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ILUSTRÍSSIMO SENHOR GERENTE DO INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE

CODAM DE.... – ESTADO DE SANTA CATARINA

Auto de infração Ambiental...


Termo de Embargo...

AUTUADA..., brasileira, agricultora, inscrita no CPF n..., residente e


domiciliada em..., s/n, Interior, Município/SC, CEP..., vem, à
presença de Vossa Senhoria, com fundamento no art. 73 da Lei
Estadual 14.675/2009 e art. 98 da Portaria Conjunta CPMA/IMA
143/2019, apresentar

DEFESA PRÉVIA

em razão do Auto de Infração Ambiental... e Termo de Embargo...,


lavrados por fiscal do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina -
IMA, em 20 de maio de 2020, consoante as razões de fato e de
direito a seguir expostas.

1. DA TEMPESTIVIDADE
Primeiramente, há que se registrar que o Auto de Infração Ambiental... foi lavrado no
dia 20 de maio de 2020, mas a Autuada foi notificada por via postal na primeira quinzena do mês de
junho. Portanto, nos termos do art. 73 da Lei Estadual 14.675/2009 e art. 98 c/c art. 28 da Portaria
Conjunta CPMA/IMA 143/2019, o prazo para a apresentação de Defesa Prévia é de 20 (vinte) dias úteis,
contados da ciência do autuado. Indiscutível a tempestividade da presente defesa.

2. PRELIMINARMENTE - DA AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO


OFENSA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE - CONFIGURADA
O fiscal vinculado ao Instituto do Meio Ambiente - IMA, utilizou a Lei Estadual
14.675/2009 para fiscalizar, cuja sanção aplicada está prevista no art. 66 do Decreto Federal 6.514/08.

Pois bem. O § 1º do art. 74 da Portaria Conjunta CPMA/IMA 143/2019, dispõe que “a


Autoridade Ambiental Fiscalizadora poderá designar a realização de audiência de conciliação.” Já o art.
91 do mesmo diploma, preceitua que “durante o prazo de vinte dias, contados da ciência do

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administrado, deverá ser designado a audiência de conciliação, ou a qualquer tempo da instrução
processual por interesse do administrado.”

Como se vê, há um choque legal entre o vocábulo “poderá” e “deverá”. É que


enquanto o primeiro faculta à Autoridade a designação da audiência de conciliação, o segundo é muito
mais amplo e estrito, impondo à Autoridade o dever de designar a audiência. E para não pairar dúvida, o
art. 113 do Dec. 6.514/08, alterado pelo Dec. 9.760/19, estabeleceu que:

Art. 113. O autuado poderá, no prazo de vinte dias, contado da data da ciência da autuação,
apresentar defesa contra o auto de infração, cuja fluência fica sobrestada até a data de
realização da audiência de conciliação ambiental.  

Assim, deveria o fiscal ter notificado à Autuada para comparecer à audiência de


conciliação, não por opção, mas por determinação legal, ou seja, em obediência ao princípio da
legalidade, do qual o fiscal e o IMA estão adstritos. Até porque, consta no AIA que o procedimento para
apuração da infração é regulado pela Portaria Conjunta CPMA/IMA 143/2019.

Daí a violação da norma, pois nada consta no auto de infração sobre a audiência de
conciliação. Muito pelo contrário. Consta o prazo de 20 dias para apresentação de defesa prévia. Nesta
senda, impõe-se a anulação do auto de infração e de todo procedimento administrativo, sob pena de
restar violado o princípio da legalidade e do devido processo legal.

3. BREVE SÍNTESE DO AIA


No dia 20 de maio de 2020, compareceu à propriedade rural da Autuada, um fiscal do
Instituto do Meio Ambiente - IMA, e lavrou o Auto de Infração Ambiental..., por entender
equivocadamente, concessa venia, que a Autuada teria construído um galpão em sua propriedade rural,
de forma irregular em área de preservação permanente, indicando como norma infringida o art. 66 do
Dec. 6.514/98, in verbis:

Art. 66.  Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos, atividades,


obras ou serviços utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou
potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes,
em desacordo com a licença obtida ou contrariando as normas legais e regulamentos
pertinentes: [...]

Em razão disso, o fiscal aplicou multa no valor de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco


reais), e lavrou o Termo de Embargo... Contudo, o auto de infração ambiental epigrafado merece ser
anulado/cancelado ante a atipicidade da conduta, pois não houve construção de galpão em área de
preservação permanente, conforme será demonstrado.

4. DO MÉRITO

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A Constituição Federal de 1988 assegura em seu art. 5º, que todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, e ainda:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são


assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Cediço que a imposição de multa administrativa possui caráter penalizador, e


afigurando-se como medida rigorosa e privativa de uma liberdade pública constitucionalmente
assegurada, exige-se a demonstração cabal da autoria e materialidade, que são pressupostos
autorizadores da imposição de sanção. Na hipótese de constarem nos autos elementos de prova que
conduzam à dúvida acerca da autoria delitiva, o cancelamento do auto de infração é medida que se
impõe, em observância ao princípio do in dubio pro reo.

E mais. A Administração Pública só pode fazer o que está expressamente previsto em


lei, ou seja, só se pode lavrar auto de infração quando ficar evidenciada uma ação ou omissão contrária
a legislação ambiental, o que não é o caso em tela, como será melhor delineado nos capítulos
seguintes, e que importa na anulação do auto de infração em tela.

