contagem, pesagem ou medição, no próprio ato de apreensão de
móveis, nos termos do artigo 861.º, n.º 2, do CPC.
14
829.º-A, n.º 1 a 3, do CPC e dos artigos 868.º, n.º 1, 2.ª parte, 874.º, n.º 1,
2.ª parte, e 876.º, n.º 1, alínea c), do CPC.
Por seu turno, a natureza de prestação de facto positivo ou nega-
tivo, para efeitos de execução, deve ser aferida com base na sua configu-
ração no próprio título executivo - veja-se, a este propósito, o art.º 829.º
do CC e art.º 876.º do CPC.
18
Neste sentido, vide Prof. Alberto dos Reis, in Processo de Execução, Vol. 1º (1982), pag. 36.
15
B - Os pressupostos específicos:
- formal – o título executivo - artigos 10.º, n.º 5, e 703.º a
708.ºdo CPC;
- material: a certeza, a exigibilidade e a liquidez da obri-
gação exequenda - artigos 713.º a 716.º do CPC.
É pelo título executivo que se afere a idoneidade do objeto
da execução.
II
DO TÍTULO EXECUTIVO
A lei não dá uma noção de título executivo, mas das funções e ca-
racterísticas que lhe confere pode decantar-se, pelo menos, uma noção
compreensiva das espécies contempladas na tipologia taxativa do artigo
703.º, n.º 1, do CPC.
Assim, das espécies indicadas nas alíneas b) a d) do n.º 1 do ci-
tado artigo 703.º em conjugação com o n.º 6 do artigo 10.º resulta que o
título se traduz num documento representativo da constituição ou reco-
nhecimento de obrigações patrimoniais pecuniárias, de entrega de
coisa móvel ou imóvel ou de prestação de facto positivo ou negativo.
Consiste, portanto, num documento escrito e assinado pela entidade que
o elaborar e/ou pelos sujeitos intervenientes no ato documentado, conso-
ante se trata de documento autêntico ou particular, em conformidade
com o disposto nos artigos 362.º, 363.º e 369.º a 378.º do CC. E mesmo
16
quanto à sentença condenatória, segundo o enunciado na alínea a) do
n.º 1 do artigo 703.º em articulação com o n.º 6.º do artigo 10.º, ela só
releva como título executivo quando tenha por objeto obrigações da
mesma natureza, sendo que a sentença só existe juridicamente se for ela-
borada por escrito ou, quando proferida oralmente, se for consignada em
ata, em qualquer dos casos contendo a assinatura do juiz, nos termos do
artigo 153.º, n.º 1 e 3, do CPC.
Além disso, as obrigações representadas no título têm de traduzir-
se em obrigações patrimoniais emergentes, em princípio, de relações
jurídico-privadas, como decorre, aliás, do artigo 817.º do CC.
O que parece, pois, sobressair no título executivo não é tanto a me-
ra forma documental, mas sim a matriz de ato documentado, seja ele
uma sentença, um negócio jurídico ou um ato da entidade com compe-
tência para o produzir.
Por fim, o título executivo tem de conter os requisitos gerais de
exequibilidade previstos no n.º 1 do artigo 703.º do CPC e os específi-
cos exigidos pelos artigos 704.º a 708.º do CPC ou de legislação extra-
vagante.
Em síntese, o título executivo pode ser definido com base nas se-
guintes características:
- um documento escrito e assinado;
- representativo da constituição ou do reconhecimento duma
obrigação patrimonial emergente, em princípio, de relações jurí-
dico-privadas, que tenha por objeto uma prestação pecuniária,
uma prestação para entrega de coisa móvel ou imóvel, ou uma
prestação de facto positivo ou negativo, fungível ou infungível;
- provido dos requisitos gerais e específicos de exequibilidade
exigidos pelos artigos 703.º, n.º 1, e 704.º a 708.º do CPC, res-
petivamente, bem como em legislação especial.
17
tribunal com vista à determinação do tribunal competente (artigos 85.º a
90.º do CPC).
É também em função da espécie do título que se determina a for-
ma de processo sumário para pagamento de quantia certa, nos termos
previstos no art. 550.º, n.º 2, do CPC.
O título executivo expressa, de resto, a exequibilidade extrínseca
da obrigação, assumindo a natureza de um pressuposto processual
específico da ação executiva.
Em suma, é através da verificação dos requisitos de exequibili-
dade do título executivo que se afere da idoneidade do objeto da pre-
tensão executiva.
19
Processo de Execução, Vol. 1º, 2ª edição, 1982, págs. 69 e segs..
18
Segundo esse mecanismo, as partes compareciam perante o pretor. Perante
este o autor invocava a condenação proferida contra o devedor e o não pagamento da
quantia em dívida. Se o devedor não contestasse, o pretor ordenava a execução sobre
a pessoa daquele ou sobre o seu património. Se o devedor contestasse, seguia-se a
litiscontestatio e o judicium; decaindo o devedor, seria condenado ao dobro da im-
portância em dívida, tendo 30 dias para efetuar o pagamento (tempus judiciati). Não
sendo paga a dívida, repetia-se o procedimento supra descrito, e assim sucessivamen-
te. Só haveria lugar à execução da sentença condenatória quando o devedor não a
contestasse.
Por conseguinte, pode afirmar-se que, no Direito Romano, predominava a
ideia de que a execução tinha uma finalidade de coação sobre o devedor, constran-
gendo-o a pagar a dívida, e não propriamente a de dar direta satisfação ao crédito,
como foi entendida no direito moderno.
Este sistema continuou mesmo no processo da cognitio extra ordinem, em
que os juízes já estavam investidos de jus imperii.
Em suma, pode concluir-se que no direito romano:
- as sentenças condenatórias não constituíam título executivo;
- o processo declarativo primava sobre o processo executivo;
- enfim, a defesa do devedor sobrepunha-se à proteção do credor.
19
a condenação do devedor e, ao confirmá-la, decretasse uma ordem de obediência à
sentença; não acatada a ordem, pedia-se o seguimento da execução.
A oposição à execução podia ser sumária, no próprio processo executivo ou
ordinária, quando complexa, em processo autónomo.
Surgia, assim, o título executivo para a execução aparelhada e que podia tra-
duzir-se numa sentença de condenação ou num instrumento notarial de confissão de
dívida.
20
O artigo 46.º previa como títulos executivos os seguintes:
1.º As sentenças de condenação;
2.º Os autos de conciliação;
3.º As escrituras públicas;
4.º As letras, livranças, cheques, extractos de factura conferidos e quais-
quer outros escritos particulares, assinados pelo devedor, dos quais conste a
obrigação de pagamento de quantias determinadas (todos eles necessitando
de reconhecimento notarial da assinatura, simples ou presencial, conforme os
casos, nos termos do art. 52.º);
5.º Os títulos a que por disposição especial seja atribuída força executiva.
Às sentenças de condenação eram equiparadas outras decisões ju-
diciais e arbitrais – artigos 48.º e 49.º.
A referência a sentenças de condenação estava em sintonia com a
introdução duma então nova classificação das ações declarativas, nas
espécies de simples apreciação, de condenação e de ações constitutivas,
que não figurava no CPC de 1876.20
Com a referência genérica a escrituras públicas pretendeu-se com-
preender todas as espécies de obrigações delas constantes, quer as pecu-
niárias (de dívida) quer as obrigações de entrega de coisa certa ou de
prestação de facto, tanto as derivadas dum direito de crédito como de um
direito real.
Na linha do velho Código de 1876, o artigo 90.º do CPC de 1939
continuava a estabelecer que a execução de sentença prosseguia, em re-
gra, nos próprios autos da ação declarativa, o que trazia, por vezes,
graves problemas de perturbação no processado.
20
No art.º 2.º do CPC de 1876, as ações eram classificadas, quanto ao objeto, em reais e pessoais e,
quanto ao fim, em conservatórias ou persecutórias.
21
1867, visou incluir também os instrumentos notariais que não se tradu-
zissem propriamente em escrituras públicas.
Quanto à exequibilidade dos escritos particulares, segundo o artigo
51.º:
- exigia-se o reconhecimento notarial da assinatura do devedor
nas letras, livranças, cheques e nos outros escritos particulares, ex-
cetuando o extrato de fatura;
- bastava o reconhecimento por semelhança se a execução tives-
se por fim o pagamento de quantia certa e o montante da dívida
constasse de título que não excedesse a alçada do tribunal de co-
marca;
- exigia-se, porém, o reconhecimento presencial se o montante
da dívida fosse superior àquele limite ou a execução tivesse por
fim a entrega de coisas fungíveis;
- exigia-se as formalidades especiais para a assinatura a rogo.
A revisão de 1961 introduziu também uma importante modifica-
ção quanto ao processamento da execução de sentença, ao estabelecer,
no n.º 3 do artigo 90.º, a sua autuação por apenso, dando-se assim auto-
nomia material ao processo executivo.
22
g) - Com o diploma intercalar aprovado pelo Dec. Lei n.º
242/85, de 09-07, na redação dada ao artigo 51.º:
- dispensou-se o reconhecimento notarial da assinatura do deve-
dor, para além dos extratos de fatura, nas letras, livranças e cheques
qualquer que fosse o seu montante;
- os demais escritos particulares ficaram sujeitos:
. a reconhecimento presencial:
- nas execuções para pagamento de quantia certa em montante
superior à alçada da Relação;
- nas execuções para entrega de coisa fungível;
. a reconhecimento simples, nos casos restantes.
23
sa do despacho liminar e da citação prévia à penhora, nos termos dos en-
tão artigos 812.º-A, n.º 1, alínea c), e 812.º-B, n.º 1, do CPC.
24
O referido normativo veio, pois, explicitar o fator de referência
para determinação do simples cálculo aritmético.
25
Também, de acordo com o regime agora em vigor, a execução de
sentença condenatória passou a ser processada nos próprios autos
da ação declarativa, nos termos do art.º 626.º, n.º 1, do CPC, aplicando-
se-lhe, com as necessárias adaptações, o regime do processo ordinário
para pagamento de quantia certa regulado nos artigos 724.º e seguin-
tes, salvo nos casos de decisão judicial condenatória proferida no âmbito
do procedimento especial de despejo.
Porém, em caso de execução de sentença condenatória para
pagamento de quantia certa, seguir-se-á a tramitação da forma sumá-
ria prevista nos artigos 859.º e seguintes, salvo nas hipóteses previstas
no n.º 3 do art.º 550.º, como se preceitua no n.º 2 do art.º 626.º, todos do
CPC.
Por sua vez, nas execuções baseadas nas categorias de títulos
enunciadas no n.º 2 do citado art.º 550.º, ressalvadas as hipóteses pre-
vistas no respetivo n.º 3, do CPC, a execução para pagamento de
quantia certa segue a forma sumária, regulada nos artigos 859.º e se-
guintes.
Tais espécies de título compreendem:
- as decisões arbitrais ou judiciais nos casos em que não devam
ser executadas no próprio processo;
- o requerimento de injunção a que tenha sido aposta fórmula
executória;
- os títulos extrajudiciais de obrigação pecuniária vencida, ga-
rantida por hipoteca ou penhor;
- os títulos extrajudiciais de obrigação pecuniária vencida cujo
valor não exceda o dobro da alçada do tribunal de 1.ª instância.
26
antes da instauração da execução, se o devedor possui bens penhorá-
veis21.
Complementarmente, a Portaria n.º 349/2015, de 13/10, regula-
menta aquela lei, definindo a plataforma informática de suporte àquele
procedimento, estabelecendo critérios de distribuição dos procedimentos
aos agentes de execução, determinando o regime de pagamento dos valo-
res devidos aos agentes de execução nos procedimentos em que algumas
das partes beneficie de apoio judiciário e aprovando modelos genéricos
de notificação e requerimentos a utilizar no referido procedimento extra-
judicial pré-executivo.
21
Para maiores desenvolvimentos, vide Sérgio Castanheira / Ricardo Amaral, in Procedimento Extra-
judicial Pré-Executivo Anotado, Almedina, 2015.
27
suplementares como as previstas nos artigos 704.º, n.º 1 e 6, 707.º e 708.º
do CPC.
A partir desse quadro legal, poderemos arrumar as diversas espé-
cies de título executivo, consoante a sua fonte, nas seguintes categorias:
A - Títulos judiciais ou equiparados - sentenças condenató-
rias e outras decisões ou atos judiciais equiparados nacionais ou
estrangeiras – artigos 703.º, n.º 1, alínea a), 705.º e 706.º, n.º 1, do
CPC;
B – Títulos extrajudiciais - artigo 703.º, alíneas b) a d), do CPC
- por sua vez, desdobrados nas seguintes categorias:
a) – Títulos negociais – artigos 703.º, n.º 1, alíneas b) e c), e
706.º, n.º 2, 707.º e 708.º do CPC:
- Documentos exarados ou autenticados, por notário ou por ou-
tras entidades ou profissionais com competência para tal, que impor-
tem constituição ou reconhecimento de qualquer obrigação - alínea
b) do n.º 1 do art. 703.º CPC;
- Títulos de crédito, ainda que de meros quirógrafos se trate, desde
que, neste caso, os factos constitutivos da relação subjacente constem
do próprio documento ou sejam alegados no requerimento executivo;
- al. c) do n.º 1 do art. 703.º;
b) – Títulos criados por disposição legal especial – artigo
703.º, n.º 1, alínea d) do CPC.
Como é sabido, a execução coativa patrimonial de obrigações não
espontaneamente cumpridas tem como condição, em regra, a resolução
judicial, em sede declarativa, dos litígios emergentes no seu âmbito.
Por isso, o título executivo por excelência é a sentença judicial
condenatória, definidora dos termos em que a obrigação existe e em que
deve ser cumprida a respetiva prestação.
Porém, passou-se a admitir que determinadas espécies de títulos,
mormente provenientes das partes por via negocial, com intervenção ou
não de oficial público, eram de molde a garantir a existência da obriga-
ção e os contornos das respetivas prestações.
A razão de ser da sobredita tipicidade reside em exigências de
segurança e certeza jurídicas e na definição da firmeza com que devem
ser tidos os títulos executivos em ordem a abrir caminho imediato à tute-
la judicial executiva, uma boa parte deles – os títulos extrajudiciais –
sem necessidade de prévia decisão judicial sobre a existência e medida
das obrigações exequendas, ressalvada, no entanto, a possibilidade de
serem contestadas em procedimento declarativo contraditório a correr
por dependência da própria execução.
28
De referir, a este propósito, que os títulos executivos foram, histo-
ricamente, emergindo e sendo alargados por determinadas espécies soci-
almente típicas.
Por seu lado, a recondução dos títulos executivos a categorias em
função da sua fonte tem utilidade na medida em que daí decorre o seu
diferenciado âmbito de exequibilidade e de oponibilidade à execução
neles fundada.
Assim, a oponibilidade dos títulos judiciais, sobre os quais recai a
eficácia do caso julgado, é taxativa nos seus fundamentos como se al-
cança do disposto nos artigos 729.º e 730.º do CPC. Já a oponibilidade à
execução fundada em títulos extrajudiciais, mormente os negociais, é de
âmbito latitudinário nos termos do artigo 731.º do CPC.
Além disso, enquanto os títulos judiciais não são suscetíveis de
controlo judicial, em sede de despacho liminar, quanto ao mérito da pre-
tensão executiva, precisamente porque são providos da eficácia do caso
julgado, já os títulos negociais o são nos termos do artigo 726.º, n.º 2,
alínea c), do CPC.
Desse modo, a tipologia legal dos títulos executivos permite uma
subsunção normativa mais objetiva e menos problemática do que aquela
que pudesse ser feita com base num conceito indeterminado de título
executivo. Todavia, uma noção teórica de título executivo pode ainda
assim servir de vetor auxiliar no enquadramento das diversas espécies de
títulos.
29
No que respeita aos procedimentos cautelares, a respetiva decisão
final só reveste a forma de sentença propriamente dita nos alimentos pro-
visórios (art. 385.º, n.º 3, CPC), no arbitramento de reparação provisória
(art. 389.º, n.º 1, do CPC) e na suspensão de deliberações sociais. Quanto
às demais formas de procedimento, a decisão final assume a forma de
despacho jurisdicional ordenatório ou de denegação da providência re-
querida.
