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Direito Processual Civil

02/12/2021

Patrocínio Forense (ou judiciário):

Corresponde a uma forma de representação da parte no processo, mas uma


representação técnica no sentido em que o que e lei pretende não é alguém que forme a
vontade do representado mas sim que o habilite a agir no processo de forma solida e
estruturada.

O patrocínio judiciário tem por fonte a procuração forense, que vem da palavra foro,
que significa tribunal. Assim, a fonte do mandato judiciário (patrocínio) e esta
procuração é onde a parte ou o seu representante constitui um patrono que vai pleitear
(representar) em seu nome. A forma desta procuração encontra-se no artigo 43º do
Código de Processo Civil e pode dizer respeito a escritura publica ou documento
particular. O mandato é conferido, deste modo, extraprocesualmente, isto é, fora do
processo, nada disto se passando na presença do tribunal.

Quando assim sucede e a procuração é outorgada fora do processo, esta tem de ser junta
ao processo de modo a que o juiz tenha conhecimento da mesma. Esta procuração pode
também ser outorgada por declaração verbal da parte no auto de qualquer diligencia que
se pratique no processo, este ultimo modo não é muito comum em processo civil pois
estas diligencias apenas tem lugar já numa fase muito adiantada do processo.

A procuração é conferida mas, no entanto, só é eficaz nos termos do artigo 44º n.4 do
Código de Processo Civil, se o próprio mandatário a aceitar, ou seja, isto significa que a
eficácia do mandato depende de aceitação.

A aceitação pode ser expressa, isto é, manifestada na própria procuração ou em


documento particular, ou pode ser uma aceitação tácita, isto é, resultar de um
comportamento concludente do mandatário.

O patrocínio judiciário pode ainda resultar de nomeação pela ordem dos advogados, e
tal surge em duas circunstancias, uma limitada, conforme ao artigo 51º do Código de
Processo Civil; uma situação mais frequente é o recurso ao apoio judiciário para
constituir um mandato. A fonte jurídica do patrocínio forense, neste caso, é a nomeação
pela ordem dos advogados.

Patrocínio judiciário a titulo de gestão de negócios – artigo 49 do Código de


Processo Civil e 464º do Código Civil:
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Quando alguém assume a direção de um negocio jurídico relativo a outra pessoa, no


interesse e por conta de outra pessoa, mas sem estar autorizado pela mesma. Por
exemplo, quando o vizinho não está em casa, há uma inundação e um terceiro, sem
autorização, entre na casa e corta a água.

Em caso de urgência o patrocínio judiciário pode ser assumido como gestão de


negócios, ou seja, o advogado pode assumir o papel de gestão de um negocio desde que
seja uma situação urgente, por exemplo, um advogado que representa pessoa que se
encontra no estrangeiro e incontactável, sem qualquer titulo ou patrocínio pela ordem
dos advogados, nestas situações, este patrocínio tem de ser ratificado pela própria
partem, ou seja, ela verdadeira parte gestora do negocio. Se dentro do prazo a parte não
ratificar o que foi feita pelo advogado na sua ausência e sem autorização, os atos do
advogado perdem eficácia e este é condenado pelas custas do processo.

Mandato forense – contrato de mandato com representação:

O contrato de mandato está previsto, no seu turno geral, no artigo 1157º e seguintes do
Código Civil – o mandato é um contrato através do qual o mandatário se obriga perante
o mandante a praticar atos jurídicos por conta deste, por exemplo, quando pedimos a
alguém para ir comprar algo por nós. O mandato pode assumir duas espécies:

i. Com representação – o mandatário pratica atos por conta do mandante e age


em nome do mandante;
ii. Sem representação – o mandatário age em nome +próprio, os atos que ele
pratica refletem-se apenas na sua esfera jurídica.

Num contrato de mandato com representação, o mandatário não só age no interesse e


por conta do mandate, como também age em nome do mandante, ou seja, acumula o
titulo de mandatário com o titulo de procurador, e os seus atos vão se refletir na esfera
jurídica de direitos e deveres do mandante. O mandatário forense (advogado) pratica
atos processuais (requerimentos e alegações) não só por conta e no interesse do seu
constituinte, como também em nome da parte.

O conteúdo dos podere que o advogado adquire por força deste mandato está regulado
no artigo 44º/1 por remissão do artigo 45º/1 do Código de Processo Civil.

