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AULAS TEÓRICAS 2º SEMESTRE

1. Patrocínio Judiciário

No âmbito dos pressupostos há uma figura do patrocínio judiciário que rigorosamente não é um pressuposto
processual, mas justifica-se que seja tratado neste sentido. O patrocínio judiciário consiste em a parte agir
na ação judicial por intermédio de alguém especialmente habilitado ao exercício desta atividade (artigos
40º ss CPC). O patrocínio judiciário não se confunde com a assistência técnica aos advogados prevista no
artigo 42º. Esta é prestada ao advogado e não propriamente à parte. Justifica-se nos casos em que o no
processo se suscitam questões de natureza técnica para as quais o advogado não tenha a necessária
preparação.

➔ Qual a razão de ser do patrocínio judiciário?


Podemos identificar um conjunto de razões: (1) razões relativas ao interesse da parte e (2) razões relativas
ao interesse do próprio Estado.

(1) Razões relativas ao interesse da parte: razão de especialização; de repartição de trabalho. A parte
que se encontra numa situação de alguma debilidade no que respeita a escolher um mandatário
judicial e porquê? Relações em que há uma forte assimetria do conhecimento são relações nas quais
a liberdade de escolha é exercida de um modo não perfeitamente esclarecido. É por esta razão que
a atividade de mandatário judiciária não é livre, apenas a pode exercer aquele que é advogado ou
solicitador (o Estado pretende garantir que há um mínimo de conhecimento de quem exerce esta
atividade detém). Quando falamos do patrocínio judiciário ele está estabelecido não só no interesse
subjetivo da própria parte, mas ainda no interesse do próprio Estado

(2) Razões relativas ao interesse do próprio Estado: regula o patrocínio judiciário para garantir que
quando ele exista haja um mínimo de habilitação por parte de quem o exerce, protegendo as partes
da sua própria ignorância. O patrocínio judiciário é estabelecido ainda no interesse do bom
funcionamento da justiça. É evidentemente mais fácil a tramitação de uma ação quando todos os
intervenientes processuais conhecem as mesmas regras, o mesmo modo de configuração do
problema etc. Pretende-se que todos aqueles que estão dentro do mesmo processo, se entendam
com mais facilidade, contribuam para a resolução da causa já conhecendo o modo da respetiva
tramitação etc.

Em Portugal o patrocínio judiciário funciona em 3 níveis:

1. Não é obrigatório
2. Não é obrigatório e pode ser assumido por advogado, advogado estagiário ou solicitador
3. Tem de ser assumido por advogado

➔ Quem é que o pode assumir o patrocínio jurídico?

Em Portugal há duas categorias profissionais habilitadas ao exercício desta atividade que são os advogados
e os solicitadores. Destes dois, os mais relevantes são os advogados. Esta circunscrição de profissões que
podem exercer a atividade de patrocínio judiciário consta da Lei nº49/2004 (é a lei que delimita quais são os
atos cuja prática está reservada para esta categoria de pessoas. É a lei que cria um certo monopólio a favor
destas classes). Esses atos são o exercício de um mandato forense e a consulta jurídica. O artigo 1º, nº3
permite a regentes de faculdades de direito dirigir pareceres (mas esta é uma exceção). Caso estes atos
próprios sejam praticados por terceiro pode estar-se perante nos termos do artigo 7º da referida lei, crime
de procuradoria ilícita.

➔ O que é que pode estar origem na relação representativa?

Pode ser um contrato de mandato (acordo entre o mandatário e o mandante- artigo 43º). De acordo com
esta norma, o mandato judicial, no âmbito deste contrato, pode ser conferido por ato unilateral, sendo
admitida a forma de documento particular ou pode ser conferido por declaração no próprio processo. E se
a parte procurar um mandatário e ninguém se predispuser a assumir essa qualidade? Quando assim
ocorra, a parte pode solicitar à ordem dos advogados que designe oficiosamente um advogado (artigo 51º)
garantindo-se que a parte no processo, se o desejar possa ser representada por alguém com habilitação para
o efeito.

Pode ainda pedir a concessão de apoio judiciário. Tal tem lugar nos termos da Lei nº34/2004. O apoio
judiciário visa garantir o acesso ao Direito por parte de quem não dispõe de meios económicos suficientes
para o fazer. Na educação e na saúde estamos perante finalidades providenciais do Estado. No sistema de
justiça estamos perante algo mais do que isso. O apoio judiciário não é um auxílio do Estado à livre realização
dos particulares, mas é uma contrapartida que o Estado retirou às partes (que é a possibilidade de se
defenderem a si próprias). O Estado veda aos membros da comunidade que possam exercer faculdades que
realmente têm, ou seja, o apoio judiciário não é um favor, faz parte da contrapartida que é dada a não poder
resolver conflitos pela força e poder fazê-lo por um processo juridicamente ordenado. Dessa forma, é
necessário que todos possam aceder a ele. Entre as possibilidades que o sistema faculta, está a de ser
nomeado e pago um patrono judicial (artigo 16º, nº1 alínea b) Lei nº 49/2004).

A terceira possibilidade é: e se for necessária a prática de um ato forense sem que tenha havido a
possibilidade de constituir uma relação de mandato? Através da gestão de negócios para efeitos de
representação forense. É próprio da gestão de negócios que alguém (advogado) assume a condução de um
negócio de outrem (negócio em sentido amplo de satisfação de necessidade de outrem). Na gestão e
negócios, o gestor não está previamente autorizado ao exercício dessa atividade. Em caso de urgência é
admitida a gestão. Contudo, os atos praticados pelo gestor apenas vincularão a parte se ela ratificar (caso
contrário não vincula- artigo 49º CPC). Se a parte não ratificar, o gestor é responsabilizado pelos danos que
tenha gerado (artigo 49º, nº2 CPC). O mandatário sem poderes representativos nem sequer é admitido a
agir. O gestor de negócios é admitido, pratica atos judiciais, mas estes têm que ser ratificados.

➔ E se não houver qualquer habilitação por parte do mandatário?

Estaremos, em princípio, perante um caso de falta de poderes representativos. Esta falta de poderes
representativos pode ser conhecida a todo o momento, arguida por qualquer das partes e conhecida
oficiosamente pelo Juiz (artigo 48º, nº1 CPC). Uma vez detetada a falta de poderes representativos, deve o
juiz fixar prazo para a regularização da instância (artigo 48º, nº2 CPC). A regra é esta no processo civil, isto
é, sempre que estamos perante irregularidade processual sanável o juiz deve convidar as partes a regulariza-
a ou se tiveres poderes para o efeito, deve ele próprio fazê-lo (artigo 6º, nº2 CPC). Esta regularização caso
não venha a ocorrer, conduz a que o mandatário (isto é, o advogado ou solicitador) seja condenado nas
custas dos atos que praticou, além da responsabilidade pelos danos que gerou. A sua conduta é ainda
participada à ordem dos advogados para eventuais efeitos disciplinares.
➔ Como é que cessa esta relação de mandato?

A relação de mandato é uma relação própria das atuações por conta de outrem, sendo que ela pode
cessar quer por ato unilateral do mandante quer por ato unilateral do mandatário. Sempre que há
relação e concessão de poder a outrem, o titular pode revogá-la (o mandante pode fazer cessar o
mandato por revogação). O mandatário, por sua vez, pode a todo o momento renunciar ao exercício da
sua atividade (artigo 47º CPC). De todo o modo, nós devemos distinguir duas questões:

1. Eficácia da revogação e da renúncia: o momento da eficácia é o momento em que elas são


notificadas (artigo 47º, nº2 CPC).

2. Eventual responsabilidade por essa cessação: mesmo que se possa revogar ou renunciar e que tal
seja eficaz, pode ainda assim gerar responsabilidade. No que respeita ao mandatário prevê o estatuto
da ordem dos advogados no artigo 100º, nº1 alínea e) que não deve renunciar sem justa causa. Caso
o faça sem justa causa a renúncia é eficaz, mas há responsabilidade.

➔ Qual é a extensão do mandato? O que é que abrange?

Temos que considerar os artigos 44º a 46º ss. É próprio do mandato a atuação por conta de outrem. Dentro
deste intuito do mandato quais são os concretos atos que a lei considera que estão por ele abrangidos? O
âmbito natural do mandato (isto é, quando as partes nada dispõem sobre o seu âmbito) está previsto no
artigo 44º, nº1 CPC, ou seja, representar a parte em todos os atos do processo principal e dos seus incidentes
mesmo perante tribunais superiores. Também está no âmbito natural do mandato a possibilidade de
subestabelecer (artigo 44º, nº2 CPC) - em que consiste subestabelecer? É o mandatário passar os seus
poderes para outro mandatário.

Diferente desta possibilidade de subestabelecer é a possibilidade de o advogado se fazer acompanhar de


assistência técnica (artigo 50º CPC). Tal possibilidade é útil quando se discutam no processo questões que
obriguem a conhecimentos especiais que o advogado não tenha (ex.: questões médicas, pode o advogado
fazer-se assistir por médico). No âmbito eventual do mandato forense, estão poderes para confessar a ação,
transigir ou desistir (artigo 45º, nº2 CPC). Ou seja, se a parte não conferir estes poderes em concreto, o
mandatário não pode praticar estes atos. Ou a parte confere, ou caso não o faça o advogado não o pode
fazer. As afirmações que sejam feitas nos articulados (primeiros atos processuais das partes) vinculam a
própria parte, embora, possam ser retificadas estas afirmações ou retiradas enquanto a parte contrária não
aceitou.

➔ Quando é que o patrocínio judiciário é obrigatório?

Nem sempre o patrocínio judiciário é obrigatório. Casos há em que as partes são livres de o constituir ou
não, mas se o constituem só o podem fazer atribuindo poderes a um advogado, advogado estagiário ou
solicitador. Isto é, quando o patrocínio judiciário é livre é livre na medida em que as partes o podem decidir
ou não. Noutros casos o patrocínio judiciário é obrigatório, em particular, o patrocínio judiciário por
advogado. Quando não é obrigatório as partes podem agir por si no próprio processo (artigo 40º, nº3 que
determina que nesse caso, havendo prova testemunha é o juiz que faz a inquirição).
De acordo com o artigo 40º CPC, o patrocínio judiciário é obrigatório para 3 grupos de casos:

1) Quando se trate de uma ação que admita recurso ordinário (recurso regra). Nos termos do artigo
44º LOSJ é de 5.000€ a alçada (valor até ao qual o tribunal decide sem possibilidade de recurso. Acima
da alçada já é admissível recurso. Sempre que a ação tenha valor superior a 5000€ é obrigatória a
constituição de advogado. Advogado estagiário ou solicitador não podem). O valor determina-se nos
termos do artigo 296º ss CPC.

2) Causas (artigo 40º B) em que seja admissível recurso independentemente do valor. Há casos em
que a lei processual faculta sempre o acesso a um tribunal superior (recurso de apelação- recurso
para o Tribunal da Relação- artigo 629º, nº2 CPC). Tratando-se de uma destas ações, mesmo que
tenha valor de 1000€ é obrigatória a constituição de advogado (ex.: ações relativas a contratos de
arrendamento- artigo 629º, nº3 CPC). Pela sua enorme importância do arrendamento está sujeito a
este regime processual especial.

3) Casos muito pouco frequentes em que a ação dá entrada num tribunal superior (artigo 40º, nº1,
alínea c) CPC). Os tribunais superiores podem conhecer dois tipos de questões, nomeadamente,
recurso ou agir como tribunal de primeira instância (mas estes casos são excecionais).

São estes os casos em que a lei prevê o patrocínio judiciário obrigatório. Mesmo nestas há uma exceção.
Quando se faça determinado requerimento processual que não suscite nenhuma questão de direito, ele
pode ser efetuado por advogado estagiário, solicitador ou pelas próprias partes (artigo 40º, nº2 CPC).

Quando o PJ (patrocínio judiciário) é obrigatório, a procuração deverá acompanhar a própria petição inicial
justamente para demonstrar perante o Tribunal que o mandatário está habilitado a representar a parte e o
mesmo vale para a contestação.

Nos julgados de paz (meio alternativo de resolução de litígios) não é obrigatória a constituição de advogado.

➔ Quais as consequências de não constituição de mandatário judicial quando tal seja obrigatório ou
da cessação desta representação processual?

O patrocínio judiciário rigorosamente não é um pressuposto processual, mas sim pressuposto de


adequação processual. Coloca-se para que os atos praticados no processo por uma parte possam ter
relevância. Por conseguinte, as consequências da falta de PJ são diferentes consoante a omissão se deva ao
autor ou ao réu. Quando é o autor que não constitui mandatário, uma vez que a sua atuação processual não
pode ser relevada (isto é, não se pode atribuir valor) a consequência será a absolvição da instância do réu
(artigo 577º alínea h) CPC). Quando se trate da não constituição de advogado por parte do réu, a
consequência não é absolvição da instância, mas sim que a sua defesa fica sem efeito (artigo 41º CPC).

Ex.: Havendo reconvenção, imagine-se que o autor não constitui mandatário judicial quando é obrigatório.
A consequência é que quanto a este pedido o réu é absolvido da instância. O primeiro pedido não valerá,
mas quando ao pedido de reconvenção já o será.

Estamos perante uma falta de observância de um requisito de atuação processual que é sanável. Como é
próprio das faltas sanáveis, o juiz antes de extrair as consequências últimas que a lei lhe atribui, deve dar às
partes a oportunidade de regularizarem, neste caso, o seu modo de atuação processual (artigo 6º, nº2 CPC
e artigo 41º CPC). Só se, após fixação de prazo, as partes não regularizarem a sua representação é que o
tribunal extrai aquelas consequências que já foram referidas (absolvição da instância ou considerar a defesa
sem efeito caso, respetivamente, se trate de autor ou réu). Caso a instância seja regularizada é possível
ratificar os atos sem representação (artigo 48º, nº2 CPC).

O mandato judicial pode cessar em momento posterior à sua constituição. Temos que distinguir dois casos:
(1) Nunca ter sido constituído ou (2) ter sido efetivamente constituído, mas em data posterior a essa
constituição ter cessado a relação representativa.

1) Renúncia ao mandato: se o mandatário judicial renunciar ao mandato, aplica-se o disposto no artigo


47º, nº3 CPC. Qual o regime que resulta deste artigo? A parte tem 20 dias para constituir novo
mandatário e se não o fizer aplicam-se as seguintes consequências: se a falta for do autor a instância
suspende-se (artigo 47º, nº3 alínea a). Quando a falta for do autor, o processo suspende-se por
quanto tempo? A lei não prevê, mas nos termos gerais, quando o processo esteja parado por
negligência das partes há mais de 6 meses, a instância pode extinguir-se por deserção (artigo 281º
CPC). De todo o modo, o réu poderá pretender a continuação da ação, se nisso tiver interesse. Este
regime vale com as necessárias adaptações para a revogação do mandato. Se a falta for do réu o
processo continua (artigo 47º, nº3 alínea b) CPC)..

2) Mandatário falecer no decurso da ação: se o mandatário falecer no decurso da ação, a instância


suspende-se (artigo 279º, nº1 alínea d) CPC) devendo ser regularizada nos termos do artigo 276º, nº1
alínea b) CPC). Este regime da suspensão da instância vale igualmente nos termos das mesmas
disposições quando o advogado ficar impossibilitado de exercer o mandato.

2. Pressuposto da Competência dos Tribunais

Os tribunais exercem, somo se sabe, a função jurisdicional ou jurisdição. A jurisdição, em sentido abstrato,
compete a todos os órgãos jurisdicionais, considerados no seu conjunto. O pressuposto processual da
competência tem por objeto determinar qual é a porção de jurisdição que cabe a cada concreto tribunal
para resolver um litígio que seja colocado à apreciação do sistema de justiça. É por este pressuposto que
vamos conseguir adjudicar determinada controvérsia com certas características a um dos vários tribunais
que se encontre na organização judiciária global. O poder jurisdicional está repartido pelos diversos tribunais
segundo determinados critérios. As normas que definem os critérios que presidem à delimitação do poder
de julgar pelos diversos tribunais denominam-se regras de competência.

Importa conhecer quais as grandes linhas da Organização Judiciária Portuguesa. Nos termos dos artigos 202º
ss CRP, o poder judicial cabe aos tribunais no seu conjunto. É ao conjunto de todos os tribunais que cabe o
poder de julgar, mas esse poder estar distribuído em unidades mais pequenas com competências próprias.
A base de organização jurisdicional portuguesa assenta na distinção entre 4 ordens jurisdicionais (artigo
209º, nº1 CRP)
1. Ordem jurisdicional comum e subsidiária é constituída pelos Tribunais Judiciais.
2. Desta ordem jurisdicional comum autonomizam-se para o exercício de certas competências específicas, a ordem dos
Tribunais Administrativos e Fiscais
3. Jurisdição do Tribunal de Contas: jurisdição com competência em matéria administrativa, mas ligada ao controlo da
despesa pública e da regularidade dos atos que ela controla.
4. Tribunal Constitucional: esta jurisdição do TC acaba por relacionar-se com as demais sempre que nas causas que a ela
são submetidas se coloque uma questão de constitucionalidade.
Destas 4 jurisdições vamos considerar apenas a jurisdição comum, isto é, a jurisdição dos tribunais judiciais que
engloba todo o direito privado, o direito penal e ainda as questões de direito administrativo não atribuídas à jurisdição
administrativa.

Qual a razão de ser desta pluralidade de jurisdições?


Cada ordem jurídica acaba por tomar a opção que entende mais conveniente em sede de organização do
sistema judiciário. A OJ portuguesa optou por desdobrar em 4 jurisdições. Há ordens jurídicas que optam
por um sistema unitário (ex.: sistema inglês em que todos os tribunais estão sujeitos a um mesmo supremo
tribunal). Pelo contrário há ordens jurídicas que fazem um desdobramento ainda maior daquele que
acontece no nosso sistema (ex.: ordem jurídica alemã que tem ainda a jurisdição do trabalho e jurisdição
social para questões de segurança social).

Importa conhecer quais os critérios que a lei se serve para fixar a respetiva competência dos Tribunais
Judiciais.

Vale o princípio fundamental em sede de delimitação da competência dos tribunais de que ela deve ser
fixada de acordo com os critérios previstos na lei- princípio do juiz natural (artigo 60º, nº1 CPC). Pretende-
se com este princípio, que ao fixar-se a competência jurisdicional esta seja definida apenas de acordo com
critérios previstos na lei, que o Tribunal seja independente em relação às partes, isto é, o princípio do juiz
natural compreende-se por relação com a sua alternativa (a competência ser fixada com base numa decisão
pessoal). Para evitar que possa haver alguém com poder de influenciar qual o tribunal que vai decidir,
estatui-se que os critérios delimitadores da competência tenham natureza legal. Cada tribunal tem a
competência para fixar a sua própria competência (de acordo com os critérios previstos na lei). Este princípio
de acordo com o qual cada tribunal pode fixar a sua competência designa-se kompetens-kompetens. A
competência é fixada no momento em que a ação se propõe (artigo 38º LOSJ).

2.1 Como se organiza a competência dos tribunais Judiciais?

Temos de distinguir dois quantuns. A competência dos tribunais judiciais no seu conjunto (o seu regime de
competência internacional) e o modo como internamente a competência se desdobra. O regime da
competência internacional resulta não só do disposto no CPC como sobretudo de instrumentos normativos
especiais, nomeadamente, provindos do DUE (que se aplica diretamente). Por conseguinte, a nossa
abordagem da competência internacional dos tribunais portuguesas deve começar pelas regras especiais do
DUE (artigo 59º CPC).

2.1.1 COMPETÊNCIA INTERNACIONAL

ENQUADRAMENTO DO PROBLEMA
O problema surge quando a causa, através de qualquer dos seus elementos, está em conexão com outra
ordem jurídica, além da portuguesa. Tratando-se de saber se uma determinada questão deve ser resolvida
pelos tribunais portugueses ou pelos tribunais de um Estado estrangeiro. Se a situação não revelar
qualquer elemento de conexão com ordens jurídicas estrangeiras, tudo se passa no âmbito da
competência interna dos tribunais. A competência internacional dos tribunais portugueses é, assim, a
competência dos tribunais da ordem jurídica portuguesa para conhecer de situações que, apesar de
possuírem, na perspetiva do ordenamento português, uma relação com ordens jurídicas estrangeiras,
apresentam igualmente uma conexão relevante com a ordem jurídica portuguesa.
São vários os regulamentos que incidem sobre a competência internacional dos tribunais em matéria civil e
comercial. Nesta disciplina vamos apenas ter em consideração o Regulamento Bruxelas I Reformulado
(Regulamento nº 1215/2012).

A União Europeia era uma comunidade destinada à constituição de um Mercado Único e desde cedo concluiu
que para a criação de um mercado único era fundamental constituir um espaço comum de justiça. Qual o
meio através do qual se procurou promover este espaço comum de justiça? O meio foi o reconhecimento
recíproco das decisões dos diferentes Estados-Membros. A UE assentando na organização judiciária de cada
Estado-Membro procurou a solução de aquilo que viesse a ser reconhecido por decisão judicial de um
Estado-Membro pudesse valer igualmente em todos os demais. Tal implicava um regime assente em
determinados pilares: fixando regras de competência internacional e atribuindo efeitos jurídicos a este
reconhecimento de competências (quando uma decisão fosse proferida por um Estado-Membro competente
ao abrigo destes instrumentos comunitários, ela poderia circular com grande facilidade por todo o território
da União Europeia). Ex.: se ao abrigo destas competências, uma decisão for proferida por um Tribunal Polaco
ela podia ser reconhecida na ordem jurídica portuguesa. Inicialmente esta matéria, quando os órgãos
comunitários não tinham competência para o efeito, foi objeto de uma Convenção (Convenção de Bruxelas).
Quando a União Europeia passou a ter competência própria, o meio para o fazer deixou de ser a convenção
e passou a ser o Regulamento. Este regulamento, por um lado, abrange como ato normativo unilateral os
Estados-Membros com exceção de um 1 que é a Dinamarca.

Quais são as regras de competência previstas neste regulamento e os efeitos que são atribuídos a uma
decisão proferida por um Tribunal da ordem jurisdicional competente?

Nos termos do artigo 1º do referido Regulamento ele aplica-se a matéria civil e comercial (estes termos
devem ser interpretados no sentido do próprio regulamento e não de acordo com as ordens jurídicas
nacionais). Uma vez que na UE estão Estados com tradições jurídicas diferenciadas ao regulamento da UE
tendem a ser muito fundamentados de forma exaustiva. Por essa razão é importante este artigo 1º ao
especificar quais as matérias que não são abrangidas pelo regulamento, entre elas, questões relativas ao
estatuto pessoal, obrigações de alimento e direito das sucessões. Se articularmos este artigo 1º com o nº2
diremos que este regulamento tem em vista o direito privado patrimonial seja ele civil ou comercial. Já o
direito privado pessoal está fora do âmbito de aplicação.

Quando é que ele se aplica? Como é que se fixa a competência internacional da União Europeia no seu
conjunto como agregado de todos os Estados-Membros? A fixação da competência de cada ordem
jurisdicional é feita mediante 3 níveis de regulação:

(1) Competências exclusivas: sempre que o litígio incida sobre alguma das matérias constante do artigo
24º é competente o tribunal referido em qualquer uma dessas alíneas. Se não se verificar nenhum
destes fatores passamos para a próxima competência (residual)

(2) Competência residual: quando a parte demandada (réu) reside num determinado EM (artigo 4º, nº1
Regulamento). Não importa para tal efeito a sua nacionalidade (Ex.: alguém quer propor uma ação
de condenação contra alguém com nacionalidade argelina que reside em França. Ao abrigo deste
regulamento a União Europeia é competente na medida em que a ordem jurídica francesa é
competente porque aí reside a parte demandada. É esse Estado que poderá conhecer da causa).
(3) Competência especial (que é uma derivação do segundo): uma vez fixada a competência de um EM
pode a ação ser proposta em alternativa noutro EM quando se verifique alguma competência
especial nos termos dos artigos 7º ss.

Ex.: Imagine-se que se trata de um cidadão argelino que reside em Marrocos e que celebrou um
contrato que deve ser cumprido em Portugal. Ao abrigo deste regulamento a ordem jurídica
portuguesa é competente? Não, porque para se aplicar o artigo 7º tem que se aplicar o artigo 4º que
neste caso não se aplica.

Ex2.: Agora temos um argelino residente em Espanha que celebra um contrato que deve ser cumprido
em Portugal. Qual é a ordem jurídica competente? A ordem jurídica espanhola competente (artigo
4º) mas pode optar-se pela portuguesa (por força do artigo 7º).

Ex3.: Agora reside em Espanha, mas o contrato deve ser cumprido em Marrocos. A ordem jurídica
competente é a espanhola.

Este regulamento apenas determina qual o Estado-Membro competente, não determina dentro de cada
Estado-Membro qual o tribunal competente- para tal devemos considerar cada ordem jurídica interna. Se
a decisão vier a ser proferida por tribunal competente ao abrigo deste regulamento qual o seu valor
jurídico?

Prevê este regulamento que quando a decisão provenha do tribunal competente, ela é reconhecida em
qualquer outro Estado-Membro sem quaisquer formalidades (artigo 36º, nº1). Pode mesmo ser executada
sem necessidade de qualquer declaração (aquilo a que se chama exequátur- declaração que se deve obter
para que uma decisão estrangeira possa ser executada no nosso Estado, mas ao abrigo do artigo 39º do
regulamento não é necessária). Isto não significa que não devam ser observadas certas formalidades. Este
reconhecimento não é, contudo, absoluto. A parte interessada pode pedir a recusa do reconhecimento
(artigo 45º) ou a recusa da execução. O interessado é quem tem o ónus de infirmar o valor da decisão caso
nisso tenha interesse.

Regime muito parecido com o Regulamento Bruxelas I reformulado: Convenção de Lugano de 2007: Em
que consiste? No essencial é um regime idêntico ao Regulamento Bruxelas I reformulado, mas com as
seguintes particularidades: No plano subjetivo foi celebrado entre a União Europeia e a Dinamarca, Islândia,
Suíça e Noruega. É uma convenção que visa estender a lógica do regulamento a Estados que não estão
abrangidos pelo Regulamento, ora porque não participam neste regime de integração em matéria de
processo ora porque não fazem parte da União Europeia. Do ponto de vista objetivo tem a particularidade
de ser necessária uma declaração de exequátur (artigo 38º e 39º da Convenção).

E se estivermos fora do respetivo âmbito? Quando estivermos fora do âmbito de aplicação do DUE ou de
outros instrumentos internacionais relevantes, vale o disposto no CPC, nomeadamente, nos artigos 62º e
63º.

▪ ARTIGO 63º CPC: este artigo prevê a competência exclusiva dos tribunais portugueses. Quando se
verifique algum dos fatores de atribuição de competência do artigo 63º CPC não é necessária
nenhuma indagação adicional. Este artigo tem um conteúdo decalcado do artigo 24º do Regulamento
Bruxelas I reformulado.
▪ ARTIGO 62º CPC: Fora disto, serão competentes quando se verifique algum dos fatores de atribuição
de competência previsto no artigo 62º que prevê 3 hipóteses:

1) Princípio da coincidência (alínea a): as regras previstas internamente servem para delimitar a
competência internacional. Ex.: o artigo 80º, nº1 refere que se não houver nenhuma regra especial é
competente o tribunal do domicílio do réu. Esta norma é aproveitada para fixar competência
internacional

2) Critério da Causalidade (alínea b): quando o litígio que é objeto da ação tem uma relação com o
território português. Ex.: ação de investigação da paternidade em que a causa de pedir ocorreu em
Portugal. Os tribunais portugueses podem ter competência internacional uma vez que o
acontecimento que será objeto do reconhecimento ocorreu em Portugal

3) Princípio de necessidade (alínea c): quando não estejam verificados nenhum dos fatores atributivos
de competência ainda assim se conclua em concreto pela necessidade de tutela pelos tribunais
portugueses e haja uma conexão ponderosa.

A competência internacional pode resultar ainda de acordo das partes (PACTO DE JURISDIÇÃO). Conforme
dispõe o artigo 99º, nº1 CPC, as partes podem convencionar qual a jurisdição competente para dirimir um
litígio determinado, ou os litígios eventualmente decorrentes de certa relação jurídica, contanto que a
relação controvertida tenha conexão com mais de uma ordem jurídica. Se a contrário todos os elementos
de conexão apontarem para a ordem jurídica portuguesa o pacto de jurisdição não é admissível. Ex.: litígio
entre português, italiano cuja primeira residência comum foi Espanha, tiveram filho em França e agora
residem na Alemanha. Neste caso pode haver um pacto de jurisdição.

O pacto é atributivo quando concede competência a um tribunal ou a vários tribunais portugueses. É


privativo quando retira a competência a um ou a vários tribunais portugueses e a atribui exclusivamente a
um ou a vários tribunais estrangeiros. Por força do disposto no artigo 99º, nº2 CPC presume-se que a
competência atribuída aos tribunais estrangeiros é concorrente com a que cabe, por lei, aos tribunais
portugueses. Por isso, a atribuição de competência aos tribunais estrangeiros só tem valor como pacto
privativo, quando exclua a competência dos tribunais portugueses. Pode acontecer, porém, que as partes
identifiquem o tribunal português- ex.: se as partes atribuírem competência ao tribunal de Lisboa- estão a
celebrar um pacto de jurisdição (atribuindo competência ao tribunal português) e, ao mesmo tempo, um
pacto de competência interna, designando o tribunal competente de entre os tribunais portugueses.

2.1.2 COMPETÊNCIA INTERNA

ENQUADRAMENTO DO PROBLEMA
Depois de apurada a competência internacional dos tribunais portugueses, importa, no plano interno,
determinar o tribunal competente. Nos termos do disposto no artigo 60º, nº2, a jurisdição reparte-se, na
ordem interna, pelos diferentes tribunais segundo a matéria, a hierarquia, o valor da causa, a forma de
processo aplicável e o território.

Como é que se organiza a competência interna dos tribunais? Quando os tribunais judiciais portugueses no
seu conjunto sejam competentes para conhecer de determinada causa, qual será o tribunal concreto que a
irá conhecer? Servimo-nos de 5 fatores no artigo 60º, nº2:
(1) Hierarquia
(2) Matéria
(3) Valor
(4) Território
(5) Forma do processo

Vamos servir-nos do CPC, da LOSJ e ainda do DL que regulamenta a lei do sistema judiciário nº49/2014
(anexo 2). Vamos começar por distinguir vários níveis: nível superior constituído pelo Supremo Tribunal de
Justiça; o nível intermédio constituído pelos Tribunais da Relação e o nível base que é constituído pelos
tribunais de primeira instância.

