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PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA JUNTO AO INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS
RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS EM SALVADOR/BA
GABINETE PFE/IBAMA/BA
NUP: 02001.014390/2021-53
INTERESSADOS: INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS - IBAMA
ASSUNTOS: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO
(assinado eletronicamente)
CristianoMeyerBarbuda
PROCURADOR FEDERAL
Advocacia-Geral da União
EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ FEDERAL DA VARA FEDERAL CÍVEL E CRIMINAL DA SSJ DE
BARREIRAS-BA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE BARREIRAS-BA,
PROCESSO: 1003738-61.2021.4.01.3303
Encaminho a Vossa Excelência as Informações prestadas por esta Autoridade Coatora Subscritora, na
forma a seguir.
I N F O R M A Ç Õ E S,
1. SÍNTESE DA LIDE
Pois bem. Tem-se um Auto de Infração que remonta 22/06/2012 (id 575554889 - Pág. 1) e
decisões administrativas posteriores, com atos convergindo para a subsistência da
autuação/multa, por o impetrante “desmatar 495,00ha (quatrocentos e noventa e cinco
hectares) de vegetação nativa de cerrado, no local denominado Fazenda Vereda dos
Buritis, no Município de São Desidério/BA, com utilização de correntão, contrariando a
condicionante VII da Autorização de Supressão de Vegetação, e em desacordo com a
Portaria IMA nº 10.787/90”, em procedimento administrativo no qual foi assegurado ao
autuado, ao que se percebe em juízo preliminar, o direito ao contraditório/defesa.
(...)
Assim, a questão pede detido exame que justifique o afastamento de ato administrativo em
vigor, que, como é sabido, goza de presunção de legitimidade e veracidade, não sendo
aceitável seu eventual afastamento por medida liminar, a não ser diante de situação de
vício concretamente apontado e aferível de plano, o que não é caso dos autos.
Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento
e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.
18. Dispõe, à sua vez, a Lei de Crimes e Infrações Administrativas Ambientais (LCIAA –
L9605/98 e alterações)(negritamos):
19. Com base em tais dispositivos, foi lavrado Processo Administrativo para apuração de
infração ambiental, instaurado a partir da lavratura do Auto de Infração nº 713485-D, em 22/6/2012,
tendo por objetivo apurar conduta imputada ao autuado, que teria incorrido na conduta de “ desmatar
495 hectares de vegetação nativa de cerrado, no local denominado Fazenda Vereda dos Buritis, no
município de São Desidério, Bahia, com utilização de correntão, contrariando a condicionante VII da
autorização de supressão de vegetação e em desacordo com a portaria IMA nº 10.787/2009.”.
20. O processo originou-se a partir de Relatório de fiscalização (fls. 3-5 do Processo nº
02058.000130/2012-54) o qual atestou insofismavelmente q u e "A autoria da infração foi identificada
através da Fiscalização da Operação Veredas III e do levantamento do NÚCLEO DE
GEOPROCESSAMENTO/GEREXJBARREIRAS/BA." (fls. 3)
21. O auto de infração foi devidamente lavrado com menção aos seus dispositivos legais, os
art. 70, § 1º, e art. 72, incisos II e VII da Lei 9.605/1998, e art. 3º, incisos II e VII, e art. 53 do Decreto
6.514/2008. Conforme art. 53 do Decreto 6.514/2008: "Explorar ou danificar floresta ou qualquer tipo de
vegetação nativa ou de espécies nativas plantadas, localizada fora de área de reserva legal averbada,
de domínio público ou privado, sem aprovação prévia do órgão ambiental competente ou em desacordo
com a concedida: Multa de R$ 300,00 (trezentos reais), por hectare ou fração, ou por unidade, estéreo,
quilo, mdc ou metro cúbico". Por isso, a fundamentação para a lavratura do auto de infração está
demonstrada.
22. O processo administrativo encontra-se devidamente motivado por meio dos documentos
Relatório de fiscalização (fls. 3-5), Laudo técnico de geoprocessamento (fls. 14-15) e Relatório de
fiscalização, referente ao auto de infração nº 583161-D, lavrado anteriormente e substituído pelo atual
(fls. 59-62).