Sucede que, na maioria das espécies de procedimento cautelar, não
há lugar a instauração de ação executiva dependente, mas sim à imediata
efetivação, nos próprios autos, da providência decretada, como acontece
nos casos de restituição provisória de posse (art. 377.º e ss. do CPC), de
arresto (artigos 391.º, n.º 2, e 393.º CPC), de embargo de obra nova (art.º
400.º CPC) e de arrolamento (art.º 406.º CPC).
Já no caso de alimentos provisórios, de arbitramento de reparação
provisória ou de decretação de providência inibitória ou mesmo de inti-
mação em prestação de facto positivo ou negativo poderá haver lugar a
execução da decisão a deduzir nos termos gerais da execução judicial.
Já a execução de decisão final proferida no âmbito do processo
especial para a tutela da personalidade previsto e regulado nos artigos
878.º a 880.º do CPC não é objeto de execução autónoma, processando-
se nos próprios autos nos termos do artigo 880.º.
30
a execução secção especializada, deve ser remetida a esta, com carácter
de urgência, cópia da sentença exequenda, do requerimento que deu iní-
cio à execução e dos documentos que a acompanham, nos termos do art.º
85.º, n.º 2, do CPC.
Em suma, segundo o atual regime processual, a execução de deci-
são judicial condenatória é tramitada, em regra, nos próprios autos
do processo declarativo em que aquela foi proferida, embora seguin-
do a indicada tramitação autónoma própria do processo executivo, o que
difere, de algum modo, da dita execução imediata nos procedimentos
cautelares acima referidos.
31
Ora, não sofre dúvida que a sentença que contenha um segmen-
to condenatório constitui, nesse particular, título executivo, para os
efeitos do artigo 703.º, nº 1, alínea a), do CPC.
Problemático é saber em que medida é que as sentenças que ape-
nas contenham uma condenação implícita são também título executivo.
Aliás, tem sido bastante debatida, na doutrina, a questão de saber se as
sentenças declarativas proferidas em ações constitutivas, de que re-
sultem condenações implícitas, constituem título executivo.
Como exemplos controversos podem ser citados os seguintes:
- ações de demarcação, de divisão de coisa comum ou de constituição,
modificação ou de cessação de uma servidão, em que se profere a autoriza-
ção de mudança da ordem jurídica, mas não se condena expressamente o
obrigado numa prestação dos atos pertinentes àquela mudança;
- ações de preferência em que se declara substituído o adquirente pelo pre-
ferente, mas sem formalizar a condenação do adquirente na entrega da coisa;
- ações de execução específica do contrato-promessa em que se declara
validamente celebrado o contrato prometido, mas sem condenar (por não ter
sido pedido) o promitente-vendedor na entrega da coisa.
A doutrina portuguesa nem sempre foi pacífica.
Assim, entre os defensores da admissibilidade da condenação
implícita:
. Anselmo de Castro escreve: a sentença constitutiva é título
executivo sempre que contenha implícita, pela natureza do objecto da
acção, uma ordem de praticar certo acto ou de se realizar a mudança a
que a acção visava, como sucede nos casos de acções de demarcação,
divisão de coisa comum, partilhas judiciais, preferência22;
. Alberto dos Reis considera condenatórias as sentenças em que o
juiz, expressa ou tacitamente, impõe a alguém determinada responsabili-
dade, mesmo em ações constitutivas, nas quais as sentenças são títulos
executivos relativamente aos atos inerentes à mudança na ordem jurídica
autorizada23;
. Eurico Lopes Cardoso observa que para que a sentença ou
despacho possam barrar a acção executiva não é preciso que conde-
nem no cumprimento de uma obrigação; basta que essa obrigação fi-
que declarada ou constituída por eles”24;
. Teixeira de Sousa escreve que “... em regra, não pode ser reco-
nhecido valor executivo a uma sentença de mera apreciação ou a uma
sentença constitutiva, pode suceder, todavia, que essas decisões conte-
nham, de forma implícita, a condenação num dever de cumprimento e
que, por esta circunstância possam ser utilizadas como título executi-
22
Direito Processual Civil Declarativo, Vol. 1.º, Almedina, Coimbra 1981, págs. 112 e 113.
23
Processo de Execução, Vol 1.º, 2.ª Edição, pág. 127.
24
Manual da Acção Executiva, Edição de 1987, pág. 43.
32
vo. Aquela condenação implícita verifica-se quando o pedido de con-
denação no dever de cumprimento, se tivesse sido cumulado com o pe-
dido de mera apreciação ou constitutivo, não se referiria a uma utili-
dade económica distinta daquele que corresponde a estes últimos ...”25;
. Lebre de Freitas chegou a duvidar de que se pudesse dar à exe-
cução uma sentença em que não se profira uma condenação expressa do
réu26.
25
Acção Executiva Singular, Lex, 1998, pag. 73.
26
A Acção Executiva, Coimbra Editora, 1997, 2.ª Edição, pág. 34, nota 6.
33
uma sentença de constituição, modificação ou extinção de uma servidão po-
derá servir de título para a execução dos factos necessários à sua implantação.
Por outro lado, foi abolido o processo especial para entrega judicial (posse
avulsa) previsto no art. 1044.º e ss. do CPC 1961. Donde seja agora pertinente
suscitar o problema de saber se uma sentença de adjudicação dos quinhões,
proferida em ação de divisão de coisa comum (art.1056.º, n.º 1, do CPC), po-
de servir de título para a execução de entrega dos bens adjudicados. De igual
forma, se poderia questionar a exequibilidade de uma sentença proferida nu-
ma ação declarativa de execução específica do contrato-promessa em ação de
preferência em que não seja proferida, por não requerida, uma condenação
formal na prestação de entrega da coisa.
27
Noções Elementares de Processo Civil, Coimbra Editora, 1976, pág. 60.
34
efetivação prática dessa mudança, o que contemplará, além do mais,
os casos de realização de obras ou de abstenção de comportamentos
relativos à demarcação de dois prédios ou à implantação, modifica-
ção ou cessação de uma servidão predial. Mas já não estarão compre-
endidas nessa sentença, por exemplo, prestações de facto negativo por
turbação ou esbulho ocasionados em contextos supervenientes diversos
dos pressupostos na sentença.
28
Vide Teixeira de Sousa, in Acção Executiva Singular, Lex, 1998, pag. 73.
35
4.2.2.3. Requisitos de exequibilidade da sentença condenató-
ria
A – Trânsito em julgado
36
n.º 1 e 7, e 677.º do CPC, bem como o prazo geral de 10 dias previsto
no artigo 149.º, n.º 1, do mesmo Código, para reclamação das nulida-
des das decisões finais, perante o tribunal que as proferiu, quando delas
não caiba recurso ordinário (art.º 615.º, n.º 4).
. Por outro lado, pode ainda dar-se à execução sentença que tenha
sido objeto de recurso com efeito meramente devolutivo, como se al-
cança da ressalva final do citado art.º 704.º, n.º 1.
As situações típicas em que o efeito do recurso é meramente de-
volutivo são, em regra, as seguintes:
a) - no âmbito do recurso de apelação em processo de declara-
ção comum, por força do preceituado no artigo 647.º, n.º 1, CC,
bem como nos processos especiais por via do disposto no n.º 1 do
artigo 549.º do mesmo Código;
b) - no recurso de revista - art.º 676.º, n.º 1, do CPC, a contra-
rio sensu.
37
. Os recursos extraordinários para uniformização de jurispru-
dência e de revisão de sentença têm efeito meramente devolutivo da
execução - respetivamente, artigos 793.º e 699.º, n.º 3, do CPC.
. Execução provisória
38
Havendo venda executiva, se a sentença exequenda for anulada ou
revogada, aquela venda ficará sem efeito, salvo quando, sendo a anula-
ção ou a revogação parcial, a subsistência da venda for compatível como
a decisão tomada, como determina o art.º 839.º, n.º 1, alínea a), do CPC.
Ficando a venda sem efeito, ao comprador assiste o direito ao reembolso,
nos termos do n.º 3 do mesmo artigo. A prestação de caução visa, pois,
garantir esse reembolso ao comprador, ou, não sendo pedida a restituição
dos bens pelo executado, recebimento por este do preço da coisa vendida
- vide art. 839.º, n.º 3, do CPC.
39
. Tratando-se de liquidação dependente de mero cálculo aritméti-
co, recai sobre o exequente o ónus de proceder a essa liquidação,
quanto aos interesses vencidos até à data da instauração da execução, no
próprio requerimento executivo, nos termos dos artigos 716.º, n.º 1, e
724.º, n.º 1, alínea h), do CPC. Por sua vez, os interesses vincendos a
partir da data da instauração da execução, sendo pedidos, bem como a
sanção pecuniária compulsória devida por força do n.º 4 do artigo 829.º-
A do CC, serão calculados a final, pelo agente de execução, aquando da
elaboração da conta nos termos do artigo 716.º, n.º 2 e 3, do CPC.
Assim, a liquidação dependente de mero cálculo aritmético não
constitui requisito de exequibilidade do título, mas apenas requisito de
exequibilidade da obrigação exequenda, a complementar, preliminar-
mente, na própria execução (artigos 713.º e 716.º, n.º 1 e 2, do CPC).
40
do título, o que, no caso de sentença, só ocorrerá com o respetivo caso
julgado30.
Sucede que o AUJ do STJ n.º 9/2015, de 14/05/2015, publicado
no Diário da República, 1.ª Série, de 24/06/2015, versando sobre a pos-
sibilidade de condenação em juros de mora não peticionados na ação de-
clarativa, veio fixar a orientação jurisprudencial no sentido de que:
Se o autor não formula na petição inicial, nem em ulterior ampliação,
pedido de juros de mora, o tribunal não pode condenar o réu no pagamento
desses juros.
Nesse âmbito, foi ali entendido que a perda desses juros não seria
definitiva, posto que não implicava caso julgado excludente31. E foi até
considerado que o lesado passaria a dispor então de título executivo com
direito aos juros de mora abrangidos pelo art.º 703.º, n.º 2, do CPC,
mesmo em sede de execução provisória nos termos do artigo 704.º, n.º 1
e 2, do mesmo diploma.
Ficou desso modo reforçada, embora sem valor uniformiza-
dor, a tese de serem peticionáveis, em sede de execução, juros de mo-
ra legais mesmo antes do trânsito em julgado da sentença exequen-
da.
41
contemplada no n.º 1 do mesmo artigo, que aquele Autor apelida de san-
ção pecuniária compulsória judicial32.
A exigência em execução dos juros compulsórios legais previstos
no art.º 829.º-A, n.º 4, CC não requer qualquer condenação anterior no
pagamento dos mesmos. São devidos de forma automática, diferente-
mente do que sucede com a sanção pecuniária compulsória judicial,
prevista no n.º 1 daquele artigo, no caso de prestação de facto infungível,
positivo ou negativo, que não requeira especiais qualidades científicas ou
artísticas do obrigado, a qual ou terá de ser decretada, previamente, na
ação declarativa, ou então fixada, a pedido do exequente, na própria ação
executiva, nos termos dos artigos 868.º, n.º 1, parte final, 874.º, n.º 1,
parte final, e 876.º, n.º 1, alínea c), do CPC33.
Quanto ao destino dos juros compulsórios, a jurisprudência tem
sido no sentido de eles reverterem, em partes iguais, para o credor e para
o Estado, dada a similitude da sua finalidade com a sanção pecuniária
judicial, que tem tal destino, por força do n.º 3 do art.º 829.º-A CC. No
mesmo sentido se pronuncia o Calvão da Silva, observando que esse des-
tino é o que condiz com a natureza coerciva da sanção pecuniária legal
referida e com a sua independência de qualquer indemnização34.
Em sentido diverso, Pinto Monteiro35 argumenta que o n.º 4 do
art.º 829.º-A padece de errada inserção sistemática, já que a medida ali
estatuída teria como motivo determinante o combate à erosão monetária
que agravaria os efeitos do incumprimento. Nesta linha de pensamento
os juros seriam devidos exclusivamente ao credor.
Salvo o devido respeito, parece que esta posição doutrinária não
terá forte sustentáculo legal. Em primeiro lugar, porque a sanção estatuí-
da é devida independentemente dos juros moratórios ou da indemnização
a que houver lugar. Em segundo lugar, porque a intenção do legislador
terá sido a de introduzir uma medida coerciva, de dupla finalidade, que
compelisse o devedor ao cumprimento das obrigações e ao acatamento
das decisões dos tribunais.
Segundo a jurisprudência predominante e parte da doutrina,
nos termos do artigo 716.º, n.º 3, do CPC, os juros legais compulsó-
rios devidos por imposição do artigo 829.º-A, n.º 4, do CC são liqui-
32
Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória, Coimbra, 1987, pág. 259, nota 471, e pag. 456.
33
Nesse sentido, vide: ac. da Relação do Porto, de 16-05-1991, CJ Ano XVI, 3º, págs. 228 e ss.; ac. da
Relação de Lisboa, de 18-05-1995, CJ Ano XX, 3º, págs 105 e ss.
34
In ob. cit., pag. 458.
35
Cláusula Penal e Indemnização, Almedina, págs. 126 a 133
42
dáveis a final, independentemente de terem sido peticionados pelo
exequente36.
43
ção de entrega de coisa móvel ou imóvel ou prestação de prestação de
facto positivo ou negativo, fungível ou infungível (art.º 10.º, n.º 6, do
CPC).
Essa equiparação é feita de forma genérica no citado artigo 705.º,
n.º 1, o que permite que, como base nele, possa ser aferida a exequibili-
dade de qualquer despacho, decisão ou ato de autoridade judicial, como
sucede, a título de exemplo, quanto às decisões previstas nos artigos
152.º, n.º 1, 417.º, n.º 2, 437.º, 508.º, n.º 4, todos do CPC, não obstante a
natureza de sanção processual.
Mas pode também tal equiparação resultar de disposição legal es-
pecial, como acontece no caso da força executiva atribuída às decisões
proferidas pelos julgados de paz pelo artigo 61.º da Lei n.º 78/2001, de
13-07, alterada e republicada pela Lei n.º 54/2013, de 31-07.
Repare-se que, por esta via de mera equiparação legal, não se cria
propriamente uma nova espécie título executivo especial, conforme o
preconizado na alínea d) do n.º 1 do artigo 703.º do CPC, mas apenas se
equipara tais decisões às sentenças judiciais, que passam, por isso, a va-
ler como tal nos termos da alínea a) do n.º 1 do mencionado artigo 703.º,
aplicando-se o regime legal que lhe está associado, nomeadamente quan-
to ao âmbito da oponibilidade à execução (art.º 729.º do CPC). Diversa-
mente, quando a lei cria um título executivo especial, dota-o de um re-
gime específico quanto aos próprios requisitos de exequibilidade, sendo,
no mais, aplicável o regime dos títulos extrajudiciais (v.g. o disposto no
artigo 731.º do CPC).
Mas, por exemplo, a atribuição de força executiva ao requerimen-
to de injunção a que seja aposta fórmula executória, nos termos do
artigo 14.ºdo diploma Anexo ao Dec.-Lei n.º 269/98, de 01-09, traduz-se,
segundo a doutrina e jurisprudência correntes, na criação de um título
extrajudicial especial, a coberto do disposto na alínea d) do n.º 1, do
artigo 703.º do CPC, muito embora o artigo 857.º, n.º 1, do mesmo Có-
digo lhe estenda o regime de oponibilidade restrita e taxativa das execu-
ção baseadas em sentença prevista no artigo 729.º, mas com as necessá-
rias adaptações.
44
4.2.4. Decisões do Tribunal de Justiça da União Europeia e do
Tribunal da Associação Europeia do Comércio Livre (EFTA)
38
Os Tribunais, enquanto Instituições, da União Europeia são o Tribunal de Justiça da União Europeia
e o Tribunal de Contas – artigos 13.º, n.º 1, e 19.º do Tratado da União Europeia (Tratado de Lisboa) e
artigos 251.ºe seguintes e 285.º e seguintes do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia. Por
sua vez, o Tribunal de Justiça da União Europeia inclui o Tribunal de Justiça e o Tribunal Geral (este
anteriormente designado por Tribunal da 1.ª Instância). Os tribunais comuns da União Europeia são os
tribunais nacionais.
