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v. arts.

505 e 507, CPC

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO


ESTADO. SETOR SUCROALCOOLEIRO. FIXAÇÃO DE PREÇOS. LEI 4.870/65. EMBARGOS À
EXECUÇÃO DE SENTENÇA. ALEGADA ILIQUIDEZ DO TÍTULO EXECUTIVO E NECESSIDADE
DE LIQUIDAÇÃO POR ARTIGOS. QUESTÃO DECIDIDA, EM ANTERIOR AGRAVO DE
INSTRUMENTO TRANSITADO EM JULGADO. PRECLUSÃO. PRECEDENTES. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA ENTRE OS
JULGADOS CONFRONTADOS. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE, COM BASE NO ACERVO
PROBATÓRIO DOS AUTOS, AFASTOU A APONTADA ILIQUIDEZ DO TÍTULO EXECUTIVO E A
ALEGADA OFENSA À COISA JULGADA. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE, NO CASO. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA 7/STJ. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO, E, NESSA EXTENSÃO,
IMPROVIDO. AGRAVO INTERNO PREJUDICADO. [...] (REsp n. 1.781.867/DF, relatora Ministra
Assusete Magalhães, Segunda Turma, julgado em 22/11/2022, DJe de 19/12/2022)

RECURSO ESPECIAL - AUTOS DE AGRAVO DE INSTRUMENTO NA ORIGEM - LIQUIDAÇÃO DE


SENTENÇA INICIADA SOB A MODALIDADE POR ARBITRAMENTO - DELIBERAÇÃO JUDICIAL
TRANSITADA EM JULGADO, NA FASE DE LIQUIDAÇÃO, DETERMINANDO FOSSE PROMOVIDA
NA FORMA POR ARTIGOS - POSTERIOR MODIFICAÇÃO NO MODO LIQUIDATÓRIO MANTIDA
PELO TRIBUNAL A QUO - INSURGÊNCIA DO DEVEDOR.
Hipótese: Controvérsia acerca da possibilidade de modificação da forma de liquidação quando já
existir juízo definitivo processual firmado especificamente sobre a questão (coisa julgada
formal/preclusão máxima).
1. Inocorrência de negativa de prestação jurisdicional. O Tribunal pernambucano analisou a
controvérsia com o exame expresso das matérias suscitadas nos aclaratórios, manifestando-se sobre
a viabilidade de mudança da modalidade de liquidação de sentença, ainda que estabelecida por
decisão judicial anterior, bem ainda quanto à suposta ocorrência de julgamento extra petita no que
tange ao afastamento da declaração de inépcia da inicial da liquidação.
2. A adequada interpretação a ser conferida à súmula 344/STJ é de que se admite a mudança no
modo pelo qual será processada a liquidação, mas tão-somente enquanto não houver juízo definitivo
processual firmado especificamente sobre a questão (coisa julgada formal), ou seja, é viável a
alteração do regime de liquidação desde que sobre o ponto não incida a denominada preclusão
máxima ou coisa julgada formal, a qual se verifica quando o órgão judicante analisa, de forma
categórica e ultimada, o ponto controvertido, sobre ele exarando comando não mais sujeito a recurso.
2.1 As alterações no método de liquidação não podem ser realizadas ad aeternum, pois
inviabilizariam não só o exercício da função jurisdicional, mas também a pretensão da parte credora,
o que atenta contra o princípio da segurança jurídica e viola o ditame legal constante do art. 4º do
NCPC. 2.2 Na hipótese, a controvérsia já perdura por mais de três décadas e a discussão acerca de
qual o procedimento liquidatório a ser utilizado já fora expressa e claramente analisado pelo poder
judiciário no ano de 2001 na fase específica da liquidação, não tendo as partes se insurgido contra a
deliberação tomada no bojo do agravo de instrumento 47930-3/98, que transitou em julgado fixando a
modalidade de liquidação por artigos.
