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A

DEONTOLOGIA

carla.beselga@bqadvogadas.com
OBJECTIVOS
A DEONTOLOGIA

D -4) A base contratual do exercício da Advocacia


i) Contrato de mandato forense
ii) Contratos de prestação de serviços
iii) Regime legal dos contratos de trabalho a celebrar por Advogados
iV) O princípio da independência e a correlação com o regime de trabalho
subordinado

D-5) A prática em liberdade pelos Advogados dos actos próprios da profissão


i) CRP
ii) LOSJ
iii) EOA
iv) LAPA
D-6) O Princípio da escolha livre do Advogado - com apresentação

D-7 ) Exercício da Advocacia em Portugal por estrangeiros: - com


apresentação
i) Dtº de Estabelecimento
ii) Registo
iii) Livre prestação de serviços
A BASE CONTRATUAL DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

Formas de exercício da Advocacia


1 - Individual:
a) Por conta própria
b) Subordinação Jurídica

2- Em Associação
a) Forma irregular
b) Sociedade de Advogados
A BASE CONTRATUAL DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

Qual a diferença entre Mandato forense e Mandato civil?


A BASE CONTRATUAL DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

O Mandato Forense

Art. 2 Lei 49/2004 - LAPA


Considera-se mandato forense o mandato judicial conferido para ser exercido em
qualquer tribunal, incluindo os tribunais ou comissões arbitrais e os julgados de paz.
A BASE CONTRATUAL DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

VS

Mandato Civil

art.º 1157 CC
Mandato é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou mais actos
jurídicos por conta da outra.
A BASE CONTRATUAL DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

Mandato Forense

Ver Acórdão
STJ 09/12/2014 - Processo 1378/11.6TVLSB.L1.S1
A BASE CONTRATUAL DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

Acórdão :
1. O contrato de mandato tem como escopo único a prática de actos jurídicos, que não
de actos materiais ou, até, intelectuais, por conta de outrem, embora, em regra, se
destine à prática de negócios jurídicos.
2. Se o mandatário está a agir em seu nome ocorre mandato sem representação (artigo
1180 do Código Civil) que tem como consequência precípua que os actos praticados
produzam efeitos na sua esfera jurídica.
3. Então, o mandatário adquire legitimidade activa e passiva, em termos de
cumprimento do negócio jurídico que celebrou (negócio alheio ainda que com ocultação
do mandante).
A BASE CONTRATUAL DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

4. O mandato judicial (ou forense) é um contrato de mandato atípico sujeito às regras


dos artigos 1157.º do Código Civil e 93 e segs. do Estatuto da Ordem dos Advogados, para
cumprimento do patrocínio judiciário que é de interesse e ordem públicos, sendo como
regra um mandato com representação.
5. No exercício/cumprimento desse mandato o advogado deve colocar todo o saber,
perícia e empenho na defesa dos interesses do seu cliente/mandante, respeitando,
outrossim, as regras impostas para o exercício da profissão mas dispondo de uma
ampla margem de liberdade técnica.
6. O mandato forense integra uma obrigação de diligência (ou de meios) já que o
advogado apenas se obriga a desenvolver uma actividade destinada a lograr a melhor
solução jurídico-legal, pondo ao serviço do mandante todo o seu zelo, saber e
conhecimentos técnicos, mas não se vinculando ao desfecho da contenda que lhe é
posta.
A BASE CONTRATUAL DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

7. Ao mandatário forense não é apenas exigível a diligência do homem médio (n.º 2 do


artigo 487 do Código Civil) já que lhe é imposto muito maior rigor na investigação,
actualização e aplicação dos conhecimentos da sua arte.

(...)
As principais diferenças entre o mandato judicial e o geral são ditadas pelo interesse
público e independência da profissão de advogado e pelo livre exercício do patrocínio.

O Mandato judicial é então o contrato pelo qual o Advogado, mandatário, se obriga a


representar a parte, mandante, em litígio. É portanto o meio pelo qual se constitui
advogado e deve assumir a forma, segundo o Artigo 43º do CPC:

- de instrumento público
- ou documento particular
- ou de declaração verbal da parte no auto de qualquer diligência que se pratique no
processo.
Pode haver substabelecimento do mandato?
A sua eficácia depende da aceitação – expressa ou tácita – do mandatário.

O mandato confere ao mandatário poderes para representar o mandante em todos


os actos e termos do processo judicial (Art.º 44º CPC).

Entre estes está o poder de substabelecer o mandato.

O substabelecimento pode ser feito com ou sem reservas.


O substabelecimento pode ser feito com ou sem reservas

Qual a diferença?
O substabelecimento com reserva: o mandatário a quem se substabelece só tem
poderes para a diligência onde é apresentado o substabelecimento, o Mandatário que
substabeleceu mantém-se como parte do processo.