45
4.2.5. Sentenças estrangeiras (art.º 706.º, n.º 1, do CPC)
46
As decisões proferidas por um tribunal de um Estado-Membro da
União Europeia que aí tenha força executória pode ser executada noutro
Estado-Membro sem que seja necessário qualquer declaração de exe-
cutoriedade, nos termos do Regulamento (UE) n.º 1215/2012 do Par-
lamento Europeu e do Conselho, de 12-12-2012, relativo à compe-
tência judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões em
matéria civil e comercial, alterado pelos Regulamentos (UE) n.º 542/
2014, de 15-05, e n.º 281/2015, de 25-02, (artigos 39.º e seguintes), o
qual se aplica a partir de 10 de janeiro de 2015, com exceção dos artigos
75.º e 76, que se aplicam a partir de 10 de janeiro de 2014.
Porém, embora a exequibilidade das referidas decisões não depen-
da de exequatur, pode ser requerida a recusa de execução com os fun-
damentos previstos no art.º 45.º ex vi do art.º 46.º e nos termos dos arti-
gos 47.º e seguintes do indicado Regulamento (UE) n.º 1215/12. O tribu-
nal territorialmente competente para apreciar esse pedido de recusa, na
falta de disposição específica do direito da União Europeia, será o tri-
bunal de 1.ª instância competente para a execução: ou do domicílio
do executado, nos termos do art.º 86.º, aplicável por remissão do artigo
90.º, e ressalvado o caso especial previsto no artigo 84.º, todos do CPC;
ou, no caso de o executado não ter domicílio em Portugal, o tribunal da
situação dos bens que aqui tenha, nos termos do artigo 89.º, n.º 3, do
CPC.
De referir que o sobredito regulamento revogou o anterior Regu-
lamento (CE) n.º 44/2001 do Conselho da CE, de 22-12-2000, sobre a
mesma matéria, segundo o qual tais decisões não careciam de ser revis-
tas nem confirmadas, mas estavam sujeitas ao exequatur do tribunal
de 1.ª instância nos termos dos respetivos artigos 38.º a 56.º, com susce-
tibilidade de recurso para os tribunais superiores (artigo 39.º com refe-
rência ao anexo II). O referido Regulamento tinha entrado em vigor em
1 de março de 2002.
No entanto, o mesmo Regulamento CE só se tornou aplicável ao
Reino da Dinamarca a partir de 1 de julho de 2007, por via de um
acordo celebrado 16/11/2005 e aprovado por Decisão do Conselho de 27
de abril de 2006. E quanto às decisões proferidas pelos tribunais da Re-
públicas Checa, da Estónia, de Chipre, da Letónia, da Lituânia, da Hun-
gria, de Malta, da Eslovénia e da Eslováquia, o mencionado Regulamen-
to só se aplicava a partir da entrada em vigor dos respetivos Atos de
Adesão à União Europeia.
47
B - Convenção de Bruxelas
48
Os tribunais arbitrais voluntários encontram-se regulados, no-
meadamente quanto ao seu âmbito, constituição e funcionamento, em
diploma aprovado pela Lei n.º 63/2011, de 14 de dezembro (LAV)39.
49
pedido de anulação apresentado de acordo com o artigo 46.º da
mesma Lei.
Porém, o impugnante pode requerer que tal impugnação tenha
efeito suspensivo da execução desde que se ofereça para prestar caução,
ficando a atribuição desse efeito condicionada a efetiva prestação dessa
caução, aplicando-se então o disposto nos artigos 648.º, 650.º e 733.º, n.º
3, do CPC ex vi do n.º 3 do indicado art.º 47.º.
4.2.6.2. Exequibilidade
A - Regra geral
50
B - Convenção de Nova Iorque sobre o Reconhecimento e a
Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras
40
Vide acórdão do STJ, de 22-04-2004, relatado pelo Juiz Conselheiro Ferreira Girão, no âmbito do
processo 04B705, no sentido de que compete aos tribunais da 1.ª instância a revisão e confirmação
das decisões arbitrais estrangeiras, a coberto da Convenção de Nova Iorque – disponível na In-
ternet – http://www.dgsi.pt/jstj.
51
4.2.6.4. Âmbito da oposição à execução baseada em decisão
arbitral
52
anual de 5%, desde o referido trânsito, os quais, inclusivamente, acresce-
rão aos juros de mora que foram devidos, nos termos do artigo 829.º-A,
n.º 3 e 4, do CC.
53
Mendes, têm a sua génese histórica na norma romana do confessus pro
judicato habetur, que consistia na confissão do devedor do direito invo-
cado pelo credor, perante o pretor, em fase pré-judicial. Tal confissão -
confessio in jure - era equiparada, pois, à condenação (judicatio).
Na Idade Média, introduziu-se o designado praeceptum de solven-
do, que se traduzia num instrumento emitido pelo juiz com base na con-
fissão do devedor para com o credor, perante o juiz que intervinha num
papel semelhante ao do atual notário (judex chartularis). Mais tarde, en-
traram em cena os títulos de crédito.
No que respeita à evolução em Portugal, ela processou-se confor-
me o já acima exposto.
A - Noção legal
41
O Código do Notariado foi aprovado pelo Dec.-Lei n.º 207/95, de 14-8, com as sucessivas altera-
ções - em especial as decorrentes do Dec.-Lei n.º 116/2008, de 4-7, do Dec.-Lei n.º 125/2013, de 30-
08, da Lei n.º 89/2017, de 21-08, da Lei n.º 58/2020, de 21-08, e da Lei n.º 8/2022, de 10-01.
54
livros especiais a esse fim destinados ou mesmo em instrumentos avulsos
exarados fora dos livros de notas (art.º 36.º, n.º 2 e 3, do CN).
55
de formalização por escritura pública quando esta seja obrigatória nos
termos gerais.
42
A referência a qualquer obrigação tem em vista compreender não só as obrigações de pagamento
de quantia pecuniária, mas também as obrigações de entrega de coisa determinada ou de prestação de
facto.
56
B – Requisitos de exequibilidade
57
Todavia, perante a falta dessa apresentação, se apenas se puder
duvidar da suficiência do título, pressupondo que exista tal documento,
o juiz deverá, mediante despacho de aperfeiçoamento, convidar o exe-
quente a apresentá-lo, nos termos do n.º 4 do citado artigo 726.º.
Distinta dessas situações é a hipótese prevista no artigo 715.º, nº 1,
do CPC, respeitante a título executivo que contenha já a constituição de
uma obrigação, ainda que dependente de condição suspensiva ou de uma
prestação a realizar pelo credor ou por terceiro. Nesta hipótese, o título é
desde logo exequível, mas a obrigação nele plasmada tem de ser tornada
exigível mediante o procedimento probatório preliminar estabelecido no
citado artigo 715.º.
C – Âmbito de exequibilidade
58
feiçoamento nos termos do artigo 726.º, n.º 4, com referência ao art.º
724.º, n.º 1, alínea e), 1.ª parte, do CPC.
59
estabelecido nos artigos 446.º e seguintes do CPC, sem prejuízo do seu
conhecimento oficioso pelo tribunal, quando sejam manifestas pelos si-
nais exteriores do documento, como se permite, respetivamente, nos ar-
tigos 370.º, nº 2, e 372.º, n.º 2, do CC.
Por sua vez, os factos constantes de documento elaborado por no-
tário não compreendidos no âmbito de eficácia da prova plena (artigo
371.º, n.º 1, parte final, e n.º 2, do CC), estão sujeitos à livre apreciação
do julgador e, por conseguinte, às regras gerais do ónus probatório.
A - Noção legal
60
Já, nos documentos autenticados, as declarações negociais deles
constantes são exclusivamente da autoria dos outorgantes, tendo o
notário apenas uma intervenção certificadora da correspondência da ex-
pressão e conteúdo dessas declarações com a vontade real dos respetivos
outorgantes (artigos 150.º e 151.º do CN).
B – Requisitos de exequibilidade
C – Âmbito de exequibilidade
61
D – Âmbito da oponibilidade à execução
A – Âmbito
62
Posteriormente, o art.º 24.º do Dec.-Lei n.º 116/2008, de 04-07,
sob a epígrafe Documento particular autenticado, veio estabelecer que:
1 – Os documentos particulares que titulem actos sujeitos a registo predial
devem conter os requisitos legais a que estão sujeitos os negócios jurídicos
sobre imóveis, aplicando-se subsidiariamente o Código aprovado pelo De-
creto-Lei n.º 207/95, de 14-8.
2 – A validade da autenticação dos documentos particulares, referidos no
número anterior, está dependente de depósito electrónico desses documentos,
bem como de todos os documentos que os instruam.
3 – O funcionamento, os termos e os custos associados ao depósito electró-
nico referido no número anterior são definidos por portaria do membro do
Governo responsável pela área da justiça.
Por fim, a Portaria n.º 1535/2008, de 30-12, que regulamenta
agora os requisitos e as condições de utilização da plataforma eletró-
nica para o depósito de documentos particulares autenticados que ti-
tulem atos sujeitos a registo predial e documentos que os instruam
(art.º 1.º), estabelece também, no n.º 1 do seu artigo 4.º, que:
Estão sujeitos a depósito electrónico os documentos particulares autenti-
cados que titulem actos sujeitos a registo predial nos termos do artigo 24.º do
Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4-7, bem como os documentos que os instruam e
que devam ficar arquivados por não constarem de arquivo público.
E o artigo 6.º da mesma Portaria determina que:
1 – Compete à entidade que procede à autenticação do documento particu-
lar realizar o depósito electrónico.
2 – A promoção do depósito electrónico de documento particular não au-
tenticado que titule acto sujeito a registo predial dispensa o registo em siste-
ma informático previsto na Portaria n.º 657-B/2006, de 29 de Junho.
Além disso, o artigo 8.º, n.º 1, da referida Portaria, bem como o n.º
6 do art.º 24.º do Dec.-Lei n.º 116/2008, de 4-7, atribui às entidades au-
tenticadoras que depositem tais documentos a competência para arqui-
var os originais dos documentos depositados, sem prejuízo do disposto
no n.º 5 do art.º 24.º do Dec.-Lei n.º 116/2008, de 4-7.
63
de equiparados aos atos autenticados por notário - artigo 703.º, n.º 1, alí-
nea b), do CPC.
A – Âmbito
43
A palavra quirógrafo deriva do termo latino chirographus, por sua vez oriunda do grego kheirogra-
phos, formada pela aglutinação de kheiros (mão) + graphos (escrita), que significa “escrita à mão”.
64
podem servir de base ao procedimento de injunção, nos termos acima re-
feridos, e dar lugar, por essa via, à formação do título executivo especial
que é o “requerimento de injunção com aposição de fórmula executória”.
Fora deste alcance ficam, porém, as obrigações para entrega de coisa cer-
ta, móvel ou imóvel, ou para prestação de facto.
65
pois de lhe ser lido o documento; deve igualmente o rogo ser dado
ou confirmado pelo rogante perante o notário ou outras entidades
ou profissionais com competência para tal, depois de lido o conte-
údo do documento - artigos 373.º, n.º 3 e 4, do CC, 708.º do CPC e
154.º e 155.º do CN.
Quando o subscritor do documento, embora sabendo ou poden-
do assinar, não saiba ou não possa ler, a sua assinatura só obriga
quando feita ou confirmada perante o notário ou outras entidades ou
profissionais com competência para tal, depois de lido o documento ao
subscritor, nos termos dos artigos 373.º, n.º 3, do CC e 708.º do CPC.
B – Requisitos de exequibilidade
66
. A primeira dúvida que se suscita é saber qual o alcance a dar a
“títulos de crédito”, já que tanto lhe pode ser dado um sentido restrito
como uma aceção ampla.
Com efeito, os títulos de crédito em sentido restrito, também de-
signados por títulos abstratos, são:
a) – a letra e livrança – Lei Uniforme sobre Letras e Livranças
(LULL) constante do Anexo I da Convenção de Genebra, de 7-6-
1930, aprovada pelo Dec.-Lei n.º 23.721, de 29-3-1934;
b) – o cheque – Lei Uniforme relativa ao Cheque (LUC) cons-
tante de Anexo da Convenção de Genebra, de 19-3-1931, aprova-
da pelo Dec.-Lei n.º 23.721, de 29-3-1934, ratificada pela Carta de
10-5-1934:
c) – o extrato de fatura, regulado pelo Dec.-Lei n.º 19.490, de
21-3-1931.
45
O regime jurídico do contrato de transporte rodoviário de mercadorias encontra-se hoje regulado
pelo Dec.-Lei n.º 239/2003, de 04-10, que, na parte dele constante, revogou os artigos 366.º a 393.º do
Código Comercial.
67
b) – as obrigações das sociedades – artigos 348.º do CSC; Dec.-Lei n.º
160/87, de 3-4, e Dec.-Lei n.º 320/89, de 25-9;
c) – os títulos de participação – nominativos e ao portador – Dec.-Lei
n.º 321/85, de 5-8;
d) – o papel comercial – semelhante a obrigações, obrigatoriamente no-
minativos – empréstimos a curto prazo – Dec.-Lei n.º 69/2004, de 25-03, alte-
rado e republicado pelo Dec.-Lei n.º 29/2014, de 25-02.
68
execução, postulada pelo título executivo, em termos de tornar dispensá-
vel a prévia ação declarativa.
Ainda a este propósito, há que referir que o documento recognitivo
não tem eficácia constitutiva da obrigação, mas apenas modifica o seu
regime probatório, fazendo presumir iuris tantum a existência do negó-
cio que lhe serve de fonte.
C – Âmbito de exequibilidade
69
de acordo com o disposto no artigo 731.º do CPC, um âmbito alargado
ou latitudinário, já que o executado pode deduzir todos os meios de de-
fesa que lhe era permitido em sede de processo declarativo.
Há, no entanto, que ter em linha de conta as regras de repartição
do ónus de prova específicas dos documentos dessa categoria.
Assim:
a) - Quanto à força probatória formal, a impugnação da assina-
tura pelo devedor/executado, nos termos do artigo 374.º do CC,
faz recair sobre o exequente o ónus de provar a genuinidade (auto-
ria) do documento dado à execução; se a assinatura tiver reco-
nhecida presencialmente por notário, incumbirá ao devedor/exe-
cutado a arguição da falsidade desse reconhecimento, como decor-
re do disposto no artigo 375.º, n.º 2, do CC
b) - Quanto à força probatória material, uma vez estabelecida a
autoria do documento, considera-se:
- em primeira linha, que o documento faz prova plena quanto
à atribuição das declarações nele contidas ao seu autor, sem
prejuízo da arguição e prova da falsidade do documento – n.º 2 do
artigo 376.º do CC;
- em seguida, que estão provados os factos constantes do do-
cumento na medida em que sejam contrários ao interesse do
declarante; mas a declaração é indivisível, nos termos prescritos
para a prova por confissão - artigos 376.º, n.º 2, e 360.º do CC;
- a falsidade poderá ter lugar em caso de adulteração material
superveniente do documento ou de preenchimento abusivo de do-
cumento assinado em branco (art. 378.º do CC); tem-se também
entendido, de forma não inteiramente pacífica, que a prova plena
do documento particular pode ser contrariada, nos termos do
disposto no artigo 347.º do CC, por meio de prova que mostre não
ser verdadeiro o facto que dela for objeto, sem prejuízo de outras
restrições especialmente determinadas na lei, como sejam as res-
peitantes à inadmissibilidade da prova testemunhal e da prova por
presunção judicial, em conformidade com o preceituado nos arti-
gos 393.º a 395.º do CC, aplicáveis às presunções judiciais por via
do artigo 351.º do mesmo código48.
c) – No domínio dos documentos recognitivos, mormente dos
títulos de crédito sem eficácia cartular, desde que se trate de
48
A este propósito, vide, por todos, o acórdão do STJ, de 2-6-1999, BMJ nº 488º, pags. 313 e segs.