23. O Relatório de fiscalização (fls. 59-62), juntamente com Registro fotográfico, mostrou o uso
de correntão. Os atos da administração encerram presunção de legitimidade, pressuposto factível de
que o ônus da prova em questão se inverte para quem a invoca, conforme o Art. 36 da Lei Federal n°
9.784/99 e Art. 118 do Decreto Federal n° 6.514/08. Simples manifestações de discordância, quando
desprovidas de elementos relevantes de prova em contrário, são insuficientes para buscar a anulação.
24. Vale ressaltar que os autos foram instruídos, ainda, com Parecer Jurídico da Procuradoria
Federal Especializada-PFE; Decisão sobre a lavratura do novo auto de infração (fls. 13), Laudo técnico de
geoprocessamento (fls. 14-15), Termo de Compromisso junto ao Ibama para desembargo (fls. 16-18),
Desembargo do Termo nº 433215-C (fls. 19).
25. O autuado foi regularmente notificado em 06/7/2012 pelos correios com aviso de
recebimento (fls. 24), tendo apresentado defesa em 23/07/2012.
26. O processo foi objeto de Manifestação instrutória (fls. 56), concedendo-se, inclusive, ao
impetrante, prazo para apresentar alegações finais (fls. 57).
27. Em 10/9/2015 a autoridade julgadora de 1ª Instância prolatou decisão em que homologou o
auto de infração, com multa no valor de R$ 148.500,00, e manutenção do termo de embargo, até
regularização da atividade: (i) Certificado de Regularidade do Cadastro Técnico Federal - CTF; (ii)
Cadastro Ambiental Rural - CAR (CEFIR na BA, desde que devidamente migrado ao SICAR); (iii) Outorga
(dispensa) para o uso da água; (iv) Licença Ambiental válida (fls. 63).
28. O autuado foi devidamente notificado em 14/10/2015 (fls. 68), apresentando recurso em
3/11/2015 (fls. 70), o qual veio a ser julgado em última instância, por meio da Decisão Recursal -
Desprovimento nº 357/2019-COPSA/CGFIN/DIPLAN já transitada em julgado.
29. Como se vê, da mera análise dos autos do procedimento administrativo se extrai a plena
legalidade da atuação administrativa do ponto de vista formal, tendo tido o impetrante diversas
oportunidades de defesa a qual foi exaurida até a última instância.
30. De se ressaltar, ainda, que houve pleno reconhecimento do cometimento da infração e
aceitação da sanção correspondente pelo impetrante na medida em que este solicitou conversão da
multa em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. O pedido
está consubstanciado às fls. 88v do processo em anexo.
31. O Impetrante alega, como fundamento de sua petição inicial, haver incidido uma hipotética
prescrição intercorrente. Com efeito, assim alega:
32. Entretanto, Excelência, observa-se, claramente, do P.A em anexo, que ocorreu ato
interruptivo da prescrição em sua modalidade intercorrente.
33. Aplicam-se, in casu , os termos da Orientação Jurídica Normativa PFE/IBAMA nº 06 –
exaustiva sobre o tema constante da página institucional da PFE-IBAMA na REDEAGU.
34. No que pertine às presentes informações, sobrelevam-se os seguintes excertos, da OJN, com
grifos aditados:
“
II. Prescrição: modalidades.
(...)
II.II. Prescrição da pretensão punitiva intercorrente.
23. Segundo Maria Helena Diniz, a prescrição intercorrente "é admitida pela doutrina e
jurisprudência, surgindo após a propositura da ação. Dá-se quando, suspensa ou
interrompida a exigibilidade, o processo administrativo ou judicial fica paralisado por incúria
da Fazenda Pública”. (grifo nosso).
24. Essa modalidade de prescrição está expressamente prevista na legislação ambiental,
especificamente no §2° do artigo 21 do Decreto nº 6.514 de 2008, in verbis:
Artigo 21
(...)