O substabelecimento sem reservas: implica a exclusão do mandatário anterior,


passando a parte a ser representada pelo novo mandatário - art.º 44/2 CPC.
Parecer 35/PP/2008-P, do CRP, de 29/08/2008
I – Os substabelecimentos, com ou sem reserva, não produzem efeitos enquanto não
forem aceites, aceitação que pode ser manifestada no próprio instrumento de
substabelecimento, ou em documento particular, ou resultar de comportamento
concludente do mandatário.
II – Não tendo os substabelecimentos sido aceites pela Colega consulente, só a
Colega substabelecente poderia renunciar aos mandatos conferidos pelo cliente nas
procurações juntas aos diversos processos.
III – Não se tendo estabelecido uma relação de confiança entre a Colega consulente e
o cliente, não devem ser aceites os substabelecimentos outorgados a favor daquela,
pela Colega substabelecente.
IV – Estando a Colega substabelecente informada da intenção de não aceitação dos
substabelecimentos, por parte da Colega consulente, não deveria ter junto a
processos judiciais cópias dos substabelecimentos outorgados, por tal implicar
violação do dever de solidariedade entre advogados.
V - Face ao relatado, é de remeter todo o expediente ao Conselho de Deontologia do
Porto da Ordem dos Advogados, ao abrigo do disposto no artigo 54º.-b) do EOA.
Parecer 30/PP/2010-P

Pergunta:

No caso de o advogado que substabeleceu os seus poderes com reserva a outro


colega falecer, estando processos judiciais em curso, como deve actuar o advogado
substabelecido?
O Mandato Forense tem como objecto a prática de actos jurídicos.

Este Mandato é em regra um mandato com representação conferido através de


documento particular - Procuração Forense
Procuração Forense

Poderes especiais e poderes gerais

Diferenças?
Procuração Forense

Poderes gerais : poderes para representar a parte em todos os actos - art.º 44/1 e
45/1 CPC

Poderes especiais: confere poderes de confessar, transigir ou desistir tanto do


pedido como da instância - art.º 45/2 CPC
CPC

Art.º 44
Conteúdo e alcance do mandato
1 - O mandato atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os
atos e termos do processo principal e respetivos incidentes, mesmo perante os
tribunais superiores, sem prejuízo das disposições que exijam a outorga de poderes
especiais por parte do mandante.
2 - Nos poderes que a lei presume conferidos ao mandatário está incluído o de
substabelecer o mandato.
3 - O substabelecimento sem reserva implica a exclusão do anterior mandatário.
4 - A eficácia do mandato depende de aceitação, que pode ser manifestada no
próprio instrumento público ou em documento particular, ou resultar de
comportamento concludente do mandatário.
Art.º 45 CPC
Poderes gerais e especiais dos mandatários judiciais
1 - Quando a parte declare na procuração que concede poderes forenses ou para ser
representada em qualquer ação, o mandato tem a extensão definida no artigo
anterior.
2 - Os mandatários judiciais só podem confessar a ação, transigir sobre o seu objeto
e desistir do pedido ou da instância quando estejam munidos de procuração que os
autorize expressamente a praticar qualquer desses atos.
Art 46 CPC
Confissão de factos feita pelo mandatário
As afirmações e confissões expressas de factos, feitas pelo mandatário nos
articulados, vinculam a parte, salvo se forem retificadas ou retiradas enquanto a
parte contrária as não tiver aceitado especificadamente.
No processo penal :

- o defensor oficioso exerce direitos que a lei reconhece ao arguido - art.º 3 CPP

- O assistente é sempre representado por advogado - art.º 70/1 CPP

- O lesado pode fazer-se representar - tem a ver como valor do pedido - art.º 76/1 CPP

- Os demandados e os intervenientes devem fazer-se representar por advogado -


art.º 76/2 CPP
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS

Ver
Art.º 73 EOA

Artº 81 e Art.º 82 EOA


e

Art.º 1154 CC

Contrato de prestação de serviço é aquele em que uma das partes se obriga a


proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual, com ou sem
retribuição.
REGIME DO TRABALHO SUBORDINADO
Artigo 73.º EOA
Exercício da actividade em regime de subordinação

1 - Cabe exclusivamente à Ordem dos Advogados a apreciação da conformidade com os


princípios deontológicos das cláusulas de contrato celebrado com advogado, por via do
qual o seu exercício profissional se encontre sujeito a subordinação jurídica.
2 - São nulas as cláusulas de contrato celebrado com advogado que violem aqueles
princípios.
3 - São igualmente nulas quaisquer orientações ou instruções da entidade empregadora
que restrinjam a isenção e independência do advogado ou que, de algum modo, violem
os princípios deontológicos da profissão.
REGIME DO TRABALHO SUBORDINADO
Artigo 73.º EOA
Exercício da actividade em regime de subordinação

4-O conselho geral da Ordem dos Advogados pode solicitar às entidades públicas
empregadoras, que hajam intervindo em tais contratos, entrega de cópia dos mesmos a
fim de aferir da legalidade do respetivo clausulado, atentos os critérios enunciados nos
números anteriores.
5 - Quando a entidade empregadora seja pessoa de direito privado, qualquer dos
contraentes pode solicitar ao conselho geral parecer sobre a validade das cláusulas ou
de atos praticados na execução do contrato, o qual tem carácter vinculativo.
6 - Em caso de litígio, o parecer referido no número anterior é obrigatório.
O PRINCIPIO DA INDEPENDÊNCIA E A SUBORDINAÇÃO
JURIDICA

O que é um regime de Subordinação?