70
promessa de pagamento ou de reconhecimento expresso de dívida,
como sucede, em regra, no âmbito das letras e livranças, presume-
se a prova da relação fundamental, recaindo sobre o devedor/
executado o ónus de provar a inexistência ou insubsistência dessa
relação, sem prejuízo de lhe ser lícito impugnar a assinatura do
documento, caso em que incumbirá ao exequente a prova da sua
autoria, nos termos do artigo 374.º do CC. Já no caso de títulos de
créditos sem eficácia cambiária que não configurem promessa
de pagamento nem reconhecimento de dívida, os mesmos po-
dem ainda valer como títulos executivos recognitivos da respetiva
relação causal, exceto se esta consistir num negócio formal para o
qual aquele documento não constitua forma bastante, desde que
deles conste a indicação dessa relação causal ou, na falta desta in-
dicação, o exequente alegue a mesma no requerimento executivo;
nestes casos, recai sobre o exequente a prova da relação invocada,
quando esta seja objeto de impugnação por parte do executado.
71
ma de processo sumário, nos termos do art.º 550.º, n.º 2, alíneas c) e d),
salvo nas hipóteses previstas no n.º 3, do CPC.
72
proceder à extração de fotocópias de originais, que lhes sejam apresenta-
dos para esses fins.
De igual modo, de acordo com o disposto no n.º 3 artigo 1.º do ci-
tado diploma, as câmaras de comércio e indústria, reconhecidas nos
termos do Dec.-Lei n.º 244/92, de 29-12, os advogados e os solicitado-
res podem, querendo, certificar ou extrair fotocópias de originais nos
mesmos termos.
Tal certificação é feita mediante aposição ou inscrição no docu-
mento fotocopiado da declaração de conformidade com o original,
do local e data de realização do ato, do nome e assinatura do autor da
certificação, bem como do carimbo profissional ou qualquer outra marca
identificativa da entidade que procede à certificação, nos termos do art.º
1.º, n.º 4, do Dec.-Lei n.º 28/2000.
As fotocópias desse modo conferidas têm o valor dos originais –
n.º 5 do artigo 1.º do Dec.-Lei n.º 28/2000.
São ainda atribuídas às câmaras de comércio e indústria, aos
advogados e aos solicitadores competências para certificar, ou fazer e
certificar, traduções de documentos, nos termos do artigo 38.º do Dec.-
Lei n.º 76-A/2006, de 29 de março.
73
Daí que se coloque a questão de saber em que medida o título po-
de ser dado à execução através de fotocópia autenticada ou certificada.
No que respeita às letras e livranças, há que ter em linha de conta
o disposto nos artigos 64.º da LULL, nos termos do qual as letras e li-
vranças podem ser sacadas numa única via ou em várias vias, as quais
devem ser numeradas no título (duplicatas), sob pena serem considera-
das como títulos distintos.
Por sua vez, dos artigos 39.º, 50.º e 77.º da mesma Lei decorre o
direito de quem paga uma letra ou uma livrança a exigir que lhes sejam
entregues com a respectiva quitação.
Daí que a doutrina e a jurisprudência tenham vindo a entender que
aqueles títulos deverão ser dados à execução no próprio original; só pe-
rante razões específicas ponderosas é que poderá servir como título exe-
cutivo uma certidão ou cópia certificada do original, como sucede, por
exemplo, quando o título estiver apreendido em processo criminal ou
tenha sido junto a outro processo49. A mesma doutrina valerá, mutatis
mutandis, para o cheque, face ao disposto no artigo 49.º e 50.º da LUC.
Quando o título tiver sido destruído ou se tiver extraviado, poderá
proceder-se à sua reforma, nos termos do artigo 484.º do Código Comer-
cial.
Em sintonia com este entendimento, o n.º 5 do artigo 724.º do
CPC determina que, quando a execução se funde em título de crédito e o
requerimento executivo tenha sido entregue por via eletrónica, o exe-
quente envie o original do título para o tribunal, nos 10 dias subsequen-
tes à distribuição. Não o fazendo, deverá o juiz, oficiosamente ou a re-
querimento do executado, mandar notificá-lo para o apresentar ainda
dentro de 10 dias, sob pena de extinção da execução.
49
Vide, a este propósito Prof. FERRER CORREIA, Lições de Direito Comercial, Vol. III (Letra de
Câmbio), Universidade de Coimbra, 1975, pag. 150 a 152; Cons. Dr. AMÂNCIO FERREIRA, Curso
de Processo de Execução, 4.ª Edição, Almedina, 2003, pag. 33; acórdão do STJ, de 30-9-1999, BMJ
nº 489, pag. 288.
74
Segundo o n.º 2 do artigo 706.º deste diploma, os títulos exarados
em país estrangeiro não carecem de revisão para serem exequíveis.
75
lho, de 12-12-2012, relativo à competência judiciária, ao reconheci-
mento e à execução de decisões em matéria civil e comercial, os do-
cumentos autênticos exarados num Estado contratante ou num Estado-
Membro, que aí tenham força executiva, são declarados executórios nou-
tro Estado contratante ou noutro Estado-Membro, mediante requerimen-
to do interessado, à semelhança do ali previsto quanto à declaração de
executoriedade das decisões judiciais. A execução do ato documentado
só pode ser recusada se for manifestamente contrária à ordem pública do
Estado em que é requerida.
E o mesmo regime é ainda aplicável, nos termos do artigo 51.º da-
quelas Convenções, às transações celebradas perante o juiz, desde que
tenham força executiva no Estado de origem independentemente de sen-
tença homologatória.
Existe também a Convenção Europeia de Londres, de 7-6-1968,
aprovada para ratificação pelo Decreto n.º 99/82, de 26-8, relativa à
supressão da legalização dos atos exarados pelos agentes diplomáticos e
consulares.
No que respeita aos documentos particulares, há que reter que
estes estão fora do âmbito de aplicação das Convenções acima men-
cionadas e do Regulamento (UE) n.º 1215/2012, de 12-12.
52
Nesse sentido, vide Cons. Dr. EURICO LOPES CARDOSO, Manual da Acção Executiva, Imprensa
Nacional – Casa da Moeda, 1986, pag. 98; Prof. LEBRE DE FREITAS, A Acção Executiva à Luz do
Código Revisto, 3.ª Edição, Coimbra Editora, 2001, pag. 51; REMÉDIO MARQUES, Curso de Pro-
cesso Executivo Comum, SPB Editores, Porto, 1998, pag. 75.
76
tenticidade do reconhecimento, nos termos previstos no n.º 2 do artigo
365.º do CC53.
53
Vide Cons. AMÂNCIO FERREIRA, Curso de Processo de Execução, 13.ª Edição, Almedina, 2010,
pag. 46.
54
A Acção Executiva, 4.ª Edição, Coimbra Editora, 2004, pags. 63 a 66.
77
g) – Certidões extraídas de processo de inventário nos termos
do art.º 1096.º do CPC;
h) – As certidões de liquidação de custas em processos judi-
ciais, nos termos do artigo 35.º, n.º 2, do Regulamento das Custas
Judiciais, aprovado pelo Dec.-Lei n.º 34/2008, de 26 -02, alterado
e republicado pela Lei n.º 7/2012, de 13-2, e na redação dada pela
Lei n.º 27/2019, de 28-03;
i) – O requerimento de injunção55 a que tenha sido aposta
fórmula executória, nos termos do artigo 14.º do diploma anexo
ao Dec.-Lei n.º 269/98, de 1-956, com as alterações introduzidas
pelos Dec.-Leis n.º 383/99, de 23-9, n.º 183/2000, de 10-8, n.º
323/2001, de 17-12, n.º 32/2003, de 17-2, n.º 38/2003, de 8-3, n.º
324/2003, de 27-12, n.º 107/2005, de 1-7, Lei n.º 14/2006, de 26-
4, Dec.-Lei n.º 303/2007, de 24-8, Lei n.º 67-A/2007, de 31-12,
Dec.-Lei n.º 34/2008, de 26-12, Dec.-Lei n.º 226/2008, de 20-11, e
a Lei n.º 117/2019, de 13-09, para a execução de:
- Obrigações pecuniárias emergentes de contrato de valor
não superior a € 15 000,0057, incluindo ainda a taxa de justiça
paga pelo requerente, os juros de mora desde a data da apre-
sentação do requerimento de injunção e os juros compulsórios
de 5% ao ano contados da data da aposição da fórmula, nos
termos do artigo 1.º do Dec.-Lei n.º 269/98 e dos artigos 7.º,
1.ª parte, 21.º com referência à alínea d) do artigo 13.º do di-
ploma que lhe está anexo;
- Remunerações emergentes de transações comerciais,
sendo havidas como tal as transações onerosas entre empresas
ou entre empresas e entidades públicas, qualquer que seja a
sua natureza, forma ou designação, que derem origem ao for-
necimento de mercadorias ou à prestação de serviços, inde-
pendentemente do montante da dívida, nos termos dos arti-
gos 1.º, 2.º, n.º 1, 3.º, al. a), e 7.º, n.º 1, do Dec.-Lei n.º
32/2003, de 17-2, que transpôs a Diretiva n.º 2003/35/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 29-6, e do artigo 7.º,
2.ª parte do diploma anexo ao Dec.-Lei n.º 269/98;
55
De referir que foi, entretanto, criado um procedimento europeu de injunção de pagamento em
matéria civil e comercial, de âmbito transfronteiriço, pelo Regulamento (CE) n.º 1896/2006 do Par-
lamento e do Conselho, de 12-12-2006, aplicável a partir de 12-12-2008, com excepção dos artigos
28º, 29º, 30º e 31º, que são aplicáveis a partir de 12-6-2008.
56
Para mais desenvolvimentos, no que respeita ao âmbito e termos do procedimento de injunção, vide
Cons. AMÂNCIO FERREIRA, Curso de Processo de Execução, 13.ª Edição, pags. 54 a 65.
57
Este valor de € 15.000,00 resulta da redacção dada ao artigo 1.º do Dec.Lei n.º 269/98, de 1-9, pelo
artigo 6.º do Dec.-Lei n.º 303/2007, de 24-8. Anteriormente, na redacção dada pelo Dec.-Lei n.º 107/
2005, de 1-7, o valor a considerar era o valor não superior ao da alçada da Relação.
78
Estavam, porém, excluídos deste âmbito, de acordo com o
disposto no n.º 2 do artigo 2.º do citado Decreto-Lei n.º
32/2003:
- os contratos celebrados com consumidores;
- os juros relativos a outros pagamentos que não os efectu-
ados para remunerar transacções comerciais;
- os pagamentos efectuados a título de indemnização por
responsabilidade civil, incluindo os efectuados por compa-
nhias de seguros.
Por sua vez, o Dec.-Lei n.º 62/2013, de 10-5, em vigor des-
de 01-07-2013, em transposição da Diretiva n.º 2011/7/UE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 16-02-2001, revogou o
Dec.-Lei n.º 32/2003, de 17-02, e veio prover sobre os pagamen-
tos efetuados como remuneração de transações comerciais, que
define como as que ocorrem entre empresas ou entre empresas e
entidades públicas destinadas ao fornecimento de bens ou à pres-
tação de serviços contra remuneração, com exclusão dos contrato
celebrados com consumidores, dos juros relativos a outros paga-
mentos que não os efetuados para remunerar transacções comerci-
ais, dos pagamentos efectuados a título de indemnização por res-
ponsabilidade civil, incluindo os efetuados por companhias de se-
guros.
E o art.º 10.º daquele diploma veio determinar, como proce-
dimentos especiais, o seguinte:
“1. O atraso de pagamento em transações comerciais, nos termos
previstos no presente diploma, confere ao credor o direito a recorrer à
injunção, independentemente do valor da dívida.
2. Para valores superiores a metade da alçada da Relação, a dedução
de oposição e a frustração da notificação no procedimento de injunção
determinam a remessa dos autos para o tribunal competente, aplican-
do-se a forma de processo comum.
3. Recebidos os autos, o juiz pode convidar as partes a aperfeiçoar as
peças processuais.
4. As ações para cumprimento das obrigações pecuniárias emergen-
tes de transações comerciais, nos termos previstos no presente diplo-
ma, seguem os termos da ação declarativa especial para cumprimento
de obrigações pecuniárias emergentes de contratos quando o valor do
pedido não seja superior a metade da alçada da Relação.
Quanto à execução baseada em requerimento de injunção
com fórmula executória, importa ter em linha de conta que a
ação seguirá a forma sumária para pagamento de quantia certa, nos
termos da alínea b) do n.º 2 do art.º 550.º do CPC, salvo nas hipó-
teses previstas no n.º 3 do mesmo normativo.
79
Assim, fora destas hipóteses, haverá dispensa legal de des-
pacho liminar e de citação prévia, nos termos combinados dos
artigos 855.º, n.º 1 e 3, sem prejuízo do disposto no n.º 2, do CPC.
Além disso, a oponibilidade à execução é restrita nos termos do
art.º 857.º do CPC e 14.º-A do diploma anexo ao Dec.-Lei n.º
269/98, de 1-9, aditado pela Lei n.º 117/2019, de 13-0958.
58
Ainda no domínio da lei anterior, o Tribunal Constitucional julgou materialmente inconstitucional a
norma do n.º 2 do artigo 814.º, quando interpretado no sentido de “limitar a oposição à execução fun-
dada em injunção à qual foi aposta fórmula executória”, por violação do princípio da “proibição de
indefesa” consagrado no art.º 20.º, n.º 1, da Constituição – vide acórdãos do TC n.º 283/2011, de 7-6,
n.º 437/2012, de 26-9, e n.º 123/2013, de 27-2.
80
g) – A cópia do despacho do diretor-geral do DAFSE que
determine a restituição de quantias recebidas no âmbito do Fundo
Social Europeu – artigo 1.º, n.º 2, do Dec.-Lei n.º 158/90, de 17-5;
h) – As certidões emitidas pelo organismo pagador de aju-
das para restituição coerciva de quantias recebidas no âmbito
das ajudas aos investimentos nas explorações agrícolas (certi-
dões de dívida emitidas pelo IFADAP), nos termos do artigo 52.º e
53.º, n.º 1, do Dec.-Lei n.º 81/91, de 19-2, e artigo 8.º do Decreto-
Lei n.º 31/94, de 5-2;
i) – As decisões que constituam título executivo proferidas
no âmbito dos tratados instituintes da Comunidade Europeia,
após aposição de fórmula executório pelo presidente do tribunal da
relação da área em que esteja domiciliado o requerido, nos termos
da Lei n.º 104/88, de 31-8 – vide ainda artigo 299º do Tratado so-
bre o Funcionamento da União Europeia, que atribui força execu-
tiva às decisões do Conselho e da Comissão que imponham
uma obrigação pecuniária as pessoas que não sejam Estados;
j) – As decisões que constituam título executivo, adotadas,
em virtude da aplicação do Acordo sobre o Espaço Económico
Europeu, pelo Órgão de Fiscalização da Associação Europeia
de Comércio Livre (EFTA) ou pela Comissão Europeia, após
aposição de fórmula executória pelo presidente da relação da área
em que estiver domiciliado o requerido, nos termos da Lei n.º
2/95, de 31-1.
