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Durante o período de faculdade muitas vezes eu e meus colegas enfrentamos

dificuldades ao precisarmos fazer uma peça, por esse motivo tenho compartilhado
aqui, algumas peças que fiz na época da faculdade e algumas que fiz no início da
carreira, a fim de contribuir com os estudantes de Direito. Importante: Atualize as
jurisprudências.

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO PAULO/SP
GERALDO, (nacionalidade), (estado civil), (profissã o), (RG nú mero), (CPF nú mero),
(endereço completo com CEP) (Doc1), por seu advogado (instrumento de mandato anexo)
(Doc2), (endereço profissional), onde receberá notificaçõ es e intimaçõ es futuras, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com o fulcro nos arts. 539 e 542 do
CPC/2015; e arts. 334, 335, I, 337 e 343, todos do CC/2002, propor:
AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO
Em face de PRO-HUMANO, pessoa jurídica de direito privado, (nú mero do CNPJ),
(endereço completo/CEP), pelos motivos de fato e de direito que passa a expor:
DOS FATOS
O Requerente realizou contrato verbal de consultoria na á rea de recursos humanos, com a
Requerida ajustando pelos serviços o valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais),
dos quais R$ 1.000,00 (hum mil reais) foram pagos antecipadamente (Doc3). Apó s a
conclusã o adequada dos serviços, o Autor procurou a empresa PRO-HUMANO com o intuito
de realizar o pagamento da obrigaçã o, sendo que a empresa se recusa a receber os valores
alegando divergências internas entre os só cios.
Diante do exposto e, sem alternativa, vem o requerente recorrer ao Poder Judiciá rio, para
ver sanada sua dívida para que nã o venha a ser constituído em mora, sofrendo prejuízos
maiores no futuro.
DO DIREITO
Do pagamento em consignação
a) É pressuposto incontestá vel que ao devedor assiste o direito de solver suas dívidas,
sendo para tanto, amparado pelo ordenamento jurídico, que defende, justamente, o
adimplemento das obrigaçõ es e a boa fé objetiva, mediante disposiçõ es do Có digo Civil,
adiante transcritas:
Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela
conservaçã o da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá -la, e
sujeito a recebê-la pela estimaçã o mais favorá vel ao devedor, se o seu valor oscilar entre o
dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivaçã o.
Para Victor Nunes Carvalho (2014) “A mora do credor ou mora accipiendi, se dá quando
este, sem justa causa, se recusa a receber o pagamento do devedor. O credor só tem direito
a recusar a prestaçã o oferecida se houver justa causa para tanto. Assim, conclui-se que está
em mora o credor se a recusa em receber é injustificada”.
Na mesma esteira o autor:
(...) pelo princípio da boa-fé objetiva o credor tem o dever anexo de cooperar para que o
seu devedor cumpra a prestaçã o. Nesse sentido, quando é o credor que está em mora o que
ocorre é uma lesã o ao princípio da boa-fé objetiva que deve permear toda e qualquer
relaçã o obrigacional.
Tal assertiva cabe perfeitamente no caso em aná lise, pois o autor em momento algum se
recusou a efetuar o pagamento ou o questionou, pelo contrá rio buscou solver-se da dívida
de todas as formas a seu alcance.
A legislaçã o diz ainda:
Art. 334. “Considera-se pagamento, e extingue a obrigaçã o, o depó sito judicial ou em
estabelecimento bancá rio da coisa devida, nos casos e forma legais.”
b) O mesmo diploma legal, descreve as hipó teses em que se entende cabível o pagamento
em consignaçã o, sendo que o caso em questã o adequa-se, plenamente, à previsã o do artigo
abaixo transcrito:
Art. 335, inciso I.
A consignaçã o tem lugar:
I - “se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma”;
Doutrinariamente, assim diz Sílvio de Salvo Venosa1
O pagamento feito pelo devedor nã o constitui apenas uma manifestaçã o de obrigaçã o,
trata-se de um direito seu. Nã o é do interesse do devedor que a dívida se prolongue além
do estipulado. É evidente que isso lhe trará maiores encargos, juros, correçã o monetá ria,
multa. Assim, o bom pagador desejará pagar na forma contratada. Tanto que a lei lhe
confere meios coercitivos para jungir o credor a receber.
Na liçã o do mestre processualista Nelson Rosenvald2 temos que a consignaçã o em
pagamento é:
O mecanismo técnico posto à disposiçã o do devedor para efetuar o pagamento, ante o
receio de pagar mal. Consignaçã o é uma modalidade que substitui o pagamento
propriamente dito. Nã o é sinô nimo de pagamento, mas sim uma forma sub-rogada pela
qual o obrigado pode liberar-se antes ou independentemente do fato de haver o credor
recebido o pagamento.
Da Ação de Consignação
Tendo a requerida injustificavelmente se recursado a receber o valor, nã o resta alternativa
ao demandante senã o requerer o depó sito do seu equivalente em juízo, na forma prevista
pelos artigos 890 e 892 do Có digo de Processo Civil.
A) De acordo com Art. 890 do Có digo de Processo Civil, no que concerne à possibilidade da
presente açã o:
Art. 890. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de
pagamento, a consignaçã o da quantia ou da coisa devida.
§ 1º- Tratando-se de obrigaçã o em dinheiro, poderá o devedor ou terceiro optar pelo
depó sito da quantia devida, em estabelecimento bancá rio oficial, onde houver, situado no
lugar do pagamento, em conta com correçã o monetá ria, cientificando-se o credor por carta
ou aviso de recepçã o, assinado o prazo de dez dias para a manifestaçã o da recusa.
