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49/2004, de 24-08, e n.º 14/2006, de 26-04, e pelo Dec.-Lei n.º
226/2008, de 20-11.
(iv) – As garantias de consulta jurídica e de apoio judiciário,
para suportar os custos da ação e do patrocínio, em casos de insufi-
ciência de meios económicos – art.º 20.º, n.º 1 e 2, da CRP e Lei n.º
34/2004, de 29-07, com as alterações introduzidas pelas Leis n.º
47/2007, de 28-08, e n.º 40/2018, de 08-08, e pelo Dec.-Lei n.º
120/2018, de 27-12.
Por sua vez, a proteção jurídica dos direitos subjetivos e interes-
ses legalmente tutelados através dos tribunais, na esfera da justiça cível,
implica o direito de ação (e de defesa) destinado a obter as providências
jurisdicionais adequadas a essa tutela, seja ela de natureza definitiva, decla-
rativa ou executiva, seja de natureza meramente cautelar ou provisória
(artigos 2.º e 10.º do CPC), com observância dos requisitos de exercício
estabelecidos na lei, designados por pressupostos processuais, regulados
nos artigos 11.º a 114.º, 703.º a 711.º e 713.º a 716.º do CPC.
Dos referidos artigos 2.º, n.º 1, e 3.º, n.º 1, do CPC colhe-se que o
direito de ação deve ser deduzido:
- em juízo, ou seja, perante o tribunal - n.º 1 do art.º 2.º;
- por quem invoque o direito que através da ação pretende fazer
valer (parte ativa) – n.º 1 do art.º 3.º;
- contra quem o direito é exercido (parte passiva) – n.º 1 do art.º
3.º.
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Daí resultam, pois, os contornos subjetivos - de perfil triangular -
do direito de ação.
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Assim, a idoneidade do objeto do direito de ação, como pressu-
posto processual, afere-se, em geral, pela indicação inteligível e formal-
mente não contraditória do pedido e da causa de pedir, sob pena de
ineptidão da petição inicial, nos termos prescritos no artigo 186.º, n.º 1 e 2,
do CPC.
Por seu lado, a idoneidade do objeto do direito de ação executiva
é aferida em função do teor do título executivo (exequibilidade extrínse-
ca) e, complementarmente, pela causa de pedir alegada no requerimento
executivo quando ela não conste do título.
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Com efeito, a ação (ou causa) refere-se, em termos abrangentes, à
relação jurídico-processual, também designada por instância, incidente
sobre determinado objeto (o litígio - conflito de interesses processual-
zado). E é caracterizada em função da espécie de fim a que se destina, im-
plicando um tipo de atividade processual a desenvolver com vista a obter
um resultado prático-jurídico concreto correspondente à espécie do direito
subjetivo ou do interesse direto legalmente protegido que através da ação se
pretende fazer valer.
Nesta conformidade, à luz do artigo 10.º, n.ºs 1 a 4, e 6, do CPC, as
ações podem ser:
a) - declarativas, quando se destinem a obter: i) - um veredicto
sobre a existência ou inexistência do direito ou interesse legalmente
protegido; ii) - uma providência determinativa de prestação de coisa
ou de facto, em ordem a prevenir ou reparar a violação de um direito;
iii) - uma decretação no sentido de constituir, modificar ou extinguir
um direito ou uma determinada situação jurídica;
b) – executivas, quando se destinem a satisfazer, coativamente,
uma prestação obrigacional pecuniária, de entrega de coisa ou de
prestação de facto positivo ou negativo, fungível ou infungível.
No espetro dos diferentes tipos de resultado visados, as ações decla-
rativas são classificadas nas categorias de ações de simples apreciação,
ações de condenação e ações constitutivas.
Por sua vez, as ações executivas compreendem as espécies de ações
para pagamento de quantia certa, para entrega de coisa determinada ou
para prestação de facto positivo ou negativo, consoante se destinem a sa-
tisfazer uma prestação pecuniária, uma prestação patrimonial de entrega de
coisa que não dinheiro ou uma prestação de facto.
Significa isto que a qualificação das diversas espécies de ação judi-
cial depende, fundamentalmente, da diferenciação dos tipos de pretensão
jurisdicional que podem consubstanciar o seu objeto.
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tribunal, no decurso da ação. Por isso é que a mesma espécie de ação pode
ser tramitada sob formas de processo diferentes (v.g. uma ação de
condenação pode seguir uma forma comum ou uma forma especial).