Qual é a competência própria dos tribunais superiores? É de conhecer de recursos de decisões de tribunais
inferiores. Os Tribunais da Relação conhecem de apelações (recurso de apelação- artigo 68º CPC) e o
Supremo Tribunal conhece recursos de revista (artigo 69º CPC). Por um lado, também os tribunais de 1ª
instância nalguns casos conhecem recursos de decisões de julgados de paz e decisões de notários ou de
conservadores de registo (artigo 67º, nº1 CPC e 697º CPC- recurso extraordinário de revisão destina-se a
anular uma decisão judicial e substitui-la por outra e interpõe-se no tribunal da decisão a rever). Os tribunais
superiores que conhecem de recurso às vezes servem como primeira instância, nomeadamente, nos casos
especialmente previstos na lei (artigo 73º alínea b) e e) e para o STJ artigo 73º e 75º, alínea c) CPC). Se alguém
tiver uma sentença estrangeira que pretende que seja reconhecida em Portugal, deve pedir o
reconhecimento ao Tribunal da Relação.
Como é que funcionam os tribunais superiores? Encontram-se divididos em várias secções. No STJ temos
secções em matéria cível, em matéria penal e ainda a secção social que é para o âmbito do direito do
trabalho. Os Tribunais da Relação estão igualmente organizados por secções, mas além das referidas, pode
haver secção em matéria de família e menores, matéria de comércio e matéria de propriedade intelectual e
concorrência, regulação e supervisão. Temos 5 tribunais da Relação: Porto; Coimbra; Lisboa; Évora;
Guimarães.

Como é que se organiza a base do sistema judiciário em Portugal?

Ele assenta em duas opções: na definição de 3 tribunais de competência territorial alargada. A primeira
coisa que temos de ver é se ação cabe num tribunal de competência territorial alargada (artigo 33º, nº1
LOSJ), se não for a ação é tramitada nos tribunais da comarca. Quais é que são os tribunais de competência
territorial alargada? O Tribunal da propriedade Intelectual (artigo 83º, nº3 alínea a) e 111º LOSJ). Este
tribunal tem sede em Lisboa e tem competência sobre todo o território nacional (qualquer causa de
propriedade intelectual é conhecida por este tribunal). O Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão
(artigo 83º, nº3 alínea b) e 112º LOSJ). Quanto a este tribunal a sua competência respeita a recurso de
decisões de autoridade de regulação independentes (autoridade da concorrência, banco de Portugal;
autoridade dos transportes) tem competência sobre todo o território e tem sede em Santarém. Temos ainda
o Tribunal Marítimo (artigo 83º, nº3 alínea c) e 113º LOSJ). Tem competência em Lisboa, mas não é sobre
todo o território nacional, apenas continental e marítimo correspondente. As causas de direito marítimo
relativas à Madeira e Açores já não da competência deste tribunal e passarão para o tribunal da comarca.
Cada um destes tribunais quando profere decisão tem competência também para a executar (competência
declarativa e executiva). A estes 3 tribunais acrescem mais dois que é o Tribunal de Execução de Penas e o
Tribunal central de Instrução Criminal.
Quando uma ação não dá entrada num tribunal de competência territorial alargada ela é remetida para os
Tribunais da Comarca. A comarca é o nome tradicional da circunscrição base da organização do sistema
judiciário. Temos um conjunto de 23 Comarcas. Qual é a intenção do legislador? Quando nós tínhamos o
território distribuído por Comarcas coincidindo com todos os municípios significava que em cada comarca
teria de haver um juiz que tratasse da generalidade dos casos de direito criminal, direito civil, trabalho etc.
A ideia foi criar circunscrições maiores que permitissem dividir melhor as matérias. Dentro de cada comarca
haverá um desdobramento do tribunal em vários juízos para permitir equilíbrio entre especialidade e
proximidade, isto é, entre facultar que no seu âmbito possa haver juízes especializados para matérias muito
específicas, mas garantir que há proximidade. Na LOSJ quais são os tribunais que podem existir. Na sua
regulamentação prevê quais são aqueles efetivamente instalados.

Dentro da Comarca a competência do tribunal vai ser desdobrada em vários juízos. Esses juízos podem ter
competência especializada e são estes o juízo de família e menores (artigo 81º, nº3 alínea g) 122º a 125º) e
conhece de causas relacionadas com o estado familiar. Temos os juízos do trabalho (81º, nº3 alínea b); 126º
e 127º), os juízos do comércio (81º, nº3 alínea i) e 128º) e ainda os juízos de execução (alínea artigo 81º, nº3
j) e 129º) e tem competência para matéria executiva. Os 3 juízos anteriores executam as próprias sentenças.

Se não existirem estes juízos de competência especializada, a competência distribui-se entre os juízos
centrais cíveis e juízos locais cíveis (artigo 81º, nº2 alínea a) e 117º). Juízos centrais cíveis têm competência
para ações declarativas sobre a forma comum de valor superior a 50.000€ e para ações executivas com o
mesmo valor quando não haja juízo de execução e para procedimentos cautelares relacionados com as ações
anteriores. Os Juízos locais cíveis (81º, nº3 alínea b) e 130º) tem competência para as demais causas cíveis.
Pode ainda haver juízo central criminal, juízo local criminal, juízo local de pequena criminalidade e juízo de
instrução criminal. Se porventura a lei não separar o cível do criminal teremos um juízo de competência
genérica (em termos de competência civil é exatamente o mesmo que o juiz central cível, mas conhece ainda
matéria penal) - referidos no artigo 130º LOSJ.

Refere-se ainda a existência de juízos de proximidade (artigo 130º, nº5 e 6) que são instalações físicas onde
se podem praticar atos processuais. Significa que o tribunal está instalado noutro local, mas para praticar o
ato o juiz desloca-se para aí.
A lei de organização judiciária prevê possibilidades máximas de constituição de tribunais/juízes. Os concretos
juízos que venham a ser constituídos dependem de uma opção em sede de administração da justiça. Pode
optar-se por constituir mais ou menos de acordo com a parte do território de que se trata. Essa definição
de quais os concretos juízos estabelecidos é feita pelo DL nº 49/2014. Esse decreto-lei no anexo determina
para cada uma das 23 comarcas quais são os juízos existentes.

➔ COMPETÊNCIA TERRITORIAL

As regras previstas nos artigos 70º ss determinam qual de entre as 23 Comarcas existentes e dentro delas,
dos juízos constitutivos, o tribunal que pode tramitar a ação. A lei prevê fatores específicos de determinação
da competência territorial e um fator residual.

1. Ações respeitantes a direitos reais ou direitos pessoais sobre coisas imóveis e ainda relativas a
hipotecas (artigo 70º, nº1). Qual será o tribunal competente? O tribunal competente para questões
desta índole é o tribunal do lugar da situação da coisa, onde ela se encontra (chamado forum rei
sitae). Esta regra de competência é de conhecimento oficioso (artigo 104º, nº1 alínea a). Se houver
vários bens em causa é competente o tribunal onde se situa o bem de maior valor (70º, nº3)

2. Obrigações contratuais: a regra é da competência do tribunal do domicílio do réu (artigo 71º, nº1
primeira parte) - chamado forum rei. Contudo, a lei faculta uma alternativa, nomeadamente, o lugar
do cumprimento da obrigação em causa. Contudo, esta alternativa apenas se admite quando:

▪ O réu seja uma pessoa coletiva ou


▪ Autor e réu residam na mesma área metropolitana: devemos consultar a Lei nº75/2013 (em cujo
anexo 2 se prevê qual é o âmbito de cada uma das áreas metropolitanas). Artigo 104º, nº1 alínea a).

A regra supletiva do CC é a de que a prestação deve ser efetuada no domicílio do devedor (772º, nº1 CC).
Pela regra supletiva é igual, isto é, o domicílio do réu, contudo o CC prevê muitas regras especiais entre as
quais a do artigo 774º para obrigações pecuniárias em que o lugar do cumprimento é o domicílio do credor.

3. Responsabilidade civil extracontratual seja por factos ilícitos, seja pelo risco: Vale a regra de
competência constante do artigo 71º, nº2 que é de conhecimento oficioso (artigo 104º, nº1 alínea
e). O Tribunal competente será o do lugar em que ocorreu o facto- forum delicti commissi. Temos
duas questões que se podem levantar: e se se tratar de responsabilidade civil pré contratual? Parece
que se aplica a mesma norma, dado que ainda não há vínculo contratual válido e eficaz entre as
partes, dado que é o lugar que origina a responsabilidade que servira de fator para a atribuição da
competência. E se o facto lesivo ocorreu em vários lugares? Por analogia com outras normas
previstas na lei, será competente o tribunal onde ocorreram os factos mais relevantes, ou qualquer
tribunal no percurso pois qualquer um destes está relacionado com o litígio.

4. Ação de divórcio ou de separação: é competente o tribunal do domicílio do autor (artigo 72º CPC) -
chamado forum auctoris. Esta norma visa beneficiar o autor.

5. Foro sucessório: tratando-se de matéria sucessória é competente o tribunal da abertura da sucessão


(artigo 72º-A, nº1) - chamado forum hereditatis. O Tribunal da abertura da sucessão é o do último
domicílio de quem morreu (artigo 2031º CC).
Não se aplicando nenhuma das regras especiais vale a regra supletiva (artigo 80º, nº1) e é ela o domicílio
do réu. Se for o Estado, a ação pode ser proposta no domicílio do autor (artigo 81º, nº1). Se for uma pessoa
coletiva é o lugar da administração principal ou da sucursal, filial, delegação, representação caso a ação seja
contra ela (artigo 81º, nº2). Há entidades sem personalidade jurídica que têm personalidade judiciária, sendo
uma delas as sucursais, filiais, delegações (artigo 13º CPC).

E se o réu estiver domiciliado ou residir em país estrangeiro? A regra é de que é demandado no tribunal em
que se encontrar (artigo 80º, nº3). Se não se encontrar em território português, é demandado no domicílio
do autor (artigo 80º, nº3).

Quando haja uma pluralidade de réus ou uma pluralidade de pedidos: havendo vários réus a regra é que a
ação é proposta no tribunal do domicílio do maior número. Caso haja empate pode se escolher (artigo 82º,
nº1). Caso haja cumulação de pedidos, pode escolher-se o tribunal competente, a não ser que se aplique ao
caso algum fator de competência de conhecimento oficioso (nesse caso essa regra tem que ser respeitada-
artigo 82º, nº2). Se os pedidos estiverem em relação de prejudicialidade ou dependência, a ação é proposta
no tribunal em que se formou o pedido principal (artigo 82º, nº3).

Tal como acontecia no regime da competência internacional, também no caso da competência interna é
possível celebrar um acordo pelo qual se determina o tribunal competente (chamado pacto de
competência ou pacto de aforamento- artigo 95º CPC). Simplesmente são muito estranhos os limites em
que a lei consente este acordo, só sendo possível quando não esteja em jogo a competência em razão da
matéria, hierarquia, do valor da causa, sobrando apenas a competência territorial desde que não seja de
conhecimento oficioso. Se for acordado um pacto de aforamento fora dos limites legais é nulo (artigo 280º).
As partes podem querer artificialmente modificar o litígio que submete à aplicação do tribunal para
conseguir propor ação onde lhe convém (ex.: imagine-se que A tem litígio com B que reside no Porto e A
reside em Lisboa, mas não quer propor a ação no Porto. Propõe primeiro a ação contra C para que o tribunal
competente seja em Lisboa). Esta tentativa de desaforamento é ilícita e pode ser conhecida pelo tribunal
que condena o autor em multa e o obriga a indemnizar como litigante de má-fé (artigo 107º CPC)

FATORES QUE PERMITEM DETERMINAR EM CONCRETO QUAL O TRIBUNAL QUE PODE CONHECER DA CAUSA
O percurso lógico para determinar a competência é o seguinte:

1. Jurisdição: saber qual é a jurisdição competente. O fator que está em jogo é a matéria

2. Hierarquia: saber se é uma ação de 1ª instância ou se é da Relação ou Supremo. Temos que perceber
se a competência é dos tribunais de competência territorial alargada ou da Comarca (sendo os
critérios de aferição da competência a matéria e o território). Se for o Tribunal da Comarca temos de
ver qual (pois existem 23 comarcas). Dentro do Tribunal de Comarca temos que ver se há algum juízo
de competência especializada Juízo de competência especializada
• Juízo de comércio
Tribunal de
• Juízo de trabalho
Competência
• Juízo de família e menores
territorial alargada
• (Juízo de execução)
JURISDIÇÃO HIERARQUIA
Tribunais de Comarca QUAL?
Juízos centrais cíveis (valor +
forma de processo)
Juízos locais
cíveis/competência genérica
2.2 Modalidades de Incompetência

Se, na propositura da ação, não forem respeitadas as regras da competência, as consequências que daí
derivam dependem do tipo de violação. A lei distingue entre a incompetência absoluta e a incompetência
relativa. A incompetência absoluta corresponde à violação de normas de interesse e ordem pública e a
incompetência relativa à violação de meras normas de interesse e ordem particular. O regime da
incompetência absoluta tem, por isso, um tratamento mais severo do que o correspondente à
incompetência relativa.

2.2.1 Incompetência Absoluta

A incompetência absoluta corresponde à infração das normas de competência em razão da matéria e da


hierarquia e das regras de competência internacional. (artigo 96º, alínea a). Também se aplica quando se
viola um pacto privativo de jurisdição ou se pretira um tribunal arbitral (artigo 96º, alínea b)

1. Como é que ela pode ser conhecida? A regra é de que pode ser conhecida oficiosamente pela
gravidade das causas que estão na origem da incompetência absoluta (artigo 97º, nº1 CPC). A
exceção é tratar-se de um pacto privativo de jurisdição ou preterição de um tribunal arbitral
voluntário pois são ambos fundados na vontade das partes

2. Quando é que pode ser conhecida? A regra, dada a gravidade da incompetência absoluta, é de que
o tribunal pode dela conhecer até ao trânsito em julgado da decisão. A exceção é tratar-se de
incompetência em razão da matéria dentro dos tribunais judiciais. Quando assim ocorra só pode ser
conhecida até ao despacho saneador (artigo 97º, nº2). Ex.: imagine-se que temos um juízo local cível
a exercer uma competência do juízo de comércio. A regra é que só pode ser conhecida até ao
saneador. O momento previsto para o efeito é o despacho saneador (artigo 98º)

3. Quais os seus efeitos? A consequência da incompetência absoluta é o indeferimento liminar (caso


exista despacho liminar) ou absolvição do réu da instância (artigo 99º, nº1). A decisão tem valor de
caso julgado formal (artigo 100º CPC). Admite-se, contudo, que o autor requeira a remessa do
processo para o tribunal competente (artigo 99º, nº2) e o réu pode opor-se de modo justificado (por
exemplo, não pode exercer a defesa nos termos devidos). A violação das regras de competência
absoluta é sempre fundamento de recurso (artigo 629º, nº2 alínea a)

2.2.2 Incompetência Relativa

A incompetência relativa corresponde à infração das normas de competência fundadas no valor da causa,
na forma de processo aplicável, na divisão judicial do território ou do pacto de aforamento.

1. Como é que ela pode ser conhecida? A regra é de que a incompetência relativa deve ser suscitada
pelo réu (artigo 103º, nº1 CPC). Contudo, é uma regra sujeita a um enorme elenco de exceções. Nas
hipóteses previstas no artigo 104º, nº1 a violação das regras de competência relativa é de
conhecimento oficioso.

2. Quando é que ela pode ser conhecida? A regra é de que deve ser conhecida até ao despacho
saneador (artigo 104º, nº3) não o podendo ser posteriormente. Na incompetência absoluta deve ser
conhecida no despacho saneador, mas pode ser conhecida posteriormente.
3. Quais são os seus efeitos? No caso da incompetência relativa a decisão pelo qual o tribunal declara
a sua competência, uma vez transitada em julgado resolve definitivamente a questão (artigo 105º,
nº2). Definido qual o tribunal competente, o processo mantém-se com o próprio tribunal ou é
remetido para aquele que se defina com competência para a causa (artigo 105º, nº3).

Ex.: Imagine-se que um determinado tribunal (juízo local cível do Porto) entende que não é competente em
razão do território e define que o tribunal competente é o juízo local cível da Maia- o juízo local cível da
Maia pode voltar a suscitar a questão da competência? Não, por força do artigo 105º, nº2 CPC dado que a
decisão do primeiro tribunal transitado em julgado passa a ter força obrigatória. Dentro do processo já foi
decidia com força obrigatória.

Regime da violação da competência em razão da forma do processo: quid iuris caso o tribunal seja
incompetente por não ter competência para tramitar a forma de um processo? Sabendo que para repartir
a competência entre os juízos centrais e locais o legislador se serve do valor e que para o valor definiu que
valia o regime da incompetência relativa, então quando se serve do fator da forma do processo para repartir
a competência entre os mesmos tribunais deveremos aplicar o regime da incompetência relativa.

▪ CONFLITOS DE JURISDIÇÃO E DE COMPETÊNCIA

Encontra-se regulada esta matéria, quando se trate de conflitos de competência nos artigos 109º ss. Quando
se trate de conflitos de jurisdição há um diploma especial relativo ao chamado Tribunal de Conflitos- o
que é? É uma composição especial destinada a resolver conflitos entre os tribunais judiciais e os tribunais
administrativos e fiscais.

4. Marcha Processual/ Fases do Processo

O processo civil serve-se de uma construção, a chamada relação processual que é a relação que se dá entre
o autor, o réu e o Tribunal (relação de ação; relação de contradição e relação material controvertida). Esta
relação processual está sujeita a requisitos de admissibilidade que são os pressupostos processuais. Só se
eles estiverem verificados é que o Tribunal avança para o mérito. Os pressupostos processuais são
pressupostos para que esta relação se mantenha.

RELAÇÃO PROCESSUAL

TRIBUNAL
ADMISSIBILIDADE
MÉRITO

Relação material controvertida


AUTOR RÉU
A marcha processual vai regular o conjunto de atos desde a iniciativa do autor até à prolação da sentença.
O processo vem do verbo latino “marcha para a frente” desde a petição inicial até ao momento conclusivo
com uma sequência de atos articulados que permitam resolver a controvérsia. Deste ponto de vista o
processo constitui uma técnica, um método para resolver conflitos intersubjetivos. Podemos dizer que o
processo é esta sequência ordenada e concatenada de atos no sentido de que os atos posteriores se filiam
nos atos anterior que permitam de modo progressivo habilitar o tribunal a apresentar o seu entendimento
sobre uma controvérsia e decidi-la. Para o fazer, o processo está organizado em diferentes fases, cada uma
com a sua finalidade particular.

 Artigos 546º e 547º CPC (formas do processo). O processo em concreto é resultado de duas coisas:
(1) de uma forma geral e (2) de uma adequação concreta. A lei processual oferece e prescreve ao
juiz e às partes um modelo típico para resolver a controvérsia, mas esse modelo geral pode, quando
se justifique, ser concretamente adaptado em função das particularidades da causa (artigo 547º CPC).
Temos uma forma geral que funciona em imensos casos e quando há necessidade ela pode ser
adequada em concreto (pois pode surgir casos que exijam algumas particularidades).

4.1 Formas de Processo existentes

O legislador distingue o processo comum e o processo especial. O processo comum pode ser declarativo
ou executivo (artigo 548º e 550º respetivamente). O processo de declaração no direito português tem forma
única (artigo 548º CPC). Além deste, há processos especiais que estão regulados quer no CPC (livro V- artigo
878º ss) quer em legislação extravagante (ex.: no âmbito da família há uma série de processos no regime
jurídico do processo tutelar cível; processo de insolvência; regime das AECOP- ação especial para
cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes do contrato de valor não superior a 15.000€, sendo que
estão reguladas num diploma autónomo, precisamente, DL nº 269/98). Por vezes, ao regular os processos
especiais a lei prevê apenas um artigo ou dois, são apenas ajustes na medida do necessário (artigo 549º,
nº1). Ao estudarmos o processo comum estamos a estudar grande parte do que se aplica aos processos
especiais só que a título subsidiário e não principal.

Até 2013 havia 3 formas da ação declarativa: forma ordinária, forma sumária e forma sumaríssima. Em 2013
unificaram-se as formas, mas a lei continua a prever algumas adaptações da forma única para casos de
maior simplicidade. Nas ações até 15.000€, prevê a lei de modo especificado, que o juiz agilize o processo
caso haja nisso conveniência (artigo 597º, alínea b). Nas ações de valor até 5.000€ há (511º, nº1 parte final
e 604º, nº5 in fine).

Quais são as fases da forma de processo comum e a que é que se destinam?

1. Fase dos Articulados: são os atos processuais das partes mediante os quais se formula o pedido com
os respetivos fundamentos e se apresenta a defesa. Estão regulados nos artigos 552º ss CPC. Destina-
se a colocar o litígio à apreciação do tribunal. Quem são os protagonistas desta fase? São as próprias
partes, sendo que o juiz em princípio não intervém.

2. Fase da gestão inicial do processo ou condensação e saneamento: serve para controlar a


regularidade da ação e para verdadeiramente compreender o litígio e aquilo que carece de resolução
para que ele possa ser decidido. É protagonista desta fase o juiz e as partes. O juiz pode dialogar com
as partes por forma a compreender melhor, através dos seus mandatários, o sentido da controvérsia.
Nesta fase o juiz procura saber se pode decidir (pressupostos processuais) e o que deve decidir. Que
atos é que se praticam? Temos a audiência prévia e termina com o despacho saneador. O juiz depois
de identificar a controvérsia vai indicar quais são as matérias controvertidas, factuais que devem ser
estabelecidas para uma decisão.

3. Fase da instrução: há atos de instrução (prova) que são praticados em momento anterior do
processo. Há outros que são nesta altura, nomeadamente, a inquirição de testemunhas. Esta fase
permite ao juiz formar a sua convicção probatória.

4. Fase de discussão e julgamento: em princípio tem lugar na audiência final. Destina-se a que as partes
possam fazer as suas alegações em função da prova que produzirem e ao juiz permite formular o seu
juízo sobre a causa. Intervém nesta fase o juiz e as partes.

5. Fase da sentença: já só tem um interveniente que é o juiz. Destina-se a que o juiz espelhe o seu
entendimento quanto à controvérsia e responda ao pedido.

Quando a decisão se torna insuscetível de recurso dá-se o caso julgado. O caso julgado material tem força
obrigatória dentro e fora do processo (artigo 619º CPC).

Que tipo de decisões pode o juiz tomar? Pode suprimir atos processuais dispensáveis em concreto (ex.:
imagine-se que não é necessário fazer qualquer prova. Não vai haver audiência de discussão). Se há um ato
previsto em geral que não tem utilidade o juiz pode suprimir. Pode o juiz incluir novos atos processuais que
em concreto mereçam ser tramitados autonomamente (ex.: o autor depois de apresentar petição inicial,
segue-se a contestação do réu sendo uma das formas de defesa a defesa por exceção e tem de ser dada ao
autor a possibilidade de contraditar o réu. De acordo com o artigo 3º, nº4 esta resposta é feita no início da
audiência prévia sobre forma oral. Agora imagine-se que a parte do articulado do réu com exceções tem por
exemplo a dimensão de 50 páginas e o autor pretende responder. Será um meio apropriado responder
oralmente a 50 páginas de exceções? O juiz pode adaptar o processo e percebendo a complexidade da
contestação pode definir que a resposta será por escrito). A adequação formal pode ter por modalidade a
aplicação de formas processuais previstas para uma forma de processo a outra forma de processo, isto é,
pode assentar na combinação de formas de processo (combinação de formas de processo). O intuito da
adequação formal é adaptar a forma geral prevista na lei respeitando o seu sentido fundamental às
circunstâncias do caso, não é afastar o regime geral por discordância com o seu sentido.

O artigo 547º CPC prevê como padrão para que se possa fazer a adequação formal, o respeito pelas
exigências de um processo equitativo (aponta para a ideia de razoabilidade) e impõe que se dê às partes a
possibilidade de se pronunciarem (artigo 6º, nº1 CPC). Em princípio, a decisão de adequação formal é
irrecorrível, a não ser que atente contra princípios fundamentais do direito civil (artigo 630º, nº2). Em
termos processuais o momento em que esta decisão vai ser aprovada é na gestão inicial do processo. O juiz
depois de confrontar os articulados das partes, conclui pela conveniência de uma adaptação da forma
processual geral para aquele processo em concreto e na audiência prévia coloca estas questões à apreciação
das partes por intermédio dos seus mandatários para programar as fases subsequentes do processo (artigo
591º, nº1 alínea e).

O que alimenta o processo são atos. Estas grandes fases concretizam-se em diferentes atos processuais que
são atuações humanas dirigidas intencionalmente à produção de efeitos processuais. O processo, portanto,
assenta em comportamentos humanos. Sem eles, o processo não se desenvolve (se o autor não pedir, se a
secretaria não citar, se o juiz não notificar as partes etc. o processo não avança). Como é que a lei processual
enquadra os atos? Esta matéria é regulada nos artigos 130º ss CPC.

ARTICULADOS GESTÃO INICIAL INSTRUÇÃO DISCUSSÃO

COMUM

FORMA PROCESSUAL SENTENÇA


ESPECIAL

ADEQUAÇÃO FORMAL

5. Atos Processuais

Qual é o princípio fundamental em matéria de atos processuais? É o de que não se deve praticar qualquer
ato que a lei não admita e não se deve omitir nenhum ato que a lei prescreve. Quando se pratica um ato que
a lei não admite ou se omite um ato que a lei prescreve a consequência é que surge uma nulidade processual
(artigo 195º, nº1 CPC). Este princípio de que não se deve praticar nenhum ato que a lei proíba, significa que
o juiz deve praticar todos os atos a que a lei obriga desde que em concreto eles sejam úteis (artigo 130º
CPC). Isto é, só surge uma nulidade processual quando há uma desconformidade em concreto entre aquilo
que devia ou não devia ser praticado e aquilo que efetivamente ocorreu.

Estes podem ser praticados quer pelas partes (artigos 144º ss CPC) sendo que normalmente no processo
civil as partes agem por intermédio dos seus mandatários e podem ser praticados pelo juiz (artigos 150º ss
CPC) e podem ser praticados pela secretaria que integra o próprio tribunal (artigos 157º ss CPC). Estes são
os principais sujeitos que podem tramitar atos processuais.

Quanto ao tempo para a prática dos atos: o regime quanto ao tempo consta do artigo 137º CPC. A regra
geral é de que com a ressalva dos atos praticados sobre forma automática, não se praticam atos nos dias em
que os tribunais estão encerrados, nem durante o período de férias judiciais.

Quanto ao lugar para a prática dos atos: os atos podem ser presenciais ou podem ser não presenciais (artigo
142º). Os atos presenciais têm princípio e lugar no Tribunal, mas podem ter lugar noutros espaços. É possível
atos presenciais fora do tribunal quando tal seja conveniente (ex.: imagine-se que temos uma ação de
demarcação que é para o tribunal declarar onde é que termina um prédio e começa outra e que se quer ouvir
testemunhas a respeito dos fins de cada um dos prédios. O lugar mais apropriado será no próprio espaço que
está a ser demarcado e não propriamente no Tribunal). A forma dos atos determina-se pelo tempo em que
eles são praticados (artigo 133º, nº1). Não falantes da língua portuguesa podem exprimir-se na sua língua
própria. Os atos podem corresponder a pré-atos. Mesmo que atos não sigam pré-atos o normal é adotarem
certas práticas usuais de estilo. Ainda que não haja modelo oficial para uma petição inicial elas normalmente
seguem certas formas tradicionais que vão sendo repetidas pelos mandatários judiciais.

Os atos podem ser escritos, podem ser orais e podem ser mesmo materiais (podem consiste apenas num
comportamento- ex.: penhora de um bem. O ato é material. O agente de execução com os seus auxiliares
toma posse física sobre a coisa). Independentemente de qual é a índole do ato ele deve ser registado no
próprio processo. No caso de atos orais que são relevantes, nomeadamente, na audiência final em que os
diferentes intervenientes participam pela voz prevê-se a respetiva gravação (artigo 155º, nº1). Noutros atos
presididos pelo juiz, mesmo que não haja gravação o ato deve ser documentado em ata (artigo 155º, nº7).

Os atos processuais estão sujeitos a prazo que pode ser legal ou pode ser judicial (quando fixado por
despacho do juiz). Podem ser dilatórios (139º, nº2) ou perentórios. O prazo dilatório é um prazo que adia o
momento para a prática de um certo ato ou início da contagem de um outro prazo (ex.: prazo para contestar
é de 30 dias, mas se a citação for feita em pessoa diferente do réu acrescem 5 dias). O prazo perentório
(artigo 139º, nº3) uma vez decorrido extingue o direito a praticar o ato. Quando nós temos um prazo dilatório
e perentório, os dois contam-se como um só (artigo 142º).

Temos uma exceção que é a de se poder praticar o ato nos 3 dias subsequentes ao termo do prazo mediante
o pagamento de multa (artigo 139º, nº5) ou ter havido justo impedimento à prática do ato (artigo 140º). Ex.:
imagine-se que é um ato processual que deva ser praticado por via eletrónica e que há uma falha geral
durante vários dias do sistema de comunicação à distância. Não é imputável à parte, mas impediu de
respeitar em tempo a preclusão que está prevista na lei. A lei prevê igualmente regras supletivas: para as
partes, se a lei anda disser quanto a um certo ato entende-se que tem 10 dias para o praticar (artigo 149º).
Para o juiz, tratando-se de despacho judicial tem 10 dias. Se for ato de mero expediente tem 2 dias (artigo
156º, nº2). Para a secretaria o prazo é de 5 dias (artigo 152º, nº1).

6. O regime das nulidades processuais

O processo civil é uma sequência ordenada e concatenada de atos. Os atos pressupõem os anteriores e são
pressupostos dos posteriores. Daqui resulta um regime específico de nulidades processuais. Esse regime
consta dos artigos 186º ss. Quid iuris caso algum desses atos seja inválido? Estaremos perante uma nulidade
quando se pratique um ato indevido ou se omita um ato devido e essa ilegalidade possa ter influência na
apreciação da causa- artigo 195º, nº1. Quando assim aconteça é necessário apurar quem pode arguir a
nulidade e quais os seus efeitos.

(1) Quem é que pode arguir a nulidade? A regra é de que a nulidade processual é apenas invocável por
quem seja interessado na observância da formalidade, na repetição do ato ou na sua eliminação
(artigo 197º, nº1 CPC). De todo o modo, o tribunal pode conhecer oficiosamente das nulidades
processuais nos casos previstos no artigo 200º CPC.

(2) Quando é que se pode conhecer da questão da nulidade? Caso se trate de uma falta de citação, que
é uma nulidade grave ela pode ser conhecida em qualquer momento do processo enquanto não
estiver sanada (artigo 198º, nº2). Caso se trate de nulidade por ineptidão da petição inicial ou erro
na forma de processo, só pode ser arguida até à contestação (artigo 198º, nº1). Nos demais casos, a
regra é de que a nulidade deve ser suscitada na primeira oportunidade que exista, ou seja, se for um
ato que se encontra a decorrer, a nulidade deve ser suscitada enquanto o ato não terminar.