O mandato forense por via de regra, inclui apenas os chamados poderes forenses gerais,
que são os poderes para representar a parte em todos os atos do processo, mas a lei
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exclui destes os poderes que a lei qualifica como especiais, estes últimos estão
consagrados no artigo 45º/2 do Código de Processo Civil.

Artigo 46º do Código de Processo Civil – o mandatário fala em nome do seu


constituinte, e este artigo vem reforçar a natureza representativa do mandato. No
entanto, a lei admite que as declarações do mandatário possam ser retiradas pelo
advogado que as fez caso a parte contraria não tenha aceite as afirmações. Caso a parte
aceita, as afirmações não podem mais ser retratadas (retiradas).

Nos poderes forenses gerais está também incluído o poder de substabelecimento, isto é,
o advogado da causa pode transmitir os poderes que recebeu do seu constituinte para
outro mandatário (advogado) de modo a que este o possa representar de igual forma.

O substabelecimento pode ser feito com reserva e sem reserva (artigo 44º/3 do Código
de Processo Civil):

i. Com reserva – é quando o advogado que substabelece reserva para si os podere


forenses que recebeu do seu constituinte, ou seja, é um substabelecimento
pontual, mantendo-se este como advogado do constituinte;
ii. Sem reserva – corresponde a uma verdadeira substituição permanente do
advogado no processo, ou seja, implica a exclusão do anterior mandatário.

Assistência técnica aos advogados:

Artigo 50º do Código de Processo Civil – permite que os advogados se façam


acompanhar de técnicos, não juristas, que os possam ajudar em assuntos de natureza
para os quais o advogado não possua a necessária preparação, como por exemplo
questões de engenharia ou medicina, cuja área necessita de conhecimento especial.

O tribunal pode recusar a assistência técnica caso a julgue desnecessária, e o advogado


só pode recorrer a um técnico, nada mais. Este técnico, no exercício faz suas funções,
tem os mesmos direitos e deveres processuais como o advogado, ou seja, pode inquirir
testemunhas, recorrer a alegações, entre outros. No entanto, deve prestar a sua
colaboração sob a direção do advogado.

Obrigatoriedade de constituição de mandatário – artigo 40º/1 do Código de


Processo Civil:
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A capacidade postulatoria das partes surge quando a lei não exige a presença obrigatória
de advogado. Mas quando é obrigatório a constituição de advogado? Artigo 40º/1 do
Código de Processo Civil.

Sempre que se interponha recurso, é obrigatório ter advogado, assim como em todas as
ações que se proponham em primeiro grau de decisão de tribunal superior (ações de
indeminização contra juízes no exercício das suas funções, por exemplo).

Nas causas em que seja admissível recurso ordinário, é também obrigatória a


constituição de mandatário – o recurso ordinário só é admissível quando a causa tenha
valor superior à alçada do tribunal de que se recorre (o tribunal onde se propõe a ação) e
a decisão impugnada seja desfavorável ao recorrente em valor superior a metade da
alçada desse tribunal, atendendo-se, em caso de fundada dúvida acerca do valor da
sucumbência, somente ao valor da causa. Se o valor da ação exceder o valor da alçada
dos tribunais de primeira instancia (5000€) essa ação admite recurso ordinário, se existir
este recurso, é obrigatória a presença de advogado pois as partes não possuem
capacidade postulatoria.

Artigo 629º/3 do Código de Processo Civil:

Independentemente do valor da causa e da sucumbência, é sempre admissível recurso


para a Relação:

a. Nas ações em que se aprecie a validade, a subsistência ou a cessação de


contratos de arrendamento, com exceção dos arrendamentos para habitação não
permanente ou para fins especiais transitórios;

Posto isto, se é sempre possível recurso, é por sua vez sempre obrigatória a constituição
de um mandatário (advogado).

Artigo 42º do Código de Processo Civil – liberdade de constituição de advogado nas


causas para as quais as partes disponham de capacidade postulatória, isto é, nas ações
em que não seja obrigatória a constituição de advogado, caso as partes o pretendam,
podem constituir livremente advogado, se for da sua vontade.

Os advogados estagiários podem fazer requerimentos em que não se levantem questões


de direito, ou seja, requerimentos que não envolvam questões jurídicas – artigo 40º/2 e
42º do Código de Processo Civil.
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Quem pode exercer o mandato forense?

O exercício do mandato forense é reservado aos advogados, e é advogado quem tiver


inscrito para essa atividade na ordem dos advogados, instituição publica criada pelo
estado que regula o exercício da advocacia. A ordem está regulada pelo estatuto da
ordem dos advogados, lei nº 145/2015.