Mesmo no domínio da execução cível singular comum, em que as
espécies de ação executiva (para pagamento de quantia certa, para entrega
de coisa determinada ou para prestação de facto) têm uma correspondên-
cia estreita com as respetivas formas de processo, importa não confundir o
plano relacional da ação, caracterizado pelo fim específico da tutela judicial
pretendida, em função do qual se aferem os pressupostos processuais, com
o seu modo-de-ser estrutural (a forma de processo). Deste modo, melhor se
compreende que a mesma espécie de ação executiva, como é a execução
para pagamento de quantia certa, possa seguir duas formas de processo
distintas – a ordinária e a sumária.
Sucede que a distinção entre espécie de ação e forma de processo
se mostra necessária para identificar a natureza do vício que ocorre quando
se propõe uma ação diversa da que deveria ser instaurada ou quando se
intenta determinada ação sob uma errada forma de processo. Só depois do
apuramento da natureza desse vício é que se poderá saber qual a solução
prática a adotar.
Por vezes, há a tendência para equacionar o vício do “erro” na espé-
cie de ação como erro na forma de processo e, por conseguinte, considerar
aquele erro suscetível de ser corrigido, oficiosamente, nos termos do artigo
193.º do CPC, o que, como veremos, não se afigura correto.
Na verdade, quando se propõe uma espécie de ação em vez da ade-
quada ao fundamento invocado, o que está em causa é a própria idoneida-
de ou viabilidade da pretensão deduzida, traduzindo-se, na maioria das
vezes, numa questão de mérito.
. Por exemplo, se for proposta uma ação de reivindicação de uma parcela de
terreno, sob a alegação de este terreno se encontrar ainda em situação de com-
propriedade, o erro consiste em não se ter proposto a competente ação de divisão
de coisa comum (art.º 1412.º do CC), o que significa que aquela pretensão é
manifestamente improcedente, na medida em que o efeito pretendido – reconhe-
cimento do direito de propriedade singular sobre a dita parcela e condenação na
sua entrega – não decorre da situação de compropriedade, nos termos da qual o
comproprietário não detém a titularidade de uma parcela específica desse
terreno, mas apenas de uma quota ideal sobre o mesmo.
Neste caso, não é lícito ao juiz convolar o pedido de reivindicação para seguir
como pedido de divisão de coisa comum, porquanto não se trata de um erro na
forma de processo, mas sim de uma pretensão deduzida sem fundamento legal,
implicando a manifesta improcedência da ação com a consequente absolvição do
réu do pedido.
Diferente seria se fosse deduzida uma pretensão de divisão de coisa comum
com fundamento em compropriedade, mas sob a forma de processo declarativo
comum. Aqui, o vício seria já o de erro na forma de processo, posto que a ação
de divisão de coisa comum está sujeita à forma de processo especial prevista e
regulada nos artigos 925.º e seguintes do CPC. No entanto, perante isso, o juiz
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poderia mandar seguir a forma adequada, ao abrigo do artigo 193.º do CPC,
desde que a petição inicial se mostre aproveitável para tal fim.
. Outro exemplo pode ser o de se instaurar uma execução para pagamento de
quantia certa com base em título executivo donde conste apenas a obrigação de
entrega de coisa, sob a alegação de que esta já não existe e de que se pretende a
satisfação de uma indemnização substitutiva.
Neste caso, a espécie de ação executiva adequada é a de execução para entrega
de coisa certa, em conformidade com o teor do título executivo (art.º 10.º, n.º 5 e
6, do CPC) e só no âmbito desta é que o exequente poderá então requerer a
conversão em execução para pagamento de indemnização substitutiva nos
termos do artigo 867.º do CPC.
Assim, o vício em foco não se traduz em erro na forma de processo, mas antes
em manifesta falta ou inexistência de título para a execução da pretendida
prestação de pagamento de quantia certa, o que implica o indeferimento liminar
do requerimento executivo nos termos do artigo 726.º, n.º 2, alínea a), primeira
parte, do CPC.
Já se for proposta uma execução para pagamento de quantia certa, sob a forma
ordinária, com base em requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta
fórmula executória, ocorrerá erro na forma de processo que cumpre ao juiz
suprir, oficiosamente, ao abrigo do artigo 193.º do CPC, mandando seguir os
adequados termos da forma de processo sumário.
Pelos exemplos acima expostos se vê quão relevante é distinguir o
erro na espécie de ação do erro na forma de processo.
