Você está na página 1de 2

Interpretação restritiva

Problemática que envolve a aplicação do artigo 312 do Código de


Processo Penal, assim redigido:

Art. 312: A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da


ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução
criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver
prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.

CRIMINAL – HC – ROUBO QUALIFICADO – PRISÃO PREVENTIVA – OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO


DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU DA NÃO CULPABILIDADE – INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA
DOS REQUISITOS – AUSÊNCIA DE CONCRETA FUNDAMENTAÇÃO – INDÍCIOS DE AUTORIA E
PROVA DA MATERIALIDADE – GRAVIDADE DO DELITO – CIRCUNSTÂNCIAS SUBSUMIDAS NO
TIPO – MOTIVAÇÃO INIDÔNEA A RESPALDAR A CUSTÓDIA – POSSIBILIDADE DE FUGA E DE
INFLUÊNCIA A TESTEMUNHAS – CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL – MERAS
CONJECTURAS E PROBABILIDADES – SUPOSTA FUGA – IMPOSSIBILIDADE DE EMBASAR O
DECRETO – NECESSIDADE DA CUSTÓDIA NÃO DEMONSTRADA – RECURSO PROVIDO – A
prisão preventiva é medida excepcional e deve ser decretada apenas quando devidamente
amparada pelos requisitos legais, em observância ao princípio constitucional da presunção de
inocência ou da não culpabilidade, sob pena de antecipar a reprimenda a ser cumprida quando
da condenação. Cabe ao julgador, ao avaliar a necessidade de decretação da custódia
cautelar, interpretar restritivamente os pressupostos do art. 312 do Código de Processo Penal,
fazendo-se mister a configuração empírica dos referidos requisitos. O juízo valorativo sobre a
gravidade genérica dos delitos imputados ao paciente, a existência de prova da materialidade
do crime e de indícios suficientes de autoria, não constituem fundamentação idônea a autorizar
a prisão para garantia da ordem pública, se desvinculados de qualquer fator concreto. Aspectos
que devem permanecer alheios à avaliação dos pressupostos da prisão preventiva. As
afirmações a respeito da gravidade do delito trazem aspectos já subsumidos no próprio tipo
penal. Conclusões vagas e abstratas tais como a preocupação de que empreenda fuga ou
influencie testemunhas, sem vínculo com situação fática concreta, efetivamente existente,
consistem meras probabilidades, conjecturas e elucubrações a respeito do que o acusado
poderá vir a fazer, caso permaneça solto, motivo pelo qual não podem respaldar a medida
constritiva para conveniência da instrução criminal. Precedentes do STF e do STJ. O Decreto
prisional carente de adequada e legal fundamentação não pode legitimar-se com a posterior
fuga do paciente, o qual não deve suportar, por esse motivo, o ônus de se recolher à prisão
para impugnar a medida constritiva. Ainda que verdadeira a condição do paciente, no momento
de sua prisão, de foragido da justiça, não pode o tribunal a quo suprir a deficiência de
fundamentação da decisão monocrática, se a verificação concreta de evasão do réu não
constituiu motivação do Decreto prisional no momento em que foi prolatado. Deve ser cassado
o acórdão recorrido, bem como o Decreto prisional, para revogar a prisão preventiva do
paciente, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de que venha a ser decretada
novamente a custódia, com base em fundamentação concreta. Recurso provido, nos termos do
voto do relator. (STJ – RHC 200601063462 – (19584 SP) – 5ª T. – Rel. Min. Gilson Dipp – DJU
23.10.2006 – p. 327) (grifos inexistentes no original)
Interpretação Extensiva

Supremo Tribunal Federal já admitiu a interpretação extensiva do artigo


588 do mesmo diploma, para que se abarque em sede não-recursal, ou, se
resultante de recurso, mesmo à decisão proferida por instância diversa ou de
superior hierarquia, ainda que o paciente, ele próprio, haja recorrido. Confira-
se:

HABEAS CORPUS. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. CONCURSO DE PESSOAS.


PRISÃO PREVENTIVA. DECISÃO FUNDAMENTADA. CONCESSÃO DE LIBERDADE
PROVISÓRIA À CO-RÉ. PEDIDO DE EXTENSÃO INDEFERIDO NA INSTÂNCIA
PRECEDENTE. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. DESIGUALDADE DAS CONDIÇÕES
SUBJETIVAS DOS ACUSADOS. ORDEM DENEGADA 1. É firme a orientação jurisprudencial
desta Casa de Justiça quanto à interpretação extensiva e à aplicação analógica da norma
contida no art. 580 do CPP. Artigo que, em tema de concurso de agentes, preceitua: “a decisão
do recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter
exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros”. Isso para admitir a aplicação do efeito
extensivo mesmo às hipóteses de decisão favorável proferida em sede não-recursal (como, por
exemplo, em revisão criminal ou em habeas corpus) ou, se resultante de recurso, mesmo à
decisão proferida por instância diversa ou de superior hierarquia, ainda que o paciente, ele
próprio, haja recorrido. 2. No caso, a falta de identidade objetiva e subjetiva entre as situações
jurídico-factuais do paciente e da co-ré beneficiada com a decisão benfazeja do Superior
Tribunal de Justiça inviabiliza o deferimento do pedido de extensão. 3. Ordem denegada. (STF.
Habeas Corpus nº 108232, Segunda Turma, relator Min. Ayres Britto, julgado em 18/10/2011,
processo eletrônico, divulgado em 16/02/2012, publicado em 17/02/2012.)

Você também pode gostar