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a) Sabendo que aquela sentença foi notificada aos advogados das partes, através
de notificação elaborada via Citius, e que até à presente data a sociedade Benedito &
Irmãos, Lda. ainda não liquidou qualquer quantia, seria possível neste momento
requerer a execução da sentença?
• Se o devedor não cumprir voluntariamente a prestação a que se encontra
vinculado, o credor tem o direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de
executar o património do devedor (artigos 762.º, n.º 1 e 817.º do CC).
• São ações executivas aquelas em que o credor requer as providências adequadas
à realização coativa de uma obrigação que lhe é devida (artigo 10.º, n.º 4 do CC).
• Toda a execução tem por base um título, o qual determina o fim e os limites da
ação executiva (artigo 10.º, n.º 5 do CPC).
• Título executivo é todo o documento que exterioriza ou demonstra a existência
de um ato ao qual a lei confere força bastante para servir de base à ação executiva.
• A ação executiva pode ter como fim o pagamento de quantia certa, a entrega de
coisa certa ou a prestação de um facto (artigo 10.º, n.º 6 do CPC).
• O título executivo, no caso, é uma sentença condenatória, nos termos do
disposto na al. a), do n.º 1, do artigo 703.º do CPC, artigo este que define, de forma
taxativa, a que documentos a lei atribui força executiva.
• O artigo 704.º do CPC define as condições em que uma sentença condenatória
pode servir de base a uma execução.
• A sentença só constitui título executivo depois do trânsito em julgado, salvo se o
recurso contra ela interposto tiver efeito meramente devolutivo (artigo 704.º, n.º 1 do
CPC).
• Se há um recurso pendente, tal significa que a mesma não transitou em julgado,
conforme previsto no artigo 628.º do CPC.
• Apesar disso, uma sentença não transitada em julgado pode reunir os requisitos
de exequibilidade se o recurso tiver efeito meramente devolutivo (artigo 647.º, n.º 1 do
CPC).
• No caso, o recurso é admissível por cumprir os critérios do valor e da
sucumbência (artigo 629.º, n.º 1 do CPC) e, por ser um recurso de um tribunal de 1.ª
instância, vai para um tribunal da Relação e denomina-se recurso de apelação (artigo
644.º, n.º 1, al. a) do CPC).
• Por regra, a apelação tem efeito meramente devolutivo, pelo que só em casos
especiais previstos na lei, o recurso tem efeitos suspensivos.
• Sem prejuízo, o recorrente pode requerer a atribuição de efeito suspensivo ao
recurso quando demonstre que a execução da sentença lhe cause prejuízo considerável
e se ofereça para prestar caução (artigo 647.º, n.º 4 do CPC).
• Por outro lado, pelo título executivo, a sociedade Benedito & Irmãos, Lda. ficou
obrigada a pagar a Margarido e Fernanda a quantia de 5.000,00€, acrescida da quantia
que vier a ser apurada em liquidação de sentença, correspondente aos danos
patrimoniais e não patrimoniais referentes aos tratamentos médicos e intervenções
cirúrgicas a que os Autores já se submeteram e a que ainda terão de se submeter.
• Assim, a execução terá por finalidade o pagamento de quantia certa (artigos 10.º,
n.º 6 e 724.º e ss. do CPC).
• No que concerne à obrigação exequenda, o artigo 713.º do CPC determina que a
execução deve principiar pelas diligências a requerer pelo exequente, destinadas a
tornar a obrigação certa, líquida e exigível.
• A obrigação é certa quando se encontra determinada em relação à sua
qualidade, ou seja, quando o devedor sabe exatamente o que deve (artigo 714.º do
CPC). No caso em concreto, a obrigação exequenda é certa, na medida em que está em
causa uma obrigação pecuniária (artigo 550.º do CC).
• Por sua vez, a obrigação é exequível quando já se encontra vencida ou quando o
vencimento depende de simples interpelação do devedor (artigo 715.º do CPC); no caso,
as condições de exequibilidade encontram-se associadas à exequibilidade da sentença,
já discriminadas supra.
• Por último, a obrigação é líquida quando se encontra determinada em relação à
sua quantidade (artigo 716.º do CPC). No caso dos autos, uma parte da obrigação é
líquida, no montante de 19.000,00€, e outra parte concernente aos danos patrimoniais
e não patrimoniais referentes aos tratamentos médicos e intervenções cirúrgicas a que
os Autores terão que ser submetidos, é ainda ilíquida.
• Significa isto que relativamente a essa parte ilíquida os Autores terão de lançar
mão do competente incidente de liquidação, tendo em cista o apuramento exato do
montante dos danos por eles sofridos (artigo 358.º a 360.º do CPC).
• Nos termos do n.º 8 do artigo 716.º do CPC, se uma parte da obrigação for
ilíquida e outra líquida, pode o exequente executar imediatamente a parte líquida da
obrigação.
d) Partindo da questão anterior, diga que entidades deviam ser citadas após a
penhora de bens e com que finalidade.
