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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ESTADO DE SÃO PAULO


9ª Câmara de Direito Privado

Registro: 2021.0000746287

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação Cível


nº 1003449-71.2014.8.26.0320, da Comarca de Limeira, em que são
apelantes/apelados RICARDO ESTEVAM MARTINS, UNIMED LIMEIRA
COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO, NOBRE SEGURADORA DO BRASIL
S/A - EM LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL e PAULO CESAR RIBEIRO, é
apelado/apelante ADRIANO GORDINHO SCHULTZ.

ACORDAM, em 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao
recurso da corré Unimed, cassada a r. sentença, prejudicados os demais
recursos. Sustentou oralmente o Dr. Mateus Nogueira – OAB/SP
346.356.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmo.


Desembargadores EDSON LUIZ DE QUEIROZ (Presidente) E JOSÉ APARÍCIO
COELHO PRADO NETO.

São Paulo, 14 de setembro de 2021.

GALDINO TOLEDO JÚNIOR


RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DE SÃO PAULO
9ª Câmara de Direito Privado

Apelação Cível nº 1003449-71.2014.8.26.0320


Comarca de Limeira
Apelantes: Unimed Limeira Cooperativa de Trabalho
Médico e outros
Apelados: Adriano Gordinho Schultz e outros
Voto nº 31.848

RESPONSABILIDADE CIVIL - Erro


médico - Ação de indenização por danos
materiais e morais - Bloqueio inflamatório
no estômago e perfurações gástricas após a
colocação de balão gástrico - Cerceamento
de defesa configurado - Ausência de
concessão de prazo às partes para
apresentação de razões finais ao término da
instrução - Apresentação de razões finais
que deve ser deferida em prazos sucessivos,
visando à garantia do pleno exercício do
contraditório e da ampla defesa por parte do
requerido - Previsão expressa do art. 364,
§2º, CPC - Precedentes deste E. Tribunal de
Justiça - Sentença cassada, para que outra
seja proferida após a providência acima –
Apelo da corré Unimed provido,
prejudicado os demais.

Ao relatório constante da sentença de

fls. 2431/2439, acrescento que esta julgou procedente em parte

ação de indenização por danos materiais e morais proposta por

Adriano Gordinho Schultz contra Unimed Limeira Cooperativa de

Trabalho Médico, Nobre Seguradora do Brasil S.A., Ricardo

Estevam Martins e Paulo Cesar Ribeiro para o fim de: 1)

condenar as corrés Unimed Limeira e a Nobre Seguradora do

Brasil, solidariamente, observando-se os limites da apólice, ao

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pagamento dos danos materiais no importe de R$502.977,00, e

da quantia de R$30.000,00 pelos danos morais; 2) condenar os

corréus Paulo César Ribeiro Sanches e a Nobre Seguradora do

Brasil S.A., solidariamente, observando-se os limites da apólice,

ao pagamento dos danos morais no importe de R$ 10.000,00; 3

) condenar os corréus Ricardo Estevam Martins e Nobre

Seguradora do Brasil S.A., solidariamente, observando-se os

limites da apólice, ao pagamento de danos morais no valor de

R$ 10.000,00. Em razão da sucumbência, ficam condenados os

corréus Unimed, Paulo e Ricardo ao pagamento de custas e

despesas processuais no importe de 1/3 para cada réu, bem

como ao pagamento de honorários advocatícios fixados em 10%

do valor da condenação devida por cada réu. Em razão do

princípio da causalidade, os encargos da denunciação devem ser

suportados integralmente pelos segurados denunciantes.

Inconformados, apelam Unimed

Limeira Cooperativa de Trabalho Médico, Nobre Seguradora do

Brasil S.A. (em liquidação extrajudicial), Ricardo Estevam Martins,

Paulo Cesar Ribeiro, além do próprio autor Adriano Gordinho

Schultz.

O corréu Ricardo Estevam Martins

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sustenta, preliminarmente, a ocorrência de cerceamento de

defesa já que houve pedido de complementação do laudo

pericial e quesitos complementares, o que alterou

substancialmente o laudo original. Alega que a sentença

desconsiderou a complementação do laudo. Destaca que não

incidiu em erro médico, pois apenas deu continuidade ao

tratamento do autor no Hospital Unimed depois que o seu

médico Dr. Paulo, em outro hospital, na colocação de balão para

perda de peso, causou perfuração gástrica. Salienta que o laudo

constatou o nexo causal direto e certo entre a presença do balão

dentro do estômago e a perfuração diagnosticada em

31.08.2013. Ficou esclarecido pelo perito que a colocação do

balão se deu em outro hospital, no Medical, pelo Dr. Paulo, onde

o apelante não atua como médico e não participou do

procedimento. Aponta que constou no laudo que no Hospital

Unimed “mesmo sem constatar nenhuma perfuração gástrica,

prudentemente optou pela colocação de um dreno na cavidade

abdominal” , de modo que o apelante foi, na verdade, o

responsável pelas providências que salvaram a vida do autor,

contrariando a com conclusão da sentença de que deixou de

prestar o oportuno atendimento. Assevera que o perito

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considerou no laudo complementar que no momento da cirurgia

