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EXERCÍCIOS 4

A. No âmbito do processo que, com o n.º 1/16.0TBVNF, correu termos no Juízo


Local Cível de Vila Nova de Famalicão, em que foram autores Margarido e Fernanda,
casados no regime de comunhão de adquiridos, e a ré a sociedade comercial Benedito
& Irmãos, Lda., foi proferida a seguinte sentença:
“Julga-se a presente ação totalmente procedente e, em consequência, condena-se a
Ré a pagar aos Autores:
1) A quantia de 14.000,00€, acrescida de juros de mora à taxa legal, a título de danos
patrimoniais causados no imóvel de que os Autores são proprietários em
consequência da queda de uma grua, propriedade da Ré;
2) O montante de 5.000,00€, acrescido da quantia que vier a ser apurada em
liquidação de sentença, correspondente aos danos patrimoniais e não
patrimoniais decorrente dos tratamentos médicos e intervenções cirúrgicas a que
os Autores já se submeteram e a que ainda terão de se submeter.”

a) Sabendo que aquela sentença foi notificada aos advogados das partes, através
de notificação elaborada via Citius, e que até à presente data a sociedade Benedito &
Irmãos, Lda. ainda não liquidou qualquer quantia, seria possível neste momento
requerer a execução da sentença?
• Se o devedor não cumprir voluntariamente a prestação a que se encontra
vinculado, o credor tem o direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de
executar o património do devedor (artigos 762.º, n.º 1 e 817.º do CC).
• São ações executivas aquelas em que o credor requer as providências adequadas
à realização coativa de uma obrigação que lhe é devida (artigo 10.º, n.º 4 do CC).
• Toda a execução tem por base um título, o qual determina o fim e os limites da
ação executiva (artigo 10.º, n.º 5 do CPC).
• Título executivo é todo o documento que exterioriza ou demonstra a existência
de um ato ao qual a lei confere força bastante para servir de base à ação executiva.
• A ação executiva pode ter como fim o pagamento de quantia certa, a entrega de
coisa certa ou a prestação de um facto (artigo 10.º, n.º 6 do CPC).
• O título executivo, no caso, é uma sentença condenatória, nos termos do
disposto na al. a), do n.º 1, do artigo 703.º do CPC, artigo este que define, de forma
taxativa, a que documentos a lei atribui força executiva.
• O artigo 704.º do CPC define as condições em que uma sentença condenatória
pode servir de base a uma execução.
• A sentença só constitui título executivo depois do trânsito em julgado, salvo se o
recurso contra ela interposto tiver efeito meramente devolutivo (artigo 704.º, n.º 1 do
CPC).
• Se há um recurso pendente, tal significa que a mesma não transitou em julgado,
conforme previsto no artigo 628.º do CPC.
• Apesar disso, uma sentença não transitada em julgado pode reunir os requisitos
de exequibilidade se o recurso tiver efeito meramente devolutivo (artigo 647.º, n.º 1 do
CPC).
• No caso, o recurso é admissível por cumprir os critérios do valor e da
sucumbência (artigo 629.º, n.º 1 do CPC) e, por ser um recurso de um tribunal de 1.ª
instância, vai para um tribunal da Relação e denomina-se recurso de apelação (artigo
644.º, n.º 1, al. a) do CPC).
• Por regra, a apelação tem efeito meramente devolutivo, pelo que só em casos
especiais previstos na lei, o recurso tem efeitos suspensivos.
• Sem prejuízo, o recorrente pode requerer a atribuição de efeito suspensivo ao
recurso quando demonstre que a execução da sentença lhe cause prejuízo considerável
e se ofereça para prestar caução (artigo 647.º, n.º 4 do CPC).
• Por outro lado, pelo título executivo, a sociedade Benedito & Irmãos, Lda. ficou
obrigada a pagar a Margarido e Fernanda a quantia de 5.000,00€, acrescida da quantia
que vier a ser apurada em liquidação de sentença, correspondente aos danos
patrimoniais e não patrimoniais referentes aos tratamentos médicos e intervenções
cirúrgicas a que os Autores já se submeteram e a que ainda terão de se submeter.
• Assim, a execução terá por finalidade o pagamento de quantia certa (artigos 10.º,
n.º 6 e 724.º e ss. do CPC).
• No que concerne à obrigação exequenda, o artigo 713.º do CPC determina que a
execução deve principiar pelas diligências a requerer pelo exequente, destinadas a
tornar a obrigação certa, líquida e exigível.
• A obrigação é certa quando se encontra determinada em relação à sua
qualidade, ou seja, quando o devedor sabe exatamente o que deve (artigo 714.º do
CPC). No caso em concreto, a obrigação exequenda é certa, na medida em que está em
causa uma obrigação pecuniária (artigo 550.º do CC).
• Por sua vez, a obrigação é exequível quando já se encontra vencida ou quando o
vencimento depende de simples interpelação do devedor (artigo 715.º do CPC); no caso,
as condições de exequibilidade encontram-se associadas à exequibilidade da sentença,
já discriminadas supra.
• Por último, a obrigação é líquida quando se encontra determinada em relação à
sua quantidade (artigo 716.º do CPC). No caso dos autos, uma parte da obrigação é
líquida, no montante de 19.000,00€, e outra parte concernente aos danos patrimoniais
e não patrimoniais referentes aos tratamentos médicos e intervenções cirúrgicas a que
os Autores terão que ser submetidos, é ainda ilíquida.
• Significa isto que relativamente a essa parte ilíquida os Autores terão de lançar
mão do competente incidente de liquidação, tendo em cista o apuramento exato do
montante dos danos por eles sofridos (artigo 358.º a 360.º do CPC).
• Nos termos do n.º 8 do artigo 716.º do CPC, se uma parte da obrigação for
ilíquida e outra líquida, pode o exequente executar imediatamente a parte líquida da
obrigação.