§ 2 º Incide a prescrição no procedimento de apuração do auto de infração
paralisado por mais de três anos, pendente de julgamento ou despacho , cujos
autos serão arquivados de ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem
prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorrente da paralisação (redação
dada pelo Decreto nº 6.686 de 2008). (sem negrito no original)
25. O texto acima transcrito é idêntico ao da legislação geral (§1º do artigo 1° da Lei n°
9.873 de 1999), na qual tem seu fundamento. Pelo que se percebe da sua leitura, a
prescrição intercorrente é aquela que tem curso somente durante o processo que visa à
apuração a infração ambiental.
26. Diante desse quadro, no contexto do processo administrativo de apuração de infração
ambiental, a prescrição da pretensão punitiva intercorrente tem lugar a partir da lavratura
do auto de infração e enquanto perdurar o procedimento apuratório. Assim, durante o
processo, transcorrem, concomitantemente, os prazos da prescrição da pretensão punitiva
intercorrente (de 03 anos) e da prescrição da pretensão punitiva propriamente dita (em
regra, de 05 anos).
27. Necessário esclarecer que a lavratura do auto de infração caracteriza-se como termo a
quo da prescrição intercorrente (§1° do artigo 21 do Decreto nº 6.514 de 2008), uma vez
que dá início à apuração da infração ambiental.
28. No procedimento administrativo para apuração da infração e consolidação da sanção
incide, repita-se, além da prescrição da pretensão punitiva propriamente dita, que se inicia
no momento do fato (ação ou resultado), a prescrição intercorrente de três anos, que
decorre da evidente inércia do ente ambiental ao apurar a autoria e materialidade da
infração, após iniciado o processo administrativo, com a lavratura do auto de infração.
29. Nesse caso, [somente] quando sobrestado o curso do processo administrativo
por mais de três anos, e desde que, nesse período, não tenha sido praticado
qualquer ato processual, operar-se-á a prescrição extintiva intercorrente.
30. A paralisação, porém, deve ser imputável à Administração, pois o instituto tem por
escopo sancionar a inércia do titular do direito, ou da pretensão, ou seja, penalizar aquele
que, detendo o poder/dever de punir o infrator e exigir o adimplemento de uma dada
obrigação, não age quando o sistema lhe conferia legitimação. Sendo esse o propósito do
instituto, forçoso concluir que não restará configurada a prescrição intercorrente em
hipóteses nas quais o sobrestamento do feito decorre de ação ou omissão do administrado.
(...)
72. Pelo que se infere da leitura do dispositivo legal retromencionado, a paralisação
capaz de ocasionar a prescrição intercorrente é aquela causada pela
Administração, que deixa o processo sem andamento, “pendente de julgamento
ou despacho”. Sendo assim, naqueles momentos em que se oportuniza a manifestação do
Autuado não tem curso o prazo da prescrição intercorrente. Apenas quando termina o
prazo para manifestação do Autuado é que se inicia o da prescrição intercorrente.
(...)
7 7 . Diante desse quadro, não importa se o ato de impulso do processo foi
praticado visando à apuração da infração e confirmação da pena de multa, à
verificação do estado dos bens depositados em nome do próprio autuado, ou à
solicitação de análise de documentos de regularização, para fins de
levantamento do embargo; qualquer movimentação dada ao processo, pela
Administração, visando ao correto deslinde do feito, importa na interrupção do
prazo prescricional intercorrente. Até mesmo porque, nesses casos, não há a
inércia, ou a desídia, que dá causa à prescrição. Na realidade, seria desarrazoado
punir a Administração que, na busca definir todos os aspectos decorrentes do
cometimento da infração ambiental, pratica, no mesmo processo, atos que se
referem tanto às medidas estritamente punitivas, quanto às cautelares.
Art. 1o Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal, direta e
indireta, no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em vigor,
contados da data da prática do ato ou, no caso de infração permanente ou continuada, do
dia em que tiver cessado.
§ 1o Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado por mais de três
anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou
mediante requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da
responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o caso.
§ 2o Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, a
prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.
36. Aplicando-se a sistemática acima delineada, percebe-se que não houve paralisação dos
autos do processo; ao revés ocorreu interrupção da prescrição intercorrente por meio do
Anexo (5317369) SEI 02058.000130/2012-54 / pg. 192, acostado ao Relatório - 2ª Instância
DICON 5315976.
