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Curso Online Completo de Direito Civil

Módulo IV – Contratos em espécie

Aula 7 – Mandato

Mandato (arts. 653 a 692, CC)

O legislador procura conceituar mandato no art. 653, segundo o


dispositivo, mandato é o contrato pelo qual alguém, o mandatário, recebe
poderes de outrem, o mandante, para, em seu nome, praticar atos ou administrar
interesses.

O Código Civil, no conceito de mandato, inclui os poderes de


representação, no entanto, a doutrina aponta a possibilidade do contrato de
mandato sem poderes de representação.

Quando o contrato de mandato vem com poderes de representação, o


mandatário age em nome e por conta do mandante. Todos os atos jurídicos
praticados pelo mandatário, nos limites do poder, repercutem na esfera jurídica
do mandante. Para os terceiros, quem está agindo é o mandante. Já no mandato
sem representação, o mandatário age em nome próprio, mas nos interesses do
mandante. Para o terceiro, quem está agindo é a pessoa do mandatário, por isso,
a melhor doutrina (Pontes de Miranda, Orlando Gomes, Fábio Maria de Mattia)
ensinam que os poderes de representação servem apenas para que o contrato
de mandato produza eficácia perante terceiros.
O CC reconhece a possibilidade do mandato sem poderes de
representação no art. 663, segunda parte:

Art. 663. Sempre que o mandatário estipular negócios expressamente em nome do


mandante, será este o único responsável; ficará, porém, o mandatário pessoalmente
obrigado, se agir no seu próprio nome, ainda que o negócio seja de conta do mandante.

A regra é que todos os atos possam ser praticados pelo mandatário em


nome do mandante, salvo casos personalíssimos ou quando a lei
expressamente proibir.

Procuração

O art. 653 estabelece que a procuração é o instrumento do mandato.

Atenção! A melhor doutrina (Pontes de Miranda, Orlando Gomes e Fábio


Maria de Mattia) aponta o erro conceitual cometido pelo art. 653. A procuração
não é instrumento de mandato, a procuração é negócio jurídico unilateral de
outorga de poderes. O art. 653, portanto, dispõe sobre dois negócios jurídicos
diversos: o contrato de mandato que, como todo contrato, é negócio jurídico
bilateral, e a procuração que é negócio jurídico unilateral de outorga de poderes.
Por isso, é perfeitamente possível que haja mandato com procuração e mandato
sem procuração.
A prova de que a procuração não é instrumento do mandato é conferida
pelos arts. 654, §1º e 656. O §1º, do art. 654, impõe os requisitos da outorga de
poderes, isto é, da procuração.

Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante
instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante.

§ 1 o O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a


qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a
designação e a extensão dos poderes conferidos.

Já o art. 656 admite o mandato verbal, ou mesmo tácito:

Art. 656. O mandato pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito.

Substabelecimento

Ocorre quando aquele que tem os poderes de representação transferem


tais poderes a outrem. O substabelecimento pode ser feito com ou sem reserva
de poderes. Se for feito com reservas, ambos, isto é, mandatário e
substabelecido, podem praticar os atos, se for feito sem reserva de poderes, só
aquele que foi substabelecido poderá agir.

O regime jurídico do substabelecimento vem previsto nos parágrafos 1º a


4º do art. 667.
Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do
mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem
substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente.

§ 1 o Se, não obstante proibição do mandante, o mandatário se fizer substituir na


execução do mandato, responderá ao seu constituinte pelos prejuízos ocorridos sob a
gerência do substituto, embora provenientes de caso fortuito, salvo provando que o caso
teria sobrevindo, ainda que não tivesse havido substabelecimento.

§ 2 o Havendo poderes de substabelecer, só serão imputáveis ao mandatário os danos


causados pelo substabelecido, se tiver agido com culpa na escolha deste ou nas
instruções dadas a ele.

§ 3 o Se a proibição de substabelecer constar da procuração, os atos praticados pelo


substabelecido não obrigam o mandante, salvo ratificação expressa, que retroagirá à
data do ato.

§ 4 o Sendo omissa a procuração quanto ao substabelecimento, o procurador será


responsável se o substabelecido proceder culposamente.

Mais uma vez o legislador faz confusão entre os conceitos de mandato e


outorga de poderes. O §1º do art. 667, trata especificamente do mandato, ou
seja, se o mandatário se fizer substituir na execução do mandato tendo isso sido
proibido pelo mandante, ele responderá por todos os danos sofridos pelo
mandante, ainda que oriundos de caso fortuito e força maior.