E como é que exercemos a nossa actividade com independência estando perante uma
subordinação jurídica?
O PRINCIPIO DA INDEPENDÊNCIA E A SUBORDINAÇÃO
JURÍDICA
Art.º 28
Regime jurídico de criação, organização e funcionamento das associações públicas
profissionais - Lei n.º 2/2013, de 10 de Janeiro
Princípios e regras deontológicos e normas técnicas
1- (...)
2 - Sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 33.º, não pode ser proibido o exercício da
atividade profissional em regime de subordinação jurídica, nem exigido que o
empregador seja profissional qualificado ou sociedade de profissionais, desde que
sejam observados os princípios e regras deontológicos e o respeito pela autonomia
técnica e científica e pelas garantias conferidas aos profissionais pelos respetivos
estatutos, e cumprido o disposto no n.º 2 do artigo 30.º
O PRINCIPIO DA INDEPENDÊNCIA E A SUBORDINAÇÃO
JURÍDICA
Art.º 30
Regime jurídico de criação, organização e funcionamento das associações públicas
profissionais - Lei n.º 2/2013, de 10 de Janeiro
Reserva de actividade
1- (...)
2 - Os serviços profissionais que envolvam a prática de atos próprios de cada profissão
e se destinem a terceiros, ainda que prestados em regime de subordinação jurídica,
são exclusivamente assegurados por profissionais legalmente habilitados para
praticar aqueles actos.
O PRINCIPIO DA INDEPENDÊNCIA E A SUBORDINAÇÃO
JURÍDICA

O desenvolvimento da actividade de advogado, atendendo a ser uma profissão liberal e


independente - realiza-se pela prestação de serviços, sendo admitida que esta seja
prestada no regime de subordinação jurídica = Contrato de Trabalho
REGIME DO CONTRATO DE TRABALHO

Art.º 11 CT - Noção de contrato de trabalho

Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante
retribuição, a prestar a sua actividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de
organização e sob a autoridade destas.
REGIME DO CONTRATO DE TRABALHO
Artigo 116 CT
Autonomia técnica
A sujeição à autoridade e direcção do empregador não prejudica a autonomia técnica do
trabalhador inerente à actividade prestada, nos termos das regras legais ou
deontológicas aplicáveis.

E art.º 127 /1/e) CT


O empregador deve :
e) Respeitar a autonomia técnica do trabalhador que exerça actividade cuja
regulamentação ou deontologia profissional a exija;
O PRINCIPIO DA INDEPENDÊNCIA E A SUBORDINAÇÃO
JURIDICA
O sistema português é de tipo misto relativamente ao nível das incompatibilidades e
impedimentos

ou seja,

Há um elenco de profissões cujo exercício é incompatível com a Advocacia, podendo a


Ordem definir, em face da situação concreta, se a actividade é incompatível ou não
como exercício da advocacia.
O PRINCIPIO DA INDEPENDÊNCIA E A SUBORDINAÇÃO
JURIDICA
O sistema português impõe ao advogado o dever de manter a sua independência e agir
livre de pressão.

"A profissão tem de ser exercida por "homens livres" e de "bons costumes", sem relação
de dependência com nenhum interesse ou subserviência a qualquer pessoa ou
instituição."

Manuel Ramirez Fernandes


O PRINCIPIO DA INDEPENDÊNCIA E A SUBORDINAÇÃO
JURIDICA

Art.º 81 EOA
Correlacionado com 2 princípios fundamentais:
- Dignidade - Art.º 88
- Independência - Art.º 89

Portanto:

Mesmo quando o Advogado presta serviços em regime de subordinação juridica


a autonomia técnica não se perde.
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS

Parecer n.º 01/PP/2011-G

Caso: Uma advogada que, alegadamente, acumula o exercício da advocacia com a


função de jurista de assessora no gabinete da Vereadora.

Segundo a comunicação recebida, a prestação destes serviços por parte da Sra. Dra.
violaria o contrato de exclusividade com a Câmara Municipal e o artigo 82º do EOA.
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS
Dos Factos:
1. A Sra. Dra. … iniciou o exercício de funções na Câmara Municipal de … em 03/09/2001,
mediante a celebração de um contrato a termo certo, o qual se renovou ao longo de dois
anos, conforme documento que juntou sob o nº1;
2. Por despacho da Senhora Vereadora … de 29/07/2003 (anexo como documento nº2)
foi autorizada a abertura de procedimento de serviços por consulta prévia para a
celebração de um contrato de avença tendo a prestação de serviços lhe sido adjudicada
em 19/03/2003 (segundo documento nº3 também anexado) e em 01/09/2003 foi
assinado o respectivo contrato de prestação de serviços o qual tinha como objecto a
assessoria e consultoria no Departamento de … (confrontar documento junto como
nº4);
3.Tal contrato de prestação de serviços foi renovado por períodos de 12 meses ao longo
dos anos de 2003 e 2008, tendo, no entanto, sofridos algumas alterações (documentos
nº5 e nº6);
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS
Dos Factos
4.Em 2008 foi construído um Tribunal Arbitral com o objectivo de adequação dos
vínculos do pessoal do Município de … em regime de direito privado tendo, por decisão
de 07/10/2008 sido determinada a integração da Sra. Dra. … no quadro de Pessoal de
Direito Privado do Município de … na sequência do qual celebrou um contrato individual
de trabalho por tempo indeterminado, conforme documento nº7 apensado;
5. A Sra. Dra. … alega, na sua resposta, que nunca lhe foi exigido o exercício das suas
funções em regime de exclusividade;
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS

