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PUC MINAS - PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

FERNANDA JAHEL DE SOUZA

PESQUISA JURISPRUDENCIAL: RESPONSABILIDADE OBJETIVA

BELO HORIZONTE
2023
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0024.05.851052-0/001 Númeração 8510520-


Relator: Des.(a) Alvim Soares
Relator do Acordão: Des.(a) Alvim Soares
Data do Julgamento: 06/10/2009
Data da Publicação: 23/10/2009

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DANO AO MEIO AMBIENTE -


INTERVENÇÃO - AREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA - RESSARCIMENTO NA FORMA
ESPECÍFICA - RECURSO NÃO PROVIDO. O agente é responsável pela
reparação do meio ambiente, ou indenização, independentemente da análise
da subjetividade da ação; assim, a responsabilidade pelo dano ambiental
prescinde da pesquisa da culpa ''lato sensu'' e, em certos casos, do próprio
nexo causal, eis que, a mera sucessão pode gerar o direito de reparar.

APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0024.05.851052-0/001 - COMARCA DE BELO


HORIZONTE - APELANTE(S): MUNICÍPIO BELO HORIZONTE -
APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS -
LITISCONSORTE: FUND PARQUES MUN, ALIANÇA FUTEBOL CLUBE -
RELATOR: EXMO. SR. DES. ALVIM SOARES

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 7ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça


do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na
conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à
unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 06 de outubro de 2009.

DES. ALVIM SOARES - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ALVIM SOARES:

1
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

VOTO

Perante a Quarta Vara de Feitos da Fazenda Pública Municipal desta Capital,


o Ministério Público do Estado de Minas Gerais ajuizou a presente ação civil
pública contra o Município de Belo Horizonte e contra a Fundação de
Parques Municipais, ao argumento de que, entre as ruas Uracema Souza
Pinto, Vereador Orlando Bonfim e São José do Jacurí, nesta Capital,
encontra-se o Parque Municipal do Bairro Planalto, criado pelo Decreto
Municipal n. 7347/92, e que, no local foi construído um campo de futebol,
degradando o meio ambiente local; sustentou que o campo de futebol
encontra-se em área de preservação permanente, devendo ser removido do
local; após discorrer, requereu o deferimento de liminar e, ao final, a
procedência da ação, para desativar o Estádio Municipal Padre Canedo que
está situado no Parque Municipal do Bairro Planalto, removendo o campo de
futebol ali construído, além de elaboração e implementação de projeto
paisagístico e reparação dos danos ambientais causados; juntou
documentos.

O Município de Belo Horizonte e a Fundação de Parques Municipais


apresentaram, às fls. 40/44TJ, defesa preliminar, de forma conjunta, batendo
pela regularidade do parque municipal.

A liminar restou indeferida às fls. 70/71TJ; laudo pericial juntado às fls.


91/130TJ; esclarecimentos às fls. 137/139TJ.

Aliança Futebol Clube apresentou pedido de assistência às fls. 142/152TJ;


deferimento da assistência às fls. 270/271TJ; termo de audiência às fls.
284TJ, dando notícia da desistência das provas orais.

O Ministério Público apresentou memorial às fls. 287/288TJ; o Município de


Belo Horizonte apresentou razões finais às fls. 289/291TJ; Aliança Futebol
Clube, por sua vez, apresentou razões finais às fls. 293/295TJ.

A v. sentença guerreada encontra-se lastreada às fls. 297/304TJ, julgando


parcialmente procedente o pedido para determinar aos

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requeridos a) a redução no prazo de 30 dias das dimensões do campo de


futebol situado no Parque Municipal do Bairro Planalto de modo que seja
respeitado o raio de 50 metros na localização originária da nascente sobre a
qual foi construído o campo de futebol; b) a elaboração no prazo de 180 dias
de projeto paisagístico e a construção de uma rede de drenagem pluvial
interna, com a revitalização da área de preservação permanente, com
recuperação da mata ciliar atingida com a construção do campo de futebol
num raio de 50 metros para a proteção da nascente, já que cumpre ao Poder
Público a preservação das áreas que estão sob sua responsabilidade; c) a
manutenção e preservação permanente da fauna e da flora de todo o parque.

Irresignado com o decidido, o Município de Belo Horizonte interpôs recurso


de apelação cujas razões estão lastreadas às fls. 305/315TJ, argüindo, em
preliminar, nulidade da sentença ao argumento de ser extra petita; no mérito,
bateu pela reforma da decisão singular, onde repetiu os termos lançados na
peça contestatória; contra-razões às fls. 317/324TJ, batendo pela
manutenção do decisum.

A douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se nos autos, às fls.