(3) Efeitos da nulidade: uma vez que o processo é uma sequência ordenada e concatenada de atos isso
significa que quando um ato é anulado tal repercute-se sobre os atos subsequentes que dele
dependam. Ex.: imagine-se que o processo já está a chegar à fase da sentença, mas o juiz apercebe-
se que o réu não foi citado. Vai ser tudo eliminado. Esta regra de que quando um ato é anulado se
anulam os atos que dele dependam consta do artigo 195º, nº2 CPC. Quando há uma determinada
nulidade anulam-se os atos posteriores.
7. Fase dos Articulados

Qual é a forma processual do processo comum de declaração? O processo comum de declaração tem várias
fases. A primeira fase é a fase dos articulados. Depois temos a fase da gestão inicial do processo, a audiência
(onde tem lugar uma parte importante da instrução e a discussão e julgamento). Quando terminar a
audiência está o juiz pronto para proferir sentença.

Em termos gerais quais são os atos praticados na fase dos articulados? Temos atos praticados pelas partes
(autor e réu) e pelo Tribunal mediante dois órgãos, nomeadamente, a secretaria e o juiz. O primeiro ato é a
petição inicial (que é o ato pelo qual o autor submete um pedido contra alguém com certo fundamento à
apreciação do Tribunal: primeiro articulado). O segundo ato é da secretaria, nomeadamente, o recebimento
da petição inicial e se ela for recebida, a secretaria, via de regra, procede à citação do réu (rigorosamente a
secretaria dirige este processo). Casos há em que antes da citação o juiz procede ao despacho liminar, ou
seja, em que antes da citação, imediatamente a seguir ao recebimento da petição inicial o juiz procede uma
decisão que pode ser de indeferimento liminar ou de citação do réu. Ato subsequente é a contestação (o
réu tem a possibilidade de contestar, mas pode não o fazer). A contestação é o segundo articulado. O réu
pode pretender não apenas contestar (isto é, opor-se ao pedido do autor), mas fazer um pedido contra o
autor (reconvenção). A reconvenção é feita no próprio momento da contestação, mas numa parte separada,
sendo eventual. Havendo reconvenção é necessário que o autor responda, fazendo-o na réplica. Para além
da fase dos articulados poderemos ter os chamados articulados supervenientes.

Nesta fase do processo, os grandes/protagonistas são o autor e o réu. Em princípio, o juiz não intervém
porque o despacho liminar em princípio não tem lugar e quando o tribunal intervém é apenas para colocar
autor e réu em contacto.

PETIÇÃO
RECEBIMENTO
INICIAL
AUTOR CONTESTAÇÃO
DESPACHO LIMINAR
RECONVENÇÃO

RÉPLICA

A que é que se destina a fase dos articulados? Destina-se essencialmente a constituir a relação processual
que a lei designa de instância. De facto, é nesta fase que ficam definidos todos os elementos fundamentais
caracterizantes desta relação entre as partes. O primeiro elemento que fica definido são as próprias partes.
É parte o autor que apresenta a petição inicial (artigo 259º, nº1 CPC) e é parte aquele contra quem o autor
age (o réu). Em relação ao réu a instância só é eficaz a partir do momento em que é citado (artigo 259º, nº2
CPC). O segundo elemento que fica definido é o objeto do litígio. A partir do regime que a lei traça para a
exceção de litispendência e exceção de caso julgado (artigos 580º 581º e 619º) vemos que o objeto do litígio
é delimitado a partir de 3 fatores: (1) as próprias partes (2) pedido e (3) a causa de pedir. Todos estes
elementos são apresentados nesta fase dos articulados. A estes devemos acrescentar elementos que não
integrando o objeto do litígio devem ser conhecidos pelo Tribunal que são os fundamentos de defesa
apresentados pelo réu. O terceiro elemento é o próprio tribunal. A partir da fase dos articulados há um
tribunal que passa a tramitar a ação e que pelo menos tem competência para conhecer da própria
competência, podendo aceitá-la ou recusá-la. Dentro do Tribunal, o processo será atribuído a um concreto
juiz através de um ato que se chama distribuição. A partir do momento em que o processo é distribuído, há
uma pessoa concreta/determinada com poder jurisdicional. Este poder vai manter-se até à sentença (artigo
613º, nº1 CPC). O poder jurisdicional vai se perdendo à medida em que vai sendo utilizado, ou seja, se o juiz
tomar uma decisão no decurso da ação, ele perde o poder quanto a essa questão. Sempre que o juiz toma
uma decisão na presença de ambas as partes, já não pode mais nenhuma vez voltar a conhecer da mesma
questão. O artigo 613º CPC no nº3 determina que este regime vale também para os despachos que o juiz
profira. Sempre que o juiz decide (despacho) perde o poder correspondente.

Porque é que esta fase assim se designa? Esta designação “articulado” é a designação que se dá às peças
processuais que apresentam os fundamentos da ação ou da defesa (artigo 147º, nº1) ou seja, petição inicial,
contestação e réplica. Conforme decorre do artigo 147º, nº2 CPC é obrigatório, na fase dos articulados que,
havendo mandatário, os factos que interessem à causa sejam apresentados por artigos, significa apresentar
os diferentes factos de forma numerada e segmentada. Estas peças processuais são transmitidas por via
eletrónica (artigo 144º, nº1 CPC).

7.1 Petição Inicial

A petição inicial é o articulado em que o autor propõe a ação, formulando a tutela jurisdicional
pretendida, para o que terá de expor os respetivos fundamentos de facto e de direito. O tribunal não
pode resolver o conflito de interesses sem que tal lhe seja pedido pela parte.

É através dele que o autor submete o litígio à apreciação do tribunal e é ele que expressa o princípio do
pedido que é uma manifestação do dispositivo (artigo 3º, nº1 CPC). Sem este impulso do autor, o processo
não pode ter início. O processo civil não se inicia de um modo inquisitório, mas apenas mediante um impulso
processual das partes. Justamente por ser o primeiro ato do processo, é por ele que a lei processual começa
a regulação do processo comum (artigo 552º CPC). Se a petição inicial é o ato que inicia a ação, então a partir
dela considera-se que a ação está pendente (artigo 259º, nº1 CPC), mesmo que ela só produz efeitos em
relação ao réu aquando da respetiva citação (artigo 259º, nº2) Se é a partir deste momento que se considera
a ação iniciada, então, a partir de então, considera-se impedida a caducidade de um determinado direito
(artigo 331º, nº1 CC). Uma ação que for proposta no último dia impede a caducidade, mesmo antes da
citação do réu. O impulso ocorre quando a petição inicial é apresentada. Deve constar da petição inicial o
enunciado no artigo 552º, nº1/2/3 CPC.

Como já vimos antes, é próprio da fase dos articulados delimitar o litígio submetido à apresentação do
Tribunal. Estas várias alíneas destinam-se a essa mesma apresentação. Se o Tribunal para conhecer da
controvérsia está dependente do impulso processual das partes, isso significará que o respetivo poder
jurisdicional tem por limites aquilo que as partes colocaram à sua apreciação (o tribunal não pode ir além
do pedido ou dos fundamentos de defesa apresentados pelo réu. Não pode ir além, mas também não pode
ficar aquém). A função do magistrado é uma função ministerial, está ao serviço das partes, da resolução da
sua controvérsia e deve conhecer de tudo o que as partes lhe submetem (artigo 608º, nº2 CPC) sem ir além
ou ficar aquém desse âmbito. Se tal acontecer, a sentença pode ser nula (artigo 609º, nº1 CPC). A
delimitação do litígio é feita logo na fase dos articulados e tem como limite as partes, o pedido e a causa
de pedir:

(1) PARTES: na própria petição inicial, o autor deverá designá-las e igualmente designar quem é o seu
mandatário judicial e ainda o tribunal (artigo 552º, nº1 alínea a) CPC). O autor deve designar estes
elementos para facilitar a prática do ato subsequente que é a citação do réu. Se indicar, desde logo,
o domicílio do réu ou o seu local de trabalho, facilita a identificação do lugar em que se realizará a
citação. E caso o autor não conheça o paradeiro do réu? Quando assim ocorra o autor deve designar
o réu como ausente em parte incerta (artigo 236º, nº3 CPC). O autor deve indicar ainda o seu
mandatário judicial (artigo 552º, nº1 alínea b) - apenas se o tiver). Quando indicar o mandatário
judicial, deve juntar a procuração forense mediante a qual atribua poderes a esse mandatário. A
partir destes elementos são identificados os sujeitos da relação processual (O Tribunal e as partes.
As partes serão aquelas pessoas que estão sujeitas aos efeitos da decisão. O tribunal é o agente da
decisão, é quem decide e as partes são os sujeitos sobre quem se repercute a decisão). No confronto
com as partes indicadas já se pode aferir da verificação de um amplo conjunto de pressupostos
processuais, nomeadamente, personalidade e capacidade judiciária, representação judiciária,
patrocínio e legitimidade. Na indicação do tribunal já se consegue aferir do pressuposto da
competência, sabendo nós que pelo menos será competente para declarar a sua competência.

(2) PEDIDO: na petição inicial o autor formula o pedido (artigo 552º, nº1 alínea e) CPC). O pedido é o
que concretiza aquilo que é pretendido pelo autor contra o réu. Uma sentença não é uma dissertação
jurídica, mas uma resposta ao próprio pedido. Qual é a consequência de uma sentença não
responder ao pedido? A sentença é nula. E caso o pedido não esteja suficientemente concretizado?
Aqui teremos que distinguir duas situações: se o tribunal não conseguir compreender o próprio
pedido, ele será considerado inepto (vício da petição inicial). Quando, pelo contrário, haja apenas
alguma deficiência na formulação, isto é, o tribunal consegue compreender, mas ela não está
claramente explicada, o tribunal deve convidar o autor a concretizar ou individualizar o pedido (artigo
590º, nº4 CPC) - convite ao aperfeiçoamento. Quando se sirva desta possibilidade deve dar ao réu a
possibilidade contraditória.

(3) CAUSA DE PEDIR: artigo 552º, nº1 alínea d) primeira parte CPC. A causa de pedir são factos. Como é
que o autor sabe quais os factos que deve indicar? O autor deve enquadrar juridicamente o caso,
identificar quais são as possíveis normas jurídicas que permitem garantir a procedência do pedido.
Tendo presente estas normas eventuais, indica os factos que permitem desencadear a sua aplicação.

Ex.: imagine-se que uma pessoa (Réu) incumpriu um contrato com A (Autor). Podia uma ação ser
proposta assim? A propõe ação contra o réu porque ele incumpriu um contrato e pede-se a condenação
em 10.000€. Não pode fazer assim porque não há aqui nenhuma descrição factual. O autor deve
descrever os factos que permitem desencadear, por exemplo, a aplicação do artigo 798º CC.

Cada norma jurídica tem uma dupla estrutura, tem uma previsão e uma estatuição. Se acontecer a
previsão, então aplica-se a estatuição (consequência). Se o autor quer determinada consequência deve
descrever os factos que permitir a aplicação dessa consequência. Num caso contratual, deve descrever
os factos que deram origem ao contrato, as vicissitudes que ocorreram. Para descrever a causa de pedir
podemos recorrer ao artigo 581º, nº4 CPC. Da mesma fora que o autor deve indicar os factos, deve
indicar as razões de direito que servem de fundamento à ação. As razões de direito são o enquadramento
jurídico. Enquanto no que respeita aos factos o tribunal deve abster-se (artigo 5º, nº1) já quanto ao
enquadramento jurídico o tribunal pode oferecer uma solução diferenciada (artigo 5º, nº3 CPC). As
partes têm de dar os factos, mas o tribunal é livre de dar o direito. Isto significa que é irrelevante as
partes apresentarem as razões de direito? Não, não significa isso. Embora o tribunal não esteja adstrito
às razões apresentadas pelas partes, é altamente conveniente que as partes apresentem de modo
competente o enquadramento jurídico que entendem mais ajustado de forma a convencer o tribunal e
forçar o tribunal a pronunciar-se sobre essas mesmas razões.
OUTROS ELEMENTOS APRESENTADOS NA PETIÇÃO INICIAL

Além daqueles elementos fundamentais, a petição inicial deve indicar a forma do processo (552º, nº1 alínea
c) CPC) que pode ter efeitos em termos de competência, deve indicar o valor da causa (artigo 552º, nº1
alínea f) CPC) deve indicar agente de execução ou mandatário judicial que procedam à citação quando se
tenha optado por estas possibilidades (artigo 551º, nº1 alínea g) CPC) e deverá ainda acrescentar o rol de
testemunhas e requerer outros meios de prova (artigo 552º, nº6 CPC). O artigo 423º, nº1 refere que deve
ser feita prova documental quando exista, dos factos alegados na petição inicial. Estes elementos poderão
ser modificados posteriormente nos termos que depois estudaremos quando estivermos na fase de
instrução. Na petição inicial deve ainda ser feita prova do pagamento da taxa de justiça (artigo 552º, nº7
CPC).

COMO SE CALCULA O VALOR DA AÇÃO?


Dispõe o artigo 552º, nº1 CPC que o autor deve declarar o valor da causa. O valor da causa é determinado
nos termos dos artigos 296º ss CPC. Quais são as regras fundamentais? O valor da causa procura traduzir
numa grandeza pecuniária a utilidade da ação (artigo 296º, nº1 CPC) e interessa para vários efeitos,
nomeadamente, para efeitos de competência, para efeitos de recurso, de patrocínio judiciário etc. Este valor
é fixado no momento da propositura da ação (artigo 299º, nº1 CPC).

 Quantia em dinheiro: se se pedir uma quantia em dinheiro o valor da causa é essa mesma quantia
(artigo 297º, nº1 CPC)

 Se estiver em causa a apreciação do valor ou do cumprimento de um ato jurídico: atende-se ao


valor do seu objeto tal como determinado pelas partes (artigo 301º, nº1 CPC). Ex.: imagine-se que
está em jogo a entrega de um automóvel que vale 10.000€ e foi prometido vender por 7.000€. O valor
da causa será 7000€

 Se estiver em jogo o direito de propriedade ou divisão de coisa comum: será o valor da coisa- artigo
302º, nº1/2 CPC.

 Se estiver em jogo o estado de pessoas ou interesses materiais ou difusos: valor da alçada da ação
mais 1 cêntimo (artigo 303º, nº1 CPC).

 Se houver pluralidade de pedidos: deve somar-se os valores (artigo 297º, nº2) e no caso de pedidos
alternativos deve considerar-se o de maior valor. No caso de pedidos subsidiários deve considerar-
se o primeiro pedido (artigo 297º, nº3 CPC).

O valor é indicado pelo autor, mas o réu pode impugnar (artigo 305º, nº1 CPC). Quem fixa o valor é o juiz
no despacho saneador (artigo 306º, nº1 CPC). Isto significa que as partes não podem artificializar o valor.
Mesmo não havendo impugnação do réu, o juiz pode oficiosamente corrigir o valor da causa. Esta alteração
foi feita pela lei para evitar que as partes colocassem a causa com um valor superior ao real. Quando há
impugnação do réu teremos aqui uma mini controvérsia entre o autor e o réu. Como é que se chama isto em
termos processuais? São os incidentes (correspondem a micro-controvérsias que surgem no decurso de uma
causa que normalmente não tem lugar, mas que quando ocorrem têm de ser decididas pelo juiz) O regime
geral dos incidentes consta dos artigos 292º a 295º CPC. Quando haja uma destas microquestões, o juiz
recorre a estas disposições que no essencial limitam as possibilidades de atuação processual das partes. O
juiz competente para a causa é competente para conhecer de todas as questões incidentais que nela se
coloquem, em regra (artigo 91º, nº1 CPC).
7.1.1 Vícios da Petição Inicial

Além dos termos gerais, a petição inicial poder enfermar de vícios decorrentes de não observar a lei do
processo. Há um vício de especial gravidade que a pode atingir designado vício de ineptidão (nulidade
principal). A ineptidão da petição inicial está regulada no artigo 186º CPC e consiste em a petição inicial ser
inapta, isto é, não reunir condições bastantes para poder fundar uma ação a ponto que, por decorrência,
todo o processo seja nulo (artigo 186º, nº1 CPC).

Se o primeiro ato do processo é inapropriado para o fundar, e se o processo é uma sequência ordenada e
concatenada de atos, então caindo o primeiro ato cai tudo o resto (consequência do princípio do pedido).
Quando é que a petição inicial é inepta? Responde-nos o artigo 186º, nº1 alínea a) ao referir que é inepta
quando falte, ou quando não seja inteligível o pedido ou a causa de pedir (se faltar pedido ou causa de
pedir, o tribunal não consegue perceber qual é a controvérsia que tem de decidir). Outro caso em que a
petição inicial é inepta é quando o pedido esteja em contradição com a causa de pedir (ex.: imagine-se que
alguém, afirmando que exerce poderes de facto sobre uma coisa pede a sua restituição. É incompatível pois
está a pedir que seja restituído aquilo que já tem). Quando se cumulem causas de pedir ou pedidos
substancialmente incompatíveis (ex.: o autor pede ao tribunal que reconheça a resolução do contrato e a
condenação do réu a cumprir as obrigações dele emergentes. Não é possível, pois a resolução do contrato
extingue os efeitos primários do contrato, não havendo dever de prestação da prestação principal).

Como podemos ver, só em casos de enorme gravidade é que se aplica o regime da ineptidão da petição
inicial. Trata-se de um vício que, contudo, é desconsiderado se o réu tiver compreendido a petição inicial,
apesar deste ter sido indevidamente formulado (artigo 186º, nº3 CPC). É uma nulidade principal de
conhecimento oficioso que se houver despacho liminar pode ser conhecida logo nesse momento, caso
contrário será conhecido no momento do despacho saneador (artigo 200º, nº2 CPC). Se houver ineptidão
da petição inicial o juiz anula todo o processo (artigo 187º CPC) e absolve o réu da instância (artigo 268º,
nº1 alínea b) CPC).

A petição inicial é apresentada sendo dirigida ao Tribunal. A primeira entidade/primeiro órgão que contacta
com a petição inicial é a secretaria. A secretaria pode fazer um primeiro controlo de regularidade da petição
(artigo 558º CPC) podendo recusar a petição inicial quando ela padeça de algum dos vícios ou irregularidades
constantes do artigo 558º, nº1 CPC. São sempre questões de carácter formal (ex.: omitir identificação das
partes, não indicar a forma do processo etc). Aquilo que se pretende é que a secretaria profira algum juízo
substantivo, que confrontando do ponto de vista formal aquele documento, veja se ele tem pelo menos
aparentemente, aqueles elementos que a lei exige. É um controlo de índole formal.

A distribuição que é a atribuição do processo a um dos vários juízes de um tribunal, deverá seguir critérios
de aleatoriedade como forma de salvaguardar a independência do Juiz para que não seja escolhido um juiz
para as particularidades da causa. Esse juiz terá poder jurisdicional até ao fim da causa (prolação da
sentença). Esse juiz, normalmente, intervém apenas após o termo da fase dos articulados. Contudo, nos
casos previstos no artigo 226º, nº4 CPC, a intervenção do Juiz dá-se imediatamente a seguir ao recebimento
da petição pela secretaria. Quando assim ocorra, a citação em lugar de ocorrer sequencialmente a seguir ao
recebimento pela secretaria da petição inicial, deve ser precedida de um despacho do juiz (despacho liminar)
pelo qual faz um primeiro controlo da regularidade da ação. Quando é que tem lugar este despacho liminar?
Artigo 226º, nº4 alínea a) - casos especialmente previstos na lei (ex.: processo de acompanhamento de
maiores; chamada ação popular), procedimentos cautelares (alínea b), quando a propositura da ação deva
ser anunciada nos termos da lei (alínea c)) quando se trate de (…- alínea d)) e no processo executivo e quando
se trate de citação urgente (alínea e).

Que vantagem poderá haver no despacho liminar? É permitir que se detete com a máxima rapidez, vícios
processuais, que detetados posteriormente, colocam em perigo a subsistência de atos que não teriam de
ser praticados. Pode o juiz determinar que ele exista? Parece que sim, o juiz pode dar indicação à secretaria
quando suspeite da inviolabilidade da petição inicial. Contudo, a regra é de que esse despacho não ocorrerá.
Dessa forma, normalmente, passaríamos para a citação.

7.2 Citação

Sistematização básica de qual pode ser o conteúdo da citação:

(1) O Juiz não deteta nenhum vício ou irregularidade da petição inicial: qual é nesse caso, o conteúdo
do despacho liminar? Citação. Este despacho liminar quando seja de citação, não é recorrível. De
todo o modo, não fica precludida a possibilidade de o juiz conhecer das questões que poderiam levar
ao indeferimento liminar (artigo 226º, nº5 CPC). O poder de julgar é um poder que se perde à medida
que se exerce. Sempre que o juiz profere despacho vai perdendo o seu poder de julgar quanto àquela
concreta questão. Porque é que isso não acontece quanto ao despacho liminar? Como não havia réu
não teve oportunidade de contraditar e por isso o juiz não pode perder o poder de reapreciar. Sempre
que se decide sem se ouvir alguém, não se perde o poder de reapreciar quando essa mesma pessoa
seja ouvida. No despacho liminar o juiz aprecia da questão da incompetência absoluta, pode conhecer
da questão novamente no despacho saneador? Pode, pois não havia réu.

(2) Deteta-se que o pedido é manifestamente improcedente ou que há exceções dilatórias insupríveis:
qual é a decisão que o juiz deve proferir? Indeferimento liminar, sendo que o réu não chega a ser
citado, pois o processo é manifestamente inviável ou por ser manifestamente improcedente ou por
ser inequivocamente inadmissível (ex.: falta de personalidade judiciária do réu). Este indeferimento
liminar pode ser meramente parcial- ex.: imagine-se que é proposta uma ação contra 2 réus e apenas
um tem personalidade judiciária. Se for um litisconsórcio voluntário teremos um indeferimento
liminar parcial. O indeferimento liminar pode ser objeto de recurso (artigo 629º, nº3 alínea c) CPC)
independentemente do valor da causa. Se for admitido recurso, o réu é citado para o recurso e ação
em simultâneo. Sendo indeferida liminarmente a petição inicial pode ser apresentada nova petição
inicial aproveitando-se a data de propositura da primeira ação- nos termos do artigo 560º CPC.

(3) Insuficiência suprível: o despacho pré-saneador tem lugar só na fase subsequente de gestão inicial
do processo. Se o juiz detetar desta uma falta processual ou irregularidade, deverá aguardar pelo
momento do despacho pré-saneador ou deverá, no momento do despacho liminar procurar a
regularização da ação? Segundo um princípio da economia processual será logo no momento do
despacho liminar.

Podemos distinguir entre 3 hipóteses:

1. Falta de pressupostos processuais sanáveis: nos termos do artigo 6º, nº2 CPC temos que distinguir
consoante o juiz tenha ou não poder para regularizar a instância. Se tiver, pode já neste momento
ordenar a prática dos atos de regularização e subsequentemente a citação do réu (ex.: falta de
representação legal. O tribunal pode ter a iniciativa de ordenar a citação de quem deva representar-
artigo 28º CPC). Quando o juiz não tenha este poder, deverá convidar o autor a fazê-lo, fixando prazo
para o autor regularizar. Se este regularizar, o juiz ordena a citação do réu. Se não regularizar indefere
liminarmente a petição inicial

2. Petição irregular: isto é, que careça da observância de certos requisitos legais ou que não apresente
um documento que a lei obrigue que seja apresentado. O regime que se aplica (artigo 590º, nº3) é
que o juiz deverá fixar prazo para a regularização ou apresentação de documento consoante seja
observado ou não, ordena a citação do réu ou indefere a petição inicial

3. Petição deficiente: ela é elaborada, mas é mal elaborada, isto é, contém insuficiências ou imprecisões
na exposição ou concretização da matéria de facto. Imagine-se alão de responsabilidade civil
extracontratual devido a acidente de viação. Ex.: o autor afirma que o réu conduzia violando todas
as regras de trânsito. Esta alegação é correta? Não pois não concretiza do ponto de vista factual.
Tem que fazer uma descrição de facto concreta. Quando o autor concretiza a matéria de modo
impreciso, o juiz convida a essa melhor concretização sob pena de a ação não ser devidamente
conhecida. Pode o juiz fazer este convite ao autor? Pode, logo no momento do despacho liminar. É
útil que o faça pois permitirá ao réu na contestação, imediatamente conhecer da petição inicial
aperfeiçoada e apresentar uma contestação mais adequada para aquela concreta controvérsia.

A petição inicial pode ser aceite ou recusada pela secretaria. Não sendo recusada o processo passa logo
para a citação do réu. Em casos excecionais, a citação é precedida de despacho liminar por parte do Juiz a
quem o processo foi distribuído.

Seja ou não precedido de despacho por parte do Juiz, o processo prossegue com a citação do réu. A citação
é definida pelo artigo 219º, nº1 CPC. Em que consiste?

A citação é um ato que se destina a constituir alguém como parte dando-lhe conhecimento da ação contra
si proposta. Só chamamos citação ao primeiro chamamento, sendo que a partir daí estamos perante
simples notificações.

Já sabemos que vale no processo civil o princípio do pedido e o ato que concretiza este princípio é a petição
inicial. A citação é um meio processual para garantir a observância de um outro princípio central do processo,
nomeadamente, o princípio do contraditório. A lei não exige, para que o processo seja válido, que haja
oposição do réu, mas sim possibilidade de oposição (artigo 3º, nº1 CPC). Se a citação é o ato processual com
o qual se constitui alguém como parte dando-lhe conhecimento de uma ação contra si proposta, então, ela
deve ser acompanhada de todos os elementos necessários para que o seu destinatário compreenda a ação
contra si submetida (artigo 219º, nº3 CPC). Isso significa, que deverá ser acompanhada ou conter todos os
elementos constantes do artigo 227º CPC. Quais são esses elementos? A própria citação inicial, os
documentos que a acompanha, a informação de que a ação foi proposta contra a pessoa, o tribunal em que
decorre o processo, o prazo para a defesa, a necessidade ou não de patrocínio judiciário e as consequências
(cominações) no caso de não apresentar defesa. Isto consta tudo do referido artigo 227º CPC. O
fornecimento de todos estes elementos visa garantir que o réu compreende os riscos da ação que contra
si foi movida e que toma uma decisão esclarecida quanto à opção de apresentar ou não defesa. Caso o réu
não impugne os factos articulados pelo autor eles consideram-se admitidos pelo tribunal. Ex.: autor afirma
que o réu lhe deve 2000€. O réu não impugna. O tribunal já não conhece da questão.

Será que quando o cidadão comum é destinatário de uma citação judicial, ele compreende que, no caso de
não agir, o tribunal se irá desinteressar da verdade das alegações feitas pelo autor? Terá conhecimento de
que em caso de não apresentação da contestação em tempo oportuno, não poderá posteriormente trazer
novos factos que poderia ter apresentado anteriormente? Os formulários judiciais da citação traziam esta
informação, mas por reprodução das normas do CPC. O nível normal de literacia de adequação permite
retirar o sentido de uma comunicação dirigida pelo tribunal? O cidadão comum compreende uma citação
judicial?

Isto gera dificuldades de sustentação da oponibilidade das sentenças judiciais- porquê? uma sentença
judicial com força de caso julgado pode legitimamente opor-se a uma parte na medida em que ela
previamente teve oportunidade de tomar parte no processo. Arca com as consequências do final do
processo porque antes decidiu defender-se ou não se defender tomando uma opção a respeito dos efeitos
que sobre si poderiam recair de não apresentação de uma defesa. Se a parte não teve qualquer perceção de
quais eram os efeitos potencialmente decorrentes da não apresentação de uma contestação, então, é
dificilmente aceitável que tenha de arcar com as consequências dessa decisão. Em bom momento o
legislador no artigo 9º-A CPC sinalizou este problema com o chamado princípio da utilização da linguagem
simples e clara. A parte deve ser esclarecida com recurso à linguagem corrente, dos efeitos que podem
decorrer do ato que contra si foi dirigido e da sua eventual ausência de reação. Nas relações diretas entre o
tribunal e a parte deve procurar garantir-se o máximo de segurança que o destinatário compreendeu o
teor da comunicação que lhe é dirigida. A partir deste momento já pode o tribunal operar numa linguagem
mais técnica, nomeadamente, na interação com os mandatários judiciais. Quando assim não aconteça, é
substancialmente injusto opor a sentença judicial a quem não entendeu quais as eventuais consequências
da inércia do processo. A sentença judicial deve ter uma linguagem simples e clara? Nada obsta a que a
sentença tenha uma linguagem mais técnica na medida em que temos o mandatário judicial que traduz esta
sentença.

7.2.1 Efeitos da Citação

Do ponto de vista processual, há 3 efeitos bastante relevantes:

(1) A perfeição da instância: perfeição no sentido de ficar completa. A partir do momento em que o réu
é citado a instância fica perfeita (artigo 259º, nº2) tornando-se oponível ao próprio réu. Por
conseguinte, a partir de agora já teremos a exceção de litispendência. Sendo proposta nova ação com
mesmo objeto, o réu pode invocar esta exceção (artigo 564º, alínea c), 577º e 580º CPC). Considera-
se proposta em segundo lugar a ação para a qual o réu foi citado posteriormente. (artigo 582º, nº2
CPC).

(2) Estabilidade da instância: a partir do momento em que o réu é citado a instância considera-se estável
quanto às partes, ao pedido e à causa de pedir (artigo 260º e 564º alínea b). Isto é uma regra que
conhece exceções. Pretende-se que o objeto fique já delimitado nesta fase.

(3) Inicia-se o prazo para a contestação do réu: qual é esse prazo? o prazo regra é de 30 dias (artigo
579º, nº1). A este prazo perentório podem acrescer prazos dilatórios e pode ainda haver prorrogação
de prazo em ações de especial complexidade.

Do ponto de vista material temos os seguintes efeitos:

(1) A citação faz cessar a boa fé do possuidor (artigo 564º alínea a). A posse é proferida de forma
diferente consoante o possuidor esteja de boa fé ou de má fé e isto acontece consoante tenha ou
não a consciência de estar a lesão ou não um direito alheio e a partir do momento em que é citado
passa r a ter conhecimento de que pode estar a violar um direito alheio.

(2) A citação interrompe a prescrição (artigo 323º, nº1 CC) e os prazos para usucapião (artigo 1222º
CC). Mesmo que a citação não tenha ocorrido a prescrição tem-se por interrompida no prazo de 5
dias a contar da propositura da ação (artigo 323º, nº2 CC). Ex.: petição é recebida no dia 1 de março
e fruto desta regra tem sempre o autor a garantia de que no prazo de 5 dias a prescrição se tem por
interrompida (6 de março). Ou em dia anterior se a citação for feita antes. Interrompida a prescrição
fica inutilizado todo o período já decorrido e ela só volta a correr após o trânsito em julgado da
decisão que coloca termo ao processo (artigo 327º, nº1 CC). Fica sujeita ao prazo ordinário (artigo
311º, nº1 CC que é de 20 anos).

Ex.: imagine-se que em 2009 é celebrado um contrato do qual emerge um direito de crédito sujeito ao
prazo de prescrição de 6 meses. Em Abril de 2009 é proposta uma ação judicial- esta ação judicial
interrompeu a prescrição? Sim, a partir do momento em que o réu é citado ou 5 dias após a
propositura da ação. Imagine-se que só sai uma sentença transitada em julgada em 2020- Em 2021 o
prazo está prescrito? O primeiro prazo foi interrompido e durante o processo a prescrição está
suspensa. A partir do trânsito o prazo inicia-se, mas já se trata do prazo ordinário, sendo que só
prescreverá em 2040.

