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17.05.

2023
Casos práticos de Direito das Sucessões
Caso I.
Alberto morreu nos finais do verão passado. Sobreviveu-lhe a viúva, Beatriz, os dois
filhos, Carlos e Duarte, e um filho que Beatriz tinha de um matrimónio anterior, Eduardo.
Duarte, ao ter conhecimento da morte do pai, teve um colapso cardíaco que lhe
provocou morte imediata. Deixou, porém, um filho, Filipe, do seu casamento com Ana,
entretanto já dissolvido por divórcio.
Alberto havia feito um testamento deixando a sua quota disponível ao primo Paulo.
Contudo, este, além de ter uma medida de acompanhamento, morreu uma semana antes de
Alberto, deixando como seu único filho, Júlio, com quem vivia. Para além disso, nesse mesmo
testamento, Alberto deserdou Carlos por este ter casado com Rosa contra sua vontade.
O valor dos bens deixados por Alberto é de 10.000€. Como se faz a partilha?
Resolução:
Com a morte de A abre-se a sucessão deste, sendo que nos termos do art.2024º diz-se
sucessão o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações jurídicas
patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos bens que a esta pertenciam.
A sucessão abre-se nos termos do art.2031º, sendo chamados os seus sucessores tal como dispõe
o art.2032º. Assim sendo, como a morte do A, este deixa como seus sucessores a cônjuge (B) e
os seus filhos (C e D), sendo estes seus herdeiros legitimários (art.2157º). Sendo que aos
herdeiros legitimários cabe a legítima, nos termos do art.2156º, ou seja, a quem cabe a porção
de bens de que o de cujus não pode dispor, por ser legalmente destinada aos herdeiros
legitimários. Os herdeiros legitimários são chamados em conformidade com as regras da
sucessão legitima, por remissão legal expressa do art.2157º que nos remete para o art.2134º a
2136º, sem prejuízo de eventual direito de representação, nos termos do art.2138º e 2042º.
Caberá assim, nos termos do art.2159º/nº1 a legítima à cônjuge e aos 2 filhos que será de 2/3 da
herança, o que significa que a quota disponível será de 1/3. Para fazermos o cálculo da quota
disponível temos de aferir ao valor do património deixado por A. Ora, diz-nos o enunciado que
A deixou bens no valor de 10.000€, sendo que vamos presumir que estes 10.000€ respeitam a
valor de bens próprios deste, não sendo, por isso, necessário fazer a partilha dos bens comuns do
casal (se for viúvo é todo dele, se estiver casado em regime de separação de bens também é tudo
dele). Assim sendo, caberá agora calcular a legítima, nos termos do art.2162º. Assim sendo, no
caso concreto sendo a legitima 2/3 do património de A, ela será de 6.666,66€, sendo esta a quota
indisponível. A quota disponível será de 1/3 do património, ou seja, 3.333,33€.
A, no domínio da sucessão testamentária, deixou em testamento a P a sua quota
disponível, o que significa que o nomeou como herdeiro, nos termos do art.2030º/nº2. O
testamento foi realizado nos termos do art. 2179ºss. Assim sendo, tendo A deixado a P o valor
da quota disponível, este testamento será válido, porque não ofende o valor da legítima dos
herdeiros legitimários. O facto de ele ser maior acompanhado não releva, visto que continua a
ter capacidade sucessória, nos termos do art.2033º. Todavia, o P morreu 1º do que o A o que
significa que haverá lugar ao direito de representação. Assim sendo, nos termos do art.2039º dá-
se a representação sucessória, sendo que são chamados os descendentes deste herdeiro, com
vista a ocupar a posição daquele que não pode (porque morreu) ou não quis aceitar (porque
repudiou) a herança. A representação testamentária, que é a que se aplica no caso concreto, está
prevista no art.2041º, sendo chamados os descendentes do que faleceu antes daquele que iria
beneficiar do testamento. Assim sendo, será chamado J em representação de P.
No mesmo testamento, o A deserda o seu filho C por não gostar da R. Nos termos do
art.2166º o autor da sucessão pode, em testamento, com expressa declaração da causa, deserdar
o herdeiro legitimário privando-o da legítima. Não existindo, no caso concreto, nenhuma causa
justificativa nos termos da al. a a c do nº1 do art.2166º, esta intenção de A não terá nenhum
efeito jurídico, ou seja, o C é para todos os efeitos herdeiro legitimário com direito à legítima.
