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REPRESENTAÇÃO Efeitos

Os poderes de representação são atribuídos através de um negócio jurídico. A procuração dá legitimidade ao CC: 258º Os efeitos resultantes do negócio praticado pelo representante refletem-se na esfera jurídica do
representante para atuar em nome do representado. Pode ser unilateral ou um contrato, através do qual o titular representado. Esta repercussão é imediata e automática.
da esfera jurídica permite que outrem atue por si numa situação jurídica, provocando no seu lugar efeitos na
sua esfera jurídica.
Requisitos Elementos subjetivos

Atuação jurídica em Por conta dessa mesma pessoa CC: 259º Aborda os problemas subjetivos da representação, sendo que a lei dá domínio à teoria da
nome de outrem O representado age no âmbito da autonomia privada do representado e visa a representação, com exceção das situações em que seja determinante a vontade do representado.
O representante deve agir sua esfera jurídica.
esclarecendo a outra parte e
qualquer interessado de que Justificação dos poderes do representante
Dispondo o representante de poderes para o fazer
age na qualidade de Em regra, a fonte de representatividade é dada pela procuração, por vezes, este
representante de outro, O representante age expressa e assumidamente em nome do representante, tem de dar isso a conhecer à
instrumento provém de um negócio jurídico unilateral, conferida pelo
esclarecendo que a sua ação contraparte.
representado ao representante.
e os seus efeitos irão CC: 260º/1 O destinatário da conduta pode exigir, num prazo razoável, ao representante que apresente prova
JAV: Pode acontecer que os poderes de representação surjam de uma cláusula
refletir-se na esfera jurídica dos seus poderes de representação, sob pena de a declaração não produzir efeitos.
contratual, pelo que a fonte não é a procuração. Assim, podemos considerar que
de outro. Se tal qualidade
os poderes de representação nem sempre provêm de uma procuração, mas sim
não for expressa, não Este esquema dá credibilidade à representação e evita situações de incerteza.
de um contrato com outra natureza no qual exista uma cláusula que determine
existirá representação. os poderes de representação necessários.
CC: 260º/2 Vem reforçar a confiança do terceiro na representação e facilita a responsabilização do
representante.
Modalidades
Negócio consigo mesmo
Representação Legal Representação Orgânica Representação Voluntária
Quando os poderes de Representação das pessoas Concessão, livre e voluntária, de CC: 261º
representação emanam da lei coletivas pela poderes de representação do
(menoridade e acompanhamento). administração. representado ao representante. Negócio que o representante celebra em nome do representado, sendo ele próprio a outra parte.
Este negócio é anulável, a não ser que o representado tenha concedido expressamente permissão para tal ou
que a natureza do negócio exclua claramente o conflito de interesses.
Figuras semelhantes
O preceito distingue três situações:
Outras figuras que implicam atuações por conta de outrem, mas se distinguem da representação, pois falta um
dos requisitos anteriormente enunciados.
Negócio celebrado pelo Negócio celebrado pelo representante CC:261º/2
Representação Mediata ou Imprópria representante consigo consigo mesmo, mas em representação Negócio celebrado por pessoa a
Uma pessoa através de um mandato age por conta de outrem, mas em nome próprio. A outra parte desconhece a mesmo e em nome dum terceiro. CC: 261º/1 quem o representante tivesse
existência do mandato, findo o negócio o mandatário deverá proporcionar a aquisição pretendida pelo mandante. próprio. Exemplo: Compra o que tinha poderes subestabelecido os seus
Exemplo: Compra o para vender, fazendo-o com poderes de poderes de representação com o
Gestão de negócios representativa Contrato para pessoa a nomear CC: 452º e 453º que tinha poderes para outro terceiro que tinha para comprar. próprio representante.
O agente atua em nome do dono sem Uma parte na celebração do contrato nomeia um terceiro para vir a vender.
dispor nem invocar poderes de assumir os efeitos (direitos ou obrigações) resultantes desse contrato.
representação, contudo, com a Os efeitos não se produzem automaticamente na esfera do nomeado, Quando uma pessoa seja simultaneamente representante de duas pessoas com interesses opostos deverá,
ratificação (CC: 471º) os efeitos exige-se uma declaração de nomeação e um instrumento de ratificação segundo a boa fé, dar a conhecer aos representados a situação e, posteriormente, terá de ponderar a situação
transferem-se para o mandante. ou de procuração anterior ao contrato. segundo o conflito de direitos.
Aprovação
O ato é praticado por conta duma pessoa que recusa a ratificação, todavia, valoriza, globalmente, em moldes
positivos, a conduta do agente, ilibando-o de responsabilidades.

Recurso a Núncio Ratificação


Consentimento
O núncio não tem margem de Quando o ato é praticado por conta do
O agente é autorizado
decisão. Ele limita-se a transmitir visado, mas sem poderes de
a agir em nome
uma mensagem, a comunicar o que representação, a ratificação permite a
próprio na esfera
tenha recebido. O seu erro na eficácia do ato em causa na esfera da
alheia.
transmissão conduz ao CC: 250º. pessoa por conta da qual foi praticado.

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TEORIAS DA REPRESENTAÇÃO REPRESENTAÇÃO LEGAL

Na representação, uma pessoa atua, manifestando uma vontade que, depois, se vai repercutir direta e A fonte dos poderes de representação vem de normas jurídicas.
imediatamente na esfera jurídica de outrem. As teorias vêm procurar explicar este fenómeno:
Exemplo: Menoridade. Acompanhamento.
Teoria da vontade ou do dono do negócio
Savigny Pretende a proteção patrimonial e pessoal dos jovens seres humanos ou de certos deficientes.
O representante seria apenas o porta-voz do representado. O representando era o detentor da vontade
relevante e o responsável por tomar decisões.
PROBLEMA DA ABSTRAÇÃO
Há situações em que o representado não possui vontade, e a representação tem um papel muito importante Procedeu-se a uma distinção jurídica entre procuração e mandato: a primeira como fonte da própria
nestas relações jurídicas. representação e o segundo na base dos deveres de agir em prol do mandante.

Teoria da Representação É daqui que decorre a natureza abstrata da própria representação, pois independentemente do negócio que lhe
A vontade estaria presente apenas no representante. dá origem, ela sobrevive, por si, seja quais forem as vicissitudes ocorridas entre representante e representado.
Como é que os efeitos do negócio se produzem na esfera jurídica do representado?
• Teoria da Ficção Esta construção tem ainda a vantagem de proteger a confiança de terceiros e da própria sociedade.
Embora a vontade relevante surgisse no representante, tudo se passaria como se o representado agisse.
• Teoria da separação entre a causa e os efeitos
A causa estaria na esfera jurídica do representante e os efeitos, por um mecanismo jurídico, surgiriam na
esfera do representado.
• Teoria da mediação
O negócio é conduzido pela colaboração entre representante e representado, sendo ambos necessários para
atingir o resultado final, que produzirá efeitos na esfera do representado.

Atualmente: um representante, por ter recebido os necessários poderes de uma outra pessoa, celebra um
negócio esclarecendo, na altura, que o faz em nome e por conta do representado. Existe aqui uma situação
triplamente voluntária:
• Vontade do representado ao conceder os poderes de representação e, normalmente, ao explicitar como
devem ser exercidos;
• Vontade do representante de celebrar o negócio;
• Vontade do representante de pretender fazê-lo não para si, mas para o dono, esclarecendo-o;

“REPRESENTAÇÃO” ORGÂNICA
Como é que as pessoas coletivas exercem os seus respetivos direitos?

Teoria da representação Teoria orgânica


Savigny Não há uma incapacidade
A pessoa coletiva era de exercício, a pessoa
incapaz de agir, estava numa coletiva é uma realidade
situação semelhante à dos autónoma e, por isso, age
menores, necessitando de ser através dos órgãos que a
representada. compõem.

Os códigos civis têm evitando tomar uma posição vincada sobre estas teorias, contudo, tendem a convergir
para a aceitação da representação orgânica.
No entanto, apesar da designação, não estamos perante uma verdadeira representação.
A atuação das pessoas coletivas resulta de preceitos legais especificamente dirigidos ao problema.