O estatuto da ordem dos avogados regula o exercício da advocacia, assim como a


deontologia profissional, que diz respeito a um conjunto amplo de deveres que vinculam
o advogado ao exercício da sua profissão.

Este estatuto regula também as consequências destes deveres deontológicos, as


designadas consequências disciplinares, ou seja, o advogado que violar os deveres
previstos no estatuto pode ser sancionado através de advertência, multas, suspensão do
exercício de advogado ou o impedimento «permanente» (expulsão) da ordem dos
advogados.

Quando a lei exige a constituição obrigatória de mandatário, ao exigir a mesma, a lei


está essencialmente a prosseguir três grandes funções:

i. Função de auxilio as partes;


ii. Realização do direito e prossecução da justiça;
iii. Função psicológica.

A função de auxilio as partes reflete-se na exigência de patrocínio obrigatório, uma vez


que a lei se preocupa com o bom seguimento do processo, pois de um modo geral as
partes não dominam as tecnicalidades e as exigências formais do processo, logo isso
causa transtorno não só as partes como também ao próprio tribunal. Portanto, a primeira
função exigida legalmente é o auxilio as partes, o legislador quer assegurar que as partes
na defesa dos seus interesses estão tecnicamente bem habilitadas.

Em relação à realização do direito e prossecução da justiça, esta está relacionada com os


deveres deontológicos dos advogados e também com o dever de auxilio na realização da
justiça, isto é, ao exigir a constituição obrigatória de mandatário o legislador está
preocupado com a condução leal e verdadeira do processo, evitando assim que as partes
sucumbam à tentação de utilizarem expedientes menos leais na defesa e sustentação das
suas posições.
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Por fim, no que refere à função psicológica, esta está relacionada com o refreio dos
ímpetos emocionais e apaixonados das partes, isto é, as partes vivem de forma intensa
as suas ações e os seus processos, pois é algo que lhes diz direta e emocionalmente
respeito, e por estas razões não são capazes de racionalizar os seus argumentos ou de
sustentar os mesmos, pois várias vezes não há forma de provar os factos alegados. Deste
modo, ao exigir a constituição obrigatória de advogado, o legislador pretende acalmar as
partes em relação aos seus processos, pois estas por vezes em fase de julgamento não
são capazes de cumprir regras e manter o respeito pelas partes, logo o papel do
advogado é introduzir um elemento racional que se opõe ao emocional das partes na
condução do processo.

Revogação e renuncia do mandato:

De forma geral o contrato de mandato permite a renovação, que provem do mandante, e


a renuncia, que provem do mandatário.

O artigo 47º do Código de Processo Civil regula os mecanismos de cessação do


mandato forense, quer por iniciativa da parte, quer por iniciativa do mandatário. Quando
provem do constituinte (parte/cliente) é revogação, e quando provem do mandatário
(advogado) é uma renuncia.

A revogação e a renuncia estão sujeitas a forma (artigo 47º/1 do Código de Processo


Civil), estas tem de ser realizadas processualmente, isto é, tem de ter previsão no
processo, através de um comunicado feito por requerimento. Uma vez praticadas no
processo, são notificadas à parte requerente e à parte contrária. Só a partir desta
notificação é que se produzem os efeitos da notificação e da renuncia. Esta notificação
tem de ser feita pessoalmente ao mandante no caso de renuncia (artigo 47º/2 do Código
de Processo Civil), pois o tribunal tem de se certificar que o mandante está ciente das
consequências da renuncia, caso seja obrigatória a constituição de advogado no
processo.

Caso a renuncia acontece nas causas em que é obrigatória a constituição de advogado, o


prazo para constituir um novo advogado é de 20 dias, e se neste prazo tal não acontecer,
então a lei apresenta a consequência consoante a constituição do mandatário provenha
do autor ou do reu.

i. Se for o autor, determina a suspensão da instancia;


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ii. Se for o reu, o processo segue os seus termos sem haver advogado
constituídos, aproveitando-se os atos praticados pelo advogado constituídos
antes da revogação ou renuncia, o que significa que este não pode praticar
atos processuais no seguimento do processo.

Pode acontecer que a renuncia ao mandato tenha acontecido e que o reu esteja
impossível de notificar pessoalmente, nestes casos, o legislador acautela estas situações
no artigo 47º/4 do Código de Processo Civil e é nomeado um mandatário oficioso para
assegurar o patrocínio daquele reu.

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