Você está na página 1de 5

Agravo n. 4008413-32.2016.8.24.

0000/50000, de Concórdia
Relator: Desembargador Rubens Schulz

AGRAVO INTERNO EM AÇÃO RESCISÓRIA. AÇÃO


FUNDADA EM ERRO DE FATO (DESCONSIDERAÇÃO DE
FATOS INCONTROVERSOS) E ERRO DE DIREITO
(VIOLAÇÃO DA NORMA JURÍDICA).
É, em tese, possível a reanálise do conjunto probatório,
quando a rescisória vem fundamentada em erro de fato, e
que este seria apto a alteração de premissa, considerada na
conclusão do acórdão que se busca rescindir, salvo quando,
de pronto, se verifica que a tese não é capaz de alterar a
conclusão ou não encontra ressonância na prova coletada.
AGRAVO PROVIDO. PROSSEGUIMENTO DA
RESCISÓRIA. TUTELA PROVISÓRIA DEFERIDA PARA
DETERMINAR A SUSPENSÃO DO CUMPRIMENTO DO
ACÓRDÃO.
Se o pleito da rescisória aponta situação excepcional,
que pode levar a alteração da conclusão lógica, que
embasou a fundamentação do acórdão, é de se deferir o
pedido de suspensão do cumprimento do acórdão (art. 969
do CPC) .

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo n.


4008413-32.2016.8.24.0000/50000, da comarca de Concórdia 1ª Vara Cível em
que é/são Agravante(s) Beneficência Camiliana do Sul Hospital São Francisco e
Agravado(s) Sérgio Luis Atolini e outros.

A Grupo de Câmaras de Direito Civil decidiu, por maioria de votos,


prover o Agravo em Ação Rescisória para admitir o processamento da ação.
Vencido o relator originário, que votou pelo desprovimento do recurso, aplicando-
se à agravante a pena de multa de 1% (um por cento) sobre o valor atualizado
da causa. Por unanimidade, decidiu o Grupo de Câmaras conceder a
antecipação da tutela para suspender o cumprimento do acórdão rescindendo.
Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs.
Des. Eduardo Mattos Gallo Júnior, Desembargador Newton Trisotto,
Desembargador Luiz Cézar Medeiros, Desembargador Fernando Carioni,
Desembargador Marcus Túlio Sartorato, Desembargadora Maria do Rocio Luz
Santa Ritta, Desembargador Henry Petry Júnior, Desembargador Raulino Jacó
Brüning, Desembargador Jairo Fernandes Gonçalves, Desembargador João
Batista Góes Ulysséa, Desembargadora Denise Volpato, Desembargador
Sebastião César Evangelista, Desembargador Stanley Braga, Desembargador
Rodolfo C. R. S. Tridapalli, Desembargadora Rosane Portela Wolff,
Desembargador Rubens Schulz, Desembargador Jorge Luis Costa Beber e
Desembargador André Luiz Dacol.
Florianópolis, 13 de setembro de 2017.

Desembargador Rubens Schulz


Relator designado

Gabinete Desembargador Rubens Schulz


RELATÓRIO

Trata-se de Agravo Interno atacando decisão monocrática que


indeferiu liminarmente a petição inicial da Ação Rescisória, com fundamento
central de que "o debate situa-se no terreno da análise da prova" , sendo que, no
afirmar da parte agravante, "não foram analisadas, portanto, as premissas
objetivas (fáticas e jurídicas) que levaram à condenação do Hospital – o que é,
precisamente, o objeto desta ação".
Faz considerações sobre a inviabilidade de se confundir o mérito da
ação rescisória com o seu exame de admissibilidade, afirmando "Lá, o
competente órgão colegiado verifica de forma exauriente a existência, ou não, de
erro de fato ou de direito. Aqui, a análise (sumária, diga-se) se limita aos
elementos mínimos que apontem para a possibildiade de algum erro a existência
de vícios no juízo rescindendo."
Pleiteia ainda, além do provimento do agravo, com prosseguimento
da rescisória, pela concessão de tutela provisória de urgência, para determinar a
suspensão do cumprimento do acórdão.
Este é o relatório.