"O artigo 82º, n.º 1 do EOA contém uma presunção de incompatibilidade. Nessa medida,
aqueles que prestem a sua actividade profissional numa das entidades aí elencadas (ou
em outras que se encontrem em situação análoga), encontram-se numa situação de
incompatibilidade, não podendo exercer a advocacia. No entanto, os números 2, 3 e 4 do
citado normativo contêm excepções a essa regra. Existindo, como existe, uma presunção
de incompatibilidade, a prova de que o caso concreto se inclui numa das excepções
previstas cabe àquele que a alega."
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS

A Sra. Dra. Advogada olvida-se, no entanto, que tal direito, o de prestar mera consultoria
jurídica, cessou com a celebração de um novo contrato, em 2008, contrato esse que
alterou as condições em que a mesma presta o seu serviço ao Município de …. Assim, e
como já foi supra mencionado, não é relevante, para o caso concreto, que a entidade a
quem tem prestado serviços ao longo destes anos, tenha sido sempre a mesma,
porquanto o vínculo que a liga a essa mesma entidade, modificou-se em 2008, e, como
tal, não configura um direito adquirido ao abrigo da legislação anterior.
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS

Ora, da análise do referido contrato sabe-se que tal função é desempenhada em regime
de subordinação mas quedam-se dúvidas relativamente à exclusividade da Advogada ao
serviço do Município. Além disso, a Sra. Dra. Advogada, no ofício por si subscrito, não
explica a que título foi realizado o convite a si endereçado pela Senhora Vereadora …, e
quais são as funções que desempenha no seu gabinete. Note-se, aliás, que a alínea g)
do referido artigo 82º, é taxativo quanto à incompatibilidade do cargo de assessor(a)
com o exercício da advocacia. Daí que seja decisivo, para a solução do caso vertente,
que a Sra. Dra. Advogada elucide este Conselho Geral relativamente à natureza das
funções por si exercidas no gabinete da Sra. Vereadora ….
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS

Atento a todo o exposto, cumpre decidir. Verificada que está a situação de


incompatibilidade da Sra. Dra. …, notifique-se a mesma no sentido de:

1. Alterar o contrato de trabalho celebrado com o Município de …, de forma a que o a


do mesmo resulte, comprovadamente, que o exercício da advocacia por si prestado ao
serviço do mesmo Município, seja desempenhado em regime de subordinação e
em exclusividade, sob pena de ver a sua inscrição como advogada suspensa;
2. Informar a que título colabora com o Gabinete da Sra. Vereadora ….
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS
Parecer nº 05/PP/2011-C
Senhora Advogada Drª. …, com escritório em …, solicitou a emissão de parecer
afirmando que foi contactada por uma Junta de Freguesia para “constituir uma avença
no sentido de os auxiliar com as diversas situações relevantes juridicamente com que
se deparam” esclarecendo, quando ao respectivo conteúdo, que uma das funções seria
a do “aconselhamento jurídico” e que, segundo foi informada pelo Senhor Presidente da
Junta de Freguesia em causa, que não identifica, “muitas são as pessoas que ali se
deslocam com algumas questões, essencialmente do foro real”, pretendendo aquele
que seja a Senhora Advogada requerente a responder a essas questões, esclarecendo
ainda, naquela sua carta, que não iria patrocinar essas pessoas mas que responderá “às
duvidas que aí forem colocadas” e reencaminhará “para os serviços competentes”.
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS
Parecer nº 05/PP/2011-C
Conclusões:
A) Só os escritórios ou gabinetes compostos exclusivamente por advogados, por
solicitadores, ou por advogados e solicitadores, as sociedades de advogados e as
sociedades de solicitadores, bem como os gabinetes de consulta jurídica organizados
pela Ordem dos Advogados e pela Câmara dos Solicitadores, podem praticar actos
próprios dos advogados e dos solicitadores;
B) A prestação de consulta jurídica, nos moldes propostos à Exmª Srª Advogada
requerente, numa Junta de Freguesia, constituiria uma forma de prática ilícita de actos
próprios de advogado.
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS
Parecer n.º E-5/01
O Dr., advogado com escritório em Ponta Delgada, por requerimento dirigido ao
Conselho Distrital dos Açores da Ordem dos Advogados, solicitou informação sobre o
entendimento seguido relativamente às seguintes questões:

- “É aceitável perante o novo regime jurídico de autenticação de documentos que o


advogado possa autenticar documentos ou praticar actos similares no âmbito de um
contrato de avença, com uma empresa de contabilidade e aos clientes desta, que não
constituintes directos?

- De acordo com a interpretação do conselho Distrital é admissível a realização de um


