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AULA – DIREITO DO CONSUMIDOR

Prof. Dr. Carlos Sérgio Gurgel da Silva

Práticas Comerciais

As práticas comerciais estão dispostas no Capítulo V da Lei nº 8.078/1990 e estão


divididas em 5 partes:

1. Oferta;
2. Publicidade;
3. Práticas Abusivas;
4. Cobrança de Dívidas, e;
5. Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores

Este Capítulo V do código inicia informando, no artigo 29, que se equiparam aos
consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.

OFERTA

Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por


qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou
apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o
contrato que vier a ser celebrado.

Comentário(s): Ao anunciar a comercialização de produto ou serviço, determinando-se


de forma precisa a natureza dos mesmos, além de informar seu preço, o fornecedor fica
obrigado a cumprir o prometido (integra o contrato que vier a ser celebrado).

Jurisprudência em tese (STJ):

 EDIÇÃO N. 74: DIREITO DO CONSUMIDOR III –


o 18) - É solidária a responsabilidade entre aqueles que veiculam
publicidade enganosa e os que dela se aproveitam na
comercialização de seu produto ou serviço.
 EDIÇÃO N. 110: DOS CONTRATOS DE PROMESSA DE
COMPRA E VENDA E DE COMPRA E VENDA DE BENS
IMÓVEIS - II
o 8) É abusiva a cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de
assessoria técnico-imobiliária ou atividade congênere, vinculado à
celebração de promessa de compra e venda de imóvel. (Tese
julgada sob o rito do art. 1.036 do CPC/2015 - TEMA 938 - parte
final);
o 9) É válida cláusula contratual que transfere ao promitente-
comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos
contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em
regime de incorporação imobiliária, desde que previamente
informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o
destaque do valor da comissão de corretagem. (Tese julgada sob o
rito do art. 1.036 do CPC/2015 - TEMA 938 - segunda parte)

Jurisprudência:

“AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.764.022 - SP (2018/0226790-


7) RELATOR : MINISTRO MARCO BUZZI AGRAVANTE : H M 11
EMPREENDIMENTO IMOBILIARIO SPE LTDA AGRAVANTE :
HM ENGENHARIA E CONSTRUCOES S/A ADVOGADOS :
ALEXANDRE ICIBACI MARROCOS ALMEIDA - SP212080
NANCY MENDONÇA ERDMANN DE ALMEIDA ABRAHÃO -
SP203430 VANESSA RIBEIRO PEREIRA - SP390836 AGRAVADO
: SUZELAINE HONORATO DA SILVA ADVOGADO :
FERNANDO AUGUSTO CÂNDIDO LEPE - SP201932 } EMENTA
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO
CONDENATÓRIA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU
PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA RECURSAL DAS
REQUERIDAS.

1. Este Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento em


julgamento de recurso repetitivo no sentido de admitir a "validade da
cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a
obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de
promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de
incorporação imobiliária, desde que previamente informado o
preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do
valor da comissão de corretagem." (REsp 1599511/SP, Rel. Ministro
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado
em 24/08/2016, DJe 06/09/2016 - Tema 938). 1.1. Na hipótese dos
autos, o Tribunal de origem, com base nas provas carreadas aos autos,
concluiu estarem ausentes os requisitos previstos na tese firmada por
esta Corte superior. Alterar tal conclusão demandaria nova
interpretação de cláusulas contratuais e, ainda, o reexame de fatos e
provas, providências inviáveis em recurso especial, a teor do disposto
nas Súmulas 5 e 7 do STJ”.