§ 2º- Decorrido o prazo para efeito referido no pará grafo anterior, sem a manifestaçã o de
recusa, reputar-se-á o devedor liberado da obrigaçã o, ficando à disposiçã o do credor a
quantia depositada.
§ 3º- Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancá rio, o devedor
ou terceiro poderá propor, dentro de trinta dias, a açã o de consignaçã o em pagamento,
instruindo a inicial com a prova do depó sito e da *recusa.
§ 4º- Nã o proposta a açã o no prazo do pará grafo anterior ficará sem efeito o depó sito,
podendo levantá -lo o depositante.”
B) No caso em tela, combinando as disposiçõ es do diploma processual com as de direito
material, acima descritas, outra nã o pode ser a conclusã o, senã o a procedência da presente
Açã o de Consignaçã o, proposta em razã o da recusa injustificada do credor em receber o
pagamento pelo serviço prestado, havendo de outro lado, o direito do devedor de adimplir
sua obrigaçã o, sendo certo, portanto, que para caracterizar-se o efeito de pagamento busca-
se a tutela judicial, mediante a consignaçã o da quantia devida.
A açã o de consignaçã o em pagamento recebe o seguinte conceito da doutrina civilista:Açã o
de consignaçã o em pagamento é aquela que a lei concede ao devedor para exercitar o seu
direito de pagar a divida, sempre que, por qualquer razã o surjam obstá culos ao exercício
desse direito. Nã o só quando há recusa injustificada do credor em receber senã o, ainda,
quando devedor nã o sabe a quem pagar validamente. A consignaçã o, ou seja, o depó sito
judicial objeto da dívida, feito nos casos legais, vale como pagamento. (J.M. de Carvalho
Santos e José de Aguiar Dias)
A Jurisprudência:
AÇÃ O DE CONSIGNAÇÃ O EM PAGAMENTO - PRESSUPOSTOS DE CONSTITUIÇÃ O E DE
DESENVOLVIMENTO VÁ LIDO E REGULAR DO PROCESSO - EXISTÊ NCIA - EXTINÇÃ O DO
FEITO - SENTENÇA CASSADA. -A açã o de consignaçã o em pagamento tem como objetivo a
liberaçã o do devedor das consequências da mora, com a extinçã o da obrigaçã o pelos
depó sitos efetuados no curso da demanda, nos termos do artigo 890 do CPC e dos artigos
334 e 335 do CC. -O depó sito do valor em contento é pressuposto essencial para o
desenvolvimento vá lido e regular do processamento da açã o de consignaçã o em
pagamento, consoante as regras do art. 337 do CC e art. 893 e seguintes do CPC, restando
certo que se é suficiente ou nã o para quitar a obrigaçã o, a questã o se resolve com o mérito.
(TJ-MG - AC: 10024122883341001 MG , Relator: Wanderley Paiva, Data de Julgamento:
26/06/2014, Câ maras Cíveis / 11ª CÂ MARA CÍVEL, Data de Publicaçã o: 30/06/2014)
No Superior Tribunal de Justiça:
Na consignaçã o em pagamento, o depó sito tem força de pagamento, e a açã o tem por
finalidade ver atendido o direito material do devedor de liberar-se da obrigaçã o e de obter
quitaçã o, por isso o provimento jurisdicional terá cará ter eminentemente declarató rio de
que o depó sito oferecido liberou o autor da obrigaçã o, relativa à relaçã o jurídica material.
(REsp 886.757⁄RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em
15⁄02⁄2007, DJ 26⁄03⁄2007, p. 214)
Dos Efeitos da Consignação
Atentando-se para as disposiçõ es do Có digo Civil, Art. 337, e, bem como, para as do Có digo
Buzaid , Art 891, caput, no intuito de se verificar os efeitos necessá rios da presente açã o.
Art. 337: “O depó sito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue,
para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente.
Art. 540. “Requerer-se-á a consignaçã o no lugar do pagamento, cessando para o devedor, à
data do depó sito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente”.
Dessa forma, como se verifica, o depósito tem o condão de liberar o devedor da
dívida e demais riscos, como se houvesse pago o valor devido diretamente ao credor.
DOS PEDIDOS
Assim sendo, requer que V. Exa.:
I- Citaçã o pelo correio da REQUERIDA, por meio de seu representante legal, no endereço
indicado, para contestar, querendo, a presente açã o, sob pena de confissã o e revelia;
II- Proceda com a expediçã o da guia de depó sito no valor R$ 1.500,00 , já atualizados e
acrescidos de juros legais, a ser efetivado no prazo de 05 (cinco) dias contados do
deferimento.
III- Ao final, que se julgue procedente a açã o e extinta a obrigaçã o, condenando a
REQUERIDA nas custas e honorá rios do advogado.
IV- Provar o alegado mediante prova documental, testemunhal, depoimento pessoal e
demais meios de prova em Direito admitidos.
Dá -se à causa o valor de R$ 1500,00 (Hum mil e quinhentos reais).
Nesses termos,
Pede e espera deferimento.
Sã o Paulo, (dia), (mês), (ano).
Advogado
OAB/SP (nú mero)
Rol de Documentos
Doc 1 – Comprovante de endereço
Doc 2 – Procuraçã o Ad Judicia
Doc 3 – Recibo
1 VENOSA, Silvio de Salvo. Teoria Geral das Obrigaçõ es e Teoria Geral dos Contratos, p. 174,
9. ed. – Sã o Paulo: Atlas, 2009
2 ROSENVALD, Nelson. Direitos das Obrigaçõ es, 3ª ediçã o.
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