37. Vislumbra-se, claramente, a existência de movimentação processual entre o Juízo de
Retratação (fls 184), datado de 05/05/2016; e o Relatório de 2ª Instância (fls. 187/191), datado de
18/06/2019, período em que, alega o impetrante, teria havido a prescrição intercorrente.
38. A mera consulta do Anexo demonstra que, em 20/06/2016 se deu o “DESP. De
ENCAMI-N” do servidor Hugo Leonardo Mota Ferreira, “para atendimento prévio, conforme
art. 8º da Instrução Normativa nº 10/2012".
39. Houve, portanto, encaminhamento, nessa data, ao setor competente do IBAMA-SEDE
conforme artigo que fundamenta o despacho respactivo, e que segue abaixo transcrito:
40. Demonstrado cabalmente, portanto, que não houve paralisação processual que tenha
alcançado o triênio de que trata o art. 1º, § 1º da Lei 9.873/1999, de modo que a alegação
correspondente é evidentemente improcedente.
43. Portanto, a competência para fiscalizar tem previsão na Carta Magna, no seu art. 23, inciso
VI, que assim dispõe:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...)
VI- proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas.
44. Na competência comum, o campo de atuação é conjugado entre várias entidades, sem que
o exercício de uma venha a excluir a competência de outra. Trata-se de competência cumulativa,
simultânea e paralela. Assim é que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios estão
autorizados pela própria Constituição a agir simultaneamente em relação às matérias indicadas no art.
23, não apenas na execução das leis e serviços de sua esfera, mas também das demais esferas, em
sistema de cooperação, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito
nacional.
45. Assim, complementando o dispositivo supra transcrito com o que dispõe o art. 225 do
mesmo Diploma Constitucional, infere-se que o poder de polícia ambiental deve ser exercido por todos
os órgão executores da política nacional do meio ambiente integrantes do SISNAMA.
46. As atribuições do IBAMA, autarquia integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente, como
órgão executor (art. 6º, da Lei N.º 6.938/81), inserem-se no âmbito do poder de polícia ambiental. Por
meio do exercício desse poder de polícia - mecanismo expressamente previsto no direito positivo
brasileiro, que serve como instrumento para que o Estado possa atingir os fins colimados em
conformidade com o princípio da supremacia do interesse público – essa Autarquia realiza a fiscalização
para prevenir a ocorrência de danos ambientais e punir aqueles já ocasionados.
47. Seguindo o entendimento esposado na Constituição Federal, a Lei 9.605/98 previu tanto no
seu art. 70,§ 1º, quanto no seu art. 76, a competência comum dos órgãos ambientais das três esferas da
Federação para lavrar auto de infração e instaurar processo administrativo para apuração de infração
administrativa ambiental. Eis o que dispõem:
Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as
regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.
§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar
processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema
Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem
como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.
Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou
Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência.
[grifou-se]
49. Saliente-se, ainda, com fulcro no que foi exposto acima, que, no que se refere à
competência para fiscalizar atribuída ao Ibama pela Carta Constitucional, não há espaço para se falar
em competência própria, como ocorre com a competência para o licenciamento. A competência para o
exercício do poder de polícia ambiental é comum e deve ser executado por Municípios, Estados, Distrito
Federal e União, por intermédio de seus órgãos e autarquias instituídas para esse fim.
50. Nesse contexto, mostra-se incompreensível a tentativa de blindar aqueles que ofendem ao
meio ambiente, sob o argumento de que o princípio da preponderância de interesse deve ser também
aplicado para a competência fiscalizatória.
51. Imagine-se a situação de ente institucionalmente destinado a proteger o meio ambiente se
confrontar com situação de iminente dano ambiental, ter totais condições de combatê-lo, e
simplesmente “cruzar os braços”. Em face do dever institucional de proteger o meio ambiente, a
autarquia certamente sujeitar-se-ia a todo tipo de responsabilização pela ilegalidade
(inconstitucionalidade) cometida.