Cumpre ainda dizer-se que a impugnação da deserdação está no art.2167º e caduca ao fim de 2
anos.
Sucede que, ao ter conhecimento da morte do A, o D morre. O D era seu herdeiro
legitimário e foi chamado a herdar no momento da morte de seu pai (A), ou seja, respondeu ao
chamamento. Todavia, como sabemos a herança deve ser aceite, nos termos do art.2050º/nº1,
sendo que nos termos do art.2056º a aceitação pode ser expressa ou tácita. Todavia, diz-nos o
art.2058º que se o sucessível chamado à herança, sem a haver aceitado ou repudiado, transmite-
se aos seus herdeiros o direito de aceitar ou repudiar. Neste caso, nos termos do art.2058º/nº1,
2157º e 2133º/nº1 (a) será chamado a aceitar a herança o filho deste (F). Ou seja, neste caso
caberá a F aceitar ou repudiar a herança de A.
Em suma, a partilha será feita da seguinte forma:
 a B - cônjuge sobreviva - caberá assim 2.222€ que foi calculada nos termos do
art.2159º/nº1, sendo certo que respeita o ordenado na parte final do art.2139º/nº1;
 a C caberá também 2.222€, nos termos do art.2159º/nº1
 a F caberá 2.222€, sendo que lhe foi transmitido o direito de aceitar a herança;
 a J caberá 3.333€, visto que sucedeu, em direito de representação, ao seu pai P.

Caso II
Abílio estava casado com Beatriz, de quem tinha dois filhos, Cristóvão e David.
Enquanto Cristóvão tinha quatro filhos, ou seja, Ester, Frederico, Gustavo e Hélder, David
tinha apenas dois, Isaura e José.
Em 2015, Ester e Isaura foram condenadas por terem envenenado a sua avó Beatriz,
que morreu imediatamente.
Em 2017, Abílio, Cristóvão e David, ao deslocarem-se a Lisboa, sofrem um grave
desastre automóvel. Quando as equipas de salvamento chegaram ao local do desastre
encontram Cristóvão já sem vida.
Abílio vem a falecer na ambulância que o leva ao hospital, enquanto David, em coma
profundo, acaba por morrer na semana seguinte. Abílio deixa bens no valor de 6.000€. Num
testamento destinou metade destes bens a uma instituição de solidariedade social. A outra
metade ficou, em partes iguais, reservada para os dois filhos aos quais Abílio ainda
recomendou que trabalhassem ser quisessem ser ainda mais ricos.
Como se faz a partilha?
Resolução:
Com a morte de A abre-se a sucessão deste, sendo que nos termos do art.2024º diz-se
sucessão o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações jurídicas
patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos bens que a esta pertenciam.
A sucessão abre-se nos termos do art.2031º, sendo chamados os seus sucessores tal como dispõe
o art.2032º. Assim sendo, como a morte do A, este deixa como seus sucessores os seus netos E,
F, G e H, filhos do seu filho pré-falecido C e ainda o seu filho D, sendo estes seus herdeiros
legitimários (art.2157º). Sendo que aos herdeiros legitimários cabe a legítima, nos termos do
art.2156º, ou seja, a quem cabe a porção de bens de que o de cujos não pode dispor, por ser
legalmente destinada aos herdeiros legitimários. Os herdeiros legitimários são chamados em
conformidade com as regras da sucessão legitima, por remissão legal expressa do art.2157º que
nos remete para o art.2134º a 2136º, sem prejuízo de eventual direito de representação, nos
termos do art.2138º e 2042º. No caso concreto não há cônjuge e, desta forma, estes 6.000€
corresponde à totalidade dos bens de A. Nessa medida, cumpre agora calcular o valor da
legítima que deverá ser aferida nos termos do art.2159º/nº2, ou seja, a legítima será 2/3, uma
vez que existem 2 filhos. A legítima é calculada nos termos do art.2162º, isto significa que a
quota indisponível será de 4.000€ e a disponível será de 2.000€. Acontece que, à data da sua
morte, conforme supra já mencionamos, sucederam a A, em direito de representação, os seus
netos, filhos do seu filho pré falecido (C). O direito de representação está previsto no art.2039º,
sendo que a sucessão legal está no art.2042º. Assim sendo, conforme já tínhamos adiantando, os
seus netos são seus herdeiros legitimários.