81
b) – As atas da assembleia dos proprietários de Área Ur-
bana de Génese Ilegal (AUGI), nos termos do artigo 10.º, n.º 5,
da Lei n.º 91/95, de 2-9, alterada pela Lei n.º 165/99, de 14-959;
c) – O contrato de arrendamento urbano, acompanhado do
documento comprovativo de comunicação ao arrendatário do
montante em dívida, como título para o pagamento de rendas
encargos ou despesas, nos termos dos artigos 14.º, n.º 4, e 14.º-
A, da Lei n.º 6/2006, de 27-2, na redação dada pelas Leis n.º
79/2014, de 19-12, e n.º 13/2019, de 12-02;
d) – O requerimento de despejo, no âmbito do processo es-
pecial previsto nos artigos 15.º e seguintes da Lei n.º 6/2006, de
27-2, na redação dada pela Lei n.º 79/2014, de 19-12, converti-
do pelo Balcão Nacional de Arrendamento (BNA) como título
para desocupação do locado, nos termos do art.º 15.º-E da
mesma Lei;
e) – O contrato de aquisição do direito real de habitação
periódica ou a certidão do registo predial em conjunto com as
actas da assembleia que delibere sobre a alteração das presta-
ções periódicas, nos termos dos artigos 23.º, n.º 2, e 24.º do Dec.-
Lei n.º 275/93, de 05-08, com as alterações sucessivamente intro-
duzidas pelos Dec.-Leis n.º 180/99, de 22-05, n.º 22/2002, de 31-
01, n.º 76-A/2006, de 29-03, n.º 116/2008, de 04-07, alterado e
republicado pelo Dec.Lei n.º 37/2011, de 10-03, e alterado pelo
Dec.-Lei n.º 245/2015, de 20-10, para a execução do pagamento
das prestações ou indemnizações e respetivos juros de mora devi-
dos pelo titular do direito real de habitação periódica;
f) – Os documentos que, titulando ato ou contrato realiza-
do pela Caixa Geral de Depósitos, prevejam a existência de
uma obrigação de que a Caixa seja credora e sejam assinados
pelo devedor, sem necessidade de outra formalidade, nos ter-
mos do art.º 9.º, n.º 4, do Dec.-Lei n.º 287/93, de 20-8;
g) – Os certificados emitidos pelas entidades registadoras
relativos a valores mobiliários escriturais, nos termos do artigo
84.º do Código dos Valores Mobiliários (CVM), aprovado pelo
Dec.-Lei n.º 486/99, de 13-11, alterado pelos Dec.-Leis n.º 61/
2002, de 20-03, n.º 38/2003, de 08-03, n.º 107/2003, de 04-06, n.º
183/2003, de 19-08, n.º 66/2004, de 24-03, n.º 52/2006, de 15-03,
n.º 219/2006, de 02-11, n.º 357-A/2007, de 31-10, n.º 211-A/2008,
de 03-11; Lei n.º 28/2009, de 19-06; Dec.-Leis n.º 185/2009, de
59
Vide, neste domínio, o acórdão da Relação de Lisboa, de 1-10-2002, CJ Ano XXVII, Tomo IV, pags.
83 e segs.
82
12-08, n.º 49/2010, de 19-05, n.º 52/2010, de 26-05, n.º 71/2010,
de 18-06; Lei n.º 46/2011, de 24-06; Dec.-Leis n.º 85/2011, de 29-
06, n.º 18/2013, de 06-02, e n.º 29/2014, de 25-02, n.º 40/2014, de
18-03, n.º 88/2014, de 06/06, n.º 157/2014, de 24-10; Leis n.º
16/2015, de 24-02, n.º 23-A/2015, de 26-03; Dec.-Lei n.º 124/
2015, 07-07; Lei n.º 148/2015, de 09-09; Dec.-Leis n.º 22/2016, de
03-06, n.º 63-A/2016, de 23-09; Lei n.º 15/2017, de 03/05; Lei n.º
28/2017, de 30/05; Dec.-Lei n.º 77/2017, de 30/06; Dec.-Lei n.º
89/2017, de 28/07; Lei n.º 104/2017, de 30/08;
h) – O extrato de fatura, nos termos do Dec.Lei n.º 19.940,
de 21-3-1931.
83
5. Da natureza e função do título executivo
60
Para uma panorâmica das diversas teorias sobre a natureza e função do título executivo, e sua apre-
ciação crítica, vide JOSÉ FERREIRA DE ALMEIDA, Algumas Considerações sobre o Problema da
Natureza e Função do Título Executivo, Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
(RFDUL), Vol. XIX (1965), pags. 317 a 417.
61
Para uma visão sintética sobre as duas orientações doutrinárias, vide AMÂNCIO FERREIRA, Cur-
so de Processo de Execução, Almedina, 13.ª Edição, 2010, pags. 65 e 66.
62
Processo de Execução, Vol. 1º, 2ª Edição, Coimbra Editora, 1982, pag. 103.
84
to. Por outras palavras, ao passo que Carnelutti faz consistir o tí-
tulo executivo no que está por fora, ou seja, no continente,
Liebman fá-lo corresponder essencialmente ao que está por den-
tro, ao conteúdo.
2ª - Liebman assina ao título eficácia constitutiva; Carnelutti
assina-lhe eficácia probatória.”63
Na apreciação crítica dessas duas posições doutrinárias, o mesmo
Autor considera que “para a formação do título executivo concorrem
dois elementos: a) - um certo acto jurídico, tomando essas palavras num
sentido geral, de modo a abrangerem o acto jurisdicional; b) - um do-
cumento com determinados requisitos de forma.”64
E, citando Garbagnati, acrescenta que “é, pois, preferível reservar,
antes para o documento que para o acto, a qualificação de título execu-
tivo, exactamente porque só com a elaboração do documento é que o
credor se torna titular da acção executiva”.
É hoje reconhecido que nenhuma das doutrinas em confronto sa-
tisfaz plenamente a exigência teórica de uma conceituação unitária do
título executivo, mas também se tem duvidado da relevância prática de
uma tal conceituação, face à tipicidade legal taxativa a que estão sujeitas
as diversas espécies de títulos, sendo certo que a atribuição de exequibi-
lidade a determinado tipo de documentos depende, em grande medida,
de razões de política legislativa65.
De qualquer modo, mesmo que, no âmbito dos títulos judiciais,
sobressaia o ato jurisdicional que reconhece o direito litigioso e condena
na correspondente prestação, não se pode ignorar que a validade desse
ato depende necessariamente da sua forma documental constituída no
processo em que a decisão foi proferida.
Ora, o artigo 703.º do CPC, ao enumerar as espécies de título exe-
cutivo, refere-se, em primeira linha, a sentenças condenatórias - al. a) -,
mas já, no que concerne aos títulos extrajudiciais, faz referência a docu-
mentos – alíneas b) a d).
Todavia, do mero facto de a execução de sentença dever ser pro-
cessado, de forma autónoma, nos autos do processo declarativo em que
foi proferida ou no seu traslado (arts. 85.º, 86.º e 90.º do CPC), e de o
executado poder opor-se à execução com fundamento da falsidade do
processo ou do traslado ou infidelidade deste, como se prevê na alínea b)
63
Ob. cit. pag. 101
64
Ob. cit. pag. 104
65
Neste sentido, JUAN MONTEIRO AROCA e JOSÉ FLORS MATIÉS, El Processo de Ejecucion –
Títulos ejecutivos /Demanda Ejecutiva / Oposición a la Ejecución, Tirant lo Blanch, 2001, pags.
84/85.
85
do artigo 729.º do CPC, decorre bem a essencialidade do suporte docu-
mental dos títulos judiciais66.
Em suma, poder-se-á concluir com Amâncio Ferreira que “à luz
da nossa lei processual o título é o próprio documento” e que “… o
título executivo não surge enquanto o documento se não forma, quer
este certifique o acto do juiz quer certifique o negócio jurídico cele-
brado entre as partes” 67.
66
A este propósito, vide LEBRE DE FREITAS A Ação Executiva À Luz do Código de Processo Civil
de 2013, 7.ª Edição, GESTLEGAL, 2017, pp. 83 e seguintes.
67
Curso de Processo de Execução, 13.ª Edição, Almedina, pag. 47.
68
A este propósito, no domínio do regime em vigor antes da Revisão do CPC 95/96, vide Prof. CAS-
TRO MENDES, “A Causa de Pedir na Acção Executiva”, Revista da Faculdade de Direito de Lisboa,
Vol. XVIII – 1965, pags. 199 a 218.
69
Manual da Acção Executiva, 3.ª Edição, pp. 23 e 129.
86
ciada, além do mais, na necessidade de evitar repetição de causas através
dos institutos da litispendência e do caso julgado.
Concluem, pois, pela exigência da indicação da causa de pedir, ou
mais precisamente do facto constitutivo da obrigação exequenda, como
factor indispensável à individualização da relação in judicio deducta.
Como observa Castro Mendes, a ratio legis da exigência da causa de pe-
dir é, essencialmente, de ordem pragmática70.
Ora, como é sabido, na ação declarativa, a causa de pedir exerce
uma função intraprocessual, ao demarcar o thema decidendum, confinan-
do, desse modo, o poder de cognição do tribunal às questões que ela en-
cerra (artigos 608.º, n.º 2, e 615.º, n.º 1, al. d, do CPC) e aos factos que
consubstancia (art. 5.º, n.º 1, do CPC). Mas exerce igualmente uma fun-
ção extraprocessual, proporcionando a delimitação objetiva da litispen-
dência e do caso julgado para obstar à repetição concomitante ou suces-
siva da lide, nos termos do artigo 581.º do CPC.
Na ação executiva, esbate-se a função intraprocessual, dado não
existir, à partida, thema decidendum – salvo se tal for ressuscitado em
sede de oposição à execução; mas mantém-se a função extraprocessual
necessária a evitar a reedição de causas.
Com efeito, importa não confundir o título executivo com a obri-
gação exequenda. Aquele é apenas um meio de demonstração legal des-
ta. E pode muito bem suceder que a mesma obrigação conste de diversos
títulos executivos. Nesta circunstância, só o apelo à fonte ou ao facto
constitutivo da obrigação poderá viabilizar a destrinça.
É certo que, na grande maioria dos casos, o facto constitutivo par-
ticipa do próprio título executivo, como se verifica nos casos das senten-
ças condenatórias, na medida em que contêm os respetivos fundamentos
da decisão. E é o que também acontece nos casos em que o título consis-
te em documento constitutivo da obrigação, que formaliza o negócio ju-
rídico que lhe serve de base.
Noutros casos, porém, não será assim. Tenha-se, por exemplo, em
vista os documentos meramente recognitivos, nomeadamente em que o
signatário reconhece uma dívida ou promete uma prestação sem qualquer
alusão ao facto jurídico causante, nos termos do artigo 458.º do CC; ou,
porventura, os títulos especiais que certifiquem dívidas sem a exigência
formal de mencionar a respectiva fonte. Nessas hipóteses, impõe-se que
o exequente alegue no requerimento executivo a fonte da obrigação –
muito embora esteja dispensado de a provar -, de modo a que fique mi-
70
Prof. CASTRO MENDES, estudo cit.; LEBRE DE FREITAS A Ação Executiva À Luz do Código
de Processo Civil de 2013, 7.ª Edição, GESTLEGAL, 2017, pp. 93 e seguintes.
Prof. Lebre de Freitas, A Acção Executiva, 4.ª Edição, pp 75 e 76.
87
nimamente identificada a relação jurídica material a que respeita a pres-
tação exequenda.
Daqui se infere que a exigência de indicação da causa de pedir na
ação executiva não tem o nível de densidade que tem na ação declarati-
va. Enquanto aquela se basta com a individualização, a traço grosso, da
relação jurídica, esta requer ainda a configuração específica do thema
decidendum.
Acresce que, segundo o regime vigente, essa indicação reveste
particular relevo, por forma a possibilitar o controlo liminar da existência
e validade da obrigação exequenda constante de título negocial recogni-
tivo, nos termos preceituados no artigo 726, n.º 2, alínea c), do CPC,
nomeadamente nos casos de confissão de dívida (v.g. para averiguar se
a prestação pecuniária constante de um escrito particular respeita a
contrato sujeito a escritura pública ou a documento autenticado) ou de
promessa de entrega de imóvel (v.g. para saber se a prestação de entre-
ga da coisa constante de um documento particular emerge de contrato
de compra e venda que requeira, por exemplo, documento autenticado).
Por outro lado, a identificação da relação causal pelo exequente
nas situações em referência – o que não abrange, obviamente, as obriga-
ções emergentes de negócios jurídicos abstratos como acontece no do-
mínio cartular – afigura-se-nos como um postulado da necessidade de
delimitar o campo para o exercício do contraditório, face ao executado, à
luz do princípio do processo equitativo consagrado no artigo 20.º, n.º 4,
da Constituição.
Nessa linha de raciocínio, basta ter presente as hipóteses em que o
executado, perante um documento de confissão de dívida apresentado
como título executivo, sem invocação da respetiva causa, se opõe à exe-
cução com fundamento numa pretensa relação subjacente, mas que é de-
pois surpreendido, na contestação da oposição, pela alegação de uma re-
lação jurídica diversa daquela que perspectivara, não tendo já ao seu al-
cance articulado próprio que lhe permita impugnar ou excecionar a maté-
ria inovadora dessa contestação, como decorre do disposto no n.º 2 do
artigo 732.º do CPC. Nem nos parece que o mecanismo previsto no n.º 4
do artigo 3.º do CPC se revele, neste contexto, adequado às exigências
do contraditório.
Daí que a melhor forma de obviar a tais inconvenientes e de garan-
tir a lealdade das partes no desenvolvimento da lide parece residir na so-
lução de fazer recair sobre o exequente o ónus de alegar a relação causal,
desde logo, no requerimento executivo.
Por isso é que, segundo cremos, o artigo 724.º, n.º 1, alínea e), 1.ª
parte, do CPC exige que o exequente exponha, no requerimento executi-
88
vo, de forma sucinta, os factos que fundamentam o pedido, quando não
constem do título, sob pena de recusa pelo agente de execução, nos ter-
mos do artigo 725.º, n.º 1, alínea c), do CPC.
Caso a secretaria ou o agente de execução não recuse o requeri-
mento inicial, deverá então o juiz de execução, nos casos em que o pro-
cesso lhe seja concluso, convidar o exequente a suprir aquele vício, sob
pena de indeferimento liminar mediato fundado em nulidade tornada in-
suprível, por falta de indicação da causa de pedir, nos termos conjugados
dos artigos 726.º, n.º 2, alínea b), n.º 3 e 4, 577.º, alínea al. b), e 578.º
com referência ao artigo 186.º, n.º 1 e 2, alínea a), todos do CPC.
89
sal, desde que esta conste indicada no título ou o exequente a alegue, su-
cintamente, no requerimento executivo, nos termos dos artigos 703.º, n.º
1, alínea c), e 724.º, n.º 1, alínea e), 1.ª parte, do CPC. E se as declara-
ções inscritas no título se traduzirem em ordem ou promessa de paga-
mento ao portador do mesmo, beneficiarão da presunção prevista no ar-
tigo 458.º, n.º 1, do CC, cabendo então ao executado o ónus de provar
que tal causa não existe, é inválida ou ineficaz.
Já, no domínio do cheque, não é pacífico que a ordem de saque
sobre o banco em que se encontra aberta a conta de provisão, dada a fa-
vor de determinada pessoa que figura no título como beneficiário, repre-
sente um reconhecimento de dívida perante aquele beneficiário.
Não obstante isso, tem-se admitido que, ainda assim, tal ordem de
pagamento se traduz num documento recognitivo, em sentido amplo, da
relação causal subjacente ao saque, podendo valer como título executivo,
enquanto mero quirógrafo, desde que dele conste a indicação dessa rela-
ção causal ou, na falta desta indicação, o exequente a alegue sucintamen-
te no requerimento executivo, como hoje se mostra claro nos termos dos
artigos 703.º, n.º 1, alínea c), e 724.º, n.º 1, alínea e), 1.ª parte, do CPC.
Porém, nestes casos, o exequente não beneficiará da presunção estabele-
cida no art.º 458.º, n.º 1, do CC, pelo que, sendo impugnada tal relação
pelo executado tal relação, àquele exequente incumbe o ónus de a pro-
var71.
71
Neste sentido vide acórdão do STJ, de 21/10/2010, relatado pelo Exm.º Juiz Conselheiro Lopes do
Rego, no processo 172/08.6TBGRD-A.S1, disponível na Internet http://www.dgsi.pt/jstj.
90
Assim sendo, propendemos para aceitar que a declaração cartular
que não possa valer no domínio do direito cambiário só poderá ser tida
como recognitiva, direta ou indiretamente, quando no título figure o res-
petivo credor.
Em suma, hoje, face ao disposto no art. 703.º, n.º 1, alínea c), do
CPC, não sofre dúvida que o título de crédito, quando valha apenas co-
mo mero quirógrafo, é título executivo, desde que dele conste ou o exe-
quente alegue no requerimento executivo, nos termos do art.º 724.º, n.º 1,
alínea e), do CPC, a respetiva relação causal. No entanto, como já foi
dito, se o título de crédito desprovido de eficácia cartular resultar de um
negócio formal, o documento em referência não poderá valer como título
executivo dessa relação causal para a qual não constitua forma legal bas-
tante72.
