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Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.162.088 - PR (2017/0217655-1)

RELATORA : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


AGRAVANTE : FLAVIA IRACEMA GIMENES
ADVOGADOS : LUCIANO ELIAS REIS - PR038577
RAFAEL KNORR LIPPMANN - PR038872
YASMMIN ANDRESSA SIMIONI CAVALARI E OUTRO(S) -
PR082175
AGRAVADO : ZENOBIO SZEUCZUK LATCZUK
ADVOGADO : CARLOS ROBERTO FERREIRA MUNHOZ COSTA - PR021530

DECISÃO

Trata-se de agravo interposto por FLÁVIA IRACEMA GIMENES, contra


decisão que negou seguimento ao recurso especial, com fundamento nas alíneas "a" e
"c" do inciso III do art. 105 da Constituição Federal, em face de acórdão proferido pelo
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, assim ementado (fl. 580):

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - AÇÃO


TRABALHISTA - COBRANÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
NA PROPORÇÃO DE 20% - ACORDO VERBAL - VALOR EM
CONFORMIDADE COM A TABELA DA OAB NA ÉPOCA DA
CONTRATAÇÃO - MANUTENÇÃO. RETENÇÃO DE VALORES, POR
SUPOSTOS SERVIÇOS CONTRATADOS - ÔNUS DA PROVA QUE
RECAI SOBRE O ADVOGADO QUANTO À CONTRATAÇÃO DOS
SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS - AUSÊNCIA DE PROVAS NESSE
SENTIDO - RETENÇÃO INDEVIDA - REFORMA PARCIAL DA
SENTENÇA. ÔNUS SUCUMBENCIAS - REDISTRIBUIÇÃO.
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

Nas razões do especial, a ora agravante alega afronta ao art. 535, II, do
Código de Processo Civil/1973, por omissão do Tribunal de origem, ao não se
pronunciar sobre as questões postas em debate nos embargos de declaração.
No mérito, argui violação dos arts. 302, 333, I e II, 326 e 334, III, do Código
de Processo Civil/1973, bem como dissídio jurisprudencial. Aduz que "Além de nada
mencionar em impugnação à contestação (fls. 246/249), em suas razões de apelação
(fls. 481/489), o Recorrido CONFIRMA A REALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS

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RELACIONADOS ÀS FLS. 231/233 E RESPECTIVOS VALORES PACTUADOS" (fl.
641).
Passo a decidir.
Inicialmente, verifico que não há omissão alguma ou ausência de
fundamentação na apreciação das questões suscitadas.
Esclareça-se que não se exige do julgador a análise de todos os
argumentos das partes, a fim de expressar o seu convencimento. O pronunciamento
acerca dos fatos controvertidos, a que está o magistrado obrigado, encontra-se
objetivamente fixado nas razões do acórdão recorrido, não se traduzindo em omissão a
motivação contrária ao interesse da parte ou mesmo omissa em relação a pontos
considerados irrelevantes.
No mais, o Tribunal de origem, com base nos fatos e provas dos autos,
concluiu acerca da verba honorária, efetivamente, devida assim se pronunciando (fls.
583/587):

(...) Primeiramente, quanto aos serviços prestados pela apelada em


ação trabalhista em favor do apelante não há discussão, recaindo a
controvérsia apenas sobre o valor que deveria ser descontado a
título de honorários advocatícios.
Por um lado, sustenta a apelada que as partes convencionaram
que os honorários contratuais seriam na importância de 20% sobre
o valor líquido recebido pelo apelante na ação trabalhista,
enquanto este afirma que seria de 15%, embora fosse de praxe da
requerida a cobrança de 20%.
No caso dos autos, não houve a realização de contrato escrito
entre as partes, até mesmo pela relação de namoro existente entre
elas na época dos fatos. Desse modo, como não havia instrumento
contratual, e levando em consideração que o próprio requerente
afirma que era prática usual da requerida cobrar a importância de
20% sobre o valor líquido recebido dos seus clientes e sendo este
o valor previsto na Tabela das Ordens do Advogado, tal deve
permanecer.
Com efeito, na data em que a requerida fez a TED em favor do
requerente, no valor de R$214.982,90, retendo a quantia de
R$97.897,05, a título de honorários advocatícios (fl. 234), existia a
previsão, segundo a Tabela da Ordem dos Advogados, que os
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honorários advocatícios seriam na quantia de 20% sobre o valor
bruto da condenação ou acordo.
Assim, como a própria requerida confirma que realizou o desconto
de 20% do valor recebido pelo requerente (R$312.879,95), na
soma de R$62.575,99, o fez de forma correta.
Contudo, quanto à retenção da quantia de R$35.321,06, não se
pode dizer o mesmo.
Em sua contestação, sustenta a requerida que cobrou o valor
referido acima, por ter sido constituída advogada do requerente em
outras ações, bem como por ter prestado outros serviços, tais
como: liberação do corpo do pai do requerente junto ao hospital
(R$2.200,00); procedimentos administrativos (R$5.500,00);
consulta para compra e quitação de veículo (R$500,00); análise de
compra de precatórios (R$1.600,00); acompanhamento em ações
que tramitaram no Juizado Especial, bem como as reuniões que
foram necessárias nos referidos procedimentos, dentre vários
outros (fls. 55/67).
Embora a requerida tenha sido constituída como advogada pelo
requerente no Juizado Especial Cível (autos n° 2004.002825-7 e
2005.17960- 0)(fls. 68/224) , não há qualquer contrato nos autos
especificando para quais
trabalhos fora contratada e quais seriam os seus valores. De notar
que, por um lado, diz o apelante que tais serviços já foram
quitados, enquanto a apelada afirma que restou acordado entre as
partes que o pagamento de todos os serviços prestados por ela
seriam descontados do valor que o recorrente iria receber na ação
trabalhista.
Como no caso não há contrato formal de prestação de serviços,
não poderia a apelada descontar, ao ser bel prazer, todos os
valores que entende devidos por supostos serviços prestados e
não adimplidos pelo requerente. Contudo, nada impede que tal
pretensão seja buscada através de ação própria.
Além disso, a título de exemplo, a requerida cobra honorários
advocatícios por ter supostamente liberado o corpo do pai do
requerente no hospital, na importância de R$2.200,00, sem que
haja qualquer contrato com a anuência do recorrente nesse
sentido.
Mais adiante, junta a requerida notas fiscais de hotéis e
restaurantes, sob o argumento de que realizou tais gastos em
decorrência de diligências que estava realizando em favor do