A fez um testamento, que equivale à sucessão testamentária (voluntária), sendo que este
vem regulado no art.2179º ss. No caso concreto, trata-se, também, de um herdeiro, nos termos
do art.2030º/nº2. Todavia, acontece que o A deixou 3.000€ a uma Associação, sendo que apenas
podia dispor dentro da sua quota disponível, que era de 2.000€. Uma vez que ofende a legítima,
ou seja, a parte dos bens que imperativamente ficaram destinados aos herdeiros legitimários
haverá lugar à redução por liberalidades inoficiosas, nos termos do art.2168ºss. Diz-nos este
artigo que as liberalidades são redutíveis a requerimento dos herdeiros legitimários ou seus
sucessores, conforme impõe o art.2169º. Esta redução abrange, em 1º lugar, as disposições
testamentárias, em 2º lugar os legados e, por último, as liberalidades que hajam sido feitas em
vida do autor da sucessão, tudo como impõe o art.2171º. Nos termos do art.2172º se bastar a
redução das disposições testamentárias esta será feita proporcionalmente. Diz ainda o art.2174º
que quando os bens são divisíveis, a redução faz-se separando deles a parte necessária para
preencher a legítima; se os bens forem indivisíveis a redução faz-se nos termos do nº2 do
art.2174º. A ação de redução de liberalidades inoficiosas caduca, nos termos do art.2178º, no
prazo de 2 anos. Assim sendo, a associação apenas poderá receber 2.000€.
Antes de procedermos à distribuição dos bens da quota indisponível pelos herdeiros
legitimários cumprirá dizer que o D faleceu após a morte de A, mas sem que, contudo, tenha
conseguido aceitar ou repudiar a herança. Assim sendo, significa que haverá lugar à transmissão
do direito de aceitar a herança, nos termos do art.2058º, passando este direito para os seus
herdeiros, nos termos do art.2157º e 2133º/nº1 (a). Assim, esse direito passaria para I e J.
Acontece, porém, que, tanto E como I, poderão ser consideradas incapazes por
indignidade, visto que foram ambas condenadas pelo homicídio da sua avó, sendo que diz-nos o
art.2034º (a) que carecem de capacidade sucessória por motivo de indignidade, nos termos da al.
a o condenado o condenado como autor ou cúmplice de homicídio doloso, ainda que não
consumado, contra o autor da sucessão ou contra o seu cônjuge, descendente, ascendente,
adotante ou adotado. A declaração de indignidade está prevista no art.2036º, sendo que a ação
deve ser intentada no prazo de 2 anos. E é indigna nos termos da al. a do art.2034º, porque
cometeu homicídio doloso contra a cônjuge do de cujos; já I é indigna, nos termos da al. do
art.2034º porque cometeu homicídio lodoso contra ascendente de quem lhe transmitiu o direito
de aceitar a herança.
Por último, cumpre agora fazer a partilha da quota indisponível. Em virtude, da E e da I
serem indignas, haverá direito acrescer, dentro de cada estirpe, nos termos dos artigos 2137º ex
vi 2157º do CC. Em relação a E, F, G e H tem de se dividir 2.000€ por 4. Dá 500€ a cada um
dos filhos de C. No entanto, E é indigno e como tal não receberá a sua parte, e teremos de
dividir 500€ por três (que são os que têm capacidade, que são dignos de receber). Dá 666,66(6)€
cada um. Em relação a I e J por transmissão do direito de D receberão 2000 euros a dividir por
dois, logo 1000 euros a cada. No entanto, I é indigno, e caberá a J ficar com a sua parte, logo J
receberá 2000 euros. Como vimos anteriormente, a instituição receberá 2000 euros da quota
disponível por redução de liberalidades inoficiosas.

Caso III
Gustavo, viúvo, teve quatro filhos: Dora, Helena, Fernando e Gilberto. Em vida,
Gustavo doou a Gilberto um terreno no valor de 10.000 €, mas que atualmente vale 30.000 €.
Gilberto morreu em 2011, sobrevivendo-lhe a mulher, Joana, e uma filha, Inês.
Vítima de doença prolongada, Gustavo faleceu em janeiro de 2015, deixando bens no
valor de 50.000 €.
Por testamento deixou à irmã, Júlia, um conjunto de joias no valor de 20.000 €.
Acontece, porém, que Júlia, internada há muito tempo, veio a falecer em fevereiro de
2015, sem se ter pronunciado se aceitava as joias, sobrevivendo-lhe apenas o marido Bernardo.
