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CONTRATOS EMPRESARIAIS

CONTRATO DE COMISSIONAMENTO
MERCANTIL

VICTOR AUGUSTO AGUIAR MANFREDI

PROFESSOR DOUTOR MARCUS ELIDIUS MICHELLI DE ALMEIDA


1. CONCEITO E HISTÓRICO

• A palavra comissão possui diferentes significados, inclusive jurídicos, o que se justifica


porque a palavra tem origem no termo latino comittere, que por sua vez possuía
variados significados, como juntar, unir, confrontar, confiar, etc.
• No direito comercial designa tanto o contrato de comissionamento previsto nos
artigos 693 e ss. do Código Civil, como a remuneração devida a uma das partes desse
contrato (o comissário) e a outros contratantes que atuam em atividades de
intermediação ou angariação de negócios.
• Bugarelli afirma que o contrato de comissão surgiu ainda na idade média, em virtude
da intensificação do comércio nesse período histórico, proporcionando vantagens como
reduzir custos de operações e contornar a proibição do exercício de comércio por
estrangeiros.
1. CONCEITO E HISTÓRICO

• É também na idade média que o Direito utiliza faz referência ao vocábulo comissão pela
primeira vez, uma vez que utilizada no direito canônico para designar delegação de pessoas
investidas com poderes para decidir sobre determinado assunto. Posteriormente, o termo foi
assimilado pelo Direito Comercial, indicando a nomeação de pessoa para executar negócios
em nome alheio, em caráter transitório.
• No Brasil, o contrato teve larga utilização na época de destaque do mercado cafeeiro,
servindo também como força de impulso para outras atividades de importação e exportação
(e.g., automóveis), dada a flexibilidade dessa figura contratual, que viabiliza que o comissário
forneça estrutura e crédito para que produtor desenvolva suas atividades.
• O contrato, porém, caiu em franco desuso, diante da superveniência de institutos jurídicos
que atendem de forma mais eficaz às necessidades do mercado (e.g. cooperativas agrícolas).
2. CONTORNOS LEGAIS

• Definido no art. 693 do Código Civil, nos seguintes termos “O contrato de comissão tem
por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário, em seu próprio nome, à conta
do comitente”.
• Aperfeiçoa-se pela aquisição ou venda de bens pelo comissário, sob sua responsabilidade
e em nome próprio, no interesse e sob orientação do comitente.
• Comissário: é a aquele que se obriga adquirir ou vender bens do comitente. Pode ser
pessoa física ou jurídica e, como sempre colocará bens em circulação, constituir-se-á quase
sempre como empresário, na forma do artigo 966 do CC.
• Comitente: constitui-se como a pessoa em favor de quem o comissário realizará seus
negócios e que expedirá as orientações necessárias para que o contrato seja conduzido de
forma que atenda seus interesses.
2. CONTORNOS LEGAIS

• Características:
- O comissário sempre atuará em nome próprio e sob sua responsabilidade pessoal,
respondendo perante o comitente e perante os terceiros pelas perdas e danos que causar na
execução do contato;
- Não há direito de ação do comitente contra os terceiros, nem destes contra aquele, exceto no
caso de cessão pelo comitente de seus direitos ou obrigações, hipótese em que, sob regime de
sub-rogação, passará possuir legitimidade para demandar diretamente a parte com a qual o
comissário se relacionou.
- O contrato deve se desenvolver de acordo com as orientações do comitente, porém, na falta
de orientações e não possuindo o comissário tempo para requisitá-las, deverá observar os
usos e costumes do local, em claro prestígio do legislador ao costume (art. 695 do CC).
2. CONTORNOS LEGAIS

• Vantagens
- A possibilidade de preservar o sigilo do comitente, que pode preferir não aparecer para manter o segredo de
suas operações, possibilitando também que o comissário mantenha segredo a respeito do nome de seu
fornecedor.
- Desnecessidade de grande investimento para início do negócio, já que o bem não precisa necessariamente ser
adquirido pelo comissário (diferentemente do que ocorre com a revenda);
- Há flexibilidade para ajuste do valor da comissão, que pode ser calculada de acordo com os valores de venda
ou sobre o êxito do comissário em obter preço de venda maior do que o mínimo esperado pelo comitente;
- Não há risco de o comitente responder por excessos do comissário, diferentemente do que ocorreria em
regime de representação ou em mandato; e
- Permite ao comitente o uso do crédito e capital do comissário, além de facilitar-lhe a obtenção de informações
e a remessa e guarda de bens em locais distantes.
- Diniz: possibilidade de colaboração entre empresários, sem que seja necessário que se constituam como
representantes, gerentes, administradores ou representantes uns dos outros e assumam responsabilidades
3. CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DISTINTIVAS