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requerente, contudo, em nenhum dos referidos recibos consta
sequer o nome do recorrente, para comprovar a veracidade dos
fatos alegados (fls. 225/227).
Quanto ao argumento da recorrida que também representou o
apelante em processo administrativo, não há qualquer prova nos
autos.
Tais fatos são corroborados pelos depoimentos prestados em
Juízo.
A testemunha Denise Cristina Mucelini disse que a requerida fixava
os honorários advocatícios junto ao cliente e que ao final de cada
processo havia prestação de contas. Diz que não sabe dizer se de
fato a requerida prestou os seguintes serviços para o requerente:
procedimento administrativo junto ao Sindicato Rural; regularização
de pendências bancárias junto ao Banco do Brasil; buscas
documentais DPVAT, dentre outros (fls. 282/283).
Ângelo Tortatto Filho afirmou que fazia cálculos para a requerida e
lembra-se que elaborou apenas cálculo para uma demanda
trabalhista, não fazendo qualquer cálculo pertinente às situações
extrajudiciais envolvendo o autor (fl. 284).
Ora, para que a requerida realizasse a cobrança de outros valores
além daqueles da ação trabalhista, deveria haver uma base
contratual referente a prestação de serviços entre as partes, com
discriminação de valores e posterior prestação de contas.
A mera alegação da apelada de que não respondeu a notificação
enviada pelo apelante - onde pleiteia a devida prestação de contas
da soma retida (R$97.897,05) - porque já havia explicado a ele
todos os serviços que lhe foram prestados em uma reunião, com a
presença de testemunhas, não se revela satisfatória para
comprovar a contratação dos serviços e o motivo da retenção de
valor maior do que o devido na ação trabalhista.
No caso concreto, o ônus probatório de que foi contratada para
defender os interesses do apelante além da ação trabalhista,
mediante pagamento, caberia à apelante, nos termos do art. 333, II,
do CPC. Contudo, restando a parte inerte, é de se dar parcial
procedência ao pedido do apelante, a fim de considerar devida ao
apelante a quantia indevidamente retida pela recorrida, no valor de
R$35.321,06, este acrescido de juros de mora de 1% ao mês
desde a citação e correção monetária pela média INPC/IBGE
contados da data da retenção de valor a maior (23/09/08).

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A análise das razões do recurso, a fim de demover o que concluído pela


origem, demandaria inevitável reexame de matéria fática, procedimento que encontra
óbice no verbete 7 da Súmula desta Corte.
Esclareça-se que, como destinatário final, cabe ao magistrado,
respeitando os limites adotados pelo Código de Processo Civil, a interpretação da prova
necessária à formação do seu convencimento. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO CAUTELAR DE SEPARAÇÃO DE CORPOS. CONCLUSÃO
DO TRIBUNAL DE ORIGEM FIRMADA COM BASE NAS QUESTÕES
FÁTICO-PROBATÓRIAS DOS AUTOS. AUSÊNCIA DE CULPA PELA
DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL. DIVISÃO PATRIMONIAL.
REEXAME DA MATÉRIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Sendo o julgador o destinatário da prova, a ele cabe decidir
sobre o necessário à formação do próprio convencimento. Desse
modo, compete às instâncias ordinárias exercer juízo acerca dos
elementos probatórios acostados aos autos, cujo reexame é
vedado em âmbito de Recurso Especial. Aplicação da Súmula 7
desta Corte Superior.
2. A tese defendida no recurso especial demanda o reexame do
conjunto fático e probatório dos autos, vedado pela Súmula 7 do
STJ.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 189.265/RN, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 19/03/2013, DJe
22/03/2013)

Acrescente-se que não foram devidamente impugnadas as razões


expostas pela origem, não havendo a recorrente, combatido a afirmação de que foi
inerte, sendo inviável o provimento do especial, também, por aplicação da Súmula
283/STF.

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Em face do exposto, não havendo o que reformar, nos termos do art. 34,
XVIII, "b", do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, nego provimento ao
agravo em recurso especial. Nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo
Civil/2015, majoro em 10% (dez por cento) os honorários advocatícios já arbitrados em
favor da parte recorrida, observando-se os limites dos §§ 2º e 3º do referido dispositivo,
considerando-se suspensas as exigibilidades em caso de assistência judiciária gratuita.
Intimem-se.
Brasília (DF), 28 de novembro de 2017.

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


Relatora

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