que o apelante participou poderia não haver ainda uma

perfuração propriamente dita, o que pode ter surgido depois, de

modo que não foi comprovado que houve erro de diagnóstico

por parte do apelante. Destacou que o perito constou que

enquanto internado na Unimed o apelado teve a sua disposição

os recursos médicos, o que não justifica a condenação do

apelante e do Hospital Unimed. Destacou o perito que o Hospital

Sírio Libanês para onde foi transferido o autor por vontade de

seus familiares não apresentou nenhum documento que

apontasse erro de diagnóstico ou falha do Hospital Unimed e do

apelante (fls. 2486/2493).

A corré Nobre Seguradora do Brasil

S.A., na qualidade de denunciada, defende a improcedência da

demanda por ausência de culpa dos segurados denunciantes.

Destaca que não houve comprovação de imperícia, imprudência

e nexo de causalidade. Alega que deve ser afastada a

condenação referente aos danos morais e materiais.

Subsidiariamente, postula a redução do quantum indenizatório

bem como s suspensão da aplicação de juros e correção, pois

decretada a sua liquidação extrajudicial, nos termos do artigo 18

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da Lei 6.024/74 (fls. 2496/2517).

O corréu Paulo César Ribeiro destaca

que deve ser afastada a sua condenação ao pagamento de danos

morais. Anota que pela descrição cirúrgica, não foi detectada

nenhuma perfuração gástrica ou coleção líquida, mesmo assim

foi optada a colocação de um dreno na cavidade abdominal, para

que alertasse os médicos, caso futuramente ocorresse a saída de

líquidos ou sangue evidenciando perfuração. Destaca que as

perfurações causadas pela colocação de balão gástrico ocorrem

por alterações isquêmicas da parede gástrica que evoluem após

a colocação do balão, além de outras causas que podem

ocasioná-la e que não foram descartadas no caso. Relata que

somente vários dias após a primeira cirurgia saiu líquido pelo

dreno, o que reforça a hipótese de que a perfuração ocorreu

somente no período pós-operatório. Por conta da mudança do

quadro clínico, o autor foi prontamente encaminhado para o

centro cirúrgico em 06.09.2018 quando as perfurações foram

constatadas e resolvidas por gastrectomia parcial vertical.

Argumenta que não foi evidenciada lesão perfurativa no

estômago na primeira cirurgia de modo que não há como

concluir ter havido erro médico. Alega que foi empregada a

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melhor técnica e que deve ser afastada a sua condenação ao

pagamento de indenização por danos morais (fls. 2518/2530).

A corré Unimed Limeira Cooperativa

de Trabalho Médico, por sua vez, alega que é devida a anulação

da sentença para apresentação de razões finais. Defende que a

prova pericial não identificou a falha na prestação de serviço e

que foram desconsideradas as conclusões do laudo

complementar de fls. 2377/2379. Questionado o perito sobre

ter havido erro médico enquanto o autor se encontrava no

Hospital Unimed de Limeira, a resposta foi negativa. Foi atestado

que as lesões foram corrigidas da melhor maneira. Destacou que

pelo relatório cirúrgico não foram verificadas as perfurações na

primeira cirurgia. Alega que que não é devida a indenização por

danos materiais decorrente da internação do Hospital Sírio

Libanês de alto custo. Argumenta, caso mantida condenação,

que a remuneração deve se dar pela tabela da Unimed, como se

os procedimentos e a continuidade do atendimento tivessem

sido realizados no seu hospital, a serem apurados em liquidação

de sentença. Argumenta, caso persista a condenação por danos

materiais, que deve ser reconhecida a solidariedade por todos os

réus, sendo subsidiária a sua responsabilidade evitando-se seja

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necessário o exercício do direito de regresso. Alega que

primeiramente devem ser excutidos os bens dos médicos que

integraram o atendimento (fls. 2536/2562).

O autor, por seu turno, postula a

majoração da indenização por danos morais ao total de R$

200.000,00 e para que o reembolso das despesas a título de

danos materiais se dê a partir de cada desembolso (fls.

2565/2576).