52. A pretensão do mandamus viola a competência comum para proteger o meio ambiente,
estabelecida no art. 23, inciso VI, da Carta Magna. A restrição fiscalizatória que o impetrante pretende
estabelecer para que um ente possa cumprir sua função institucional de proteger o meio ambiente é de
tal ordem que o mandamento constitucional se tornaria praticamente letra morta, ou, na melhor das
hipóteses teria a sua efetividade drasticamente reduzida, na contramão do quanto é preconizado pela
ciência constitucional hodierna (v. o princípio da máxima efetividade das normas constitucionais ).
53. A preponderância da postulação limitadora trazida pelo impetrante, portanto, representa
um sério retrocesso na longa história de desenvolvimento da efetividade das normas constitucionais e
dos direitos fundamentais, situação que violaria também o princípio constitucional da vedação do
retrocesso.
54. Ressalte-se que o direito ao meio ambiente equilibrado é atualmente considerado pelos
constitucionalistas, quase sem exceções, como um direito fundamental.
55. No procedimento administrativo que gerou o presente writ, comprovou-se cabalmente, após
todo o desenvolvimento processual com respeito ao contraditório e devido processo legal, a violação
das normas ambientais pelo impetrante, não sendo exigível cobrar atitude diversa do IBAMA que não a
autuação e o embargo das atividades dos responsáveis.
56. Nenhum órgão ou ente legalmente instituído para proteger o meio ambiente pode ficar à
mercê da atuação dos demais ao se deparar com a degradação ao meio ambiente. Não lhes é exigível
que se furtem de cumprir sua função institucional. Não há a possibilidade de adotar o entendimento
contrário, sem que se viole necessariamente os art. 23, inciso VI, e o art. 225 da Lei Maior, bem como as
demais disposições legais supra referidas.
57. Prossegue o impetrante com a alegação de que “foram aplicados juros e mora sobre valor
da multa imputada a despeito desta somente se tornar exigível a partir do trânsito em julgado da
Decisão Administrativa de 2ª instância”, de modo que haveria “ilegalidade dos cálculos de atualização
do débito efetuados pelo IBAMA, que torna ilegal e abusiva a pretensão de inscrição do Impetrante no
CADIN”.
58. A afirmação não condiz com os dados constantes do procedimento administrativo em
anexo.
59. Com efeito, consta claramente da mais recente “Memória de Cálculo (10212584) SEI
02058.000130/2012-54 / pg. 219”, datada de 21/06/2021:
60. Não restam dúvidas, portanto, de que os juros somente foram cobrados a partir
do trânsito em julgado do procedimento administrativo, ao revés do que alega o impetrante.
61. Cumpre ressaltar que eventual discordância sobre o resultado monetário advindo da
operação de correção monetária e juros aplicados no processo administrativo, suscitaria a necessidade
da realização de perícia contábil e instrução processual, o que seria incompatível com a presente e
estreita via do mandado de segurança.
62. No que pertine à inscrição no CADIN, diga-se que a verificação da legalidade da restrição
imposta ao impetrante em decorrência da inscrição no Cadastro Informativo de Créditos Não Quitados
do Setor Público Federal - CADIN está condicionada à evidência de autorização legislativa que o admita.
63. É evidente que o direito/dever dos órgãos e das entidades da Administração Pública Federal,
direta e indireta, de inscrever as pessoas jurídicas, de direito público ou privado, no CADIN deve estar
previsto em norma, atendendo, assim, o pressuposto abstratamente fixado pela lei, como elemento
informador que autoriza a efetivação do ato.
64. A legislação de regência, a Lei n º 10.522/2002, que dispõe sobre o Cadastro Informativo de
Créditos Não Quitados do Setor Público Federal – CADIN, estabelece:
65. Vale consignar que o inciso I do art. 2 º da Lei nº 10.522/2002 proporciona sentido certo,
mormente em se considerando que encerra comandos consistentes em definir as hipóteses em que os
órgãos e entidades da Administração Pública Federal promoverão a inscrição das pessoas físicas e
jurídicas no CADIN.