programa radiofónico, com a duração de 3/7 minutos, cujo objecto é apenas a
informação sobre diversos institutos jurídicos. Tal programa seria intitulado por ex.:
«.... consultório .... da responsabilidade de Dr. advogado ....» ?”
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS
Parecer n.º E-5/01
III – Conclusões:
1 – O advogado, ao fazer a certificação de fotocópias, mantém essa sua qualidade de
Advogado e, consequentemente, continua obrigado ao cumprimento dos seus deveres
deontológicos.
2 – Assim, os advogados só podem, ou pelo menos, só devem certificar fotocópias a
clientes, integrando o respectivo preço – se entenderem cobrar esse serviço – no valor
dos honorários a apresentar.
3 – Os designados “Consultórios Jurídicos”, subscritos ou da responsabilidade de
advogados, desde que analisando problemas de âmbito geral, ou transmitindo meras
orientações, relativamente a institutos jurídicos, são úteis à sociedade, indo ao
encontro do direito dos cidadãos à informação, constitucionalmente consagrado no art.
20º da C.R.P., e cabendo na função social do advogado.
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E AVENÇAS
Parecer n.º E-5/01
Cont.:
4 – Para evitar eventuais colisões entre esse direito à informação e o dever do advogado
não discutir em público – entendido em sentido lato – questões profissionais, terão de
colocar-se limites ao modo como o advogado transmitirá essas informações jurídicas.
5 – No que respeita especificamente às secções denominadas “Consultórios”,
publicados em revistas, e em resposta às questões concretas colocadas pelos leitores,
o advogado deverá tratá-las de uma forma geral, não apreciando o caso em si, mas
apenas e unicamente a questão de fundo – o instituto jurídico em causa.
6 – Isto porque, o artigo 86º, nº1, al. b) do EOA obriga o advogado subscritor dessas
secções a ter particular cuidado, quanto à natureza das perguntas formuladas,
nomeadamente se aludem a processos pendentes, com advogados constituídos, caso
em que, naturalmente, o advogado não deverá pronunciar-se.
REGIME DO TRABALHO SUBORDINADO
Consulta nº 31/2013 - CRLisboa
Qual o sentido do conceito de “subordinação jurídica” previsto no artº 73º do Estatuto da
Ordem dos Advogados?
Pode a Ordem dos Advogados pronunciar-se sobre contratos de trabalho e sobre
contratos de prestação de serviços ou apenas sobre os primeiros?
Atendendo aos deveres de ordem deontológica a que se encontra vinculado, pode ser
imposto a um Advogado em regime de contrato de prestação de serviços (real) integrar
o Departamento Jurídico de uma empresa/associação, ou não faz a mesma qualquer
sentido, atento o vínculo contratual em questão devendo a situação ser recusada por
implicar uma interferência no que é a situação de independência própria de um
profissional em regime de exercício liberal da profissão?
REGIME DO TRABALHO SUBORDINADO
Consulta nº 31/2013 - CRLisboa
Pode um Departamento Jurídico de uma empresa/associação se chefiado por um
profissional não jurista/advogado (profissional na área da saúde), que dá instruções
acerca do exercício profissional dos advogados que colaboram na instituição com
interferência no que se pode considerar a independência, seja em regime de contrato
de trabalho seja em regime de prestação de serviços?
Em caso negativo existem órgãos da Ordem dos Advogados que intervenham neste tipo
de situações?
Um Advogado que, em detrimento do interesse dos colegas e da profissão que estes
exercem, propõe ao cliente modelos de contrato de trabalho e prestação de serviços a
impor àqueles que colidem com o interesse da profissão no sentido da independência e
isenção bem como nos seus direitos laborais, nomeadamente no que respeita a
honorários indignos e objectivos como sejam a conclusão de processos disciplinares
em determinado prazo quando este não depende unicamente dos advogados que dão
assessoria aos mesmos, pode ser alvo de processo disciplinar?
REGIME DO TRABALHO SUBORDINADO
Mas o que deve entender-se por subordinação jurídica?
Se é verdade que o ponto de partida da interpretação é a norma, não é menos verdade
que a interpretação exige que o sentido da norma seja compreendido como parte
integrante de um todo, em conexão com as demais normas jurídicas do ordenamento
que com ela se articulam logicamente.
O que significa que para interpretar o conceito “subordinação jurídica” contido no artigo
68º do EOA, devemos socorrer-nos do direito laboral vigente. De facto, é neste ramo do
direito que, invariavelmente, a subordinação jurídica se afirma como elemento típico e
definidor do contrato de trabalho.
Diz-nos o artigo 11º do Código do Trabalho (aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de
Fevereiro)[1], que “ Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa singular se
obriga, mediante retribuição, a prestar a sua actividade a outra ou outras pessoas, no
âmbito de organização e sob a autoridade destas.” A subordinação jurídica é inerente ao
próprio contrato de trabalho e resulta directamente da lei, como decorre da
expressão “no âmbito de organização e sob a autoridade destas.
REGIME DO TRABALHO SUBORDINADO

Conclusão
A)O conceito de “subordinação jurídica” a que alude o artigo 68º do EOA deve ser
entendido e interpretado à luz do que tradicionalmente se tem entendido como sendo
um dos elementos típicos e definidores do contrato de trabalho.
B)Ao Advogado está vedada a celebração de qualquer contrato que o vincule a entidade
pública ou privada, cujo teor contenda com os princípios deontológicos decorrentes da
profissão e, em particular, com os princípios da independência técnica e isenção.
C)Está expressamente cominada a nulidade das cláusulas contratuais violadoras desses
mesmos princípios deontológicos.
D)São igualmente nulas quaisquer orientações ou instruções da entidade empregadora
que restrinjam a isenção e independência do advogado ou que, de algum modo, violem
os princípios deontológicos da profissão.
(...)
REGIME DO TRABALHO SUBORDINADO
1) Quanto à última questão colocada, apenas caberá, nesta sede, referir, em termos
gerais e abstractos, que, nos termos do disposto no artigo 115º do EOA, comete
infracção disciplinar o Advogado que por acção ou omissão, violar dolosa ou
culposamente algum dos deveres consagrados no EOA, nos respectivos regulamentos e
nas demais disposições legais aplicáveis. A responsabilidade disciplinar do Advogado é
aferida em sede própria pelo órgão estatutariamente competente – os Conselhos de
Deontologia ou as secções do Conselho Superior, nos termos, respectivamente, do
disposto nos artigos 54º alínea a) e 43º n.º 3 alínea d), ambos do EOA.
2) Quanto à primeira parte da terceira questão colocada, diremos que também não nos
compete emitir pronúncia sobre as concretas opções da empresa/associação em causa
no que à escolha do seu Director Jurídico diz respeito. Apenas, sublinhando, e mais uma
vez em termos puramente abstractos, que esta matéria apenas será para nós relevante
se e na medida em que possa consubstanciar a prática de algum acto de procuradoria
ilícita. O que, os elementos colocados à nossa disposição não permitem, só por si,
concluir.
REGIME DO TRABALHO SUBORDINADO