(3) As obrigações podem ser puras ou sujeitas a prazo, sendo que as puras podem ser exigidas a todo o
momento. Quando se trate de uma obrigação pura, caso não tenha havido interpelação prévia, a
citação judicial pode valer como interpelação, nesse caso a responsabilidade pelas custas com o
mandatário do réu pode recair sobre o autor.

Quem promove a citação? A regra para a ação declarativa é de que a citação é promovida pela secretaria
judicial (artigo 226º, nº1 e 562º, nº1).

7.2.2 Modalidades da Citação

O nº1 do artigo 225º CPC prevê duas modalidades de citação de pessoas singulares: citação pessoal e
citação edital.

Simplesmente há um aspeto de uma terceira modalidade que nalguma medida é comparada à citação
pessoal, designada de citação quase pessoal. Qual é a diferença entre estas duas últimas? A citação pessoal
é a citação que é feita mediante um contacto com o próprio réu. Equipara-se esta hipótese a citação através
de um mandatário com poderes especiais para receber a citação, conferidos há menos de 4 anos (artigo
225º, nº5 CPC). Também a citação se considera pessoal quando, se tratando de uma pessoa coletiva ou
equiparada, ela seja feita nos seus legais representantes (artigo 223º, nº1 CPC) bastando que 1 deles seja
citado (artigo 223º, nº2 CPC). No caso de pessoa coletiva ou sociedade a citação pode ainda ser feita na
pessoa de qualquer empregado/funcionário que se encontre na sede onde funcione a administração (artigo
223º, nº3) podendo ser funcionário externo desde que haja uma certa vinculação funcional. A estas são em
parte equiparadas as hipóteses de citação quase pessoal. Em que consiste? Consiste numa citação que é
feita junto de alguém diferente do próprio citando que fica encarregado de transmitir a citação realizada ao
próprio citando (artigo 225º, nº4).
Quais as modalidades deste tipo de citações pessoal e quase pessoal?

✓ Citação via postal


✓ Citação por mandatário judicial
✓ Citação por funcionário judicial ou agente de execução

Temos ainda a citação edital. Como é que tem lugar esta citação? Já não é mediante um contacto pessoal,
mas sim mediante um anúncio puro.

Como é que se escolhe as modalidades de citação? Vamos distinguir a regra geral, da escolha do autor. O
caminho regra para se realizar a citação, caso nada diga o autor, é o seguinte:

1. Citação via postal

2. Funcionário judicial ou agente de execução ou então por mandatário CAMINHO


REGRA
3. Citação edital

Por escolha do autor pode saltar-se a citação por via postal.

➔ CITAÇÃO POR VIA POSTAL

Em regra, a citação é feita via postal. Em que consiste? Consiste no envio de uma carta registada com aviso
de receção para a residência ou lugar de trabalho do réu e deve ser acompanhada de todos os elementos
próprios da citação (artigo 228º, nº1 CPC). Quais são os atos concretos que deve praticar o carteiro?

▪ Caso em que o distribuidor consegue contactar efetivamente com o citando: se o conseguir


encontrar podemos ter 2 opções. O citando assina o aviso de receção e se o fizer, a citação considera-
se feita na data em que o aviso foi assinado (artigo 230º, nº1). Se, pelo contrário, o citando recusar
assinar o aviso de receção o distribuidor/carteiro lavra nota referindo essa recusa e devolve a carta.
A citação considera-se frustrada (artigo 228º, nº6).

▪ Caso em que o distribuidor tem contacto efetivo com alguém que não o citando que se encontre
na sua residência ou local de trabalho e que declare que está em condições de entregar a citação:
artigo 228º, nº1 e 2 CPC. A lei exige que seja feita uma advertência ao terceiro de que se não entregar
incorre em responsabilidade (artigo 228º, nº1). Neste caso, se contactar com terceiro temos também
de distinguir consoante haja ou não assinatura. O terceiro assina o aviso de receção após ter sido
devidamente identificado (artigo 228º, nº3) e também ter sido advertido do dever de entrega ao
citando (artigo 228º, nº4) - neste caso, considera-se a citação feita no dia em que o aviso foi assinado
pelo terceiro (artigo 230º, nº1). Esta presunção de que o citando veio a conhecer da citação é,
todavia, ilidível. Neste caso, deve ser enviada uma segunda carta registada ao citando nos termos do
artigo 233º a informar que a citação foi previamente feita e quem recebeu a carta. Por a citação ter
sido quase pessoal, o réu terá 5 dias adicionais para apresentação da sua defesa (artigo 245º, nº1
alínea a) CPC). Em alternativa, o terceiro pode recusar assinar o aviso de receção: artigo 228º, nº6.
O distribuidor lavra nota do incidente e a citação considera-se frustrada sendo necessário fazê-la de
uma outra forma.

▪ Caso em que não tem ninguém, isto é, não há qualquer contacto: se for possível é deixado um aviso
ao citando permanecendo a carta 8 dias em estabelecimento postal identificado (artigo 228º, nº5).
Neste prazo de 8 dias, o citando pode dirigir-se ao estabelecimento postal e, ou recebe a carta e a
citação é feita no momento em que assina o aviso de receção ou a carta não é levantada e a citação
frustra-se. Se não for possível deixar aviso ao citando, o distribuidor lavra nota e devolve a citação ao
tribunal- artigo 228º, nº7. Se eventualmente o distribuidor conseguir concluir que o citando mudou
de domicílio a citação por via postal será repetida para a nova morada (artigo 228º, nº8)

Há um regime simplificado de citação previsto no artigo 229º e que vale igualmente para pessoas coletivas
nos termos do artigo 246º CPC. A primeira hipótese prevista no artigo 229º CPC é de se tratar de uma ação
para cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato de valor não superior a 15000€
(AECOP) ou de uma ação de valor superior, mas respeitante ao fornecimento continuado de bens e serviços
a lei permite o chamado domicílio convencionado (artigo 2º do DL nº 269/98) e só vale enquanto o contrato
a que diga respeita produzir efeitos (artigo 229º, nº2). Qual é a diferença deste regime? A diferença é que,
neste caso, se houver recusa de assinatura pelo citando a citação se considera feita (artigo 229º, nº3). Na
eventualidade de ter havido recusa por parte de um terceiro, é enviada uma nova carta com aviso de receção
e com a cominação de que a citação será feita na data certificada pelo distribuidor do serviço postal (artigo
230º, nº2). Se tiver sido deixado aviso, a citação considera-se feita no 8º dia posterior a essa data (artigo
230º, nº2. Em qualquer um destes casos prevê-se uma dilação de 30 dias para o início do prazo da defesa
(artigo 245º, nº3). No caso de pessoa coletiva inscrita no registo nacional de pessoas coletivas (artigo 246º
CPC) - a carta é enviada para a sede que se encontre no registo (artigo 246º, nº2). Se houver recusa de
assinatura ou de recebimento da citação, o distribuidor postal lavra nota, mas a citação considera-se feita
(artigo 246º, nº3). Nos restantes casos, aplica-se regime que vimos para o regime convencionado (artigo
246º, nº4).

➔ CITAÇÃO POR AGENTE DE EXECUÇÃO OU FUNCIONÁRIO JUDICIAL

Neste caso distinguimos entre a citação feita por agente de execução ou funcionário judicial e a citação por
mandatário judicial. Via de regra, é a primeira que se aplica. Quando é que tem lugar esta citação? Quando
se frustre a citação por via postal (artigo 231º, nº1) e quando o autor à partida tenha declarado que pretende
esta modalidade de citação (artigo 231º, nºs 8 e 9). Na citação por agente de execução, o autor pode escolher
qual aquele concreto agente de execução que pretende que realize a citação (artigo 552º, nº1 alínea g).
Como é que se procede à citação? A citação por agente de execução ou funcionário judicial tem lugar
mediante o contacto pessoal com o citando (artigo 231º, nº1 CPC), podendo ter lugar em qualquer lugar
(artigo 224º, nº1). Quais são os lugares em que não pode decorrer esta citação? Dentro de lugares de culto
religioso e também durante um serviço público que não deva ser interrompido. No entendimento do
professor Tiago Ramalho, esta é de facto a modalidade de citação mais perfeita, porque é aquela que envolve
um contacto pessoal de alguém qualificado para o efeito com o próprio citando.

A tentativa de contacto pode ter vários desfechos:

(1) O agente contacta o citando, lavra certidão a dizer que o contactou e o citando assina a própria certidão.

(2) O agente de execução contacta o citando, mas este recusa-se a assinar a certidão ou a receber o duplicado
da petição inicial (considera-se feita a citação, porque o agente de execução tem poderes públicos para
atestar que contacto ou citando). O agente de execução deve mencionar o sucedido e dar conhecimento de
que o processo se encontra à disposição do citando na secretaria judicial (artigo 231º, nº4). A secretaria
enviará uma carta registada (artigo 231º, nº5).
(3) O agente de execução não consegue contactar o citando, mas consegue apurar onde reside ou onde
trabalha. Neste caso, procede à chamada citação com hora certa (artigo 232º, nº1) que consiste em afixar
uma nota/aviso a dizer que numa hora determinada procederá à citação na pessoa em melhores condições
de a transmitir ao citando. No dia e hora indicados pelo agente podemos ter vários desfechos:

➢ É encontrada a pessoa do citando, sendo que neste caso a citação é feita nela própria (artigo 232º,
nº2 alínea e).

➢ Não é encontrada a pessoa do citando, mas é encontrado alguém que se encontra em condições de
transmitir a citação ao citando (artigo 232º, nº2 alínea b). A citação considera-se feita, sendo enviada
uma segunda carta ao citando (artigo 233º) e prevê-se uma dilação de 5 dias para a defesa (artigo
245º, nº1 alínea a). Neste caso o terceiro que assume esta responsabilidade, caso não venha a
entregar a citação, pode incorrer no crime de desobediência (artigo 348º CP).

➢ Não é encontrado ninguém: neste caso, a citação é feita por afixação na presença de duas
testemunhas da nota de citação indicando-se que os documentos dela relativos estão disponíveis na
secretaria judicial. A citação considera-se feita. Isto é um princípio muito antigo de direito que é unus
testis, nullus testis- uma testemunha, nenhuma testemunha. É enviada segunda carta registada
(artigo 233º) e há uma dilação de 5 dias (artigo 245º, nº1 alínea a).

➔ CITAÇÃO POR MANDATÁRIO JUDICIAL

Ela só se aplica se tiver sido requerida pelo mandatário da parte (artigo 237º, nº2 CPC). Ela desenvolve-se de
igual forma como para o agente de execução.

➔ CITAÇÃO EDITAL

A citação edital tem lugar quando o réu esteja ausente em parte incerta (artigo 240º CPC) ou não se saiba
quem é o réu (incerteza quando à pessoa do réu) - artigo 243º CPC.

As ações contra incertos estão previstas no artigo 22º CPC. Em princípio, a impossibilidade de citação resulta
da ignorância do lugar em que o réu se encontra, pois se souber, a citação por agente de execução já será
suficiente. Não havendo conhecimento do lugar em que o réu se encontra, a secretaria nos termos do artigo
236º, nº1 CPC deverá junto de diferentes entidades e serviços, procurar o paradeiro do réu.

Em princípio, qual é a morada que a secretaria irá considerar para a citação? Aquela que foi indicada pelo
autor na petição inicial. Não tendo sido possível encontrar o réu, a secretaria faz diligências adicionais junto
de diferentes bases de dados. Procura-se por todas as vias encontrar o paradeiro do réu. Só se estas
diligências não forem bem-sucedidas é que se avança para a citação edital, pois esta é verdadeiramente um
último recurso a que se pode recorrer apenas na impossibilidade de todos os demais meios de realização da
citação. Em que consiste a citação edital? Como se realiza? Realiza-se mediante a afixação de um edital na
porta da casa da última residência ou sede do citando (artigo 240º, nº2 CPC) seguida de um anúncio em
página de acesso público (artigo 240º, nº1 CPC). A citação considera-se feita na data em que o anúncio é
efetuado (artigo 242º, nº1 CPC) prevendo-se um prazo dilatório de 30 dias (artigo 245º, nº3 CPC).

A citação edital não oferece especiais garantias de que o réu conheça a ação, daí que a lei limite a produção
dos seus efeitos. Em que aspetos?
• Se se proceder indevidamente à citação edital, aplica-se o regime da falta de citação (artigo 188º,
nº1 alínea c). Só é válida em último recurso
• Se o réu não apresentar contestação, não se aplicam os efeitos da revelia operante (artigo 568º, b)
CPC.

7.3 Vícios da Citação

Todos os atos processuais podem enfermar de certos vícios. Quando há um vicio de um ato processual a
consequência é a nulidade. Para a citação a lei prevê um regime especial de falta de citação e nulidade de
citação. A falta de citação é a nulidade mais grave da citação. A nulidade de citação respeita a outras
formalidades que não foram observadas, mas não tão grave como a própria falta

A falta de citação (nulidade principal) ocorre quando se verifica alguma das causas do artigo 188º, nº1 CPC.

a) Não ter sido pura e simplesmente realizada a citação


b) Haver erro de identidade do citado: ex.: imagine-se que é citado uma pessoa chamada João Silva. Há
muitos binos com este nome por isso pode acontecer que tenha citado o João Silva errado
c) Ter sido utilizada indevidamente a citação edital e é tão gravosa esta falta que a lei equipara à pura
e simples ausência de citação
d) A citação ter sido efetuada depois do falecimento do citando ou da extinção da pessoa coletiva.
e) Quando se demonstre que a citação pessoal não chegou ao conhecimento do citando por facto que
não lhe seja imputável. Esta possibilidade de ilidir a presunção de que conheceu não se admite nos
casos de domicílio convencionado ou citação de pessoas coletivas

A falta de citação é de conhecimento oficioso (artigo 196º) e pode ser conhecida em qualquer momento do
processo (artigo 198º, nº2 CPC) e só é sanada de uma forma, nomeadamente, mediante intervenção do
próprio réu sem suscitar o vício (é uma falta que só é sanada quando o interessado não se quer prevalecer
dela).

Qual é a consequência de falta de citação? A consequência é a nulidade de todos os atos a contar da própria
falta de citação inclusive (artigo 187º, alínea a) CPC). No caso de litisconsórcio necessário, uma vez que a
violação jurídica em causa é unitária, é tudo anulado, mesmo que algum dos litisconsortes tenham sido
devidamente citados (artigo 190º, alínea a) CPC). No caso de litisconsorte voluntário não se anula o
processado para os litisconsortes que tenham sido devidamente citados (artigo 190º, alínea b) CPC).

E quando se violem outras formalidades da citação? Aí, caso essa violação tenha prejudicado a defesa do
citado teremos um caso de nulidade de citação (artigo 191º, nºs1 e 4 CPC). Ex.: imagine-se que com o
envelope da citação não segue o duplicado da petição inicial. Já teremos aqui uma nulidade que pode ser
conhecida. A nulidade de citação não é, em princípio, de conhecimento oficioso (artigo 196º segunda parte
CPC) e deve ser arguida pelo réu (artigo 197º, nº1) no prazo da contestação (artigo 197º/2 CPC). Se não
arguir a nulidade fica sanada. Se for suscitada qual é a consequência? É a repetição da citação nos termos
devidos.

Um caso específico de nulidade de citação e que tem uma solução diferente é a indicação de um prazo de
defesa superior ao concedido pela lei. Neste caso a solução legal é automaticamente conceder a defesa
nesse prazo superior sem necessidade de suscitar a nulidade (artigo 191º, nº3 CPC). Ex.: Imagine-se que a
citação prevê um prazo de 20 dias para defesa- artigo 879º, nº6. A secretaria indicou prazo de defesa de 30
dias, indicou mal pois era de 20 dias. A solução é aplicar o prazo mais longo, protegendo-se a confiança do
réu no prazo que lhe foi indicado.

No caso de nulidade de citação, pode aproveitar-se os efeitos civis da primitiva citação se o réu for
novamente citado no prazo de 30 dias a contar do trânsito do despacho que anula a citação (artigo 555º).

A falta de citação é tão grave que os seus efeitos se repercutem mesmo depois do trânsito em julgado da
sentença. Mesmo após o trânsito em que a sentença passa a valer com força obrigatória, ela poderá ser
destruída, mediante recurso de revisão (recurso extraordinário) caso não tenha havido citação. Tal é
possível nos termos do artigo 696º alínea e) CPC.

8. Contestação

É o segundo articulado da ação declarativa e encontra-se regulada nos artigos 569º ss e é o articulado que
tem em vista dar a possibilidade ao réu de exercer o respetivo contraditório (artigo 3º, nº1 CPC). A
contestação é uma possibilidade que o réu tem e que pode ou não exercer, embora, caso não a exerça,
possa sofrer consequências desfavoráveis. Isto é, não existe um dever de contestar, mas há um ónus de
contestar.

Qual é o prazo para contestar? O prazo perentório para contestar é de 30 dias. Contudo, este prazo pode
estar sujeito a dilações anteriores ou a uma prorrogação posterior. Quanto às dilações importa considerar
as dilações previstas no artigo 245º. Quais são as dilações do artigo 245º CPC?

• 5 dias quando a citação tenha sido em pessoa diferente do réu (citação quase pessoal) que podem
cumular com 5 dias quando o réu tenha sido citado fora da área da Comarca em que tenha sede o
tribunal em que a ação está pendente.

• 15 dias quando a ação decorra nas regiões autónomas e o réu seja citado no Continente ou vice-
versa. Isto vale também entre ilhas.

• 30 dias quando o réu tenha sido citado no estrangeiro, quando a citação seja edital ou quando seja
o caso do artigo 229º CPC.

Temos de ver as eventuais dilações que possam surgir e podem ir de 5 dias até 30 dias. Decorrido o prazo
dilatório começa a contar o prazo de 30 dias para a contestação- artigo 569º, nº1 primeira parte CPC. Vale a
regra de que havendo vários réus este prazo se conta a partir daquele que iniciou a contagem em último
lugar (Ex.: temos dois réus e um tem uma dilação a seu favor. O prazo perentório de 30 dia conta-se a partir
daquele que tem a dilação a seu favor. Todos os réus aproveitam o prazo que começou a contar em último
lugar).

Eventualmente, o prazo para a contestação pode ser prorrogado até ao máximo de 30 dias (artigo 569º,
nº5). Só é possível a prorrogação do prazo quando haja um motivo ponderoso que impeça ou dificulte a
apresentação de defesa. A prorrogação ao contrário das dilações, aproveita apenas ao réu ou aos réus que
o solicitem. Nos termos gerais, por acordo das partes, também é possível uma prorrogação (artigo 141º, nº2
CPC). Estes prazos da contestação podem ainda ser interrompidos quando se solicite apoio judiciário ou
nomeação do patrono (artigo 24º, nº4 e 5 da Lei do Apoio Judiciário).
8.1 Falta de Contestação: regime da revelia

Sendo o réu citado para a ação, ele pode adotar duas posturas: contestar ou não contestar. Se não
reagir/contestar, o réu entra em revelia. Se reagir apresenta contestação.

Qual é o regime da revelia? A revelia consiste juridicamente na não apresentação da contestação. Podemos
ter dois tipos de revelia: a revelia absoluta e a revelia relativa.

▪ O que é uma revelia absoluta? É quando o réu não intervém de nenhuma forma no processo.

▪ O que é a revelia relativa? É quando o réu não apresenta contestação, mas intervém no processo,
por exemplo constituindo mandatário judicial. Esta distinção importa apenas para aplicação do artigo
566º CPC que prevê que quando se trate de revelia absoluta, o tribunal tem o dever de apurar se a
citação foi devidamente feita e ordenar a sua repetição quando encontre irregularidades.

Quais os efeitos da revelia? Distinguem-se dois grandes modelos:


(1) Sistema de cominatório pleno: a não apresentação de contestação tem por consequência a
procedência da ação
(2) Sistema de cominatório semipleno: a não apresentação de contestação tem por consequência
apenas a admissão dos factos afirmados pelo autor, mas continua a ser o juiz a aplicar o direito à
causa, ou seja, a ação pode improceder

A regra no nosso direito, que é uma regra com exceções, é do sistema cominatório semipleno. Por isso, via
de regra, quando há revelia operante a consequência prevista no artigo 567º, nº1 CPC é de que se
consideram confessados os factos articulados pelo autor. A lei, portanto, remete aqui para um meio de prova
que é a confissão. Trata-se, contudo, de uma simples técnica legislativa. Rigorosamente, não estamos
perante uma confissão, uma vez que o réu nada declara, mas perante aquilo a que tecnicamente se pode
designar uma admissão por acordo. A este meio de prova, assente no simples silêncio do réu (confissão)
devemos designar de admissão por acordo. O efeito da revelia operante é apenas esta confissão,
rigorosamente, esta admissão por acordo. Logo, a ação pode improceder por outras razões, basta que estes
factos articulados pelo autor não sejam bastantes para garantir a procedência do pedido. Daí que o artigo
567º, nº2 parte final CPC refira que o juiz deva proferir sentença julgando a causa conforme for o direito. No
direito português a não apresentação de contestação por parte do réu não garante o ganho da causa,
continua a ser necessária uma apreciação jurisdicional.

Este regime da admissão obviamente que tem uma lógica formal, isto é, à não apresentação de contestação
atribui imediatamente sem qualquer indagação adicional uma consequência probatória. O tribunal
considera os factos admitidos, não porque os investigou, mas simplesmente por efeito articulado de uma
afirmação do autor e uma omissão por parte do réu. Será que a prova por admissão tem valor epistémico?
Há quem pense que não tem qualquer valor epistémico, é uma solução pragmática para com mais facilidade
permitir a tramitação do processo. Mas será que este entendimento é adequado? Certamente que estamos
perante uma solução com uma grande preocupação de praticabilidade. O que fundamenta esta regra é a
circunstância de acordo com formas normais de exercício da racionalidade, se o réu devidamente advertido
não contesta um determinado facto, sabendo que não impugnando, ele será tido como admitido, é porque
esse facto é verdadeiro. A prova por admissão pode ter um intuito prático, mas não é arbitrária, é porque
previsivelmente desse silêncio do réu pode inferir-se a verdade da admissão feita pelo autor. Esta é a solução
geral prevista no CPC.
Para as AECOP vale o regime especial que consta do artigo 2º do Anexo ao DL nº 269º/98. Nas AECOP a regra
é que, se o réu não contestar, o juiz atribui imediatamente força executiva à petição, a não ser que haja
exceções dilatórias (nesse caso há absolvição da instância) ou o pedido seja manifestamente improcedente.
Há aqui uma adjetivação que restringe os poderes de conhecimento do juiz. Nas AECOP o professor entende
que o sistema do direito português é quase pleno e não semipleno.

Consequências do ponto de vista processual: valem as especificidades constantes do artigo 567º, nºs 2 e 3
CPC. Deste modo, a solução é apenas as partes alegarem por escrito (artigo 567º, nº2 primeira parte) e
depois o juiz proferir sentença (artigo 567º, nº2 segunda parte). Esta sentença pode limitar-se à parte
decisória (artigo 567º, nº3 CPC) fazendo apenas uma fundamentação sumária.

Casos há em que a revelia não produz estes efeitos. São os casos previstos no artigo 568º CPC. Nas
hipóteses previstas no artigo mencionado, a não apresentação de contestação não tem por efeito a prova
de nenhum facto, ele continua a precisar de ser provado junto do Tribunal para que o juiz possa assentar
nele a sua decisão.

A estas causas de revelia inoperante devemos ainda acrescentar os factos física ou legalmente
impossíveis ou notoriamente inexistentes (também não podem ser provados por esta via). Em relação a
esses factos a confissão é inadmissível (artigo 354º alínea c) CC).

8.2 Réu apresenta contestação

A contestação tem os elementos constantes do artigo 572º CPC. É o articulado no qual o réu apresenta os
fundamentos da sua defesa em reação ao pedido que contra si foi dirigido. De todo o modo, nós podemos
estar diante de duas posturas fundamentais adotadas pelo réu. O réu pode limitar-se a defender
(contestação-defesa) ou pode contra atacar o autor (contestação reconvenção). Se nada se disser
estamos perante uma contestação defesa. A contestação defesa é sempre garantida pelo CPC, pois o
tribunal não pode decidir litígio sem dar oportunidade de se manifestar.

➔ Contestação-Defesa

Qual é o princípio que rege a matéria da contestação? O princípio que rege é o de que toda a defesa do
réu deve, por regra, ser deduzida na contestação (artigo 563º, nº1 CPC). Só não tem este ónus preclusivo
quando se trate de meios de defesa supervenientes, quando a lei admita passado este momento ou que
possam ser de conhecimento oficioso do tribunal (artigo 563º, nº2). Portanto, vale a regra de que tudo o
que não for deduzido neste momento fica precludido. O réu tem, portanto, por momento próprio para
apresentar a respetiva defesa, a contestação. Esta defesa pode assentar em diferentes planos conforme
resulta do artigo 571º CPC.
SISTEMATICAÇÃO DESTA PARTE

O autor numa ação judicial exerce o seu direito de ação (pretensão à proteção jurídica) que é uma
pretensão que qualquer pessoa tem contra o Estado. A pessoa tem o direito a suscitar essa intervenção
do Estado que corresponde ao direito de ação. Exercendo esse direito de ação formula o pedido com
fundamento numa causa de pedir (em que são determinados factos). Assim, o ato do autor implica
simultaneamente questões de admissibilidade e questões de mérito.

Em que é que pode assentar a defesa do réu?

(1) O réu pode opor-se à admissibilidade da ação: fá-lo através de exceção dilatória ou exceção
processual. O réu quando se defende por exceção dilatória visa apenas perante o tribunal dar
conta de que falta um determinado pressuposto para que o tribunal aja. Quer obstar a que o
tribunal conheça do próprio mérito

(2) O réu pode opor-se contra o pedido: pode fazer uma impugnação do direito (o enquadramento
jurídico aplicável não permite a procedência do pedido).

(3) O réu pode opor-se contra à causa de pedir: pode fazer uma impugnação de facto

(4) O réu pode trazer novos factos que permitam a aplicação de novas normas que impeçam,
modifiquem ou extingam o direito do autor (exceção perentória)

Quais as consequências da admissão destes meios de defesa? Temos, portanto, 4 meios de defesa do réu.
A consequência da admissão da exceção dilatória é a absolvição da instância ou remessa do processo. Já
quanto aos outros meios de defesa a consequência será a absolvição do pedido.

 DEFESA POR EXCEÇÃO DILATÓRIA

É aquela mediante a qual o réu argui perante o tribunal a ausência de um determinado pressuposto
processual. Via de regra, as exceções dilatórias são de conhecimento oficioso, ou seja, mesmo que o réu
não as suscite o tribunal pode delas conhecer. Evidentemente que o réu tem interesse em suscitar dado
que o tribunal pode não se aperceber da presença da exceção. Estas exceções que são de conhecimento
oficioso são também chamadas de objeções.

Quais é que são as exceções dilatórias? No artigo 577º CPC estão elencadas essas exceções, mas esse
elenco não é taxativo. Qual é o efeito da exceção dilatória? Há um efeito que a exceção dilatória tem
sempre, nomeadamente, o tribunal não pode conhecer do mérito da causa (artigo 576º, nº2 primeira
parte). Se a exceção não for suprível ou não tiver sido regularizada a instância, aí sim, via de regra, o
tribunal absolve o réu da instância (artigo 576º, nº2 primeira parte e 278º, nº1 CPC). Há uma exceção
dilatória que tem consequência diferente, nomeadamente, a incompetência relativa cuja consequência é a
remessa (artigo 572º segunda parte e 105º, nº3). Excecionalmente, o tribunal poderá conhecer do mérito
da causa nos casos previstos no artigo 278º, nº3 CPC. Quais são eles? São os casos em que a exceção em
causa se destina a proteger alguém e a decisão seja integralmente favorável a essa parte (ex.: imagine-se
uma ação contra alguém sujeito a uma medida de acompanhamento que não está representado no
processo. Falta um pressuposto processual que é da representação. O tribunal em vez de absolver a
instância, como a decisão é integralmente favorável a essa parte pode conhecer do mérito).
Quando o tribunal absolve o réu da instância, não chega a proferir nenhum juízo de mérito. Por
conseguinte, a sentença do tribunal tem valor de caso julgado formal (artigo 620º CPC). Ela tem valor
dentro do processo, portanto, extingue aquela relação processual, mas não obsta a que a causa seja
repetida., a que o mesmo objeto seja colocado em apreciação numa ação diferente.

Diante deste regime da exceção dilatória será que é conveniente que o réu na contestação se limite a arguir
exceções dilatórias? Não, porque o princípio das exceções dilatórias é que elas podem ser sanáveis. O réu
que se limita a isto, ou seja, a arguir exceções dilatórias, caso elas sejam regularizadas, fica sem defesa no
plano material, pelo que o réu deve concentrar toda a sua defesa na contestação.

 DEFESA POR IMPUGNAÇÃO DE FACTO

Prevê a lei processual com base nas mesmas razões para o regime da revelia, que o réu na contestação
tem um ónus de impugnação (artigo 574º, nº1). Este ónus de impugnação tem como consequência que,
caso o réu não impugne os factos articulados pelo autor, eles consideram-se admitidos por acordo (artigo
574º, nº2 primeira parte CPC). O réu tem um duplo ónus: o ónus de contestar (sendo que se não o fizer
fica sujeito aos efeitos da revelia) e mesmo contestando tem o ónus de impugnar (se não o fizer, os factos
trazidos pelo autor são admitidos por acordo). Perante os factos articulados pelo autor o réu pode tomar
3 atitudes:

(1) Pode impugná-los: esta impugnação pode ser direta ou indireta. É direta quando contradiz
frontalmente (afirma negativamente) as asserções factuais do autor. É indireta quando afirma
outros factos, mas incompatíveis com os do autor.

Ex.: imagine-se que o autor afirma que o réu no dia 1 de março circulava de automóvel pela cidade do
porto. a impugnação direta é quando o réu afirma que não circulava no dia 1 de março. A impugnação
indireta seria afirmar que esteve de férias fora do Porto nessa data. Aqui, neste último caso, ele não
nega, mas afirma factos que são incompatíveis com aqueles apresentados pelo autor- artigo 574º, nº2
CPC. Ao contrário do que acontece na revelia, neste caso, a impugnação por um determinado réu não
aproveita aos restantes (a impugnação tem efeitos pessoais).

(2) Não impugnar: se o réu não impugnar, os factos consideram-se admitidos por acordo, salvo
quando se trate de alguma exceção prevista na lei (artigo 574º, nº2). Quais são as exceções
previstas na lei? Não se consideram admitidos por acordo aqueles factos sobre os quais não possa
incidir confissão, ou facto que deva ser provado por documento escrito (artigo 354º CPC)

(3) Declarar que não sabe: é necessário apurar se se trata de um facto pessoal ou de que deva ter
conhecimento ou não. se for um facto pessoal ou de que deva ter conhecimento, declarar que não
sabe é equivalente a confissão (artigo 574º, nº3 primeira parte CPC) - Ex.: o autor afirma que o réu
circulava no Porto. O réu diz que não sabe. Este facto é pessoal. Nos restantes casos, quando não
for um facto pessoal, a declaração equivale a impugnação (artigo 574º, nº3 segunda parte CPC) ex.:
o autor afirma que sofreu certos danos. O réu diz que não sabe. Não saber equivale aqui a
impugnação.