Quid iuris?
Resolução:
Com a morte de G abre-se a sucessão deste, sendo que nos termos do art.2024º diz-se
sucessão o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações jurídicas
patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos bens que a esta pertenciam.
A sucessão abre-se nos termos do art.2031º, sendo chamados os seus sucessores tal como dispõe
o art.2032º. Assim sendo, com a morte do G, este deixa como seus sucessores D, H e F (seus
filhos) e I (neto, filho do seu filho pré-morto, em direito de representação), sendo estes seus
herdeiros legitimários (art.2157º). Aos herdeiros legitimários cabe a legítima, nos termos do
art.2156º, ou seja, a quem cabe a porção de bens de que o de cujos não pode dispor, por ser
legalmente destinada aos herdeiros legitimários. Os herdeiros legitimários são chamados em
conformidade com as regras da sucessão legítima, por remissão legal expressa do art.2157º que
nos remete para o art.2134º a 2136º, sem prejuízo de eventual direito de representação, nos
termos do art.2138º e 2042º.
A I sucede em direito de representação nos termos do art.2039º, 2040º e 2042º, ou seja,
sucede em representação na sucessão legal como descendente de Gilberto. O direito de
representação está previsto no arts. 2039.º e que prevê que a lei chama os descendentes (I é
descendente de Gilberto) – de um herdeiro ou legatário quando este não pôde aceitar ou não
quis aceitar a herança ou legado. No caso, estamos perante uma sucessão legitimária, ou seja,
uma sucessão legal, sendo remetidos para o art. 2042.º.
O G é viúvo e, por isso, não existem bens comuns a partilhar, sendo que ele deixou
50.000€ e, portanto, será este o valor do seu património. Sucede que, por antecipação, o G havia
doado ao seu filho Gilberto (pai de I) um terreno. Ora, diz-se colação, nos termos do art.2104º, a
restituição à massa da herança, para igualação da partilha, os bens ou valores que lhes foram
doados anteriormente, trata-se de uma operação prévia à partilha. Diz-nos o art.2105º que só
estão sujeitos à colação os descendentes que eram à data da doação presuntivos herdeiros
legitimários do doador. Nos termos do art.2108º a colação faz-se pela imputação do valor da
doação ou da importância das despesas na quota hereditária ou pela restituição dos próprios
bens doados, se houver acordo de todos os herdeiros. Contudo, é preciso ter atenção ao que
dispõe o art.2109º, porque o valor dos bens doados deve ser aferido à data da abertura da
sucessão. Isto significa, portanto, que para que I, em direito de representação do seu pai
Gilberto, possa entrar na partilha da herança terá de restituir agora, para efeitos de colação, o
valor de 30.000€.
Nos termos do art.2162º o cálculo da legitima deve atender-se ao valor dos bens
existentes no património do autor da sucessão à data da sua morte, ao valor dos bens doados, às
despesas sujeitas a colação e às dívidas da herança. Todavia, o legislador não concretizou a
ordem para estas operações. A doutrina, apesar de alguma divergência, tem entendido que deve
ser realizada pela seguinte ordem: em 1º lugar procede-se à avaliação dos bens do património do
de cujos; depois deduzem-se as dívidas, que devem ser pagas à custa dos bens deixados; por
último, depois de deduzidas as dívidas, deve somar-se o valor dos bens doados e as despesas
sujeitas à colação. Neste sentido, no nosso caso, significa que ao valor dos bens deixados de
50.000€ deverá somar-se o valor do bem doado, sujeito à colação, ou seja, 30.000€ (valor atual
sempre). Então, o valor dos bens de G para efeitos do cálculo da legítima será: 50.000€
+30.000€=80.000€.
Nos termos do art. 2159.º, n.º 2, não havendo cônjuge sobrevivo, a legítima dos filhos é
de metade ou dois terços da herança, conforme exista um só filho ou existam dois ou mais. No
caso temos 3 filhos e uma neta em representação do pai, pelo que a parte da herança que lhes
caberá é de dois terços.
Assim a quota indisponível é de 53.333,33 (2/3 * 80.000,00) e a quota disponível é de
26.666,66€ (1/3 * 80.000,00). Assim, a cada filho caberá €53.333,33 a dividir por 4, que será
€13.333,33.
