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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO.

Autos nº. xxx.xxx.xxx-xx.

ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO DOS PESCADORES DE DEVASTAÇÃO


(APPD), organização não governamental, legalmente constituída sob forma de
associação civil, com inscrição no CNPJ sob o Nº XX.XXX.XXX/XXXX-XX, com
sede na Rua XXXXXXXX, Nº XX, CEP:XXXXX-XX, Bairro: XXXXXXXX,
Município de Devastação, Espirito santo, e-mail: xxxxxxxx@xxxxx.com,
representado por sua advogada, devidamente inscrita na OAB/ES sob o Nº
XX.XXX, mediante procuração anexo, e-mail: xxxxxxxxx@xxxxx.com, e com
escritório profissional na Rua: XXXXXXXX, Nº XX, CEP: XXXXX-XXX,
Devastação – ES, local indicado para receber intimações, vem,
respeitosamente à presença de vossa excelência, com fulcro no artigo 1.042
do Código de Processo Civil, interpor

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL

Contra decisão deste Egrégio Tribunal de Justiça, de fls…, nos autos da Ação
Civil Pública que move contra a MINERADORA MONTANHA DO RIO SUJO,
pessoa jurídica de direito privado, com inscrição no CNPJ sob o Nº
XX.XXX.XXX/XXXX-XX, com sede na Rua: XXXXXXXX, Nº XX, Bairro:
XXXXXXX no município de Devastação, Espirito Santo, e-mail:
xxxxxxxx@xxxxx.com; UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público
interno, a qual poderá ser citada na Procuradoria-Regional da 2ª Região na
Rua XXXXXXXX, Nº XX, na cidade de XXXXXXX, estado de XXXXXXX, tudo
consoante as linhas abaixo, pelos motivos de fato e de direito expostos a
seguir.
REQUER que seja recebido o presente recurso, intimando-se as partes para,
querendo, apresentar contrarrazões no devido prazo legal. Após sejam os
autos remetidos ao competente Superior Tribunal de Justiça.

Termos em que, pede deferimento.

Devastação, XX de XXXXXXX de XXXX.

Advogada. OAB/XXX-XX.

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

Origem: 2ª Câmara Cível, TRF - ES.

Autos nº xxxx.xxxx.

Recorrente: Associação de Proteção dos Pescadores de Devastação (APPD).

Recorridos: Mineradora Montanha do rio Sujo, União Federal.

RECURSO ESPECIAL

Colenda Turma,

Eméritos Ministros:
1 - RAZÕES DO RECURSO.

A Agravante interpõe o presente AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL para


REFORMAR a decisão proferida pela Presidência do Tribunal de Justiça do
Estado do Espirito Santo, que inadmitiu o recurso especial interposto, pelos
fatos e fundamentos a seguir.

A decisão que inadmitiu o Recurso Especial não se atentou para as Normas


Federais, especificamente para o artigo 14, § 1º da Lei 6.938/81, Política
Nacional do Meio Ambiente, e o Artigo 225, § 1º, inciso VII, da
Constituição Federal.

1.1 – DO CABIMENTO.

Conforme disposto no Artigo 1.042 do Código de Processo Civil, “cabe


agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido
que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada
na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em
julgamento de recursos repetitivos”

Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-


presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso
extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na
aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão
geral ou em julgamento de recursos repetitivos.

1.2 – DA TEMPESTIVIDADE.

Nos termos dos Artigos 219 1003, § 5º, ambos do Código de Processo Civil, o
prazo para interpor o presente recurso é de 15 dias. Dessa forma,
considerando que a decisão fora publicada no Diário Oficial na data de
dd/mm/aa, tendo sido o recorrente intimado da mesma nesta data,
reconhecidamente o recurso é TEMPESTIVO e merece acolhimento:

Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data


em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia
Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são
intimados da decisão.

§ 1º Os sujeitos previstos no caput considerar-se-ão intimados em


audiência quando nesta for proferida a decisão.

§ 2º Aplica-se o disposto no art. 231, incisos I a VI, ao prazo de


interposição de recurso pelo réu contra decisão proferida
anteriormente à citação.

§ 3º  No prazo para interposição de recurso, a petição será


protocolada em cartório ou conforme as normas de organização
judiciária, ressalvado o disposto em regra especial.