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TUTELA DE TERCEIROS Procuração Post Mortem

CC: 266º Protege terceiros contra modificações ou extinção da procuração, que alterem os poderes do A procuração post mortem é celebrada para produzir os seus efeitos com a morte do representado, contudo,
representante. na maior parte dos casos, as procurações extinguem-se com a morte do representado ou do representante
A diferença reside no ónus da prova: (265º/1). Para que isto aconteça há que se clausular isto na procuração, enquanto a irrevogável tem que ter
Nº1 Representado terá de provar que os terceiros conheciam a revogação. legitimidade notarial.
Nº2 A invocação da boa fé caberá aos terceiros.

Representação sem poderes


Uma procuração extinta, mas não comunicada aos terceiros interessados, continua a produzir efeitos jurídicos, CC: 268º
porque:
Ato praticado em nome e por conta de outra pessoa sem que, para isso, existam os necessários poderes de
Teoria da aparência jurídica Teoria do negócio jurídico representação.
Hoje considerada dominante. Defende que a A procuração só se extingue Exemplo: Uma pessoa não tem poderes para representar, ou tem para representar X, mas diz que tem para Y.
procuração se extinguiu, contudo, para quando a cessação seja
aparência e tutela de terceiros esta mantém conhecida pelos terceiros a CC: 268º/1 É ineficaz o negócio celebrado sem poderes de representação.
alguma eficácia. proteger.
A ausência do regime de nulidade permite que:
Em Portugal tende a ser adotada a teoria da aparência CC: 266º o O representado, caso não esteja interessado em manter o negócio, não tenha de passar pela burocracia
judicial para declarar o negócio nulo;

Institutos criados para tutelar interesses de terceiros: o Quando interesse ao representado manter o negócio, pode proceder à retificação do mesmo através de
uma decisão livre;
Procuração Tolerada
Contudo, é permitida a ratificação, ou seja, um género de procuração à posteriori porque o negócio pode ser
Existe alguém que, sistematicamente, se diz representante de outrem e o representado nada faz para mudar
proveitoso. Assim, o “representado” acolhe o negócio em causa na sua esfera jurídica, tornando o negócio
esta situação. São reconhecidos ao “representante” poderes de representação, mas, na verdade, não há uma
eficaz, como se o “representante” tivesse, na verdade, legitimidade para exercer poderes de representação.
procuração, há sim um esquema de tutela de terceiros. Os tribunais alemães e a doutrina dizem que, quem
tenha celebrado negócios com este procurador, deve ser protegido, pois a confiança gerada nos mesmos é
A ratificação distingue-se da aprovação, pois na aprovação o que se sucede é que o autor da mesma concorda
imputável ao representado.
com os atos perpetuados por outrem, mas na relação entre ambos, enquanto que na ratificação concorda-se
com o negócio para terceiros e com o contrato.
Procuração Aparente
Não existe também procuração, o representado não sabe que o pseudo-representante age em seu nome, mas CC: 268º/2 a ratificação está sujeita à forma requerida para a procuração e tem eficácia retroativa, sem
poderia sabê-lo se tivesse usado da mínima diligência. prejuízo dos direitos de terceiros.
Se for negada, o negócio ficará sem efeitos, salvo se outra coisa se inferir do seu próprio teor.
(considera-se negada nº3)

Procuração Institucional O terceiro pode fixar um prazo para que o representado ratifique o negócio, quando tenha conhecimento da
falta de poderes do representante.
Temos no Direito Comercial o contrato de agência. É o contrato pelo qual uma das partes se obriga a promover, CC: 268º/3 estipula que passado o prazo não é mais possível a ratificação.
por conta de outrem, a celebração de contratos, o agente recebe uma comissão sobre os contratos que celebra
e a agência, normalmente, é celebrada tendo em conta a disposição geográfica. No caso de o terceiro não ter conhecimento, pode sempre revogar ou rejeitar o negócio.
Na lei da agência, o artigo 23º diz que o negócio celebrado pelo agente sem poderes de representação é eficaz
perante o principal, se tiverem existido razões ponderosas, consoante o caso, que justifiquem a confiança do
terceiro de boa fé.
Abuso de Representação
Pode-se proceder a um alargamento prudente desse preceito e concluir: CC: 269º

A procuração institucional surge sempre que uma pessoa de boa fé contrate com uma organização em cujo Aqui o que temos é alguém que tem poderes de representação, mas que o exerce de forma contraditória
nome atue um “agente” em termos tais que, de acordo com os dados socioculturais vigentes, seja tranquila a relativamente à relação subjacente à procuração.
existência de poderes de representação.
O regime é a ineficácia jurídica caso não seja ratificado pelo representado.

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PROCURAÇÃO Procurador

Esta figura surge com o mandato, onde um mandatário era autorizado a representar outrem em atos jurídicos. CC: 263º
Estes poderes advinham de um contrato de mandato, atuando em vista ao cumprimento do contrato. O procurador apenas necessita de ter a capacidade de entender e querer exigida pela natureza do negócio que
Após o século IX, separa-se o mandato da procuração, tornando-se esta independente do contrato de mandato, está a efetuar.
passando a ser um negócio jurídico autónomo. O representante pode atuar de forma diversa do mandato, Uma pessoa incapaz de praticar um ato de sua conta pessoal e livremente, pode praticá-lo como representante
contudo, tendo sempre em conta um contrato. de outrem.
É verdade que numa larga porção o representante atua conforme o conteúdo estipulado no mandato, mas
também pode não existir uma relação jurídica de base, e existir apenas uma relação de cortesia social, por CC: 261º/2
favores. Neste caso, estamos perante um simples procurador pois não está inserido numa relação jurídica. Poderes para subestabelecer: procurador original designa novo procurador. Investe outra pessoa nos poderes
de representação que lhe foram atribuídos.
Em princípio, a procuração pode ter por objeto a prática de quaisquer atos, salvo disposição legal em contrário.
Como negócio, deve submeter-se aos preceitos gerais, com relevo para o CC: 280º CC: 264º/1
Quando a procuração é assinada o próprio representante deve exercer os poderes que lhe foram investidos e,
CC: 262º/2 A lei determina que a procuração deve ter a forma do negócio jurídico a que se reporta. Contudo, em regra geral, não os pode passar a outro, a não ser quando:
é frequente recorrer-se à forma escrita para a procuração, devido ao problema da prova. Quando a lei exige • O negócio jurídico assim o preveja
uma forma escrita, esta deve ser respeitada. • Originariamente a procuração preveja essa possibilidade
• O representado venha a permitir

Código Notariado: 116º/1 Quando a lei exija escritura pública, a procuração deve revestir uma das seguintes CC: 264º/2
formas: O regime supletivo é o da substituição com reserva, ou seja, o procurador inicial não é excluído. Contudo,
• Instrumento público caso se estipule previamente o contrário, a substituição pode ser sem reserva, sendo o procurador excluído.
• Documento escrito e assinado pelo representado com reconhecimento
• Documento autenticado CC: 264º/3
É uma exceção ao regime geral da responsabilidade, pois o procurador só é responsabilizado se tiver agido
A procuração é um negócio jurídico unilateral. Implica liberdade de celebração e de estipulação e surge com culpa na escolha do substituto ou nas instruções que deu.
perfeita apenas com uma declaração negocial. Assim sendo, não é necessário haver uma aceitação para que
ela produza os seus efeitos. O beneficiário que não queira ser procurador, basta renunciar a ela. A renúncia CC: 264º/4
pode ser tácita. Dá a faculdade ao procurador de beneficiar de auxílio na execução da procuração.
CC: 265º/1 A renuncia leva à extinção da procuração.