4.1. DA ATIPICIDADE DA CONDUTA


O Auto de Infração Ambiental... foi lavrado porque a Autuada supostamente teria
construído um galpão em área de preservação permanente sem o devido licenciamento prévio, cuja
norma infringida seria o art. 66 do Dec. 6.514/98, in verbis:

Art. 66.  Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos, atividades,


obras ou serviços utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou
potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes,
em desacordo com a licença obtida ou contrariando as normas legais e regulamentos
pertinentes: [...]

Ocorre que a Autuada não construiu em Área de Preservação Permanente - APP. Isso
porque, consta no art. 3º, inciso II, da Lei Federal 12.651/12 que: “Área de Preservação Permanente -
APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;” E no art. 4º, incisos I a
XI, do mesmo diploma, enumeram-se quais são as áreas consideradas APP, ou seja, ex lege, sendo
que nenhuma delas consta no AIA.

Com efeito, não há que se falar em APP, porque nenhum dos requisitos da Lei estão
presentes. Tanto o é, que não consta no Auto de Infração Ambiental... qualquer das hipóteses previstas
no art. 4 da Lei Federal 12.651/12. Ademais, o imóvel rural de propriedade da Autuada possui ocupação
antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, caracterizando-se como área consolidada.

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Portanto, ausente os pressupostos caracterizados da infração hostilizada, requer a
anulação ou cancelamento do Auto de Infração Ambiental... lavrado em desfavor da Autuada.

5. CONVERSÃO DA MULTA EM ADVERTÊNCIA - POSSIBILIDADE


Ao lavrar o Auto de Infração Ambiental..., o fiscal do Instituto do Meio Ambiente - IMA
aplicou multa simples no valor de R$ 45.000,00. Ocorre que, a construção do galpão em estágio inicial
não causou nenhum dano ao meio ambiente, até porque, trata-se de área rural consolidada.
E ainda que se entenda diferente, não foi realizada nenhuma intervenção em área de
preservação permanente, muito menos supressão de qualquer tipo de vegetação. Além do mais, o
galpão construído pela Autuada é classificado pelo próprio Instituto do Meio Ambiente - IMA como de
baixo impacto ambiental.
Nesse sentir, dispõe o art. 62 da Lei Estadual 14.675/2009:
Art. 62º. Sempre que de uma infração ambiental não tenha decorrido dano ambiental
relevante, serão as penas de multa convertidas em advertência, salvo em caso de
reincidência.

Frise-se que não há reincidência. Já o conceito de dano ambiental relevante vem


expresso no parágrafo único do próprio dispositivo, veja:

Parágrafo único. Dano ambiental relevante é aquele que causa desocupação da área atingida
pelo evento danoso, afeta a saúde pública das pessoas do local, ou causa mortandade de
fauna e flora.

Evidente que a construção de galpão em estágio inicial verificada in loco pelo fiscal,
não causou a desocupação da área atingida, e de igual forma, não afetou a saúde pública, tão pouco
mortandade de fauna ou flora. Portanto, a aplicação do art. 62, é medida que se impõe, até porque, é
uma obrigação imposta por Lei (v. termo “serão”).

6. ATENUANTES
Subsidiariamente, se esta autoridade julgadora não entender pela nulidade do AIA ou
conversão da multa em advertência, requer sejam aplicadas as circunstâncias atenuantes para fins de
redução do valor da multa, porque:
i. A Autuada colaborou com a fiscalização como o próprio fiscal consignou no
AIA;
ii. Permaneceu no local da ocorrência;
iii. Possui baixo grau de instrução ou escolaridade;
iv. É micro infratora;
v. Os supostos danos são reversíveis em curto espaço de tempo; e,
vi. Realizou as exigências requeridas pelo fiscal consistentes no desfazimento do
galpão, mesmo tratando-se de área rural consolidada.

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Dessa forma, requer a redução do valor da multa para o mínimo legal previsto no art.
66 do Decreto 6.514/08.

7. DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer se digne esta Autoridade Julgadora:

a) Seja declarado nulo o Auto de Infração Ambiental..., ante a ausência da intimação/notificação para
participar da audiência de conciliação;
b) Subsidiariamente, requer seja anulado ou cancelado o Auto de Infração Ambiental... por atipicidade
da conduta;
c) No caso de os requerimentos anteriores não serem acolhidos por esta autoridade julgadora, requer
a conversão da multa em advertência, nos termos do art. 62 da Lei 14.675/2009, ou ainda, com
base nas atenuantes e ausência de dano ambiental, seja reduzido o valor da multa para o mínimo
legal previsto para a infração;
d) Requer seja a Autuada intimada no seu endereço por via postal com aviso de recebimento, para
apresentar alegações finais, bem como, da decisão de julgamento do presente processo
administrativo para interposição de eventual recurso administrativo, sob pena de nulidade;
e) Ao final, no caso de manutenção do Auto de Infração Ambiental..., requer o pagamento da multa
com 30% (trinta por cento) de desconto em conformidade com o art. 64 da Lei 14.675/2009 c/c art.
101 da Portaria Conjunta CPMA/IMA 143/2019.
f) Em qualquer dos casos, requer a revogação do Termo de Embargo...
g) Requer a produção de todos os meios de prova em direito admitidos;
h) Informa que, como providencia imediata, desfez o galpão;

Requer e espera deferimento.


Município/SC, 25 de junho de 2020.

AUTUADA

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