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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE DIREITO

CLARICE QUINHÕES
GABRIELA DE OLIVEIRA PEREZ
JULIANA DE SENNA DEMINICIS GONÇALVES

DIREITO DAS SUCESSÕES


PROFESSORA: FERNANDA PIMENTEL

Niterói
2018
I. CASO CONCRETO

Álvaro casou-se em 1958 com Bárbara, pelo regime de comunhão universal de


bens e teve quatro filhos: Caio, Dário, Elba e Fábio. Caio faleceu em 1989, deixando
dois filhos: Frances e Gilson. Dário é pré-morto, deixando viúva Helena e três filhos:
Ilma, Jorge e Kelly, sendo que Kelly já é falecida, tendo deixado um descendente: Luís,
que também já faleceu, deixando uma filha, Luísa. Elba é viúva e tem 02 filhos: Marcos
e Nalva. Em outubro de 2001, Álvaro separou-se de fato e passou a viver com Quênia,
constituindo união estável. Em agosto último, realizou testamento, onde Fábio foi
deserdado e Quênia recebeu a metade dos bens disponíveis. No último dia 26 de
outubro, Álvaro faleceu. Aberta a sucessão, Dário foi declarado indigno, Fábio não se
conforma com a deserdação e Bárbara e Quênia pleiteiam a herança deixada por Álvaro.
O domicílio do de cujus era em Niterói, contudo, há bens situados em Niterói, Nova
Friburgo e Teresópolis, sendo que na última cidade residem Bárbara, Elba e Gilson.
Com base nessa situação cima, responda:

II. QUESTÕES

a) Como se dará a sucessão com relação aos bens deixados por Álvaro?
Primeiramente, cabe destacar que Bárbara não irá participar da sucessão por
ausência de vocação hereditária, já que a viúva e o de cujus se encontravam em
separação de fato há 17 anos, tendo sido superado o prazo de 2 anos contido no art.
1.830 do Código Civil. Já Quênia, que vivia em união estável com Álvaro há 17 anos,
terá direito à meação de seus bens, os quais, tratando-se de bens móveis, se presumem
adquiridos na constância da união estável (conforme interpretação sistemática do art. 1.662
do Código Civil em sede do julgamento do RE 878694).

Ademais, Álvaro deixou em testamento a metade de seus bens disponíveis para


Quênia. Sabendo que 50% da herança de Álvaro a ser partilhada corresponde ao
quinhão disponível e os outros 50% pertencem à herança legítima, Quênia terá direito a
25% (metade) dos bens disponíveis, que receberá a título de herança testamentária, sem
prejuízo da meação. Os outros 25% retornaram ao monte para serem partilhados aos
herdeiros necessários juntamente com os 50% referentes aos bens indisponíveis.

Acerca dos 75% de bens que restam à partilha (50% legalmente reservados aos
herdeiros necessários + 25% da parte disponível sobre a qual não dispôs o de cujus),
caberá, mediante sucessão por cabeça, uma proporção de 18,75% para os filhos Fábio e
Elba; 9,375% aos filhos de Caio, Frances e Gilson, os quais herdarão por estirpe no
exercício de direito de representação, já que Caio era pré morto (arts. 1.851 e 1.852 do
CC), cabendo a cada um metade do quinhão total ao qual faria jus seu pai (art. 1.855 do
CC); o mesmo ocorrerá com Ilma e Jorge, também netos de Álvaro que herdarão na
proporção de 6,25% do total, já que a quota parte correspondente a Dário, também pré
morto, deverá ser repartida em três partes iguais, ainda que o mesmo tenha sido
declarado indigno à época da abertura da sucessão, tendo em vista ser esta uma
condição pessoal que não se transmite aos seus descendentes (art. 1.816 do CC).
Contudo, Kelly, também filha de Dário, é pré-morta, bem como seu filho Luís, razão
pela qual, ainda por estirpe, deverá Luísa, bisneta de Dário, ser chamada a suceder na
mesma proporção que seus tios-avós Ilma e Jorge. Importante ressaltar que Helena,
viúva de Dário, não fará jus a nenhuma parcela do quinhão, posto que seu então marido
é pré-morto em relação à Álvaro, razão pela qual encontravam-se extintos o vínculo
matrimonial e a sociedade conjugal quando aberta a sucessão.

