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"HABEAS CORPUS"
I. BREVE HISTÓRICO
No dia 23/01/2015 transitou em julgado acordão prolatado pela 6ª Câmara do
TJMG, que condenou o Paciente a pena de 05 anos de reclusão, em regime inicial fechado,
e 500 dias-multa no valor unitário de 1/30 do salário-mínimo, pela prática do delito previsto
no art. 33, caput, da Lei de Tóxicos. A decisão coatora inovou – de ofício – nos fundamentos
da decisão a quo, negando causa de redução da pena e impôs regime fechado sem
circunstâncias justificadoras.
II. DO CABIMENTO DE HABEAS CORPUS PARA DESCONSTITUIÇÃO DE
FLAGRANTE ILEGALIDADE – AUSÊNCIA DE COTEJAMENTO
PROBATÓRIO – REMANEJAMETO DA REPRIMENDA CORPORAL –
DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO
O presente Habeas Corpus tem como finalidade a revisão da pena imposta ao
Paciente, já transitada em julgado, que, em resumo, afastou a minorante do §4º, a partir de
fundamentos novos, prejudiciais e sem pedido do Ministério Público. Ainda estabeleceu
regime mais gravoso sem estar presentes circunstâncias justificadoras.
O pedido pode ser analisado tão somente a partir do mencionado acórdão e da
sentença de primeiro grau. Não há dilação probatória e análise de mérito. Tão somente
matéria de direito, com teses já pacificadas por esta Corte.
1) Sobre o cabimento de Habeas Corpus substitutivo de recurso próprio, este E.
STJ já decidiu antes sobre a fungibilidade de habeas corpus com revisão criminal. Isso
porque, diante de matéria exclusiva de direito e com flagrante ilegalidade a substituição dos
meios de impugnação é possível.
A este respeito:
2) No que diz respeito o manejo de habeas corpus para análise da dosimetria da pena
e alteração de regime inicial, como é o caso vertente, esta Corte também já entendeu cabível
desde que não demanda análise de prova e esteja presente flagrante ilegalidade. Neste sentido:
1
(NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 6. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 176-177)
Portanto, diante dos fundamentos ilegalmente escritos da Relatora do acórdão, tal
trecho deve ser integralmente anulado e a pena reestruturada.
2
FERNANDES, Luíz Eduardo Simardi. Embargos de Declaração: efeitos infringentes, prequestionamento e outros
aspectos polêmicos. 4ª edição, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p.84
3
Ibidem, p.84
4
Ibidem, p.85
5
Ibidem, p.85
II.2 A impossibilidade de afastamento do §4º, do art. 33 da Lei de Drogas com os
fundamentos trazidos pelo acordão – expressiva quantidade de drogas e referência a
trecho isolado na sentença – ausência de fundamentação própria
1.3. Ainda neste tópico do acórdão, sem buscar se atentar minimamente para a
situação do então apelante, a Relatora utilizou o verbo “transportar” para se referir a sua
conduta. Todavia, conforme denúncia e sentença, o verbo o qual ele estava incurso era
“trazer consigo”. Não se trata de mero erro material, mas ausência completa de leitura e de
verificação da situação do caso concreto.
1.4. Ao final, entendeu, apenas com base nessa inidônea fundamentação, que o então
apelante se dedicava as atividades criminosas. A Relatora fez isso sem sequer dar
embasamento. Apenas concluiu por essa circunstância.
Conforme jurisprudência desta Corte, a dedicação às atividades criminosas, capaz de
afastar o tráfico privilegiado, deve ser fundamentada com elementos diversos dos autos. Não
basta um aspecto negativo com fundamento em investigações preliminares, é necessário que
ele esteja corroborado por outros fundamentos como forma de provar a dedicação:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS
CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. APLICAÇÃO DA CAUSA
DE DIMINUIÇÃO DA PENA DO ART. 33, § 4.º, DA LEI N. 11.343/2006.
AUSÊNCIA DE PROVA DA DEDICAÇÃO DO AGENTE À ATIVIDADE
CRIMINOSA. AÇÕES PENAIS EM CURSO. PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE ÓBICE À INCIDÊNCIA DA
REDUTORA, NA FRAÇÃO MÁXIMA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. – A incidência da minorante prevista no § 4º, do art. 33, da Lei
n. 11.343/2006, pressupõe que o agente preencha os seguintes requisitos: a) seja
primário; b) de bons antecedentes; c) não se dedique às atividades criminosas; e
d) nem integre organização criminosa. – Na hipótese, embora o agravado fosse
primário e possuísse bons antecedentes, a minorante foi afastada com base na
existência de ações penais em curso contra ele. – A Quinta Turma desta Corte,
alinhando-se ao entendimento sufragado no Supremo Tribunal Federal, além de
buscar nova pacificação no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, consignou
que a causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, nos termos do art. 33, § 4º,
da Lei 11.343/2006, não pode ter sua aplicação afastada com fundamento em
investigações preliminares ou processos criminais em andamento, mesmo que
estejam em fase recursal, sob pena de violação do art. 5º, inciso LIV, da
Constituição Federal (RE 1.283.996 AgR, Rel. Ministro RICARDO
LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 11/11/2020), (HC
6.644.284/ES, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta Turma, DJe
27/9/2021). – Na espécie, não havendo prova da dedicação do agente à atividade
criminosa, inexistia óbice à aplicação da causa de diminuição. Tendo em vista a
quantidade não elevada das drogas apreendidas – 3,5 gramas de cocaína e 278
gramas de maconha (fl. 22) – , era mesmo possível a aplicação da fração máxima
da redutora, em 2/3. – Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 721.508/RS,
Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 22/02/2022, DJe 25/02/2022)
V. DO PEDIDO
Diante de todo exposto, pede-se que seja conhecido este habeas corpus e dado
provimento para reformar a decisão coatora, concedendo-se a ordem a fim de que seja
reconhecido o excesso da dosimetria da pena, restabelecendo-a nos patamares legítimos e
readequando o regime inicial de cumprimento.
Pede deferimento.