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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2017.0000607264

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2099512-34.2014.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante ARANHA
BARBOSA PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA., é
agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 15ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUCILA TOLEDO


(Presidente sem voto), JOSÉ WAGNER DE OLIVEIRA MELATTO PEIXOTO E
MENDES PEREIRA.

São Paulo, 16 de agosto de 2017.

Coelho Mendes
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VO TO Nº: 2 0 4 5 7
AG RAV O D E I NST RUM ENT O N º: 2 0 9 9 5 1 2 - 3 4 .2 0 1 4 .8 . 2 6 . 0 0 0 0
CO MAR CA: SÃ O P AUL O
O R IG E M: 4 3 ª VA RA CÍV EL DO FÓ R UM CEN TRA L
J U IZA DE 1 ª IN ST. : F ABI O C O IM BRA J U NQ U EIR A

AG TE. : A RAN H A BAR BO S A P ART ICI PAÇ Õ ES E EMP REE NDI MEN TO S
IM O BI LIÁ RIO S L TDA .

AG DO . : M INI STÉ RIO PÚ BLI CO DO EST ADO DE SÃ O P AUL O

EXECUÇÃO. COBRANÇA DE MULTA PREVISTA EM TERMO


DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. DECISÃO QUE
RECONHECEU A PRESCRIÇÃO DE PARTE DA PRETENSÃO
EXECUTIVA. INCONFORMISMO QUE VISA O
RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO INTEGRAL. A
OBRIGAÇÃO ESTABELECIDA NO TERMO DE AJUSTAMENTO
DE CONDUTA É CONSIDERADA IMPRESCRITÍVEL E,
CONSEQUENTEMENTE, NÃO É POSSÍVEL AFASTAR
INTEGRALMENTE A MULTA COBRADA NESTA EXECUÇÃO.
RECURSO DESPROVIDO.

Vistos.

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão,


digitalizada às fls. 34/35, que declarou a prescrição das parcelas relativas à multa
executada, constituídas até 26/11/2007, mantendo a execução do restante, determinando ao
exequente a apresentação de nova planilha de cálculos.
A agravante sustenta, em síntese, estar configurada a integral
prescrição dos valores exigidos nesta execução, fundada em Termo de Ajustamento de
Conduta, uma vez que, apesar de se tratar de multa diária, deve ser considerada uma única
data para contagem do prazo prescricional, ou seja, 09/02/2006.
Recurso incialmente distribuído a esta Câmara de Direito Privado,
mas encaminhado, por acórdão, a uma das Câmaras Reservadas ao Meio Ambiente, que,
em seguida, determinou o encaminhamento dos autos a uma das Câmaras de Direito
Público, que suscitou conflito competência, acolhido para reconhecer a competência desta
Segunda Subseção de Direito Privado.

Agravo de Instrumento nº 2099512-34.2014.8.26.0000 -Voto nº 20457 – BAS/CM 2


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A douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se pelo


desprovimento (fls. 102/113).
O Ministério Público exequente apresentou contraminuta (fls.
119/125).

É o relatório.

O inconformismo não merece acolhimento.


A presente execução foi ajuizada com fundamento no
descumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta, firmado com a Promotoria de
Justiça do Meio Ambiente de São Paulo, no qual a agravante assumiu obrigação de garantir
a segurança estrutural da edificação de imóvel tombado pelo Conselho Municipal de
Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, sob
pena de multa diária (fls. 22 e 126/128).
A decisão recorrida deixou consignado:

“(...) De seu lado, aduz o exequente a imprescritibilidade do crédito


exigido, uma vez que fundado em direito coletivo e, portanto, de
interesse público. Além disso, tratando-se de bem tombado, destinado a
preservar o patrimônio cultural para as gerações futuras, afigura-se
premente a impossibilidade de se aplicar, no caso concreto, o instituto
da prescrição. Este Juízo concorda com o Ministério Público no tocante
à imprescritibilidade da pretensão de se exigir a reparação do dano
causado ao bem tombado, eis que consiste na proteção do patrimônio
cultural, que pode ser inserido entre os direitos fundamentais de 3ª
geração, também, chamadas de direitos de solidariedade desse modo,
um instituto jurídico de natureza eminentemente privada, como a
prescrição, não poderia prevalecer ou impedir a efetivação de direitos
intergeracionais, de índole perpétua e sem titular definido, pertencentes
à coletividade como um todo. A presente execução, todavia, não se
destina a exigir a reparação do bem tombado. Destina-se, em verdade, a
exigir o pagamento de multa pelo descumprimento do Termo de
Ajustamento de Conduta de pags. 464/466. Nesse sentido, a multa não
goza das características delineadas acima. Como toda punição, sua não
efetivação no prazo legal sujeita-se a deixar de ser exigível. Não se
cogita de punição que perdure pela eternidade. Nesta senda, no que diz
respeito à cobrança de multa, é perfeitamente possível a ocorrência da
prescrição. Observo, entretanto, que a multa prevista no TAC não
incidiu de uma única vez ao contrário, a multa foi estabelecida na
modalidade diária, constituindo-se paulatinamente, dia a dia, desde o
primeiro inadimplemento 09/02/2006 (05-A) até o dia da propositura
desta demanda. Isto leva à conclusão de que estariam prescritas apenas
as parcelas da multa constituídas até 05 (cinco) anos antes da

Agravo de Instrumento nº 2099512-34.2014.8.26.0000 -Voto nº 20457 – BAS/CM 3


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propositura desta execução, nos termos do artigo 206, § 5º, inciso 1, do


Código Civil. Ou seja, são exigíveis apenas os valores diários apurados
a partir de 26/11/2007. Ante o exposto, declaro prescritas as parcelas da
multa executada constituídas até o dia 26/11/2007, mantendo-se a
execução pelo restante (...).”