b) Suponha que o património da sociedade Benedito & Irmãos, Lda. reconduz-se


a um veículo ligeiro de passageiros, o qual é utilizado na deslocação dos seus
trabalhadores para as obras, a um depósito bancário cujo saldo atual é de 400,00€ e a
um crédito sobre o Centro Social, IPSS, no montante de 5.000,00€m referente a obras
que executou e nunca foram pagas. Poderia o AE proceder à penhora desses bens e/ou
direitos?
• Dispõem os artigos 601.º do CC e 735.º, n.º 1 do CPC que estão sujeitos à
execução todos os bens do devedor suscetíveis de penhora que, nos termos da lei
substantiva, respondam pela dívida exequenda (P.º da patrimonialidade).
• A penhora corresponde a uma garantia especial das obrigações e consubstancia-
se numa apreensão judicial do património do executado, com vista à sua venda
executiva e subsequente satisfação da dívida exequenda e das despesas da execução,
através do produto da venda (artigo 817.º do CC).
• Por sua vez, o artigo 735.º, n.º 1 do CPC estipula que a penhora deve começar
pelos bens cujo valor pecuniário seja de mais fácil realização e se mostrem adequados
ao montante do crédito do exequente (gradus executuonis).
• Porém, à regra da penhorabilidade de todos os bens do executado, a lei estipulou
determinados limites, consignando que existem determinados bens que são
absolutamente impenhoráveis (artigo 736.º do CPC), relativamente impenhoráveis
(artigo 737.º do CPC) e parcialmente impenhoráveis (artigo 738.º do CPC).
• No caso concreto, no que concerne ao veículo automóvel que é utilizado pela
sociedade para fazer deslocar os seus trabalhadores para as obras, estamos perante um
instrumento de trabalho da própria sociedade.
• Ora, de acordo com o artigo 737.º, n.º 2 do CPC, estão também isentos de
penhora os instrumentos de trabalhos e os objetos indispensáveis ao exercício da
atividade ou formação profissional do executado, salvo se o executado os indicar para
penhora, a execução se destinar ao pagamento do preço da sua aquisição ou do custo
da sua reparação, ou forem penhorados como elementos corpóreos de um
estabelecimento comercial.
• No entanto, esta regra destina-se às pessoas singulares e não às pessoas
coletivas, senão cairíamos na dificuldade de não poder penhorar qualquer bem da
sociedade comercial por ser necessário ou conveniente à prossecução do seu fim; além
disso, o veículo constitui, em bom rigor, um elemento corpóreo do estabelecimento
comercial.
• Em relação ao depósito bancário, cujo saldo atual é de 400,00€, trata-se de um
direito penhorável à luz do regime jurídico da penhora de depósitos bancários do artigo
780.º do CPC.
• No entanto, apesar de o artigo 738.º, n.º 5 dispor que, na penhora de direito ou
saldo bancário, é impenhorável o valor global correspondente ao salário mínimo
nacional, a verdade é que esta disposição igualmente não tem aplicação no caso das
sociedades comerciais.
• Por último, no que concerne ao crédito de que a executada é titular sobre o
Centro Social, IPSS, no montante de 5.000,00€, referente a obras que executou e que
ainda não lhe foram pagas, este direito é penhorável através do regime de penhora de
créditos, previsto no artigo 773.º do CPC, devendo, para o efeito, o AE notificar o Centro
Social, IPSS dessa penhora, advertindo-o de que o crédito fica à ordem do AE.
• Nesse caso, cabe ao terceiro declarar se o crédito existe, quais as garantias que
o acompanham, em que data se vence e quaisquer outras circunstâncias que possam
interessar à execução (artigo 773.º, n.º 2 do CPC).

c) Imagine que a sociedade executada veio invocar em sede de oposição à


execução que não deve qualquer quantia aos exequentes, já que foi demandada
indevidamente na ação declarativa, pois a grua e, causa não lhe pertence, e não teve
possibilidade de contestar essa ação, porquanto a carta de citação foi recebida pelo
porteiro da empresa, o qual nunca deu conhecimento da mesma à administração.
Quid iuris?
• Na situação em análise, a ação executiva tem como título uma sentença
condenatória, o que importa que a executada apenas possa deduzir oposição à execução
com base em algum dos fundamentos previstos no artigo 729.º do CPC.
• Na sua oposição à execução, a executada veio invocar que não é devedora de
qualquer quantia, na medida em que foi demandada indevidamente na ação declarativa
e, bem assim, que não teve possibilidade de contestar essa ação, já que o porteiro da
empresa, que recebeu a carta de citação, não deu conhecimento da mesma à
administração.
• Ora, quanto ao primeiro argumento, o mesmo não se enquadra em nenhum dos
fundamentos legais previstos no artigo 729.º do CPC.
• É uma exceção dilatória de ilegitimidade processual, que devia ter sido alegada
em sede de contestação, na própria ação declarativa, à luz do P.º da concentração da
defesa na contestação (artigo 573.º do CPC).
• Do mesmo modo, a executada não pode agora invocar que é parte ilegítima na
execução, já que, no processo executivo, vigora o princípio da legitimidade formal,
segundo o qual a execução é intentada contra quem figura no título como devedora
(artigo 53.º, n.º 1 do CPC).
• Quanto ao segundo argumento, este fundamento, apesar de previsto na al. d) do
artigo 729.º do CPC, invocando a executada a falta de citação prevista na al. e) do n.º 1
do artigo 188.º do CPC.
• No entanto, dispõe o artigo 223.º, n.º 3 do CPC que as pessoas coletivas
consideram-se citadas na pessoa de qualquer empregado que se encontre na sede ou
no local onde funciona normalmente a administração.
• Também não tem aplicação a referida al. e) do n.º 1 do artigo 188.º do CPC, já
que apenas haveria falta de citação quando se demonstrasse que o destinatário da
citação pessoal não chegou a ter conhecimento do ato mas apenas por facto que não
lhe seja imputável.
• Quando muito, haverá aqui responsabilidade civil do porteiro em relação à
própria executada.