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o objeto do direito litigioso ou dos interesses conflituantes, como sucede,
designadamente, no âmbito das ações:
- para tutela da personalidade (art.ºs 70.º e segs. do CC e 878.º a 880.º do
CPC);
- de justificação de ausência para instituição de curadoria definitiva (arts.º 99.º
a 113.º do CC) ou para declaração de morte presumida (art.ºs 114.º a 119.º do
CC) – art.ºs 881.º a 890.º do CPC;
- para adoção de medidas de acompanhamento de maiores - art.ºs 138.º e 145.º
do CC e 891.º a 904.º do CPC;
- para prestação de caução - art.ºs 623.º a 626.º do CC e 906.º a 915.º do CPC;
- para consignação em depósito - art.ºs 841.º a 846.º do CC e 916.º a 924.º do
CPC;
- para prestação de contas - art.ºs 941.º a 952.º do CPC;
- para divisão de coisa comum - art.ºs 1412.º e 1413.º do CC e 925.º a 930.º do
CPC;
- de divórcio e separação sem consentimento do outro cônjuge - art.ºs 1773.º e
1779.º a 1785.º e 1794.º a 1795.º-D do CC e 931.º e 932.º do CPC;
- para liquidação da herança vaga em benefício do Estado - art.ºs 2155.º do
CC e 938.º a 940.º do CPC;
- de inventário destinado à cessão da comunhão hereditária ou de partilha de
bens em casos especiais - art.sº 2102.º, n.º 2 (partilha de herança), e 1689.º
(partilha dos bens do casal) do CC e art.ºs 1082.º a 1135.º do CPC;
- para liquidação de patrimónios em benefício da generalidade dos credores –
processo de insolvência regulado pelo CIRE.
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- ou, nos mesmos termos, em sede de despacho subsequente de
rejeição daquele requerimento proferido ao abrigo do artigo 734.º
do CPC;
- ou ainda, no caso de execução fundada em qualquer espécie de
título executivo, no âmbito de embargos de executado deduzidos
por apenso à execução, com fundamento impugnativo ou excetivo
sobre o mérito da pretensão executiva, nos termos dos artigos 729.º,
alíneas g) a i), 731.º e 732.º, n.º 6, do CPC.
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3. Das Formas de Processo
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. O processo executivo comum compreende três formas comuns
correspondentes às três espécies de ações executiva:
(i) - o processo para pagamento de quantia certa, regulado, de
forma plena, nos artigos 724.º a 858.º do CPC;
(ii) - o processo para entrega de coisa certa, regulado, de modo
fragmentário, nos artigos 859.º a 867.º do CPC;
(iii) – o processo para prestação de facto, regulado, também de
forma fragmentária, nos artigos 868.º a 877.º do CPC.
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vii) – O processo especial por alimentos previsto e regulado nos
artigos 933.º a 937.º do CPC;
viii) - O processo especial para a tutela da personalidade nos
casos previstos no artigo 70.º, n.º 1 e 2, e seguintes do CC, confi-
gurado e regulado nos artigos 878.º a 880.º do CPC, comportando
uma fase executiva (n.º 2 do art.º 880.º CPC);
ix) - O processo de prestação de caução, a apreensão de um bem,
em caso de falta daquela prestação, aplicando-se as regras da penho-
ra nos termos do art.º 912.º, n.º 2, do CPC;
x) - O processo de divisão de coisa comum, em caso de falta de
acordo sobre a adjudicação de coisa indivisível, havendo lugar a
venda judicial do bem, nos termos do art.º 929.º, n.º 2, parte final,
do CPC, com a aplicação das disposições pertinentes do processo
executivo, conforme se preceitua no art.º 549.º, n.º 2, do mesmo
Código;
xi) - O processo de prestação de contas, a penhora de bens, por
apenso, para pagamento do saldo apurado a favor do autor (art.º
944.º, n.º 5, CPC);
xii) - O processo de jurisdição voluntária para apresentação de
coisas ou de documentos, prevista nos artigos 574.º a 576.º do CC,
mediante apreensão judicial destes objetos, segundo as regras da
penhora nos termos dos artigos 1045.º a 1047.º do CPC;
xiii) - O processo de jurisdição voluntária de investidura em
cargos sociais, a execução da decisão nos termos do art.º 1071.º do
CPC.
Também nos procedimentos cautelares de restituição provisória de
posse (artigos 377.º a 379.º do CPC), de arresto (artigos 391.º a 396.º do
CPC), de embargo de obra nova (artigos 397.º a 402.º do CPC) e de
arrolamento (artigos 403.º a 409.º do CPC), a execução da decisão
cautelar tem lugar nesses procedimentos e não em execução autónoma,
como resulta dos seguintes artigos do CPC:
- art.º 391.º, n.º 2, sobre a apreensão do bem arrestado com aplica-
ção das disposições relativas à penhora;
- art.º 400.º sobre o modo de realização ou ratificação do embargo
de obra nova;
- art.º 406.º sobre a realização do arrolamento mediante descrição,
avaliação e depósito dos bens arrolados (n.ºs 1 a 4) e com aplicação
das disposições relativas à penhora (n.º 5).
