Você está na página 1de 7

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAO PAULO


ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°
^ ACÓRDÃO

(r
"NULIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS - REPETIÇÃO DE
INDÉBITO - PRESCRIÇÃO - Hipótese de lapso prescricional
\r vintenário - Aplicação do art. 177, do ACC - Inteligência do art.
2.028, do NCC - Inaplicabilidade do art. 206, §3°, II e IV do NCC -
Prescrição afastada - Sentença mantida - Apelo do réu
improvido".

Vn "NULIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS - REPETIÇÃO DE


INDÉBITO - CAPITALIZAÇÃO DE JUROS - É vedada a capitalização
de juros, ainda que expressamente convencionada - A única
exceção que se abre está na capitalização mensal que se admite
(r nas cédulas previstas em leis especiais, ou nos contratos
celebrados após a entrada em vigor da Medida Provisória n° 1.963-
17/2000, de 30.03.2000, e suas reedições - Contratos firmados
antes da edição da MP - Necessário o expurgo da aludida prática -
Decisão mantida - Apelo do réu improvido".

"NULIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS - REPETIÇÃO DE


INDÉBITO - MÁ-FÉ - Não obstante tenha havido cobrança
excessiva, não restou demonstrado nos autos que a instituição
financeira agiu de má-fé - Valor pago indevidamente será
eventualmente devolvido, com a devida atualização, mas não em
dobro, como pleiteia o autor - Decisão mantida - Apelo do autor
improvido".

"NULIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS - REPETIÇÃO DE


INDÉBITO - LIMITAÇÃO DE JUROS - Entendimento desta C.
Câmara de que o artigo 192, § 3o, da Constituição Federal, mesmo
antes de sua revogação, não era auto-aplicável, dependendo, pois,
de regulamentação - Decisão mantida - Apelo do autor
improvido".

"NULIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS - REPETIÇÃO


INDÉBITO - INADIMPLÊNCIA - CUMULAÇÃO - MULTA - JUf
MORATÓRIOS - Cabível a cumulação da cobrança, em caso de
inadimplência, da multa contratual com os juros moratórias, nos
termos dos contratos celebrados - Apelo do autor improvido"

Vistos, relatados e discutidos estes /autos de


APELAÇÃO N° 7.032.041-5, da Comarca de ARAÇATUBA, sendo
apelante BANCO DO ESTADO DE SÃOPÀULO S/A BANESPA e
apelado PLÍNIO FERNANDES DOS SANTOS «JUST,

ACORDAM, em VigéS Direito


Privado do Tribunal de Justiça, por votação/urt proVimento
aos recursos.

ARTES GRÁFICAS - TJ
41.0035
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelo das partes em face da r. sentença de parcial


procedência, proferida em ação de nulidade de cláusulas contratuais c.c.
repetição de indébito.

O NCC trouxe, no art. 206, §3°, II e IV, prazo


prescricional de três anos para a pretensão de repetir juros cobrados
capitalizados. Celebrada a renegociação espontânea entre as partes, é
defeso para qualquer delas pretender a revisão contratual. Com a edição
da MP 1963-17/2000, foi autorizada a capitalização de juros. Existente lei
prevendo a capitalização, a cláusula contratual jamais poderá ser
considerada abusiva. Não há cláusula contratual acerca da imputação de
pagamento. Requer o provimento do recurso, com a reforma da r.
sentença.

Por sua vez, sustenta o autor que os valores


indevidamente pagos à maior devem ser restituídos em dobro. Há
excesso na cobrança da taxa de juros. A multa contratual não pode ser
cobrada ao mesmo tempo em que os juros moratórios. Requer o
provimento do recurso, com a reforma da r. sentença.

A instituição financeira apresentou contra-razões (fls.


456/468), assim como o autor (fls. 470/484).

É o relatório.

Trata-se de ação de nulidade de cláusulas contrat/fais


c.c. repetição de indébito, com base em contratos de empréstimo firr/íados
entre as partes, a partir da conta corrente n° 0008.01.010292-5.

A autora sustentou, na iniciaL-que o reu cometeu


irregularidades na cobrança do débito, a^jua|s deveriarty se/expurgadas
pela r. sentença (fls. 02/42).