IAE Instituto dos Advogados de Empresa presta colaboração sobre matérias


específicas dos advogados de empresa ou que exerçam actividade em regime de
vínculo permanente, promovendo iniciativas para este objectivo.

Regulamento do Instituto dos Advogados de Empresa

https://portal.oa.pt/ordem/comissoes-e-institutos/trienios-anteriores/instituto-dos-
advogados-de-empresa/trienio-2014-2016/regulamento-do-instituto-dos-advogados-
de-empresa/
A PRÁTICA EM LIBERDADE PELOS ADVOGADOS DOS
ACTOS PRÓPRIOS A PROFISSÃO
A PRÁTICA EM LIBERDADE PELOS ADVOGADOS DOS
ACTOS PRÓPRIOS A PROFISSÃO

1) Garantias Constitucionais - Art.º 208 CRP


2) Na LOSJ (Lei da Organização do Sistema Judiciário) - Art.º 12 e 13
3) Lei das Associações Publicas Profissionais - LAPP - Art.º 2
4) EOA
5) Lei dos Actos Próprios da Profissão
A PRÁTICA EM LIBERDADE PELOS ADVOGADOS DOS
ACTOS PRÓPRIOS A PROFISSÃO

Art.º 20 da CRP (já referido na aula anterior)

Art.º 208 CRP


Patrocínio forense
A lei assegura aos advogados as imunidades necessárias ao exercício do mandato e
regula o patrocínio forense como elemento essencial à administração da justiça.
A PRÁTICA EM LIBERDADE PELOS ADVOGADOS DOS
ACTOS PRÓPRIOS A PROFISSÃO
LOSJ
Art.º 12
Advogados
1- O patrocínio forense por advogado constitui um elemento essencial na administração
da justiça e é admissível em qualquer processo, não podendo ser impedido perante
qualquer jurisdição, autoridade ou entidade pública ou privada.
2- Para defesa de direitos, interesses ou garantias individuais que lhes sejam confiados,
os advogados podem requerer a intervenção dos órgãos jurisdicionais competentes,
cabendo-lhes, sem prejuízo do disposto nas leis do processo, praticar os atos próprios
previstos na lei, nomeadamente exercer o mandato forense e a consulta jurídica.
A PRÁTICA EM LIBERDADE PELOS ADVOGADOS DOS
ACTOS PRÓPRIOS A PROFISSÃO
LOSJ
Art.º 12
Advogados

3 - No exercício da sua atividade, os advogados devem agir com total independência e


autonomia técnica e de forma isenta e responsável, encontrando-se apenas vinculados
a critérios de legalidade e às regras deontológicas próprias da profissão.
A PRÁTICA EM LIBERDADE PELOS ADVOGADOS DOS
ACTOS PRÓPRIOS A PROFISSÃO
LOSJ
Art.º 13
Imunidade do mandato conferido a advogados
1 - A lei assegura aos advogados as imunidades necessárias ao exercício dos atos
próprios de forma isenta, independente e responsável, regulando-os como elemento
indispensável à administração da justiça.
2 - Para garantir o exercício livre e independente de mandato que lhes seja confiado, a
lei assegura aos advogados as imunidades necessárias a um desempenho eficaz,
designadamente:
a) O direito à proteção do segredo profissional;
b) O direito ao livre exercício do patrocínio e ao não sancionamento pela prática de atos
conformes ao estatuto da profissão;
A PRÁTICA EM LIBERDADE PELOS ADVOGADOS DOS
ACTOS PRÓPRIOS A PROFISSÃO
LOSJ
Art.º 13
Imunidade do mandato conferido a advogados
c) O direito à especial proteção das comunicações com o cliente e à preservação do
sigilo da documentação relativa ao exercício da defesa;
d) O direito a regimes específicos de imposição de selos, arrolamentos e buscas em
escritórios de advogados, bem como de apreensão de documentos.
A PRÁTICA EM LIBERDADE PELOS ADVOGADOS DOS
ACTOS PRÓPRIOS A PROFISSÃO

EOA
Art.º 3/c), d), e),g)