Cessação da procuração
Poderes Gerais e Especiais
CC: 265º Estipula três formas de extinção da procuração:
O código de Seabra manifestava expressamente esta distinção no artigo 1323º, contudo, atualmente
caracterizamos estes diversos tipos de procuração analogicamente através do regime de mandato CC: 1159º Procurador renunciar à procuração

Procuração com poderes gerais: autoriza a prática de uma atividade genérica. Cessação do negócio-base
Procuração com poderes especiais: autoriza a prática de atos específicos.
Revogação pelo representado

Negócio-base; relevância na procuração CC: 265º/3


É irrevogável a procuração conferida no interesse do procurador ou de terceiros, salvo com acordo ou justa
O Código Civil separa a procuração do mandato: a primeira concede poderes de representação, enquanto que causa.
o segundo dá azo a uma prestação de serviço.
A lei pressupõe que na procuração há uma relação entre o representante e o representado, por isso, podia-se CC: 267º
falar numa atribuição puramente abstrata de poderes de representação. Todavia, essa “procuração pura” não O procurador deve entregar ao representado o documento de onde retira a sua legitimidade. Evita-se que
dá ao procurador qualquer título para ele intervir nos negócios do representado. Assim, a efetiva concretização terceiros possam ser enganados quanto à manutenção de poderes de representação.
dos poderes de representação pressupõe um negócio-base, onde estão definidos os termos nos quais esses
poderes são exercidos. Esse negócio-base é o contrato de mandato.

Quando falamos num contrato de trabalho ou em situações jurídicas de administração das sociedades, a
situação é diferente. Em relação aos poderes gerais, a representação resulta da própria situação considerada,
no que toca aos poderes especiais, exige-se um ato explícito do representado.

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A PROCURAÇÃO Procuração Tácita

Negócio jurídico através do qual alguém confere a outrem poderes de representação: Procuração Tolerada
o Constituinte: pessoa que confere a procuração Alguém invoca poderes de representação de outrem (sem que tenham sido expressamente
o Procurador: pessoa a quem os poderes são conferidos concebidos) que tem conhecimento e tolera a situação, ou seja, nada faz para impedir a
atitude do “representante”. Cria-se aqui uma situação de aparência de representação e de
É um negócio jurídico unilateral, pelo que fica completo com a declaração negocial do confiança para com terceiros.
constituinte, esta não carece de aceitação.
A declaração negocial é recipienda, tendo como destinatários o procurador e as pessoas É considerada válida quando a existência dos poderes de representação seja de concluir,
perante quem os poderes vão ser exercidos. com toda a probabilidade, do comportamento tolerante daquele a quem a representação é
Pode haver pluralidade ou unidade destes destinatários. invocada. O fundamento da procuração reside na autonomia privada e o comportamento
tolerante constitui uma declaração negocial tácita. O CC: 217º determina que tem de ser
A procuração pode resultar de um documento autónomo ou estar inserida em forma de observada a forma, caso não seja a validade prejudicada pela falta de forma. No caso de
cláusula num outro negócio jurídico, sendo este designado como misto de procuração. não se preencherem os requisitos, é uma representação sem poderes.

Procuração Aparente
Procuração Expressa Alguém invoca poderes de representação de outrem (sem que tenham sido expressamente
concebidos) que não tem conhecimento do ocorrido, contudo, podia e devia ter
Casos mais frequentes de verificação da procuração. conhecimento da atitude do “representante” se tivesse tido a diligência devida.
O constituinte declara constituir alguém seu procurador (identifica-o) atribuindo a este
poderes de representação para atuar em seu nome.
Vicissitudes
Procuração Simples: outorgada de modo isolado
Procuração Clausulada: integrada num outro negócio do qual constitui uma estipulação Instruções

Os poderes atribuídos podem ser mais amplos ou mais restritos. O poder de indicar instruções sobre o modo de agir do procurador é potestativo, pelo que
O código de Seabra manifestava expressamente esta distinção no artigo 1323º, contudo, este terá de cumprir o estipulado pelo constituinte.
atualmente caracterizamos estes diversos tipos de procuração analogicamente através do
regime de mandato CC: 1159º Instruções Originárias Instruções Superveniente
Procuração com poderes gerais: autoriza a prática de uma atividade genérica Anteriores ou concomitantemente Posteriormente à outorga
Procuração com poderes especiais: autoriza a prática de atos específicos com a outorga da procuração da procuração

Independentemente do momento em que são realizadas estas mantêm-se na relação


Forma interna, ou seja, entre constituinte e procurador.

CC: 262º/1 Está sujeita à forma exigida para a prática dos atos que o procurador, dando- Podem constar no documento da procuração ou vir separadas, podem ser dadas oralmente
lhe uso, irá praticar. Ou seja, tem de preencher a forma do ato que irá ser praticado. ou por escrito, dependendo da sua relação fundamental.

Quando nenhuma forma é exigida a regra para os negócios jurídicos é a da liberdade de


Instruções Reservadas Instruções Reveladas
forma, pelo que o mesmo se aplica à procuração. Isto faz com que na maior parte dos
Quando são mantidas entre o Quando lhe são dadas publicidade
casos a procuração possa assumir apenas forma oral.
constituinte e o procurador sem permitindo que sejam conhecidas pela
delas dar conhecimento a outrem outra parte, terceiros ou qualquer pessoa.
Código Notariado determina que:
• Procurações livremente revogáveis, outorgadas no interesse exclusivo do
constituinte são sujeitas a um regime formal do ato cuja prática pelo procurador
devem legitimar. Modificações

• Procurações irrevogáveis, outorgadas no interesse de outrem que não o O conteúdo da procuração pode ser alterado.
constituinte, seguem um regime formal agravado e devem ser outorgadas por Geralmente as instruções supervenientes implicam a modificação da procuração, daí se
instrumento notarial. confundirem as duas figuras.

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Revogação
CC: 263º
CC: 265º O procurador apenas necessita de ter a capacidade de entender e querer exigida pela
A procuração é livremente revogável pelo constituinte natureza do negócio que está a efetuar.
Quando for conferida no interesse do procurador ou terceiros só poder ser revogada:
• Com acordo do interessado CC: 264º/1
• Com justa causa Quando a procuração é assinada, o próprio representante deve exercer os poderes que lhe
foram investidos e, em regra geral, não os pode passar a outro, a não ser quando:
Quando a relação subjacente à procuração for um mandato com representação, o regime • O negócio jurídico assim o preveja
típico será o da livre revogabilidade da procuração. • Originariamente a procuração preveja essa possibilidade
Quando a natureza da relação fundamental for outra. o regime já poderá não ser este. • O representado venha a permitir

É necessário distinguir: CC: 264º/2


Poderes para subestabelecer: procurador original designa novo procurador. Investe outra
Interesse como fundamento da procuração, Interesse como critério do exercício representativo, que pessoa nos poderes de representação que lhe foram atribuídos.
que o seu outorgante não deixará de ter pode ser exclusivo do representante ou de terceiros
Pode ser com reserva, quando o procurador mantém os poderes que tinha, sendo assim,
ambos mantêm em curso os poderes de representação e qualquer um deles os pode
Interesse Secundário Interesse Primário exercer. Quando feito sem reserva, os poderes do procurador inicial cessam.
Explica a outorga da procuração pelo Posição própria do procurador que implica a atribuição
outorgante e o exercício dos poderes pelo de um poder próprio que o legitima a executar contra o Determina que, caso nada fique estabelecido, deve ser considerado com reserva.
procurador. outorgante da procuração, sendo que o seu ato tutela a
O outorgante tem interesse em emitir a satisfação do procurador e não do outorgante. CC: 264º/3
procuração e em ser informado do exercício Rege o exercício dos poderes representativos e dá critério É uma exceção ao regime geral da responsabilidade, pois o procurador só é
dos poderes pelo representante, tendo em ao juízo sobre o abuso do procurador que funda a responsabilizado se tiver agido com culpa na escolha do substituto ou nas instruções que
vista o cumprimento de uma obrigação. revogação. Quando nos referimos ao interesse exclusivo deu.
do procurador ou de terceiros.
CC: 264º/4
Dá a faculdade ao procurador de beneficiar de auxílio na execução da procuração.
Extinção

A procuração estingue-se por:


• Revogação do constituinte
• Renúncia do procurador
• Decurso do prazo
• Verificação de uma condição resolutiva
• Com a extinção da relação fundamental

Eficácia das vicissitudes

Tudo o que estiver convencionado entre o constituinte e o procurador, que resulte da


convenção, é inoponível a terceiros que desconheçam. Princípio res inter alios acta.

