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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0024.14.195877-7/001 Númeração 1958777-


Relator: Des.(a) José Flávio de Almeida
Relator do Acordão: Des.(a) José Flávio de Almeida
Data do Julgamento: 18/09/2019
Data da Publicação: 26/09/2019

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO RENOVATÓRIA DE LOCAÇÃO -


PRAZO DECADENCIAL - ART. 51, § 5º DA LEI Nº 8.245/91 - AÇÃO
AJUIZADA APÓS ENCERRADO O PRAZO DE VALIDADE DO CONTRATO
- DECADÊNCIA - TRAMITAÇÃO DE AÇÃO RENOVATÓRIA ANTERIOR -
SUSPENSÃO OU INTERRUPÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - RETOMADA DO
IMÓVEL - CONSEQUÊNCIA DA NÃO RENOVAÇÃO - INDENIZAÇÃO
INDEVIDA. 1. "Tratando-se de decadência, esse prazo não admite
interrupção ou suspensão, sendo disposição cogente. É intempestivo o
ajuizamento [de ação renovatória] antes ou depois desse prazo". 2. "É direito
do locatário o ajuizamento de uma segunda ação renovatória enquanto
pendente de julgamento demanda que igualmente visa à renovação da
relação locatícia, porém relativa a período anterior". 3. O art. 53 da Lei
8.245/91 não afasta o direito do locador na retomada do imóvel em ação
renovatória. A retomada do imóvel em ação renovatória é consequência da
não renovação, nos termos do art. 74 da Lei 8.245/91. 4. O locatário terá
direito a indenização para ressarcimento dos prejuízos e dos lucros
cessantes se a renovação não ocorrer em razão de proposta de terceiro, em
melhores condições, ou se o locador, no prazo de três meses da entrega do
imóvel, não der o destino alegado ou não iniciar as obras determinadas pelo
Poder Público ou que declarou pretender realizar (§ 3º do art. 52 da Lei
8245/91). Deixando de ser renovado o contrato de locação em razão de
conduta exclusiva do locatário que deixou de exercer seu direito à renovação
no prazo legal, não há que se falar em indenização.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.14.195877-7/001 - COMARCA DE BELO


HORIZONTE - APELANTE(S): MINAS GERAIS EDUCACAO SA, UNA
GESTÃO PATRIMONIAL S.A. E OUTRO(A)(S) - APELADO(A)(S): CINTHIA

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

DE CASTRO AMARAL LACERDA DE OLIVEIRA E OUTRO(A)(S), ANA


LUISA VALADARES AMARAL

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 12ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO.

DES. JOSÉ FLÁVIO DE ALMEIDA

RELATOR.

DES. JOSÉ FLÁVIO DE ALMEIDA (RELATOR)

VOTO

UNA GESTÃO PATRIMONIAL S/A e MINAS GERAIS EDUCAÇÃO S/A


apelam contra a sentença (ff. 243/245v), integrada pela decisão de
aclaratórios (f. 270), destes autos da ação renovatória de locação que
acolheu prejudicial de mérito de decadência e julgou extinto o processo, nos
termos do art. 487, II do Código de Processo Civil. "Com fundamento no
artigo 74 c/c artigo 63, § 2º, ambos da Lei 8.245/91, decreto do despejo das
autoras/locatárias e de quem mais esteja ocupando o imóvel, concedendo-
lhes o prazo descrito na fundamentação desta sentença, para a desocupação
voluntária, sob pena de despejo compulsório, caso em que desde já fica
autorizado o arrombamento e a requisição de força policial, se tais medidas
extremas forem necessárias. Para execução provisória do despejo, fixo a
caução em dinheiro no valor equivalente a seis meses de aluguéis vigentes
entre as partes (art. 64 da Lei 8.245/91)". Condenou as

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autoras ao pagamento de custas processuais e de honorários advocatícios


de 10% do valor atualizado da causa.