d) Poderiam Margarido e Fernanda adquirir para si o veículo automóvel


penhorado à sociedade executada?
• Nos termos do artigo 795.º, n.º 1 do CPC, o pagamento pode ser feito pela
entrega de dinheiro, pela adjudicação dos bens penhorados, pela consignação dos seus
rendimentos ou pelo produto da respetiva venda.
• O regime da adjudicação de bens encontra-se previsto nos artigos 799.º e ss. do
CPC.
• Assim, de acordo com este regime, o exequente pode pretender que lhe sejam
adjudicados bens penhorados para pagamento total ou parcial do seu crédito.
• No seu requerimento de adjudicação do bem penhorado – o qual pode ser
apresentando a todo o tempo enquanto o bem não for vendido – o exequente deve
indicar o preço que oferece pelo bem penhorado, sendo que esse preço não pode ser
inferior a 85% do valor base do bem (artigo 816.º, n.º 2 do CPC).
• Uma vez apresentando o requerimento de adjudicação junto do AE, este deve
publicitar esse pedido, com a indicação do preço oferecido pelo exequente, após o que
deve designar data, hora e local para a abertura das propostas.
• A abertura das propostas tem lugar no caso concreto perante o AE (artigo 800.º,
n.º 3 do CPC).
• Nos termos do artigo 801.º, n.º 1 do CPC, se não aparecer qualquer outra
proposta e se ninguém se apresentar a exercer o direito de preferência, o AE deve
aceitar o preço oferecido pelo requerente; sendo apresentada proposta de maior preço,
o AE deve observar o disposto nos artigos 820.º e 821.º do CPC.
• De acordo com o artigo 815.º, n.º 1, ex vi do artigo 802.º do CPC, o exequente
que adquira bens pela execução é dispensado de depositar a parte do preço que não
seja necessária para pagar a credores graduados antes dele e que não exceda a
importância que tenha direito a receber.

B. No dia 13 de janeiro de 2023, Alfredo, casado com Bernardina no regime da


comunhão de adquiridos e residente em Barcelos, celebrou com a sociedade comercial
denominada Frederico Freitas, Lda., com sede em Braga, um contrato verbal de compra
e venda, por via do qual aquele comprou-lhe e esta vendeu-lhe um veículo automóvel
pelo preço de 4.000,00€.
Para pagamento do preço devido pela compra e venda do veículo automóvel em
causa, Alfredo entregou à sociedade Frederico Freitas, Lda. um cheque, datado de 13 de
janeiro de 2023, o qual, uma vez apresentado a pagamento, viria a ser devolvido por
falta de provisão.

a) Sabendo que a sociedade pretende exigir o pagamento da dívida a Alfredo e


Bernardina, qual seria a ação a desencadear?
• Se o devedor não cumprir voluntariamente a prestação a que se encontra
vinculado, o credor tem o direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de
executar o património do devedor (artigos 762.º, n.º 1 e 817.º do CC).
• São ações executivas aquelas em que o credor requer as providências adequadas
à realização coativa de uma obrigação que lhe é devida (artigo 10.º, n.º 4 do CC).
• Toda a execução tem por base um título, o qual determina o fim e os limites da
ação executiva (artigo 10.º, n.º 5 do CPC).
• Título executivo é todo o documento que exterioriza ou demonstra a existência
de um ato ao qual a lei confere força bastante para servir de base à ação executiva.
• A ação executiva pode ter como fim o pagamento de quantia certa, a entrega de
coisa certa ou a prestação de um facto (artigo 10.º, n.º 6 do CPC).
• No caso, o título executivo é um título de crédito, conforme al. c) do n.º 1 do
artigo 703.º do CPC, e que correspondem a documentos que incorporam direitos literais,
autónomos e abstratos, assentes numa ordem de pagamento ou numa promessa de
pagamento.
• O cheque materializa numa ordem pura e simples dada por uma pessoa (sacador)
a um banco (sacado) para que pague determinada quantia por conta da provisão
bancária à disposição do sacador.
• A al. c) do n.º 1 do artigo 703.º do CPC prevê ainda que os títulos de crédito
constituem título executivo ainda que sejam meros quirógrafos, ou seja, ainda que se
encontrem prescritos, ficando a execução dependente de o exequente alegar, no
requerimento executivo, a relação material controvertida subjacente à emissão desse
título de crédito.
• De facto, o cheque prescreve no prazo de 6 meses contados do termo do prazo
para a sua apresentação – 8 dias após a data da emissão.
• Apesar disso, para que uma ação executiva possa ser desencadeada, devem
ainda estar cumpridos os requisitos da obrigação exequenda previstos no artigo 713.º
do CPC: esta deve ser certa, líquida e exigível.
• No caso, a obrigação é certa porque qualitativamente delimitada e identificada
– obrigação pecuniária (artigo 550.º do CC); líquida porque quantitativamente
determinada – 4.000,00€; exigível porque já se encontra vencida, uma vez que o
pagamento o cheque estava datado de 13/01/2023.
• Assim, como pretende ser ressarcido de uma quantia pecuniária, a sociedade
Frederico Freitas, Lda. poderia desencadear uma ação executiva para pagamento de
quantia certa.