O ónus de comunicação das vicissitudes a terceiros recai em quem quiser opor a terceiros
a violação pelo procurar das vicissitudes.
A comunicação segue o regime do CC: 224º + 225º

Há uma diferença importante entre o regime do conhecimento normativo (CC: 266º/2)


que exige a censurabilidade (culpa) do desconhecimento e o regime (CC:269º) que se
contenta com uma cognoscibilidade razoável de acordo com a natureza das coisas.
Procurador

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MANDATO POSIÇÃO DO MANDATÁRIO

A procuração não é um verdadeiro negócio abstrato, assim sendo, para produzir os seus efeitos, necessita de CC: 1161º Obrigações do mandatário
um negócio subjacente, que a complete e lhe dê um sentido. Surge aqui o contrato de mandato.
CC: 1161º a) Deveres de Atuação
O mandato é um contrato pelo qual alguém (mandatário) se obriga a praticar atos jurídicos por conta de outrem Prática de atos jurídicos previstos no mandato, observando as CC: 1161º b) Deveres de informação
(mandante) – praticar atos que visem o interesse de outrem (MC não concorda). CC:1157º indicações do mandante, contudo, estas devem vir inseridas no
contrato ou implícitas nos seus termos.
Temos dois grandes sistemas de mandato: CC: 1162º O mandatário pode não seguir as indicações do
• Francês mandante, no caso de uma alteração de circunstâncias, onde
não houve tempo de informar o mandante e de receber novas CC: 1161º c) Deveres de Comunicação
1984º Code Civile: aproxima o mandato de uma situação de procuradoria; faz decorrer a representação da indicações.
existência de um mandato.
CC: 1161º d) Deveres de prestação de contas
• Alemã
No fim do mandato ou quando o mandante exigir. Postula negócios patrimoniais, com movimentos recíprocos e,
Na representação dá-se um ato unilateral a que se chama procuração, enquanto no mandato temos um contrato possivelmente, uma conta-corrente. Não se confunde com o dever de fazer um relatório sobre tudo o que tenha
(bilateral) – contudo, podemos ter um mandato com representação, que é acompanhado de procuração. sucedido, pois tal dever está inserido na alínea a).
Exemplo: com procuração, um mandatário que compre um imóvel, transfere-o automaticamente para a esfera
jurídica do mandante. CC:1161º e) Deveres de entrega
Deve ser entregue o que se recebeu durante o mandato, nomeadamente, dinheiro, documentos, objetos.
Características Gerais do mandato: CC: 1164º No caso das entregas em dinheiro, vencem juros.
• Contrato Consensual, sem forma solene exigida CC: 1181º Também no caso do mandato sem representação deve ser entregue ao “mandante” os direitos
• Contrato Sinalagmático imperfeito quando gratuito adquiridos.
• Contrato supletivamente gratuito
Aprovação Tática do mandato
Novidades no atual código em comparação ao regime anterior: CC: 1163º O silêncio vale como declaração, ou seja, como aceitação do mandato. Tal aprovação tem um
o Condensação da matéria papel fundamental:
o Exclusão do mandato judicial • Na constatação do bom cumprimento
o Separação entre mandato e procuração • Na concordância com a execução ou não-execução, nos termos determinados pelo mandatário
o Acolhimento das fórmulas do Código italiano • Na renúncia a qualquer indeminização
o Linguagem atualizada • No sancionamento das contas
o Mandato ganhou um sentido mais objetivo
Substituição do mandatário
CC: 1165º - CC: 264º/1 e 4 O mandatário pode substituir-se ou ter auxiliares, nos mesmo termos que o
CC: 1157º O mandato implica a prática de um ou mais atos jurídicos por conta de outra. procurador, ou seja:
• Se o mandante permitir
CC: 1158º/1 • Se estiver estipulado no mandato
O mandato pode ser oneroso ou gratuito, conforme esteja fora ou dentro do exercício da profissão do • Se o contrato não excluir
mandatário.
CC: 1158º/2 Pluralidade de mandatários
No caso do mandato oneroso, a retribuição é remetida, sucessivamente, para: o acordo das partes, as tarifas CC: 1166º Ao agir conjuntamente, cada um responde pelos seus atos. Não haverá responsabilidade solidária.
profissionais, os usos ou os juízos de equidade.

CC: 1159º Estipula a extensão do mandato. Este pode ser: POSIÇÃO DO MANDANTE
Geral: não especifica os atos
Especial: reporta-se a atos concretos Obrigações do mandante
CC: 1167º a)
CC:1160º 1ªparte Fornecer os meios necessários à execução do mandato.
Quando existe uma pluralidade de mandatários, há um mandato para cada. Podem estes ser: adiantamentos em dinheiro, coisas móveis, documentos, autorizações e informações.
Esta ideia é reforçada pois,
CC:1160º 2ªparte Exceção CC: 1168º O mandatário pode abster-se de executar o mandato se o mandante não cumprir.
Pode o mandato definir que têm de agir conjuntamente, pelo que há um co-mandato.
CC: 1167º b), c) e d) Efetuar pagamentos a vários tipos.

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CESSAÇÃO DO MANDATO A IDEIA DE COISA

Revogação O Código Civil logrou soluções originais. Aproxima-se do código alemão pela sistemática pandectista e pelo
recurso a “coisa”, e não a bens; conecta-se, todavia, com a linha napoleónica pela manutenção ao conceito
CC: 1170º/1 Aparece como uma exceção à regra geral, que só permite revogações por comum acordo. Aqui amplo de res.
é permitida a livre revogação por qualquer das partes, sem ser necessário acordo entre estas, mesmo quando
haja renuncia deste direito ou convenção contratual em contrário. CC: 202º Noção de coisa

Mas não é assim tão livre. CC: 203º Classificações de coisa


• Imóveis e moveis
CC: 1170º/2 + CC: 265º/3 Travão • Simples e compostas
Exige-se o acordo do interessado para revogar o mandato quando este tenha sido criado com interesse do • Fungíveis e não fungíveis Nos preceitos seguintes o CC limita-se a dar
mandatário ou de terceiros. • Consumíveis e não consumíveis definições dos diversos termos, sem dispor de
• Divisíveis e indivisíveis um modo direito o regime. Tal tem sido
CC: 1171º Ocorre uma revogação tácita quando o mandante designe outra pessoa para a prática dos atos do • Principais e acessórias frequentemente criticado pela doutrina.
anterior mandatário. Mas esta revogação tácita só produz efeitos quando é conhecida pelo anterior mandatário. • Presentes e futuras
• Frutos
CC: 1172º Quando exercido o direito de livre revogabilidade, em certas situações, fica-se sujeito a indemnizar • Benfeitorias
a outra parte pelo prejuízo causado:
• Direito à indeminização previamente convencionado
• Estiver estabelecida a irrevogabilidade ou se tiver renunciado o direito a revogar Coisas ou Bens?
• Se num mandato oneroso provir do mandante
• Se provier do mandatário sem a antecedência conveniente A designação tradicional, desde que se adotou a língua portuguesa nos livros de Direito pátrio, retomada pelos
Nunca há lugar a indeminização se tiver havido justa causa. clássicos da pré-codificação, era a de “coisas”; referia-se, embora e por vezes com um sentido semelhante a
“bens”. A doutrina, quando referia bens, citava as origens Romanas deste termo, acabando por fazer a
CC: 1173º No caso de haver uma pluralidade de mandatários e o exercício ser comum, a revogação só opera distinção correta: o bem traduz a tudo aquilo que não seja pessoa e que tiver uma utilidade, for apto a satisfazer
se todos concordarem. uma necessidade, realizar uma apetência ou alcançar um fim.