As apelantes suscitam preliminar de nulidade da sentença por "negativa


de prestação jurisdicional", sob o argumento de que "houve propositura de
ação renovatória anterior que sequer havia sido julgada na data em que
considerou a decisão recorrida ser o dies ad quem do prazo decadencial. [...]
requereram ao Juízo recorrido enfrentasse tal questão que era indispensável
para aferir violação ao art. 51, § 5º da Lei de Locações [...]"; que deixou de
"enfrentar se a própria Lei em questão, em seu art. 71, diz ser um requisito
essencial para preencher os requisitos do antigo art. 282 do CPC, 'a prova do
preenchimento dos requisitos dos incisos I, II e III do art. 51', e portanto, da
comprovação de que 'o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos
prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos'"; que a
sentença restou omissa "já que pediu-se fosse sanada omissão para
enfrentar se, tratando-se de locação para instituição de ensino superior podia
ser rescindida fora das hipóteses previstas no art. 9º, a teor do art. 53, ambos
da Lei de Locações [...]" (f. 274v). Arguem, ainda, a nulidade da sentença por
cerceamento de defesa por não oportunizar a produção de prova que já
havia sido deferida.

No mérito, alegam que a sentença "incidiu em flagrante equívoco na


contagem do dies a quo" (f. 275); que "até o julgamento da ação renovatória
anterior, que somente se deu em 30/01/2014, não haviam estabelecidos os
marcos e prazos de vigência da locação. No entanto, a r. sentença concluiu
'teria a locatária até o dia 1º de janeiro de 2014 para ajuizar a presente ação
renovatória'. Como poderia fazê-lo se sequer o contrato anterior havia sido
renovado? [...] até o julgamento da anterior ação renovatória, contestada
pelas mesmas Rés, a própria data da finalização do prazo do contrato hoje
em vigor era controvertida e estava sub judice"; que "somente após a
prolação daquela sentença é que os marcos temporais contratuais se
estabeleceram, razão pela qual o prazo mínimo de seis meses previsto no
art. 51, §5º, da Lei de Locações, deve ser contado da data da prolatação da
sentença anterior que constitui o direito à renovação da locação e, assim, só
venceria no fim de julho e não em 1/1/2014, data

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em que sequer havia contrato renovado"; que "a própria Lei em questão, em
seu art. 71, diz ser um requisito essencial para preencher os requisitos do
antigo art. 282 do CPC, 'a prova do preenchimento dos requisitos dos incisos
I, II e III do art. 51', e portanto, da comprovação de que 'o prazo mínimo do
contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos
seja de cinco anos'. Desta feita, não poderiam as Recorrentes cumprir o
requisitos para propositura da ação renovatória em tela se a ação renovatória
anterior não havia sido sentenciada e tal decisão era constitutiva do direito
delas" (f. 275v). Trazem entendimento doutrinário e jurisprudencial no tema.

Afirmam que "tratando-se de locação para instituição de ensino superior,


não poderia ser rescindida fora das hipóteses previstas no art. 9º a teor do
art. 53, ambos da Lei de Locações" (f. 276); que "por força de lei, há
limitação do direito de propriedade, em homenagem ao interesse coletivo e
social que há nessas atividades desenvolvidas pelas locatárias" (f. 276v); que
"ainda mantida, d.v., a decretação do despejo, deve o recurso ser provido
para acolher pleito sucessivo formulado na inicial, de indenização por perdas
e danos e lucros cessantes, inclusive no que toca à exploração da
lanchonete, questão que sequer foi contestada ou dirimida na r. sentença" (f.
277). Pede o provimento do recurso e a reforma da sentença (ff. 273/280).

Preparo pago (ff. 280/280v).