“RECURSO ESPECIAL Nº 1.607.078 - PE (2016/0156841-9)


RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE
RECORRENTE : INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR ADVOGADOS : CHRISTIAN TARIK PRINTES
E OUTRO(S) - SP316680 ANDREA LAZZARINI SALAZAR -
SP0142206 RECORRIDO : AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
SUPLEMENTAR RECORRIDO : GOLDEN CROSS
ASSISTÊNCIA INTERNACIONAL DE SAÚDE LTDA
ADVOGADOS : SERGIO BERMUDES - RJ017587
GUILHERME VALDETARO MATHIAS - RJ075643 ANDRÉ
TAVARES E OUTRO(S) - RJ109367 RECORRIDO : UNIMED-
RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO DO RIO DE
JANEIRO LTDA ADVOGADOS : NATHALIA RIBEIRO -
RJ166375 MAURÍCIO RAFAEL ANTUNES E OUTRO(S) -
RJ197960 EMENTA RECURSO ESPECIAL. CIVIL.
CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. ALIENAÇÃO
VOLUNTÁRIA DE CARTEIRAS. PROCEDIMENTO
REGULADO PELA RESOLUÇÃO NORMATIVA 112/2005, DA
ANS. MANUTENÇÃO PELA OPERADORA ADQUIRENTE
DOS PRESTADORES DE SERVIÇO CREDENCIADOS PELA
ALIENANTE. ALTERAÇÃO. POSSIBILIDADE.
OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS ESTABELECIDOS NO
artigo 17 DA LEI 9.656/1998. RECURSO ESPECIAL
IMPROVIDO.

1. As operadoras de plano de saúde que pretendam alienar,


voluntariamente, todas ou algumas de suas carteiras devem, observados
os procedimentos estabelecidos pelas normas editadas pela Agência
Nacional de Saúde Suplementar, sobretudo o disposto na Resolução
Normativa n. 112/2005, formular requerimento, instruindo-o com a
documentação exigida, perante a ANS, que, analisando o
preenchimento dos requisitos necessários, poderá aprovar a
transferência de carteiras. Após a aprovação, a operadora adquirente
deve notificar todos os beneficiários que possuam contratos na carteira
alienada por meio de comunicação individual e de publicação na
imprensa.

2. A Resolução Normativa n. 112/2005, editada pela ANS, exige, na


alienação voluntária de carteiras de plano de saúde, que a nova
operadora mantenha em relação aos beneficiários da carteira
transferida as mesmas condições contratuais vigentes, sem lhes
restringir direitos ou causar-lhes prejuízos (artigo 4º, caput). Visa,
com isso, a resguardar o direito do consumidor de ter mantido, nos
mesmos termos em que ajustado originariamente, o contrato que
celebrou com a operadora alienante da carteira de plano de saúde
da qual faz parte.

3. O artigo 4º, caput e § 2º, da aludida resolução normativa


estabelece que, em regra, deve ser mantida a mesma rede de
serviços de assistência à saúde credenciados, referenciados ou
contratados que a operadora alienante oferecia à época da
transferência de carteiras, somente autorizando sua alteração se
forem observadas as diretrizes estabelecidas no artigo 17 da Lei
9.656/1998.

4. Em observância ao princípio da boa-fé objetiva e visando à proteção


das legítimas expectativas do consumidor quanto à qualidade, à
quantidade, à localização, entre outros critérios, dos serviços prestados
pela operadora de plano de saúde no momento da contratação, tanto a
operadora originariamente contratada pelo consumidor, por força
do artigo 17 da Lei 9.656/1998, como a nova operadora adquirente
das carteiras alienadas, com base no disposto no artigo 4º, § 2º, da
RN 112/2005-ANS, devem respeitar a regra de manutenção,
durante a vigência dos contratos celebrados com os beneficiários,
dos prestadores de serviço de saúde já credenciados, referenciados
ou contratados.

5. A substituição do prestador de serviço de saúde em sentido amplo


(incluindo hospitais, clínicas, profissionais de saúde, laboratórios e
serviços correlatos), durante a vigência do contrato de plano de
assistência à saúde, é legítima e possível, mas desde que observadas as
seguintes condições: (I) substituição por profissional ou
estabelecimento equivalente (artigo 17, § 1º, da Lei 9.656/98); (II)
comunicação à ANS e aos consumidores com, no mínimo, trinta dias
de antecedência (artigo 17, § 1º, da Lei 9.656/1998); e (III) manutenção
de eventual internação de beneficiário iniciada antes da substituição
(artigo 17, § 2º, da Lei 9.656/1998). Tais requisitos devem ser
observados tanto pelas operadoras de plano de saúde originariamente
contratadas pelo consumidor como pelas operadoras adquirentes de
carteiras alienadas (artigo 4º, § 2º, da RN n. 112/2005-ANS)”.