Em resumo, a sucessão de Álvaro se dará da seguinte maneira: Quênia receberá


25% (sem prejuízo da meação) por meio de testamento; Fábio e Elba receberão 18,75%
(por cabeça); Frances e Gilson receberão 9,375%, cada um, e, por fim, Ilma, Jorge e
Luísa receberão 6,25%, cada um.

b) Qual a natureza do direito hereditário dos seus descendentes?


A natureza do direito hereditário dos descendentes se divide em dois tipos: por
cabeça e por estirpe como dispõe o art. 1.835 do nosso Código Civil. A sucessão por
cabeça é aquela em que a herança se reparte igualmente e diretamente a cada um dos
herdeiros, já a sucessão por estirpe, ou por representação, é aquela em que a lei,
segundo o art. 1.851 do Código Civil de 2002, chama certos parentes do herdeiro
premorto a suceder em todos os direitos em que ele sucederia se fosse vivo.

Dessa forma, começando pela sucessão de Caio, filho premorto de Álvaro, deve-
se atentar ao fato de que sua morte ocorrera em 1989, ou seja, antes da vigência do atual
Código Civil de 2002. O Código Civil de 1916, vigente à época do falecimento de Caio,
em seu art. 1.620 já mencionava o direito de representação com redação "Art. 1.620.
Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do falecido a
suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivesse.", logo, idêntica a que
temos no nosso atual Código Civil. Assim, Frances e Gilson sucedem na herança de
Álvaro por representação na linha reta descendente, pois seu pai, que estaria em posição
sucessória privilegiada se vivo fosse, é premorto.

Quanto à sucessão de Dário, segundo o que fora apresentado, este é premorto e


fora declarado indigno. De início, o fato de ser declarado indigno gera dúvidas quanto à
natureza do direito hereditário, no entanto é preciso mencionar, nesse caso, o art. 1.816
do atual Código Civil em que está disposto que são pessoais os efeitos da exclusão e, no
caso da indignidade, os descendentes do herdeiro excluído sucedem como se ele fosse
premorto. Dessa forma, Ilma e Jorge sucederão por representação na linha reta
descendente normalmente, pois, apesar de Dário já ser, de fato, premorto, se vivo fosse,
os efeitos da declaração de indignidade caberiam a ele apenas, podendo, ainda sim, seus
filhos (Ilma, Jorge e Kelly) sucederem por representação. É importante destacar que, se
Ilma, Jorge e Kelly não tivessem sequer sido concebidos à época da sucessão, nesse
caso não poderiam suceder por representação segundo o art. 1.798 do Código Civil.

“DIREITO CIVIL. HERANÇA. INDIGNIDADE. PRESSUPOSTO. SUCESSÃO POR


REPRESENTAÇÃO. REQUISITOS. I. A indignidade é a privação do direito à herança como
pena imposta ao sucessor capaz, em virtude de atos de ingratidão contra o falecido. Trata-se de
uma sanção civil de caráter pessoal, de sorte que não atinge a estirpe do herdeiro afastado, nos
termos do art. 1.816 do Código Civil. II. Os descendentes do herdeiro excluído, no entanto, não
podem ser chamados para suceder por representação se, à época da abertura da sucessão, sequer
tinham sido concebidos. Inteligência do art. 1.798 do Código Civil. III. A exclusão do herdeiro,
em qualquer caso, deve ser declarada por sentença judicial, conforme art. 1.815 do Código Civil.
IV. Deu-se parcial provimento ao recurso.” (AGI 20150020141805. 6ª Turma Cível. Rel. JOSÉ
DIVINO DE OLIVEIRA. Publicado no DJE : 04/08/2015 . Pág.: 289)

Quanto à natureza do direito hereditário de Kelly, fora apresentado que esta,


também filha de Dário ao lado de Ilma e Jorge, já é falecida, tendo deixado apenas um
descendente que é Luís, também já falecido, que por sua vez deixou uma filha, Luísa.
Nesse caso, ocorre a sucessão de Luísa por representação na linha reta descendente,
concorrendo, Luísa, com seus tios-avós.

Quanto ao direito hereditário de Elba, esta, por ainda estar viva, sucede na
herança de Álvaro por cabeça e assim, consequentemente, como dispõe o art. 1.833 do
Código Civil, exclui Marcos e Nalva da sucessão por serem descendentes de grau mais
remoto. Os descendentes de mesma classe ou grau têm os mesmos direitos conforme
consta no art. 1.834 do CC/02 e, como explica Tartuce (TARTUCE, Flávio. Direito das
Sucessões, 2017, v. 6, "2.6") um filho não pode receber por sucessão legítima mais que
o outro e, por isso, Elba, viva, herda por cabeça.