Em resposta, as apeladas sustentam que "o fato de ainda estar em


tramitação ação renovatória referente a período anterior não eximia as
Apelantes de observar o prazo decadencial previsto no parágrafo 5º do artigo
51 da Lei do Inquilinato" (f. 285); que "reza o artigo 207 do Código Civil/02
que a decadência não é suspensa ou interrompida, inexistindo expressa
previsão legal no sentido que possa a mesma ser sobrestada até o trânsito
em julgado de uma decisão judicial e que, em razão desta, o prazo
decadencial possa ser alterado"; que "cabia às Apelantes propor a presente
ação no prazo mínimo de 06 meses antes da data final do período locatício
que foi objeto da primeira ação renovatória que era o dia 01.07.14, razão
pela qual a presente ação

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teria que ter sido proposta até o dia 31 de dezembro de 2013" (f. 285). Traz
entendimento jurisprudencial no tema. Alega que a "locação não foi
contratada para a instalação de estabelecimento de ensino, até porque,
como já dito, para este fim a UMA possui o prédio ao lado"; que "seja pelo
fato de que a locação não foi contratada para instalação de estabelecimento
de ensino, seja pelo fato de que a Primeira Apelante não é estabelecimento
de ensino e sim uma administradora de bens, não se pode dizer que à
locação em tela deve ser aplicado o disposto no Art. 53 da Lei 8.245"; que as
"próprias Apelantes confirmam a existência da cantina no imóvel"; que "o que
define se é cabível a proteção legal não é atividade principal da locatária,
mas a destinação do imóvel contratada pelas partes que, no presente caso,
resta incontroverso ter sido para 'fins de utilização exclusivamente
comerciais', valendo lembrar que estabelecimento de ensino (escola) não
exerce atividade comercial e sim de prestação de serviços" (f. 289); que o 53
se "limita a situações de rescisão de contrato através de ações de despejo, o
que não é o caso dos presentes autos, onde a desocupação se dá em razão
de 'não renovada a locação' [...]" (f. 290).

Afirmam que "a indenização somente seria cabível na hipótese prevista


no parágrafo 3º do artigo 52, ou seja, quando a renovação não ocorrer em
razão de melhor proposta de terceiro ou em caso de não dar o Locador o
destino alegado ao imóvel, o que não é o caso dos autos"; que "somente se
discute a indenização quando o locatário tem direito à renovação, o que não
aconteceu no presente caso, tendo em vista o fato que as Apelantes
decaíram de tal direito" (f. 291). Pedem os desprovimento do recurso e a
manutenção da sentença.

Conheço do recurso, porque estão presentes os pressupostos de


admissibilidade.

A preliminar de nulidade da sentença por negativa de prestação


jurisdicional se confunde com o mérito e assim será decidida. De igual modo
a preliminar de nulidade por cerceamento de defesa, porquanto, o
reconhecimento de decadência prejudica o exame das demais matérias
arguidas.

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As apelantes ajuizaram ação renovatória de locação com base no art. 51


da Lei 8.245/91, sob a alegação de que no prazo legal foi ajuizada "ação
renovatória distribuída sob o número 0024.08.279.507-1, perante a 10ª Vara
Cível de Belo horizonte via da qual decretou-se a renovação compulsória
pelo prazo de cinco anos, que vencerá dia 01/07/2014 [...]" (f. 03). Afirmam
que "o direito à renovação está sendo exercido a tempo e modo, já que,
como a sentença da renovatória anterior foi prolatada em 30/1/2014 e
publicada em 04/02/2014, não foi possível aos Autores manejar a ação antes
da decisão relativa à renovação anterior, já que a presente renovação
dependia da decisão que seria prolatada naqueles autos renovando, ou não,
a locação até 01/07/2014. Assim, as Autoras estão ajuizando a ação antes
de escoado o prazo locatício ora em vigor" (f. 05).