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3.2.3. Do processo executivo comum
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De referir que a forma sumária para pagamento de quantia certa, no
essencial, apenas difere da forma ordinária:
- na fase introdutória, em que há, em regra, dispensa legal de
despacho liminar e da citação prévia do executado, nos termos do
artigo 855.º, n.º 1, 2 e 3, do CPC;
- quanto às condições de dedução de oposição à execução e à pe-
nhora (art.º 856.º do CPC), bem como ao âmbito dos fundamentos
de oposição à execução baseada em requerimento de injunção ao
qual tenha sido aposta fórmula executória, nos termos dos artigos
857.º do CPC.
Todavia, ainda que a execução para pagamento de quantia certa te-
nha por base qualquer das espécies de título executivo e demais condições
referidas no n.º 2 do artigo 550.º, não é aplicável a forma sumária,
quando, concomitantemente, se verifique qualquer das situações figuradas
nas alíneas a) a d) do n.º 3 do mesmo artigo, as quais implicam a citação do
executado prévia à penhora e que está afastada, por regra, no processo
sumário.
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liquidação não dependa de simples cálculo aritmético deve ser objeto de tal
liquidação no processo declarativo, como impõe o n.º 6 do artigo 704.º do
CPC. Nesta medida, a ressalva aqui em referência só é aplicável às
decisões arbitrais e às decisões judiciais proferidas em processo que não
comporte o ónus de liquidação, conforme o prescrito no n.º 5 do artigo
716.º do CPC.
A mesma ressalva não terá também aplicação às execuções baseadas
nas espécies de títulos referidos nas alíneas b) e d) do n.º 2 do artigo
550.º do CPC, uma vez que se referem, respetivamente, ao requerimento
de injunção com fórmula executória e a título extrajudicial de que conste
obrigação pecuniária vencida de valor não superior ao dobro da alçada do
tribunal de 1.ª instância, portanto, não sujeitas a liquidação não dependente
de simples cálculo aritmético.
Também a situação prevista na alínea c) do n.º 3 do artigo 550.º
do CPC não é aplicável às execuções fundadas em sentença judicial ou
decisão arbitral.
Para saber quais as situações que se encontram excluídas na parte
final da alínea a) do n.º 2 do artigo 550.º do CPC, importa conjugar o
disposto nos artigos 626.º, n.º 1 e 2, e 85.º, n.º 1 e 2, do CPC.
Assim, devem correr no próprio processo declarativo, ainda que com
tramitação autónoma, nos termos dos artigos 85.º, n.º 1, e 626.º, n.º 1 e 2,
do CPC, as execuções de sentenças condenatórias proferidas pelo Tribunal
da Propriedade Intelectual, pelo Tribunal da Concorrência, Regulação e
Supervisão, pelo tribunal marítimo, pelos juízos de família e menores, pe-
los juízos do trabalho e pelos juízos de comércio, dentro do respetivo âm-
bito de competência, bem como as sentenças proferidas pelos juízos crimi-
nais, em processo de natureza criminal que não deva, nos termos da lei
processual penal, correr perante o tribunal civil, salvo quando se tratar de
condenação cível a liquidar em sede de execução.
Devem igualmente correr nos mesmos termos as execuções de sen-
tenças condenatórias proferidas pelos juízos cíveis, centrais ou locais, ou
pelos juízos de competência genérica, nas comarcas em que não existam
juízos de execução cível.
Só nas comarcas em que existam juízos de execução cível é que a
execução de sentenças condenatórias proferidas pelos juízos cíveis, centrais
ou locais, ou pelos juízos de competência genérica são da competência
daqueles juízos de execução, não correndo, portanto, no próprio processo
em que foram proferidas (art.º 85.º, n.º 2, do CPC).
Também, a execução de decisões condenatórias proferidas pelos tri-
bunais superiores (art.º 86.º do CPC) e a execução de sentença estrangeira
(art.º 90.º do CPC) não correm no processo em que foram proferidas ou
revistas.
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Em suma, a alínea a) do n.º 2 do artigo 550.º do CPC compreende, no
essencial, além das decisões arbitrais, as decisões judiciais de condenação
em obrigação pecuniária proferidas pelos juízos cíveis, centrais ou locais, e
pelos juízos de competência genérica, nas comarcas em que existam juízos
de execução, bem como as decisões da mesma natureza proferidas pelos
tribunais superiores e as sentenças estrangeiras.