O réu apresentou corrtes/açc a/ónde/rebatàu as teses


formuladas pelo autor e pleiteou a improced 4la der/anda (fls. 72/92).

Réplica às fls. 105/12'

Foi apresentado lauao perici ai às Ais. 314/35


APEL.N0 7.032.041-5 - ARAÇATUBA - VOTO 12481 - Aáiriana üsleine/Rena/a

ARTES GRÁFICAS - T J
41.0035
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
3

O ilustre magistrado "a quo" afastou a prescrição


alegada pelo réu e entendeu como aplicável a legislação consumerista.
Afastou, ainda, a pretendida limitação dos juros no patamar de 12% ao
ano, bem como a alegação de imputação de pagamento. Manteve a
cláusula penal contratada, cumulada com juros moratórios, bem como a
inscrição do nome do autor nos órgãos de proteção ao crédito. Entretanto,
afastou a capitalização de juros (fls. 418/432).

Contra esta decisão insurgem-se as partes.

Por uma questão de técnica de julgamento, analisa-


se, primeiramente, o recurso do réu.

Bem afastada pela r. sentença a alegação de


prescrição.

Inaplicável, ao contrário do alegado pela instituição


financeira, à espécie, o art. 206, §3°, II e IV do NCC.

Dispõe o art. 2.028 daquele diploma legal que "serão


os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na
data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade/ao
tempo estabelecido na lei revogada".

Inexistente, na legislação anterior, previsãc^éspecífica


em relação à prescrição alegada no caso em tela, entende-serque há de
ser observado o artigo 177 do ACC, o qual prevê a pfesb[içãç/de natureza
pessoal, de 20 anos.

Afasta-se, ainda,(a alegação de impossibilidade de


revisão das cláusulas contratuais, vez quçexMei «revisão legal rara tanto
no art. 6o, V, do Código de Defesa do Consítt^ari/aplidavel à espécie.

Dispõe a Súmula 121 do STF, àiilda em vigor, que "é


vedada a capitalização de juros, /ainqa q^ie expressamente
convencionada".

APEL.N0 7.032.041-5 - ARAÇATUBA - VOTO 12481 -|Adriayía, Gisleine/Renatg

ARTES GRÁFICAS-TJ
41.0035
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

A única exceção que se abre está na capitalização


mensal que se admite nas cédulas previstas em leis especiais, ou nos
contratos celebrados após a entrada em vigor da Medida Provisória n°
1.963-17/2000, de 30.03.2000, e suas reedições, que não é o caso dos
autos, vez que a conta corrente foi aberta em data anterior à entrada em
vigor da aludida MP, bem como o contrato foi firmado em 21.10.99 (fl.
44v), motivo pelo qual deve ser expurgada tal prática, considerada ilegal
no presente caso, como bem constou da r. sentença.