3. Ao magistrado e às partes, no âmbito do processo, não é dada a ampla e irrestrita liberdade na
escolha da espécie de liquidação a ser seguida, ao contrário, o que a define é a natureza da
operação necessária para a fixação do quantum debeatur, ou seja, o grau de imprecisão da sentença
(título judicial ilíquido) que reconheceu a obrigação. 3.1 Na liquidação por artigos - diversamente da
liquidação por arbitramento - a simples prova técnica, com base nos elementos já constantes nos
autos, não possibilitará a determinação do limite condenatório, haja vista que a fixação da
condenação depende da aferição de "fato novo", motivo pelo qual ocorre a abertura de efetiva fase de
apresentação dos fatos constitutivos do direito do autor referentes ao objeto condenatório lançado no
título, bem ainda, com amparo nos princípios do contraditório e ampla defesa, a elaboração de
material contestatório e elementos de prova periciais, a fim de que possa o magistrado deliberar
acerca da perfectibilização do quantum devido. 3.2 Na hipótese, não é possível extrair da sentença
condenatória (título judicial ilíquido) os parâmetros para a singela elaboração de mera perícia contábil,
pois, a primo icto oculi, não se afigura viável presumir quais seriam os referidos "prejuízos sofridos"
ou "sérios prejuízos" aludidos na deliberação, o que denota ser essa não apenas ilíquida mas
também genérica, face a ausência da fixação dos critérios/diretrizes para a obtenção do quantum
debeatur.
4. O magistrado a quo, sob erro de premissa, entendeu tratar o procedimento de cumprimento de
sentença diante da juntada, na inicial, de laudo pericial unilateral elaborado no interesse do autor;
diversamente, não se cuida de cumprimento de sentença fundado em simples laudo pericial
produzido de forma unilateral, mas de etapa preliminar a essa (liquidação por artigos), o que indica a
necessidade de declaração da nulidade do referido decisório, por violar os princípios processuais da
adstrição e da congruência.
5. Recurso especial parcialmente provido, em menor extensão, a fim de anular a deliberação
proferida pelo magistrado a quo, em que modificada a forma de liquidação, ficando prejudicados os
atos posteriores, com a determinação do retorno dos autos à origem para o prosseguimento do feito
na modalidade de liquidação por artigos.
(REsp n. 1.538.301/PE, relator Ministro Antonio Carlos Ferreira, relator para acórdão Ministro Marco
Buzzi, Quarta Turma, julgado em 4/4/2017, DJe de 23/5/2017)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS DECORRENTES DA QUEBRA DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO EM
CONTRATOS DE TRANSPORTE URBANO DE PASSAGEIROS. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA POR
ARBITRAMENTO COM BASE EM LAUDO PERICIAL. ELABORADA SEGUNDA PERÍCIA PARA
APURAÇÃO DO QUANTUM DEBEATUR, VEDADA A IMPOSIÇÃO DE NOVO ÔNUS PROBATÓRIO
À PARTE PROMOVENTE DA LIQUIDAÇÃO. DEVER JUDICIAL DE SE QUANTIFICAR O
MONTANTE DEVIDO COM BASE EXCLUSIVAMENTE NOS LIMITES DO DECISUM TRANSITADO
EM JULGADO. SUPREMACIA DA COISA JULGADA PRECEDENTES: AGRG NO RESP.
628.263/SC, REL. MIN. VASCO DELLA GIUSTINA, DJE 03.11.2009 E RESP. 942.400/RJ, REL. MIN.
HUMBERTO GOMES DE BARROS, DJ 20.08.2007. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. RETORNO
DOS AUTOS AO JUÍZO DA EXECUÇÃO PARA O PROSSEGUIMENTO DA LIQUIDAÇÃO.