 DEFESA POR IMPUGNAÇÃO DE DIREITO

Prevista no artigo 571º, nº2 CPC e consiste em o réu impugnar o enquadramento jurídico feito pelo
autor por forma a conseguir a improcedência da ação.
Ex.: autor relata caso de responsabilidade civil extracontratual e o reu limita-se a dizer que dos factos
articulados pelo autor não resulta a violação de nenhum direito absoluto, logo, não há qualquer
responsabilidade. Como sabemos, o tribunal pode conhecer do direito mesmo para além das alegações
das partes (artigo 5º, nº3 CPC) sem prejuízo, é altamente conveniente que o réu suscite a questão ao
julgador.

 DEFESA POR EXCEÇÃO PERENTÓRIA

Prevista no artigo 571º, nº2 segunda parte CPC e consiste na alegação de novos factos pelo réu que
permite a aplicação de novas normas que impedem, modificam ou extinguem o efeito jurídico
pretendido pelo autor.

As exceções aumentam, alargam o campo temático da causa. O tribunal passa a conhecer não só do
pedido, como das possíveis exceções que obstam a esse pedido. As exceções perentórias podem estar
dependentes da vontade do interessado ou serem de conhecimento oficioso (caso em que são objeções).
Mesmo quando uma exceção perentória é de conhecimento oficioso é apenas às partes que cabe a
alegação dos factos correspondentes (artigo 5º, nº1 CPC). Ex.: autor exige um direito de crédito, uma
possível exceção é o cumprimento e o cumprimento é de conhecimento oficioso, mas o tribunal só pode
conhecer desse facto se o mesmo for alegado.

O autor, como sabemos, formula determinado pedido com base em determinados factos (causa de
pedir). Para ação proceder de que é que o autor precisa? Precisa de uma determinada norma jurídica
que àqueles factos atribua essa consequência. Então, em que consiste a defesa por exceção perentória?
Consiste em o réu invocar os factos que permitem a aplicação de uma contra-norma que impede,
modifica ou extingue aquele efeito jurídico pretendido pelo autor. O autor na causa de pedir alega os
factos constitutivos do seu direito

Ex.: direito de crédito de fonte contratual. Os factos constitutivos são as declarações negociais das partes.
O réu pode opor-se com contra-normas que impedem, modifiquem ou extinguem. Ao impedir são factos
contemporâneos dos constitutivos como, por exemplo, uma causa de nulidade. Modificar, por exemplo,
através de um acordo de modificação do contrato. Um efeito extintivo, por exemplo, o cumprimento).

Ex.: ação de reivindicação. Os factos constitutivos são aqueles do qual se extrai, por exemplo, a
usucapião. Um facto impeditivo, por exemplo, haver uma causa que impede a relevância da posse. Um
facto modificativo, por exemplo, que foi constituído um direito real menor. Exemplo de um facto extintivo
que o autor transmitir a propriedade a um terceiro e que, portanto, deixou de ser proprietário.

Doutrinalmente podemos acrescentar um 4º grupo a estas 3 hipóteses (impedir, modificar e extinguir). São
os factos preclusivos que é uma categoria usada para enquadrar a prescrição e a caducidade. A diferença
destes factos é o seu efeito jurídico. O efeito jurídico de uma prescrição sobre uma determinada relação é
que o tribunal se abstém de conhecer da questão material. Conhecida uma exceção perentória, a regra é de
que sendo atendida, ela conduz à absolvição do pedido (artigo 576º, nº3 primeira parte) pois prevê um
obstáculo ao pedido do autor. A decisão de mérito tem agora o valor de caso julgado material com força
obrigatória dentro e fora do processo (artigo 619º CC).

Doutrinalmente designa-se uma exceção material, isto é, exceção significa contra direito que tem
fundamento no direito substantivo. As exceções materiais podem subdividir-se em perentórias e dilatórias.
Dito de outro modo, aquilo que a lei chama em conjunto de exceções perentórias podem ser discernidos.
Estamos perante exceção material perentória quando a exceção paralise definitivamente o direito exercido
pelo autor (ex.: cumprimento de uma obrigação. Esta exceção material definitivamente exclui a controvérsia
quanto àquele direito de crédito). Mas temos exceções materiais dilatórias que não extinguem
definitivamente a sua possibilidade de exercício, apenas adiam para o futuro (ex.: exceção de não
cumprimento quando é deduzida não impede que no futuro volte a ser exigida a obrigação, apenas que
enquanto não se realize a contraprestação o devedor possa recusar o cumprimento). Quando fazemos esta
distinção compreendemos que quando a lei regula as exceções perentórias tem em vista as exceções
materiais perentórias, pelo que a consequência é a absolvição do pedido (artigo 576º, nº3 CPC). Quanto às
exceções materiais dilatórias a consequência é a condenação do pedido no momento oportuno. A lei regula
expressamente o caso de a ação ter por objeto uma divida não vencida. Uma divida não vencida o devedor
tem ainda o benefício do prazo, isto é, pode recusar licitamente não cumprir. O prazo é uma exceção material
dilatório, pois permite recusar cumprir até certo momento. Qual é a decisão do tribunal caso conclua que a
obrigação existe, mas o prazo ainda não decorreu? O tribunal condena, mas a cumprir a pena num momento
oportuno (artigo 610º, nº1 CPC).

Ex.: imagine-se que o réu deduz a exceção de não cumprimento. Qual é a decisão que o tribunal deve tomar?
Dizem alguns autores, entre eles, Lebre de Freitas que neste caso, havendo uma exceção, não estando
especialmente regulada na lei, o tribunal absolve o réu do pedido e uma vez realizada a contraprestação
pode o autor propor uma nova ação e exigir a quantia em divida. Se a ação improcedeu por faltar
determinada condição, logo que esta se verifique pode ser proposta nova ação (artigo 621º CC). Este
entendimento não será o mais ajustado segundo o professor, isto porque o direito do autor efetivamente
existe e o tribunal não deve absolver o réu do pedido. O problema coloca-se apenas no plano da exigibilidade
e não da existência. O tribunal deve, deste modo, condenar o réu a cumprir assim que o autor realize a
contraprestação.

Em termos de classificação legal toda as exceções são simplesmente exceções, sejam ou não de
conhecimento oficioso. Em termos doutrinais distinguimos entre objeções e exceções em sentido próprio.
Uma objeção é de conhecimento oficioso (ex.: cumprimento; causa de nulidade). Uma exceção em sentido
próprio tem que ser arguida pelo interessado (ex.: prescrição)

Qual é a ordem lógica da defesa? A ordem lógica da defesa é começar pelas exceções dilatórias, depois
exceções perentórias por facto preclusivo (prestação, caducidade, usucapião), depois impugnação (quer de
facto quer de direito) e finalmente as demais exceções materiais.

Forma como a contestação reage à petição inicial…como vimos anteriormente, na petição inicial o autor
exerce o seu direito de ação com base numa certa causa de pedir e formula um determinado pedido. O
tribunal não pode conhecer da controvérsia sem que haja este pedido e o artigo 3º prevê que também não
pode conhecer sempre que haja oportunidade de contradição (o réu pode contestar) - em que planos pode
contestar? Através de exceções dilatórias, impugnação de facto, impugnação de direito e também exceções
perentórias. As exceções perentórias são um dado novo que é introduzido no processo pelo próprio réu,
ou seja, elas ainda não tiveram contraditório, mas quem irá contraditar as exceções perentórias será o
autor. Torna-se necessário em resposta aos novos elementos trazidos pelo réu que o autor tenha
oportunidade de reagir. Qual é o meio processual que o autor tem para reagir a estes elementos novos que
são trazidos pelo réu? O articulado próprio no direito português era a réplica. Acontece que este articulado
“réplica”, hoje apenas está previsto para os casos em que haja reconvenção por parte do réu ou uma
modalidade muito específica de ações (ações de simples apreciação negativa). Via de regra, não dispõe já o
autor de nenhum articulado para reagir. Contudo, o princípio do contraditório tem que ser respeitado e, por
conseguinte, não havendo nenhum articulado na fase dos articulados destinado a este propósito, então em
princípio, a resposta do autor será dada no primeiro ato da fase subsequente, ou seja, na audiência prévia
(artigo 3º, nº4 CPC). Logo imediatamente à entrada em vigor do CPC veio sustentar-se que os juízes ao abrigo
do dever poder de adequação formal podem fixar prazo para o autor por escrito responder às exceções
apresentadas pelo réu. Esta má solução normativa, mais tarde acaba por ser respondida nesta medida.
Revestindo as exceções deduzidas pelo réu grande simplicidade, a resposta na audiência prévia pelo autor é
completamente justificada, mas assumindo alguma complexidade o juiz deve fixar prazo para o autor
responder por escrito.

OU SEJA: Via de regra, o autor não dispõe de um articulado para responder às exceções deduzidas pelo réu,
logo responderá na primeira oportunidade (audiência prévia). Se não houver lugar a audiência prévia será
na audiência final. O juiz pode ainda entender que o mais adequado será resposta por escrito e nesse caso
deve conceder um prazo para o efeito. Nos casos, que são a regra, em que não há réplica, o autor não tem
nenhum ónus de impugnação dos factos articulados pelo réu para sustentar as exceções. Quando, pelo
contrário, exista réplica, se o autor não impugnar os factos articulados pelo réu, eles consideram-se
admitidos por acordo (artigo 587º, nº1 e 572º CPC).

A contestação pode limitar-se à defesa ou pode ter em vista realizar um contra-ataque do réu contra o autor.
Quando tal ocorra estamos na presença de uma reconvenção. A reconvenção é, portanto, um pedido
dirigido pelo réu contra o autor. Ao primeiro movimento do autor contra o réu reage o réu com um pedido
contra o autor. Passamos rigorosamente a ter duas ações cruzadas. Cada uma das partes é simultaneamente
parte ativa e parte passiva, mas a respeito de pedidos diferentes. Havendo uma reconvenção, o réu chama-
se réu para o pedido da ação principal e para a reconvenção chama-se reconvinte. O autor chama-se
reconvindo.

A reconvenção está sujeita a requisitos limitativos da respetiva admissibilidade. Importa-nos considerar o


artigo 266º, nº1 CPC. Sendo admitida a reconvenção, o articulado no qual o réu faz respetivo pedido é a
própria contestação, simplesmente, dentro da contestação separará a parte de defesa da parte de
reconvenção (artigo 583º CPC). A contestação tem mesmo duas partes. Este pedido que o réu formula contra
o autor é elaborado em termos análogos à petição inicial. O que vimos para a petição inicial vale mutatis
mutandis para a reconvenção (artigo 562º, alíneas d) e) por força do artigo 583º). O articulado em que o
autor responde ao réu será a réplica para responder ao pedido reconvencional (artigo 584º, nº1 CPC).
embora estejam funcionalmente ligadas no mesmo processo são estruturalmente distintas, cada uma com
os seus pressupostos próprios. Só assim não ocorre quando o pedido reconvencional seja dependente do
pedido formulado pelo autor (artigo 266º, nº6 CPC).

Exemplo de pedidos independentes um do outro: caso de responsabilidade civil e o autor afirma que o réu
lhe causou um dano e pede 20.000€ e o réu diz que quem causou o dano foi o autor. Pode uma ação proceder
e outra improceder. Cada uma destas ações é analisada em separado. A ação reconvencional está
completamente separada da ação principal

exemplo de pedidos dependentes um do outro: o autor propõe uma ação contra o réu de reivindicação. O
réu opõe-se, mas para a eventualidade de ser condenado pede a condenação do autor em indemnizar as
benfeitorias que tenha realizado. Se a ação de reivindicação improceder o réu tem direito a qualquer
indemnização? Não, pois, o seu direito está dependente da procedência do pedido principal, ou seja, caindo
a ação principal cai também a ação reconvencional.
Quando é que a reconvenção é admissível? A reconvenção é um fator de complexificação do processo, torna
complexo o processo. A lógica do processo civil é tornar o processo o mais simples possível, mas ser de mais
fácil solução. Por conseguinte, a lei apenas admite a reconvenção em casos em que haja uma conveniência
objetiva de julgar o pedido principal do autor contra o réu ao pedido do réu contra o autor. É o artigo 266º,
nº2 CPC que prevê os fatores de conexão material que admitem o pedido reconvencional. Quando é que ele
é admitido?

Só é admitida reconvenção se a forma do processo for a mesma. Se não for a mesma o juiz pode autorizar
mesmo quando as formas não sejam as mesmas (artigo 266º, nº3 que remete para o artigo 37º, nºs 2 e 3)

Quando se tratava da petição inicial e da contestação nós vimos que a resposta às exceções em geral
deduzidas na contestação tinha lugar, via de rega, na audiência prévia. Se na réplica que serve para
responder ao pedido reconvencional, o autor reconvindo deduzir exceções, onde é que o réu reconvinte
que fez o pedido reconvencional pode responder às exceções? Não havendo mais nenhum articulado,
responderá no primeiro ato da fase subsequente (artigo 3º, nº4 CPC). Qual é o articulado em que o autor
pode contraditar o pedido reconvencional? É a réplica que serve de “contestação” ao pedido
reconvencional. A réplica tem o mesmo prazo que vale para a contestação (artigo 585º CPC) ou seja 30 dias
e vale para ela o mesmo ónus de impugnação que vimos existir para a contestação (artigo 587º CPC).

E se na réplica que é esta defesa por parte do autor se recorrer às deduções de exceções? Onde é que o réu
pode responder? Não havendo mais nenhum ato na fase dos articulados, responde no primeiro ato da fase
subsequente que é qual? A audiência prévia. Se ela não existir, será na audiência final (artigo 3º, nº4 CPC).
também já sabemos que o juiz pode entender mais conveniente que esta resposta seja dada pro escrito e
nesse caso fixa prazo para que o réu possa responder ao abrigo do poder de adequação formal.

➔ AÇÕES DE SIMPLES APRECIAÇÃO NEGATIVA

Há um tipo de ação que goza de certas particularidades que são as ações de simples apreciação negativa.
Nas ações de simples apreciação negativa, a parte pede ao tribunal que declare a inexistência de um
determinado facto ou de um determinado direito (artigo 10º, nº3 alínea a) CPC). A petição inicial destina-
se a que o autor afirme aqueles factos desde os quais o réu arroga a si um determinado direito (Ex.: o autor
afirma que o réu anda a declarar publicamente que a propriedade de um certo prédio lhe pertence). Deve
igualmente alegar que estas afirmações do réu de um certo facto ou de um direito geram incerteza a respeito
de um direito do autor. A contestação neste caso destina-se não a que o réu negue o autor, mas a afirmar
o seu próprio direito (artigo 343º, nº1 CC) isto é, uma ação de simples apreciação negativa é tramitada como
uma provocação do autor ao réu para que ele tenha de sustentar os seus direitos. Sendo assim, torna-se
necessário um terceiro articulado que é a réplica para que o autor impugne os factos afirmados pelo réu.
Qual é a lógica de uma ação normal? O autor afirma os factos constitutivos da sua pretensão e o réu nega
ou impugna e depois claro pode deduzir exceções. Não é assim nas ações de simples apreciação negativa em
que o autor não afirma os factos constitutivos do seu direito, limita-se a afirmar a situação de incerteza
imputável ao réu. É o réu que terá de afirmar os factos constitutivos daquela posição que está em estado de
incerteza. Por conseguinte, o autor tem que ter a possibilidade de contraditar sendo que o fará na réplica. É
o autor que provoca o réu a ter que agir contra si. A apreciação da relação jurídica só se torna possível a
partir da contestação, pois só aí existem factos constitutivos. No fundo, numa ação normal o autor toma a
iniciativa e uma ação de simples apreciação negativa o autor toma a iniciativa de obrigar o réu a tomar a
iniciativa contra si.

Como vimos, a lei prevê certas preclusões, isto é, para a alegação de determinados factos há momentos
previstos no processo. O momento previsto para o autor fazer um pedido é a petição inicial e o momento
para o réu alegar um meio de defesa é a contestação. Decorrência desses ónus é que não sendo exercida
determinada posição jurídica no momento processualmente previsto ela não o pode ser posteriormente.
Qual é a dificuldade? O processo civil é uma sequência ordenada e concatenada de atos com vista a uma
certa finalidade e, portanto, o processo prolonga-se no tempo. A fase dos articulados em que tem lugar as
alegações das partes está no princípio da ação. Contudo, se o que resolve a controvérsia é a sentença a
questão que se coloca é a seguinte: se é certo que não podem ser alegados posteriormente, salvo quando a
lei o admita, os factos que já podiam ter sido deduzidos nos articulados, e quanto aos factos posteriores?
Para responder a esta questão temos que saber qual o momento em relação ao qual o juiz profere a sua
decisão. Imaginemos que se trata de uma ação de incumprimento de um contrato, o juiz vai pronunciar-
se quanto a esta obrigação em que momento? Qual é o ponto de referência temporal para o juiz? A solução
da lei é a seguinte: o último ato processual em que as partes intervêm é a audiência final. Terminada a
audiência o juiz já não dialoga com as partes. O momento de referência em que a sentença é dada é o
momento de encerramento da audiência final (artigo 611º, nº1 parte final CPC). imaginemos que uma ação
dá entrada em 2010. Em 2020 é que tem lugar a audiência final. O juiz vai decidir se a obrigação está
cumprida em 2020. Por conseguinte, uma vez terminada a fase dos articulados, é necessário que as partes
tenham um meio para trazerem ao processo aquilo que não foi introduzido na fase inicial porque ocorreu
ou foi conhecido supervenientemente. Portanto, aos articulados normais temos que acrescentar os
articulados supervenientes. A que se destinam os articulados supervenientes? Eles não se destinam a
corrigir os articulados normais. Desse modo destinam-se a introduzir no processo factos supervenientes
que podem ocorrer por 2 razões: terem ocorrido objetivamente em momento posterior (caso de
superveniência objetiva) ou terem conhecido em momento posterior (caso de superveniência subjetiva) -
artigo 588º, nº2 CPC.

Superveniência objetiva: ex.: imagine-se que o autor pede a condenação do réu ao cumprimento de um
contrato e já depois da fase dos articulados o contrato é cumprido. Pode o réu alegar que extinguiu a
obrigação. Ou então imagine-se que o cumprimento da obrigação se tornou impossível, pode o réu alegar a
causa de impossibilidade.

Superveniência subjetiva: ex.: imagine-se que a parte descobre já depois de terminada a fase dos
articulados que o contrato consigo celebrado fora celebrado dolosamente. É um meio de defesa que já
existia, mas só agora descobriu a sua existência.
A ideia da lei é muito clara: tudo o que pode ser feito valer nos articulados deve ser feito nos articulados.
Tudo aquilo para que haja um momento próprio no processo deve ser feito nesse momento. Se a parte
não o pode fazer, fá-lo posteriormente.

Qual é o momento processual em que se pode deduzir um articulado superveniente nos termos do artigo
588º, nº1? Depende do momento em que os factos ocorreram, mas a regra é a seguinte: os factos ocorridos
até à audiência prévia deduzem-se até esse momento. A partir daí deduzem-se na audiência final- artigo
588º, nº3 alíneas a) e c) CPC. O articulado deverá ser oferecido com as respetivas provas (artigo 588º, nº4
CPC) e sendo admitido a parte contrária é notificada para responder no prazo de 10 dias (artigo 588º, nº4
CPC). Existe um ónus de impugnação que já conhecemos (artigo 587º e 588º, nº4 CPC).

Resultado do dissemos é que todos os elementos fundamentais da instância se fixam na fase dos articulados,
nomeadamente, a partir do momento da contestação. Feita a contestação a instância torna-se estável
quanto às partes, ao pedido e à causa de pedir (artigo 260º CPC) e dentro deste âmbito podem
eventualmente serem trazidos novos factos. Vamos ter que considerar agora exceções a esta regra.

Porque é que a lei prevê o tal princípio da estabilidade da instância? Na verdade, é uma razão de
praticabilidade processual. Todo o processo é um meio de resolução do conflito que foi apresentado na fase
inicial, ou seja, se se modificassem os elementos essenciais da causa de uma forma livre, tal significaria que
o processo estaria sempre a recomeçar, seria sempre uma nova questão jurídica, porque envolveria o
conhecimento de novas questões, ora relativas a novas partes, ora relativos a factos diversos. É necessário,
deste modo, restringir a introdução de novos elementos no processo sob pena de o processo perder o
ritmo para a resolução da controvérsia. Só excecionalmente é que o processo admitirá novas partes,
modificação do pedido ou da causa de pedir

 NOVAS PARTES
A instância pode modificar-se de duas formas (artigo 268º CPC):

(1) Para substituir as partes da ação

A substituição de parte tem lugar através do incidente de habilitação (artigo 262º, alínea a) e 351º ss CPC).
Para que é que serve a habilitação? A habilitação serve para traduzir no processo uma mudança substantiva
na relação que é dele objeto. Ocorrida uma sucessão em termos materiais ela repercute-se no processo
desde que se recorra ao tal incidente de habilitação. Quando é que pode ter lugar a habilitação das partes?

✓ Quando morre uma das partes: morrendo uma das partes, ela perde personalidade jurídica (artigo
68º, nº1 CC) e por consequência perde personalidade judiciária (artigo 11º, nº2 CPC). Se a parte já
estava morta ao tempo da propositura da ação, temos a falta de um pressuposto processual. Se ela
morre durante a ação, a instância suspende-se (artigo 269º alínea a), são nulos os atos praticados a
partir de então (artigo 270º, nº3) e a instância é regularizada pela habilitação dos sucessores. Quando
forem habilitados, a instância retoma o seu funcionamento (artigo 276º, nº1 alínea a) CPC).

Ex.: imaginemos que a ação é proposta pelo autor contra o réu. O réu morre e tinha dois filhos B e C. A
partir do momento da morte suspende-se a instância e no processo através do incidente de habilitação,
B e C habilitar-se-ão como sucessores. Sendo admitida a habilitação a instância continua contra B e C.

NOTA: Este regime vale para a extinção de pessoa coletiva com as necessárias adaptações (artigo 269º, nº1
alínea a) CPC). Há uma exceção prevista no artigo 162º do Código das Sociedades Comerciais. Tratando-se
de uma sociedade comercial, não é necessário recorrer ao incidente de habilitação e a sociedade mantém-
se na ação na figura da generalidade dos sócios representados pelos liquidatários.

✓ Sucessão singular: isto é, já não substituir uma pessoa na sua totalidade, mas tendo havido mudança
na titularidade de um direito ou de uma coisa. É o regime da transmissão de coisa ou de direito em
litígio (artigo 263º CPC). Qual é a hipótese que a lei regula mediante este regime? Imagine-se que o
autor propõe uma ação contra o réu, por exemplo, uma ação de reivindicação e na pendencia da
ação o réu transmitiu a um terceiro, tendo, desse modo, havido uma sucessão singular. Neste caso
teremos uma possível transmissão singular do direito que é exercido na causa. Qual é a solução da
lei? Neste caso, ao contrário de morte de uma das partes, as partes não perderam a sua
personalidade judiciária. Mesmo tendo havido transmissão de coisa ou direito em litígio, o
transmitente mantém-se com legitimidade para a ação, produzindo a sentença efeitos em relação ao
adquirente, mesmo que ele não intervenha no processo (artigo 263º, nº3 CPC). Dito de outro modo,
a partir do momento em que é transmitida uma coisa ou direito em litígio, a parte da ação continua
a ter legitimidade, mas passou a ser uma legitimidade extraordinária, sendo suficiente para que os
efeitos da decisão se oponham ao possível novo adquirente desse direito. A lei permite, no entanto,
que seja requerida a habilitação do adquirente- artigo 356º CPC. Se houver habilitação, a legitimidade
é totalmente normalizada: a parte primitiva sai da ação e é substituída por quem potencialmente
adquiriu nos termos do direito substantivo.

(2) Para acrescentar novas partes

A intervenção de novas partes poderá ter lugar nos termos do artigo 262º, alínea b) e artigos 311º ss CPC
que respeita aos incidentes de intervenção de terceiros. Os terceiros acrescem às novas partes e podem
intervir a 3 títulos diferentes:

(1) Intervenção principal

Em que consiste? Consiste em colocar mais alguém na posição de autor ou na posição de réu na qualidade
de parte principal. Esta intervenção pode ser espontânea (artigo 311º ss) sendo espontânea quando é o
próprio que pede para entrar na instância ou pode ser provocada que são quando aqueles que já estão na
instância pedem a intervenção de terceiros (artigo 316º ss CPC). Enquanto a intervenção principal
espontânea é admissível em todos os casos de litisconsórcio, ao passo que a intervenção provocada está
sujeita a requisitos bem mais exigentes- quando é que ela é admitida? Se houver preterição de litisconsórcio
necessário é sempre admitida (artigo 316º). Se for um litisconsórcio voluntário importa distinguir: o autor
pode sempre chamar outros réus, mas não pode chamar outros aurores. O réu já poderá chamar outros réus
e cotitulares o direito (artigo 316º, nº3 alínea a) e b) CPC).

Um caso especial vale para as obrigações solidárias. Sendo o réu demandado para cumprir integralmente
uma obrigação solidária, pode pedir o chamamento dos codevedores, nomeadamente, para efeitos de
exercício do direito de regresso. Neste caso o réu não é apenas uma parte passiva, é parte passiva na ação
contra o autor, mas é parte ativa na ação de regresso contra o codevedor solidário.

(2) Intervenção acessória

Na intervenção acessória a parte acessória não está a par da parte principal, mas está numa posição
subordinada, assistindo a parte principal. A intervenção acessória pode ser provocada (artigo 321º) ou
espontânea (artigo 326º ss). Qual é a utilidade da parte acessória? O que fica definido na ação principal
pode ser aproveitada pela parte acessória. O intuito do instituto da parte acessória é permitir abranger pelo
definido na decisão aqueles que não têm legitimidade para serem partes principais e por essa razão só se
aplica o regime da parte acessória quando não haja legitimidade para ser parte principal.

Ex.: imagine-se que estamos perante uma empreitada da construção de um edifício. O autor propõe a ação
contra o empreiteiro porque, por exemplo, havia um problema na canalização, mas o empreiteiro para
realizar a canalização contratou um subempreiteiro. Nos termos do regime do direito substantivo o
devedor responde ainda pelos atos de auxiliares (artigo 800º ss CC). Ou seja, a ação foi bem proposta
contra o empreiteiro. Mas será que o autor podia propor a ação contra o subempreiteiro? Não, pois não
tinha celebrado com este qualquer contrato. Este subempreiteiro pode ser chamado unicamente como
parte acessória- artigo 321º.

(3) Oposição

Em que consiste? A oposição consiste no ingresso de uma nova parte que tenha uma posição irredutível á
de autor e à de réu. a oposição pode ser espontânea (artigo 333º ss) ou provocada (artigo 338º ss). Ex.: o
autor reivindica uma coisa do réu. Um terceiro afirma que o bem não pertence nem ao autor nem ao réu,
mas a si. Não se vai juntar a nenhuma das partes, mas vai fazer valer uma posição própria.

 PEDIDO E CAUSA DE PEDIR

Em que termos podem ser modificados? Esta matéria está regulada pelos artigos 264º e 265º. Temos que
distinguir se há acordo ou se não há acordo. Havendo acordo, a modificação em princípio é livre enquanto
a ação estiver em primeira ou em segunda instância. Apenas se exclui quando perturbe inconvenientemente
a instrução, discussão e julgamento da causa (artigo 264º segunda parte). A regra é que as partes podem
livremente mudar e o juiz pode recusar quando entender que há inconveniente sério para a tramitação da
causa. Se não houver acordo vigora o artigo 265º CPC.

Quanto à causa de pedir, apenas se pode modificar a causa de pedir na sequência de confissão feita pelo
réu e aceita pelo autor- artigo 265º, nº1 CPC. Quanto ao pedido importa distinguir a redução do pedido da
ampliação. A redução do pedido é sempre livre pois o autor está a abdicar de tutela (artigo 365º, nº2 primeira
parte), ou seja, a redução equivale a uma desistência parcial e a desistência extingue o direito substantivo
na parte correspondente (artigo 285º, nº1). Quanto à ampliação é possível quando seja em desenvolvimento
ou consequência do pedido. Pode ser feita até ao encerramento da audiência (artigo 265º, nº2 segunda
parte CC).

Existem dois casos especiais que a lei prevê:

1. É expressamente admitido o pedido de sanção pecuniária compulsória até ao encerramento da


discussão (artigo 265º, nº4)

2. A indemnização em renda no âmbito da responsabilidade extracontratual (artigo 567º) pode ser


pedida ate ao encerramento da discussão mesmo que a princípio se tenha pedido uma quantia certa
(artigo 265º, nº5) Ex.: o autor pede a condenação do réu a pagar 10.000€ de indemnização. Pode até
ao encerramento da audiência pedir a substituição do pedido em prestação.

NOTA: Há uma outra forma de apresentar a ação declarativa: temos duas fases principais que são a fase dos articulados
e a fase da discussão. É preciso a fase da gestão inicial do processo para ligar estas duas fases principais.
9. Fase de Gestão Inicial do Processo

A gestão inicial do processo é uma fase tradicionalmente designada de condensação e saneamento (porque
se afere da regularidade da ação tal como apresentada e modelada pelos atos processuais das partes). No
fundo, nesta fase intermédia, o processo é analisado com vista a formular um juízo de admissibilidade (caso
seja admitido preparam-se as fases subsequentes, nomeadamente, a discussão onde tem lugar a produção
da prova constituendas).

Quais são os atos que têm lugar nesta fase da gestão inicial do processo? Pretende-se que o juiz tome 3
decisões/despachos:

(1) Despacho saneador: em que se limita a conhecer de exceções dilatórias e nulidades processuais

(2) Despacho de adequação formal: adaptação da forma geral do processo às circunstâncias do caso
concreto

(3) Despacho de enunciação dos temas de prova: quais são as matérias que serão objeto de instrução
na fase de discussão e julgamento

Para o efeito podem ser necessários dois atos anteriores: a audiência prévia e o despacho pré-saneador.
É em função das decisões potenciais que o juiz pode pretender tomar no despacho saneador, de adequação
formal e despacho de enunciação dos temas de prova, que determinará a audiência prévia ou o despacho
pré-saneador.