Por fim, com relação a Fábio, é necessário observar que, assim como Elba, ele
sucederia na herança de Álvaro por cabeça, no entanto ele fora deserdado em
testamento. Desse modo, se declarado deserdado na ação ordinária de deserdação, Fábio
não sucede na herança e tampouco ocorrerá a sucessão por estirpe, pois não tem
herdeiros para sucederem por representação como se ele morto fosse como dispõe o já
citado art. 1.816 que tem seus efeitos estendidos à deserdação. Agora, caso não
declarado deserdado, como já dito, sucederá por cabeça assim como sua irmã Elba.

c) A viúva e a companheira de Álvaro têm aptidão para suceder?


Quênia terá aptidão para participar da sucessão, visto que era companheira do de
cujus em união estável há 17 anos, herdando, por meação, 50% dos bens adquiridos
onerosamente na constância da união, conforme art. 1.662 do Código Civil em interpretação
extensiva à União Estável, realizada pelo STF em sede do julgamento do RE 878694/MG.

Por outro lado, a viúva Bárbara, não concorrerá à sucessão, posto que separada
de fato do falecido há mais de 2 anos, situação prevista expressamente no art. 1.830 do
Código Civil. Tal tese, inclusive, já foi aceita e consolidada pelo STJ. Neste sentido,
entendeu o Tribunal de Justiça do Amapá:

APELAÇÃO CÍVEL. RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO


ESTÁVEL POST MORTEM. SEPARAÇÃO DE FATO E POSTERIOR
DIVÓRCIO DE CONVIVÊNCIA ANTERIOR DO DE CUJUS
COMPROVADOS. UNIÃO ESTÁVEL DELE COM A APELADA
DEMONSTRADA. 1) O estado civil de casado não impede a configuração
da união estável, desde que a pessoa casada esteja separada de fato ou
judicialmente por ocasião no início do novo relacionamento; 2) Provados os
elementos caracterizadores da união estável (convivência pública, contínua e
duradoura da autora com o falecido, com assistência mútua e com objetivo de
constituir família, tanto que relação advieram três filhos) deve ser mantida a
sentença de reconhecimento da união estável; 3) Recurso de apelação a que
se nega provimento. (TJ-AP - APL: 00002499020148030004 AP, Relator:
Juiz de Direito Convocado EDUARDO FREIRE CONTRERAS, Data de
Julgamento: 05/12/2017, Tribunal).

d) São válidos os termos do testamento, produzindo seus efeitos regulares?


O testamento, segundo Flávio Tartuce, é negócio jurídico unilateral,
personalíssimo e revogável pelo qual o testador faz disposições de caráter patrimonial
ou extrapatrimonial, para depois da sua morte.
Trata-se, portanto, da principal forma de expressão e exercício da autonomia
privada no direito das sucessões. Em virtude disso, é preciso observar alguns elementos
intrínsecos e outro extrínsecos para que este ato seja válido e produza efeitos.

O primeiro elemento intrínseco é a capacidade do testador. Sobre este tema, o


art. 1.860 do Código Civil determina que não poderão testar por ausência de
capacidade: os incapazes, rol dos artigos 3º e 4º do Código, com algumas ressalvas; os
que, no ato de testar, não tiverem pleno discernimento; e as pessoas jurídicas.

Além disso, é preciso que a declaração de vontade seja espontânea e, portanto,


são anuláveis as disposições testamentárias inquinadas de erro, dolo ou coação (art.
1909, do Código Civil).

Em relação ao objeto e aos limites da declaração, cumpre destacar que os bens


da legítima não podem ser objeto de testamento e, ademais, é preciso as causas de
nulidade previstas no art. 1.900 do Código Civil.

Além dos elementos intrínsecos, é necessário cumprir as formalidades legais.


Essas formalidades variam de acordo com a forma de testamento adotado, isto é, se é
público, cerrado ou particular. Na questão em comento, essa análise resta prejudicada,
vez que o enunciado não especifica essas questões formais.

A partir desta primeira análise, percebe-se que o testamento de Álvaro é válido,


uma vez que preenche todos os requisitos intrínseco e formais.

Inclusive, em relação a divisão dos bens, o autor da herança deixou somente a


metade dos bens disponíveis a Quênia, preservando os bens da legítima. Cumpre
destacar que, a quota ressalvada não absolve toda a herança, então, a parte remanescente
será divida entre os herdeiros legítimos.

No entanto, é preciso analisar com cautela a deserdação do filho Fábio.