Recursos bem processados com o

oferecimento de contrarrazões às fls. 2582/2587, 2589/2593,

2594/2607, 2608/2624 e 2625/2635.

2. É de rigor a anulação da sentença,

diante do acolhimento da preliminar arguida pela corré Unimed,

prejudicados os recursos interpostos.

Alega a corré Unimed que não foi

oportunizada às partes a apresentação de alegações finais, nos

termos do artigo 364, § 2º, do Código de Processo Civil.

Da análise dos autos, verifica-se que

foi apresentado o laudo complementar da perícia e concedido o

prazo conjunto para manifestação das partes sobre o laudo (fls.

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2380). Em seguida, foi prolatada a sentença de fls. 2431/2439.

Com efeito, segundo o disposto no

artigo 364, §2º, do Código de Processo Civil, “Quando a causa

apresentar questões complexas de fato ou de direito, o debate

oral poderá ser substituído por razões finais escritas, que serão

apresentadas pelo autor e pelo réu, bem como pelo Ministério

Público, se for o caso de sua intervenção, em prazos sucessivos

de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos ”.

Sendo assim, em vista da literalidade

da norma e da necessidade de garantia do pleno exercício do

contraditório e da ampla defesa por parte do requerido, que tem

direito ao prévio conhecimento dos argumentos do autor,

necessária a observância dos prazos sucessivos, visando evitar

eventual nulidade do feito.

Nesse sentido: “ AGRAVO DE

INSTRUMENTO. PROCESSO CIVIL. CONVERSÃO DOS DEBATES

ORAIS EM MEMORIAIS. MEMORIAIS EM PRAZO COMUM.

IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DISPOSTO NO

ART. 364, §2º DO CPC. 1. Trata-se de recurso de agravo de

instrumento interposto contra decisão de primeira instância que,

após a ouvida das testemunhas, converteu os debates orais

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em memoriais e deferiu o prazo comum de 15 dias uteis para a

apresentação de memoriais pelas partes. 2. Dicção do art. 364,

§2º do CPC impõe a ordem de apresentação dos memoriais pelo

autor e pelo réu, e pelo Ministério Público, quando o caso de

intervenção. Prazos sucessivos, assegurada vista dos autos.

Necessidade de observância do referido dispositivo sob pena de

violação ao direito ao contraditório e à ampla defesa. 3. Perigo

de dano de difícil reparação caracterizado. Presença dos

requisitos autorizadores da tutela de urgência, a teor das

exigências contidas no art. 300 do CPC. Decisão reformada.

Recurso provido” (5ª Câmara de Direito Público, Agravo de

Instrumento no. 2284535-43.2020.8.26.0000, Relator

Desembargador Nogueira Diefenthaler, j, 09.03.2021).

Ou ainda: “ MANDADO DE

SEGURANÇA. Impetração contra ato judicial que manteve decisão

anterior concedendo prazo comum de dez dias para

apresentação de razões finais escritas. Cabimento. Direito

líquido e certo reconhecido, decorrente da norma prevista pelo

art.364, §2º, do CPC. Liminar concedida para conceder às partes

o prazo sucessivo de quinze dias para apresentação de razões

finais escritas, iniciando-se pela parte autora, assegurada a vista

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dos autos. Confirmação da liminar. Ordem concedida” (24ª

Câmara de Direito Privado, Mandado de Segurança nº 2191153-

98.2017.8.26.0000, Relator Desembargador Walter Barone, j.

22.03.2018).

Cumpre destacar que neste sentido já

decidiu este relator em recente precedente: “ MANDADO DE

SEGURANÇA - Ação de investigação de paternidade - Decisão

que deferiu prazo comum para oferecimento de memoriais -

Afastamento - Apresentação de razões finais que deve ser

deferida em prazos sucessivos, visando à garantia do pleno

exercício do contraditório e da ampla defesa por parte do

requerido - Previsão expressa do art. 364, §2º, CPC - Ordem

concedida.” (9ª Câmara de Direito Privado, Rel. Galdino Toledo

Júnior, j. 25.03.2021).

Destarte, considerada a necessidade

de dar cumprimento à referida norma, a preservar o

contraditório e ampla defesa evitando eventual nulidade do

feito, bem como em vista das questões de alta complexidade

que envolvem a presente causa, mostra-se de rigor a cassação

da sentença para a apresentação das razões finais escritas pelas

partes em prazos sucessivos de 15 dias, na forma da lei

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processual.

3. Ante o exposto, anula-se a

sentença para os fins do disposto no artigo 364, § 2º, do Código

de Processo Civil, prejudicados os recursos de apelação.

Galdino Toledo Júnior


Relator

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