b) Suponha que o AE pretende penhorar a pensão de reforma de Alfredo, no valor


líquido mensal de 2.700,00€, uma renda mensal no valor de 250,00€ que ele recebe na
sequência do arrendamento a Nuno, de um apartamento de que é proprietário, sito
em Guimarães, e um caixão que Alfredo, acautelando o futuro, decidiu adquirir e
guardar em casa, sendo que ainda falta pagar à funerária que lhe vendeu esse caixão,
sem qualquer tipo de reserva de propriedade, a quantia de 200,00€. Quid iuris?
• Dispõem os artigos 601.º do CC e 735.º, n.º 1 do CPC que estão sujeitos à
execução todos os bens do devedor suscetíveis de penhora que, nos termos da lei
substantiva, respondam pela dívida exequenda (P.º da patrimonialidade).
• A penhora corresponde a uma garantia especial das obrigações e consubstancia-
se numa apreensão judicial do património do executado, com vista à sua venda
executiva e subsequente satisfação da dívida exequenda e das despesas da execução,
através do produto da venda (artigo 817.º do CC).
• Por sua vez, o artigo 735.º, n.º 1 do CPC estipula que a penhora deve começar
pelos bens cujo valor pecuniário seja de mais fácil realização e se mostrem adequados
ao montante do crédito do exequente (gradus executuonis).
• Porém, à regra da penhorabilidade de todos os bens do executado, a lei estipulou
determinados limites, consignando que existem determinados bens que são
absolutamente impenhoráveis (artigo 736.º do CPC), relativamente impenhoráveis
(artigo 737.º do CPC) e parcialmente impenhoráveis (artigo 738.º do CPC).
• No que concerne à pensão de reforma de Alfredo, no valor líquido mensal de
2.700,00€, trata-se de um bem parcialmente penhorável, atento o disposto no artigo
738.º, n.º 1 do CPC, são impenhoráveis 2/3 da parte líquida dos vencimentos, salários,
prestações periódicas pagas a título de aposentação ou prestações equivalentes de
qualquer natureza que assegurem a subsistência do executado.
• Porém, esta impenhorabilidade está sujeita a limites mínimos e máximos, sendo
no primeiro caso o valor do salário mínimo nacional – 760,00€ - e no segundo caso o
valor de três salários mínimos nacionais – 2.280,00€ (artigo 738.º, n.º 3 do CPC).
• No caso concreto, são impenhoráveis 1.800,00€, 2/3 do vencimento, e é
penhorável 1/3, ou seja, 900,00€.
• No que diz respeito à renda que Alfredo recebe mensalmente por via do
arrendamento a Nuno de um apartamento de que é proprietário, esse direito pode ser
penhorado através do regime da penhora de créditos previsto nos artigos 773.º e ss. do
CPC, não sendo aplicável ao caso concreto o disposto no artigo 738.º, n. 1 do CPC.
• Assim, o AE notifica o locatário com as formalidades da citação pessoal e sujeita
ao regime desta de que o crédito fica à ordem do AE, devendo o locatário proceder ao
depósito do crédito penhorado em instituição de crédito.
• As quantias depositadas ficam à ordem do AE, mantendo-se indisponíveis até ao
termo do prazo para oposição à execução, caso este não se oponha, ou até ao trânsito
em julgado da decisão que sobre ela incida, em caso contrário.
• Relativamente ao caixão, este bem não pode ser qualificado como um túmulo na
aceção do artigo 736.º, al. e) do CPC já que o túmulo só será absolutamente
impenhorável se se encontrar depositado num cemitério.
• Eventualmente, ainda que de forma debatível, poderia estar em causa uma
impenhorabilidade absoluta no âmbito da al. c) do mesmo artigo, por se tratar de uma
penhora ofensiva dos bons costumes.

c) Diferentemente, suponha que o AE penhorou um apartamento pertencente a


Alfredo, sito na Póvoa de Varzim, o qual fora anteriormente objeto de um contrato-
promessa com eficácia meramente obrigacional, celebrado com Gonçalo, por via do
qual este prometeu comprar-lhe e aquele prometeu vender-lhe o referido
apartamento pelo preço de 150.000,00€. Sendo que Gonçalo já havia entregue um
sinal de 50.000,00€ e que se encontra na posse das chaves do apartamento desde a
celebração do contrato, tendo já adquirido alguma mobília e contratado a prestação
de serviços de água e eletricidade, de que forma poderia Gonçalo reagir a essa
penhora e até que dia, sabendo que o mesmo tomou conhecimento da penhora no dia
11/12/2023, por via da afixação de um edital na porta desse apartamento?
• No caso em concreto, o AE procedeu à penhora de um bem imóvel, o qual fora
objeto de um contrato-promessa de compra e venda, com eficácia meramente
obrigacional, celebrado entre Alfredo e Gonçalo.
• Ora, estando em causa um contrato-promessa de compra e venda com eficácia
meramente obrigacional e com traditio da coisa, o promitente-comprador é titular de
um mero direito de crédito sobre o executado.
• Deste como, como este direito não é incompatível com a penhora, já que se
extingue com a venda executiva (artigo 824.º, n.º 2 do CC), o promitente-comprador não
pode, em princípio, deduzir embargos de terceiro contra a penhora desse bem (artigo
342.º do CC).
• De resto, o promitente-comprador titular de um mero direito real de garantia,
consubstanciado no direito de retenção sobre o imóvel até que seja ressarcido do seu
crédito, por ter obtido a entrega da coisa, o artigo 747.º, n.º 2 do CPC preceitua que o
AE deve, nesse caso, proceder à identificação imediata e citação do retentor com vista
à reclamação do respetivo crédito.

d) A sua resposta seria a mesma sabendo que o contrato-promessa em causa foi


celebrado com eficácia real e após a penhora do imóvel?
• Se o contrato-promessa de compra e venda tiver sido celebrado com eficácia
real, o promitente-comprador é apenas titular de um direito real de aquisição, ou seja,
do direito de impor a sua aquisição a qualquer terceiro (artigo 413.º do CC).
• Por conseguinte, sendo o promitente-comprador titular de um direito real de
aquisição, este não pode embargar de terceiro, já que a lei concede-lhe o direito de
adquirir diretamente a coisa em venda executiva (artigos 811.º, n.º 1, al. c) e 831.º do
CC).
• Contudo, resulta do enunciado que o contrato-promessa de compra e venda com
eficácia real foi celebrado e registado após a penhora.
• À luz do artigo 819.º do CC, são ineficazes em relação à execução os atos de
disposição, oneração ou arrendamento de bens penhorados.
• Assim, se o contrato-promessa de compra e venda foi celebrado após a penhora
do bem imóvel, esse contrato é inoponível à execução, razão pela qual Gonçalo não
poderá beneficiar do regime de venda direta do bem.