➢ Despacho Pré-Saneador: artigo 590º, nº2 CPC. É um despacho meramente eventual. O juiz profere
despacho pré-saneador em que situações?

a) Quando pretenda providenciar pelo suprimento de exceções dilatórias (artigo 6º, nº2 CPC).

b) Quando pretenda providenciar pelo aperfeiçoamento dos articulados- em que termos? Há


lugar ao aperfeiçoamento quando o articulado seja irregular, ou seja, quando não observe
os requisitos que a lei impõe ou não seja acompanhado de documento que a lei exige ou
quando o articulado seja deficiente, ou seja, quando lhe falte alguma
especificação/imprecisão na concretização da matéria de facto. Num e noutro caso, o juiz
deverá convidar a parte a regularizar o seu articulado ou a concretizá-lo de forma a suprir a
sua insuficiência (artigo 590º, nº3 e 590º, nº4 respetivamente). Quando se trate de um
convite para suprir as insuficiências deve o juiz dar à contraparte oportunidade de
contraditório (artigo 590º, nº5 CPC). Ex.: o autor afirma que o réu circulava na estrada
nacional a alta velocidade. Perante este articulado o juiz pode pedir que concretize o que era
o excesso de velocidade.

c) Quando pretenda determinar a junção de documentos que permitam a tomada de uma


decisão no despacho saneador.

O despacho saneador é um poder do juiz, mas também um dever. Se o juiz não profere despacho pré-
saneador, devendo-o, podemos estar diante de uma nulidade processual nos termos do artigo 145º CPC.

➢ Audiência Prévia: artigo 598º CPC. A audiência prévia é uma audiência. A audiência prévia não tem
lugar nos casos previstos no artigo 592º CPC, nomeadamente, nos casos de revelia operante e
também quando o processo deva terminar no saneador com fundamento numa exceção que já tenha
sido debatida nos articulados. Não sendo estes os casos, a audiência prévia terá lugar para algum
ou alguns dos seguintes propósitos:

▪ A audiência prévia pode servir para realizar uma tentativa de conciliação (artigo 591º, nº1 alínea
a) e 594º CPC). é a tentativa de o juiz levar as partes a chegarem a acordo. Quando se pretenda
uma tentativa de reconciliação as partes são notificadas para marcarem presença pessoalmente
ou com mandatário com poderes especiais (artigo 594º, nº2 primeira parte) pois se for
mandatário com poderes gerais não poderá fazê-lo.

▪ Quando o juiz pretenda já tomar uma decisão acerca de exceções dilatórias ou mesmo sobre o
mérito da causa no despacho saneador a audiência prévia pode servir para a discussão de facto
e de direito entre as partes (artigo 591º, nº1 alínea b) CPC). quando o juiz envie em vez de tomar
uma decisão na sentença final quer tomar já uma decisão no despacho saneador e haja
conveniência na discussão essa é feita na audiência prévia. A discussão que normalmente tem
lugar na audiência final, quando haja possibilidade de o processo terminar antes dessa, terá lugar
na audiência prévia

▪ Discutir as posições das partes para delimitar os termos do litígio e suprir as insuficiências da
matéria de facto que ainda subsistam: artigo 591º, nº1 alínea c). A fase dos articulados decorre
sem intervenção do juiz. A audiência previa permite diálogo entre o juiz e os mandatários das
partes para chagarem um ponto em que entendam quais os exatos termos daquele concreto
litígio apercebendo-se de eventuais insuficiências dos próprios articulados, dando-se
possibilidade aos mandatários para poderem suprir essas mesmas insuficiências.

Juiz pode proferir os despachos fundamentais: depois de eventualmente permitir a discussão de facto e de
direito e de com as partes discernir qual o objeto do litigo pode decidir, proferindo despacho saneador,
adequação formal e identificação do objeto do litígio e temas de prova. Quando a audiência prévia se destine
apenas à prolação destes despachos pode dispensar-se a audiência prévia (artigo 593º CPC). As partes só
devem marcar presença na audiência prévia se houver utilidade na discussão.

▪ Programação: ouvidos os mandatários das partes dos atoa a realizar na audiência final: qual é o dia
da audiência final. Qual a sua duração (artigo 591º, nº1 alínea g)

Artigo 593º, nº2 CPC: quando a audiência prévia é dispensada os atos têm lugar nos 20 dias subsequentes
ao termo da fase dos articulados. Na audiência prévia o juiz pode pronunciar-se já sobre meios de prova que
foram requeridos pelas partes.

DESPACHO SANEADOR

Este despacho surgiu com o intuito muito prático de evitar que uma ação fosse tramitada com determinados
vícios que pudessem determinar no futuro a inutilidade da própria tramitação processual. Ocorria com
frequência que uma ação já estivesse numa fase muito avançada e se identificasse uma nulidade processual
ou a falta de determinado pressuposto processual ocorrida em momento muito anterior o que resultaria na
inutilização de tudo o que ocorreu anteriormente. Deste modo, estabeleceu-se que no momento
intermédio do processo se previsse um ato processual com o expresso propósito de conhecer de vícios ou
de falta de pressupostos processuais que pudessem inutilizar atos subsequentes. Qual é o seu propósito?
O seu propósito vem consagrado no artigo 595º, nº1 alínea a) CPC- a função normal do despacho saneador
é conhecer de exceções dilatórias de nulidades processuais. Não é, portanto, um despacho que conheça do
mérito da causa, visando apenas apurar se ela está devidamente regularizada. O despacho saneador, uma
vez transitado em julgado, tem valor de caso julgado formal- artigo 620º CPC. A força do despacho saneador
limita-se as questões concretamente apreciadas (artigo 595º, nº3 primeira parte CPC). Os magistrados
judiciais tal como os mandatários das partes tipicamente servem-se de algumas formas de estilo para agirem
no processo. Uma forma de estilo corrente no despacho saneador é a afirmação de que o processo não tem
nenhuma invalidade ou não falta qualquer pressuposto. Esta afirmação genérica não tem qualquer valor
jurídico. A decisão do juiz só vale por referência aquilo sobre o que concretamente decida. Uma outra
finalidade deste despacho é conhecer imediatamente do mérito da causa quando não haja necessidade
de mais provas, isto é, quando não haja necessidade de audiência final. Quando no momento do saneador
o juiz já dispõe de todos os elementos necessária para decidir do mérito, pode já proferir a sentença, ou seja,
a hipótese da alínea b) verdadeiramente é uma sentença no momento do saneador quando não seja preciso
praticar nenhum ato adicional para o juiz decidir. Quando é dispensada a audiência prévia tem o prazo de
20 dias a contar do termo dos articulados: artigo 593º, nº2 alínea a).

DESPACHO DE IDENTIFICAÇÃO DO OBJETO DO LITÍGIO E ENUNCIAÇÃO DOS TEMAS DE PROVA

Este despacho encontra-se previsto no artigo 596º CPC. Antes deste CPC de 2013 o juiz tinha de identificar
quais os factos carecidos de prova. Hoje em dia o juiz não tem de identificar quais os factos objeto de prova,
mas quais as matérias objeto de prova. A lei foi alterada no sentido de dar maior abertura à atividade
probatória a desenvolver na audiência (ex.: numa ação relativa à responsabilidade civil, os temas de prova
podem ser o facto, o dano, o nexo de causalidade etc. e dentro destas matérias todos os factos dela relativos
podem ser objeto de atividade instrutória).

10.Fase da Instrução

A respeito da instrução convêm fazer uma distinção entre fases em sentido cronológico e fase em sentido
lógico. Uma fase em sentido cronológico representa um certo período de tempo no processo. Fase em
sentido teleológico representa todos o conjunto de atos com uma determinada finalidade no processo.
Normalmente as duas coisas coincidem.

Ex.: a fase dos articulados é cronologicamente a primeira fase do processo e todos esses atos têm uma
determinada finalidade, submeter o litigo e os seus termos á apreciação do tribunal e o contrário também é
correto, ou sejam todos os atos que tenham uma determinada finalidade, normalmente, têm lugar numa
certa fase cronológica do processo.

Com a instrução não é bem assim. Os atos probatórios podem iniciar-se nos articulados e prolongarem-se
no decurso da ação. Embora do ponto de vista cronológico haja um momento específico para a produção de
prova, quando não haja uma qualquer outra altura estabelecida pela lei que é a audiência final. Isto ajuda a
explicar as diferentes opções do legislador a regular a matéria da instrução. No CPC anterior a 2013 a
instrução era regulada no interior das normas relativas ao processo comum de declaração. Terminávamos o
despacho saneador e tínhamos a instrução. Presentemente, a instrução é regulada não como uma fase
cronológica do processo, mas como um conjunto de atos relativos a uma certa finalidade
independentemente do momento em que eles tenham lugar, ou seja, a instrução é regulada de acordo com
o critério teleológico (artigos 410º ss).
➔ DIREITO PROBATÓRIO MATERIAL E DIREITO PROBATÓRIO FORMAL

Uma primeira distinção fundamental que temos de fazer é entre direito probatório material e direito
probatório formal. O direito probatório material diz respeito à determinação dos diferentes meios de prova
e das regras relativas à distribuição do ónus da prova. Encontra-se regulado, atendendo à sua relevância
para a afirmação e reconhecimento das posições jurídicas substantivas, no Código Civil (artigo 341º ss). O
direito probatório formal respeita, por seu lado, aos procedimentos probatórios destinados a propor,
admitir, produzir ou assumir a prova no processo civil, isto é, o direito probatório formal respeita ao modo
como a prova é feita valer no processo. É regulado nos artigos 410º ss CPC.

Quando uma determinada norma do nosso direito dispõe que num documento autêntico se faz prova
plena das declarações dele constantes: isto é direito probatório material. Quando diz que os articulados
devem ser acompanhados dos documentos que comprovem os factos nele alegados: isto é direito
probatório formal.

O TERMO PROVA PODE SER USADO EM 3 SIGNIFICADOS


(1) Pode significar um meio para algo: meio para permitir ajuizar da verdade ou da falsidade de uma
afirmação
(2) Pode designar a atividade probatória
(3) Pode designar o resultado probatório

A matéria de direito probatório é de uma enorme relevância prática, uma vez que é em boa medida do bom
sucesso probatório que depende a procedência da causa ou a atendibilidade da defesa. O direito probatório
condiciona de forma extremamente intensa a possibilidade de se ver reconhecido em juízo as próprias
posições jurídicas.

10.1 Objeto da Prova

Nos termos do artigo 341º CC, a prova tem por função demonstrar a realidade dos factos. Rigorosamente
o que daqui decorre é que pela atividade probatória se pretende concluir pela verdade das afirmações que
foram feitas a respeito de determinados acontecimentos da vida. Sendo assim, estão fora da necessidade
de prova, os factos notórios que sejam de conhecimento geral (artigo 5º, nº2 alínea c) primeira parte CPC).
Os factos notórios não carecem de prova, uma vez que a respeito deles não se coloca nenhuma dúvida
fundamental. Equiparado a estes factos notórios que não carecem de ser provados, estão ainda
determinadas inferências que correspondem a máximas gerais e que operam como presunções judiciais
(ex.: quando alguém sofre uma grande lesão física tem dores). Também não carece necessariamente de
prova, nos termos do mesmo artigo 5º, nº2 alínea c) segunda parte CPC os factos de que o Tribunal conhece
por virtude do exercício das suas funções (ex.: se numa determinada causa que corra perante o tribunal, o
julgador tem conhecimento de um determinado facto que concluiu numa outra ação, pode dele conhecer
mesmo quando não tenha sido alegado pelas partes).

Quais são os princípios fundamentais em matéria probatória?

✓ Princípio do inquisitório (artigo 411º ss): nos termos deste artigo faculta-se ao juiz o poder de realizar
ou ordenar oficiosamente as diligências necessárias ao apuramento da verdade – é o poder de
inquirir de investigar, de procurar por sua própria iniciativa a verdade ou não de uma certa afirmação
que haja sido feita. Ocorre, porém, no processo civil uma importante limitação ao princípio do
inquisitório. O tribunal só pode exercer este poder por referência àqueles factos que lhe seja lícito
conhecer (artigo 411º parte final). O tribunal só pode conhecer, via de regra, dos factos alegados
pelas partes (artigo 5º, nº1). O Tribunal não pode exercer a sua atividade inquisitória por referência
a um acervo factual diferente daquele que foi trazido pelas partes ao litígio. O respeito pelas posições
jurídicas privadas das partes implica que o tribunal não vá alem daquilo que lhe foi pedido para
apreciar. Se o tribunal for além desses factos de que lhe é lícito conhecer, a sentença é nula nessa
medida- artigo 608º, nº2 segunda parte e 615º, nº1 alínea b) segunda parte.

O princípio do inquisitório não serve para corrigir a inércia das partes em requererem meios de prova

Ex.: imagine-se que a parte não respeitou o prazo para juntar documento ao processo. Deve o juiz ordenar à
parte a junção do documento? Não, porque a parte teve a possibilidade de o fazer e não o fez. Daí referir-se
que o inquisitório não serve para corrigir a negligência da própria parte, mas para que, não tendo havido
esse comportamento censurável da parte, o tribunal não tenha as mãos atadas, não esteja limitado na sua
atividade inquisitória quando se aperceba da utilidade de um meio de prova a que não se recorreu. Não por
inércia, mas simplesmente porque não se tinha visado previamente a sua oportunidade.

✓ Princípio de aquisição processual (artigo 413º): a prova é considerada independentemente da parte


de quem ela proveio. A prova produzida aproveita a ambas as partes. Ex.: uma testemunha indicada
pelo autor faz determinada alegação que aproveita ao réu. Ela pode ser considerada? Sim, porque a
prova aproveita não à parte, mas ao processo, ao conjunto do processo.

✓ Princípio da audiência contraditória (artigo 415º CPC): manifestação no campo da prova do princípio
do contraditório. Consiste no facto de a atividade probatória estar sujeita à possibilidade de
contradição da parte a quem se pretende opor a prova

✓ Princípio da cooperação que se manifesta num dever de cooperação para a descoberta da verdade
(artigo 417º CPC): todas as pessoas, sejam ou não partes, devem colaborar para a descoberta da
verdade quando assim lhes seja requerido. Uma testemunha que não é parte da causa, uma vez
notificada para testemunhar, tem o dever de colaborar com o tribunal. A não cooperação com o
Tribunal pode ter as seguintes consequências:

1- Condenação em multa (artigo 417º, nº2 primeira parte CPC)


2- Recurso aos meios coercitivos que sejam possíveis (artigos 433º, 437º e 508º, nº4- possibilidade
doi juiz ordenar que a testemunha compareça sob custódia).
3- Caso haja omissão grave do dever de cooperação, pode responder como mitigante de má fé
(artigo 542º, nºs 1 e 2 alínea c) CPC).
4- Se o recusante for parte é possível apreciar livremente a recusa (isto é, extrair conclusões da
própria recusa) podendo mesmo inverter-se o ónus da prova nos termos do artigo 344º, nº2 CC).
esta solução consta do artigo 417º, nº2 parte final CPC.

A lei prevê, no entanto, que possa haver recusa legítima de cooperação. Quando? Temos que considerar o
artigo 417º, nº3 e ainda outras hipóteses não reguladas nesse artigo.

o Artigo 417º, nº3 alínea a) - violação da integridade física ou moral das pessoas: Um caso que se
coloca com muita frequência em matéria cível e que envolve esta questão é dos testes de ADN em
ações de investigação da paternidade ou maternidade.
o Artigo 417º, nº3 alínea b): intromissão na vida privada ou familiar, no domicílio, na correspondência
ou nas telecomunicações

o Artigo 417º, nº3 alínea c): violação do sigilo profissional ou de funcionários públicos ou do segredo
de Estado. Neste último caso, a lei civil, no nº4 do artigo 417º remete para o disposto no regime do
processo penal nos artigos 135º a 137º CPP incluindo-se categoria adicional em relação àquelas que
são mencionadas na alínea c) que é o sigilo de ministros de religião e confissão religiosa. Nestes casos,
a regra é de que o sigilo profissional pode ser levantado nos termos do artigo 135º, nº3 CPP. Isto é,
esta recusa legítima não tem um efeito obstativo permanente, podendo ser levantado. Sendo
levantada a custa há um dever de cooperar. Só não pode ser levantada se for um caso de segredo
sobre religião.

Como é que a prova se faz valer no processo? Podemos distinguir 5 diferentes níveis de relevância da
prova:

(1) Alegação de factos: a alegação de factos tem lugar na fase dos articulados

(2) Proposição dos meios de prova: relativos a essas mesmas alegações de facto

(3) Admissão de meios de prova: em princípio o juiz decide sobre a admissão dos meios de prova que
terá lugar na fase de condensação ou saneamento ou gestão inicial do processo

(4) Produção de prova: sendo necessário produzir a prova no processo, ela terá lugar, em princípio, na
audiência final

(5) Apreciação da prova: tendo lugar no período de elaboração da sentença ela concretiza-se na própria
fundamentação da sentença

Especificamente quanto à produção de prova: quando é necessário fazer a produção de prova o seu
momento próprio é o da audiência final, sem prejuízo de ser possível, quando haja periculium in mora,
realizar-se uma produção antecipada de prova (Ex.: se pretende depoimento de alguém que está na
iminência de morrer pode requerer-se a produção antecipada de prova, antes de a mesma ficar
impossibilitada). Este regime consta dos artigos 419º e 420º prevendo-se que a prova produzida
antecipadamente seja registada (artigo 422º) para que possa posteriormente ser apreciada.

10.2 Meios de Prova

Quanto ao momento em que a prova se constitui, a prova distingue-se entre prova pré-constituída (meio
de prova que já existe anteriormente ao próprio processo. Ex.: documento que titula um determinado
contrato já existe antes do processo) e prova constituenda (ex.: depoimento de uma testemunha. É dentro
do processo que o depoimento é prestado).

Quanto à fonte da prova: a prova pode ter por fonte uma pessoa (designada prova pessoal- ex.: testemunho
através do depoimento) ou pode ter por fonte uma coisa (designada prova real- ex.: documento)

Quanto ao valor dos meios de prova: os meios de prova podem ser graduados no que respeita ao seu valor
numa ordem hierárquica. Qual é o valor mais elevado que pode ter um determinado meio de prova?
➔ Prova pleníssima: a prova pleníssima tem um valor que nunca pode ser afastado. Concluindo-se por
um certo facto tem que se aceitar necessariamente o resultado probatório (ex.: artigo 243º, nº3 CC,
Nos termos deste artigo considera-se sempre de má fé o terceiro que adquiriu o direito
posteriormente (…).

➔ Prova plena: em que consiste a prova plena? Consiste em considerar-se o facto provado podendo,
porém, contrariar-se esse valor probatório mediante a prova de que ele não é verdadeiro (artigo 347º
CC). Ou seja, consiste em criar uma presunção ilidível acerca de um certo facto. O valor da prova
plena é eliminar a dúvida acerca de determinado facto. Se for provado que ele não ocorreu, o valor
probatório é totalmente afastado e esta é a diferença em relação à prova pleníssima.

➔ Prova bastante: a prova bastante cede perante a dúvida do julgador- ex.: artigo 1816º, nºs 2 e 3 CC.

➔ Prova livre: o seu valor é fixado pelo próprio julgador. É o princípio da livre apreciação da prova. Qual
é a regra do direito civil? Se não houver a atribuição de um valor probatório específico a um meio
de prova, vale supletivamente o princípio da livre apreciação da prova.

10.2.1 Prova Documental

Está regulada em termos substantivos nos artigos 362º ss CC. Em termos adjetivos está regulada nos artigos
423º ss CPC. O que é um documento? O documento encontra-se definido pelo artigo 362º CC. Para que um
meio de prova tenha esta qualidade, exige-se a observância de 4 características, nomeadamente:

I. Um documento é um objeto
II. Um documento é um objeto de autoria humana
III. Um documento é um objeto que reproduz ou representa uma pessoa, uma coisa ou um facto. O
modo de representação pode ser diferenciado.
IV. Há uma relação intencional entre a elaboração do documento e aquilo que ele reproduz ou
representa. Este objeto é feito para representar. Isto permite distinguir o documento de outro tipo
de meio de prova

A prova documental poderá ser facultativa ou necessária. É Facultativa quando a lei não impõe a prova
documental, mas a parte apresenta o documento. É necessária quando a lei por determinada razão exige a
prova documental.

Quando é que a lei exige a prova documental? Distinguem-se dois grupos de hipóteses:

1. Formalidades ad substantiam: a formalidade é necessária para a validade de um certo ato. Ex.: forma
do negócio jurídico. Quando a lei prevê que o negócio jurídico deve observar uma certa forma, a sua
inobservância conduz a que consequência? À nulidade, mas é uma nulidade substantiva, é anterior à
própria questão probatória: artigo 220º CC. É natural que quando se trate de uma formalidade
substancial, a declaração em causa só se possa provar por intermédio desse meio de prova que a lei
exige ou de um meio superior (artigo 364º, nº1 CC).

2. Formalidades ad probationem: vale a particularidade de ser possível a prova do ato, não só por via
documental, mas ainda por confissão (artigo 364º, nº2).
Qual é o regime que vale para fazer valer documentos no processo? Distinguimos 3 casos:

1. Apresentação de documentos pela parte: a regra é que o documento deve acompanhar os


articulados em que se alegam os factos constantes do documento (artigo 423º, nº1). Contudo, esta
regra tem duas exceções:

1) Documento pode ser apresentado até 20 dias antes da audiência final (artigo 423º, nº2). Neste
caso, porém, a parte é condenada em multa. A partir de 20 dias antes da audiência final só é
possível juntar documentos que não tenham sido passíveis de junção anterior (artigo 423º, nº3)

2) Junção de documentos em sede de recurso (artigo 425º) quando não tenha sido possível fazê-lo
em primeira instância. No caso de o documento consistir numa reprodução cinematográfica, se
for necessária a parte deve facultar ao tribunal os meios para exibição destes documentos (artigo
428º)

2. Requisição de documento pela parte: iniciativa de pedir que se junte o documento. Cada parte pode
pedir que se ordene à parte contrária a junção de documento (artigo 429º) ou mesmo que se ordene
a terceiro a junção de documento. O dever de a parte contrária ou de terceiro juntar documento é
uma expressão do princípio da cooperação à descoberta da verdade (artigo 417º e 7º CPC). Para que
seja admitida a requisição de documento é necessário que a parte identifique qual documento em
concreto que pretende, os factos que pretende provar e deve o juiz concluir pelo interesse objetivo
nessa junção (artigo 429º, nº1 parte final e nº2 CPC). É possível que a parte a quem o documento é
requisitado declare que não possui o documento. Pode ser ao necessário ao interessado demonstrar
que o documento é falso (artigo 431º)

3. Junção de documento por iniciativa do tribunal: pode ordenar que se faça juntar documentos ao
processo (artigo 436º CPC) que é uma expressão do princípio do inquisitório (artigo 411º CPC). Ex.:
O tribunal pode dar uma ordem a uma conservatória de registo civil para dar uma informação sobre
certa pessoa.

Qual é o valor que se atribui à prova documental? Devemos distinguir entre diferentes modalidades de
documentos:

Documentos escritos e documentos não escritos

Os mais valiosos são os documentos escritos. Grande parte do regime relativo ao valor dos documentos está
pensado para os documentos escritos. O Código Civil nos artigos 362º a 387º terá uma norma que não é
sobre documentos escritos. Ex.: documento não escrito: gravação; pintura; fotografia. Vamos considerar
principalmente os documentos escritos

Os documentos escritos podem conter uma declaração de ciência, isto é, no sentido de conhecimento de
alguma coisa, alguém narra que assistiu ou ouviu alguma coisa, ou uma declaração de vontade (referência
a um ato que visa produzir efeitos jurídicos). Seja uma declaração de ciência ou declaração de vontade,
quanto ao seu valor eles subdividem-se em dois grupos: podem ser documentos autênticos ou
documentos particulares. Dentro dos documentos particulares haverá uma subdistinção.

➔ Documentos autênticos: a noção de documento autêntico/público encontra-se definida no artigo


363º, nº2 primeira parte CC e são depois regulados nos artigos 369º ss CC. Ex.: escritura pública,
testamento público, auto elaborado pela polícia. Quais são os requisitos para que o documento
adquira este valor?

✓ Elaborado por uma entidade pública ou por alguém que goze de fé pública (poderes de
atestação).
✓ Documento para poder ter esse valor tem de ser elaborado por quem for territorialmente
competente (artigo 369º, nº1 CC). Se tal não ocorrer, o seu valor probatório é livremente
apreciado pelo tribunal (artigo 366º).
✓ Estando o documento com uma assinatura reconhecida por notário ou com selo de um
determinado ente público presume-se a respetiva autenticidade (artigo 370º, nº1 CC)

Qual é o valor probatório dos documentos autênticos? É fazerem prova plena dos factos que se referem ter
ocorrido pela autoridade que interveio no ato ou terem sido percecionados e devidamente atestados pela
entidade documentadora

A prova plena não significa que o valor probatório não possa ser afastado. Como é que se pode afastar o
valor probatório da prova plena? Provando-se que não é verdadeira, suscitando-se a questão da respetiva
falsidade. Embora os documentos autênticos façam prova plena daquilo que é testado pela entidade
documentadora, pode ilidir-se o seu valor probatório com base na respetiva falsidade (artigo 372º, nº1). A
falsidade pode ser material ou ideológica. A falsidade material é quando o próprio documento é
manipulado. A falsidade ideológica é quando o documento não foi adulterado, mas o seu conteúdo é falso,
ele relata acontecimentos que não ocorreram, atestam factos que não se verificaram.

Seja de uma forma seja de outra, a falsidade do documento pode ser suscitada no processo mediante o
regime constante do artigo 446º CPC que remete para o prazo previsto no artigo 444º CPC. A regra é que se
pode suscitar a falsidade do documento no articulado seguinte àquele com o qual o documento foi
apresentado (ex.: autor apresenta um documento na petição inicial, o réu na contestação pode suscitar a
falsidade do documento. Caso se levante essa questão a atividade probatória relativa a este ponto é feita na
audiência final e fica incluída entre os meios de prova). Na eventualidade de ser evidente a falsidade, o
tribunal pode declará-la logo oficiosamente (artigo 372º, nº3).

Documentos particulares: são documentos particulares os que não são documentos autênticos.
Dentro dos documentos particulares vamos distinguir entre documentos assinados e documentos
particulares não assinados. Dentro dos assinados podemos distinguir os documentos particulares
comuns e os documentos particulares em que haja reconhecimento de assinaturas ou
autenticação.

✓ Documentos particulares assinados (artigo 373º): A assinatura deve provir do próprio


subscritor do documento. Só é possível um documento assinado por terceiro quando aquele
que pede não souber ou não puder assinar (artigo 373º, nº1 segunda parte). Acresce que
neste caso de documento assinado por terceiro, o pedido deve ser confirmado
posteriormente perante o notário (artigo 373º, nº4).

O documento particular levanta um problema específico de saber se é efetivamente imputável àquele que
consta como o seu subscritor. Porque é que o problema de coloca? Ao contrário do que ocorre nos
documentos públicos não há aqui uma atestação pública de que quem interveio no documento foi
efetivamente aquele que consta como subscritor. Daí o regime previsto na lei processual. Sendo apresentado
um documento particular, se a parte contra quem for apresentado, não confessar nem impugnar, a autoria
considera-se provada por admissão (artigo 374º, nº1 CC). Se pelo contrário, impugnar a assinatura quem
apresenta o documento tem o ónus de prova a autoria (artigo 374º, nº2 CC) - impugnação da genuinidade
do documento (artigo 444º e 445º). Em função deste regime que se compreende a utilidade do
reconhecimento presencial de assinaturas e dos documentos particulares autenticados. Havendo
reconhecimento presencial de assinaturas a assinatura é tida como verdadeira (artigo 375º, nº1 CC). No caso
dos documentos particulares autenticados o documento tendo sido elaborado pela parte, será confirmado
por elas perante notário, ficando estabelecida a autoria. Quem é que tem competência para autenticação?
Não só notários e conservadores como todas as entidades referidas no artigo 38º, nº1 DL nº 76-A/2005.

Qual é o valor de um documento autêntico? O documento autêntico tem o valor dependente do


estabelecimento da autoria. Se a autoria não for estabelecida nada se consegue imputar a ninguém. O valor
do documento particular depende do estabelecimento da autoria. Se for fixada autoria, e para tal efeito é
útil o reconhecimento de assinaturas ou autenticação de documento, o documento particular faz prova
plena das declarações atribuídas ao autor (artigo 366º, nº1 CC) considerando-se ainda provados os factos
que sejam contrários aos interesses do declarante nos termos do regime da confissão (artigo 376º, nº2 CC).
Uma vez atribuído este valor de prova plena às declarações imputáveis ao autor do documento só pode
afastar-se o valor probatório, mediante a prova da falsidade material em momento posterior à subscrição,
mediante a prova de preenchimento abusivo de documento que foi assinado em branco (artigo 368º CC) ou
mediante a prova de que o signatário não sabia ou não podia ler nada data da subscrição (artigo 363º, nº3
CC).

Quando é que poderá haver diferença entre um documento particular e um documento autêntico? Um
documento autêntico é redigido pela própria entidade com poderes públicos para a respetiva elaboração,
enquanto o documento particular é redigido pelas partes, sendo assim, de um documento autêntico
constam presumivelmente declarações com um mais elevado grau de probabilidade de serem admitidas
perante o direito.

Ex.: imagine-se que se de um contrato. Se o contrato é redigido pelo próprio notário é mais elevada a
probabilidade de ele ser substancialmente válido, pois o notário, ao abrigo do seu conhecimento jurídico
recusará elaborar um documento autêntico de um ato inválido.

Já do ponto de vista probatório há pouca diferença entre o documento particular e o documento


autêntico.

✓ Documentos não assinados: a lei não prevê um regime geral, embora contenha disposições
específicas para registos inscritos (artigo 380º CC). Também prevê um regime especial para
notas redigidos em seguimento à margem ou no verso do documento (artigo 381º CC). Há
ainda um regime especial previsto para a escrituração mercantil (artigo 44º do Código
Comercial). Esta escrituração está sujeita a regime específico de apresentação, quanto ao seu
valor probatório.

E quanto ao documento escrito eletrónico? Os documentos escritos eletrónicos são regidos pelo DL
nº12/2021 que concretiza na ordem jurídica portuguesa um regulamento da União Europeia. Qual é o
princípio geral em matéria destes documentos eletrónicos? É que a assinatura vale desde que colocada
mediante um sistema de certificação da autoria.
Quanto aos ocumentos não escritos: o valor probatório de documentos não escritos é fixado pelo artigo
368º CC. Importa distinguir se foram ou não impugnados. Se forem impugnados o tribunal aprecia
livremente o valor probatório do documento não escrito (artigo 366º). Se, pelo contrário, não forem
impugnados, eles fazem prova plena dos factos que deles constam (artigo 368º).

Cópias de documentos: o documento pode ser original ou pode ser uma cópia. Temos que distinguir entre
duas possibilidades: (1) cópia por alguém autorizado para o efeito (oficial público) (2) fotocópia. Quando se
trate de uma cópia realizada por um oficial público ou depositário de documentos públicos (ex.: notário),
nomeadamente, quando se trate de uma certidão (artigo 383º, nº1 CC), as certidões têm a força probatória
do original. O valor probatório das certidões pode ser afastado caso haja desconformidade com o original
(artigo 385º). Quanto às fotocópias, se for atestada a conformidade com o original, elas têm a força
probatória das certidões (artigo 387º, nº1). Não sendo atestada, tudo depende de haver ou não impugnação
(artigo 362º). Se não houver impugnação faz-se prova plena e se houver impugnação o juiz aprecia
livremente (artigo 366º).