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b) – A forma sumária para o pagamento de quantia certa e as
formas únicas para entrega de coisa certa e para prestação de
facto contêm uma regulamentação de tipo fragmentário;
c) – A todas as formas de processo comum de execução aplicam-se
as disposições dos artigos 703.º a 711.º e as disposições gerais dos
artigos 712.º a 723.º do CPC;
d) – Ao processo de execução aplicam-se subsidiariamente, com
as necessárias adaptações, as disposições reguladoras do processo
de declaração que se mostrem compatíveis com a natureza da ação
executiva – art.º 551.º, n.º 1, do CPC;
e) – À execução sumária para pagamento de quantia certa apli-
cam-se, subsidiariamente, as disposições do processo ordinário;
f) – À execução para entrega de coisa certa e para prestação de
facto aplicam-se as disposições relativas à execução para pagamento
de quantia certa, na parte em que o puderem ser – art.º 551.º, n.º 2, do
CPC;
g) – Às execuções especiais são aplicáveis, subsidiariamente, as
disposições do processo ordinário – art.º 551.º, n.º 4, do CPC.
4.1. Preliminar
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4.2. Da tramitação eletrónica
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Esta portaria, no seu art.º 38.º, revoga as Portarias n.º 114/2008, de 06-02, e n.º 1097/2006, de 13-10.
2
Esta Portaria revoga, no seu art.º 60.º, as anteriores Portarias n.º 700/2003, de 31-07, n.º 946/2003, de
06-09, e n.º 331.B/2009, de 30-03.
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. Neste domínio, no que respeita à apresentação do requerimento
executivo, a sobredita portaria prevê três modalidades, a saber:
(i) – Quando o exequente tenha mandatário judicial constituído, a
apresentação mediante transmissão eletrónica de dados, através do
preenchimento e submissão a um formulário eletrónico, nos termos
do art.º 2.º da Portaria n.º 282/2013;
(ii) – Quando a parte não esteja representada por mandatário judi-
cial ou, estando, ocorra justo impedimento para a transmissão eletró-
nica, a apresentação em suporte de papel mediante entrega na se-
cretaria judicial, remessa pelo correio, sob registo, ou telecópia, com
utilização de modelo aprovado, nos termos do art.º 3.º;
(iii) – Nos casos de execução de decisão judicial condenatória, nos
próprios autos, a apresentação por via eletrónica ou em suporte
de papel, nos termos do art.º 4.º
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exigido às partes, como era o caso do ónus de nomeação de bens à penhora
impendente sobre o executado ou, subsidiariamente, sobre o exequente nos
termos ainda mantidos nos artigos 811.º, n.º 1, 833.º e 836.º do CPC na
versão da Revisão de 95/96.
Sinal dessa natureza jurisdicional mitigada da ação executiva é o
disposto no art.º 551.º, n.º 5, do CPC, no qual, em desvio do preceituado
no art.º 143.º, n.º 2, do mesmo diploma, se estabelece que o processo de
execução corre em tribunal quando seja requerido ou decorra da lei a
prática de ato da competência da secretaria ou do juiz e até à prática do
mesmo.
Em tal conformidade, diversamente do que ocorre no âmbito da ação
declarativa, em que sobreleva a distribuição da iniciativa processual entre
as partes e o tribunal (art.º 5.º do CPC), na ação executiva destaca-se antes
a repartição de competências entre o agente de execução, a secretaria e
o juiz, delineada, em termos gerais, nos artigos 719.º, 722.º e 723.º do CPC.
. Por sua vez, nos termos dos n.ºs 1 e 2 do indicado art.º 719.º, ao
agente de execução compete efetuar todas as diligências do processo
executivo que não estejam atribuídos à secretaria e ao juiz, incluindo,
nomeadamente, citações, notificações, publicações, consultas de bases de
dados, penhoras e seus registos, liquidações e pagamentos, e, mesmo
após a extinção da execução, assegurar a realização dos atos emergentes do
processo que careçam da sua intervenção.
Os prazos gerais para o agente de execução realizar notificações e
praticar outros atos são, respetivamente, de 5 e 10 dias, nos termos do n.º 7
do art.º 720.º do CPC.
O n.º 5 do art.º 720.º do CPC prevê a hipótese de solicitação de dili-
gências pelo agente de execução designado a agente de execução do
local onde o ato ou a diligência devam ter lugar.