ARBITRAMENTO DO VALOR DA CONDENAÇÃO COM ESTEIO NA SEGUNDA PERÍCIA JÁ
REALIZADA.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça inclina-se para a declaração de nulidade
processual nas hipóteses de não-atendimento de pedido expresso de que futuras intimações relativas
ao feito sejam realizadas em nome de determinado Advogado ou Procurador. Todavia, assim como
se deve primar pela atenção aos princípios da ampla defesa e do contraditório, a declaração de
nulidade de atos processuais deve se dar com temperamento, sempre à luz do caso concreto. Na
hipótese, verifica-se, inequivocamente, que os interesses dos recorridos foram criteriosamente
protegidos, tanto que a primeira decisão que lhes foi desfavorável foi prontamente combatida por
Agravo Regimental, tempestivamente apresentado.
2. O reexame que se veda na via recursal especial prende-se à existência ou correção dos fatos
delimitados na sentença ou no acórdão recorrido. Nesse passo, é perfeitamente possível a este
Tribunal Superior, no julgamento do Recurso Especial, conferir nova qualificação jurídica a um fato,
uma vez que sua errônea definição pode impedir que sobre ele incida a regra jurídica adequada. O
debate, portanto, fica adstrito a matéria de direito e não de fato.
3. No caso dos autos, ficou estabelecido, na sentença proferida na ação de conhecimento, o direito
das empresas, ora recorridas, à indenização pela quebra de equilíbrio econômico-financeiro dos
contratos de transporte urbano de passageiros questionados; no acórdão, transitado em julgado,
confirmatório da sentença, fixou-se a compreensão de que havia falhas na primeira perícia, por ter
sido realizada com base em documentos unilaterais, pelo que se determinou nova apuração do
quantum debeatur, seguindo-se, nesse tocante, a liquidação de sentença pelo procedimento do
arbitramento.
4. Na ação subjacente, conforme relatado pelo Tribunal de origem, foi realizada nova perícia (a
segunda) a fim de se obter, conforme os ditames da coisa julgada, o valor indenizatório devido; no
entanto, após a confecção deste segundo laudo pericial, já no rito de liquidação, com base em dados
do próprio GDF, os ora recorrentes (DF e outros) alegaram que os contratos de permissão são
precários, razão pela qual as empresas não fazem jus ao seu equilíbrio econômico-financeiro e,
nesses termos, pugnaram pela extinção da liquidação sem julgamento de mérito por estar ausente o
interesse de agir.
5. O Magistrado, no Primeiro Grau de jurisdição, embora tenha rechaçado a questão de ordem
pública alegada pelo Distrito Federal, entendeu ser inviável a homologação da tal perícia (a segunda)
e determinou que fosse reelaborada uma nova perícia (que seria a terceira), realçando aspectos a
serem observados e nortes a serem seguidos. Referido entendimento foi mantido pelo Tribunal de
Justiça no exame do Agravo de Instrumento, ao fundamento de que o Juiz é o destinatário da prova,
competindo a ele, dentro do princípio do livre convencimento motivado, determinar a realização das
diligências probatórias que reputar necessárias.
6. A determinação, neste caso, para que se proceda à nova perícia (a terceira) está desatrelada dos
comandos da coisa julgada e a afronta abertamente, representando, na prática, o prolongamento
injustificável da fase de liquidação, mediante a introdução de metodologia liquidatória não prevista no
título executivo judicial (a sentença), introduzindo evidente risco de esvaziamento do direito à
indenização já judicialmente reconhecido.
7. Não se desconhece o teor da Súmula 344 desta Corte Superior de Justiça, segundo a qual a
liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a coisa julgada; todavia, a
invocação tardia desta orientação, apenas nesta sede recursal especial e diretamente da nobre
tribuna dos Advogados, representa inegável inovação argumentativa, retirando a efetiva oportunidade
de contradita, com inegável prejuízo e evidente aviltamento dos basilares princípios do direito de
defesa e do devido processo legal.