Art.º 66

Art.º 69

Art.º 72
A PRÁTICA EM LIBERDADE PELOS ADVOGADOS DOS
ACTOS PRÓPRIOS A PROFISSÃO
Parecer do CG nº E-11/98 e nº E-45/98, 07/07/2000
1. Não existe qualquer disposição na lei processual penal que condicione a directa
aplicação do direito de todo o cidadão a fazer-se acompanhar por advogado perante
qualquer autoridade, consagrado na parte final do n.º 2 do art. 20º da CRP.
2. Admite-se que a lei possa estabelecer limitações para salvaguarda de outros direitos
ou interesses constitucionalmente protegidos, nomeadamente no domínio das
incompatibilidades do advogado, mas na ausência de lei que regulamente o exercício
daquele direito, deve considerar-se que a parte final do n.º 2 do art. 20º da CRP é de
aplicação directa, enquanto não implica qualquer prestação positiva por parte do Estado,
nomeadamente o direito de assistência judiciária, mas tão-só a sua abstenção.
3. Torna-se necessária a regulamentação do n.º 2 do art. 20º da CRP para assegurar a
tutela material do direito do cidadão a fazer-se acompanhar por advogado perante
qualquer autoridade.
O PRINCÍPIO DA ESCOLHA LIVRE DO ADVOGADO PELO
CLIENTE

Apresentação
O PRINCÍPIO DA ESCOLHA LIVRE DO ADVOGADO PELO
CLIENTE

Art.º 67/2 EOA


"O mandato forense não pode ser objeto, por qualquer forma, de medida ou acordo que
impeça ou limite a escolha pessoal e livre do mandatário pelo mandante."
O PRINCÍPIO DA ESCOLHA LIVRE DO ADVOGADO PELO
CLIENTE

Art.º 98/1 EOA - livre escolha pelo cliente

1-O advogado não pode aceitar o patrocínio ou a prestação de quaisquer serviços


profissionais se para tal não tiver sido livremente mandatado pelo cliente, ou por outro
advogado, em representação do cliente, ou se não tiver sido nomeado para o efeito, por
entidade legalmente competente.
O PRINCÍPIO DA ESCOLHA LIVRE DO ADVOGADO PELO
CLIENTE

A escolha deve decorrer de forma natural e voluntária

mantendo o advogados a sua liberdade e autonomia técnica relativamente à forma


como desenvolve a sua actividade
O PRINCÍPIO DA ESCOLHA LIVRE DO ADVOGADO PELO
CLIENTE
A proibição da angariação de Clientela

Art 90/2/h) EOA

Parecer Nº. 24/PP/2011-G


C) O PRINCÍPIO DA ESCOLHA LIVRE DO ADVOGADO PELO
CLIENTE

Parecer Nº. 24/PP/2011-G


A questão discutida suscita ainda análise ao nível do cumprimento do conjunto mais
amplo de obrigações próprias da profissão de Advogado que vêm definidas no Estatuto
da O.A estando a falar-se da proibição de angariação de clientela e das restrições ao
nível da publicidade que é permitida ao Advogado fazer. Não deve ser perdido de vista
que a actividade pretendida situa-se na área comercial da intermediação na importação
e exportação de bens sendo por isso base da actividade o estabelecimento de
contactos entre entidades sediadas no estrangeiro e no país. Esta circunstância exige
ponderação especial sobre se daí resulta necessariamente angariação de clientela
proibida nos termos da alínea h) do nº2 do artigo 85º. (actual 90/2/h))
O PRINCÍPIO DA ESCOLHA LIVRE DO ADVOGADO PELO
CLIENTE
E como se refere no Parecer 14-A- 2002 “apenas se mostra lícita a captação de clientela
decorrente da projecção do nome saber honestidade dos processos usados tudo
adquirido honradamente através do exercício da profissão.” Quer-se deixar claro que
como comummente reconhecido, o que está em causa não é que eventuais clientes da
Sr.ª. Advogada sejam também clientes da sua empresa mas sim o uso da empresa como
forma de angariar clientes para si enquanto Advogada. Todavia, tudo ponderado não se
vê que existam razões objectivas para considerar que do exercício desta actividade em
abstracto resultará violação da proibição de angariar clientela.
O PRINCÍPIO DA ESCOLHA LIVRE DO ADVOGADO PELO
CLIENTE
PARECER 07/PP/2017-C
Com interesse para a presente discussão importa ter em consideração o disposto no
art. 90º e 94º do EOA, sendo estas normas verdadeiras decorrências dos princípios
gerais previstos no art. 88º do mesmo diploma. Com efeito, e recorrendo ao disposto no
art. 88º do EOA, temos que o/a advogado/a “deve ter um comportamento publico e
profissional adequado à dignidade e responsabilidade da função que exerce”,
constituindo afloramento deste principio geral as disposições relativas à publicidade e,
também, de proibição de angariação de clientela.
(...)
Assim, entre os deveres elencados no EOA, resulta que os/as advogados/as têm o dever
de “não solicitar clientes, por si ou por interposta pessoa” (art. 90º nº2 al.h)), sendo esta
uma regra que deve pautar o comportamento daqueles no exercício da sua actividade.
PROCESSO DE PARECER 07/PP/2017-C
Perante isto, e voltando ao caso concreto, temos que o sitio da internet em causa colide
manifestamente com o principio da dignidade da profissão, quer pela via da violação
das regras relativas à publicidade quer pela possibilidade de angariação de clientela por
interposta entidade. Em boa verdade, encerra a plataforma um mecanismo para
publicitar, de forma não permitida, a actividade desenvolvida pelo/a advogado/a, em
que a escolha por parte do potencial cliente terá por base uma orçamentação de
serviços que, em bom rigor, sequer é baseada num justo critério de definição do
trabalho a executar. Disso é exemplo o pedido constante do e-mail remetido em anexo
ao pedido de parecer efectuado pelo Requerente, onde não são colocadas informações
suficientes para que seja efectuado uma justa e equilibrada definição de potenciais
honorários. Permitir esta via de publicidade, significaria, aproximar o exercício da
advocacia a um balcão de atendimento, em que o cliente escolhe o advogado apenas
tendo por base, não as suas competências, mas a componente monetária dos serviços
a prestar, colocando em crise um principio basilar do mandato, que se funda da
confiança entre advogado/a e cliente.
PARECER 07/PP/2017-C
Por outro lado, o sitio potencia, sem quaisquer dúvidas, a angariação de clientes, sendo
aliás esse o seu principal objectivo, não obstante dele não resultar expresso. A inscrição
no sitio visa exactamente que o cliente chegue ao/à Advogado/a pela via da entidade
gestora do sitio, que possibilita o contacto entre ambos, não se entendendo que aquela
potencia uma escolha justa do/a Advogado/a. A angariação de clientela deve ser
efectuada, salvo melhor entendimento, por via do mérito no exercício das funções e do
reconhecimento público do mesmo, e não pela mera formalização de um
orçamento. Não se acolhe, por isso, entendimento que sufrague uma dignificação do
exercício da advocacia pela via da divulgação da actividade do/a advogado/a no sitio em
apreço, que, pelo contrário, merece forte censura, considerando-se a eventual
participação ou inscrição no mesmo, violadora das normas estatuárias acima referidas
(art. 88º nº1, 90º nº2 al. h) e 94º do EOA).
PARECER 07/PP/2017-C