- Contrato mercantil;
- Bilateral e oneroso;
- Intuitu personae;
- Consensual e não solene;
- Comutativo: ressalvadas as cláusulas del credere; e
- Típico e nominado.
3. CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DISTINTIVAS

• Pode-se afirmar que são elementos que caracterizam os contratos de comissionamento


mercantil:
- a existência de intermediação;
- o comissário age em nome próprio, assumindo pessoalmente obrigações;
- o comissário se constituirá como empresário, diante da congregação dos elementos
definidos no artigo 966 do CC, porém o comitente não necessariamente possuirá essa
mesma qualidade; e
- subordina-se, no que couber, à disciplina aplicável aos mandatos.
• Trata-se, ainda, de contrato geralmente celebrado por prazo indeterminado.
4. A COMISSÃO MERCANTIL E OUTROS CONTRATOS AFINS

• Por se tratar de contrato que envolve a prática de atos em favor de terceiros, o


contrato de comissionamento possui pontos de contato com diversos outros
contratos, dos quais se difere, contudo, diante de suas características já mencionado.
• Mandato: É o contrato mais próximo do comissionamento, porque este se originou
daquele. Tanto é assim, que as regras do mandato se aplicam subsidiariamente ao
comissionamento e existem doutrinadores (e.g. Orlando Gomes), que defendem que
o comissionamento consubstancia mera forma especial do mandato (um mandato
sem representação).
- A doutrina majoritária, porém, é no sentido de que se trata de contratos bastante
distintos e inconfundíveis.
4. A COMISSÃO MERCANTIL E OUTROS CONTRATOS AFINS

- principal elemento distintivo: o comissário atua em seu nome e sob sua


responsabilidade, de acordo com o artigo 693 do Código Civil; o mandatário, quando
atua nos limites dos poderes que lhe foram outorgados, atua em nome e sob a
responsabilidade do mandante, como se tivesse sido ele próprio o praticante do ato.
- O comissário não é obrigado a apresentar qualquer documento que comprove sua
nomeação pelo comitente, enquanto o mandatário deve sempre fazer provar a
outorga de poderes pelo mandante, inclusive sendo lícito que se lhe solicite a
apresentação de instrumento com firma reconhecida (art. 654, §2°, do CPC).
- Como o comissário não recebe procuração, não há espaço para debates a respeito
da extensão de seus poderes e eventuais excessos de poder nos atos que praticar.
4. A COMISSÃO MERCANTIL E OUTROS CONTRATOS AFINS

• Contratos de Corretagem: não se confundem com o comissionamento,


pois a tarefa do corretor é a de aproximar e angariar negócios para as partes
que desejam contratar, cabendo a elas o poder de decidir a respeito da
conclusão do negócio (art. 722 do CC).
- A comissão do corretor é devida pela simples intermediação, de modo que
será devida mesmo que o negócio não seja concluído por arrependimento
das partes. Em regra, a comissão do comissário é devida em virtude da
efetiva venda dos produtos, de modo que não será devida caso esta não se
conclua.
4. A COMISSÃO MERCANTIL E OUTROS CONTRATOS AFINS

• O contrato de comissionamento também pode relacionar-se com outras espécies: de contrato:


• O contrato de expedição: Na vigência do art. 174 do Código Comercial, era uma modalidade de contrato de
comissionamento. O CC/02 não tratou desse contrato, de modo que Fran Martins defende que, se o contrato
de expedição for celebrado com características que lhe atribuam os contornos do comissionamento, poderá
ele ser disciplinado pelas regras que lhe são aplicáveis. Sem essas características, deverá ser regulado de
acordo com o contrato com o qual possui maior afinidade (ex. mandato).
• Contrato de leiloamento: De acordo com os artigos 22 e 40 do Decreto 21.981/32,o leiloeiro poderá ser
mandatário ou comissário da pessoa que lhe confiar os bens à venda. O art. 40 mencionado dispõe que “O
contrato que se estabelece entre o leiloeiro e a pessoa, ou autoridade judicial, que autorizar a sua intervenção
ou efetuar a sua nomeação para realizar leilões, é de mandato ou comissão e dá ao leiloeiro o direito de
cobrar judicialmente sua comissão”.
- Fran Martins explica que haverá mandato se o leilão ocorrer na presença do proprietário do bem, quando
atuará representando o mandatário; e comissionamento quando esse mesmo leilão ocorrer longe da
presença do proprietário. A relação de mandato ou comissionamento, contudo, só existe entre leiloeiro e
proprietário do bem, pois em relação aos compradores há mera relação de compra venda.
5. COMISSIONAMENTO SIMPLES E DEL CREDERE