8. Ademais, a ratio essendi do mencionado enunciado sumular reside em emprestar agilidade
processual a certas ações de execução, permitindo que no momento da liquidação se opte pelo
caminho mais eficiente para a obtenção da quantia devida, não engessando o método de apuração, o
que não importa dizer que a criação de novos critérios para o cálculo possa retirar o conteúdo da
condenação, além da eternizar a fase de liquidação, vulnerando a coisa julgada, como neste caso,
em que o novo critério ou método contraria a própria sentença condenatória, impondo a rediscussão
de fatos já acertados em juízo.
9. A Súmula 344/STJ deve ser entendida na sua finalidade celerizadora da liquidação e ensejadora
da eficácia completa da condenação, e não como reoportunizadora de amplas discussões que levem
à revisão do julgado ou - pior ainda - à sua rescisão, por impor ao vencedor da demanda novos
encargos práticos de mérito, que não constaram do título.
10. É inegável que a melhor exegese a ser dada à Súmula 344/STJ é a teleológica; assim, deve-
se ter em mente que a finalidade da orientação jurisprudencial é facilitar que o vencedor
obtenha do modo mais célere e eficaz o conteúdo da condenação garantido no processo de
conhecimento.
11. É inconcebível que se admita a alteração da forma de liquidação para criar obstáculos à
apuração do montante já reconhecido como devido; é dizer, se o quantum debeatur pode ser
apurado com simples operação aritmética, a dispensa do procedimento de liquidação por
artigos, com efeito, não ofende a coisa julgada, o que já não se pode afirmar do inverso,
quando há imposição de novo ônus probatório ao credor, vitorioso na demanda.
12. Revela-se juridicamente descabida a exigência de novas provas demonstrativas do prejuízo no
curso de liquidação por arbitramento, sobremaneira porque já reconhecido o dano em decisum
transitado em julgado que remeteu à liquidação por arbitramento apenas a fixação do montante
devido, não se aludindo à necessidade de comprovação de qualquer fato novo e, portanto, não se
podendo cogitar, neste caso, da hipótese de liquidação por artigos.
13. Após a realização da perícia para o arbitramento do quantum debeatur, como se sabe, compete
ao Juiz somente a função de quantificá-lo, sendo descabida - e mesmo vedada - a imposição de novo
ônus probatório à parte promovente da liquidação, como que reabrindo a instrução de causa sobre
cuja sentença condenatória definitiva já se estendeu a proteção da coisa julgada.
14. Ofende o art. 610 do CPC a sentença de liquidação por arbitramento que não fixa o valor dos
danos emergentes cuja existência foi declarada na sentença liquidanda. Cabe ao juiz da liquidação
apenas identificar o seu quantum sem impor novo ônus probatório ao credor (REsp. 942.400/RJ, Rel.
Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS, DJ 20.08.2007), máxime quando essa medida judicial tem a
potestade de desconstituir o decreto condenatório e se inaugurada a fase de seu cumprimento.
15. A fixação de novas balizas para o cálculo do valor devido, já na fase de liquidação por
arbitramento, implicaria em evidente vulneração dos soberanos comandos da coisa julgada, tida
como inviolável no Juízo da Execução, graças ao celebrado princípio da fidelidade à res judicata, de
tão antiga quanto respeitável tradição; os escritores processualistas costumam dizer que a coisa
julgada é o produto mais elaborado da jurisdição, que tem a virtude de pôr termo à controvérsia, ainda
que qualquer das partes possa, em pedido de rescisão, insurgir-se contra o seu comando; na lição de
GABINO FRAGA, a coisa julgada faz do preto, branco, e do círculo, um quadrado.
16. Recurso Especial provido para determinar o retorno dos autos ao Juízo de Primeiro Grau - o da
Execução - a fim de que prossiga com a liquidação, determinando a realização de novo arbitramento.
(REsp n. 1.409.705/DF, relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em
16/6/2014, DJe de 4/8/2014.)

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