Caducidade CC: 1174º No coração do Direito civil, as razoes estilístico-culturais apontam para “coisa”.
Contudo no quotidiano tende-se a usar:
Este elenco não é taxativo, o mandato caduca ainda por:
• Decurso do prazo a que esteja sujeito Coisa Bens
• Obtenção do resultado que vise Realidade corpóreas Áreas periféricas (regime de bens, bens da herança)
• Ocorrência de condição resolutiva Mais adequada para Coisas incorpóreas (bens imateriais)
traduzir a realidade Conotação valorativa mais ampla do que a mera res (bens de
dos artigos 202º e personalidade, bens humanos)
MANDATO COM REPRESENTAÇÃO CC: 1178º e 1179º seguintes Categoria económica oposta aos serviços (bens económicos)

Se tiver representação, os atos feitos pelo mandatário repercutem-se automaticamente e imediatamente na Conceito
esfera do mandatado. Aplica-se cumulativamente com as regras do mandato, os artigos 258º e ss. CC
(representação). O representante mandatário deve agir em seu nome e em nome do outro. A renuncia ou a José Tavares Noção Lata: coisa é tudo o que não for pessoa, nos termos do CC: 369º Código Seabra
revogação da procuração implicam a do mandato. Prevalece o regime da procuração sobre o do mandato. Noção Própria: coisa é tudo o que, não tendo personalidade, possa ser objeto de direitos e
obrigações
Noção Restrita: coisa é o objeto material apropriável, por oposição a direitos ou a bens
imateriais
MANDATO SEM REPRESENTAÇÃO CC: 1180º a 1184º
Pires de Lima propôs a definição hoje inserida no 202º “Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de
CC: 1180º Se o mandatário não exercer os poderes de representação, declarando que age em nome do relações jurídicas.”
mandante, os direitos adquiridos e as obrigações assumidas operam na esfera do próprio mandatário.
Menezes Cordeiro: tecnicamente inaproveitável: basta ver que as pessoas não são coisas, podendo, não
Contudo, como continua a haver mandado: obstante, ser objeto das tais relações jurídicas, enquanto os direitos reais, sendo absolutos, não implicam
quaisquer relações jurídicas, embora, por definição, se reportem a coisas.
CC: 1181º O mandatário fica obrigado a transferir os direitos adquiridos para o mandante.
CC: 1182º, 1ª parte O mandante deve igualmente assumir as obrigações contraídas pelo mandatário. José Alberto Vieira: Diz-se coisa toda a porção delimitada da realidade material ou intelectual exterior à
CC: 1182º, 2ª parte Caso tal transmissão não seja possível devido à falta de autorização do terceiro, deve o pessoa humana e sem vida.
mandante fornecer os meios necessários ao mandatário para este cumprir as obrigações.

TEORIA GERAL DIREITO CIVIL | SOFIA CUNHA TEORIA GERAL DIRIETO CIVIL | SOFIA CUNHA
Características

Utilidade Individualidade Suscetibilidade de BENEFEITORIAS


Algo que seja idóneo Todas as coisas são fisicamente divisíveis. A coisa apropriação CC: 216º
como meio lícito tem individualidade enquanto bem, na perspetiva do
para realização de fim que é apta a realizar. Uma parte da coisa pode ser São pessoalmente apropriáveis e Não são coisas, são ações: são o ato de benfeitorizar a coisa. As ações que originam as
fins ou objetivos considerada uma coisa, desde que possa utilizáveis para a realização de despesas, aquilo de que essas despesas tenham sido feitas.
também eles lícitos. individualmente ser útil, ou seja, idónea como bem. fins concretos.
CC: 1273º + 1255º Levantamento das benfeitorias prossupõe a retirada de algo que tenha
O sol não é suscetível de utilização exclusiva, pois todos podem beneficiar e ninguém pode privar os outros sito feito e que possa ser separado da coisa.
da sua utilização, a sua utilidade é geral e não pode ser individualizado
CC: 216º/1 Todas as despesas feitas com o fim de conservar e melhorar objetivamente a
coisa.

CC: 216º/3 Ações feitas sobre a coisa e as respetivas despesas que tenham como fim
A coisa não é pessoa evitar o detrimento da coisa, aumentar o sue valor ou recrear o benfeitorizante
• Permite excluir as realidades humanas: a pessoa singular, o corpo humano, as partes do corpo humano,
os sentimentos e diversos outros aspectos ligados à personalidade; Distinção de benfeitorias:
• Permite excluir realidades não-humanas mas às quais o Direito confira os atributos da personalidade. Necessárias: São indispensáveis para evitar a perda, destruição ou deterioração da coisa,
ou seja, aquelas sem as quais a coisa sofreria perdas, destruição ou deterioração.
Não implica que as situações não tenham vindo a acontecer, mas foram tentadas evitar.
A coisa não tem, necessariamente natureza económica: o Direito não admite que as pessoas “monetarizem” Ou seja, as despesas não têm de efetivamente evitar, mas tem de ser realizadas com esse
ou “economizem” tudo aquilo em que toquem. Independentemente de tais proibições, há coisas que, de facto, fim.
e nas condições reinantes, não têm teor económico.
Úteis: São dispensáveis para a sua conservação, mas aumentam-lhe o valor.
Aqui importa o resulta e não o fim prosseguido, ou seja, tem de se verificar um resultado
Há coisas que não são bens, por não terem qualquer utilidade. E há bens que não são coisas, por terem natureza objetivo de aumento do valor.
humana.
Voluptuárias: Não são indispensáveis, nem aumentam o valor da coisa, mas servem
como recreio do benfeitorizante, para prazer e disfruto da coisa.
As coisas não têm que ser permutáveis e ocupáveis
• Permutabilidade: possibilidade de, sobre a coisa, se tecerem relações de mercado;
• Ocupabilidade: possibilidade duma coisa ficar sobre o controlo exclusivo duma pessoa. Estas distinções são fundamentais para o regime da posse.

Características que podem ser afastadas pela natureza que ponha fora do alcance humano a coisa ou coisas CC:1273º
consideradas ou pelo próprio Direito, que proíba operações jurídicas sobre certas coisas. O autor das benfeitorias necessárias tem direito a ser indemnizado do respetivo custo,
seja possuir de boa ou má fé.

A coisa não é, necessariamente, rara O autor de benfeitorias úteis pode levantá-las desde que sem detrimento da coisa, sendo
compensado nos termos do enriquecimento sem causa quando não possa levantar, seja
possuir de boa ou má fé.
A coisa é delimitada: a delimitação corresponde a uma ideia subjacente a coisa. Esta, quando considerada
enquanto tal, evoca sempre uma porção delimitada da realidade, mas com significado social. CC: 1275º No caso das benfeitorias voluptuárias importa distinguir se o seu autor está de
boa ou má fé.
O possuidor de boa fé pode levantar as benfeitorias que puderem sem levantadas sem
A coisa não tem que ser material (ex.: energia = coisa corpórea, não material. detrimento da coisa, mas perde, sem direito a indemnização, as que não puderem.
O possuidor de má fé perde qualquer caso de benfeitorias que tenha feito

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COISAS PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS COISAS SIMPLES E COMPOSTAS
CC:210º CC: 206º

Coisas Acessórias: coisas móveis que desempenham uma função instrumental em O Direito Romano conhecia três tipos de coisas:
relação às coisas principais, traduzem-se na afetação ao serviço da outra (auxiliares)
o Simples
Coisas acessórias VS Partes integrantes Continha um único espírito e sobre ela incide um único direito
Não estão materialmente ligadas à coisa principal VS Estão materialmente ligadas Exemplo: coisas produzidas pela natureza ou pelo homem;
Vínculo de acessoriedade: Duradouro VS Permanente
o Compostas ex contingentibus
Formadas por conjuntos de coisas móveis conectadas devidamente
CC: 210º/2 “Os negócios jurídicos que têm por objeto a coisa principal não abrangem, Exemplo: o telhado composto por telhas
salvo declaração em contrário, as coisas acessórias.”
o Composta ex distantibus
Exemplo: A venda de uma casa de habitação não incluí, em princípio, a respetiva mobília, Agrupamento de seres animados distintos, todavia com uma alma comum
nem os equipamentos que não lhe estejam materialmente ligados de modo permanente, Exemplo: Rebanho
sendo que abrange apenas o convencionado.
Esta repetição veio-se a perder na história pelo que as coisas compostas ex contingentibus
MC: Trata-se de um erro histórico. Desde o Direito Romano, passando pelo Direito foram unidas às coisas simples, pois o tratamento jurídico de ambas é unitário.
intermédio, pelos Direitos francês e italiano e pelo Direto português clássico que a Em Portugal gerou-se um conflito interpretativo. Na verdade, a coisa composta deste
autonomização de coisas acessórias e/ou pertenças sempre teve o sentido útil de aplicar, artigo não é tratada pelo direito de forma unitária, pelo que é na verdade nada.
ainda que de modo mais ou menos matizado, ao acessório, o regime do principal.
Na normalidade da vida social, o negócio relativo à coisa principal deveria abranger as Simples
acessórias ou, pelo menos, aquelas que, de imediato, por todos são reconhecidos como
tais. Não se podem distinguir em mais de uma coisa