Conforme definição de Tartuce, na deserdação há um ato de última vontade que afasta
herdeiro necessário, sendo imprescindível a confirmação por sentença. Sobre a
deserdação, é importante pontuar que ela poderá acontecer caso se verifiquem alguns
motivos específicos previstos no Código Civil, logo, os artigos 1.814, 1.962 e 1.963
traze um rol taxativo.

Ocorre que, no caso concreto não há menção a nenhuma das causas previstas nos
artigos mencionados. Portanto, por mais que a deserdação tenha sido realizada por
testamento, é necessária a verificação dos motivos e a posterior confirmação por
sentença.

Por fim, para ilustrar o procedimento e o vício em relação a deserdação, é


importante analisar a ilustre decisão jurisprudencial acerca do tema.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ÓRFÃOS E SUCESSÕES. INVENTÁRIO.


INDEFERIMENTO DE HABILITAÇÃO DE HERDEIRO NECESSÁRIO.
DESERDAÇÃO.
1. A deserdação somente pode ser declarada em testamento, com expressa
referência à causa. E a ação de deserdação cabe àqueles que forem beneficiados em
razão da exclusão do deserdado, devendo ser ajuizada após a abertura da sucessão,
ou seja, depois da morte do testador, para que fique comprovada a causa
utilizada como razão para deserdar.
2. Não basta, para o reconhecimento da deserdação, a simples declaração do
testador em ato de última vontade, sendo imprescindível a produção de prova
em juízo acerca dos fatos declarados através de ação própria, a ser ajuizada no
prazo decadência de 04 (quatro anos) contados da abertura da sucessão. A
doutrina pátria é assente no sentido de que a ação prevista no art. 1965 do Código
Civil se revela verdadeiro pressuposto da deserdação.
3. In casu, o pedido de habilitação do Agravante como herdeiro necessário nos autos
do inventário de seu avô foi indeferido com base em sentença prolatada em sede de
exercício de jurisdição voluntária, quando da Abertura, Registro e Cumprimento do
Testamento de Eduardo de Souza Martins. E em que pesem as declarações de última
vontade em que o inventariado imputa ao Recorrente diversos fatos que, em tese,
são aptos ao reconhecimento da deserdação, tais declarações, por si só, não são
suficientes para a aplicação da referida pena civil, porquanto não houve sobre os
alegados fatos uma cognição exauriente, amparada pelo contraditório e pela ampla
defesa.
4. Recurso provido.
(TJ-RJ – AI: 00438983920158190000 RIO DE JANEIRO CAPITAL 7 VARA
ORFAOS SUC, Relator: JACQUELINE LIMA MONTENEGRO, Data de
Julgamento: 10/11/2015, DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 12/11/2015).

e) Fábio está definitivamente afastado da sucessão em face da deserdação


manifestada por seu pai em testamento?
Não. Fábio não está definitivamente afastado da sucessão em face da deserdação
manifestada por seu pai em testamento, pois além destes dois requisitos (a manifestação
por testamento e tratar-se de herdeiro necessário) é imprescindível a propositura de uma
ação declaratória da deserdação para provar os fatos alegados sobre Fabio em
testamento, como dispõe o art. 1.965 do atual Código Civil.

Primeiramente, deve-se ressaltar que, segundo o art. 1.964 do Código Civil,


somente com a expressa declaração de causa, pode a deserdação ser ordenada em
testamento, sob pena de nulidade absoluta, por desrespeito à forma e à solenidade (art.
166, IV e V, do CC), conforme Maria Helena Diniz (TARTUCE, Flávio. Direito das
Sucessões, 2017, v. 6, "1.14.3"). Então, como não foi apresentado pelo caso concreto,
se Álvaro, o autor da herança, não expôs em seu testamento o motivo da deserdação,
Fábio não estaria em nenhuma hipótese afastado da sucessão.

Em segundo lugar, levando em consideração que Álvaro tenha exposto a sua


causa, é imprescindível que esta esteja dentro das hipóteses legais de cabimento
dispostas taxativamente nos arts. 1.814, 1.962 e 1.963 do Código Civil. Além disso,
ainda quanto a estas hipóteses, é importante saber que todas elas devem preexistir ao
testamento, ou seja, o fato ensejador da deserdação deve ser anterior à feitura
testamento.

Por fim, se o testamento é válido e a causa exposta está dentro das hipóteses
legais, na abertura da sucessão deve-se, então, em até 4 anos, ser provado pelo herdeiro
instituído, a veracidade da causa alegada pelo testador em testamento.

