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CONTRATO DE COMISSIONAMENTO
MERCANTIL
• É também na idade média que o Direito utiliza faz referência ao vocábulo comissão pela
primeira vez, uma vez que utilizada no direito canônico para designar delegação de pessoas
investidas com poderes para decidir sobre determinado assunto. Posteriormente, o termo foi
assimilado pelo Direito Comercial, indicando a nomeação de pessoa para executar negócios
em nome alheio, em caráter transitório.
• No Brasil, o contrato teve larga utilização na época de destaque do mercado cafeeiro,
servindo também como força de impulso para outras atividades de importação e exportação
(e.g., automóveis), dada a flexibilidade dessa figura contratual, que viabiliza que o comissário
forneça estrutura e crédito para que produtor desenvolva suas atividades.
• O contrato, porém, caiu em franco desuso, diante da superveniência de institutos jurídicos
que atendem de forma mais eficaz às necessidades do mercado (e.g. cooperativas agrícolas).
2. CONTORNOS LEGAIS
• Definido no art. 693 do Código Civil, nos seguintes termos “O contrato de comissão tem
por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário, em seu próprio nome, à conta
do comitente”.
• Aperfeiçoa-se pela aquisição ou venda de bens pelo comissário, sob sua responsabilidade
e em nome próprio, no interesse e sob orientação do comitente.
• Comissário: é a aquele que se obriga adquirir ou vender bens do comitente. Pode ser
pessoa física ou jurídica e, como sempre colocará bens em circulação, constituir-se-á quase
sempre como empresário, na forma do artigo 966 do CC.
• Comitente: constitui-se como a pessoa em favor de quem o comissário realizará seus
negócios e que expedirá as orientações necessárias para que o contrato seja conduzido de
forma que atenda seus interesses.
2. CONTORNOS LEGAIS
• Características:
- O comissário sempre atuará em nome próprio e sob sua responsabilidade pessoal,
respondendo perante o comitente e perante os terceiros pelas perdas e danos que causar na
execução do contato;
- Não há direito de ação do comitente contra os terceiros, nem destes contra aquele, exceto no
caso de cessão pelo comitente de seus direitos ou obrigações, hipótese em que, sob regime de
sub-rogação, passará possuir legitimidade para demandar diretamente a parte com a qual o
comissário se relacionou.
- O contrato deve se desenvolver de acordo com as orientações do comitente, porém, na falta
de orientações e não possuindo o comissário tempo para requisitá-las, deverá observar os
usos e costumes do local, em claro prestígio do legislador ao costume (art. 695 do CC).
2. CONTORNOS LEGAIS
• Vantagens
- A possibilidade de preservar o sigilo do comitente, que pode preferir não aparecer para manter o segredo de
suas operações, possibilitando também que o comissário mantenha segredo a respeito do nome de seu
fornecedor.
- Desnecessidade de grande investimento para início do negócio, já que o bem não precisa necessariamente ser
adquirido pelo comissário (diferentemente do que ocorre com a revenda);
- Há flexibilidade para ajuste do valor da comissão, que pode ser calculada de acordo com os valores de venda
ou sobre o êxito do comissário em obter preço de venda maior do que o mínimo esperado pelo comitente;
- Não há risco de o comitente responder por excessos do comissário, diferentemente do que ocorreria em
regime de representação ou em mandato; e
- Permite ao comitente o uso do crédito e capital do comissário, além de facilitar-lhe a obtenção de informações
e a remessa e guarda de bens em locais distantes.
- Diniz: possibilidade de colaboração entre empresários, sem que seja necessário que se constituam como
representantes, gerentes, administradores ou representantes uns dos outros e assumam responsabilidades
3. CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DISTINTIVAS
- Contrato mercantil;
- Bilateral e oneroso;
- Intuitu personae;
- Consensual e não solene;
- Comutativo: ressalvadas as cláusulas del credere; e
- Típico e nominado.
3. CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DISTINTIVAS
• A comissão simples é aquela definida pelo artigo 697 do Código Civil, segundo o qual o
“o comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem tratar, exceto em
caso de culpa e no do artigo seguinte”.
-A princípio, portanto, pela natureza do contrato de comissionamento, não responderá
o comissário pela solvabilidade do terceiro, exceto se demonstrado que agiu com culpa
ou dolo;
• O comissário pode assumir responsabilidade pela insolvência do terceiro, por sua
conta, através da pactuação de cláusual del credere, nos termos do artigo 698 do Código
Civil: ”Se do contrato de comissão constar a cláusula del credere , responderá o
comissário solidariamente com as pessoas com que houver tratado em nome do
comitente, caso em que, salvo estipulação em contrário, o comissário tem direito a
remuneração mais elevada, para compensar o ônus assumido.”.
5. COMISSÃO SIMPLES E DEL CREDERE
-A cláusula del credere tem por objetivo incentivar o comissário a selecionar com maior critério as
pessoas com quem contratará, diante do fato que responderá, em caráter solidário, por eventual
inadimplemento dessas pessoas.
