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FACULDADE DE DIREITO
CLARICE QUINHÕES
GABRIELA DE OLIVEIRA PEREZ
JULIANA DE SENNA DEMINICIS GONÇALVES
Niterói
2018
I. CASO CONCRETO
II. QUESTÕES
a) Como se dará a sucessão com relação aos bens deixados por Álvaro?
Primeiramente, cabe destacar que Bárbara não irá participar da sucessão por
ausência de vocação hereditária, já que a viúva e o de cujus se encontravam em
separação de fato há 17 anos, tendo sido superado o prazo de 2 anos contido no art.
1.830 do Código Civil. Já Quênia, que vivia em união estável com Álvaro há 17 anos,
terá direito à meação de seus bens, os quais, tratando-se de bens móveis, se presumem
adquiridos na constância da união estável (conforme interpretação sistemática do art. 1.662
do Código Civil em sede do julgamento do RE 878694).
Acerca dos 75% de bens que restam à partilha (50% legalmente reservados aos
herdeiros necessários + 25% da parte disponível sobre a qual não dispôs o de cujus),
caberá, mediante sucessão por cabeça, uma proporção de 18,75% para os filhos Fábio e
Elba; 9,375% aos filhos de Caio, Frances e Gilson, os quais herdarão por estirpe no
exercício de direito de representação, já que Caio era pré morto (arts. 1.851 e 1.852 do
CC), cabendo a cada um metade do quinhão total ao qual faria jus seu pai (art. 1.855 do
CC); o mesmo ocorrerá com Ilma e Jorge, também netos de Álvaro que herdarão na
proporção de 6,25% do total, já que a quota parte correspondente a Dário, também pré
morto, deverá ser repartida em três partes iguais, ainda que o mesmo tenha sido
declarado indigno à época da abertura da sucessão, tendo em vista ser esta uma
condição pessoal que não se transmite aos seus descendentes (art. 1.816 do CC).
Contudo, Kelly, também filha de Dário, é pré-morta, bem como seu filho Luís, razão
pela qual, ainda por estirpe, deverá Luísa, bisneta de Dário, ser chamada a suceder na
mesma proporção que seus tios-avós Ilma e Jorge. Importante ressaltar que Helena,
viúva de Dário, não fará jus a nenhuma parcela do quinhão, posto que seu então marido
é pré-morto em relação à Álvaro, razão pela qual encontravam-se extintos o vínculo
matrimonial e a sociedade conjugal quando aberta a sucessão.
Dessa forma, começando pela sucessão de Caio, filho premorto de Álvaro, deve-
se atentar ao fato de que sua morte ocorrera em 1989, ou seja, antes da vigência do atual
Código Civil de 2002. O Código Civil de 1916, vigente à época do falecimento de Caio,
em seu art. 1.620 já mencionava o direito de representação com redação "Art. 1.620.
Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do falecido a
suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivesse.", logo, idêntica a que
temos no nosso atual Código Civil. Assim, Frances e Gilson sucedem na herança de
Álvaro por representação na linha reta descendente, pois seu pai, que estaria em posição
sucessória privilegiada se vivo fosse, é premorto.
Quanto ao direito hereditário de Elba, esta, por ainda estar viva, sucede na
herança de Álvaro por cabeça e assim, consequentemente, como dispõe o art. 1.833 do
Código Civil, exclui Marcos e Nalva da sucessão por serem descendentes de grau mais
remoto. Os descendentes de mesma classe ou grau têm os mesmos direitos conforme
consta no art. 1.834 do CC/02 e, como explica Tartuce (TARTUCE, Flávio. Direito das
Sucessões, 2017, v. 6, "2.6") um filho não pode receber por sucessão legítima mais que
o outro e, por isso, Elba, viva, herda por cabeça.
