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No dia 25/03/2023, às 10h, temos um encontro marcado no Minicurso GRATUITO de

“Habeas Corpus substitutivo de Revisão Criminal”, que será ministrado pelo professor e Advoga-
do Criminalista, Caio Domingues!
Diante disso, preparamos um conteúdo especial: as 5 melhores decisões de Habeas Cor-
pus substitutivo de Revisão Criminal. Vamos a algumas delas!
A 2ª Turma do Supremo Tribunal já firmou orientação, há algum tempo, sobre a possibi-
lidade de impetrar Habeas Corpus em substituição à Revisão Criminal, porque o remédio consti-
tucional é muito mais célere e eficaz, como podemos ver no julgamento do Recurso Ordinário em
Habeas Corpus 146.327/RS, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, assim ementado:

1. Recurso ordinário em habeas corpus. 2. Habeas corpus em face de decisão transita-


da em julgado. Cabimento. Via impugnatória mais célere e benéfica ao condenado. 3.
Alegação de reparação em apelação, não avaliada pela Corte Regional. Inexistência de
nulidade. Ausência de oposição de embargos de declaração. Fato não comprovado. Tese
sem relevância jurídica patente. 4. Negado provimento ao recurso ordinário. (Recurso
Ordinário em Habeas Corpus 146.327/RS, rel. min. Gilmar Mendes, julgado em 27 de
fevereiro de 2017).

Nesse mesmo caso o Ministro Dias Toffoli deu um voto interessantíssimo:


Senhor Presidente, sempre votei, desde que aqui entrei, pela ampla cognoscibilidade do
habeas corpus, inclusive, em casos teratológicos, em favor de condenados com decisão
já transitada em julgado. Tive oportunidade de assistir a julgamentos históricos, nesta
Turma e no Plenário, e a discussões a respeito do tema. Sempre devotei a maior aten-
ção aos posicionamentos de José Paulo Sepúlveda Pertence, que sempre defendeu essa
ampla cognoscibilidade, sempre citando bons exemplos. Imagine que venha uma abolitio
criminis de alguém que está condenado e que, depois, ele tente reverter essa situação.
Que instrumento ele vai usar? Já passou a revisão criminal, já passou tudo, mas ele se
mantém preso... O habeas corpus tem de ter uma ampla cognoscibilidade, sempre defen-
di e continuo defendendo e, enquanto eu estiver aqui nesta cadeira, estarei defendendo a
ampla cognoscibilidade do habeas corpus.

Outro caso interessante aconteceu no Recurso Ordinário em Habeas Corpus 219.990/


MG, de relatoria do Ministro Edson Fachin, que absolveu condenado por roubo com processo já
transitado em julgado, o Ministro teceu importantes considerações a respeito deste princípio,
resgatando o entendimento citado acima e, além disso, dando uma aula sobre presunção de ino-
cência:

Uma condenação não prescinde de provas concretas e objetivas de que o agente tenha
praticado ou concorrido para a prática do crime. Com efeito, o princípio da presunção
de inocência, que tem sua origem no direito romano pela regra do in dubio pro reo, foi
consagrado no art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal. Trata-se de princípio vetor
do processo penal brasileiro, orientado pelo sistema acusatório e que tem, dentre as
suas características, o ônus da prova da culpa atribuído acusação. Indissociável dos pos-
tulados do contraditório e da ampla defesa, a presunção de inocência impõe tanto um
dever de tratamento quanto um dever de julgamento. O dever de tratamento exige que a
pessoa acusada seja tratada, durante todo o curso da ação penal, como presumidamente
inocente; por outro lado, o dever de julgamento significa que recai exclusivamente sobre
o órgão de acusação o ônus de comprovar de maneira inequívoca a materialidade e a
autoria do crime narrado na denúncia – e não sobre o acusado o ônus da demonstra-
ção de sua inocência –, de sorte que, ao final da instrução processual, a dúvida deve
inexoravelmente gerar decisão favorável ao réu. Além disso, por força da presunção de
inocência, é necessário que os tribunais explicitem não apenas as conclusões obtidas em
sentença, como também os elementos de prova que foram considerados para se chegar
a essas conclusões e para se ter como comprovado os fatos constitutivos do delito. Essa
explicitação é essencial para que se possa avaliar a racionalidade e coerência do proces-
so mental adotado pelo julgador e verificar se houve prova da acusação capaz de afastar
o direito à presunção de inocência. (VEGAS TORRES, Jaime. Presunción de Inocencia y
Prueba en el Proceso Penal. Madrid (España). Editorial La Ley. 1933, p. 137-138). No
caso dos autos, a leitura dos fundamentos exarados pelas instâncias ordinárias revela
verdadeiro quadro de incerteza quanto à autoria delitiva e, portanto, em homenagem ao
princípio do in dubio pro reo, a absolvição do recorrente é medida que se impõe.