Porém, não podemos esquecer que Gilberto tinha recebido um terreno que à data da
abertura da sucessão valia €30.000,00, ou seja, um valor que afetaria a legítima já que este
apenas teria direito pela legítima a €13.333,33. Ou seja, excede a legítima em €16.666,66, que
iremos imputar na quota disponível. Assim, G só teria 10 000 euros para dispor na quota
disponível.
G fez um testamento, que equivale à sucessão testamentária (voluntária), sendo que este
vem regulado no art.2179º ss. No caso concreto, trata-se, também, de um herdeiro, nos termos
do art.2030º/nº2. Todavia, acontece que o G deixou 20 000€ à sua irmã Júlia, sendo que apenas
podia dispor dentro da sua quota disponível, que era de 10.000€. No entanto, Júlia morreu após
a morte de G, mas sem que, contudo, tenha conseguido aceitar ou repudiar a herança. Assim
sendo, significa que haverá lugar à transmissão do direito de aceitar a herança, nos termos do
art.2058º, passando este direito para os seus herdeiros, nos termos do art.2157º e 2133º/nº1 (a).
Assim, esse direito passaria para B, cônjuge, herdeiro legitimário de Júlia.
Uma vez que a deixa testamentária ofende a legítima, ou seja, a parte dos bens que
imperativamente ficarão destinados aos herdeiros legitimários haverá lugar à redução por
liberalidades oficiosas nos termos do artigo 2168º do CC. As liberalidades são redutíveis a
requerimento dos herdeiros legitimários ou seus sucessores tal como impõe o artigo 2169º. Esta
redução abrange em primeiro lugar as disposições testamentárias a título de herança, e em
segundo lugar os legados e, por último, as liberalidades que hajam sido feitas em vida do autor
da sucessão como impõe o artigo 2171º do CC.
Nos termos do art.2172º, se bastar a redução das disposições testamentárias esta será
feita proporcionalmente. Diz ainda o art.2174º que quando os bens são divisíveis a redução faz-
se separando deles a parte necessária para preencher a legítima. Se os bens forem indivisíveis a
redução faz-se nos termos do nº2 do artigo 2174º. A ação de redução de liberalidades inoficiosas
caduca nos termos do artigo 2178º no prazo de 2 anos. Assim sendo, B por transmissão do
direito de aceitação de J apenas poderá receber por sucessão testamentária 10 000 euros.
Em suma a partilha será feita da seguinte forma:
 D, H e F (filhos) irão receber 13.333 euros.
 I (por direito de representação do seu pai G) irá receber 13. 333 da quota indisponível +
16.666 da quota disponível.
 B (a título de transmissão do direito de aceitação de J) irá receber 10 000 euros.
Caso IV
Jerónimo, casado com Helena no regime de separação de bens, morreu em 2014
deixando o filho Luís e quatro netos, Óscar, Pedro, Rui e Telmo, filhos do seu filho falecido em
2011, Nestor, cuja mulher, Raquel, ainda é viva.
Em 2007, Jerónimo fez uma doação a Nestor no valor de 50.000€.
Em 2009 fez um testamento em que deixava 100.000€ a um sobrinho, Gustavo. Rui e
Telmo repudiaram as partes que lhes cabiam.
Sabendo que Jerónimo deixou bens no valor de 250.000€, proceda à respetiva partilha.
Resolução:
Com a morte de J abre-se a sucessão deste, sendo que nos termos do art.2024º diz-se
sucessão o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações jurídicas
patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos bens que a esta pertenciam.
A sucessão abre-se nos termos do art.2031º, sendo chamados os seus sucessores tal como dispõe
o art.2032º. Assim sendo, como a morte do J, este deixa como seus sucessores, designadamente,
herdeiros legitimários, H (cônjuge); L (filho); O, P, R, T (chamados em direito de representação
do seu filho pré-morto), sendo estes seus herdeiros legitimários (art.2157º). Sendo que aos
herdeiros legitimários cabe a legítima, nos termos do art.2156º, ou seja, a quem cabe a porção
de bens de que o de cujus não pode dispor, por ser legalmente destinada aos herdeiros
legitimários. Os herdeiros legitimários são chamados em conformidade com as regras da
sucessão legitima, por remissão legal expressa do art.2157º que nos remete para o art.2134º a
2136º, sem prejuízo de eventual direito de representação, nos termos do art.2138º e 2042º.