O MM. Juiz de Direito acolheu prejudicial de mérito de decadência e


julgou extinto processo, com os seguintes fundamentos:

[...] O réu sustenta a decadência do direito da autora à renovação. Salienta


que a presente ação renovatória foi postulada inobservando o comando do
parágrafo 5° do artigo 51 da Lei do Inquilinato, já que a autora postulara a
demanda um dia antes do vencimento do contrato a ser renovado, sendo que
o prazo mínimo é o de seis meses. Com efeito, dispõe o parágrafo quinto, do
artigo 51, da Lei 8.245/91: § 5º. Do direito a renovação decai aquele que não
propuser a ação no interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no
mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor. Da
análise da peça exordial, em atenção à sentença da ação carreada de n°
0024.08.279.507-1, percebe-se que a locação tinha data de término prevista
para o dia 1° de julho de 2014, portanto, teria a locatária até o dia 1° de
janeiro de 2014 para ajuizar a presente ação renovatória, mas só o fez no dia
30.06.2014, somente após já ter decorrido o prazo decadencial previsto na
legislação específica, alhures mencionada. Argumentaram as requerentes,
para justificar a não observância do prazo decadencial, que a presente ação
somente poderia ser proposta após o resultado da ação renovatória anterior,

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envolvendo o mesmo contrato. No entanto, tal justificativa não pode ser


acolhida, porque mesmo não sendo julgada a ação relacionada ao quinquídio
anterior da locação, a Lei Especial alhures mencionada não fez ressalva
acerca da obrigatoriedade do manejo da ação renovatória, no prazo mínimo
de seis meses que antecedem o prazo de vencimento do contrato, visando o
novo período de locação. Aliás, como sabemos, tratando-se de prazo
decadencial, não está sujeito às causas de suspensão ou interrupção
aplicáveis aos prazos prescricionais, pelo que nenhuma alteração sofreu o
prazo que as requerentes tinham para ajuizar a presente ação, visando a
discussão sobre o direito de renovação da locação para o novo período, não
tratado em sua ação anterior. Nesse sentido, dispõe o Código Civil: Art. 207.
Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas
que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição. Por fim, em não
sendo acolhido o pedido de renovação do contrato de locação, e diante do
pedido da parte locadora para o decreto do despejo das locatárias, tal
pretensão deverá ser acolhida, porque encontra respaldo no artigo 74 da Lei
8.245/91. Todavia, tratando-se de instituição de ensino, devidamente
autorizada a funcionar, não se deve aplicar o prazo máximo de trinta dias
para a desocupação do imóvel, porque isto poderia prejudicar os alunos
matriculados na instituição de ensino. Em sendo assim, fixo o prazo de
desocupação voluntária do imóvel, como sendo aquele que coincidir com as
férias escolares de junho ou julho de 2019, de acordo com o calendário
oficial da referida instituição, de modo a atender o que dispõe o artigo 63, §
2º, da Lei 8.245/91. Se não houver a desocupação voluntária em referido
prazo, o despejo compulsório poderá ser cumprido independentemente das
férias escolares (ff. 244v/245).

Data venia, as razões de apelação e os elementos de convicção


produzidos nos autos não infirmam os fundamentos e a conclusão da
sentença.

Dispõe o art. 51 da Lei 8.245/91:

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Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá


dir eit o a r e n o v a ç ã o d o c o n tr a to , p o r ig u a l p r a zo , d e sd e que,
c umulat iv a m e n t e :

I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo


determinado;

II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos


dos contratos escritos seja de cinco anos;

III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo
mínimo e ininterrupto de três anos.

[...]

§ 5º Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no


interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à
data da finalização do prazo do contrato em vigor.

Examinando o contrato de locação (f. 100) e a sentença que julgou


procedente em parte o pedido para declarar renovada a locação "a contar de
1º de julho de 2008 [2009], por igual prazo e nas mesmas condições até
então praticadas pelas partes" (f. 115), o término do prazo da locação
renovada ocorreu em 01/07/2014.

Com efeito, nos termos do § 5º do art. 51 da Lei 8.245/91, a segunda


ação renovatória deveria ter sido ajuizada no máximo, até 01/01/2014, ou
seja, seis meses antes da data da finalização do prazo do contrato renovado
conforme sentença proferida nos autos da precedente ação renovatória nº
0024.08.279.507-1 (ff. 110/115).