Deve-se destacar, no entanto, a hipótese de erro grosseiro no anúncio do preço de


um produto. Neste caso, o princípio da vinculação da oferta pode ser relativizado.
Vejamos o seguinte julgado:

“ENTREGA DE COISA CERTA - DIREITO DO CONSUMIDOR


- MERCADORIA COM VALOR ANUNCIADO DE FORMA
ERRADA - FATO QUE EVIDENCIA ERRO E NÃO DOLO DO
COMERCIANTE - DESPROPORÇÃO ENTRE O PREÇO REAL
E O ANUNCIADO - ENRIQUECIMENTO ILÍCITO - NÃO
CABIMENTO. O art. 30, do CDC, consagra o princípio da boa-fé,
que deve vigorar nas relações de consumo desde a fase pré-
contratual, obrigando o fornecedor a cumprir o prometido em sua
propaganda. No entanto, não se pode obrigar o fornecedor a vender
mercadoria pelo preço anunciado, se não se vislumbra a existência
de dolo, mas sim de evidente erro na informação, denunciado pela
grande desproporção entre o preço real do equipamento e o
anunciado. A boa-fé, que a lei exige do fornecedor, também é
exigida do consumidor. ""Assim, na hipótese de equívoco flagrante
e disparatado presente em informação ou publicidade, não se pode
consentir na vinculação obrigacional do fornecedor almejada por
consumidor animado pelo propósito do enriquecimento ilícito""
(OLIVEIRA, James Eduardo, Código de Defesa do Consumidor
Anotado e Comentado, Ed. Atlas, p. 201). v.v. O fornecedor está
vinculado às informações que divulga por meio publicitário, devendo
manter a oferta feita.

(TJ-MG 107010513302340011 MG 1.0701.05.133023-4/001(1),


Relator: ELIAS CAMILO, Data de Julgamento: 27/06/2007, Data
de Publicação: 23/07/2007)”

Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações


corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características,
qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre
outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos
consumidores.

Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados
oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével.

Comentário(s): O consumidor precisa ser informado claramente sobre as características


do produto, de modo que este possa fazer sua melhor escolha. Há alimentos, por exemplo,
que não podem ser consumidos por determinadas pessoas, devido a alergias, intoxicações
ou outros riscos à saúde. Neste sentido, o fornecedor deve ser diligente no sentido de
assegurar tais informações ao consumidor. Isso se aplica em relação a divulgações sobre
a composição dos produtos, mas também em relação a outros aspectos, tais como
quantidade, qualidade, preço, prazos de validade, origem, entre outras informações.

Jurisprudência:
“AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL N° 1328372 - MS
(2018/0177474-1) RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO
BELLIZZE AGRAVANTE : FERRERO DO BRASIL
INDUSTRIA DOCEIRA E ALIMENTAR LTDA ADVOGADOS :
SÍLVIA ZEIGLER - SP129611 ANDRÉ FERRARINI DE
OLIVEIRA PIMENTEL - SP185441 JULIANA DE SOUSA
FELDMAN E OUTRO(S) - SP316803 AGRAVADO : ABRACON
- SAUDE (ASSOCIACAO BRASILEIRA DE DEFESA DOS
CONSUMIDORES DE PLANO DE SAUDE) ADVOGADOS :
NORBERTO NOEL PREVIDENTE - MS003427 RUBEN DA
SILVA NEVES - MS009495 MURIEL ARANTES MACHADO E
OUTRO(S) - MS016143 EMENTA AGRAVO INTERNO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO COLETIVA.

1. JULGAMENTO MONOCRÁTICO. SÚMULA 568/STJ.

2. ASSOCIAÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA. PERTINÊNCIA


TEMÁTICA DEMONSTRADA. DEFESA DOS CONSUMIDORES.
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL.
SÚMULA 83/STJ.

3. PRODUTOS ALIMENTÍCIOS. OBRIGAÇÃO DE


INFORMAR A PRESENÇA OU NÃO DE GLÚTEN.
NECESSIDADE DE COMPLEMENTAÇÃO COM A
INFORMAÇÃO-ADVERTÊNCIA SOBRE OS RISCOS DO
GLÚTEN À SAÚDE DOS DOENTES CELÍACOS.
PRECEDENTES.