328/339TJ, opinando pela manutenção da sentença.

Data venia, após percuciente análise do presente caso, tenho que as razões
apresentadas pelo recorrente não são suficientes para convencer-me de que
a r. sentença objurgada mereça ser reformada.

A preliminar alusiva à nulidade da sentença, ao argumento de que seria extra


petita, não merece prosperar; apesar do Ministério Público buscar em sua
peça de ingresso a desativação e remoção do Estádio Municipal Padre
Canedo, situado no Parque Municipal do Bairro Planalto, a mera procedência
do pedido para determinar a redução do campo de futebol não significa
decisão extra petita, uma vez que o Magistrado não julgou fora do pedido ou
além do pedido, mas apenas conferiu ao requerente o bem da vida em
quantidade inferior ao pedido.

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Rejeito, pois, a preliminar.

Quanto ao mérito, data maxima venia, melhor sorte não socorre o apelante; o
diploma básico sobre o dano ambiental é a Lei nº 6.938/1981, que estatui a
responsabilidade objetiva pelos danos ao meio ambiente.

A respeito do tema da responsabilidade civil por dano ambiental, colhe-se da


doutrina de Edis Milaré:

"A vinculação da responsabilidade objetiva à teoria do risco integral expressa


a preocupação da doutrina em estabelecer um sistema de responsabilidade o
mais rigoroso possível, ante o alarmante quadro de degradação que se
assiste não só no Brasil, mas em todo o mundo. Segundo essa doutrina do
risco integral, qualquer fato culposo ou não culposo, impõe ao agente a
reparação, desde que cause um dano" (Direito do Ambiente, Editora Revista
dos Tribunais, 2001, p. 428).

A maioria da doutrina pátria adota a teoria do risco integral, ou seja, o agente


é responsável pela reparação do meio ambiente, ou indenização,
independentemente da análise subjetividade da ação; assim, a
responsabilidade pelo dano ambiental prescinde da pesquisa da culpa lato
sensu e, em certos casos, do próprio nexo causal, eis que, a mera sucessão
pode gerar o direito de reparar.

In casu, pela prova produzida e acostada aos autos, ficou amplamente


demonstrado que "as características do campo, bem como a forma na qual
vem sendo utilizado, degradam a nascente ali existente, com riscos de
eliminá-la, caso não venham a serem tomadas providências para sua
preservação"; assim, uma vez comprovada a degradação ambiental e o seu
causador, a condenação deste se impõe, mormente, repita-se, tratando-se
de responsabilidade objetiva.

A legislação pátria estabelece duas formas de reparação do dano ambiental:


a primeira, a reconstituição do meio ambiente lesado (reparação específica),
a segunda, pela indenização pecuniária (reparação econômica), sendo
aquela, sempre, a melhor possível e

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desejada.

Quanto à condenação aos honorários periciais, não há dúvida de que o


apelante deve suportá-los, ante a sucumbência processual suportada.

Isso colocado, nego provimento ao apelo recursal para manter a decisão


singular, por seus próprios e jurídicos fundamentos.

Custas recursais, na forma da lei.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): EDIVALDO


GEORGE DOS SANTOS e WANDER MAROTTA.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.05.851052-0/001

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COMENTÁRIO E VOTO

O acórdão aborda uma ação civil pública relacionada a danos ambientais, enfatizando a responsabilidade objetiva do
agente pelos danos ao meio ambiente, independentemente da análise da culpa ou do nexo causal. A ação foi movida
pelo Ministério Público contra o Município de Belo Horizonte e a Fundação de Parques Municipais devido à
construção de um campo de futebol em uma área de preservação permanente.

A decisão de primeira instância determinou a redução do campo, a elaboração de um projeto paisagístico, a


construção de uma rede de drenagem pluvial e a preservação da fauna e flora do parque. O Município de Belo
Horizonte apelou, alegando a nulidade da sentença por ser extra petita, mas o tribunal rejeitou essa alegação.

A análise do mérito destaca a aplicação da teoria do risco integral, tornando o agente responsável pela reparação
específica do meio ambiente. O Município foi condenado a cumprir as medidas de reparação. O tribunal também
manteve a decisão de que o Município deve arcar com os honorários periciais devido à sucumbência processual.

Tendo em vista o exposto acima, a descisão foi fundamentada na legislação ambiental vigente, onde busca
uma solução que visa a preservação efetiva do meio ambiente, impondo obrigação ao responsável pelo
prejuízo. Desta forma, deve ser confirmada a responsabilidade do Município pelos danos ambientais,
rejeitando a alegação de nulidade da sentença e mantendo as medidas de reparação e os custos associados.

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