As apelantes alegam que "como a sentença da renovatória foi prolatada


em 30/01/2014 e publicada em 04/02/2014, não foi possível aos Autores
manejar a ação antes da decisão relativa à renovação anterior, já que a
presente renovação dependia da decisão que seria prolatada naqueles autos
renovando, ou não, a locação até

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01/07/2014" (ff. 04/05).

Contudo, razão alguma assiste às apelantes.

O fato de estar em tramitação ação renovatória anterior não justifica a


suspensão ou interrupção de prazo decadencial previsto na lei do inquilinato.
Para resguardar seu direito as apelantes deveriam ter ajuizado a ação
considerando o término final do prazo de locação, independentemente de
entenderem correta qualquer outra forma de contagem do prazo.

A propósito, leciona Silvio de Salvo Venosa:

A ação renovatória deve ser proposta no interregno de um ano até seis


meses anteriores ao final do contrato. Tratando-se de decadência, esse
prazo não admite interrupção ou suspensão, sendo disposição cogente. É
intempestivo o ajuizamento antes ou depois desse prazo. (...) (in Lei do
Inquilinato Comentada : doutrina e prática - 7. ed., São Paulo : Atlas, 2004, p.
247).

O colendo Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de que "a


data definida no contrato de locação para seu término, prevalece sobre
qualquer outra forma de contagem do lapso temporal de vigência do pacto"
(REsp 616.022/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado
em 15/04/2004, DJ 16/08/2004, p. 279).

Assim, como bem fundamentou o d. Sentenciante "tratando-se de prazo


decadencial, não está sujeito às causas de suspensão ou interrupção
aplicáveis aos prazos prescricionais, pelo que nenhuma alteração sofreu o
prazo que as requerentes tinham para ajuizar a presente ação, visando a
discussão sobre o direito de renovação da locação para o novo período, não
tratado em sua ação anterior" (f. 244v).

No tema este egrégio Tribunal de Justiça já decidiu:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DESPEJO. RETENÇÃO E

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INDENIZAÇÃO POR BENFEITORIAS. REJEIÇÃO. CLÁUSULA


CONTRATUAL. PREVISÃO DE RENÚNCIA. SÚMULA 335 DO STJ.
POSSIBILIDADE. RECONVENÇÃO. AÇÃO RENOVATÓRIA.
DECADÊNCIA. INTELIGÊNCIA DO ART. 51, §5º, LEI 8.245/91.
IMPROVIMENTO DO RECURSO. - Não é devida indenização por
benfeitorias no imóvel locado, se o contrato prevê renúncia ao direito,
conforme a súmula 335 do STJ. - Ainda que preenchidos os requisitos
cumulativos a que se refere o art. 51 da Lei 8.245/91, uma vez escoado o
prazo de 30 dias constante do §5º do mesmo preceptivo, decai do direito o
locatário que pretender a renovação do contrato. (TJMG - Agravo de
Instrumento-Cv 1.0713.13.006741-4/001, Relator(a): Des.(a) José Marcos
Vieira, 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 17/06/2015, publicação da
súmula em 26/06/2015).

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO RENOVATÓRIA - CONTRATO DE LOCAÇÃO


NÃO RESIDENCIAL - PREJUDICIAL DE DECADÊNCIA - NÃO
OBEDIÊNCIA DO PRAZO ESTABELECIDO NO ART. 51, §5º DA LEI N°
8.245/91- ACOLHIMENTO - RECURSO PROVIDO. - Nos termos do disposto
no § 5° do art. 51 da Lei n° 8.245/91, a ação renovatória deve ser ajuizada
dentro de prazo determinado de um ano até seis meses antes do vencimento
do contrato de locação a renovar. - A propositura da demanda em data
posterior ao término do período contratado enseja o reconhecimento da
decadência. (TJMG - Apelação Cível 1.0433.12.018104-8/001, Relator(a):
Des.(a) Wanderley Paiva, 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 22/04/2015,
publicação da súmula em 29/04/2015).