E o n.º 6 do mesmo artigo permite que o agente de execução promo-
va, sob a sua responsabilidade e supervisão, a realização de quaisquer
diligências materiais do processo executivo que não impliquem apreen-
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são material de bens, venda ou pagamento, por empregado ao seu
serviços, devidamente credenciado pela entidade competente para tal nos
termos da lei.
A designação, destituição e substituição do agente de execução es-
tão reguladas no art.º 720.º, n.º 1 a 3 e 8, do CPC.
O pagamento de honorários ao agente de execução e o reembolso das
despesas por ele efetuadas estão previstos, em termos gerais, no artigo
721.º do CPC, e regulados nos artigos 43.º a 55.º da Portaria n.º 282/2013.
O estatuto dos agentes de execução consta dos artigos 162.º a 180.º
do Estatuto da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução,
aprovado pela Lei n.º 154/2015, de 14-09.
Além disso, compete à Comissão para o Acompanhamento dos
Auxiliares de Justiça (CAAJ), estrutura independente, criada pela Lei n.º
77/2013, de 21-11, alterada pela Lei n.º 52/2019, de 17-04, instaurar e
instruir processos disciplinares e contraordenacionais, aplicar sanções dis-
ciplinares, coimas e sanções acessórias, bem como destituir agentes de
execução designados, no âmbito das funções de acompanhamento, fisca-
lização e disciplina dos agentes de execução, competência essa que é
exercida pela comissão de disciplina dos auxiliares de justiça, órgão
integrante daquela Comissão, nos termos do art.º 28.º da referida Lei, cujas
decisões são impugnáveis perante a jurisdição administrativa (art.º 8.º, n.º 1
e 2 da mesma Lei).
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e) – Em execução de valor não superior à alçada da Relação (€
30.000,00), se o crédito exequendo for de natureza laboral e o exe-
quente o solicitar no requerimento executivo e pagar a taxa de
justiça devida.
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III – A intervenções específicas ou pontuais, no decurso da
execução, nomeadamente, para:
(i) – autorizar, liminarmente, no âmbito do processo ordinário
para pagamento de quantia certa, a dispensa de citação do execu-
tado prévia à penhora, nos termos do art.º 727.º do CPC;
(ii) - reduzir ou isentar a penhora de vencimentos, salários, pres-
tações periódicas, seguro, indemnização por acidente, renda vita-
lícia ou prestação de qualquer natureza que assegurem a subsistên-
cia do executado, a requerimento deste e a título excecional, nos
termos do n.º 6 do art.º 738.º do CPC;
(iii) - autorizar consulta de declarações e outros elementos prote-
gidos pelo sigilo fiscal ou sujeitos a regime de confidencialidade,
nos termos do art.º 749.º, n.º 7, do CPC;
(iv) - nos casos de penhora em escritório de advogado ou de
solicitador, presidir ao ato de penhora, nos termos do art. 70.º do
EOA e do artigo 105.º do Estatuto da Câmara dos Solicitadores;
(v) - determinar a suspensão da execução, em caso de registo
provisório da penhora, nos termos do art.º 755.º, n.º 4, do CPC;
(vi) – remeter os interessados para os meios processuais co-
muns, suspendendo, em princípio, a execução, nos casos previstos
no art.º 119.º, n.º 4, do Código de Registo Predial;
(vii) – autorizar a solicitação de auxílio das autoridades policiais,
nos casos previstos no n.º 4 do art.º 757.º do CPC;
(viii) – autorizar que se proceda ao fracionamento de imóvel
(art.º 759.º, n.º 2, CPC);
(ix) – decidir, na falta de acordo entre o exequente e o executado,
ouvido o depositário, sobre o modo de exploração dos bens penho-
rados (art.º 760.º, n.º 2, CPC);
(x) – decidir sobre a ilisão da presunção de que bem móvel
penhorado em poder do executado lhe pertence, nos termos do art.º
764.º, n.º 3, do CPC;
(xi) – autorizar o depositário de navio penhorado a poder fazê-lo
navegar, se exequente e executado estiverem de acordo (art.º 769.º
CPC);
(xii) – ordenar o arresto de bens do depositário, quando este não
apresenta os bens penhorados que lhe tenham sido entregues (art.º
771.º, n.º 2, CPC);
(xiii) – autorizar o exequente, o executado e os credores recla-
mantes a praticar atos indispensáveis à conservação do direito de
crédito penhorado (art.º 773.º, n.º 6, CPC);
(xiv) – nomear fiscal ou designar administrador de estabeleci-
mento comercial penhorado, nos termos dos n.ºs 2 e 3 do art.º 782.º
do CPC;
23