Solução: 210º/2 deve ser afeiçoado ao sistema. Perante problemas concretos, nunca Complexas
nenhuma regra de aplica sozinha: funciona, sim, o ordenamento no seu todo.
Não nos parece viável estabelecer uma diferença de regime entre coisas acessórias e Integram na sua unidade uma pluralidade de coisas. Podem ser:
pertenças: há uma equiparação de regimes. • Compostas
Têm um tratamento jurídico unitário, mas cujas partes quando forem separadas, não são
Instrumentos de normalização sistemática: juridicamente tratadas como coisas
1. Alargamento das partes integrantes, em detrimento das coisas acessórias; • Coletivas
2. Aproveitamento das regras de interpretação e de integração dos negócios; Tê tratamento jurídico unitário como coisas sem que as coisas que a integram deixem de
3. Deveres acessórios da boa fé: a coisa adquirida deve vir acompanhada dos ser consideradas coisas
acessórios necessários, sob pena de violação do CC: 762º/2;
4. Defesa do consumidor LDC: 4º
JAV: considera que todas as coisas são simples, pois recebem um tratamento jurídico
A razão de ser da acessoriedade jurídica reside na possibilidade de, automaticamente, lhes unitário. Para o Direito não é relevante se uma coisa se pode desdobrar, enquanto existir
aplicar o destino da coisa principal. por si é uma coisa para o direito.
Por vezes, coisa acessória não se pode separar da principal, daí que alguma doutrina seja O conceito de coisa composta reporta-se a uma realidade de coisas unidas para prosseguir
contrária ao CC:210º/2, salientando-se o Oliveira Ascensão que diz que há́ um costume um fim mas onde cada uma mantem uma autonomia.
contra legem que já teria revogado esta norma. Preceito é uma fonte de inequívocos
Assim, é necessário atender à funcionalidade da coisa acessória: se for essencial ao
funcionamento da coisa principal, então deve tomar o mesmo destino que esta.
COISAS FUNGÍVEIS E NÃO FUNGÍVEIS
CC: 207º
COISAS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS São fungíveis as coisas que se determinem pelo seu género, qualidade e quantidade, quando constituam objeto
CC: 209º de relações jurídicas.
Sem diminuição do seu valor Às coisas fungíveis contrapor-se-iam as não fungíveis, isto é, coisas individualizadas peças suas
Tal critério não pode ser hipertrofiado: há muitas situações nas quais coisas perfeitamente características próprias.
divisíveis vêm alterar o valor das parcelas com a separação: a soma dos valores só por
coincidência corresponderá ao valor global inicial. Há que apelar para a concreta situação A tradição alemã apontava uma noção objetiva de “fungibilidade”.
considerada de modo a formular uma definitiva opção de divisibilidade. O CC português fez uma opção mais subjetiva: tudo depende da concreta situação verificada. O código
pretendeu dizer que são fungíveis as coisas que, na situação jurídica considerada, se determinem pelo género,
As qualidades da coisa que permitem a divisibilidade devem ser aferidas no momento em qualidade e quantidade. Isto é: apenas in concreto se poderá afirmar se há ou não fungibilidade. A
que se ponha o problema, haverão coisas que poderão ser divisíveis no futuro, mas não o fungibilidade, não sendo evidente, deve ser invocada e demonstrada.
são ainda, no presente. Exemplo: A moeda é em norma a coisa mais fungível que há, contudo, quando objeto de coleção deixa de o
ser
São coisas divisíveis as que podem ser fracionadas sem alteração da sua substância,
diminuição de valor ou prejuízo para o uso a que se destinam. Este critério é dado à data O CC português também diferente do BGB por não limitar esta distinção às coisas móveis, podem as partes
da análise: não interessa se no futuro poderão ser divisíveis ter interesses atendíveis em considerar fungíveis determinados imóveis.
Se o fracionamento da coisa importar perda de valor, é uma coisa indivisível. A É relevante no sentido da possibilidade de substituibilidade. As coisas fungíveis quando objeto de relações
indivisibilidade pode ser natural (quadro a óleo) ou legal. jurídicas podem ser substituídas, pois não tem importância a sua identidade concreta.

Contrato de mútuo: diz respeito a coisas fungíveis


CC: 1142º o beneficiário terá de restituir coisa equivalente
COISAS PRESENTES E FUTURAS Contrato de comodato: pressupõe coisas não fungíveis
CC: 211º CC: 1129º reporta-se à coisa emprestada.
Não estão em poder do disponente, ou a que este não tem direito, ao tempo da declaração
negocial. COISAS CONSUMÍVEIS E NÃO CONSUMÍVEIS
CC: 208º
Coisas objetivas ou absolutamente futuras: coisas que não existem, ainda na facticidade,
mas que se espera que venham a surgir. Construção jurídica de consumo: este ocorre seja perante coisas efémeras, cujo uso envolve a sua destruição,
seja perante coisas duradouras, que se destinem, todavia, a ser alienadas.
Coisas subjetivas ou relativamente futuras: coisas que já existem, mas que não se As coisas consumíveis são “aquelas cujo uso regular importa a sua destruição ou a sua alienação”, conceito
encontram no património do disponente. jurídico, não naturalístico.
Exemplo: Um livro quando lido é uma coisa não consumível, contudo se for utilizado para fazer uma fogueira
CC: 408º/2 O Direito admite negócios relativos a coisas futuras: nessa altura eles só é uma coisa consumível.
produzem efeitos quando a coisa seja adquirida pelo alienante
CC: 893º Os negócios sobre coisas alheias podem ser havidos como sobre coisas futuras, Destruição: Extinguem-se ao serem consumidas, perdem a sua existência física, mesmo que apenas mudem
desde que as partes as considerem enquanto tal. o seu estado natural. Exemplo: Combustível
CC: 880º/1 Quando se celebram negócios sobre coisas futuras, o disponente fica obrigado Alineação: São transformadas, modificam-se ou perdem a sua individualidade como coisa. Exemplo: Matérias
às diligencias necessárias para que elas se tornem presentes. primas.

Coisas deterioráveis e duradouras

Coisas deterioráveis: coisas que, perante o seu uso, mesmo regrado e regular, vão perdendo qualidades e valor.
Exemplo: vestuário ou automóveis.
A natureza deteriorável duma coisa não faz dela uma coisa consumível.

Coisas duradouras: mantém-se como tais, mau grado o uso.

Coisas “susceptíveis de deterioração”: 1889º/1 a) coisas que, independentemente do seu uso, tenham uma
duração limitada. Exemplo: alimentos.

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COISAS IMÓVEIS Solução:

Problema: CC: 204º/1, “prédio” tem um sentido técnico que não esgota todas as parcelas fixas do planeta. MC: Temos que ficar pela definição do 204º/2. Há que tomar a teoria da afetação económica em termos
Surgiriam, assim, “imóveis” não contemplados no artigo 204º: os monumentos, as estradas e as minas, os amplos, não se provando factos que permitam uma qualificação como urbano, o prédio é considerado rústico,
poços, os aquedutos, as pontes e os pelourinhos e as autoestradas. noção dogmaticamente operacional.
JAV: Defende que juntamente com a teoria da afetação económica deve-se ter em conta um critério
MC e JAV: Perante a dificuldade, há que sustentar que o CC: 204º não é taxativo. Fundamentos: subsidiário. O prédio que ofereça elementos rústicos e urbanos o direito deve reconduzir-se à base, segundo a
• Leis avulsas consideram imóveis coisas que, de todo em modo, é impossível reconduzir ao 204º; qual todos os prédios são rústicos, é a ação do Homem que os eleva a prédio urbano. Se um prédio oferecer
• O Direito civil é aplicável ao domínio público onde se multiplicam os imóveis que só com violência duvidas quanto à sua classificação devemos adotar a qualificação de prédio rustico.
semântica poderiam passar por prédios.