-- A cláusula em questão representa imposição de ônus substancial ao comissário, que poderá ser
demandando por inadimplemento de terceiro. Por esse motivo, o art. 698 do CC lhe assegura, em
contrapartida, o direito à remuneração adicional, exceto se houver ajuste em sentido contrário. No
silêncio, é cabível o arbitramento judicial.
-Maria Helena Diniz sustenta que a cláusula del credere constitui pacto acessório, que deve ser sempre
levado a efeito por escrito, para que não haja dúvidas a respeito de sua aplicação.
-Embora a doutrina seja pacífica em reconhecer a natureza jurídica de garantia da cláusula del credere,
há debate a respeito de qual modalidade de garantia ela se insere, pois há doutrina gabaritada que
defende a natureza de fiança (Valdemar Ferreira) e outros estudiosos que defendem seu caráter de
seguro (Fran Martins e Carvalho Mendonça), inclusive qualificando como prêmio a comissão adicional
estabelecida em razão de sua estipulação.
6.1. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO COMISSÁRIO
-f) Avisar ao comitente os danos sofridos pelas mercadorias sob sua guarda;
-g) Promover a cobrança dos valores devidos pelos terceiros com quem contratar;
-h) Responder pelos prejuízos que causar ao comitente por ter desrespeitado suas orientações ou os
usos do lugar onde celebrado o negócio;
-i) Responder pelos prejuízos que causar por ter feito negociação em condições mais desvantajosas
do que aquelas aplicadas ao lugar, no tempo da transação, já que isso viola a expectativa de
recebimento de lucro no negócio (art. 696 do CC); e
- j) Prestar contas ao comitente relativas aos encargos que assumiu, dado que o negócio se
desenvolve no interesse dele.
- Além do comitente, o comissário também assume algumas obrigações perante os terceiros com os
quais contratar, pois, atuando em nome próprio, é ele quem deve responder pelos danos e prejuízos
que decorrem do negócio celebrado, por não haver direito de ação contra o comitente.
6.1.1. DO DIREITO AO CONTRATO CONSIGO MESMO
• O comissário é ainda obrigado a promover a cobrança dos valores devidos por aqueles com quem
negociar. Inclusive, o art. 4° da Lei das Duplicatas dispõe que “Nas vendas realizadas por
consignatários ou comissários e faturas em nome e por conta do consignante ou comitente, caberá
àqueles cumprir os dispositivos desta Lei”.
• Diante desse dever, o comissário presume-se autorizado a conceder dilação do prazo para
pagamento, salvo se houver ajuste em sentido diverso ou a dilação contrariar os usos locais.
• O legislador presumiu ainda que as vendas feitas pelo comissário são feitas com pagamento à vista,
de modo que se ele conceder a dilação em debate, estará obrigado a comunicar esse fato ao
comitente, indicando o prazo concedido e a qualificação de seu beneficiário, sob pena de este poder
lhe exigir o pagamento imediato da dívida, assim como de responder pelos danos decorrentes da
dilação concedida (art. 700 do CPC).
• Independentemente da dilação concedida, se o terceiro não pagar o valor devido, cabe ao
comissário promover a cobrança cabível, sob pena de responder pelas perdas e danos decorrentes de
sua omissão ou de negligência culpável no ato de cobrança (artigos 699 e 700 do Código Civil).
6.2. DOS DIREITOS E DEVERES DO COMITENTE
-b) Disponibilizar ao comissário os fundos necessários para que cumpra com o encargo que lhe
for confiado;
-c) Reembolsar, com juros, as despesas adiantadas pelo comissário (aArt. 706 do Código Civil); e
-d) Pagar ao comissário as perdas e danos decorrentes de sua dispensa imotivada, ai incluídos os
lucros cessantes (art. 705 do CC).
- As obrigações do comitente estão são assumidas apenas perante o comissário, pois, como já
visto, os terceiros, a princípio, não dispõem de direito de ação em face do comitente.
8. RESPONSABILIDADE CIVIL
• Como as principais obrigações do comitente são financeiras, se não pagos os valores devidos
dentro do prazo pactuado, estará caracterizado seu inadimplemento, que o sujeitará às
consequências do artigo 395 do Código Civil, além de eventual multa contratual, acaso ajustada
previamente entre as partes.
• É possível debater-se apenas e existência de responsabilidade hipótese de dispensa imotivada
do comissário (artigo 705 do Código Civil), que assegura-lhe o direito ao recebimento das perdas e
danos cabíveis, independentemente de se tratar de contrato por prazo determinado ou
indeterminado.
• A jurisprudência, contudo, costuma aplicar referido dispositivo de forma conjugada com o art.
473 do CC, isentando o comitente do pagamento de perdas e danos na hipótese de evidenciado
que ele concedeu aviso prévio adequado para se o organizar para o término da relação contratual
(vide TJ-RS - AC: 70059963074 RS, Relator: Paulo Sérgio Scarparo, Data de Julgamento:
31/07/2014, Décima Sexta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 05/08/2014).
5. BIBLIOGRAFIA
. •ARRUDA, Alvim. Manual de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo : Processo de Conhecimento:
Recursos: Precedentes. 19ª Ed. Ver. Atual. e Ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil. 2020. P. 1090.