(xv) – decidir a reclamação da decisão do agente de execução
sobre a modalidade da venda e o valor base dos bens a vender (art.º
812.º, n.º 7, do CPC);
(xvi) – autorizar a venda antecipada de bens, nos termos do art.º
814.º do CPC;
(xvii) – assistir à abertura de propostas em carta fechada, na
venda de imóveis, e decidir sobre as irregularidades relativas a essa
abertura, licitação, sorteio, apreciação e aceitação das propostas,
nos termos dos artigos 820.º, n.º 1, e 822.º, n.º 1, do CPC;
(xviii) – determinar se as propostas de venda de estabelecimento
mediante carta fechada são abertas na sua presença (art.º 829.º, n.º
2, do CPC);
(xix) – decidir sobre a urgência para efeitos de realização da
venda por negociação particular, nos termos do art.º 832.º, alínea
c), do CPC;
(xx) – determinar que o agente de execução fique encarregado da
venda por negociação particular, na falta de acordo de todos os
credores ou havendo oposição do executado (art.º 833.º, n.º 2, do
CPC);
(xxi) – decidir sobre irregularidades da venda em leilão, nos
termos dos artigos 835.º e 837.º, n.º 3, do CPC;
(xxii) – decidir o incidente de anulação da venda arguida pelo
comprador, nos termos do art.º 838.º do CPC;
(xxiii) – confirmar a suspensão pelo agente de execução da exe-
cução de entrega de local arrendado para habitação, nos termos do
n.º 4 do art.º 863.º do CPC;
(xxiv) – decidir sobre o diferimento da desocupação de imóvel
arrendado para habitação, nos termos do art.º 864.º do CPC;
(xxv) - fixar prazo para a prestação exequenda e aplicar sanção
compulsória, na fase liminar da execução para prestação de facto,
nos termos dos artigos 868.º, n.º 1, 2.ª parte, 874.º e 875.º do CPC;
(xxvi) – verificar, liminarmente, a violação da obrigação de pres-
tação de facto negativo, nos termos do art.º 876.º do CPC;
(xxvii) – decidir sobre todas as reclamações dos atos da secreta-
ria e do agente de execução, ou de outras questões suscitadas por
este, pelas partes ou por terceiros intervenientes – artigos 157.º, n.º
5, 723.º, n.º 1, alíneas c) e d), do CPC.
24
Daí o dever de informação e comunicação cometido ao agente de execução
no artigo 754.º do CPC.
De qualquer modo, nos casos em que ocorra intervenção episódica
do juiz, poderá este exercer o controlo subsequente da validade e regula-
ridade da instância ou da legalidade da pretensão executiva, nos termos do
artigo 734.º do CPC, providenciando pelo suprimento dos vícios existentes
e, na falta deste suprimento, determinando a extinção da execução.
5.1. Preliminar
25
Em face destes parâmetros, importa assim ter presente a função e
estrutura das várias fases processuais nas três formas do processo executivo
comum.
A - Função
B – Estrutura
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b) – Recebimento ou recusa do requerimento executivo pela se-
cretaria, nos termos do art.º 725.º do CPC;
27
5.2.1.2. Fase da penhora (artigos 748.º a 785.º do CPC)
A - Função
B - Estrutura
28
d) - Meios de impugnação da penhora
29
autuado em apenso único ao processo de execução, destinado à verificação
e graduação dos créditos reclamados.
Porém, as diligências para o pagamento realizam-se independente-
mente do prosseguimento daquele procedimento, mas só depois de findo o
prazo para as reclamações, salvo quando seja requerida pelo exequente a
consignação de rendimentos, a qual é deferida logo a seguir à penhora –
art.º 796.º, n.º 1, do CPC.
A – Função
B – Estrutura
30
b) – A adjudicação dos bens penhorados ao exequente ou a
credor reclamante - artigos 799.º a 802.º do CPC;
c) – A consignação judicial de rendimentos dos bens imóveis ou
móveis sujeitos a registo penhorados - artigos 803.º a 805.º do
CPC;
d) – Pagamento em prestações - artigos 806.º a 809.º do CPC;
e) – Acordo global, nomeadamente, de simples moratória, de
perdão, total ou parcial, de créditos, de substituição, total ou
parcial, de garantias ou constituição de novas garantias - artigo
810.º do CPC;
f) – A venda executiva (artigos 811.º a 845.º CPC), a qual pode
consistir em:
(i) - venda mediante proposta em carta fechada - artigos 816.º
a 829.º;
(ii) - venda em mercados regulamentados - art.º 830.º do CPC;
(iii) - venda direta - art.º 831.º;
(iv) - venda por negociação particular – artigos 832.º e 833.º;
(v) - venda em estabelecimento de leilão – artigos 834.º e
835.º;
(vi) - venda em depósito público ou equiparado - art.º 836.º;
(vii) - venda em leilão eletrónico – art.º 837.º.