• A comissão simples é aquela definida pelo artigo 697 do Código Civil, segundo o qual o
“o comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem tratar, exceto em
caso de culpa e no do artigo seguinte”.
-A princípio, portanto, pela natureza do contrato de comissionamento, não responderá
o comissário pela solvabilidade do terceiro, exceto se demonstrado que agiu com culpa
ou dolo;
• O comissário pode assumir responsabilidade pela insolvência do terceiro, por sua
conta, através da pactuação de cláusual del credere, nos termos do artigo 698 do Código
Civil: ”Se do contrato de comissão constar a cláusula del credere , responderá o
comissário solidariamente com as pessoas com que houver tratado em nome do
comitente, caso em que, salvo estipulação em contrário, o comissário tem direito a
remuneração mais elevada, para compensar o ônus assumido.”.
5. COMISSÃO SIMPLES E DEL CREDERE

-A cláusula del credere tem por objetivo incentivar o comissário a selecionar com maior critério as
pessoas com quem contratará, diante do fato que responderá, em caráter solidário, por eventual
inadimplemento dessas pessoas.
-- A cláusula em questão representa imposição de ônus substancial ao comissário, que poderá ser
demandando por inadimplemento de terceiro. Por esse motivo, o art. 698 do CC lhe assegura, em
contrapartida, o direito à remuneração adicional, exceto se houver ajuste em sentido contrário. No
silêncio, é cabível o arbitramento judicial.
-Maria Helena Diniz sustenta que a cláusula del credere constitui pacto acessório, que deve ser sempre
levado a efeito por escrito, para que não haja dúvidas a respeito de sua aplicação.
-Embora a doutrina seja pacífica em reconhecer a natureza jurídica de garantia da cláusula del credere,
há debate a respeito de qual modalidade de garantia ela se insere, pois há doutrina gabaritada que
defende a natureza de fiança (Valdemar Ferreira) e outros estudiosos que defendem seu caráter de
seguro (Fran Martins e Carvalho Mendonça), inclusive qualificando como prêmio a comissão adicional
estabelecida em razão de sua estipulação.
6.1. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO COMISSÁRIO

-• O principal direito do comissário é o de recebimento da remuneração, denominada comissão, que


for estipulada no contrato.
-- Na falta de definição, o art. 701 do CC determina que seja a comissão arbitrada com fundamento nos
usos da praça em que se executar o negócio. M. H. Diniz defende que o arbitramento também deve
observar a razoabilidade e as peculiaridades da prestação de serviços (e.g., complexidade dos
trabalhos, importâncias envolvidas, etc.).
-- A comissão será devida na íntegra quando os serviços forem prestados em sua totalidade. Se os
serviços forem prestados de forma parcial, em razão da morte, força maior ou pela dispensa do
comissário, a comissão será devida de forma proporcional aos trabalhos executados pelo
comissionário (art. 702 do CC).
-- No caso de dispensa do comissário pelo comitente, o dispensado ainda fará jus ao recebimento da
comissão correspondente aos serviços prestados. No caso de dispensa motivada, terá o comissário
ainda direito a perdas e danos resultantes dessa sua dispensa (art. 705 do CC); se motivada, será ele
obrigado a ressarcir ao comitente os prejuízos que lhe causou (art. 703 do ´CC).
6.1. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO COMISSÁRIO

• São outros direitos assegurados ao comissário:


-a) Solicitar ao comitente os fundos necessários para realizar os negócios que lhe
forem confiados;
-b) Reembolsar-se, com juros, das despesas em que incorreu para execução das
ordens do comitente (art. 706 do CC) e dos prejuízos que sofrer pelo desempenho de
suas funções;
-c) reter os bens e valores em seu poder em virtude da comissão para (i) reembolso
das despesas feitas, (ii) recebimento das comissões devidas e (iii) ressarcimento das
perdas e danos resultantes de sua dispensa (art. 708 do CC); e
-d) A privilégio geral de suas comissões ou reembolso de despesas, no caso de
falência ou insolvência do comitente (art. 707 do CC).
6.1. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO COMISSÁRIO