Demais disso, é direito do locatário o ajuizamento de ação renovatória


mesmo estando pendente de julgamento ação renovatória de período
anterior.

A propósito:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NA MEDIDA CAUTELAR.


PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO INDEFERIDO. JULGAMENTO DE
RECURSO QUE SE LIMITA À ANÁLISE DE MATÉRIA NÃO DECIDIDA.
RENOVATÓRIA DE LOCAÇÃO. AJUIZAMENTO DE NOVA AÇÃO
DURANTE O CURSO DE

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PEDIDO RENOVATÓRIO ANTERIOR. OBJETIVOS DIVERSOS.


POSSIBILIDADE. DECISÃO MANTIDA. 1. [...] 2. É direito do locatário o
ajuizamento de uma segunda ação renovatória enquanto pendente de
julgamento demanda que igualmente visa à renovação da relação locatícia,
porém relativa a período anterior. [...]. 3. Agravo regimental a que se nega
provimento. (AgRg na MC 21.209/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 23/10/2014, DJe 05/11/2014).

Assim, repita-se, para resguardar seu direito as apelantes deveriam ter


ingressado com esta ação renovatória até 01/01/2014, o que não ocorreu no
caso dos autos.

Com efeito, ajuizada esta ação renovatória somente em 30/06/2014 (f.


02v), após decorrido o prazo decadencial previsto no dispositivo legal em
referência, indene de dúvida o reconhecimento de decadência de seu direito.

Alegam ainda as apelantes que "tratando-se de locação para instituição


de ensino superior, não poderia ser rescindida fora das hipóteses previstas
no art. 9º a teor do art. 53, ambos da Lei de Locações" (f. 276).

Sem razão as apelantes.

Como bem observado pelas apeladas/rés, o art. 53 da Lei 8.245/91 não


afasta o direito do locador na retomada do imóvel em ação renovatória. O
precitado dispositivo legal se refere a situações de rescisão de contrato por
meio de ação de despejo, o que não é o caso dos autos.

A retomada do imóvel em ação renovatória é consequência da não


renovação, nos termos do art. 74 da Lei 8.245/91, litteris:

Art. 74. Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a expedição de


mandado de despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a
desocupação voluntária, se houver pedido na contestação.

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Por fim, defendem as apelantes que mantida a "decretação do despejo,


deve o recurso ser provido para acolher pleito sucessivo formulado na inicial,
de indenização por perdas e danos e lucros cessantes [...]" (f. 277).

Mais uma vez sem razão as apelantes, data venia.

Dispõe o § 3º do art. 52 da Lei 8245/91 que "o locatário terá direito a


indenização para ressarcimento dos prejuízos e dos lucros cessantes que
tiver que arcar com mudança, perda do lugar e desvalorização do fundo de
comércio, se a renovação não ocorrer em razão de proposta de terceiro, em
melhores condições, ou se o locador, no prazo de três meses da entrega do
imóvel, não der o destino alegado ou não iniciar as obras determinadas pelo
Poder Público ou que declarou pretender realizar".

Verifica-se, portanto, que esta não é a hipótese dos autos, pois o contrato
deixou de ser renovado em razão de conduta exclusiva das locatárias, que
deixaram de exercer seu direito à renovação do contrato no prazo legal. Este
fato não pode ser atribuído ao locador.

Logo, renovada vênia, a sentença recorrida da lavra do douto Juiz de


Direito Dr. Igor Queiroz deve ser mantida.

Diante do exposto, com fundamento no art. 93, IX, da Constituição da


República e art. 371 do Código de Processo Civil, rejeito as arguições
preliminares e nego provimento à apelação.

Condeno as apelantes ao pagamento das custas recursais e, com


fundamento no § 11 do art. 85 do Código de Processo Civil, os honorários
advocatícios ficam majorados para 11% do valor da causa.

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DES. JOSÉ AUGUSTO LOURENÇO DOS SANTOS - De acordo com o(a)


Relator(a).

DESA. JULIANA CAMPOS HORTA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO."

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