Gabinete Desembargador Rubens Schulz


VOTO

Analisando a decisão monocrática que indeferiu a inicial da


presente rescisória, se extrai, com facilidade, que o entendimento que embasou
a mesma, está ligado a inviabilidade de reanálise da prova e nova valoração "dos
elementos de convencimento produzidos no feito".
E segue o prolator da decisão: "No caso, porém, tudo se passa de
outro modo: o magistrado disse ausente o pediatra, com base nos elementos de
convicção que possuía - e que se mostram ainda agora incontroversos, haja vista
como combateu o próprio depoimento do médico que realizou o parto e o mesmo
declarou ausente o profissional na sala de parto, inexistindo controvérsia sobre
sua existência no hospital e inexistência no momento crucial -, considerou que
dessa ausência decorreu a lesão estudada, fundamentando o quanto disse e
debatendo sobre a prova a respeito".
A questão, com o máximo respeito, apresenta, entretanto, contorno
diverso, na medida em que a tese lançada na rescisória e vinculada ao erro de
fato, diz com a inexistência do nexo de causalidade entre o acontecido com a
vítima e a presença ou não do pediatra na sala de parto.
Ora, não basta demonstrar que o pediatra não estava na sala de
parto, havendo que se demonstrar, igualmente, que a sua ausência influenciou
diretamente no quadro apresentado pela vítima.
Apenas para demonstrar a relevância da argumentação relativa ao
nexo causal, transcreve-se parte da fundamentação da sentença lançada ainda
na Justiça Federal, que julgou improcedentes os pedidos da ação de
indenização, antes de ser declarada a ilegitimidade da União para compor o polo
passivo, determinando a remessa dos autos à Justiça Estadual (fl. 964):
[...] Como referido supra, é necessária a demonstração de que o serviço
público prestado causou o prejuízo aludido pelo administrado para que possa
configurar a responsabilidade estatal. Na hipótese dos autos, a prova pericial
demonstrou que não há vínculo etiológico entre a conduta do agente e as
lesões sofridas pelo autor Jonathan.
4

Gabinete Desembargador Rubens Schulz


No mesmo sentido, o contido na sentença proferida já na Justiça
Estadual (fl.1660):
[...] Diante disso, cabe verificar o nexo entre tais condutas e o dano
sofrido. Sustentam os autores que as seqüelas permanentes no autor Jonathan
foram ocasionadas pela demora na realização de seu parto, o que teria
provocado sofrimento sensorial, levando à parada cárdio-respiratória, dentre
outras complicações. Contudo, em que pese as alegações e os fatos narrados,
o laudo pericial acostado aos autos é conclusivo no sentido de inexistir qualquer
vínculo etiológico entre a conduta do agente e as lesões sofridas pelo autor
Jonathan [...].
Em havendo conclusão no acórdão apontando a existência do nexo
causal, é possível, em rescisória a verificação da existência de premissa que
possa levar a tal conclusão ou não. A questão difere da simples valoração da
prova, para se estender à verificação da existência ou não da premissa
considerada.
O mesmo se dá com a verificação, de forma objetiva, da existência
de regra impositiva da presença do pediatra na sala de parto, questão objeto da
insurgência manifestada na rescisória.
Por último, dada a relevância do tema impugnado, conforme se
observou, e o manifesto risco, ao se dar cumprimento ao acórdão, inclusive para
o desenvolvimento das próprias atividades do Hospital, com imediato reflexo aos
que dele se servem, e irreversibilidade do dano, entendo cabível o deferimento
da tutela provisória de urgência, para determinar a suspensão do cumprimento
do acórdão combatido (art. 969 do CPC).
Este é o voto.

Gabinete Desembargador Rubens Schulz

Você também pode gostar