• O Comissário assume, por outro lado, algumas obrigações:


-a) Conduzir os negócios em seu próprio nome e no interesse do comitente (art. 693 do CC);
-b) Seguir as orientações do comitente, inclusive eventuais alterações, que se aplicam a todos os
negócios ainda pendentes, exceto se houver ajuste em sentido contrário (art. 693 e 704 do CC);
-c) Na falta de orientação do comitente e não possuindo tempo para solicitá-la, conduzir o
negócio como se se tratasse de negócio próprio, observado os usos comuns do local onde atua;
-d) Agir com cuidado e diligência para evitar qualquer prejuízo ao comitente e para lhe
proporcionar o lucro que razoavelmente se podia esperar do negócio (Art. 696 do CC);
-e) Responsabilizar-se pela guarda e conservação dos bens do comitente que lhe sejam confiados
por ocasião do negócio, sob pena de responder por perdas e danos;
6.1. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO COMISSÁRIO

-f) Avisar ao comitente os danos sofridos pelas mercadorias sob sua guarda;
-g) Promover a cobrança dos valores devidos pelos terceiros com quem contratar;
-h) Responder pelos prejuízos que causar ao comitente por ter desrespeitado suas orientações ou os
usos do lugar onde celebrado o negócio;
-i) Responder pelos prejuízos que causar por ter feito negociação em condições mais desvantajosas
do que aquelas aplicadas ao lugar, no tempo da transação, já que isso viola a expectativa de
recebimento de lucro no negócio (art. 696 do CC); e
- j) Prestar contas ao comitente relativas aos encargos que assumiu, dado que o negócio se
desenvolve no interesse dele.
- Além do comitente, o comissário também assume algumas obrigações perante os terceiros com os
quais contratar, pois, atuando em nome próprio, é ele quem deve responder pelos danos e prejuízos
que decorrem do negócio celebrado, por não haver direito de ação contra o comitente.
6.1.1. DO DIREITO AO CONTRATO CONSIGO MESMO

• Alguns doutrinadores, como Diniz ou Bitar, ainda consideram que o comissário


possui direito a contratar consigo mesmo, adquirindo para si o bem que lhe foi
confiado para venda, hipótese singular em que o contrato será concluído entre
apenas uma pessoa, que, contudo, manifestará duas vontades distintas: a de vender
o bem (como comissário) e de adquiri-lo (como se terceiro fosse).
• Para que seja válida, essa espécie de compra deve observar algumas cautelas,
estabelecidas para que não haja prejuízos ao comitente, (i) existir o consentimento
do comitente quanto à aquisição, exceto se se tratar de negociação de títulos ou
mercadorias na bolsa, quando esse consentimento se considera implícito; (ii) a
mercadoria possuir preço corrente e não sujeito a oscilações; e (iii) o comissário
possuir ordens imperativas do comitente, que impeçam que a venda esteja sujeita
apenas à vontade do comitente.
6.1.2. DA COBRANÇA DO PREÇO DE VENDA

• O comissário é ainda obrigado a promover a cobrança dos valores devidos por aqueles com quem
negociar. Inclusive, o art. 4° da Lei das Duplicatas dispõe que “Nas vendas realizadas por
consignatários ou comissários e faturas em nome e por conta do consignante ou comitente, caberá
àqueles cumprir os dispositivos desta Lei”.
• Diante desse dever, o comissário presume-se autorizado a conceder dilação do prazo para
pagamento, salvo se houver ajuste em sentido diverso ou a dilação contrariar os usos locais.
• O legislador presumiu ainda que as vendas feitas pelo comissário são feitas com pagamento à vista,
de modo que se ele conceder a dilação em debate, estará obrigado a comunicar esse fato ao
comitente, indicando o prazo concedido e a qualificação de seu beneficiário, sob pena de este poder
lhe exigir o pagamento imediato da dívida, assim como de responder pelos danos decorrentes da
dilação concedida (art. 700 do CPC).
• Independentemente da dilação concedida, se o terceiro não pagar o valor devido, cabe ao
comissário promover a cobrança cabível, sob pena de responder pelas perdas e danos decorrentes de
sua omissão ou de negligência culpável no ato de cobrança (artigos 699 e 700 do Código Civil).
6.2. DOS DIREITOS E DEVERES DO COMITENTE