72
Neste sentido, vide, por todos, acórdão do STJ, de 20/02/2014, relatado pelo Exm.º Juiz Conselheiro
Serra Baptista, no processo 22577/09.5YLSB-A-1.S1, disponível na Internet http://www.dgsi.pt/jstj.
91
executado na petição de embargos e aceita pelo exequente (art. 265.º, n.º
1, parte final, do CPC).
92
b) – preenchimento dos requisitos de exequibilidade espe-
cialmente previstos nos artigos 704.º a 708.º do CPC ou em lei
avulsa.
73
A Acção Executiva Singular, Comum e Especial, 3.ª Edição, Coimbra Editora, 1977, pag. 279.
93
conduzindo, porém, a falta de tais condições à previsão da alínea a) do
sobredito artigo 813.º74.
Com a Revisão de 95/96, passaram a figurar, no artigo 811.º-A, n.º
1, alínea a), do CPC, como fundamento de indeferimento liminar a mani-
festa falta ou insuficiência do título e, no artigo 813.º, alínea a), como
fundamento de embargos à execução baseada em sentença, a inexistên-
cia ou inexequibilidade do título. Tais fundamentos mantêm-se hoje,
respetivamente, nos artigos 726.º, n.º 2, alínea a), e 729.º, alínea a), do
CPC.
Apesar da aparente desarmonia terminológica entre “insuficiên-
cia” e “inexequibilidade do título”, estamos em crer que as normas em
foco sinalizam duas categorias de vícios, conceitualmente distintas:
(i) - uma mais grave, reportada à falta ou inexistência de título,
portanto, aos casos em que o documento apresentado não se en-
quadra na enumeração do n.º 1 do atual artigo 703.º do CPC;
(ii) - outra menos radical, mas não menos importante, denomi-
nada insuficiência ou inexequibilidade, quando o título apresen-
tado, ainda que configurável em alguma das espécies previstas no
n.º 1 do artigo 703º, não contenha os requisitos específicos de exe-
quibilidade exigidos pelos artigos 704.º a 708.º ou por lei avulsa.
Qualquer dessas hipóteses constitui fundamento de indeferimento
liminar imediato do requerimento executivo, quando manifesta, ou fun-
damento de embargos de executado, nos termos dos artigos 726.º, n.º 2,
alínea a), e 729.º, alínea a), do CPC, respetivamente. E podem ainda ser-
vir de fundamento de extinção da execução oficiosamente ou a requeri-
mento do executado, até ao primeiro ato de transmissão dos bens penho-
rados, nos termos do art.º 734.º do CPC.
Se em sede liminar ou subsequentemente até ao primeiro ato de
transmissão dos bens penhorados, a falta ou a insuficiência/inexequibili-
dade do título executivo não forem manifestas, mas, no entanto, se susci-
tarem dúvidas sobre a existência e exequibilidade do mesmo, o juiz de-
verá proferir despacho de aperfeiçoamento, nos termos do artigo 726.º,
n.º 4, e 734.º do CPC, com vista a garantir a idoneidade daquele, já que
esta é uma garantia do prosseguimento da execução.
94
irrecorrível a decisão do juiz que confirme o ato de recusa fundado em
naquela não apresentação, nos termos do n.º 2 do citado artigo 725.º.
Cabe então perguntar se o vício de falta ou inexistência do título,
por apresentação de um documento que não constitui título executivo à
face do artigo 703.º, n.º 1, do CPC, será de considerar como motivo de
recusa por não apresentação do título, para os efeitos do disposto no arti-
go 725.º, n.º 1, alínea d), e n.º 2, do mesmo Código.
Ora, afigura-se que a não apresentação da cópia ou do original
do título, a que se refere a 1.ª parte da alínea d) do n.º 1 do art. 725.º do
CPC, se circunscreve aos casos, de ocorrência rara, em que o exequente
não junta sequer qualquer documento como título executivo, nos termos
exigidos pelo n.º 4, alínea a), do artigo 724.º.
Já, a apresentação de um documento que, manifestamente, não se-
ja qualificável como título executivo, à luz do disposto nas diversas alí-
neas do n.º 1 do artigo 703.º do CPC, ou que não reuna os requisitos es-
pecíficos de exequibilidade previstos nos artigos 704.º a 708.º, constitui,
como foi dito, fundamento de indeferimento liminar imediato, nos ter-
mos do artigo 726.º, n.º 2, alínea a), do CPC. E, mesmo no âmbito do
processo sumário para pagamento de quantia certa, em que não há, em
regra, lugar a despacho liminar, o agente de execução deverá, nesses ca-
sos, suscitar a intervenção do juiz, ao abrigo do disposto no art.º 855.º,
n.º 2, alínea b), do CPC.
Assim, a questão da falta ou da insuficiência/inexequibilidade
do título apresentado é uma questão jurisdicional cuja apreciação
compete exclusivamente ao juiz, muito embora, quando não haja lugar
a despacho liminar, como sucede no âmbito do processo sumário para
pagamento de quantia certa, caiba ao agente de execução suscitar a in-
tervenção do juiz para tal efeito, nos termos do artigo 855.º, n.º 2, alínea
b), com referência ao artigo 726.º, n.º 2, alínea a), do CPC.
Por seu lado, o controlo sobre a mera falta de apresentação de
título é da esfera da competência da secretaria ou do agente de exe-
cução, consoante os casos, embora com sujeição a reclamação para o
juiz, nos termos dos artigos 724.º, n.º 4, alínea a), e 725.º, n.º 1, alínea d),
e 2, aplicáveis ainda por via do artigo 855.º, n.º 2, alínea a), do CPC.
95
b) – Fundamento de oposição à execução, mediante embargos
de executado, nos termos do artigo 729.º, alínea a), do CPC;
c) – Rejeição ulterior da execução, oficiosamente ou a reque-
rimento do executado, até ao primeiro ato de transmissão de
bens penhorados, nos termos do artigo 734.º do CPC;
d) – Ou, quando não manifestas mas duvidosas, despacho de
aperfeiçoamento, sob pena de indeferimento liminar mediato do
requerimento executivo ou rejeição da execução, respetivamen-
te, nos termos dos artigos 726.º, n.º 4 e 5, e 734.º do CPC.
96
III
1. Preliminar
97
iii) – à verificação da violação da obrigação de prestação de
facto negativo, nos termos do artigo 876.º do CPC.
2.1. Âmbito
75
Situação diversa é a das obrigações cumulativas, em que o devedor só se exonera pelo cumpri-
mento de todas, podendo o credor, nessas hipóteses, cumular as pretensões executivas, desde que não
se verifiquem os requisitos negativos previstos nas diversas alíneas do n.º 1 do art.º 709.º do CPC.
98
recusa desse requerimento pelo agente de execução, como se preceitua
na 2.ª parte da alínea h) do n.º 1 do artigo 724.º e 725.º, n.º 1, alínea c),
do CPC.
Se a escolha couber ao devedor, este deverá ser citado pelo agen-
te de execução, nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do arti-
go 714.º do CPC.
Caso a escolha tenha sido confiada a terceiro, este deverá ser
notificado para efetuar tal escolha – artigo 714.º, n.º 2, do CPC.
Na falta de escolha pelo devedor ou por parte do terceiro, bem
como nos casos em que houver vários devedores a quem incumba es-
sa escolha, e não for possível formar maioria, a mesma será efetuada
pelo credor - artigo 714.º, n.º 3, do CPC e ainda artigo 548.º do CC.
99
c) – As obrigações puras, quando o respetivo vencimento de-
penda apenas de interpelação ou de o pagamento ser exigido no
domicílio do devedor (art. 777.º, n.º 1, do CC);
d) – As obrigações dependentes de prazo a fixar pelo tribunal,
nos termos previstos no artigo 777.º, n.º 2 e 3, do CC e artigos
1026.º e 1027.º do CPC;
e) – As obrigações dependentes da possibilidade ou do arbítrio
do devedor nos termos, respetivamente, dos n.ºs 1 e 2, do art.º
778.º CC;
f) – As obrigações a prazo cujo vencimento depende da verifi-
cação do decurso de um lapso de tempo - art.º 805.º, n.º 2, al. a),
do CC.
100
3.3. Exigibilidade das obrigações dependentes da possibilidade
ou do arbítrio do devedor
3.6. Quando o prazo deva ser fixado pelo tribunal (art. 777.º,
n.º 2, do CC)
101
observando-se o procedimento preliminar previsto nos artigos 874.º e
875.º do CPC.
Caso se trata de execução de outra espécie, na falta de norma ex-
pressa, afigura-se adequado recorrer, para tal efeito, a realização de dili-
gências preliminares, nos próprios autos da ação executiva, porventura
com aplicação subsidiária das regras de procedimento previstas nos arti-
gos 1026.º e 1027.º do CPC.
4.1. Âmbito
102
4.2.2. Liquidação por forma diversa do simples cálculo aritmé-
tico
76
Segundo o disposto no artigo 25.º da Lei n.º 31/86, o poder jurisdicional dos árbitros esgotava-se
com a notificação do depósito da decisão que punha termo ao litígio ou, quando tal depósito seja dis-
pensado, com a notificação da decisão às partes, o que parece impossibilitar legalmente a ulterior
intervenção dos árbitros na liquidação do julgado. Assim sendo, essa liquidação teria de ser realizada
por via judicial, salvo se as partes tiverem convencionado a liquidação por meio de árbitros, conforme
prevê o artigo 380.º-A do CPC. Havendo, pois, lugar à liquidação por via judicial, não parecia que
fosse necessário recorrer, só para tal efeito, à propositura de uma ação declarativa prévia à instauração
da execução. Bastaria requerer a liquidação por via do procedimento preliminar previsto no n.º 1 e 4
do artigo 805.º do CPC, interpretando-se então restritivamente o segmento normativo do disposto no
citado n.º 4, na parte em que referia “não sendo o título executivo uma sentença”, no sentido de com-
preender apenas as sentenças proferidas em processo civil declarativo, já que só nesta hipótese é que
era então possível provocar a renovação da instância por incidente de liquidação póstumo, nos termos
previstos nos artigos 378.º, n.º 2, e 380.º, n.º 3, do CPC.
103
a requerimento das partes, nos termos previstos nos artigos 45.º, n.º 5,
e 47.º, n.º 2, da referida Lei.
Todavia, desses normativos resulta que tal liquidação adicional é
de promoção facultativa pelas partes, podendo até ser afastada por con-
venção destas.
Assim sendo, a liquidação de condenação arbitral genérica não
dependente de simples cálculo aritmético poderá ser requerida em
sede de ação executiva, como decorre, de resto, do disposto no artigo
716.º, n.º 5, parte final, do CPC.
104
Querendo contestar, deverá fazê-lo em sede de oposição à execu-
ção, mediante embargos de executado, sendo que a falta de contestação
importa a fixação da obrigação no montante peticionado pelo exequente
(cominatório pleno), ressalvados os casos de revelia inoperante previstos
no artigo 568.º do CPC. Havendo contestação ou sendo a revelia inope-
rante, aplicar-se-á o disposto nos n.ºs 3 e 4 do artigo 360.º do CPC.
No entanto, importa ter presente que, havendo contestação, se de-
vem seguir os trâmites dos embargos de executado, segundo os termos
do processo comum declarativo (art.º 732.º, n.º 2, do CPC). Em caso de
revelia inoperante, como não há lugar a embargos de executado, a li-
quidação será julgada nos próprios autos de execução, seguindo-se então
a tramitação prevista nos n.ºs 3 e 4 do artigo 360.º ex vi do art.º 716.º, n.º
4, parte final, do CPC.
Quando a prova produzida pelos litigantes for insuficiente para de-
terminar a quantia devida, o juiz poderá ordenar a indagação oficiosa,
designadamente a produção de prova pericial, nos termos preceituados
no n.º 4 do artigo 360.º do CPC. E ainda no que concerne à obrigação de
indemnização, se não puder ser averiguado o valor exato dos danos, o
tribunal fixará o respetivo montante segundo a equidade, dentro dos
limites que tiver por provados, como determina o n.º 3 do artigo 566.º do
CC.
Se a iliquidez da obrigação resultar do facto de ter por objeto me-
diato uma universalidade (v.g. um rebanho, uma biblioteca, um estabe-
lecimento comercial) e o exequente não possa concretizar, desde logo, os
elementos que a compõem, a liquidação terá lugar em momento imedia-
tamente posterior à apreensão, precedendo a entrega ao exequente (art.
716.º, n.º 7, do CPC).
Nestes casos, não será de exigir uma identificação pormenorizada
ou exaustiva de todas as coisas singulares que integram essa universali-
dade, mas apenas dos seus componentes essenciais, podendo recorrer-se,
por exemplo, ao inventário ou à relação desses bens, à semelhança do
previsto no art.º 782.º, n.º 1, do CPC para a penhora de estabelecimento
comercial.
105
b) – se respeitar a título diverso de sentença, realizar-se-á antes
de apresentado o requerimento executivo, aplicando-se o disposto no ar-
tigo 361.º ex vi do art.º 716.º, n.º 5, do CPC.
106
se desconhecer qual o montante da dívida exequenda para os efeitos do
disposto no artigo 735.º, n.º 3, 1.ª parte, do CPC. E o mesmo sucede
quanto à concretização de coisa genérica, no âmbito da execução para
entrega de coisa certa, a efectuar nos termos do artigo 716.º, n.º 7, do
CPC, salvo os casos previstos no artigo 861.º, n.º 2, do mesmo diploma.
As sobreditas exceções dilatórias são de conhecimento oficioso,
nos termos do artigo 578.º, 1.ª parte, aplicável por via do artigo 551.º, n.º
1, do CPC.
No entanto, tais exceções são supríveis na fase introdutória do
processo, como se alcança do disposto na parte final da alínea e) do arti-
go 729.º do CPC, pelo que nunca importam o indeferimento liminar
imediato nos termos do artigo 726.º, n.º 2, alínea b), mas sim despacho
de convite ao aperfeiçoamento do requerimento executivo, ao abrigo
do disposto nos artigos 6.º, n.º 2, e 726.º, n.º 4, do CPC.
Formulado tal convite, não sendo aquelas exceções supridas pelo
exequente, ocorrerá então despacho de indeferimento liminar mediato,
nos termos do n.º 5 do citado artigo 726.º.
Não tendo o tribunal providenciado por esse suprimento, o execu-
tado poderá opor-se à execução pelos fundamentos previstos no artigo
729.º, alínea e), do CPC. E pode ainda o tribunal, oficiosamente, provi-
denciar por aquele suprimento, até ao primeiro ato de transmissão de
bens penhorados, nos termos do artigo 734.º do CPC.
Em suma:
107
. É certo que, se o exequente não requerer a liquidação logo no
requerimento executivo, quando o deva fazer, ou não proceder à
escolha da prestação nos casos em que essa escolha pertença ao
credor, o agente de execução ou a secretaria, conforme os casos,
poderão recusar o requerimento executivo, nos termos dos arti-
gos 724.º, n.º 1, alínea h), e 725.º, n.º 1, al. c), do CPC, cabendo
reclamação dessa recusa para o juiz, cuja decisão confirmativa da
recusa é irrecorrível ~art. 725.º, n.º 2, do CPC), aplicáveis ao pro-
cesso sumário por via do art.º 855.º, n.º 2, alínea a).
Todavia, considerando que o juiz pode lançar mão do aperfeiço-
amento, nos termos do artigo 726.º, n.º 4, do CPC, afigura-se
mais adequado que, em tais casos, a secretaria ou o agente de
execução não recusem o requerimento executivo, mas remetam
o processo ao juiz para aqueles efeitos.
108
IV
1. Das Partes
77
Vide, a este propósito, entre outros, Prof. ANTUNES VARELA, Manual de Processo Civil, 2ª Edi-
ção, Coimbra Editora, 1985, pags. 107 e segs.; Prof. LEBRE DE FREITAS, Introdução ao Processo
Civil – Conceito e Princípios Gerais – à Luz do Código Revisto -, Coimbra Editora, 1996, pags. 60 e
segs.; Cons. AMÂNCIO FERREIRA, Curso de Processo Executivo, 13.ª Edição, 2010, p. 69 e es..