Outro caso interessante, que discutia nulidade da busca pessoal, foi decidido recente-
mente pelo Ministro Sebastião Reis Júnior, e foi em sede de Habeas Corpus substitutivo de Revi-
são Criminal:

De início, conforme relatado acima, a condenação do paciente transitou em julgado em


6/6/2022. Com o trânsito em julgado, este writ é sucedâneo de revisão criminal. Ocorre
que, como não existe, neste Tribunal, julgamento de mérito passível de revisão em rela-
ção à condenação sofrida pelo paciente, forçoso reconhecer a incompetência desta Corte
Superior para o processamento do presente pedido. [...] Contudo, no caso dos autos,
observo a existência de constrangimento ilegal apto à concessão da ordem de ofício. [...]
No caso em apreço, do excerto acima transcrito, exsurge a ilegalidade da busca pessoal
realizada no réu Diego, uma vez que não foi descrita qualquer conduta do paciente que
indicasse portar algum dos objetos listados no art. 244 do Código de Processo Penal,
sendo a medida invasiva fundada apenas na assertiva dos policiais de que estava em ati-
tude suspeita, sem apontar qualquer elemento concreto que justificasse essa percepção,
tornando-a, portanto, uma impressão meramente subjetiva. Nesse contexto, não se pode
admitir que a posterior situação de flagrância, por se tratar o tráfico de delito que se
protrai no tempo, justifique a revista pessoal realizada ilegalmente, amparada em mera
suspeita, conjectura. [...] Logo, é ilícita a prova obtida na diligência em comento, bem
como aquelas que dela derivaram (art. 157, § 1º, do CPP), inclusive o ingresso na casa
apontada nos autos, seja ela do réu ou não, tenha ele dado seu consentimento ou não.
[...] Ante o exposto, não conheço do habeas corpus, mas, de ofício, concedo a ordem para
reconhecer a nulidade do flagrante em razão da busca pessoal indevida e, por conse-
guinte, das provas obtidas em derivação, bem como para absolver o paciente dos fatos
delineados na Ação Penal n. 0007069-08.2018.8.17.0001 (Habeas Corpus 749.958/
SE, rel. min. Sebastiao Reis Júnior, DJe 23/01/2023)

E não pense que o esse manejo (do Habeas Corpus substitutivo de Revisão Criminal), ser-
ve para questionar apenas absolvições. Nesses casos, também é possível a discussão a respeito
da dosimetria da pena, quando, por exemplo, há afastamento do tráfico privilegiado.
No Habeas Corpus 786.386/SP, de relatoria do Ministro Ribeiro Dantas, o paciente cum-
pria pena de 5 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicial fechado, de caso já transitado em
julgado. O tráfico privilegiado foi afastado por conta da quantidade de drogas apreendidas. A
defesa, então, impetrou Habeas Substitutivo de Revisão Criminal no STJ, a ordem foi concedida
para aplicação do tráfico privilegiado, com a redução da pena para o patamar de 1 ano, 11 meses
e 10 dias de reclusão.
Mas a decisão mais importante sobre o tema foi publicada recentemente, em voto-vista
do Ministro Rogério Schietti no Agravo Regimental no Habeas Corpus 761.799/SP, em que tam-
bém se discutia a aplicação de tráfico privilegiado em processo transitado em julgado. No caso, o
Ministro entendeu que:

Sem embargo, não há dúvidas de que, cuidando-se de discussão acerca da liberdade de


locomoção, diretamente afetada por ilegalidade ou abuso de poder, o cabimento do writ
é indiscutível, nos termos em que previsto no art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, in
verbis: “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado
de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso
de poder”. Ademais, é sabido que matérias de direito que desafiam a interposição de re-
cursos também são cognoscíveis em habeas corpus, a depender da clareza da ilegalidade
apontada. No caso, o eminente Ministro relator deixou de conhecer deste habeas corpus,
sob o argumento de que “A via do habeas corpus mostra-se inadmissível, porque utilizada
como sucedâneo de revisão criminal, sendo certo que compete ao Superior Tribunal de
Justiça o julgamento de revisão criminal de seus próprios julgados, o que não é o caso dos
autos” (fl. 367, destaquei). No entanto, consoante entendimento e prática consolidada
neste Superior Tribunal, não há óbice à utilização de habeas corpus quando, havendo
lesão ou ameaça de lesão à liberdade de locomoção do paciente, tratar-se de matéria
exclusivamente de direito e quando não houver a necessidade do exame aprofundado
de provas ou a necessidade de dilação fático-probatória. Tenho, portanto, como perfei-
tamente possível, ao menos em princípio, o conhecimento do habeas corpus impetrado
nesta Corte, pois, não obstante tenha sobrevindo o trânsito em julgado da condenação, é
possível verificar, em consulta processual realizada na página eletrônica do TJSP, que não
há nenhum registro de revisão criminal ajuizada em favor do ora recorrente. Exemplifica-
tivamente, registro o HC n. 139.741/DF (Rel. Ministro Dias Toffoli, DJe 12/4/2019), em
que o Supremo Tribunal Federal decidiu que, mesmo com o trânsito em julgado da conde-
nação, é possível a utilização de habeas corpus como substitutivo de revisão criminal em
hipóteses excepcionais, quando líquidos e incontroversos os fatos postos à apreciação
da Corte. Segundo o relator, Ministro Dias Toffoli, esse entendimento valoriza o habeas
corpus como instrumento de defesa jurisdicional da liberdade de locomoção. “Quando os
fatos se mostrarem ‘líquidos e certos’, sem qualquer dúvida objetiva sobre sua realidade,
deve ser autorizada a utilização do habeas corpus como sucedâneo da revisão criminal”,
afirmou.

Como podem verificar, apesar de a jurisprudência ainda não ser pacífica quanto a possi-
bilidade de se conhecer Habeas Corpus impetrado em substituição à Revisão Criminal, existem
entendimentos importantíssimos que deve ser de conhecimento da defesa. Primeiro, porque o
Habeas Corpus é o remédio Constitucional mais célere para corrigir constrangimentos ilegais.
Segundo, porque muitas vezes, muito embora o Habeas Corpus não seja cabível (conhecido), é
possível que as cortes superiores concedam a ordem de ofício (Art. 654, parágrafo 2º do CPP),
desde que alguns requisitos sejam preenchidos.

Isso e muito mais será detalhado no Minicurso Gratuito do dia 25/03/2023,


às 10h, com o professor Caio Domingues. Inscreva-se!

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