C. Belmiro, casado com Conceição no regime de comunhão de adquiridos,


residente em Braga, comprou uma mobília de quarto e diversos eletrodomésticos, no
valor global de 7.500,00€, num estabelecimento comercial explorado pela sociedade
comercial MÓVEIS E TUDO, LDA., com sede em Guimarães, tendo o fornecimento desses
bens ficado a constar da fatura n.º 530/2023, datada de 15 de junho de 2023.
Dado que Belmiro era conhecido de Filipe, gerente da sociedade MÓVEIS E TUDO,
LDA., este aceitou que Belmiro liquidasse essa fatura no prazo de oito dias.
Ocorre, porém, que uma vez decorrido esse prazo, Belmiro não liquidou o valor em
dívida, razão pela qual a sociedade MÓVEIS E TUDO, LDA. decidiu intentar um
procedimento de injunção contra Belmiro, tendo sido aposta fórmula executória no
requerimento de injunção por falta de oposição.
a) Sabendo que a sociedade MÓVEIS E TUDO, LDA. pretende agora mover uma
ação executiva ara cobrança coerciva da quantia em dívida, qual seria o tribunal
competente para a execução?
• Dispõe o artigo 81.º, n.º 3, al. j), conjugado com o artigo 129.º, ambos da LOSJ,
que compete aos Juízos de Execução exercer, no âmbito dos processos de execução de
natureza cível, as competências previstas no Código de Processo Civil.
• No caso do pedido para pagamento de quantia certa, é competente o tribunal
do domicílio do executado, podendo o exequente optar pelo tribunal do lugar em que a
obrigação deva ser cumprida quando o executado seja pessoa coletiva ou quando,
situando-se o domicílio do exequente na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o
executado tenha domicílio na mesma área metropolitana (artigo 89.º, n.º 1 do CPC).
• Como exequente e executado não têm domicílio na mesma área metropolitana,
é competente o tribunal do domicílio do executado, a saber, Juízo de Execução de Vila
Nova de Famalicão.