Concluindo,

A participação e/ou divulgação da actividade dos Advogados na plataforma informática


localizada no endereço www.advogadoo.com , é um acto de publicidade de serviços e
de angariação de clientela que atenta contra a dignidade da profissão, em violação do
art. 88º nº1, 90º nº2 al. h) e 94º do EOA, estando por isso vedado a participação na
mesma por parte de advogado/a.

É este o nosso parecer


À sessão do Conselho Regional de Coimbra
O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA EM PORTUGAL POR
ESTRANGEIROS

APRESENTAÇÃO
O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA EM PORTUGAL POR
ESTRANGEIROS

Art.º 194/b) e 201º EOA


O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA EM PORTUGAL POR
ESTRANGEIROS

Advogados de outros Estados Membros da União Europeia e do Espaço Económico


Europeu

Art.º 203 EOA


+
Art.º 14 a 32 Reg. de Inscrição- Regulamento n.º 913-C/2015
D- 7 O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA EM PORTUGAL POR
ESTRANGEIROS

Art.º 205 EOA - Qualquer advogado da União Europeia pode cumpridas algumas regras
exercer a sua actividade em Portugal com o seu título profissional de origem

Modo de exercício
Art.º 204 EOA - sob orientação
D- 7 O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA EM PORTUGAL POR
ESTRANGEIROS

Ter também atenção:


Lei n.º 2/2021
de 21 de janeiro
Estabelece o regime de acesso e exercício de profissões e de atividades profissionais e
o regime aplicável à avaliação da proporcionalidade prévia à adoção de disposições
legislativas que limitem o acesso a profissão regulamentada, ou a regulamentar, ou o
seu exercício, transpondo a Diretiva (UE) 2018/958 do Parlamento Europeu e do
Conselho e revogando o Decreto-Lei n.º 37/2015, de 10 de março.

e revogou também a Lei 9/2009, de 4 de Março


D- 7 O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA EM PORTUGAL POR
ESTRANGEIROS

Na prestação de serviços por estes profissionais estão estes sujeitos às regras


profissionais e deontológicas aplicáveis aos advogados portugueses
Art.º 207 EOA
O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA EM PORTUGAL POR
ESTRANGEIROS

Responsabilidade disciplinar
Art.º 209
OUTROS PRESTADORES DE SERVIÇOS DE ADVOCACIA

Art.º 212

Carecem de registo na Ordem


D- 7 O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA EM PORTUGAL POR
ESTRANGEIROS

Artigo 17.º Reg. de inscrição- Regulamento n.º 913-C/2015


Inscrição de Advogados de nacionalidade brasileira
1 - Por força do disposto no EOA, os Advogados brasileiros cuja formação académica
superior tenha sido realizada no Brasil ou em Portugal podem inscrever-se na Ordem
dos Advogados desde que idêntico regime seja aplicável aos Advogados de
nacionalidade portuguesa inscritos na Ordem dos Advogados que se queiram inscrever
na Ordem dos Advogados do Brasil.
2 - O regime de reciprocidade previsto no número anterior permite a inscrição de
Advogado brasileiro com dispensa da realização de estágio e da obrigatoriedade de
realizar prova de agregação.
Caso Prático
Próxima aula

Tema a desenvolver:

Regime das Especialidades

Lei 53/2015, de 11 de Junho- Regime jurídico da constituição e funcionamento das


sociedades de profissionais que estejam sujeitas a associações públicas
profissionais
Avª Dom Rodrigo da Cunha nº 20
R/c A Esq- Norte
Alvalade

carla.beselga@bqadvogadas.com

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