31
g) - por inutilidade ou impossibilidade superveniente da execução
– artigos 277.º, alínea e), 748.º, n.º 3, 750.º, n.º 2, 799.º, n.º 6, 855.º,
n.º 4, e 849.º, n.º 1, alínea c), do CPC;
h) – em caso de sustação integral da execução, ante a pluralidade
de execuções sobre o mesmo bem, nos termos do art.º 794.º, n.º 4, e
849.º, n.º 1, alínea e), do CPC;
i) - por deserção da instância, nos termos dos artigos 277.º, alínea
c), e 281.º, n.º 1 e 4, do CPC;
j) - por qualquer outra causa de extinção da execução, nomea-
damente por efeito da procedência da oposição à execução (art.º
732.º, n.º 4, CPC) ou em consequência do conhecimento super-
veniente da falta de pressupostos processuais ou da ilegalidade da
pretensão executiva, ao abrigo do preceituado no artigo 734.º do
CPC.
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B - Procedimento
. Nos termos do art.º 854.º, 1.ª parte, a contrario sensu, do CPC, não
cabe recurso de revista dos acórdãos da Relação proferidos em sede da
instância executiva propriamente dita, bem como em incidente de
33
oposição à penhora previsto nos artigos 784.º e 785.º do CPC, salvo
quando seja sempre admissível recurso de tais decisões para o Supremo
Tribunal de Justiça, como nos casos previstos no n.º 2 do artigo 629.º do
mesmo Código.
34
CPC, em caso de execuções fundadas em título extrajudicial de obri-
gação pecuniária vencida de valor não excedente ao dobro da alçada
do tribunal de 1.ª instância, instauradas ao abrigo da alínea d) do n.º
2 do artigo 550.º, se houver lugar a penhora de bens imóveis, de esta-
belecimento comercial, de direito real menor que sobre eles incida ou
de quinhão em património que os inclua, uma vez que essa penhora
tem de ser precedida da citação do executado.
35
5.2. No processo executivo para entrega de coisa certa
36
Porém, a entrega pode ser impugnada por terceiros mediante
embargos de terceiro, nos termos do artigo 342.º e seguintes do
CPC, ou por via de ação autónoma de reivindicação.
Efetuada a entrega da coisa, se a decisão que a decretou for
revogada ou se, por qualquer outro motivo, o anterior possuidor
recuperar o direito a ela, pode requerer que se proceda à respetiva
restituição (art.º 861.º, n.º 5, do CPC).
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primento posterior da obrigação por qualquer meio de prova – art. º 868.º,
n.º 2, 2.ª parte, do CPC.
O recebimento da oposição à execução tem os efeitos previstos no
artigo 733.º do CPC.
. Não sendo deduzida oposição ou, sendo deduzida, não ficando sus-
pensa a execução, ou ainda, em caso de suspensão da execução, sendo jul-
gada improcedente a oposição, sem que seja prestado espontaneamente o
facto no prazo legal, seguem-se os termos previstos nos artigos 868.º a
873.º do CPC, consoante se trate de prestação de facto fungível ou infun-
gível.
38
CPC, para obtenção da quantia em falta (art.º 872.º, n.º 2, do
CPC);
(vi) – tendo sido excutidos todos os bens do executado sem
de obter a importância da avaliação, o exequente pode desistir da
prestação de facto, no caso de não estar ainda iniciada, e requerer
o levantamento da quantia obtida (art.º 873.º do CPC).
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. Seguir-se-ão depois os termos subsequentes, com as necessárias,
prescritos nos artigos 869.º a 873.º do CPC.
40
destas execuções, bem como a destinada à indemnização do exequente e ao
montante devido a título de sanção pecuniária compulsória, nos termos do
n.º 5 do mencionado art.º 626.º.
No entanto, não se vislumbra com que base minimamente segura se
possa efetivar a penhora para cobrir a eventual conversão das execuções
para entrega de coisa certa ou para prestação de facto sem que se desenca-
deiem, previamente, os procedimentos de liquidação, de avaliação ou de
fixação da sanção pecuniária compulsória, previstos nos artigos 867.º,
869.º, 870.º, n.º 2, e 874.º do CPC, consoante os casos, com as necessárias
garantias do contraditório.
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