b) Suponha que Belmiro deduziu oposição à execução, invocando, entre outras


coisas, que os produtos fornecidos tinham defeitos e, além disso, que já tinha pago
parte da quantia titulada pela fatura aquando do vencimento da mesma. O juiz de
execução decidiu indeferir liminarmente a oposição à execução, já que os
fundamentos nela invocados não se ajustavam aos fundamentos previstos nos artigos
729.º e 857.º do CPC. Comente a decisão do juiz.
• Dispõe o artigo 732.º, n.º 1 do CPC que os embargos de executado devem ser
liminarmente indeferidos quando, designadamente, o seu fundamento não se ajuste ao
disposto nos artigos 729.º a 731.º do CPC.
• Ora, no caso concreto, o título executivo é um requerimento de injunção no qual
foi aposta fórmula executória.
• Estabelece o artigo 857.º, n.º 1 do CPC que, se a execução se fundar num
requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta fórmula executória, apenas podem
ser invocados, além dos fundamentos previstos no artigo 729.º do CPC, aplicados com
as devidas adaptações, os meios de defesa que não devam considerar-se precludidos,
nos termos do artigo 14.º-A do regime dos procedimentos para cumprimento de
obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior à alçada do
tribunal de 1.ª Instância, aprovado em anexo ao Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de
setembro, na sua redação atual.
• Falamos, portanto, do uso indevido do procedimento de injunção ou a
ocorrência de outras exceções dilatórias de conhecimento oficioso, da existência de
cláusulas contratuais gerais ilegais ou abusivas ou de qualquer exceção perentória que
teria sido possível invocar na oposição e de que o tribunal deva conhecer oficiosamente.
• Ora, a existência de defeitos, por se reportar a cumprimento defeituoso,
constitui uma exceção perentória de conhecimento inoficioso, ao passo que o
pagamento, enquanto principal forma de extinção das obrigações, constitui uma
exceção perentória de conhecimento oficioso.
• Sendo esse o caso, o executado apenas poderia aqui invocar o pagamento parcial
da quantia peticionada na execução.
• Sendo esse o caso, o juiz não poderia indeferir liminarmente, de forma absoluta,
a oposição à execução e, como tal, era admissível recurso de apelação para a Relação
(artigo 853.º do CPC).
c) Considere que, tendo a dívida sido considerada comum porque a sociedade
MÓVEIS E TUDO, LDA. alegou a comunicabilidade no requerimento de injunção, o AE
pretende penhorar a mobília de quarto e os eletrodomésticos que se encontram na
habitação de Belmiro e Conceição, e que estão na origem da dívida exequenda; o
salário de Belmiro, no valor de 780,00€ líquidos mensais; bem como um prédio rústico,
registado em nome de Conceição, com um valor matricial de 2.500,00€, o qual se
encontra onerado com uma hipoteca a favor do Banco Capital, S.A., para garantia da
quantia máxima de 7.500,00€, e com um direito de passagem, devidamente registado
a favor de Daniel. Quid iuris?
• Dispõem os artigos 601.º do CC e 735.º, n.º 1 do CPC que estão sujeitos à
execução todos os bens do devedor suscetíveis de penhora que, nos termos da lei
substantiva, respondam pela dívida exequenda (P.º da patrimonialidade).
• A penhora corresponde a uma garantia especial das obrigações e consubstancia-
se numa apreensão judicial do património do executado, com vista à sua venda
executiva e subsequente satisfação da dívida exequenda e das despesas da execução,
através do produto da venda (artigo 817.º do CC).
• Por sua vez, o artigo 735.º, n.º 1 do CPC estipula que a penhora deve começar
pelos bens cujo valor pecuniário seja de mais fácil realização e se mostrem adequados
ao montante do crédito do exequente (gradus executuonis).
• Porém, à regra da penhorabilidade de todos os bens do executado, a lei estipulou
determinados limites, consignando que existem determinados bens que são
absolutamente impenhoráveis (artigo 736.º do CPC), relativamente impenhoráveis
(artigo 737.º do CPC) e parcialmente impenhoráveis (artigo 738.º do CPC).
• Na situação em análise, tendo a dívida sido considerada comum – o que,
conforme artigo 1695.º do CC implica que respondam pela dívida exequenda os bens
comuns do casal e, na falta ou insuficiência deles, solidariamente, os bens próprios de
qualquer dos cônjuges – o AE pretende proceder à penhora da mobília de quarto e dos
eletrodomésticos que se encontram na habitação dos executados.
• Em princípio, estes bens não podem ser penhorados porque se tratam de bens
imprescindíveis à economia doméstica (artigo 737.º, n.º 3 do CPC); contudo, a dívida
exequenda diz respeito ao preço devido pela aquisição desses bens, logo os mesmos
podem ser penhorados.
• Por outro lado, no que diz respeito ao salário de Alfredo, no valor de 780,00€
líquidos mensais, atento o disposto no artigo 738.º, n.º 1 do CPC, são impenhoráveis 2/3
da parte líquida dos vencimentos, salários, prestações periódicas pagas a título de
aposentação ou prestações equivalentes de qualquer natureza que assegurem a
subsistência do executado.
• Porém, esta impenhorabilidade está sujeita a limites mínimos e máximos, sendo
no primeiro caso o valor do salário mínimo nacional – 760,00€ - e no segundo caso o
valor de três salários mínimos nacionais – 2.280,00€ (artigo 738.º, n.º 3 do CPC).
• No caso concreto, são impenhoráveis 760,00€, portanto, do salário do executado
era possível penhorar a quantia de 20,00€.
• Por último, no que concerne ao prédio rústico, bem próprio de Berta, com um
valor matricial de 2.500,00€, o qual se encontra onerado com uma hipoteca a favor do
Banco Capital, S.A. para garantia da quantia máxima de 7.500,00€, e com um direito de
servidão de passagem, devidamente registado a favor de Daniel, desde logo, salientar
que este bem só poderia ser penhorado devido ao facto de a dívida ter sido considerada
comum.
• E sendo um bem próprio de Conceição, apenas poderia ser penhorado na falta
ou insuficiência de bens comuns do casal, sem prejuízo do facto de a penhora
eventualmente exceder o P.º da proporcionalidade uma vez que já foram penhorados
os bens que deram origem à dívida exequenda, bem como o salário de António.
• Independentemente disso, a existência de hipoteca e servidão de passagem
sobre o bem em nada impedem a penhora.

d) Partindo da questão anterior, diga que entidades deviam ser citadas após a
penhora de bens e com que finalidade.
• Após a penhora de bens do executado, abre-se a fase de concurso de credores,
cujo regime jurídico se encontra previsto nos artigos 786.º e ss. do CPC.
• Como a penhora recaiu sobre um imóvel pertencente a Conceição, o qual está
onerado com uma hipoteca a favor do Banco Capital, S.A., o AE terá de citar este credor,
enquanto titular de um direito real de garantia sobre o bem penhorado, registado antes
da penhora, para poder reclamar o seu crédito (artigo 786.º, n.º 1, al. b) do CPC).
• Isto porque, os bens penhorados são vendidos em sede executiva livres dos
direitos de garantia que os onerem (artigo 824.º, n.º 2 do CC).
• Deste modo, como a hipoteca vai caducar com a venda executiva, o banco tem
de reclamar o seu crédito na execução para, em função do lugar em que for graduado,
na respetiva sentença de graduação de créditos, receber a totalidade ou parte do seu
crédito através do produto da venda desse bem imóvel (artigo 824.º, n.º 3 do CC e 788.º,
n.º 1 do CPC).
• Por sua vez, Daniel não tem de ser citado, já que ele é titular de um direito real
de gozo sobre o bem penhorado (servidão de passagem), o qual não se extingue com a
venda executiva.
• Eventualmente, Daniel poderia embargar de terceiro para salvaguardar o seu
direito no caso de ter sido penhorada a propriedade plena do bem, sem se ressalvar a
existência de uma servidão de passagem sobre esse bem (artigo 342.º do CPC).
• Por último, o AE deve ainda citar a Fazenda Nacional e o Instituto de gestão
Financeira da Segurança Social I.P. (artigo 786.º, n.º 2 do CPC).