Pergunta-se se o problema da limitação dos moveis ficou resolvido – a resposta será afirmativa, caso a Limites dos prédios
enumeração em causa se possa considerar taxativa. CC: 1344º

Os prédios: rústicos e urbanos O prédio é uma porção delimitada da crosta terrestre (o prédio pressupõe uma delimitação artificial, feita pelo
homem, de acordo com regras jurídicas, através de linhas reais ou ideais de separação – caso contrário, todo
CC: 204º/2 o planeta seria um único prédio.)
Prédio urbano: qualquer edifício incorporado no solo com os terrenos que lhe sirvam de logradouro
Superfície Profundidade
Prédio rústico: uma parte delimitada do solo e as construções nele existente que não tenham autonomia
económica O prédio abrange a A atribuição, aos particulares, de acordo com os respetivos prédios, dos
área comportada inerentes espaços aéreos e subterrâneos, obriga o Estado e os próprios
Na doutrina portuguesa podemos apontar as seguintes teorias para distinguir prédios:
pelas suas particulares incumbidos de certas tarefas a, pelo menos, ter de recorrer
extremas, isto é, por a leis de exceção e a indemnizações para privar os particulares de parte
Teoria do valor linhas reais ou dos seus prédios. Alem da defesa dos cidadãos, esta solução tem a
O prédio com elementos das duas naturezas será rústico ou urbano consoante a parcela que represente idealmente traçadas vantagem de obrigar à procura das melhores soluções teóricas, para não
maior valor. Teoria sem base normativa devido às alterações do preceito 1084º, pelo que atualmente não é no terreno. incomodar as pessoas e prejudicar o ambiente.
defendida.

JAV: O senhorio do proprietário encontra o seu fim natural onde acaba a possibilidade do domínio humano.
Teoria do fracionamento A propriedade pode estender-se até onde é possível a ação humana. O ponto até ao qual o proprietário pode
Parte da afetação económica. Simplesmente, quando se apure que quer o terreno, quer a construção têm chegar deve estar incluído no seu domínio, a não ser que a constituição retire esse espaço para fins públicos.
autonomia económica opta pelo fracionamento: haveria dois prédios, sendo um rústico e outro urbano. Para a profundidade o problema coloca-se de forma semelhante, admitindo que o limite inferior é
MC: parece colocar na autonomia privada o poder de fracionar prédios. Não é assim. O fracionamento igualmente o limite da possibilidade da ação humana, a não ser que haja uma proibição legal que retire a
dum prédio implica autorizações administrativas, seja das Câmaras Municipais, seja das Direcções- ação do proprietário, quando existam águas por exemplo.
regionais de Agricultura.
Ninguém, por construir uma casa com autonomia económica numa herdade, consegue, por isso, dois
prédios juridicamente distintos.
JAV: não tem um escopo pratico, pois, um prédio do ponto de vista do regime jurídico tem de ser uma Prédios urbanos
destas categorias. Não é possível desdobrar em dois ou mais prédios o prédio que é juridicamente São, fundamentalmente, edifícios ou casas.
considerado como um. Assim a teoria é meramente teórica e não tem concretização prática. CC: 204º/2 Exige a “incorporação” no solo: ficam excluídos barracões, tendas ou construções elementares,
meramente assentes no terreno (prédios que só podem ser demolidos, não meramente removidos).

Teoria da consideração social Águas


Os prédios são rústicos ou urbanos consoante, na comunidade jurídica, sejam havidos por terrenos ou por CC: 204º/1 b)
construções.
MC: esta teoria é um pouco “naïf”. A comunidade jurídica pode na verdade, ver num prédio uma realidade CC: 1385º Distingue águas publicas e particulares;
rústica ou urbana. As águas podem estar em movimento: assim sucederá na hipótese de um rio ou de um curso de água. Quando
isso suceda, elas são havidas como imóveis, porquanto delimitadas pelo leito e pelas margens do curso
considerado.
Teoria da afetação económica
As águas surgem como imóvel na medida em quem juridicamente, possam ser tratadas como coisas
Teríamos que apurar se o conjunto visa o aproveitamento do terreno (agricultura) ou o da construção (habitações,
autónomas. De outro modo, elas são partes componentes do prédio em que se integrem.
serviços…) – no primeiro caso o prédio é rústico, no segundo é urbano.
MC: dependendo o destino económico de um prédio da livre opção do seu proprietário, um prédio poderia ser,
Arvores, arbustos, frutos
sucessivamente rústico ou urbano, consoante sucessivas e contraditórias opções do seu dono. Esta teoria sempre
CC: 204º/ 1 c)
foi pouco praticável.
JAV: É a teoria por excelência de distinção, contudo não permite classificar todos os casos concretos,
Considera imóveis as arvores, os arbustos e os frutos naturais, enquanto estiverem ligados ao solo,
nomeadamente o da Herdade Alentejana. Essas três realidades são partes integrantes dos prédios a que pertençam – não têm autonomia. Uma vez
separadas, essas coisas passam a ser móveis.

TEORIA GERAL DIREITO CIVIL | SOFIA CUNHA TEORIA GERAL DIREITO CIVIL | SOFIA CUNHA
Direitos
CC: 204º/ 1 d)

De uma forma antiquada o legislador, contudo é uma referência errada, pois os direitos não são coisas pelo COISAS MÓVEIS
que não são nem imóveis nem móveis. Os direitos têm objeto coisas, contudo eles próprios não o são.
CC: 205º/1 Categoria das coisas móveis é residual: abrange todas as coisas que o Direito
não considera imóveis. Em especial:
Partes integrantes • Os objetos materiais
• A energia
CC: 204º/3 As partes integrantes não têm autonomia: elas inserem-se no imóvel a que pertencem. • Os móveis sujeitos a matrícula e registo
• Coisas representativas
Noção de parte integrante:
Bens intelectuais
Teoria tradicional
Para se falar de parte integrante, teria de haver uma ligação material: a parte integrante deveria estar fixada, São coisas incorpóreas, ficando fora da contraposição entre moveis e imóveis; esta
presa ou unida ao prédio, nas palavras de Manuel de Andrade. abrange apenas o universo das coisas corpóreas.
No entanto, na medida em que se deve fazer apelo às regras gerais sobre as coisas, para
Doutrina da destinação económica reger os bens intelectuais, relevam as relativas às coisas móveis: elas congregam as
O móvel passaria a imóvel quando, independentemente duma definitiva ligação material ao prédio, ele normas mais gerais relativas aos objetos das situações jurídicas.
estivesse ao seu serviço.
Móveis sujeitos a matrícula e a registo
A lei dá primazia à ligação material, por natureza a ligação deve ser material, sendo compatível, em casos
eventuais, com a separabilidade. Em princípio, os móveis, mesmo os de menor valor, são reconhecíveis pelos seus donos
e pelas pessoas que os circundem. Porém, certos móveis, em função do seu valor
Natureza dos negócios que se reportem a partes integrantes: á partida, e uma vez que estas não têm uma económico, de razoes de polícia ou da facilidade com que mudam de localização,
identidade jurídica diferente da coisa a que pertençam, tais negócios não podem eficácia real: não atingem a requerem um esquema público de identificação. Isso consequente através da aposição
titularidade da parte integrante. duma matrícula e da sujeição do móvel a um registo público. Estão em causa,
fundamentalmente, os automóveis, os navios e as aeronaves.
Exemplos MC: Hipótese do painel de azulejos. Hipótese dos elevadores
São uma categoria heterogénea, disfrutam de uma publicidade racionalizada, estão
sujeitos a hipoteca (não penhor), o contrato-promessa e o pacto de preferência comportam
O Regime eficácia real.