Este entendimento deve ser mantido, uma vez que a obrigação


estabelecida no termo de ajustamento de conduta, consistente na garantia da segurança
estrutural do bem tombado, não se submete à prescrição. Portanto, obviamente, a multa
prevista ao seu cumprimento pode ser exigida nos termos determinados na decisão
recorrida.
Saliente-se:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - Exceção de préexecutividade em


execução de quantia certa - Multa por descumprimento de
compromisso de ajustamento de conduta. 1) Pretendido o
reconhecimento da prescrição - Inocorrência - Inaplicável o prazo
quinquenal - Descumprimento que se protrai no tempo -
Descumprimento das obrigações pactuadas que não se equipara a
infração ambiental - Precedentes das Câmaras Reservadas ao Meio
Ambiente. 2) Nulidade do título por ausência de liquidez - Não
cabimento - Título que descreve de forma clara as obrigações do
compromitente, assumidas há mais de onze anos. 3) - Multa diária
fixada em um salário mínimo livremente pactuada pelas partes - Valor
elevado que decorre do longo tempo sem cumprimento das obrigações -
Precedente desta Câmara. 4) Alegado cumprimento das obrigações -
Análise que demanda dilação probatória, incabível em sede de exceção
de pré-executividade - Decisão mantida - Recurso improvido.” (Agravo
de instrumento nº 011205-70.2015.8.26.0000, Rel. Des. Eutálio Porto, j.
18/06/2015, grifo nosso).

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL - EXECUÇÃO DE TAC


FIRMADO - OBRIGAÇÃO DE FAZER - EMBARGOS - LEGITIMIDADE
- EQUIVALÊNCIA, PARA FINS PROCESSUAIS, DAS EXPRESSÕES
“MUNICÍPIO” E “PREFEITURA” - RECONHECIMENTO -
DISPOSIÇÃO IRREGULAR DE RESÍDUOS SÓLIDOS - DANO
AMBIENTAL QUE NÃO CESSOU E SE PROLONGA NO TEMPO -
PRESCRIÇÃO NÃO OCORRÊNCIA. I- Conquanto seja o Município de
Jandira, ao rigor da técnica processual, o detentor da legitimidade no
presente caso, as expressões “município” e “prefeitura” são
equivalentes para fins processuais, não sendo tal confusão capaz de
configurar ilegitimidade de parte. II- Impertinente a arguição de
ocorrência de prescrição, justamente porque o dano decorrente da
degradação ambiental se prolonga no tempo. Logo, enquanto persistir
a situação danosa, não há que se falar em perda da pretensão de exigir
a satisfação das obrigações contidas no Termo de Ajustamento de
Conduta que deu ensejo à execução ajuizada”. (Apelação nº
0004409-49.2010.8.26.0299, Rel. Des. Paulo Ayrosa, j. 21/05/2015, grifo
nosso).
Agravo de Instrumento nº 2099512-34.2014.8.26.0000 -Voto nº 20457 – BAS/CM 4
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“APELAÇÃO. Loteamento irregular. Termo de ajustamento de conduta


(TAC). Embargos à execução. Preliminar. Cerceamento de defesa não
configurado. Provas requeridas desnecessárias. Mérito. Prescrição não
configurada. Imprescritibilidade dos danos ambientais e urbanísticos.
Revogação tácita do TAC. Inadmissibilidade. Certeza, liquidez e
exigibilidade do título. Sentença mantida. Recurso improvido”.
(Apelação nº 1005673-16.2015.8.26.0362, Rel. Des. Hamid Bdine, j.
7/06/ 2017).

O Superior Tribunal de Justiça já decidiu:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO IRREGULAR. DANOS


AMBIENTAIS. IMPRESCRITIBILIDADE. 1. Conforme consignado na
análise monocrática, a jurisprudência desta Corte é firme no sentido de
que as infrações ao meio ambiente são de caráter continuado, motivo
pelo qual as ações de pretensão de cessação dos danos ambientais são
imprescritíveis. 2. Agravo Interno não provido. (AgInt no AREsp
928184 / SP, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 01/02/2017).

Posto isto, pelo meu voto, NEGO PROVIMENTO ao recurso.

COELHO MENDES
Relator

Agravo de Instrumento nº 2099512-34.2014.8.26.0000 -Voto nº 20457 – BAS/CM 5

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