4. HONORÁRIOS RECURSAIS. NOVA MAJORAÇÃO.


INVIABILIDADE.

5. AGRAVO DESPROVIDO.

1. Súmula 568/STJ: "O relator, monocraticamente e no Superior


Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando
houver entendimento dominante acerca do tema."

2. A pertinência temática exigida pela legislação de regência exige o


nexo material entre os fins institucionais da autora e a tutela buscada na
demanda, sendo prescindível sua constituição para defesa em juízo
especificamente daquele interesse controvertido peculiar da hipótese
concreta. Acórdão recorrido em harmonia com a jurisprudência desta
Corte Superior. Súmula 83/STJ.

3. A Corte Especial sedimentou o entendimento de que o fornecedor


de alimentos deve complementar a informação-conteúdo "contém
glúten" com a informação-advertência de que o glúten é prejudicial
à saúde dos consumidores com doença celíaca.
4. Não estão presentes os requisitos cumulativos necessários para a
majoração dos honorários sucumbenciais prevista no artigo 85, § 11, do
CPC/2015 (cf. AgInt nos EREsp n. 1.539.725/DF, Rel. Min. Antonio
Carlos Ferreira, Segunda Seção, julgado em 9/8/2017, DJe 19/10/2017).

5. Agravo interno desprovido”.

Observação importante: Não se deve confundir “Diet” com “Light” – Os produtos


“light” podem conter açúcar ou amido, mesmo que em baixa quantidade. Portanto, não é
recomendado o consumo de produtos “light” pelos diabéticos. Apesar de o CDC exigir
informações claras e precisas em português, é costume no país a utilização de termos em
inglês. Diet, que é uma abreviatura de Dietetic só pode ser usado em produtos que tenham
como público-alvo os consumidores com diabetes. “Light” quer dizer apenas leve, com
menos gorduras ou calorias. Até para cigarros se utiliza os termos “light”, quando o
fabricante indica que há “baixo teores” de nicotina.

Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças


de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto.

Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por
período razoável de tempo, na forma da lei.

Comentário(s): O artigo deixa claro que enquanto não cessar a fabricação ou importação
do produto os fabricantes e importadores devem assegurar as peças e componentes de
reposição. Há, inclusive, um grande mercado consumidor para essas peças de reposição,
uma vez que há milhares ou até milhões de produtos no mercado, com peças que
certamente se desgastarão, como é o caso de carros, microcomputadores, celulares, etc.

O problema que se verifica é em relação ao parágrafo único deste artigo 32, pelas
imprecisões ali observadas, como por exemplo, “período razoável de tempo na forma da
lei”. Em um primeiro momento, convém destacara que não existe esta lei referida na
norma. “A questão fica, então, relegada para setores específicos, que podem ser regrados
por lei especificamente criada para tanto, ou, ainda, deixada para análise dos casos
concretos, nos quais se poderá tentar preencher o vago sentido exposto na proposição
(“período razoável de tempo”). A solução dar-se-á, então, caso a caso, ganhando
especial relevo as reivindicações que o Ministério Público e todas as demais entidades
de defesa do consumidor poderão fazer a título coletivo”. (Rizzatto Nunes)

Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o
nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos
utilizados na transação comercial.

Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e serviços por telefone, quando a


chamada for onerosa ao consumidor que a origina.

OBS: a aquisição de produtos e serviços por telefone, reembolso postal, internet, mala
direta, etc., tem regulamentação especial prevista no art. 49. (Art. 49. O consumidor pode
desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento
do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços
ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste
artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão,
serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados).

Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de


seus prepostos ou representantes autônomos.