D. Jacinto, casado com Balbina no regime de comunhão de adquiridos, celebrou


com a empresa GOLDEN STAR LDA. um contrato de fornecimento de eletricidade, o qual
previa as seguintes cláusulas:
i) Independentemente dos consumos mensais, o valor mensal a pagar é de 500,00€;
ii) Fica excluída a possibilidade de Jacinto resolver o contrato por incumprimento;
iii) O contrato é vitalício;
iv) A GOLDEN STAR, LDA. jamais é responsável por danos causados à vida, à
integridade moral ou física ou à saúde de quem habite ou esteja no imóvel onde é
prestado o serviço.
Ocorre, porém, que, volvido um ano de duração do contrato, Jacinto deixou de
conseguir cumprir com o mesmo, tendo falhado o pagamento de 10 faturas, a última
vencida em novembro de 2022. Nesse sentido, a GOLDEN STAR LDA. desencadeou o
competente procedimento de injunção em julho de 2023, peticionando o pagamento
de 5.000,00€ a Jacinto. Foi aposta fórmula executória no referido requerimento de
injunção uma vez que Jacinto não deduziu oposição nem pagou o valor peticionado.
a) Seria possível o desencadeamento de uma ação executiva? Qual a tramitação?
• Se o devedor não cumprir voluntariamente a prestação a que se encontra
vinculado, o credor tem o direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de
executar o património do devedor (artigos 762.º, n.º 1 e 817.º do CC).
• São ações executivas aquelas em que o credor requer as providências adequadas
à realização coativa de uma obrigação que lhe é devida (artigo 10.º, n.º 4 do CC).
• Toda a execução tem por base um título, o qual determina o fim e os limites da
ação executiva (artigo 10.º, n.º 5 do CPC).
• Título executivo é todo o documento que exterioriza ou demonstra a existência
de um ato ao qual a lei confere força bastante para servir de base à ação executiva.
• A ação executiva pode ter como fim o pagamento de quantia certa, a entrega de
coisa certa ou a prestação de um facto (artigo 10.º, n.º 6 do CPC).
• O título executivo, no caso, é um procedimento de injunção no qual foi aposta
fórmula executória, ao abrigo do disposto nos artigos 703.º, n.º 1, al. d) e 14.º do DL
269/98, de 01/09.
• Por outro lado, a obrigação exequenda deve ser certa, líquida e exigível,
conforme o prevê o artigo 713.º do CPC.
• A obrigação é certa, porque qualitativamente determinada – obrigação
pecuniária; é líquida por quantitativamente determinada, ou seja, é devido o montante
de 5.000,00€; e é exigível, uma vez que todas as faturas tinha datam certa para
pagamento, logo, já se encontram vencidas.
• Assim, a execução terá por finalidade o pagamento de quantia certa (artigos 10.º,
n.º 6 e 724.º e ss. do CPC).
• Nos termos do artigo 546.º do CPC, o processo civil pode seguir a forma comum
ou a forma especial, sendo que a comum é aplicável subsidiariamente.
• Por sua vez, o processo comum de execução pode seguir a forma ordinária ou
sumária (artigo 550.º, n.º 1 do CPC).
• A forma sumária, elencada no n.º 2 do artigo, encontra-se reservada para as
situações em que, à partida, o título oferece maior segurança jurídica.
• Se todo o modo, ainda que se encontre preenchida alguma das alíneas do n.º 2,
se se verificar igualmente alguma das alíneas do n.º 3, a execução comum tem que
seguir obrigatoriamente a forma ordinária.
• No caso, estamos perante um requerimento de injunção no qual foi aposta
fórmula executória logo a ação executiva seguirá a forma sumária, conforme al. b) do
n.º 2 do artigo 550.º do CPC.
• Seguindo o processo a forma comum sumária, a execução começará pelas
diligências de identificação, localização e penhora dos bens e/ou direitos do executado,
sendo certo que, uma vez efetivada qualquer penhora, o executado será
simultaneamente citado para, querendo, deduzir oposição à execução e notificado para
deduzir oposição à penhora (artigos 855.º, n.ºs 1 e 3 e 856.º do CPC).

b) Suponha que o AE, uma vez recebido o requerimento executivo, apercebe-se


da falta de junção do contrato que titula a obrigação a que se refere a quantia
exequenda. Quid iuris?
• Na forma sumária do processo executivo PQC, o requerimento executivo e os
documentos que o acompanhem são remetidos via Citius, nos termos do artigo 724.º do
CPC, para o AE, o qual irá tramitar o processo.
• Compete ao AE, nesta primeira fase, uma função idêntica à da secretaria no
processo que segue a forma ordinária, devendo, nomeadamente, recusar o
requerimento, nos mesmos termos em que o faria a secretaria (artigo 725.º do CPC); ou
suscitar a intervenção do juiz, conforme previsto no artigo 723.º, n.º 1, al. d) do CPC
(artigo 855.º, n.º 2 do CPC).
• Dispõe o artigo 855.º-A que quando a execução respeite a obrigação emergente
de contrato com cláusulas contratuais gerais, deve o requerimento executivo ser
acompanhado de cópia ou original do contrato celebrado entre as partes, se for
entregue por via eletrónica ou em papel, respetivamente, sob pena de recusa do
requerimento.
• Portanto, se o referido contrato não acompanhar o requerimento executivo, o
AE deve recusá-lo.