Uma vez que os móveis constituem a categoria genérica donde, por força da lei, sobressaem os imóveis, o Energia
regime destes últimos é apontado como especialidade.
A energia não é uma mera criação do espírito humano. Não sendo um “objeto”, a energia
Os negócios relativos a imóveis estão, em princípio, sujeitos a forma solene e, designadamente, a escritura tem existência objetiva. Ela tende hoje a ser considerada como uma coisa corpórea móvel,
pública: tanto pela doutrina como pela jurisprudência.
Compra e venda CC: 875º
Doação CC: 947º/1 Coisas representativas
Sociedade CC: 981º/1
Tenda vitalícia CC: 1239º Especial categoria de móveis: coisas que, mercê de convenção sócio-juridica,
representam seja um valor que as transcende, seja uma determinada posição jurídica.
Consequências: é um lugar-comum a afirmação de um crescente valor dos móveis, em detrimento dos imóveis.
Dinheiro: entendido como espécie monetária, o dinheiro é coisa móvel.
Não obstante, os imóveis, embora batidos como riqueza absoluta, mantêm, pela natureza das coisas, um
elevado valor. Alem disso, eles correspondem a uma evidente realidade física e sociológica, dotada de Título de crédito: é um documento – coisa corpórea móvel. O seu sentido transcende-a;
características inconfundíveis e à qual o Direito não pode deixar de dispensar um tratamento diferenciado. não obstante: regra do seu regime básico advém-lhe da sua qualidade de coisa.

Cartões: a sua posse permite o acesso a diversos bens e coisas, maxime, tratando-se de
cartões bancários, a operações de levantamento, de pagamento e de crédito. Também aqui
uma coisa móvel assume um sentido figurativo e operacional que em muito a transcende.

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CC: 203º Trata-se de um preceito não exaustivo. COISAS FRUTÍFERAS E INFRUTÍFERAS
O próprio CC: 202º/2 subentende uma contraposição entre coisas no comércio e fora do comércio, apesar de
não a inserir na enumeração do 203º. Outras classificações basilares, como a que separa as coisas corpóreas Coisa frutíferas: dá frutos Coisa infrutífera: não dá frutos
das incorpóreas foram esquecidas.
FRUTOS
COISAS CORPÓREAS E INCORPÓREAS CC: 212º
Coisas corpóreas: coisas que têm existência exterior, sendo percetíveis pelos sentidos. “É o que a coisa produza periodicamente, sem prejuízo da sua substância”
Coisas incorpóreas: meras criações do espírito.
Apesar de omitida no campo das classificações “oficiais” de coisas, o CC pressupõe a presente classificação, Requisitos para ser fruto e não produto da coisa principal:
nomeadamente no CC: 1302º 1) Periodicidade da produção
2) Preservação da substância da coisa frutífera/produtora
3) Utilidade própria da coisa frutífera como bem jurídico
Coisas corpóreas Res qui tangi possunt

Correspondem a uma autonomização requerida pela natureza. Enquanto realidades exteriores percetíveis pelos Fruto ≠ Produto da coisa principal: coisas produzidas aleatoriamente com prejuízo ou detrimento da substância
sentidos, as coisas corpóreas sofrem, ou podem sofrer, a atuação humana direta no sentido mais imediato de da coisa.
atuação física. O ser humano pode controlá-las, com ou sem base jurídica, excluindo os seus semelhantes de
fazer outro tanto. Em suma: as coisas corpóreas são suscetíveis de posse.
CC: 212º/2 Distinção de classes de frutos:
As coisas corpóreas abrangem: desde logo, as porções limitadas de: Frutos Naturais: provêm direitamente da coisa.
• Matéria em estado sólido Provêm da frutificação natural da coisa, em virtude das leis da natureza.
• Matéria armazenada em estado líquidos e gasoso A sua determinação deve ser feita em concreto.
• Documentos e os suportes materiais que contenham obras do espírito: o papel onde de exare o escrito, Os frutos naturais seguem a coisa, só com a colheita é que ganham autonomia (204º, c) CC).
a película que conserve cenas, o disco compacto que preserve o som ou as imagens e o suporte Os frutos pertencem a quem tiver direito a eles no momento normal da colheita.
magnético que contenha o programa e a sua utilização. Nota: O bem intelectual contido no documento
ultrapassa o valor deste enquanto res corporalis.
Frutos Civis: rendas ou interesses que a coisa produz em consequência de uma relação jurídica.
Provêm da lei civil.
Coisas incorpóreas
Frutos Puramente Naturais: Produzidos espontaneamente, sem intervenção do trabalho do homem
As coisas incorpóreas são criações do espírito humano. Elas podem ser comunicadas através da linguagem e Frutos Industriais: A produção exige o trabalhos e engenho humanos
ser incorporadas em documentos, sucessão de sinais que o espírito humano decifrando dá origem à coisa in. Frutos Pendentes: Estão ainda ligadas à coisa frutífera/produtora
As coisas incorpóreas compreendem três grandes categorias: Frutos Separados: Já foram desligados da coisa frutífera/produtora (colhidos, consumidos)
o Frutos percebidos: separados pela ação humana
Bens intelectuais: Abrangem as obras literárias e artísticas, os inventos e as marcas (criações do espírito o Frutos percebiendos: frutos que devendo ser percebidos, não o foram
exteriorizadas por qualquer forma) Frutos extantes: não se encontram no património de determinada pessoa
Prestações: A prestação é uma conduta humana. O Direito pode atribuir a alguém (credor) o poder de exigir Frutos consumpti: estão no património de determinada pessoa
a outrem (devedor) uma certa atuação: a prestação.
Como conduta virtual, a prestação apenas existe em abstrato: só no momento do cumprimento passara a ter
uma consistência no mundo dos factos. CC: 212º/3 São considerados frutos as crias nascidas no seu seio necessárias para a substituição dos animais
As realidades ou quia jurídicas: Figuras técnicas e sociais. que vierem a falecer.
Não deve ser tido como fruto tudo o que for necessário para manter a integridade da coisa frutífera e a sua
capacidade de frutificação.
Programação se computador (“software”) No caso dos animais, apenas as crias extra, ou seja:
Todas – morreram = Vivas => Vivas – Morreram = Frutos
Para funcionar, o equipamento informático requer, depois, um conjunto de informações, de sequências e de
modos de proceder, devidamente articuladas, em ordem a permitir a receção de instruções, a sua elaboração e
Aplicado por mutatis mutandis
a execução das tarefas pretendidas. Esse conjunto será a programação – “software” – ela própria comporta por
diversos programas. Exemplo 1: à aplicação de capitais, só devem ser considerados frutos os rendimentos depois de deduzido o
que for necessário para reposição do capital (lucros).
Atualmente, quer a doutrina, quer a jurisprudência defendem: os suportes seriam coisas corpóreas; a própria Exemplo 2: o resultado da colheita de fruta num pomar, só devem ser considerados frutos, aquilo que exceda
programação em si seria, antes, uma coisa incorpórea. Todavia, seria possível aplicar-se-lhe, quando a o custo do investimento necessário à frutificação seguinte, pelo que devem ser deduzidas as despesas da
analogia das situações o justificasse e com as adaptações necessárias, o regime das coisas corpóreas. Proteção frutificação.
jurídica do software = tutela da programação como obra literária (programação assimilada a um bem Exemplo 4: os juros de um depósito a prazo só devem ser tidos como frutos depois de reinvestida a parte
intelectual). necessária à compensação da inflação.

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Exemplo 5: A coisa frutífera que careça de investimento periódico ou de despesas para manter a sua produção
periódica, só devem ser tidos como frutos o que sobrar depois de descontado o que for necessário para a
manutenção da sua subsistência.

Os frutos pertencem a quem for titular ou proprietário da coisa frutífera.


CC: 213º/1 Os frutos naturais em caso de mudança de titularidade da coisa frutífera, são partilhados na porção
da duração do direito de cada um.
CC: 213º/2 Os frutos civis são partilhados proporcionalmente à duração do direito.

CC: 408º/2, última parte: nos negócios relativos a frutos naturais, os efeitos só se produzem no momento da
colheita.

CC: 880º/1: na venda de frutos pendentes (estão ainda ligados à coisa produtora), o disponente fica obrigado
às diligências necessárias para que o comprador adquira os frutos vendidos.

CC: 882º: a coisa deve ser entregue no estado em que se encontrava no momento da venda e essa entrega
inclui os frutos pendentes (estão ainda ligados à coisa produtora).

CC: 1270º + 1271º: regime jurídico da posse dos frutos, consoante a boa ou a má fé do possuidor.

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