Por fim, com relação a Fábio, é necessário observar que, assim como Elba, ele
sucederia na herança de Álvaro por cabeça, no entanto ele fora deserdado em
testamento. Desse modo, se declarado deserdado na ação ordinária de deserdação, Fábio
não sucede na herança e tampouco ocorrerá a sucessão por estirpe, pois não tem
herdeiros para sucederem por representação como se ele morto fosse como dispõe o já
citado art. 1.816 que tem seus efeitos estendidos à deserdação. Agora, caso não
declarado deserdado, como já dito, sucederá por cabeça assim como sua irmã Elba.
Por outro lado, a viúva Bárbara, não concorrerá à sucessão, posto que separada
de fato do falecido há mais de 2 anos, situação prevista expressamente no art. 1.830 do
Código Civil. Tal tese, inclusive, já foi aceita e consolidada pelo STJ. Neste sentido,
entendeu o Tribunal de Justiça do Amapá:
Ocorre que, no caso concreto não há menção a nenhuma das causas previstas nos
artigos mencionados. Portanto, por mais que a deserdação tenha sido realizada por
testamento, é necessária a verificação dos motivos e a posterior confirmação por
sentença.
Por fim, se o testamento é válido e a causa exposta está dentro das hipóteses
legais, na abertura da sucessão deve-se, então, em até 4 anos, ser provado pelo herdeiro
instituído, a veracidade da causa alegada pelo testador em testamento.
No art. 1.814 do Código Civil, a respeito dos crimes dispostos nos incisos I e II,
é imprescindível o trânsito em julgado da sentença penal condenatória para o então
prosseguimento da ação de deserdação. Em ambos os casos deve-se observar a
importância de não se restarem dúvidas quanto ao crime praticado pelo herdeiro a ser
excluído, dada sua gravidade. Apesar de confirmar a causa exposta pelo testador, a
sentença penal condenatória não exclui o herdeiro da sucessão por si só, pois, como
dito, a ação ordinária declaratória da deserdação é um dos requisitos para a
definitividade da deserdação. Assim, se mesmo com sentença penal transitada em
julgado, a ação ordinária não tiver sido proposta no prazo decadencial, Fábio também
não estará definitivamente afastado da sucessão nesse caso. Quanto ao inciso III, é
possível observar que a lei não só pune aquele herdeiro que comete crime contra o autor
da herança, mas também aquele que de forma violenta, física ou psicológica, ou
fraudulenta tenta burlar a vontade do falecido (TARTUCE, Flávio. Direito das
Sucessões, 2017, v. 6, "1.14.2"), cabendo prova neste caso também.
Além dessas, outra hipótese em que Fábio também não estará definitivamente
afastado da sucessão é o caso de o herdeiro instituído não provar, se for o caso, que
houvera ofensa física entre Fábio e Álvaro (art. 1.962, I, CC/02), podendo ser, inclusive,
uma ofensa leve (TARTUCE, Flávio. Direito das Sucessões, 2017, v. 6, "1.14.2"), mas
que deverá ser comprovada. Ou então o caso da não comprovação de uma injúria grave
por parte de Fábio contra Álvaro (art. 1.962, II, CC/02); ou a hipótese de não haverem
provas de que Fábio mantivera relações ilícitas com a madrasta (art. 1.962, III, CC/02),
que a doutrina entende ser a prática de atos sexuais e envolvimentos afetivos
(TARTUCE, Flávio. Direito das Sucessões, 2017, v. 6, "1.14.2"); ou a não comprovação
de que tenha havido desamparo de Fábio, tanto material quanto afetivo, em alienação
mental ou grave enfermidade.
O Código de Processo Civil, em seu art. 48, determina de forma expressa que o
foro competente para o inventário será o de domicílio do autor da herança. Existem, no
entanto, locais alternativos que serão competentes caso o autor da herança não possua
domicílio certo, previstas no parágrafo único do referido artigo.
No caso em comento, a questão não gera dúvidas, vez que o de cujus possuía
domicílio certo. Portanto, o inventário deverá ser proposto em Niterói.
III. BIBLIOGRAFIA
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.