§ 4º Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo


correio, será considerada como data de interposição a data de
postagem.

§ 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor


os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias.

§ 6º O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato


de interposição do recurso.

2 - DA SÍNTESE DOS FATOS.

Trata-se de ação de Ação Civil Pública ajuizada pela Requerente, em face da


Requerida, devido o que ocorreu na cidade de Devastação, que foi destruída
por dejetos provenientes do colapso da barragem da mesma, a Mineradora
Montanha do Rio Sujo.

Ficou comprovado em laudos periciais (anexos) que, apesar de diversas


denúncias e reclamações a respeito da barragem e mesmo após notificação de
seus órgãos fiscalizadores, a União Federal nada fizeram. A falta de cuidado e
negligência dos Requeridos terminou em destruição de grande parte do meio
ambiente local e também de um rio que percorre dois estados da federação,
chegando, inclusive,, a poluir as praias do litoral do Espirito Santo,
ocasionando, assim, a morte de milhares de peixes e animais marinhos.

Devido a esses acontecimentos, os habitantes de Devastação, perderam suas


casas, incluindo muitas famílias de pescadores perderam entes queridos, que
morreram na lama de dejetos. No entanto, sob o fundamento de que não foi
comprovada a culpa da Empresa Mineradora Do Rio Sujo e da União, nas
modalidades negligência, imprudência ou imperícia, Vossa Excelência afastou
o dever de indenizar as vítimas, ignorando totalmente e não se manifestando
sobre a responsabilidade dos Embargados.

O processo tramitou regularmente, e, ao final, este Excelentíssimo Juiz proferiu


a sentença de fls xx/xx, a qual apresenta omissão no julgamento dos pedidos,
dessa forma, a decisão deixou de analisar matéria indispensável do direito
pleiteado, sendo necessário interpor recurso especial.

Ocorre que o Recurso Especial foi inadmitido pelo Tribunal Regional Federal
(TRF-2), o qual, por unanimidade, o julgou inadmissível sob a simples alegação
de que a decisão estava correta em todos os pontos e não mereceria qualquer
reparo e análise pelo Superior Tribunal de Justiça.

A denegação do seguimento do recurso, em nenhum momento, mencionou o


entendimento majoritário dos tribunais superiores, a existência de tese de
repercussão geral ou de tese de recurso repetitivo. Simplesmente apontou que
o acerto daquele tribunal era patente e que não havia motivo para que fosse
reformada a decisão.

Tal decisão, todavia, merece reforma, pelas razões adiante expostas.

3 – DO DIREITO.

3.1 - DA VIOLAÇÃO DE LEI FEDERAL (art. 14, § 1º da Lei 6.938/81, Política


Nacional do Meio Ambiente).

De acordo a Política Nacional do Meio Ambiente que tem por objetivo a


preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico,
aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida
humana. Vejamos o que diz a Lei:

Conforme o disposto no Art. 14, § 1º da Lei 6.938/81:


§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste
artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de
culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério
Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor
ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao
meio ambiente.

I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no


mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos de
reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada
a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado,
Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios.

II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais


concedidos pelo Poder Público;

III - à perda ou suspensão de participação em linhas de


financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;

IV - à suspensão de sua atividade.

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste


artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de
culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério
Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor
ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao
meio ambiente.

§ 2º - No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal,


caberá ao Secretário do Meio Ambiente a aplicação das
penalidades pecuniárias previstas neste artigo.

§ 3º - Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato


declaratório da perda, restrição ou suspensão será atribuição da
autoridade administrativa ou financeira que concedeu os
benefícios, incentivos ou financiamento, cumprindo resolução do
CONAMA.

§ 5o A execução das garantias exigidas do poluidor não impede a


aplicação das obrigações de indenização e reparação de danos

previstas no § 1o deste artigo.


O Princípio do Poluidor-Pagador é um princípio normativo de caráter
econômico, porque imputa ao poluidor os custos decorrentes da atividade
poluente. Porém, para a otimização dos resultados positivos na proteção do
meio ambiente. Consubstanciado no artigo 4º, VIII da mesma lei, tal princípio
leva em conta que os recursos ambientais são escassos, portanto, sua
produção e consumo geram reflexos, ora resultando sua degradação, ora
resultando sua escassez.