109
. No domínio da ação executiva, assumem a posição de partes
principais:
110
2. Dos pressupostos relativos às partes
Neste domínio, rege o disposto nos artigos 11.º a 14.º, 27.º e 29.º
do CPC para a ação civil em geral, não se destacando especificidades
quanto à ação executiva.
Por exemplo:
- para pagamento de dívidas ativas (créditos) da herança, quando
a cobrança possa perigar com a demora, qualquer sucessível ou o
curador, em caso de herança jacente (artigos 2047.º e 2048.º do
CC), bem como o cabeça-de-casal em caso de herança indivisa
(artigo 2089.º do CC), pode instaurar execução para pagamento de
quantia certa; porém, para pagamento de dívidas passivas da he-
rança, o credor terá de instaurar a execução contra todos os herdei-
ros, em litisconsórcio legal necessário passivo, como impõe o art.
2091.º do CC;
- qualquer herdeiro ou o cabeça-de-casal pode instaurar execu-
ção para entrega de bens da herança, nos termos do artigo 2088.º
do CC; e qualquer herdeiro que tenha obtido título de entrega de
bens da herança, por via de ação de petição de herança, ao abrigo
do artigo 2075.º do CC, poderá dar à execução esse título;
- - em sede do contencioso da propriedade horizontal, o con-
domínio é sempre representado em juízo pelo respetivo admi-
nistrador, na qualidade de representante da universalidade dos
condóminos, nos termos dos artigos 1437.º do CC e 6.º, n.º, 4, do
Dec.-Lei n.º 268/94, de 25-10, na redação dada pela Lei n.º
8/2022, de 10-01.
111
b) – o vício de irregularidade de representação, quando o de-
mandante ou demandado, embora dotados de personalidade ju-
diciária, não se façam representar por quem detenha os poderes le-
gais para o efeito; tal vício constitui, porém, uma exceção dilató-
ria suprível, nos termos dos artigos 6.º, n.º 2, 27.º, 28.º, 278.º, n.º
3, 726.º, n.º 4, e 734.º do CPC.
Tanto a falta de personalidade judiciária, no caso excecional em
que é sanável, como a irregularidade de representação, não sendo devida
e oportunamente supridas, convertem-se em exceção dilatória, de co-
nhecimento oficioso, determinando o indeferimento liminar mediato do
requerimento executivo ou, ulteriormente, a absolvição da instância exe-
cutiva do executado, respetivamente, nos termos dos artigos 726.º, n.º 5,
e 734.º, com referência ainda ao disposto nos artigos 278.º, n.º 1, alínea
c), e 3, 577.º alínea c), e 578.º do CPC.
112
b) - irregularidade de representação, quando o incapaz se
apresenta em juízo representado por quem não detenha, integral-
mente, poderes legais de representação;
c) - falta de autorização ou deliberação, quando o incapaz se
apresenta em juízo, embora adequadamente representado, mas sem
estar provido da autorização ou deliberação legalmente exigida pa-
ra tal.
113
cialmente, como decorre do preceituado no artigo 2.º, n.º 2, alínea b), do
indicado Dec.-Lei n.º 272/2001 e do artigo 1014.º, n.º 4, do CPC.78
Quando o menor figure como réu, deve ser citado na pessoa do
respetivo tutor ou administrado de bens – artigo 223.º, n.º 1, do CPC.
A disposição dos direitos dos menores que através da ação se pre-
tenda fazer valer carece de autorização nos termos do artigo 1889.º, n.º 1,
ex vi dos artigos 1938.º, n.º 1, alínea a), e 1971.º do CC.
78
Neste sentido, veja-se ac. do STJ, de 09/07/2014, proferido no processo n.º 1129/07.0TBAGH-A.
L1.S1, acessível no site da dgsi.
114
artigo 1889.º, n.º 1, ex vi dos artigos 1938.º, n.º 1, alínea a), e 1971.º,
aplicáveis por força dos n.ºs 4 e 5 do artigo 145.º do CC.
Também aqui, embora tal autorização seja, em princípio da com-
petência do Ministério Público nos termos do artigo 2.º, n.º 1, alínea b),
do Dec.-Lei n.º 272/2001, de 13/10, nos casos em que o pedido de auto-
rização seja dependente de processo de acompanhamento de maior,
mesmo já findo, essa autorização deve ser conferida judicialmente,
como decorre do preceituado no artigo 2.º, n.º 2, alínea b), do indicado
Dec.-Lei n.º 272/2001 através do processo de jurisdição voluntária pre-
visto no artigo 1014.º do CPC, a instaurar por apenso àquele processo.
. Em suma:
- Os progenitores como representantes legais dos filhos menores podem,
sem necessidade de autorização prévia, demandar ou ser demandados em ações
executivas para pagamento de quantia certa, entrega de coisa ou prestação de
facto, como se alcança do disposto no artigo 1889.º, n.º 1, do CC, a contrario
sensu, e art.º 16.º, n.º 2, do CPC;
- O tutor e o administrador de bens do incapaz carecem, em regra, de au-
torização, conforme os casos, do Ministério Público ou judicial para instaurar
ações executivas em nome do incapaz, salvo as que se destinem à cobrança de
115
prestações periódicas e aquelas cuja demora possa causar prejuízo - artigos
1938.º, n.º 1, alínea e), e 1971.º, n.º 1, do CC.
- Nas ações executivas instauradas pelo maior acompanhado não sujei-
to a representação, mas apenas a autorização prévia do acompanhante,
bastará que aquele comprove a autorização dada por este;
- Nas ações executivas instauradas contra o maior acompanhado ape-
nas sujeito a autorização prévia do acompanhante, devem ser citados tanto
o maior acompanhado como o respetivo acompanhante, ficando a intervenção
daquele submetida à orientação deste, nos termos do artigo 19.º do CPC.
- Nas execuções movidas contra incapazes e ausentes, que não tenham de-
duzido oposição, ou instauradas contra incertos, será citado o Ministério Públi-
co, conforme os casos, nos termos e para os efeitos dos artigos 21.º, na redação
dada pelo Dec.-Lei n.º 97/2019, de 26-07, e 22.º do CPC.
116
quenda, ou seja, pela titularidade exibida, em termos literais, no títu-
lo executivo.
Nessa base, tem legitimidade como exequente ou como executado
quem figure no título, respetivamente, na posição de credor ou de
devedor da obrigação exequenda.
Todavia, essa regra sofre os seguintes desvios previstos na lei:
i) – No caso de títulos ao portador, a legitimidade ativa é confe-
rida a quem se apresente como portador legítimo do título, o que
sucede no âmbito dos títulos de crédito – art.º 53.º, n.º 2, do CPC;
ii) – Quando o direito ou obrigação exequenda tenha sido
objeto de sucessão mortis causa ou entre vivos, tem legitimidade
quem haja sucedido ou ingressado na posição do titular do di-
reito ou obrigação constante do título, para o que importará de-
duzir a respetiva habilitação-legitimidade nos termos previstos no
artigo 54.º, n.º 1, do CPC;
iii) – Nos casos de execução de dívida provida de garantia sobre
bens de terceiro, em que o exequente pretenda fazer valer a garan-
tia, o dono da coisa ou titular do bem onerado, embora não figu-
rando no título como devedor, tem legitimidade passiva, devendo
ser demandado como tal nos termos dos artigos 54.º, n.º 2, e 735.º,
n.º 2, do CPC e art.º 818.º, 1.ª parte, do CC;
iv) - Também o terceiro possuidor do bem onerado pertencente
ao devedor pode ser demandado conjuntamente com o devedor
nos termos do n.º 4 do indicado art.º 54.º;
v) – No caso de o credor pretender executar bem do devedor que
este tenha alienado ou onerado a terceiro, quando a respetiva alie-
nação ou oneração tenha sido objeto de impugnação pauliana
julgada procedente, a execução poderá prosseguir ou ser instaura-
da apenas contra o terceiro adquirente nos termos dos artigos
616.º, n.º 1, e 818.º, 2.ª parte, do CC;
vi) – Por sua vez, nas execuções de sentença condenatória, tem
legitimidade ativa ou passiva quem se encontre abrangido pelo âm-
bito do caso julgado material dessa sentença – art.º 55.º do CPC;
vii) – No âmbito das execuções para entrega de coisa certa de
que possa resultar a perda ou oneração de bens que só possam ser
alienados por ambos os cônjuges, incluindo, direta ou indiretamente
a casa de morada de família, deve ser demandado o cônjuge do
executado ainda que não figure no título como devedor – artigo
34.º, n.º 3 com referência ao n.º 1, do CPC;
viii) – Nas execuções fundadas em título diverso de sentença,
pode o exequente demandar também o cônjuge do executado, ape-
117
sar de o mesmo não figurar no título, sob a alegação da comunica-
bilidade da dívida constante de título apenas assinado pelo côn-
juge executado – art.º 724.º, n.º 1, alínea e), 2.ª parte, e 726.º, n.º 7,
e 741.º, n.º 1, do CPC.
A este propósito, cabe precisar que, tratando-se de direitos ou de
dívidas comunicáveis, ou pelas quais respondam bens comuns do casal,
se o cônjuge do exequente ou do executado não figurar no título executi-
vo como titular da relação em causa, esse cônjuge não será, sem mais,
parte legítima nem ocorrerá sequer litisconsórcio necessário nos termos
do artigo 34.º do CPC, afora a situação enunciada em vii).
Assim:
79
A referida Lei Uniforme de Letras e Livranças (LULL) constitui o Anexo I da Convenção de Ge-
nebra, de 7-6-1930, aprovada pelo Estado Português por via do Dec.Lei n.º 23.721, de 29-3-1934,
confirmada e ratificada pela Carta de Confirmação e Ratificação de 10-5-1934, publicada no Diário do
Governo de 21-6-1934.
80
A mencionada Lei Uniforme relativa ao Cheque constitui o Anexo I da Convenção de Genebra, de
7-6-1930, aprovada pelo Estado Português por via do Dec.Lei n.º 23.721, de 29-3-1934, confirmada e
ratificada pela Carta de Confirmação e Ratificação de 10-5-1934, publicada no DG de 21-6-1934.
118
para a venda ou adjudicação desses bens, para que este cônjuge seja cita-
do nos termos e para os efeitos do artigo 741.º, n.ºs 1 a 2, do CPC.
119
2.3.1.2. Aferição indireta em função do título executivo
B - Na pendência da execução
120
No caso de extinção de sociedade comercial, a ação prossegue
com ou contra a generalidade dos sócios representados pelos liquida-
tários, sem necessidade de habilitação nem da suspensão da instância -
art.º 162.º do CSC. Tendo falecido os liquidatários, a representação cabe
aos últimos administradores ou gerentes e, se também estes tiverem fale-
cido, a representação será assegurada pelos sócios por ordem decrescente
da sua participação no capital social – art.º 163.º, n.º 5, ex vi do art.º
162.º, n.º 1, do CSC
121
aplicável por via dos artigos 657.º, n.º 2 (consignação de rendimentos),
667.º, n.º 2 (penhor) e 717.º, n.º 2 (hipoteca) do CC.
Assim:
A - O adquirente de coisa ou direito e o assuntor de dívida por ato
posterior à propositura da ação declarativa em que se formou o título po-
derão ser demandados em execução de sentença que condene o alienante
ou o devedor primitivo, ainda que aqueles não tenham tido intervenção
nessa ação – v.g. artigos 55.º e 263.º, n.º 3, do CPC;
122
B – Os condevedores, em caso de litisconsórcio necessário ou vo-
luntário, chamados por via de intervenção principal provocada, ao abrigo
do disposto nos artigos 32.º, 33.º e 311.º do CPC, ficam abrangidos pelo
efeito do caso julgado, mesmo que não intervenham no processo, nos
termos do art.º 320.º do CPC.
O alcance do caso julgado também ocorre nas hipóteses de litis-
consórcio passivo subsidiário requerido pelo autor, nos termos do art.
39.º e 316.º, n.º 2, do CPC.
82
A este propósito, vide Prof. ANTUNES VARELA, in RLJ Ano 117º, pag. 381;
83
Prof. A. VARELA e outros, Manual de Processo Civil, 2ª Edição, pag. 140.
123
Para o Prof. Lebre de Freitas, o contitular não interveniente apenas
beneficiará, nos termos dos normativos acima citados, do efeito de caso
julgado secundum eventum litis, confinado, portanto, ao mero efeito
prejudicial, a ter em conta em posterior decisão a proferir porventura a
seu favor em ação declarativa por ele interposta. Nessa linha de enten-
dimento, não lhes será aplicável o disposto no artigo 55.º, por se tratar de
norma excecional, insuscetível, por isso, de aplicação analógica (art. 11.º
do CC)84.
Por sua vez, o Prof. Teixeira de Sousa sustenta que a extensão de
caso julgado operada por via do disposto nos artigos 531.º e 538.º, n.º 2,
do CC implica o reconhecimento da legitimidade executiva ativa dos
credores abrangidos e que o artigo 55.º do CPC não reveste natureza ex-
cecional, sendo antes o afloramento de um princípio geral85.
Nesta problemática, afigura-se-nos não haver obstáculo a que o
contitular não interveniente na ação declarativa, mas que beneficia do
alcance do caso julgado favorável, tenha, sem mais, legitimidade ativa
para a execução pelo menos nos casos em que a sentença condenatória
tenha resolvido toda a situação jurídica litigiosa, em termos tais que a
sua extensão ao terceiro contitular do direito se circunscreve apenas a
uma mera questão de habilitação-legitimidade.
84
LEBRE DE FREITAS A Ação Executiva À Luz do Código de Processo Civil de 2013, 7.ª Edição,
GESTLEGAL, 2017, p. 151-152, nota 17.
85
A Acção Executiva Singular, Lex, pag. 141.
124
2.3.2. Suprimento e consequência da verificação do vício
125
C – No concurso de credores, é obrigatória a constituição de
advogado, a partir da impugnação do crédito reclamado em valor supe-
rior ao valor da alçada do tribunal de 1.ª instância, mas só para a aprecia-
ção desse crédito – art.º 58.º, n.º 2, do CPC.
126
2.4.3. Vícios e formas de suprimento
2.4.3.1. Vícios
127
processuais idênticas às referidas para a falta de constituição de manda-
tário.
128
3. Função jurisdicional e competência executiva
129
trolo não é meramente formal ou cartular, já que envolve uma atividade
de interpretação do título no sentido de verificar se do título resulta a
constituição ou o reconhecimento da obrigação exequenda nos termos re-
queridos pelo exequente.
Em suma, poderemos afirmar que a função jurisdicional, no âmbi-
to da tutela executiva, é de certo modo uma garantia da legalidade formal
e material da execução e constitui mesmo um fator de humanização da
economia postulado pelo princípio basilar do Estado de direito.
130
08; n.º 3-B/2010; de 28-04; n.º 61/2011, de 07-12; n.º 02/2012, de 06/01;
n.º 20/2015, de 09/03; n.º 42/2016, de 28/12; n.º 2/2020, de 31/03.
131
Existem também tribunais arbitrais necessários e voluntários,
bem como julgados de paz, estes criados pelo Dec.-Lei n.º 9/2004, de
09-01, cuja organização, competência e funcionamento se encontram
regulados pela Lei n.º 78/2001, de 13-07, alterada e republicada pela
Lei n.º 54/2013, de 31-07.
132
Finalmente, a competência concreta87 reporta-se ao poder de de-
terminado tribunal para julgar certa causa, constituindo um pressuposto
processual subjetivo, determinado em função dos diversos fatores pré-
estabelecidos na lei – nacionalidade, matéria, hierarquia, valor da ação e
território – artigos 40.º a 44.º da Lei n.º 62/2013, de 26-08, alterada pelas
Leis n.º 40-A/2016, de 22-12, e n.º 55/2019, de 05-08.
É deste pressuposto processual relativo à ação executiva que nos
ocuparemos doravante.