c) Independentemente do que antecede, suponha que o AE, pelas 6h00,


encontrando Jacinto à porta de casa a fumar um cigarro, forçou, com a ajuda do seu
funcionário, a entrada na habitação daquele e efetivou a penhora de uma Nossa
Senhora de Fátima em marfim, que Jacinto tinha na cómoda do quarto, com o valor
de 3.000,00€, um micro-ondas, no valor de 500,00€ e uma lingerie de Balbina, no valor
de 100,00€. Comente a atuação do AE e diga como poderia Jacinto reagir a essa
penhora, sendo certo que foi dela notificado em 15/12/2023.
• A penhora de bens móveis encontra-se regulada nos artigos 764.º a 772.º do CPC.
Nos termos do artigo 764.º, n.º 1 do CPC, a penhora de bens móveis não sujeitos a
registo é realizada através da apreensão efetiva dos bens e da sua imediata remoção
para depósitos.
• Quando, para a realização da penhora, seja necessário forçar a entrada no
domicílio do executado ou de terceiro, ou quando exista um receio justificado de que
tal se verifique, aplica-se o disposto no artigo 757.º, n.ºs 4 a 7, ou seja, a solicitação do
auxílio das autoridades policiais carece de despacho judicial e a diligência só pode ser
realizada entre as 7h e as 21h.
• Assim, no caso concreto, o facto de a penhora ter sido realizada às 6h traduz,
desde logo, a prática de qualquer ato ilegal.
• Ademais, está em causa a realização de uma diligência de penhora no domicílio
do executado e o AE devia, previamente, ter requerido ao juiz de execução o auxílio das
autoridades policiais, o que este não fez.
• Por outro lado, à regra da penhorabilidade de todos os bens do executado, a lei
estipulou determinados limites, consignando que existem determinados bens que são
absolutamente impenhoráveis (artigo 736.º do CPC), relativamente impenhoráveis
(artigo 737.º do CPC) e parcialmente impenhoráveis (artigo 738.º do CPC).
• A estátua da Nossa Senhora de Fátima em marfim é absolutamente
impenhorável, conforme artigo 736.º, al. d) do CPC, por se tratar de objeto
especialmente destinado ao exercício de culto público; a lingerie de Balbina era também
absolutamente impenhorável, conforme artigo 736.º, al. c) do CPC, já que a sua
apreensão era ofensiva dos bons costumes e, ainda, carece de justificação económica.
• O microondas é um bem relativamente impenhorável por se mostrar essencial à
economia doméstica do executado (artigo 737.º, n.º 3 do CPC).
• A quantia pecuniária de 3.000,00€ já era admissível, ao abrigo do disposto no
artigo 738.º, n.º 5, a contrario do CPC.
• Atentas as diversas ilegalidades cometidas, Jacinto poderia deduzir oposição à
penhora, nos termos do disposto nos artigos 856.º, n.º 1 e 784.º e ss. do CPC.
• Jacinto poderia fundamentar a sua oposição à penhora na inadmissibilidade da
penhora dos bens concretamente apreendidos, conforme al. a) do n.º 1 do artigo 784.º
do CPC.
• Uma vez que foi notificado no dia 15/12/2023, dispunha do prazo de 20 dias para
deduzir a sua oposição.
• A contagem do prazo inicia-se no primeiro dia seguinte ao da notificação (artigo
279.º, al. b) do CPC).
• 1.º Dia do Prazo: 16/12/2023
• Há férias judiciais de 22/12/2023 a 03/01/2024, período durante o qual se
suspende a contagem do prazo (artigos 28.º da LOSJ e 138.º, n.º 1 do CPC).
• 20.º Dia do Prazo: 17/01/2024
• A data limite para Jacinto deduzir oposição à penhora é 17/01/2024, sem
prejuízo dos 3 dias úteis com multa e do justo impedimento (artigos 139.º, n.º 5 e 140.º
do CPC).

d) Suponha que, uma vez citado da penhora, Jacinto deduziu oposição à execução
mediante embargos, alegando o seguinte: i) as faturas encontram-se prescritas; ii) as
cláusulas contratuais são proibidas; iii) há ilegitimidade singular pois a execução
deveria ter sido desencadeada também contra Balbina. O juiz indeferiu liminarmente
a oposição à execução por desrespeito dos fundamentos previstos nos artigos 729.º e
857.º do CPC. Quid iuris?
• Conforme prevê o artigo 856.º, n.º 1 do CPC, após a realização da penhora, tem
lugar a citação do executado, realizada pelo AE, o qual é, em simultâneo, notificado do
ato de penhora, podendo deduzir, no prazo de 20 dias, embargos de executado e
oposição à penhora.
• Dispõe o artigo 732.º, n.º 1 do CPC que os embargos de executado devem ser
liminarmente indeferidos quando, designadamente, o seu fundamento não se ajuste ao
disposto nos artigos 729.º a 731.º do CPC.
• Ora, no caso concreto, o título executivo é um requerimento de injunção no qual
foi aposta fórmula executória.
• Estabelece o artigo 857.º, n.º 1 do CPC que, se a execução se fundar num
requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta fórmula executória, apenas podem
ser invocados, além dos fundamentos previstos no artigo 729.º do CPC, aplicados com
as devidas adaptações, os meios de defesa que não devam considerar-se precludidos,
nos termos do artigo 14.º-A do regime dos procedimentos para cumprimento de
obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior à alçada do
tribunal de 1.ª Instância, aprovado em anexo ao Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de
setembro, na sua redação atual.
• Falamos, portanto, do uso indevido do procedimento de injunção ou a
ocorrência de outras exceções dilatórias de conhecimento oficioso, da existência de
cláusulas contratuais gerais ilegais ou abusivas ou de qualquer exceção perentória que
teria sido possível invocar na oposição e de que o tribunal deva conhecer oficiosamente.
• Ora, a prescrição das faturas constitui uma exceção perentória de conhecimento
inoficioso, dependente estritamente da arguição do interessado para se verificar, pelo
que jamais pode, agora, ser arguida em sede de oposição à execução.
• De forma distinta, o segundo argumento já poderia ser invocado em sede de
oposição à execução, pois o artigo 14.º-A, n.º 2, al. c) do DL 269/98, de 01/09, pois que
as cláusulas descritas são absolutamente proibidas e, bem assim, nulas, conforme
artigos 12.º, 18.º als. a), f), e j) e 20.º do DL n.º 446/85, de 25/10.
• Finalmente, o terceiro argumento também poderia ser invocado em sede de
oposição à execução, porque previsto na 2.ª parte da al. a) do n.º 2 do artigo 14.º-A do
DL n.º 269/98, de 01/09, já que se trata de uma exceção dilatória de conhecimento
oficioso (artigos 577.º, al. e) e 34.º do CPC).
• Sendo esse o caso, o juiz não poderia indeferir liminarmente, de forma absoluta,
a oposição à execução, mas apenas quanto ao primeiro fundamento, e, como tal, era
admissível recurso de apelação para a Relação (artigo 853.º do CPC).

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