A decisão que inadmitiu o recurso especial não possui qualquer embasamento


legal. O artigo 105, III, “a”, da Constituição preconiza o cabimento de
Recurso Especial para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) quando acórdãos
dos Tribunais de Justiça contrariarem Lei Federal:

Artigo 105, III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em


única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

(…).

É o que ocorre no presente caso, tendo em vista que a decisão recorrida violou
o artigo 14 da Lei Federal n°6.938/81.

A Constituição Federal trata do meio ambiente no caput do Artigo 225,


determinando que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Artigo 225, § 1º, inciso VII, da Constituição Federal:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder


público:
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem

a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

O direito à vida é condição sine qua non para o exercício dos demais direitos.
O direito a uma vida digna está consubstanciado na Constituição Federal de
1988, previsto no inciso III do art. 1º, “a dignidade da pessoa humana”,
como um valor fundamental para a construção do Estado Democrático de
Direito.

O direito a um meio ambiente saudável é forma de garantia do direto à vida e à


saúde das pessoas, sendo o único modo de perpetuação da espécie humana.
Por se tratar de um direito metaindividual, o meio ambiente é considerado um
direito de terceira geração, baseado na ideia de fraternidade da raça humana.
Os direitos metaindividuais são o gênero do qual fazem parte os direitos
difusos, os coletivos em sentido estrito e os individuais homogêneos, conforme
previsão no parágrafo único e nos incisos I, II e III do art. 81 da Lei nº
8.078/1990, Código de Defesa do Consumidor:

Art. 81.  A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e


das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a
título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar


de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos


deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato;

II  - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos


deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que
seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si
ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III  - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim


entendidos os decorrentes de origem comum.

3.2 – DA LEGITIMIDADE.
Sobre a Ação Civil Pública como instrumento processual para a
responsabilização por danos causados ao meio ambiente; a Constituição
Federal de 1988, que prevê a preservação ambiental como um dever de todos,
impondo à coletividade o dever de defender o meio ambiente considerando o
direito fundamental de todos à proteção ambiental para a presente e as futuras
gerações. Conforme o disposto no artigo 5º, I da Lei 7.347/1985.

Art. 5º A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo


Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios.
Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública,
fundação, sociedade de economia mista ou por associação que:

I - esteja constituída há pelo menos um ano, nos termos da lei


civil;

(…).

Desta forma, a Requerente tem legitimidade para propor ação civil pública,
visto que se enquadra nos requisitos pre definidos pela Lei 7.347/1985.

Assim, em atenção ao artigo 1.029 do Código de Processo Civil, resta


demonstrado o cabimento do recurso especial, motivo pelo qual a decisão que
o inadmitiu deve ser reformada.

4 - PRELIMINARMENTE – DA CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO.

O Código de Processo Civil, trouxe em seu artigo 995 o espírito de justiça que
norteia o ordenamento jurídico, pois possibilitou que, dependendo das
peculiaridades do caso, seja aplicado efeito suspensivo a esse recurso, até
porque, sendo imperiosa a apreciação dos aclaratórios para o posterior
impulsionamento do feito, porque sendo comprovada a relevância da
fundamentação e o risco de dano a suspensão é medida que se impõe.
Vejamos:

Artigo 995 -  Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo


disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso.

Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser


suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus
efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível
reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do
recurso.

5 – REQUERIMENTOS.

Diante do exposto, requer:

I. O recebimento do presente agravo em recurso especial;


II. A intimação dos Agravados para, querendo, apresentarem
contrarrazões, nos termos do parágrafo terceiro do artigo 1.042 do
Código de Processo Civil;
III. A remessa dos autos para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), nos
termos do parágrafo quarto do artigo supracitado;
IV. O total provimento ao presente agravo, para reformar a decisão que
inadmitiu o Recurso Especial interposto;
V. Requer a concessão de efeito suspensivo nos termos do Artigo 995 do
Código de Processo Civil.

Termos em que, pede deferimento.

Devastação, XX de XXXXXXX de XXXX.

Advogada. OAB/XXX-XX.

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