No art. 1.814 do Código Civil, a respeito dos crimes dispostos nos incisos I e II,
é imprescindível o trânsito em julgado da sentença penal condenatória para o então
prosseguimento da ação de deserdação. Em ambos os casos deve-se observar a
importância de não se restarem dúvidas quanto ao crime praticado pelo herdeiro a ser
excluído, dada sua gravidade. Apesar de confirmar a causa exposta pelo testador, a
sentença penal condenatória não exclui o herdeiro da sucessão por si só, pois, como
dito, a ação ordinária declaratória da deserdação é um dos requisitos para a
definitividade da deserdação. Assim, se mesmo com sentença penal transitada em
julgado, a ação ordinária não tiver sido proposta no prazo decadencial, Fábio também
não estará definitivamente afastado da sucessão nesse caso. Quanto ao inciso III, é
possível observar que a lei não só pune aquele herdeiro que comete crime contra o autor
da herança, mas também aquele que de forma violenta, física ou psicológica, ou
fraudulenta tenta burlar a vontade do falecido (TARTUCE, Flávio. Direito das
Sucessões, 2017, v. 6, "1.14.2"), cabendo prova neste caso também.

Além dessas, outra hipótese em que Fábio também não estará definitivamente
afastado da sucessão é o caso de o herdeiro instituído não provar, se for o caso, que
houvera ofensa física entre Fábio e Álvaro (art. 1.962, I, CC/02), podendo ser, inclusive,
uma ofensa leve (TARTUCE, Flávio. Direito das Sucessões, 2017, v. 6, "1.14.2"), mas
que deverá ser comprovada. Ou então o caso da não comprovação de uma injúria grave
por parte de Fábio contra Álvaro (art. 1.962, II, CC/02); ou a hipótese de não haverem
provas de que Fábio mantivera relações ilícitas com a madrasta (art. 1.962, III, CC/02),
que a doutrina entende ser a prática de atos sexuais e envolvimentos afetivos
(TARTUCE, Flávio. Direito das Sucessões, 2017, v. 6, "1.14.2"); ou a não comprovação
de que tenha havido desamparo de Fábio, tanto material quanto afetivo, em alienação
mental ou grave enfermidade.

Após a comprovação da causa e declarada a deserdação de Fábio, Fábio ainda


teria a possibilidade de não estar definitivamente afastado da sucessão se, por um acaso,
Álvaro tivesse expressamente reabilitado Fábio em um outro ato autêntico. A princípio
o instituto da reabilitação só ocorreria para os casos de indignidade, porém Flávio
Tartuce acredita que a norma relativa à indignidade, quanto à reabilitação, pode ser
aplicada ao deserdado, argumentando que, para o Direito Civil, o que não está proibido,
está permitido (TARTUCE, Flávio. Direito das Sucessões, 2017, v. 6, "1.14.3").

Assim, pelas diversas nuances envolvidas para a exclusão definitiva de um


herdeiro por deserdação, não é correto afirmar que Fábio, segundo o caso concreto, está
definitivamente afastado em face da deserdação manifestada em testamento por seu pai
Álvaro.

f) Onde deverá ser proposto o inventário?

O Código de Processo Civil, em seu art. 48, determina de forma expressa que o
foro competente para o inventário será o de domicílio do autor da herança. Existem, no
entanto, locais alternativos que serão competentes caso o autor da herança não possua
domicílio certo, previstas no parágrafo único do referido artigo.

No caso em comento, a questão não gera dúvidas, vez que o de cujus possuía
domicílio certo. Portanto, o inventário deverá ser proposto em Niterói.
III. BIBLIOGRAFIA

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

RIBEIRO, Fulgencio. Processo de Inventário NCPC. 2013. Disponível em:


https://ribeirooliveiraadvogados.jusbrasil.com.br/artigos/114665352/processo-de-
inventario-ncpc. Acesso em: 10 dez 2018.

MELLO, Frederico Fernandes. Testamento e seus requisitos. 2014. Disponível em:


https://fredmelloadv.jusbrasil.com.br/artigos/155224420/testamentos-e-seus-requisitos.
Acesso em: 10 dez 2018.

SOUZA, Ilara Coelho. Hipóteses contemporâneas da deserdação do testamento. 2014.


Disponível em: https://jus.com.br/artigos/30005/hipoteses-contemporaneas-da-
deserdacao-do-testamento. Acesso em: 10 dez 2018.

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