66. Como se vê, a não inclusão no CADIN dos responsáveis por obrigações pecuniárias
vencidas e não pagas junto aos órgãos e entidades da Administração Pública
Federal extrapola o comando explícito da norma, na forma prevista no art. 2 º da Lei
nº 10.522/2002, bastante para exprimir sua finalidade. A não inclusão no CADIN somente seria factível
se estivesse autorizada expressamente.
67. Assim, a exclusão do nome dos responsáveis por obrigações pecuniárias vencidas e não
pagas junto aos órgãos e entidades da Administração Pública Federal do CADIN encontra vedação legal
e conflita com o disposto no art. 37 da Constituição Federal, que pauta a atuação dos órgãos da
administração pública ao Princípio da Legalidade, cuja consequência imediata é a proibição de não
fazer se há determinação de adoção de medida no Direito.
68. As leis administrativas são, normalmente, de ordem pública e seus preceitos não podem ser
descumpridos, nem mesmo por acordo ou vontade conjunta de seus aplicadores e destinatários, uma
vez que contém verdadeiros poderes-deveres, irrelegáveis pelos agentes públicos.
69. Nesse contexto, não há suporte legal que autorize o Ibama a proceder a
exclusão do nome do impetrante no CADIN, sem a devida regularização da situação que deu causa
ao registro, vez que a eficácia de toda atuação administrativa dos órgãos e entidades da Administração
Pública Federal está condicionada a observância da lei.
70. Portanto, como se disse acima, existindo débito constituído do autor com o Ibama, enquanto
não regularizada a situação que deu causa à sua inclusão no CADIN, a baixa do respectivo registro não
poderá ser efetivada.
71. E, mesmo que se diga que tal constrição é inadequada, enquanto se processa judicialmente
o pedido de anulação do Auto de Infração, o registro da inscrição no CADIN somente pode ser suspenso
nos estritos termos do art. 7º da Lei nº 10.522/2002, que dita:
73. Esta também tem sido a posição deste Tribunal Regional Federal da 1ª Região:
74. Assim, para suspensão da inscrição no CADIN não bastaria o simples ajuizamento de ação
judicial, tendo por objeto a dívida constituída. Seria imprescindível o oferecimento pelo autor e devedor
de garantia idônea e suficiente na forma da Lei, o que não se realizou no caso dos presentes autos,
obstando-se a pretensão do writ.
4. DA LIMINAR
75. A Impetrante pediu a antecipação da tutela, inclusive sem nossa oitiva. Descabe,
entendemos, tutelá-lo, tampouco antecipar seu pedido.
76. No caso em tela, seria necessário que a Impetrante apresentasse prova inequívoca de que
a ação administrativa é nula, e demonstrasse que há, hoje, receio de dano irreparável concernente ao
evento. Em verdade, está a pretender a Impetrante uma tutela meramente patrimonial e individual,
quando é o meio ambiente, bem coletivo, que prevalece nesta seara. O Princípio
d a Precaução determina a inversão d o periculum in mora. Assim também o fumus boni iuris,
que, a priori, surge sempre em prol do meio ambiente. Sob tal enfoque, temos que o risco que se
apresenta é exatamente o contrário: a imposição à coletividade de um dano
ambiental irreversível. Assim, vê-se que a Impetrante:
1. não colaciona prova inequívoca do que alega, de modo que lhe incumbirá a
juridicamente impossível tarefa de produzir prova neste feito;
2. não atenta para o plus sobre seu ônus probatório em razão da presunção de
legitimidade do ato administrativo, circunstância que está a lhe exigir, mais do que já se
exige ordinariamente, provar de pronto o alegado;
3. não atenta para a inversão do periculum in mora e do fumus boni iuris, que, em matéria
ambiental, em virtude do Princípio da Precaução é o inverso de tal pretensão.
77. Em razão de todo o exposto, esta Autoridade pugna pelo indeferimento do pedido de
antecipação dos efeitos da tutela.
5. CONCLUSÃO
Termos em que,
pede deferimento. RODRIGO Assinado de forma digital por
RODRIGO GONCALVES SABENCA
GONCALVES Dados: 2021.07.23 12:02:16
SABENCA -03'00'