E caso o documento seja provindo de uma ordem jurídica estrangeira? Se for um documento particular vale
o mesmo regime para os documentos nacionais. Se for um documento autêntico, vale o disposto no artigo
365º- qual é a solução do artigo 365º? Via de regra o documento pode ser considerado (ex.: escritura pública
espanhola) podendo, todavia, exigir-se a respetiva legalização (artigo 365º, nº2 CC). Como é que tem lugar
essa legalização? Nos termos do artigo 440º CPC.

O regime previsto neste artigo é subsidiário, cedendo perante regimes especiais como o regime da
convenção de Haia (regime da apostia). A solução do Código Civil é a seguinte: se um documento é emitido
no estrangeiro deve ser legalizado junto das autoridades portuguesas que tenham competência sobre esse
território, ou seja, junto dos serviços diplomáticos ou consulares, mas entre os estados parte da convenção
de Haia o regime não é este. Sendo um documento emitido noutro Estado, é legalizado junto de uma
autoridade desse Estado sendo automaticamente reconhecido entre todos os outros Estado parte da
Convenção.

10.2.2 Prova por Confissão

A confissão é definida no artigo 352º CC. Em que consiste? Consiste em a parte reconhecer um facto que lhe
é desfavorável. O valor probatório da confissão resulta da alta probabilidade de, se a parte reconhece um
facto que lhe desfavorece, é porque ele é verdadeiro, isto é, a parte a mentir mentirá quando é a seu favor
e não numa situação que lhe é desfavorável. Quais são os requisitos para a confissão?

Quanto ao seu objeto, a confissão deve ter por objeto um facto desfavorável ao confitente (artigo 352º CC).
De todo o modo, ela não vale nos casos previstos no artigo 354º CC. Quais são esses casos?

1. Quando for declarado insuficiente por lei (artigo 354º, alínea a) primeira parte CC) ex.: quando se
trate de uma declaração com exigência de prova documental.

2. Quando recaia sobre facto cujo reconhecimento ou investigação a lei proíba. Aqui a própria lei
exclui a confissão

3. Quando recaia sobre factos relativos a direitos indisponíveis para evitar-se que através do regime
da confissão se contorne a regra da indisponibilidade do direito. Ex.: a maternidade e paternidade
no direito português são, via de regra, fixadas a partir de um facto biológico. É mãe quem for
biologicamente mãe, geneticamente mãe. Depois há regimes especiais, mas a regra geral é esta-
Estamos perante direitos indisponíveis. Se fosse admissível a confissão nestes casos poderia
transformar-se um regime indisponível em disponível, pois seria mãe quem a declarasse. A
admissibilidade da confissão não pode servir para contornar a indisponibilidade do direito
correspondente

4. Quando o facto confessado for impossível ou notoriamente inexistente: aqui a confissão perde o
seu valor epistémico. Não se pode presumir a verdade da declaração do confitente nestes casos.

Quanto à pessoa do confitente: uma vez que a confissão se pode repercutir nas posições jurídicas do
confitente, para que a confissão seja admitida deve ter o confitente capacidade e poder de disposição do
direito a quem o facto que confessa respeita (artigo 353º, nº1 CC). Por conseguinte, será irrelevante a
confissão realizada por pessoa incapaz a respeito do concreto facto a que respeite a declaração confessória
(artigo 453º CPC- prevê que só se possa pedir o depoimento de parte de pessoas que tenham capacidade
judiciária). Para que a declaração seja admitida é necessário que a pessoa a quem ela é imputável tenha
poder e capacidade de disposição. Rigorosamente quem faz a declaração confessória pode não ser a própria
pessoa, mas outrem que tenha poderes para a vincular. Assim sendo temos 3 possibilidades:

1. A confissão provém do próprio confitente

2. Nos casos de litisconsórcio ela só é admitida quando o litisconsórcio for voluntário, embora se
restrinja ao interesse do litisconsorte (artigo 353º, nº2 CC). Quando o litisconsórcio for necessário
não é admitida a confissão, sendo que devemos apenas admitir a confissão no litisconsórcio
necessário nos casos em que há uma única relação jurídica quando ela (confissão) provenha de todos
os litisconsortes

3. A declaração confessória pode provir de mandatário judicial nos articulados (artigo 46º CPC e 356º,
nº1 primeira parte CC). De todo o modo, a declaração que seja feita nos articulados pode ser retirada
enquanto a parte contrária a não tiver aceitado especificadamente (artigo 455º, nº2). Uma vez que
não foi a parte por si só a declarar prevê a possibilidade desta declaração ser retirada enquanto a
parte contrária não a aceita. O que é que faz o réu na contestação? O mandatário do réu, quando
deteta na petição inicial uma determinada afirmação contrária aos interesses do autor aceita na
contestação essa confissão

4. Ela pode ser feita por procurador com poderes especiais para o efeito (artigo 356º, nº1 segunda parte
CC) e aqui pode ser em qualquer momento do processo. A parte na procuração que passa ao seu
mandatário judicial pode conferir ou não esses poderes.

Quanto à forma da confissão: a declaração confessória deve ser inequívoca (artigo 357º, nº1 CC).
Finalmente, quanto à eficácia da confissão é irretratável, isto é, o confitente não pode voltar atrás. Só não
é assim no caso da confissão feita pelo mandatário judicial nos articulados. Contudo, a confissão poderá ser
inválida, suscitando-se a sua nulidade ou anulação nos termos gerais por falta ou vícios da vontade (artigo
359º CC). Ex.: alguém confessa um facto em erro, estava enganado, aí pode anula a sua declaração. O que
não pode é na ausência de qualquer vício de vontade voltar atrás

Quanto às modalidades da confissão a confissão pode ser judicial ou extrajudicial (artigo 355º CC):

(1) Confissão judicial: aquela que tenha lugar no próprio processo


(2) Confissão extrajudicial: tem lugar fora do processo (artigo 355º, nº4 CC)

A confissão judicial poderá ser feita espontaneamente ou de modo provocado. Espontaneamente é quando
é a própria parte, seja por ela própria seja por intermédio de outra, confessa determinado facto (artigo 356º,
nº1 CC). De modo provocado, é quando se suscita a intervenção do confitente para prestar declarações e
nesse âmbito ele confessa. Como é que se provoca a confissão? O meio geral é o chamado depoimento de
parte (artigos 452º e ss). O depoimento de parte consiste na determinação judicial de que a parte deva depor
sobre determinados factos com o intuito de tentar obter confissão. Até ao Código Civil de 2013 esta era a
única forma de a parte depor no processo (era ser pedido pela parte contrária ou determinado pelo Tribunal
a sua intervenção para prestar declarações). O depoimento de parte pode ser ordenado pelo juiz (artigo
452º, nº1) ou requerido por alguma das partes (nº2). Ele pode recair sobre factos pessoais ou de que o
depoente deva ter conhecimento (artigo 454º, nº1) mas não sobre factos criminosos (artigo 454º, nº2).
Desde 2013 pode ser a parte a pedir para ser ouvida (chamado meio de prova por declarações de parte-
veremos mais à frente).

O depoimento de parte é prestado na audiência final (artigo 456º, nº1) podendo eventualmente ser
prestado na audiência prévia (artigo 456º, nº3). Pode eventualmente ser prestado ainda por meio
tecnológico, isto é, por comunicação à distância (artigo 502º por remissão do artigo 456º, nº2). Quanto ao
modo de realização do depoimento, vale o disposto nos artigos 457º ss. O depoimento de parte é um meio
para provocar a parte a confessar, sendo que ela pode aceitar ou recusar. O depoimento de parte é
requerido na expectativa de que a parte perante o tribunal não minta, se houve confissão o depoimento é
reduzido a escrito (artigo 463º) sendo lido ao depoente que confirma as suas declarações e faz as retificações
necessárias (artigo 463º, nº3). Caso a parte ao invés de fazer declarações não compareça perante o tribunal
sem ter justo impedimento/sem justificação, ou declare que não recorre a nada ou nada sabe, o tribunal
valora livremente esse seu comportamento (artigo 357º, nº2 CC). Se prestar declarações falsas, incorre na
prática de um tipo legal de crime previsto no artigo 359º Código Penal (crime de falsidade de depoimento
ou declaração).

Quanto ao valor probatório importa distinguir: às vezes a confissão tem força probatória plena e noutros
casos o seu valor probatório é livremente apreciado pelo tribunal. Tem força probatória plena quando se
trate de confissão judicial escrita ou reduzida a escrito (artigo 358º, nº1 CC). Tem força probatória plena
quando sendo uma confissão extrajudicial, conste de documento autêntico ou particular que respeite o
regime da prova documental e tenha sido dirigido à parte contrária ou a quem o represente (artigo 358º,
nº2 CC). É livremente apreciada do tribunal quando seja confissão judicial não escrita ou uma confissão
extrajudicial feita a terceiro ou contido em testamento (artigo 358º, nº4). Também é livremente apreciada
pelo tribunal quando não constado no documento seja comprovado mediante testemunha (artigo 358º, nº3
CC). Também é livremente apreciada pelo tribunal quando muito embora incida sobre facto desfavorável,
não possa valer como confissão (artigo 361º CC).

Há um aspeto relevante do regime da confissão que é a indivisibilidade: em que consiste? Quando o


confitente declare factos desfavoráveis o mesmo tempo que declara factos favoráveis não podem cindir-se
uns e outros. Imagine-se que o réu declara que não cumpriu porque não houve contraprestação. Não
podemos segmentar as duas questões. Havendo declaração que no seu conjunto aproveita e desfavorece
ela não pode ser cindida em duas. Neste caso, de declaração favorável e desfavorável ao mesmo tempo,
há 3 possibilidades:
1. Pode prescindir-se da confissão: em vez de valer a força probatória plena, a declaração fica sujeita à
livre apreciação do tribunal
2. Pode aceitar a confissão na totalidade, ou seja, aceita o que é desfavorável, mas ainda o que é
favorável
3. Pode declarar que pretende aproveitar a confissão, mas reservar o direito de provar que os factos
favoráveis são falsos. Neste caso só aproveita ao confitente os factos favoráveis se a +parte contrária
não demonstrou a sua falsidade (regime de inversão do ónus da prova)

Estas 3 possibilidades estão reguladas no artigo 360º CC.

10.2.3 Prova por Declaração de Parte

Assenta em a própria parte requerer ao tribunal que seja admitida em juízo para prestar declarações. As
declarações de parte podem, tal como acontece como o depoimento de parte, respeitar a factos em que as
partes tenham intervindo pessoalmente ou que tenham conhecimento direto (artigo 466º CPC). Qual a
diferença da prova por declaração de parte para a confissão? As declarações de parte têm em vista não
somente a possível declaração de factos desfavoráveis, mas também factos favoráveis ao depoente.

Qual é o respetivo valor probatório? Elas são livremente apreciadas pelo tribunal (artigo 466º, nº3 primeira
parte) salvo quando constituírem confissão. Se o declarante confessa alguma coisa aplica-se o regime da
confissão (artigo 466º, nº3).

As declarações de parte podem ser também ordenadas pelo juiz ao abrigo do princípio do inquisitório (artigo
409º) e quanto à sua tramitação processual vale para elas com as necessárias adaptações o disposto para o
depoimento de parte (artigo 466º, nº2).

Aula 26/04/2023

10.3 Prova Pericial

Em que consiste esta prova? Consiste nos termos do artigo 388º CC em determinados factos cuja apreciação
exija conhecimentos especiais sendo submetidos à apreciação de um perito, isto é, de alguém
especificamente habilitado para efeito. No CPC está regulado nos artigos 467º ss. Ex.: numa ação por um
dano corporal ou numa ação na sequência da morte de alguém, o parecer de um médico legisla a identificar
a causa da morte ou alguém que dá o seu parecer sobre a autenticidade de uma assinatura. A ideia do perito
é sempre a mesma, alguém com conhecimento de especialidade que dá o seu entendimento, a sua perícia
a respeito de um determinado facto.

Quem é que deve ser designado como perito? Nos termos do artigo 467º, nº1 CC, a regra é de que realiza a
perícia, estabelecimento, laboratório ou serviço oficial apropriado, isto é, havendo instituições oficiais
especificamente habilitadas para este propósito, são elas que via de regra deverão dar a perícia. Ex.: Instituto
de Medicina Legal; Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Quando não seja possível ou não se entenda
que não é conveniente por qualquer razão, pode ser designada uma outra pessoa, ouvidas as partes,
estabelecendo a lei como condição a sua reconhecida idoneidade e competência na matéria (artigo 467º,
nº1 CC).

Na hipótese de as partes estarem de acordo quanto ao perito a regra é de que é designado o perito escolhido
pelas partes (artigo 467º, nº2 CC). Via de regra, a perícia é singular, isto é, é apenas um perito a apresentar
a sua perícia (artigo 468º, nº1 a contrário). Contudo, ela poderá ser colegial até ao número de 3 peritos nos
casos previstos no artigo 468º, nº2 CC.

A prova pericial poderá ser realizada quer por requerimento da parte quer por iniciativa do Juiz. Por
iniciativa da parte, sendo requerida a realização de perícia, a parte deve indicar quais são as questões que
pretende ver esclarecidas (artigo 465º, nº1). Se o pedido de perícia não se considerar impertinente ou
meramente dilatório, o juiz ouve a parte contrária, dá a possibilidade de aderir ou de propor uma ampliação
ou restrição da diligência (artigo 466º, nº1) e finalmente, se assim entender justificado, ordena a realização
da perícia (artigo 466º, nº2 CC) e fixa-se o respetivo objeto. Uma vez requerida a prova pericial, não pode
haver desistência sem a concordância da parte contrária. A perícia pode ter igualmente lugar por ordem do
juiz- artigo 477º. Esta é uma manifestação do princípio do inquisitório (artigo 411º). O juiz cedendo dos
factos de que lhe é lícito conhecer estiver convencido da oportunidade da perícia pode requerer a sua
prestação. Também neste caso, por iniciativa do juiz, deve identificar qual o objeto da perícia.

Qual o regime da realização da perícia? Uma vez designado o perito, tem ele nos termos gerais, o dever de
colaborar com o tribunal. Apenas pode escusar-se mediante justificação (artigo 470º, nº3). É obrigado a
desempenhar as suas funções, com diligência, podendo ser condenado em multa quando não colabore
devidamente com o tribunal (artigo 469º, nº1). Pode igualmente ser destituído (artigo 469º, nº2). Para os
peritos valem o mesmo regime de impedimentos e de suspeições que está previsto para os juízes (artigo
470º, nº1 CPC que remete para os artigos 115º ss e 119º ss). O perito deve prestar compromisso de exercício
consciencioso (artigo 360º, nº1 CP).

Quando o juiz ordena a realização da perícia deverá fixar a data e o local para o começo da diligência (artigo
478º, nº1 CPC). Caso se trate de exames a realizar em estabelecimentos oficiais o juiz limita-se a fixar o prazo
para apresentação (artigo 478º, nº2). Quer o juiz, quer as partes, sendo que as partes podem fazer-se
acompanhado de técnico poderão assistir à realização da perícia (artigo 480º, nº1 CPC). Podem mesmo
participar ativamente nesse processo de realização fazendo ao perito as observações que entenda
convenientes.

Realizada a perícia, deve ser apresentado um relatório pericial num prazo que, via de regra, não deve ser
superior a 30 dias após a realização da própria perícia (artigo 473º, nº1). Neste relatório pericial, o perito
fundamenta as suas conclusões (artigo 484º, nº1). Se for uma perícia colegial é possível que o perito que
discorda fundamente as razões da respetiva discordância (artigo 484º, nº2). Uma vez realizado este relatório
pericial ele é notificado às partes (artigo 485º, nº1) que podem formular as suas reclamações (artigo 485º,
nº2). Se o juiz entender que elas são fundamentadas (as reclamações) pode ordenar ao perito que reformule
o relatório apresentado (artigo 485º, nº3). É também possível que o próprio juiz determine que se prestem
esclarecimentos ou aditamentos (artigo 485º, nº4).

O documento do relatório pericial passa a integrar o processo. É ainda possível ás partes requererem ou ao
juiz ordenar a presença dos peritos na audiência final (artigo 486º, nº1). Estes esclarecimentos devem ser
feitos sob juramento. Após a realização da primeira perícia é possível requerer-se uma segunda perícia
quando haja justificação das razões de discordância da parte em relação à perícia apresentada (artigo 487º,
nº1).

Quanto ao valor probatório: o valor das respostas do perito é livremente apreciado pelo tribunal. Se houver
uma segunda perícia também é ela livremente apreciada pelo tribunal (artigo 489º CPC).
10.4 Prova por Inspeção

Em que consiste esta prova? É o meio de prova que assenta em o tribunal diretamente percecionar
determinados factos. Está mencionada no artigo 390º CC e ainda nos artigos 490º a 494º CPC. Ex.: ação de
demarcação. Em que consiste a prova por inspeção? Em o juiz sair do tribunal e ir aos próprios prédios.

É um meio de prova de iniciativa oficiosa, ainda que possa ser pedido pelas partes, mas tem de ser o tribunal
a formular juízo de conveniência. Quando seja requerida pela parte, cabe fornecer ao tribunal os meios
adequados para realizar a diligência (artigo 490º, nº2 CPC). A tramitação deste meio de prova é muito
simples, no essencial, as partes são notificadas do dia e hora da inspeção (artigo 491º CPC) e podem por si
ou pelos seus advogados prestar esclarecimentos ao tribunal, bem como chamar à atenção para
determinados factos que entendam relevantes. O Tribunal pode, por sua vez, fazer-se acompanhar de
técnico que o ajude na interpretação dos factos que quer percecionar diretamente. Do ato de inspeção é
lavrado um auto que regista todos os elementos relevantes que puderam ser retirados pelo tribunal (artigo
493º CPC).

Qual o valor da inspeção? Os resultados da inspeção são a perceção direta pelo julgador e são pelo Tribunal
livremente apreciados (artigo 391º CC).

Uma espécie de variante da inspeção são as chamadas verificações não judiciais qualificadas (artigo 494º
CPC). Qual é a diferença entre as verificações judiciais não qualificadas e a inspeção? A diferença é que nas
verificações judiciais não qualificadas a perceção direta é retirada não pelo Tribunal, mas por um técnico ou
pessoa qualificada (artigo 494º CPC). O seu valor é, todavia, o mesmo, ou seja, as atestações estão sujeitas
à livre apreciação do Juiz.

10.5 Prova Testemunhal

Em que consiste a prova testemunhal? A prova consiste numa narração de factos de que a testemunha teve
conhecimento. É um meio de prova que é muito relevante não só pela sua conveniência para a descoberta
da verdade, como igualmente pelos obstáculos que possa criar para essa mesma descoberta, isto é, a prova
testemunhal coloca-nos perante o risco de declarações falsas consciente ou inconscientemente feitas que
obstaculizam a que o tribunal faça o juízo apropriado sobre certos factos. Regulada nos artigos 392º ss CC e
sobretudo nos artigos 495º a 526º CPC.

10.5.1 Quais são as condições para admissibilidade da prova?

Quanto à pessoa, podem ser testemunhas, aqueles que não sejam parte (artigo 496º CPC). Têm capacidade
para testemunhar, aqueles que diz a lei numa formulação no entendimento do professor ultrapassada,
aqueles que possuem aptidão mental para depor sobre os factos (artigo 495º, nº1), isto é, capacidade para
compreender aqueles factos que estão a narrar. Quem é indicado como testemunha tem o dever de
colaborar com o tribunal (artigo 417º, nº1 CPC), há efetivamente uma obrigação de testemunhar. Contudo,
têm direito a recusar depor, aqueles que se encontram elencados no artigo 497º, nº1 que são familiares
especialmente próximos ou ex-cônjuges e ainda aqueles que estão sujeitos a regime de segredo (artigo 497º,
nº3). A ideia da lei é não colocar estas pessoas perante o dilema de difícil resolução de dizer a verdade e
prejudicar alguém de grande proximidade ou mentir e faltar à verdade perante o tribunal daí facultar esta
possibilidade de recusar depor.
A falsidade do testemunho está prevista e punida no artigo 360º CP. Quanto à matéria, a prova testemunhal
é livremente admitida, mas não é nos casos previstos nos artigos 393º a 394º CC. Quais são esses casos?

1. Tratar-se da prova de uma declaração negocial que deva ser reduzida a escrito ou provada por escrito
(artigo 393º, nº1 CC).

2. Contra um certo facto provado por documento ou outro meio com força probatória plena. A força
probatória plena que pode ser afastada não o pode ser pro prova testemunhal (artigo 393º, nº2 CC)

3. Para provar convenções contrárias ou adicionais ao conteúdo do documento autêntico ou particular


(artigo 394º, nº1) que vale também para a simulação (artigo 394º, nº2)

Este regime da restrição da prova testemunhal vale com as necessárias adaptações para os factos extintivos
da obrigação (artigo 395º CC), Portanto, estando um facto extintivo da obrigação reduzido a escrito, então,
não poderá ser feita prova testemunhal contra ele (direito de quitação: artigo 787º). Esta quitação pode
exigir-se que conste de documento autêntico ou autenticado ou com reconhecimento notarial.

Quem é que pode requerer ou ordenar a prova testemunhal? A prova testemunhal pode ser por iniciativa
das partes ou iniciativa do juiz. Quando seja por iniciativa das partes a regra é que o rol de testemunhas é
apresentado na petição inicial (artigo 552º, nº6) ou na contestação para o réu (artigo 572º, alínea d). de todo
o modo, é possível aditar ou alterar este rol de testemunhas até 20 dias antes da audiência final (artigo 598º,
nº2). Quantas testemunhas podem ser apresentadas? A lei limita por razões de economia processual,
nomeadamente, o limite previsto na lei para o nº de testemunhas é de 10 (artigo 511º, nº1). Número este
que se reduz a metade para as ações de valor não superior à alçada da primeira instância (artigo 511º, nº1
segunda parte). É, todavia, possível que a parte desista da inquirição que requereu (artigo 498º, nº2). A prova
testemunhal pode ser ainda prestada ou realizada por iniciativa do juiz (artigo 411º- princípio do
inquisitório). O juiz ordenará a prova testemunhal quando concluir que certa pessoa não indicada por
testemunha terá conhecimento de factos relevantes para a decisão da causa (artigo 526º, nº1)

Como é tramitada a prova testemunhal? A regra é de que a prova testemunhal é realizada na audiência
final, sendo esse o momento para inquirir as testemunhas, podendo ser feito presencialmente (artigo 500º)
ou mediante meio tecnológico de comunicação à distância (artigo 502º). É ainda possível, se houver utilidade
que a inquirição ocorra noutro lugar (artigo 501º CPC).

A lei tem um regime especial de prerrogativas de inquirição para as entidades mencionadas no artigo 503º-
Em que consiste? Consiste na possibilidade para os sujeitos do artigo 503º, nº1 serem inquirido na sua
residência e para deporem se o quiserem por escrito e não presencialmente por via oral. Quem é que pode
ser inquirido na sua residência? O Presidente da República. Quem é que pode depor por escrito? Várias
entidades entre as quais os membros dos órgãos de soberania (artigo 503º, nº2 alínea b). Cabe ao juiz
determinar para cada sessão de audiência final, quais as testemunhas que provavelmente poderão ser
inquiridas (artigo 507º, nº1) de modo a evitar que alguém que já tem de suportar o incomodo de colaborar
com o tribunal, se desloque sem qualquer necessidade. Se a testemunha faltar pode ser ordenado o seu
comparecimento sob custódia policial (artigo 508º, nº4). A recusa de depor sem justa causa é tipo legal de
crime (artigo 360º, nº2 CP).

Como é que se processa a inquirição? A regra é de que, as testemunhas são sucessivamente inquiridas.
Primeiro os do autor e depois as do réu (artigo 512º, nº1). A testemunha deverá, em primeiro lugar, prestar
o juramento de que dirá a verdade (artigo 513º) sendo interrogada pelo juiz a respeito da sua relação com
as partes. Em função das declarações que sejam feitas pro testemunha, o juiz admite ou não que ela deponha
(artigo 513º, nº2). Pode a parte contrária impugnar a admissão da testemunha tomando o tribunal uma
decisão a esse respeito (artigo 515º). O depoimento da testemunha serve os termos previstos no artigo 516º.
Qual é o regime do depoimento? Quanto ao objeto do interrogatório respeita ele aos temas de prova que
já tinham sido fixados pelo julgador (artigo 516º, nº1). Quem conduz o interrogatório é o advogado da parte
que ofereceu a testemunha (artigo 516º, nº2) podendo o mandatário da parte contrária fazer as instâncias
indispensáveis a completar ou esclarecer o testemunho (artigo 516º, nº2). Também o juiz pode fazer
perguntas e pedir esclarecimentos (artigo 516º, nº4). Se for necessária para garantir a tranquilidade da
testemunha ou colocar termo a intervenções impertinentes da parte contrária, o juiz pode chamar o
interrogatório a si próprio (artigo 516º, nº5).

Prestado o depoimento, pode requerer-se contradita (artigo 521º) ou a acareação. A contradita consiste
em alegar uma qualquer circunstância que permita abalar a credibilidade do depoimento (artigo 521º). A
contradita não incide sobre o próprio depoimento, mas sobre a própria testemunha, isto é, sobre alguma
circunstância que se ocorrida, permite abalar ou a fonte de conhecimento da testemunha ou a sua
credibilidade pessoal. Deduzida a contradita a testemunha é ouvida sobre o facto alegado para colocar em
causa a sua credibilidade (artigo 522º, nº2 primeira parte) podendo confessá-lo ou produzir-se a prova que
se entenda necessária (artigo 522º, nº2). Pode também ser pedida a acareação (artigo 523º CPC). Em que
consiste? Havendo testemunhos contraditórios, são as testemunhas colocadas cara a cara para serem
confrontadas. A acareação pode ser feita imediatamente se as testemunhas estiverem presentes (artigo
524º, nº1 primeira parte CPC) ou então em novo dia fixado pelo juiz (artigo 524º, nº2 segunda parte CPC). É
ao juiz que cabe realizar a acareação. Depois de realizado o depoimento pode ser dada à testemunha
autorização para se ausentar (artigo 605º, nº5) tendo a testemunha direito a requerer o pagamento das
despesas da deslocação e indemnização equitativa do custo de ter prestado testemunho (artigo 525º CPC).

Os testemunhos quanto ao seu valor probatório são livremente apreciados pelo tribunal (artigo 396º). Será
o tribunal a apreciar a credibilidade de cada uma destas narrações.

10.6 Outros Meios de Prova não tão relevantes

Temos a prova por admissão que é aquela que ocorre quando o réu não contesta ou não impugna e a lei
remete para o regime da confissão, mas não é rigorosamente a mesma coisa. O valor do comportamento
da parte também pode ser valorado pelo tribunal. A sentença proferida em processo penal pode ter ela valor
probatório nos termos do artigo 624º CPC. Também a sentença estrangeira não revista pode ser utilizada
como meio probatório (artigo 978º, nº2 segunda parte).

Através dos diferentes meios de prova, o Tribunal pode formular juízos sobre certos factos. O meio de prova
serve como veículo para o tribunal chegar a determinados factos. Uma vez concluindo o Tribunal pela
verdade de certas alegações factuais, poderá a partir desse conhecimento, elaborar um raciocínio probatório
que lhe permita inferir factos desconhecidos. A estas dilações designam-se presunções. A presunção,
portanto, consiste neste raciocínio probatório nos termos do qual desde um facto conhecido se concluiu por
um facto desconhecido (artigo 349º CC). As presunções fundam-se em regras da experiência de que
normalmente quando acontece A acontece também B. Ex.: provado por confissão que o réu ao jantar
consumiu 10 cervejas. Está provado que bebeu. Imagine-se que é uma ação de responsabilidade civil. está
provado que a causa do acidente foi a embriaguez? Não está provado, mas o tribunal pode presumir que
alguém que conduz sob estado de embriaguez pode causar um acidente.
As presunções podem ser legais ou podem ser judiciais. Sendo presunções legais estas subdividem-se em
presunções ilidíveis ou inilidíveis. As presunções ilidíveis também chamadas iuris tantum podem ser
afastadas mediante prova em contrário (artigo 350º, nº2 CC). Ex.: a presunção do artigo 68º, nº2 que nos diz
que quando dias pessoas morrem se presume que morreram ao mesmo tempo. A presunção pode ainda ser
inilidível em que não se pode fazer prova em contrário (artigo 350º, nº2 parte final CC). As presunções podem
também ser judiciais. Aqui o autor da presunção não é o legislador, mas é o próprio juiz da causa. As
presunções judiciais são também chamadas presunções naturais, simples ou por experiência e são admitidas
para todas as questões em que se admite também a prova testemunhal (artigo 351º). Estas presunções
judiciais são, portanto, as tais ilações, inferências que a partir das regras gerais da experiência, o juiz extrai
dos factos conhecidos. Ex.: Prova-se por admissão ou por declaração de parte ou por inspeção que o réu
sofreu um traumatismo numa perna. O juiz por presunção pode extrair a conclusão de que sofreu danos não
patrimoniais como dores, sofrimento pois é uma regra da experiência que quando há uma lesão física há
sofrimento emocional.

A partir deste conjunto o juiz concluiu pelo aquilo que considera provado. O juiz pode considerar como
facto que está provado que um facto ocorreu ou que não ocorreu. Considerados todos os meios de prova,
feitas todas as presunções, o resultado pode ser considerar verdadeira ou falsa uma determinada
afirmação factual- mas e se o juiz não chegar a conclusão nenhuma? E se permanecer em dúvida? Se o juiz
continuar em dúvida deve aplicar as regras do ónus da prova. são as regras de decisão acerca da dúvida
quanto á inconclusividade da atividade probatória.

O juiz pode primeiro chegar a determinadas conclusões a partir da apreciação de determinados meios de
prova e pode ainda, desde os factos que julga provados, retirar inferências. Daí que possa chegar a duas
conclusões: a conclusão que determinava que a alegação factual é verdadeira, ou que é falsa. Mas há uma
terceira possibilidade que é não chegar a nenhuma conclusão, situação na qual é momento para aplicação
das regras da distribuição do ónus da prova. Ora, estas regras da distribuição do ónus da prova, não são
senão os critérios que o julgador deve observar quando não conseguiu chegar a uma conclusão em matéria
de facto.

NOTA: temos de distinguir entre a matéria de facto e a aplicação de direito. O juiz na apreciação faz uma
apreciação da verdade ou não verdade das alegações do réu, e depois aplica o direito. A matéria de facto é
a circunscrição daquele pedaço de vida que o juiz considera como verdadeiro. Depois aplica o direito a essa
realidade.