"Superior Tribunal de Justiça - ACÓRDÃO: RESP


457111/RS (200200966011) - 515793 - RECURSO ESPECIAL -
DECISÃO: Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima
indicadas: Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, conhecer parcialmente do recurso e, nessa parte, dar-lhe
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na forma do
relatório e notas taquígráficas precedentes que integram o presente
julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros César Asfor Rocha,
Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Júnior e Sálvio de Figueiredo
Teixeira. DATA DA DECISÃO: 02/09/2003 - ÓRGÃO JULGADOR: -
QUARTA TURMA - E M E N T A - CARTÃO DE CRÉDITO. JUROS
REMUNERATÓRIOS. APLICAÇÃO DO CDC. CAPITALIZAÇÃO
MENSAL. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. - As administradoras de
cartões de crédito inserem-se entre as instituições financeiras regidas
pela Lei n° 4.595/64. - O simples fato de o contrato estipular a taxa de
juros remuneratórios acima de 12% a. a. não significa, por si só,
vantagem exagerada ou abusividade. Necessidade que se evidencie, em
cada caso, o abuso alegado por parte da instituição financeira. - Somente
nas hipóteses em que expressamente autorizada por leis especiais,
capitalização mensal dos juros mostra-se admissível. Nos demais
casos é vedada, mesmo quando pactuada, não tendo sido revqgado
pela Lei n° 4.595/64 o art. 4o do Decreto n° 22.626/33. Dessa prc
não se acham excluídas as instituições financeiras. - Discutir se a
comissão de permanência está sendo cobrada paralelamente/correção
monetária envolve análise de disposição contratual (Súmulasyn0 s 5-STJ).
Recurso especial conhecido, em parte vido. RELATOR: MINISTRO
BARROS MONTEIRO - INDEXAÇ VII E EMENTA. SUCESSIVOS
RESP 533266 RS 2003/0061557 DECf ÃO: odmipÇft DJ DATA
17/11/2003 PG: 00338 RESP 52 1466 2003/0034969^ DECISÃO
26/08/2003 DJ DATA: 17/11/200 00B37 :SP 91482 RS
2002/0155162-0 DECISÃO: 02/09/2003 11/2003 PG: 00333
- FONTE: DJ DATA: 17/11/2003 0332 VEJA (CDC E
CONTRATOS BANCÁRIOS - APLICAB/LlDAlD ST/J - RESP 407097-RS,
RESP 420111-RS (CAPITALIZAÇÃO MENS \L JUROS) $TJ - RESP
135262-RS, RESP 154935-RJ (RDTÍRJ 3799), 743?-PR (JBCC
195/161), RESP 2393-SP, RESP /3099-GD ;SP PR, RESP
3571-MS, RESP 16254-SP, RESP 5644-RJ3 ( ARS 5, LEXSTJ
APELN 0 7.032.041-5 -ARAÇATUBA- VOTO 1248 Adriana/Gisleine/Rfenata

ARTES GRÁFICAS - TJ 41.0035


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

29/162), RESP 56604-RS, RESP 98890-MG - REFERÊNCIAS


LEGISLATIVAS: LEG: FED LEI: 008078 ANO: 1990 CDC-90 CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR LEG: FED DEL: 022626 ANO: 1933
ART: 00004 LEG: FED LEI: 004595 ANO: 1964 ART: 00004 INC: 00009".

Impõe-se, portanto, neste aspecto, a manutenção da


r. sentença, que afastou a capitalização de juros aplicada ao contrato em
discussão.

Passa-se à análise do recurso do autor.

Em relação aos juros, esta O Câmara vinha


entendendo, de forma unânime e pacífica, da mesma forma que a
jurisprudência, que o artigo 192, § 3o, da Constituição Federal, antes
mesmo de sua revogação, não era auto-aplicável, dependendo de
regulamentação.

Neste sentido:

"Juros Reais - Execução por título Extrajudicial -


Nota promissória vinculada a borderô de desconto - Limitação em 12%
ao ano, com base no art. 192, § 3o, da CF - Impossibilidade -
Dispositivo que depende de regulamentação para sua aplicação
imediata - Embargos do devedor improcedentes - Recurso improvido
nesta parte (1 o TAC - Rei. Correia Lima - 1 a Câmara - Apel. N° 07910627
5/00 - Acórdão 34410 - Julg. 14-02-2000)".

Perfeitamente cabível, portanto, a aplicação is juros


previstos contratualmente.

Com relação à devolução em 'dobro >âe eventuais


valores pagos indevidamente, não assiste razão ao autor.

A Súmula 159, d o ^ T F , idjfepõe/ què\ "cobrança


excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar/às^satações/do ari 1.531 do
Código Civil".

Tal dispositivo corresponde aoaiH/940, doNCC

APEL.N0 7.032.041-5 - ARAÇATUBA - VOTO 12481 - / idrianã/tèisleine/Renáta

ARTES GRÁFICAS-TJ
41.0035
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
6

Não obstante a cobrança tenha sido excessiva, não


há de provas de que a instituição financeira agiu de má-fé, motivo pelo
qual eventual quantia deve ser devolvida, mas não em dobro, como
pleiteia o apelante.

Analisa-se a questão referente à possibilidade de


cobrança cumulativa entre a multa contratual e os juros moratórios.