87
Distinto do regime da competência é o da distribuição que consiste na divisão de tarefas dentro do
mesmo tribunal, por juízos, juízes, ou por secções (nos tribunais superiores) e que tem por finalidade
uma repartição igualitária do serviço (art. 203.º e segs. do CPC). Porém, à resolução de conflitos rela-
cionados com a distribuição poderá aplicar-se o disposto nos arts. 111º e segs., por força do art. 205.º,
n.º 2, todos do CPC – vide C.J. Ano XI, Tomo 4º, pags. 72 a 75.
133
tal em razão da nacionalidade, pelo menos por via do princípio da coin-
cidência estabelecido na alínea a) do art.º 62.º do mesmo diploma. Aliás,
envolvendo a execução, como envolve, o exercício de poderes coercivos
de autoridade, mormente de apreensão de bens, dificilmente se poderia
imaginar a possibilidade de executar bens sitos em país estrangeiro.
Assim, para se executar uma decisão condenatória sobre bens si-
tuados em países estrangeiros, ter-se-á de recorrer nestes países aos me-
canismos de revisão de sentença estrangeira ou aos eventuais mecanis-
mos simplificados do exequatur.
134
esse aprovado pela Lei n.º 49/2014, de 27-03, e já anteriormente alterado
pelo Dec.-Lei n.º 86/2016, de 27-12, e pela Lei n.º 19/2019, de 19-12.
Assim, do Mapa III constam as áreas de competência territorial
dos tribunais judiciais de primeira instância, distribuídas pelas várias
comarcas com referência última ao território dos municípios por cada
uma delas abrangidos.
Exemplos:
135
trais cíveis, juízos centrais criminais, juízos locais cíveis, juízos locais crimi-
nais, juízos de família e menores, juízos do trabalho, e o juízo de execução do
Entroncamento com a área de competência na comarca de Santarém.
Existem ainda os seguintes juízos de competência genérica: o de Almei-
rim com a área de competência nos municípios de Almeirim e Alpiarça; o do
Cartaxo com a área de competência no respetivo município; o de Coruche
com a área de competência neste município; o do Entroncamento com a área
de competência nos municípios de Chamusca, Entroncamento, Golegã e Vila
Nova da Barquinha; o de Rio Maior com a área de competência neste municí-
pio.
136
. Posto isto, na ordem judicial, os tribunais especializados da
propriedade intelectual, da concorrência, regulação e supervisão, o
tribunal marítimo, os juízos de família e menores, os juízos do traba-
lho, os juízos de comércio e os juízos criminais, mesmo que na respe-
tiva área existam juízos de execução cível, detêm competência executi-
va nos termos gerais do artigo 129.º, n.º 2, da Lei n.º 62/2013, de 26-08
(LOSJ), na redação dada pelas Leis n.º 40-A/2016, de 22-12, e n.º
55/2019, de 05/08, e específica e respetivamente nos termos seguintes da
mesma lei:
i) - O Tribunal da Propriedade Intelectual, com sede em Lis-
boa e a área de competência alargada ao território nacional, para a
execução das decisões – artigo 111.º, n.º 2, na redação dada pela
Lei n.º 55/2019, de 05/08;
ii) - O Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão,
com sede em Santarém e área de competência alargada ao territó-
rio nacional, para a execução das decisões – artigo 112.º, n.º 3;
iii) - O Tribunal Marítimo, com sede em Lisboa e área de
competência alargada aos departamentos do norte, centro e sul, pa-
ra a execução das decisões – artigo 113.º, n.º 2;
- Os juízos de família e menores, para execuções por alimentos
entre cônjuges e entre ex-cônjuges e para execuções por alimentos
devidos a menores e a filhos maiores ou emancipados a que se re-
fere o art.º 1880.º do CC - artigos 122.º, n.º 1, alínea f), e 123.º, n.º
1, alínea e);
- Os juízos do trabalho, para execuções fundadas nas suas deci-
sões ou noutros títulos executivos, ressalvada a competência atri-
buída a outros tribunais - artigo 126.º, n.º 1, alínea m);
- Os juízos de comércio, para a execução das suas decisões - ar-
tigos 128.º, n.º 3;
- Os juízos criminais, quanto a execução de sentença proferida
em processo de natureza criminal que, nos termos da lei proces-
sual penal, não devam correr perante um juízo cível, correndo pe-
rante o presidente do tribunal da 1.ª instância em que o processo
tiver corrido; mas quando se tratar de condenação cível a liquidar
em sede de execução, esta correrá perante o tribunal civil – art.º
129.º, n.º 2, in fine, da LOSJ e artigos 82.º, n.º 1, 470.º, n.º 1, e
510.º do Código de Processo Penal (CPP).
137
. Já fora do âmbito de competência dos sobreditos tribunais e juí-
zos especializados, nas comarcas em que não existam juízos de execu-
ção cível, as ações executivas de natureza cível de valor superior a €
50.000,00 são da competência dos juízos centrais cíveis que aí exis-
tam, nos termos do artigo 117.º, n.º 1, alínea b), da Lei n.º 62/2013, de
26-08, na redação dada pela Lei n.º 40-A/2016, de 22-12. E, nas comar-
cas em que não haja juízo de comércio, tal competência executiva é ex-
tensiva às ações que caberiam àquele, conforme o disposto no mencio-
nado artigo 117.º, n.º 2.
Porém, nas áreas das comarcas em que existam juízos de execu-
ção cível, a execução das decisões proferidas pelos juízos centrais cí-
veis são da competência daqueles juízos, mesmo quando de valor su-
perior a € 50.000,00, nos termos do art.º 129.º, n.º 3, da Lei n.º 62/2013,
na redação dada pela Lei n.º 40-A/2016, ao consignar que para a execu-
ção das decisões proferidas pelo juízo central cível é competente o juízo
de execução que seria competente, se a causa não fosse da competência
daquele em razão do valor.
Por sua vez, os juízos locais cíveis, locais criminais e de compe-
tência genérica têm competência para a execução onde não houver juízo
de execução ou outro juízo ou tribunal de competência especializada
competente – art.º 130.º, n.º 2, alínea c), da citada LOSJ.
Em termos esquemáticos:
138
lei processual penal, correr perante o tribunal civil, salvo quando
se tratar de condenação cível a liquidar em sede de execução, em
que esta esta correrá perante o tribunal civil – art.º 129.º, n.º 2, in
fine, da LOSJ e artigos 82.º, n.º 1, 470.º, n.º 1, e 510.º do CPP.
c) – Os juízos de execução cível, nos demais casos, inclusiva-
mente para as execuções de decisões proferidas por juízos especia-
lizados centrais e locais cíveis, para as execuções de decisões con-
denatórias proferidas em processo de natureza criminal a liquidar
em sede executiva, nos termos do art.º 82.º, n.º 1, do CPP e 716.º,
n.º 5, do CPC, e para as decisões arbitrais (art.º 85.º, n.º 3, do
CPC).
139
arbitradas em processos que correram na 1.ª instância, nas Rela-
ções ou no Supremo Tribunal de Justiça – artigos 87.º e 88.º do
CPC.
3.3.4.2. Desenvolvimento
Exemplos:
140
do tribunal marítimo, em relação com qualquer área do território nacional
ou dos departamentos marítimos do norte, centro e sul, são sempre esses, res-
petivamente, os tribunais competentes.
Exemplos:
141
cípios de Beja e Mértola -, são estes, respetivamente, os competentes, dentro
da sua área de competência territorial.
142
Exemplos:
Exemplos:
. Para a execução de uma decisão arbitral que tenha lugar na área terri-
torial do Tribunal da Comarca de Lisboa, são competentes os juízos de
execução aí existentes – o juízo de execução de Lisboa ou o juízo de execu-
ção de Almada -, consoante o lugar da arbitragem se situe nas respetivas áreas
de competência territorial.
. Para a execução de uma decisão arbitral que tenha lugar na área ter-
ritorial do Tribunal Judicial da Comarca de Beja, uma vez que aqui não
existe juízo de execução, são competentes os juízos cíveis, central ou local,
ou os juízos de competência genérica, consoante o lugar da arbitragem se si-
tue nas respetivas áreas de competência territorial e atento o valor em causa.
Se este valor for superior a € 50.000,00, o tribunal competente para a execu-
ção é o juízo cível central de Beja com a área de competência territorial em
toda a comarca; se esse valor não for superior a € 50.000,00, então são com-
petentes o juízo cível local de Beja com a área de competência territorial con-
finada aos municípios de Beja e de Mértola ou os juízos de competência ge-
nérica com jurisdição nos restantes municípios daquela comarca, consoante o
lugar da arbitragem se situe em qualquer desses municípios.
143
3.3.4.2.2. O tribunal competente para execução fundada em
decisão proferida por tribunais superiores
144
. A lei portuguesa não se refere, expressamente, ao tribunal com-
petente para a execução de decisão arbitral proferida no estrangeiro.
Porém, afigura-se que, estando essas decisões sujeitas ao regime de revi-
são de sentença estrangeira, nos termos do n.º 1 do artigo 978.º do CPC,
é-lhe igualmente aplicável a regra de competência estabelecida nos arti-
gos 86.º, ex vi do artigo 90.º, e 89.º, n.º 3, do CPC.
145
3.3.4.2.7. Tribunal competente para a execução baseada em
títulos diversos de sentença ou decisão equivalente
146
Para determinar o local onde a obrigação deva ser cumprida, im-
porta, em primeira linha, indagar da eventual existência de cláusula con-
tratual que estipule o lugar de cumprimento da obrigação. Na falta desta
estipulação, aplicar-se-á a norma legal supletiva que determina o lugar
de cumprimento da obrigação no âmbito do regime contratual específico
(vide, por exemplo, o artigo 885.º do CC, quanto ao contrato de compra e
venda) ou, na falta de norma supletiva específica, as normas gerais dos
artigos 772.º e seguintes do CC, mais precisamente a do artigo 774.º do
CC, que estabelece o domicilio do credor para o cumprimento das obri-
gações pecuniárias e a do artigo 772.º do mesmo código, que estabelece
o princípio geral do domicílio do devedor para a generalidades das obri-
gações. Porém, como resulta do precedentemente exposto, nas execuções
para entrega de coisa certa ou para pagamento de dívida provida de ga-
rantia real, prevalece a regra estabelecida no n.º 2 do artigo 89.º do CPC.
147
lidade e da preterição de tribunal arbitral, genericamente de-
signada por incompetência absoluta do tribunal - artigos 96.º a
114.º;
b) – o segundo bloco tem por objeto a violação das regras de
competência fundadas no valor da causa, na forma do proces-
so aplicável, na divisão judicial do território ou decorrentes do
estipulado na convenção do foro prevista no art.º 95.º, designa-
da por incompetência relativa – artigos 102.º a 108.º;
c) – o terceiro bloco respeita dos conflitos entre duas jurisdi-
ções distintas ou entre dois tribunais da mesma jurisdição - arti-
gos 109.º a 114.º.
148
V
149
1.2. Tipos de regulamentação da forma de processo
150
- ao tempo (o quando) para a prática dos atos - artigos 137.º a
142.º, 149.º, 156.º e 162.º do CPC;
- ao lugar (o onde) em que devem ser praticados - artigos 143.º e
224.º, 457.º, n.º 2, 480.º, 490.º, 494.º, 551.º, n.º 5, e 604.º, n.º 4, do
CPC.
151
. Por sua vez, a execução comum para pagamento de quantia
certa compreende duas formas de processo (art.º 550-º, n.º 1, CPC):
a) – a forma ordinária, na generalidade dos casos e nas hipóte-
ses previstas no n.º 3 do artigo 550.º, forma essa regulada nos arti-
gos 724.º a 854.º do CPC;
b) – a forma sumária, nos casos enunciados no n.º 2 com a res-
salva das situações previstas no n.º 3 do art.º 550.º do CPC, forma
essa regulada nos artigos 855.º a 858.º do mesmo diploma, e que
só difere da forma ordinária na fase introdutória e na oposição à
execução e à penhora.
152
4. O erro na forma de processo
153
VI
DA CUMULAÇÃO E DA COLIGAÇÃO
154
os tribunais judiciais com execuções para que sejam competentes os tri-
bunais administrativos e fiscais, ou para que sejam competentes os tribu-
nais civis e os juízos do trabalho, de família e menores, de comércio e os
tribunais marítimos;
c) - a compatibilidade teleológica, ou seja em relação ao fim da
execução, nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 709.º do CPC; não
se podem cumular execuções para pagamento de quantia certa com
execuções para entrega de coisa certa ou com execuções para presta-
ção de facto, salvo quando o título executivo for uma sentença, caso
em que é permitido cumular a execução de todos os pedidos julgados
procedentes (art.º 710.º do CPC), bem como no caso do processo espe-
cial de despejo previsto no artigo 15.º, n.º 5, da Lei n.º 6/2006, de 27-2,
na redação dada pela Lei n.º 31/2012, de 14-8, segundo o qual o pedido
de pagamento das rendas, encargos ou despesas que corram por conta do
arrendatário pode ser cumulado com o pedido de despejo;
d) - a compatibilidade quanto à forma de processo, nos termos
da alínea c) e d) do n.º 1 do artigo 709.º do CPC, não se podendo cumu-
lar execuções que seguem a forma de processo comum com execuções
especiais, sem prejuízo do disposto nos n.ºs 2 e 3 do art.º 37.º (por
exemplo execução comum com execução por alimentos); nem quando se
trate de execução de decisão judicial que corra nos próprios autos da
ação declarativa.
Porém, nos termos do n.º 5 do art.º 709.º do CPC, quando ocorra
cumulação de execuções que devam seguir formas de processo co-
mum distintas, como nos casos de execução para pagamento de quantia
certa comum sob a forma ordinária e sob a forma sumária -, a execução
seguirá a forma ordinária.
1.2.1. Vícios
Assim:
155
artigos 186.º, nº 1 e 2, al. c), 278.º, nº 1, al. b), 555.º, n.º 1, 577.º, al. b), e
578.º do CPC;
156
ra a forma seguida, nos termos dos artigos 726.º, n.º 2, al. b), e 734.º do
CPC.
157
pedido sucessivo, a tramitação correspondente à fase introdutória e às
fases subsequentes, como resulta do art.º 728.º, n.º 4, do CPC88.
A incompatibilidade teleológica prevista na alínea b) do n.º 1 do
artigo 709.º não impede a cumulação sucessiva de uma pretensão execu-
tiva para pagamento de quantia certa no âmbito de uma execução para
entrega de coisa certa ou para prestação de facto, quando estas tenham
sido convertidas, nos termos dos artigos 867.º e 869.º ou 870.º, n.º 2, res-
petivamente, em execução para pagamento de quantia certa – art. 709.º,
n.º 2, do CPC.
Assim, é admitida:
a) – a coligação ativa contra o mesmo devedor ou vários deve-
dores litisconsortes, independentemente da diversidade de títulos
– artigo 56.º, n.º 1, al. a), do CPC;
b) – a coligação passiva de devedores obrigados no mesmo tí-
tulo perante um ou vários credores litisconsortes ou coligados; no
caso de existirem vários credores coligados, a coligação é mista –
artigo 56.º, n.º 1, al. b);
88
De referir que, mesmo depois de extinta a execução, pode ser requerida a renovação da instância
nas hipóteses previstas nos n.ºs 1 e 2 do artigo 850.º do CPC.
158
c) – a coligação passiva de titulares de quinhões no mesmo pa-
trimónio autónomo (v.g. herança) ou de direitos relativos ao mes-
mo bem indiviso (v.g. compropriedade), sobre os quais se faça in-
cidir a penhora, perante um ou vários credores litisconsortes ou
coligados, independentemente da diversidade de títulos – art.
56.º, n.º 1, al. c), do CPC
159
Quando insuprível, a coligação ilegal constitui fundamento de
indeferimento liminar imediato do requerimento executivo ou, subse-
quentemente até ao primeiro ato de transmissão dos bens penhorados, de
absolvição do executado da instância, respetivamente ao abrigo dos ar-
tigos 726.º, n.º 2, alínea b), e 734.º do CPC. E constitui, igualmente,
fundamento de embargos de executado a coberto da alínea c) do artigo
729.º do mesmo diploma.
160