O parágrafo 3º deixa claro que e houver vedação no instrumento da


procuração, isto é, se a vedação ao substabelecimento estiver no instrumento
da procuração, os atos praticados pelo substabelecido não serão atribuíveis ao
mandante.

Se a procuração for omissa, entende-se que há possibilidade de


substabelecimento, porém o procurador responderá se o substabelecido agir
com culpa.

Natureza jurídica do contrato de mandato

Se trata de um contrato consensual, gratuito, unilateral, típico e não


solene.

Trata-se de contrato unilateral porque somente o mandatário tem


obrigações.

Se o contrato de mandato for oneroso, ele será bilateral. Alguns autores


ensinam que o negócio jurídico de mandato pode ser bilateral imperfeito, isto
porque, mesmo quando o mandato é gratuito, cabe ao mandante ressarcir o
mandatário das despesas que ele venha a ter. A melhor doutrina, no entanto,
mostra claramente que não se trata de bilateralização do contrato, pois a fonte
de obrigação do mandante não é o contrato de mandato, mas sim, a despesa
que foi realizada.

Obrigações do mandatário

a) Praticar com diligência todos os atos que lhe forem atribuídos. Atenção!
A regra no Brasil é a análise objetiva da culpa, isto significa que o juiz analisa,
não as características da pessoa concreta, mas sim, do homem médio.
Excepcionalmente, a lei impõe como padrão de análise as características de
certa e determinada pessoa. É o que ocorre, por exemplo, no contrato de
mandato. O art. 667 estabelece como padrão de diligência aquela que é habitual
ao mandatário.

b) É obrigação do mandatário prestar contas de seus atos, transferindo ao


mandante todas as vantagens que resultarem do mandato. A prestação de
contas é elemento essencial aos negócios jurídicos de administração de bens e
interesses alheios.

c) Exercer o mandato nos limites dos poderes outorgados. O CC


estabelece regras de interpretação do mandato. Se ele for sem poderes
específicos, só autoriza a prática de atos de administração. Todos os atos que o
mandatário praticar que extrapolem os poderes são ineficazes perante o
mandante, no entanto, o mandante pode ratificar, isto é, confirmar os atos
praticados pelo mandatário.

Obrigações do mandante

a) Satisfazer as obrigações assumidas pelo mandatário: esta disposição


legal é equivocada. As obrigações não são do mandatário. Quando o mandatário
tem poderes de representação, o vínculo jurídico se forma entre o mandante e o
terceiro.

b) Pagamentos ao mandatário: os pagamentos são de duas ordens


distintas. O pagamento pode se referir a remuneração pelo exercício do
mandato, isso se dá quando o mandato é oneroso. Há também a obrigação do
mandante de ressarcir o mandatário de todos os gastos e despesas que teve.
Caso o mandante não efetue esses pagamentos, o mandatário terá o poder de
reter eventuais coisas do mandante que recebeu por conta do mandato até que
a obrigação seja satisfeita.

Mandato em causa própria

Causa própria também é chamada de “causa sui”. Trata-se de hipótese


bastante diversa das demais, isto porque, tradicionalmente, os interesses em
jogo são os do mandante.

No chamado mandato em causa própria, os interesses em jogo são


integralmente do mandatário. Por isso, este mandato não pode ser revogado.
Neste caso, o mandatário recebe poderes para registrar alguma coisa em seu
próprio nome. É muito comum nos compromissos de compra e venda, em que o
vendedor outorga ao comprador mandato para que ele, uma vez quitado o preço,
registre o imóvel em seu nome.

Extinção do mandato

Como sempre, a forma natural de extinção é o cumprimento, mas há


outras formas possíveis:

a) Decurso do prazo;

b) Incapacidade superveniente de qualquer das partes;


c) Morte de qualquer das partes;

d) Mudança de estado que impossibilite o mandatário de cumprir o mandato;

e) Renúncia do mandatário;

f) Revogação do mandante.

Atenção! A cláusula que veda a revogação é ineficaz, ou seja, o mandante


poderá revogar, ainda que deva pagar indenização. A cláusula de proibição da
revogação será eficaz quando o mandato for em causa própria, ou quando, a
irrevogabilidade for condição de um negócio jurídico bilateral.

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