• Após a penhora de bens do executado, abre-se a fase de concurso de credores,
cujo regime jurídico se encontra previsto nos artigos 786.º e ss. do CPC.
• Como a penhora recaiu sobre um imóvel pertencente a Conceição, o qual está
onerado com uma hipoteca a favor do Banco Capital, S.A., o AE terá de citar este credor,
enquanto titular de um direito real de garantia sobre o bem penhorado, registado antes
da penhora, para poder reclamar o seu crédito (artigo 786.º, n.º 1, al. b) do CPC).
• Isto porque, os bens penhorados são vendidos em sede executiva livres dos
direitos de garantia que os onerem (artigo 824.º, n.º 2 do CC).
• Deste modo, como a hipoteca vai caducar com a venda executiva, o banco tem
de reclamar o seu crédito na execução para, em função do lugar em que for graduado,
na respetiva sentença de graduação de créditos, receber a totalidade ou parte do seu
crédito através do produto da venda desse bem imóvel (artigo 824.º, n.º 3 do CC e 788.º,
n.º 1 do CPC).
• Por sua vez, Daniel não tem de ser citado, já que ele é titular de um direito real
de gozo sobre o bem penhorado (servidão de passagem), o qual não se extingue com a
venda executiva.
• Eventualmente, Daniel poderia embargar de terceiro para salvaguardar o seu
direito no caso de ter sido penhorada a propriedade plena do bem, sem se ressalvar a
existência de uma servidão de passagem sobre esse bem (artigo 342.º do CPC).
• Por último, o AE deve ainda citar a Fazenda Nacional e o Instituto de gestão
Financeira da Segurança Social I.P. (artigo 786.º, n.º 2 do CPC).
d) Suponha que, uma vez citado da penhora, Jacinto deduziu oposição à execução
mediante embargos, alegando o seguinte: i) as faturas encontram-se prescritas; ii) as
cláusulas contratuais são proibidas; iii) há ilegitimidade singular pois a execução
deveria ter sido desencadeada também contra Balbina. O juiz indeferiu liminarmente
a oposição à execução por desrespeito dos fundamentos previstos nos artigos 729.º e
857.º do CPC. Quid iuris?
• Conforme prevê o artigo 856.º, n.º 1 do CPC, após a realização da penhora, tem
lugar a citação do executado, realizada pelo AE, o qual é, em simultâneo, notificado do
ato de penhora, podendo deduzir, no prazo de 20 dias, embargos de executado e
oposição à penhora.
• Dispõe o artigo 732.º, n.º 1 do CPC que os embargos de executado devem ser
liminarmente indeferidos quando, designadamente, o seu fundamento não se ajuste ao
disposto nos artigos 729.º a 731.º do CPC.
• Ora, no caso concreto, o título executivo é um requerimento de injunção no qual
foi aposta fórmula executória.
• Estabelece o artigo 857.º, n.º 1 do CPC que, se a execução se fundar num
requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta fórmula executória, apenas podem
ser invocados, além dos fundamentos previstos no artigo 729.º do CPC, aplicados com
as devidas adaptações, os meios de defesa que não devam considerar-se precludidos,
nos termos do artigo 14.º-A do regime dos procedimentos para cumprimento de
obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior à alçada do
tribunal de 1.ª Instância, aprovado em anexo ao Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de
setembro, na sua redação atual.
• Falamos, portanto, do uso indevido do procedimento de injunção ou a
ocorrência de outras exceções dilatórias de conhecimento oficioso, da existência de
cláusulas contratuais gerais ilegais ou abusivas ou de qualquer exceção perentória que
teria sido possível invocar na oposição e de que o tribunal deva conhecer oficiosamente.
• Ora, a prescrição das faturas constitui uma exceção perentória de conhecimento
inoficioso, dependente estritamente da arguição do interessado para se verificar, pelo
que jamais pode, agora, ser arguida em sede de oposição à execução.
• De forma distinta, o segundo argumento já poderia ser invocado em sede de
oposição à execução, pois o artigo 14.º-A, n.º 2, al. c) do DL 269/98, de 01/09, pois que
as cláusulas descritas são absolutamente proibidas e, bem assim, nulas, conforme
artigos 12.º, 18.º als. a), f), e j) e 20.º do DL n.º 446/85, de 25/10.
• Finalmente, o terceiro argumento também poderia ser invocado em sede de
oposição à execução, porque previsto na 2.ª parte da al. a) do n.º 2 do artigo 14.º-A do
DL n.º 269/98, de 01/09, já que se trata de uma exceção dilatória de conhecimento
oficioso (artigos 577.º, al. e) e 34.º do CPC).
• Sendo esse o caso, o juiz não poderia indeferir liminarmente, de forma absoluta,
a oposição à execução, mas apenas quanto ao primeiro fundamento, e, como tal, era
admissível recurso de apelação para a Relação (artigo 853.º do CPC).