Comentário(s): Como ensina Rizzatto Nunes: “A regra do art. 34 é um tanto óbvia,


contudo estampa mais uma vez problemas que o nosso mercado sempre teve. Diante da
negativa dos fornecedores em assumir a responsabilidade que lhes cabia pelos atos
praticados por seus prepostos ou representantes autônomos, não teve outra alternativa
o legislador a não ser criar a regra do art. 34. Preferiu ele pecar pelo excesso e colocar
expressamente aquilo que sempre decorreu da natureza jurídica dos negócios de compra
e venda no mercado. Em verdade, a norma estabeleceu uma regra de solidariedade,
porquanto dispõe que o “fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável
pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos”. Mas, na prática, como a
escolha do responsável solidário é do consumidor, naturalmente este optará por
reclamar e/ou acionar do fornecedor e não do vendedor, atendente, representante
autônomo, etc., que, por certo, não teriam condições de atende-lo cabalmente em caso
de responsabilidade pelo pagamento de indenização”.

Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta,


apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:

I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou


publicidade;

II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;

III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada,


monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

OBSERVAÇÕES:

1. Novo conceito de oferta: adequação aos princípios da boa-fé (cumprimento da


oferta) e da transparência (dever de informação clara, precisa e ostensiva acerca
do produto ou serviço e do contrato a firmar-se);
2. A ideia de oferta engloba todas as manifestações de marketing, desde que
suficientemente precisas, a estabelecer a obrigação do fornecedor em cumprir o
seu inteiro teor – Princípio da vinculação;
3. Necessidade de exposição da oferta suficientemente precisa – Precisão suficiente,
completa e inequívoca, com um mínimo de concisão, caracterizando-se como
oferta séria (firme);
4. A informação do fornecedor de que as alegações têm mero valor indicativo não
impede a vinculação do fornecedor;
5. Assegurar a veracidade e seriedade das manifestações de marketing, publicidade
e promoções de vendas, mormente em face do princípio da transparência;
6. “A oferta ou proposta é a declaração inicial de vontade direcionada à realização
de um contrato” (Cláudia Lima Marques);
7. Não mais se faz necessário que o policitante (no caso o fornecedor) elabore
proposta contendo em termos precisos e a encaminhe a pessoa determinada. Para
vincular, basta à veiculação de publicidade ou qualquer espécie de informação,
desde que suficientemente precisa, delineando os elementos essenciais do
negócio;

SISTEMA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A oferta engloba todas as manifestações de marketing;

 PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO → O fornecedor que fizer veicular ou utilizar


toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, propagada por
qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços
oferecidos ou apresentados, torna-se responsável e obriga-se por ela, passando a
integrar o contrato que vier a ser celebrado (CDC, art. 30);
 FORÇA OBRIGATÓRIA → Recusa do fornecedor ao cumprimento da oferta,
apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, à sua livre escolha,
alternativamente: (a) exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da
oferta, apresentação ou publicidade; (b) aceitar outro produto ou prestação de
serviço equivalente; (c) resolver o contrato, com direito à restituição de quantia
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos (CDC,
art. 35, I, II, III) – Opções do consumidor, independentemente das sanções
administrativas;
 Informações (pré-contratuais e contratuais – condições formais) corretas
(verdadeiras), claras (fácil entendimento), precisas (sem prolixidade), ostensivas
(fácil percepção) e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades,
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre
outros dados (rol exemplificativo), bem como sobre os riscos que apresentam à
saúde e segurança dos consumidores (CDC, art. 31) – Informação positiva;
 O fornecedor é portador do dever informativo, corolário do princípio da
transparência, um dos pilares do CDC, nas fases pré-contratual e contratual;
 Oferta de componentes e peças de reposição: enquanto não cessar a fabricação
ou importação do produto (CDC, art. 32), porém, até mesmo após cessadas a
produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoável de
tempo, na forma da lei (art. 32, parágrafo único) – Diante da ausência de lei ou
regulamento, o juiz fixará o prazo de acordo com o caso concreto;
 A fonte da vinculação contratual é a declaração publicitária e não a vontade real
do anunciante – Importa o que o anúncio de fato diz e não o que o anunciante de
fato quis dizer;
 Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o
nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os
impressos utilizados na transação comercial (CDC, art. 33) – Modalidade de
promoção de venda – Identificação necessária do fornecedor;
 Responsabilidade solidária pelos atos de prepostos (vendedores, ainda que
autônomos) ou representantes autônomos (CDC, art. 34), mesmo que haja
previsão contratual de exclusão.

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