Os contratos celebrados entre as partes prevêem, em


suas cláusulas, em caso de inadimplemento, a cobrança cumulativa de
multa contratual e juros moratórios (fls. 44/46).

Portanto, ante a previsão contratual, perfeitamente


cabível a cobrança cumulativa, em caso de inadimplemento, de multa
contratual com juros moratórios.

Sobre a questão, veja-se:

"Superior Tribunal de Justiça - ACÓRDÃO: RESPy


271214/RS (200000792497) - 495561 - RECURSO ESPECIAL
DECISÃO: Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes^as
acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer em parte do readrso, e,
por maioria, dar-lhe parcial provimento para autorizar a utilização da TR
como índice de correção monetária até o vencimento do contrato, a
majoração da multa para 10%, a cobrança dos juros remuneratórios às
taxas fixadas no contrato até o vencimento deste, da ^comissão de
permanência para o período da inadimplência, não cumulada com
correção monetária, nos termos da Súmula n° 38. nen/ com os juros
remuneratórios, calculada a taxa médja^^s juros qe rjTÍercado apurada
pelo
Banco Central/do Brasjl, não podando ultrapassar a
taxa do contrato. Lavrará o AcórdãcXo Sr. Ministi Carlos^Iberto Menezes
Direito. Foram votos vencedores os Sr^M/nislfa Ca/los Á\berto Menezes
Direito, Aldir Passarinho Júnior, Nancy Ai Castro Fifho e Sálvio de
Figueiredo Teixeira. Vencidos em parte os Miriistros Ari Pargendler,
Antônio de Pádua Ribeiro e Ruy Rosado d . Não participou do
julgamento o Sr. Ministro Fernando Gonçalves (; 162, §I.o, doRISTJ).
DATA DA DECISÃO: 12/03/2003 - ÓRGÃÇ) J ÍGADOR: SEGUNDA
SEÇÃO - E M E N T A - Ação de revisão. Embargfcs à execução. Contrato

APEL.N0 7.032.041-5-ARAÇATUBA-VOTO 124Í1 - Aá iana/Gisleine/Áenata

ARTES GRÁFICAS-TJ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
7

de abertura de crédito. Juros. Correção monetária. Capitalização.


Comissão de permanência. Multa. Precedentes. 1. O contrato de abertura
de crédito não é hábil para ensejar a execução, não gozando a nota
promissória vinculada de autonomia em razão da iliquidez do título que a
originou, nos termos das Súmulas n° s 233 e 258 da Corte. 2. O Código
de Defesa do Consumidor, como assentado em precedentes da Corte,
aplica-se em contratos da espécie sob julgamento. 3. Havendo pacto,
admite a jurisprudência da Corte a utilização da TR como índice de
correção monetária. 4. A Lei n° 9.298/96 não se aplica aos contratos
anteriores, de acordo com inúmeros precedentes da Corte. 5. Os juros
remuneratórios contratados são aplicados, não demonstrada,
efetivamente, a eventual abusividade. 6. A comissão de permanência,
para o período de inadimplência, é cabível, não cumulada com a correção
monetária, nos termos da Súmula n° 30 da Corte, nem com juros
remuneratórios, calculada pela taxa média dos juros de mercado, apurada
pelo Banco Central do Brasil, não podendo ultrapassar a taxa do contrato.
7. Recurso especial conhecido e provido, em parte. RELATOR:
MINISTRO ARI PARGENDLER - RELATOR ACÓRDÃO: MINISTRO
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO".

A hipótese é de se manter a r. sentença recorrida.

Postas essas premissas, nega-se provimento a


ambos os recursos.

Presidiu o julgamento o Desembargador SALLES


VIEIRA (Relator) e dele participaram os Desembargadores CARLOS
ABRÃO (Revisor) e PLÍNIO NOVAES DE ANDRADE JÚNIOR (3o
Desembargador).

Sà\Paulo, 30 dàà&osto de 2010.

SALLES VIEIRA
Relator

APEL.N0 7.032.041-5 - ARAÇATUBA - VOTO 12481 - Adriana/Gisleine/Renata

ARTES GRÁFICAS-TJ 41.0035

Você também pode gostar