• O comitente tem assegurado o direito a:


-a) Não responder, perante terceiros, pelas obrigações assumidas pelo comissário (Art. 693 do CC);
-b) Impor orientações ao comissário e modificá-las a qualquer tempo, com efeitos imediatos para
os negócios pendentes (art. 704 do CC), inclusive no que diz respeito ao comissionamento, exceto
se houver prévio ajuste em sentido contrário;
-c) Receber juros pela mora na entrega dos fundos que lhe pertencerem (art. 706 do CC);
-d) Exigir do comissário as perdas e danos resultantes de sua dispensa motivada (Art. 703 do CC), e
daquelas que resultarem do descumprimento das obrigações impostas ao comissário, como a de
informar o perecimento de bens ou descumprimento de suas orientações;
-e) Em caso de sub-rogação, acionar diretamente terceiros para a satisfação de direitos de
titularidade do comissário-cedente.
6.2. DOS DIREITOS E DEVERES DO COMITENTE

• O comitente está obrigado a:


-a) Pagar ao comissário a comissão ajustada, total ou parcialmente (arts. 701, 703 e 705 do CC);

-b) Disponibilizar ao comissário os fundos necessários para que cumpra com o encargo que lhe
for confiado;
-c) Reembolsar, com juros, as despesas adiantadas pelo comissário (aArt. 706 do Código Civil); e

-d) Pagar ao comissário as perdas e danos decorrentes de sua dispensa imotivada, ai incluídos os
lucros cessantes (art. 705 do CC).
- As obrigações do comitente estão são assumidas apenas perante o comissário, pois, como já
visto, os terceiros, a princípio, não dispõem de direito de ação em face do comitente.
8. RESPONSABILIDADE CIVIL

• Dado o caráter contratual e mercantil da relação que se desenvolve entre comitente e


comissário, a responsabilidade civil das partes é subjetiva, dependendo, portanto, da
demonstração de culpa da parte (art. 389 do CC).
• No que diz respeito ao comissário, o CC foi expresso em determinar que a caracterização de sua
responsabilidade depende de ação ou omissão, especialmente no que diz respeito às orientações
do comitente (art. 696 do CC).
• O desrespeito às orientações do comitente pode ser justificado, se os atos do comissário lhe
proporcionarem vantagem ou, ainda, não podendo haver demora no negócio, o comissário agiu
de acordo com os usos locais (art. 695, §ú, do CC). Também não haverá dever de indenizar se
constar-se que não houve má-fé do comissário (intenção deliberada de desrespeitar suas
orientações).
• Não haverá responsabilidade civil na hipótese de caso fortuito ou força maior, mas se o dano
recair sobre bens sob a guarda do comissário, só não haverá falar em responsabilidade caso
comprove que agiu com toda a diligência necessária para resguardar o bem.
8. RESPONSABILIDADE CIVIL

• Como as principais obrigações do comitente são financeiras, se não pagos os valores devidos
dentro do prazo pactuado, estará caracterizado seu inadimplemento, que o sujeitará às
consequências do artigo 395 do Código Civil, além de eventual multa contratual, acaso ajustada
previamente entre as partes.
• É possível debater-se apenas e existência de responsabilidade hipótese de dispensa imotivada
do comissário (artigo 705 do Código Civil), que assegura-lhe o direito ao recebimento das perdas e
danos cabíveis, independentemente de se tratar de contrato por prazo determinado ou
indeterminado.
• A jurisprudência, contudo, costuma aplicar referido dispositivo de forma conjugada com o art.
473 do CC, isentando o comitente do pagamento de perdas e danos na hipótese de evidenciado
que ele concedeu aviso prévio adequado para se o organizar para o término da relação contratual
(vide TJ-RS - AC: 70059963074 RS, Relator: Paulo Sérgio Scarparo, Data de Julgamento:
31/07/2014, Décima Sexta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 05/08/2014).
5. BIBLIOGRAFIA

. •ARRUDA, Alvim. Manual de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo : Processo de Conhecimento:
Recursos: Precedentes. 19ª Ed. Ver. Atual. e Ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil. 2020. P. 1090.

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