O, R, P, T sucedem em direito de representação, nos termos do art.2039º, 2040º e 2042º,
ou seja, sucedem em representação na sucessão legal como descendentes de J. O direito de
representação está previsto no arts. 2039.º e que prevê que a lei chama os descendentes (O,R,P,T
são descendente de J) – de um herdeiro ou legatário quando este não pôde aceitar ou não quis
aceitar a herança ou legado. No caso, estamos perante uma sucessão legitimária, ou seja, uma
sucessão legal, sendo remetidos para o art. 2042.º.
A quota indisponível vai ter de respeitar 2/3 da herança, nos termos do art.2159º/nº1,
pois no caso em concreto, temos cônjuge e descendentes.
Para aferir o valor da legítima temos de nos socorrer do art.2162º, o cálculo da legitima
deve atender-se ao valor dos bens existentes no património do autor da sucessão à data da sua
morte, ao valor dos bens doados, às despesas sujeitas a colação e às dívidas da herança. Todavia,
o legislador não concretizou a ordem para estas operações. A doutrina, apesar de alguma
divergência, tem entendido que deve ser realizada pela seguinte ordem: em 1º lugar procede-se à
avaliação dos bens do património do de cujos; depois deduzem-se as dívidas, que devem ser
pagas à custa dos bens deixados; por último, depois de deduzidas as dívidas, deve somar-se o
valor dos bens doados e as despesas sujeitas à colação. Isto significa que para efeitos do cálculo
da legítima devemos considerar o valor dos bens deixados por J que é de 250.000€ mais os
50.000€ que haviam sido doados ao seu filho N, ou seja, um total de 300.000€. Assim sendo, o
valor da quota indisponível será de 200.000€ e da quota disponível será de 100.000€.
Acontece, porém, que por testamento o J deixou a G 100.000€. Um testamento equivale
à sucessão testamentária (voluntária), sendo que este vem regulado no art.2179º ss. No caso
concreto, trata-se de um herdeiro, nos termos do art.2030º/nº2 e, em princípio, este testamento
será válido porque não ofende a quota disponível.
Todavia, o N, herdeiro legitimário, que faleceu previamente a J, já havia recebido um
montante de 50.000€ o que significa que os seus descendentes, em direito de representação,
terão de restituir à massa da herança esse valor, tal como ordena o instituto da colação, tal como
ordena art.2104º. Ora, diz-se colação, nos termos do art.2104º, a restituição à massa da herança,
para igualação da partilha, os bens ou valores que lhes foram doados anteriormente, trata-se de
uma operação prévia à partilha. Diz-nos o art.2105º que só estão sujeitos à colação os
descendentes que eram à data da doação presuntivos herdeiros legitimários do doador. Nos
termos do art.2108º a colação faz-se pela imputação do valor da doação ou da importância das
despesas na quota hereditária ou pela restituição dos próprios bens doados, se houver acordo de
todos os herdeiros. O art. 2106º estabelece a obrigação de conferir recai sobre o donatário (neste
caso N), no entanto, recai também sobre os seus representantes ainda que estes não hajam tirado
benefício desta liberalidade, que é o que acontece no presente caso. Contudo, é preciso ter
atenção ao que dispõe o art.2109º, porque o valor dos bens doados deve ser aferido à data da
abertura da sucessão Assim, O, R, P e T em direito de representação de N terão de restituir 50.
000€ à massa da herança para entrar na partilha da herança.
O valor da quota indisponível a ser dividida por cada uma das estirpes conferia a H, a L
e ao conjunto O,P,R,T (filhos de N) a quantia de 66.666€ a cada. Isto significa, portanto, que o
valor doado por J ao N ainda seria inferior ao valor da quota indisponível, porque esta estirpe
ainda terá de receber 16.000€. Acontece, porém, que R e T repudiaram à herança, nos termos do
art.2062º. Segundo este artigo os efeitos do repudio da herança retroagem-se ao momento da
abertura da sucessão, considerando-se como não chamado o sucessível que a repudia. Isto
significa que tendo o R e T repudiado à herança haverá direito a acrescer a favor de O e P, nos
termos do art.2137º/nº2 ex vi art.2157º.
Assim, a H, seu cônjuge, irá receber 66.666€; o L, seu filho, também vai receber
66.666€; os filhos de N que também têm direito a 66.666€, em virtude de R e T terem repudiado
à herança, além do valor recebido, vão receber cada um dele a quantia de 16.666€: 2= 8.333€. O
G irá receber por testamento o valor da quota disponível de 100.000€.

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