Ora, vale a regra prevista no artigo 8.º/1 CC de que o juiz não se pode abster de julgar (proibição non liquet)
Como é que a lei dá ao juiz essa possibilidade? Se o juiz tiver dúvida quanto à aplicação do direito não há
um problema, ele tem de se arranjar, isto porque o juiz tem tudo o que precisa para decidir em matéria de
direito. Mas quanto à matéria de facto, como é que decide se não dispõe dos elementos para poder tomar
uma decisão? É justamente para esta finalidade que estão estabelecidas as regras do ónus da prova que
permitem ao juiz assentar uma decisão sobre uma realidade factual apesar da sua ignorância em relação a
ela (são um meio para superar a dúvida/incerteza em matéria de facto). Note-se que o juiz apenas recorre a
estas regras do ónus da prova na impossibilidade de recurso a meios de prova disponíveis.

Ex.: Imaginemos que terminada a audição das testemunhas o juiz persiste em dúvida, mas apercebe-se,
entretanto, de um novo meio de prova. Deve ordenar a respetiva produção – artigo 607.º/1.
Assim, qual a questão que se coloca? É saber como se distribui o ónus da prova? O ónus da prova não quer
dizer “quem tem de fazer prova”. O que define é quem arca com as consequências de falta de prova. O
autor deve, na petição inicial, indicar, desde logo, a causa de pedir (artigo 5.º/1), e o réu na contestação
pode impugnar esses mesmos factos, a sua qualificação jurídica ou deduzir defesa por exceção. A exceção
assentava em deduzir factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor. Os factos que
integram a causa de pedir, então, em princípio coincidem aos factos constitutivos do direito do autor.

Dito isto, vamos considerar o artigo 342.º CC. Na dúvida do que o autor afirma na petição inicial o Tribunal
decide contra o autor, ou seja, absolve o réu do pedido. O artigo 342º, nº2 CC diz respeito os factos alegados
nas exceções, onde a prova recai sobre o réu. E aqui aplica-se a mesma lógica, pois se o réu se defende e o
Tribunal decide contra ele, então os factos têm-se como não provados.

Atenção: o CPC prevê uma regra aparentemente diferente no artigo 414.º, onde dispõe que, na dúvida
decide-se contra aquele a quem o facto aproveita, mas atendendo à subordinação do Processo Civil ao
direito matéria esta lei deve ser lida no sentido da lei substantiva.

Para sabermos o que é facto modificativo, extintivo, constitutivos e impeditivos, temos de analisar as
normas jurídicas que atribuem valor a esses factos, os factos constitutivos resultam de determinadas
regras, e os outros resultam de normas exceção ou contra normas. Este regime está sujeito a alguns desvios
nos artigos 343.º e 344.º.

 Artigo 343.º/1: nas ações de simples apreciação negativa, porque assentam numa provocação do
autor, o réu tem de fazer prova dos factos constitutivos do seu direito.

 Nas ações que devam ser propostas desde a data em que o autor conheceu certo facto, é o réu que
tem o ónus da prova de o prazo após o conhecimento já ter decorrido (artigo 343.º/2).

 Nas ações relativas a direitos sob condição ou termo importa distinguir se for condição suspensiva
ou termo suspensivo, é o autor que deve fazer a prova de que o seu direito já se constituiu, se for
uma condição resolutiva ou termo final é o réu que tem de fazer a prova.

11. FASE DA AUDIÊNCIA FINAL

Terminada a fase da condensação e do saneamento (ou da gestão inicial do processo) o processo avança
para a audiência final – artigos 599.º e ss. A que se destina a fase da audiência final? É um momento para
se produzir a prova para a qual não esteja determinado um outro tempo ou lugar específicos, como a prova
pericial, a inspeção. Destina-se, também, a que possa haver debate entre os mandatários e o juiz sobre os
elementos relevantes para a decisão da causa.

A audiência é dirigida pelo juiz, que pode fazer-se assistir de um técnico que o ajude no exercício das
respetivas funções. Tal ocorrerá, nomeadamente, quando a atividade probatória reclame, para a respetiva
apreciação, conhecimentos especiais. O juiz que dirige a audiência goza de todos os poderes necessários
para a sua boa prossecução – artigo 602.º/2. Quais são esses poderes? VER ARTIGO. Tudo isto nos aponta
para a condução da audiência para se focar no seu objeto.
A audiência final é caracterizada pelos seguintes princípios:

• Princípio da plenitude da assistência do juiz previsto no artigo 605.º/1 CPC. O que significa? Significa
que toda a audiência deve decorrer perante o mesmo juiz. Deve ser a mesma pessoa que faz a
apreciação do conjunto da prova constituenda na audiência. Através deste princípio se garante o
respeito pela imediação.

• Princípio da publicidade: a audiência é publica, salvo quando necessário para proteger a dignidade
dos envolvidos (artigo 606.º/1 CPC)

• Princípio da continuidade da audiência: pretende-se que a audiência apenas deva ser interrompida
por motivos de força maior, ou absolta necessidade (artigo 606.º/3 CPC).

• Princípio da concentração, ou seja, que se deva quanto possível realizar os atos de produção de
prova de forma concentrada para facultar a sua valoração conjunta.

• Princípio da oralidade: embora a audiência seja oral, ela é gravada (artigo 155.º/1) para permitir a
posterior impugnação em sede de recurso.

A ordem de atos que são praticados na audiência final devem decorrer de modo contínuo e constam do
artigo 604º. Quais são esses atos que nela vão ser praticados?

(1) O juiz começará procurando conciliar as partes (artigo 604º, nº2). Se o juiz conciliar as partes e
chegarem a acordo a audiência já não terá que prosseguir. O que é a conciliação? É a tentativa do
juiz de levar as partes a por si próprias resolverem a controvérsia. Como nós sabemos esta tentativa
de conciliação também pode ocorrer na audiência prévia.

(2) A atividade instrutória/probatória (artigo 604º, nº3 alíneas a) -d) CPC).

(3) A possibilidade de alegações orais pelos mandatários das partes nas quais extraem as suas
conclusões da prova produzida e do enquadramento jurídico que deva ser dado ao litígio (artigo 604º,
nº3 alínea e). As alegações orais têm para cada advogado o tempo máximo de uma hora, podendo
haver réplica de meia hora (artigo 604º, nº5 CPC). O juiz pode justificadamente aumentar este tempo.
Nas ações de valor não superior à alçada da primeira instância, esta duração reduz para metade. O
princípio geral de um ato é que ele deve servir a forma mais adequada à finalidade que visa e a lei
prevê a forma oral para as alegações orais, mas caso se entenda ser conveniente em função da
complexidade da causa, pode determinar-se que estas alegações finais sejam feitas por escrito.

Realizados todos os atos previstos para a audiência, ela é encerrada e o processo é concluso ao juiz (artigo
607º, nº1 primeira parte) para proferir sentença. Abrir conclusão significa que a secretaria submeteu o
processo a uma decisão do juiz. Note-se que o Juiz poderá se nisso vir oportunidade, ordenar a reabertura
da audiência (em vez de proferir sentença, reabrir a audiência, desde que haja nisso utilidade- artigo 607º,
nº1 segunda parte CPC).

É possível que as partes juntem ao processo em qualquer momento até à sentença de primeira instância,
pareceres de advogados, professores ou técnicos. Podem fazê-lo mesmo depois de terminada a audiência
final. Em sede de recurso, a junção de pareceres é regida pelo artigo 651º, nº2 CPC, sendo que é um regime
que vale para pareceres de jurisconsultos. A ideia do parecer, sobretudo os pareceres jurídicos, é de serem
uma pronúncia qualificada sobre o Direito.

12. FASE DA SENTENÇA

Encerrada a audiência final o processo é concluso ao juiz para proferir sentença. A sentença é o ato pelo
qual o Juiz decide da causa (artigo 152º, nº2 CPC). Neste sentido da sentença temos simultaneamente o
aspeto afetivo/emocional, mas depois a resposta lógica, fundamentada, racional. Qual é o prazo para
proferir sentença? É o prazo de 30 dias a contar da conclusão do processo ao juiz (artigo 607º, nº1) sendo
que esta conclusão do processo deve ser feita num prazo de 5 dias a contar do encerramento da audiência.
A sentença que é um ato escrito do Juiz, em princípio, terá estrutura constante do artigo 607º, nºs 2 a 6 CPC.

No seu conjunto, destina-se a sentença a que o Juiz resolva a controvérsia que lhe foi submetida pela
apresentação da petição inicial, resolvendo todas as questões prévias carecidas de resolução e que podem
ter sido suscitadas na contestação e que não tenham sido previamente resolvidas, mas o Juiz só pode
avançar para o conhecimento do mérito se estiverem reunidos todos os pressupostos processuais, pelo que
embora não seja este o momento para aferir da verificação dos pressupostos processuais (o momento
próprio é o da gestão inicial do processo) se porventura o juiz se aperceber da falta do pressuposto de que
possa conhecer, deve começar por tirar daí as devidas conclusões (artigo 608º, nº1), nomeadamente, tal
pode ter como consequência a absolvição do réu da instância.

12.1 Estrutura da Sentença

Qual é a estrutura da sentença? Uma sentença assenta em 3 grandes partes:

1) Relatório: destina-se a identificar as partes do objeto do litígio (artigo 607º, nº2 CPC)

2) Fundamentação: a fundamentação respeita à matéria de facto e ao enquadramento jurídico. Quanto


à matéria de facto é na fundamentação que o Juiz indica quais os factos que julga verificados e quais
aqueles que considera como não provados. A partir deste juízo acerca da verificação ou não
verificação de certos factos o juiz reporta qual é a situação de facto a que vai aplicar o Direito. A
sentença vai incidir não sobre os factos alegados pelo autor, nem pelos alegados pelo réu, mas sobre
aqueles que se julgaram provados, o que só será parcialmente coincidente sobre o que foi alegado
pelo autor e pelo réu. Sobre esta fundamentação da sentença incidem os números 4 e 5 do artigo
607º CPC. A fundamentação incide igualmente sobre o enquadramento jurídico que é dado à
resposta ao pedido do autor a partir dos factos que foram dados como provados (artigo 607º, nº3
CPC) isto é, o juiz deve fundamentar a sua decisão nas normas jurídicas a que está vinculado por força
do dever de obediência à lei, que entende aplicáveis no caso concreto. Vale aqui o princípio iura
novit curia, isto é, o tribunal conhece dos direitos, nesta fundamentação do Direito o tribunal pode
adotar um enquadramento jurídico diferente daquele que foi apresentado pelo autor e pelo réu
(artigo 5º, nº3 CPC), ou seja, pode resolver o litígio de um modo diferenciado. Mas há aqui uma
restrição. Qual restrição/limitação? O juiz pode dar um enquadramento jurídico diferente, mas do
ponto de vista processual deve respeitar sempre o princípio do contraditório, do qua resulta a
proibição das decisões surpresa (artigo 3º, nº3 segunda parte CPC). Portanto, o juiz pode resolver a
controvérsia com enquadramento diferente daquele que foi realizado pelas partes, desde que ele
tenha sido previamente discutido. Se não foi previamente discutido termos uma nulidade processual.
Este dever de fundamentação é um dever que vale para a sentença, mas igualmente para qualquer
decisão relativamente a um pedido controvertido (artigo 205º CRP e 154º, nº1 CPC).

3) Decisão final: é a resposta do Juiz que poderá ser de condenação ou absolvição do réu, total ou
parcial (artigo 607º, nº3 segunda parte CPC).

Enquanto o relatório e a fundamentação têm uma finalidade instrumental da própria decisão, a decisão final
constitui a parte realmente dispositiva da sentença. O dispositivo da sentença corresponde ao objeto jurídico
conformado pelo ato do juiz.

A isto acrescenta-se alguns elementos de menor relevância. Quais elementos? A condenação da parte que
deu causa à ação em custas (artigo 607º, nº6 CPC) e pode ainda haver condenação em multa do litigante de
má-fé e indemnização pelos danos gerados á parte contrária (artigo 542º, nº1 e 543º CPC). A sentença uma
vez proferida é notificada às partes (artigo 220º, nº1 CPC). Em processo civil, a sentença não é lida em
audiência.

A sentença deverá resolver todas as questões que as partes submeteram à apreciação do Juiz e apenas essas
(artigo 6078º, nº2) isto é, o juiz não deve ficar aquém da resposta a nenhuma questão que seja relevante
para responder ao pedido nem deve ir além de nenhuma questão que foi suscitada. Quais são as questões
que são suscitadas? É o pedido e são os fundamentos da defesa, nomeadamente, as exceções que tenham
sido deduzidas. Evidentemente que para o fazer, te de formular um juízo sobre os factos que foram alegados
pelo autor e pelo réu. Uma vez que o Juiz se deve ater às questões suscitadas pelas partes, não pode
condenar em quantidade superior ao em objeto diverso daquele que foi pedido (artigo 609º, nº1 CPC). A
este respeito é importante mencionar o Acórdão de Uniformização de Jurisprudência nº9/2015 que é
relativo aos juros de mora. Nos termos deste Acórdão se não foi pedida uma condenação em juros de mora,
nem inicialmente nem em desenvolvimento do pedido primitivo, o tribunal não pode condenar em juros de
mora (isto é uma manifestação princípio do dispositivo).

Alguns casos particulares:

1- Se não houver elementos para fixar o objeto ou quantidade da condenação, o tribunal pode
condenar no que vier a ser liquidado posteriormente (artigo 609º, nº2 CPC). É o que ocorre
nomeadamente num pedido genérico que não tenha sido concretizado. Essa liquidação quando vier
a ocorrer se tiver lugar após o termo da ação implica uma renovação da instância (artigo 358º, nº2
CPC).

2- Na hipótese de ter havido um pedido alternativo, caso não tenha ocorrido escolha da prestação, o
tribunal condena o réu a fazer A ou B nos termos da obrigação em causa

3- Nos casos de inexigibilidade da obrigação, vigora o artigo 610º CPC nos termos do qual, o tribunal
condena o réu a satisfazer a prestação no momento próprio, isto é, quando o tribunal conclui que a
obrigação existe, mas é inexigível a consequência é não absolvição do réu, mas a sua condenação ao
cumprimento no momento em que a obrigação se venha a vencer

4- No caso da manutenção ou restituição da posse, se for pedida uma o juiz pode decretar a outra de
acordo com a situação de facto realmente existente (artigo 609º, nº3 CPC)
O juiz, uma vez proferida a sentença, perde o seu poder jurisdicional (artigo 613º, nº1 CPC). O mesmo vale
para qualquer despacho que profira (artigo 613º, nº3 CPC), ou seja, sempre que o juiz profere uma decisão
deixa de puder decidir outra vez da mesma questão- esta é a regra. Se na sentença responde plenamente
ao pedido, perde plenamente o poder jurisdicional. Quais são as exceções a esta regra? O juiz poderá
retificar erros materiais (artigo 613º, nº2 e 614º CPC) – Ex.: omitir o nome das partes, omitir a decisão quanto
a custas, erros de escrita ou de cálculo etc. Neste caso, ela poderá ocorrer a todo o tempo (artigo 614º, nº3).
O juiz poderá voltar a intervir na causa quando se trate do suprimento de nulidades ou reforma de
sentença (artigo 613º, nº2 e 615º e 616º respetivamente). Como veremos, a nulidade pressupõe que haja
um vício processual e a reforma da sentença tem fundamentos muito limitados e tem que ser suscitada pelas
partes. Em termos gerais, o juiz por sua iniciativa pode voltar a conhecer da controvérsia? Não, não pode.
Proferindo a sentença perdeu o poder de decidir.

POSSIBILIDADE DE NULIDADE DE SENTENÇA

A nulidade de sentença é um vício específico da sentença. Nós devemos distinguir entre nulidade da
sentença e uma nulidade processual que se repercute na sentença. O processo é uma sequência de atos, a
nulidade da sentença ocorre quando a própria sentença este vício que a lei qualifica como nulidade, mas
pode ocorrer a nulidade de um ato processual anterior que tendo como consequência a nulidade de tosos
os atos subsequentes atingem a própria sentença. São causas de nulidade da sentença as previstas no artigo
615º, nº1 CPC:

(1) Não conter assinatura do Juiz: é uma nulidade suprível quer oficiosamente quer a requerimento das
partes.
(2) Não especificar os fundamentos de facto e de Direito que justificam a decisão: aqui é nulidade por
falta de fundamentação
(3) Os fundamentos estejam em oposição com a decisão ou ocorra alguma ambiguidade que torne a
decisão inteligível: temos uma fundamentação, mas ela não é passível de ser compreendida.
(4) O juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça questões que não
podia tomar conhecimento. Ex.: o juiz na sentença conhece de um facto que não foi alegado por
nenhuma das partes. O juiz conhece de uma exceção de conhecimento provocado, oficiosamente- a
sentença é nula.
(5) Se o juiz condenar em quantidade superior ou em objeto diverso do pedido. Chamada condenação
ultra ou extra petitum

Uma questão que se coloca: quando se trate de o desrespeito pelo princípio do contraditório, conduzindo a
uma decisão surpresa, isto é, quando durante o processo o juiz não deu á parte oportunidade de se
pronunciar sobre uma matéria relevante para a própria sentença, qual é a nulidade processual que ocorre?
Uma nulidade do processo, em geral, ou uma nulidade da própria sentença? O entendimento que se vem
aqui adotando é que o desrespeito pelo contraditório, neste caso, é um vício que atinge a própria decisão
que foi tomada sem dar às partes oportunidade de nela influírem, portanto, a sentença será nula nos termos
do artigo 615º, nº1 alínea d) CPC.

Como é que se pode arguir a nulidade da sentença? Temos que distinguir consoante haja recurso ordinário
ou não. Se houver recurso ordinário, a nulidade da sentença é arguida no próprio recurso. Contudo, o juiz
de primeira instância pode apreciar a nulidade suprindo-a no próprio despacho de admissibilidade do
recurso (artigo 617º, nºs 1 e 2 CPC). Caso não haja recurso ordinário, a nulidade é suscitada diretamente
perante o próprio Juiz de primeira instância. Qual é o ato processual para o efeito? Reclamação (artigo 615º,
nº4). Neste caso a arguição será feita mediante reclamação a que se aplica o prazo geral de 10 dias (artigo
149º, nº1 CPC).

REFORMA DA SENTENÇA

Temos que distinguir a reforma quanto a custas e à multa por má-fé processual da reforma da própria
decisão. Quanto ao primeiro caso, a reforma quanto a custas e multa é um meio processual que se destina
a modificar a decisão tomada pelo juiz a respeito da responsabilidade pelas custas ou a respeito de multa
que tenha sido aplicada (artigo 616º, nº1 CPC). O regime que se aplica é o mesmo regime da nulidade
processual, ou seja, se houver recurso ordinário, a reforma é pedida na própria alegação de recurso (artigo
616º, nº3 CPC) podendo o juiz de primeira instância, no despacho de admissão, reformar a sentença nesta
parte (artigo 617º, nº1 e 2 CPC). Se não houver recurso, o pedido de reforma de sentença quanto a custas
ou multa é feito no prazo de 10 dias perante o próprio juiz (artigo 149º, nº1 CPC). Quanto ao segundo caso,
da reforma da própria decisão (artigo 616º, nº2 CPC) que é a impugnação da própria decisão só é admitida
quando não caiba no recurso ordinário ou quando se verifiquem os pressupostos previstos no artigo 616º,
nº2 CPC. Quais são esses pressupostos?

1- Haver manifesto lapso do juiz


2- Verificar-se alguma das causas das alíneas a) e b) do nº2 do artigo 616º CPC

O prazo para a reclamação é de 10 dias a contar da notificação da sentença (artigo 149º, nº1 CPC).

13.Recurso e Reclamação

Com a sentença ainda não terminou a ação declarativa, uma vez que após a prolação da sentença, uma vez
sendo ela notificada às partes, inicia-se o prazo para a respetiva impugnação. Essa impugnação pode
ocorrer de duas formas: pode ocorrer mediante recurso ou mediante reclamação. A reclamação é contra o
autor do ato (contra o próprio Juiz que proferiu a decisão) e o recurso é perante uma instância superior
(artigo 627º, nº1 CPC). É para efeitos de recurso que os tribunais judiciais se encontram organizados de
forma hierárquica (artigo 42º, nº1 LOSJ). Embora o próprio texto constitucional preveja que os tribunais
judiciais tenham diferentes níveis de organização (artigo 219º, nº1 alínea a) CRP) entende a doutrina que
não é uma dimensão necessária do direito de ação a possibilidade de recurso a não ser no âmbito penal. A
doutrina constitucionalista entende que da constituição decorre para o âmbito cível a garantia de um
sistema de recursos, mas esse sistema não tem que valer para todos os casos.

A que se destina o sistema de recursos? Destina-se a corrigir o sistema judiciário, seja em matéria de facto,
seja em matéria de direito. Isto é, seja no juízo que o juiz formulou em matéria probatória, seja na
interpretação das normas jurídicas que realizou. A LOSJ diz que os tribunais estão organizados
hierarquicamente para efeitos de recurso, mas é sempre possível haver recursos mesmo quando não há
organização hierárquica dos tribunais.

Vamos distinguir entre vários tipos de recursos. Do ponto de vista legal distingue-se entre recursos ordinários
e recursos extraordinários. Qual é o citério de distinção? Artigo 627º, nº2. Os recursos ordinários são
anteriores ao trânsito em julgado, os extraordinários são posteriores ao caso julgado. São recursos de
admissibilidade muito restrita. Quais é que são os recursos ordinários no sistema português? O recurso de
apelação que é para o tribunal da relação e o recurso de revista que é para o STJ. Recursos extraordinários
há recursos para uniformização de jurisprudência e temos recurso de revisão que é o recurso que se destina
a eliminar uma decisão e a substitui-la por outra.

Quanto à tipologia do recurso especificamente quanto à sua finalidade: o recurso pode ser de reexame ou
reponderação. Um recurso de reexame permite uma renovação do litígio perante o tribunal para o qual se
recorre. Se há uma renovação do litígio poderão introduzir-se factos novos, modificar-se a causa do pedido,
modificar-se o pedido e introduzir novos meios de prova. Num recurso de reponderação, apenas se pode
controlar em princípio a decisão recorrida, portanto já não é para repetir a causa, mas controlar a decisão
que foi proferida no seu termo, dentro dos mesmos limites, do pedido, da causa de pedir etc. qual é o
modelo do direito português? É do recurso de reponderação.

Os recursos podem ser de cassação ou de substituição. O recurso de cassação é um recurso que se limita a
revogar a decisão impugnada, portanto, recorre-se para o tribunal superior para revogue a decisão inferior.
O de substituição é aquele em que o tribunal superior não só pode revogar como se pode substituir ao
tribunal inferior. O recurso de substituição é um mais em relação ao recurso de cassação. A regra é sempre
que possível, recurso de substituição.

Quanto à natureza jurídica do recurso pode perguntar-se se o recurso é uma nova ação, ou se é uma mesma
fase da ação. Deve entender-se que o recurso é uma fase da instância, é uma fase que se segue à sentença.
É uma fase meramente eventual pois apenas tem lugar se alguma das partes suscitar a intervenção do
tribunal superior. É uma fase da instância, mas já não é uma fase da primeira instância pois esta termina com
a sentença.

Há ainda uma terceira distinção importante que é entre recursos mistos e recursos puros: o recurso puro
apenas o tribunal ad quem se pode pronunciar. O recurso misto é um recurso que é interposto igualmente
para o tribunal ad quem, mas o tribunal ad quo pode modificar a sua decisão, ou seja, o recurso misto é um
misto de recurso e de reclamação. Entre nós os recursos são puros, mas para a nulidade de sentença ou a
sua reforma o recurso é misto (artigo 617º CPC).

13.1 Admissibilidade do recurso

O recurso está sujeito a pressupostos de admissão. No que respeita à decisão recorrida excluiu-se o recurso
a respeito de despachos de mero expediente ou despachos no uso de um poder discricionário (artigo 630º,
nº1). Estes despachos estão definidos no artigo 152º, nº4. Não sendo qualquer um destes despachos, a
admissibilidade do recurso é determinada por critérios legalmente previstos. Em geral, a admissibilidade do
recurso está dependente do valor da causa e da sucumbência (artigo 629º, nº1 CPC). Para que o recurso
seja admitido, exige-se que a causa tenha valor superior à alçada do tribunal do qual se recorre (alçada de
primeira instância 5000€ e a alçada do tribunal da relação é de 30.000€- artigo 44º, nº1 LOSJ). A alçada
determina-se pelo momento da propositura da ação (artigo 44º, nº3 LOSJ). Em razão do que se disse, só se
pode recorrer de uma decisão de primeira instância se o seu valor for superior a 5000€ e só se pode recorrer
de uma decisão da Relação se o valor da causa for superior a 30.000€. Ao requisito da alçada acresce o
requisito da sucumbência. Apenas se pode recorrer se a decisão for desfavorável em valor superior a
metade da alçada do tribunal (artigo 629º, nº1 segunda parte).

Ex.: uma ação tem o valor de 6000€ e que o réu foi condenado a cumprir 4000€. É admissível recurso
ordinário? Quanto ao valor da ação, a ação tem valor superior à alçada? Sim. A perda para o autor foi de
2000€ e é menos de metade do valor da alçada que é 2500€ pelo que não poderá recorrer.
Este requisito da sucumbência só vale para o chamado recurso independente, não vale para o recurso
subordinado (recurso em reação ao recurso da parte contrária).

Mesmo quando os outros dois requisitos estão verificados não se admite o recurso de revista quando o
acórdão da relação conforme a decisão de primeira instância, sem voto de vencido e sem fundamentação
essencialmente diferente. O Tribunal de recurso é o tribunal da relação, sendo que o STJ tem
essencialmente uma função de orientação jurisprudencial de conhecimento das grandes questões de
direito e por essa razão apenas se suscita a sua intervenção quando ela é realmente necessária. Sem
prejuízo das regras da alçada e da sucumbência há casos em que a lei por opção exclui o recurso. É o que
acontece em matéria de providências cautelares em que se exclui o recurso para o STJ (artigo 390º, nº2) é
o acontece em matéria de jurisdição voluntária quando a decisão seja com base em critérios de
conveniência ou oportunidade (artigo 978º, nº2) e é o que acontece no âmbito da ação executiva em que
via de regra só há recurso para a Relação. Há ainda casos em que, independentemente da alçada e da
sucumbência a lei admite sempre o recurso. A lei admite sempre o recurso até ao STJ nos casos previstos
no artigo 629º, nº2 e admite sempre o recurso para o Tribunal da Relação nos casos previstos no artigo
629º, nº3. Exemplo de uma ação em que se admite sempre o recurso para a Relação ou para o STJ: ofensa
do caso julgado. Exemplo de uma decisão que se admite sempre recurso para a Relação: em matéria de
arrendamento (artigo 629º, nº3 alínea a).

Quem tem legitimidade para recorrer? Vale a regra de que tem legitimidade para recorrer quem ficou
vencido na causa (artigo 631º, nº1). Eventualmente podem recorrer terceiros que não são parte, mas
ficaram afetados diretamente pela decisão ou partes acessórias (artigo 631º, nº2). Ex.: terceiro prejudicar
pela decisão. Imagine-se que o juiz aplica uma multa a uma testemunha por não colaborar com o tribunal.
Ela poderá recorrer. Imagine-se que a ação procede integralmente, o autor pode recorrer? Não, pois já
beneficiou. Mas é preciso fazer uma precisão que é se a parte contrária interpuser recurso, o autor pode
requerer que sejam apreciados fundamentos da ação ou da defesa em que decaiu em primeira instância
(artigo 636º, nº1).

Ex.: Imagine-se que uma das partes, pode ser o autor ou o réu, em primeira instância, apresenta vários
fundamentos e o tribunal julga a ação procedente com base no fundamento A, excluindo o B e o C. O autor
pode recorrer? Não, porque a ação procedeu integralmente, mas se o réu interpuser recurso o autor pode
pedir que no recurso sejam reapreciados os fundamentos que não foram tidos em conta na primeira
instância, para prevenir a hipótese, de cado o tribunal de recurso ao pronunciar-se sobre os fundamentos
apresentados pelo réu, não prejudique o autor em função de fundamentos de direito ou de facto que não
foram devidamente considerados em primeira instância.

O direito ao recurso pode perder-se nos casos previstos no artigo 632º CPC. Como?

1. Mediante renúncia (artigo 632º, nº1 CPC): renúncia é a declaração unilateral pela qual
o titular de um direito dele abdica. Esta renúncia se for anterior ao direito ao recurso
deve provir de ambas as partes (artigo 632º, nº1 segunda parte CPC). se for posterior
à constituição do direito ao recurso é pela regra geral, declaração unilateral isolada de
uma das partes

2. Mediante aceitação da decisão (artigo 632º, nº2 CPC): esta aceitação pode ser
expressa ou tácita (artigo 632º, nº3) isto é a parte que se conforma positiva com a
decisão depois não pode recorrer.
3. Desistência do Recurso (artigo 632º, nº5): é possível desistir do recurso até á prolação
da decisão.

O recurso pode ser independente ou subordinado (artigo 633ºCPC). A diferença entre estas duas formas de
recurso está no momento em que a parte toma a iniciativa de recorrer. O recurso independente é aquele
que é interposto independentemente da posição da parte contrária. O recurso subordinado é aquele que é
interposto em reação ao recurso interposto pela parte contrária. O prazo para interpor recurso subordinado
conta-se a partir da notificação da interposição de recurso da parte contrária (artigo 633º, nº2 CPC).

Ex.: imaginemos que temos uma ação com duas partes (autor e réu) a ação prossegue e temos uma
sentença. O prazo para o recurso é de 30 dias. Imaginemos que nestes 30 dias o A recorreu e o réu recorreu.
O recurso neste caso é independente, pois quer o autor quer o réu tomaram a decisão de recorrer apenas
ponderando o resultado da sentença. Agora vejamos uma diferença. Imaginemos agora que apenas o autor
recorre e o réu não recorre. A lei permite que a parte contrária que inicialmente se conformava com a
decisão, perante a possibilidade de ela ser modificada pretende reagir, e pode reagir interpondo recurso
após aquele que fora inicialmente interposto.

Por essa razão, em princípio, o recurso subordinado está sujeito às duas seguintes diferenças de regime:
primeiro, em princípio, a renúncia ou aceitação da decisão não impede recurso subordinado. Portanto o réu
que inicialmente se conformara, pode reagir ao recurso interposto pela parte contrária (artigo 633º, nº4
CPC). Segundo, para o recurso subordinado não vale a regra da sucumbência (artigo 633º, nº5 CPC) de forma
a garantir a igualdade de partes (se uma parte recorre a parte contrária tem que poder recorrer).

O recurso interposto por uma das partes pode aproveitar a terceiros nos casos previstos no artigo 634º CPC.
Quais são esses casos? No caso de litisconsórcio necessário (634º, nº1 CPC). Fora destes casos aproveita a
terceiros nas hipóteses dos artigos artigo 634º, nº2 alínea a) e nºs 3 e 4 e 634º, nº2 alínea b) e 634º, nº2
alínea C). A contrario não se verificando nenhuma destas hipóteses o recurso aproveita apenas ao
recorrente.

13.2 Competência para conhecer do recurso

A regra é a de que a competência para recorrer das decisões dos tribunais de primeira instância é do Tribunal
da Relação (artigo 68º, nº2) e de que a competência para conhecer dos recursos da Relação é do STJ (artigo
69º, nº2). Este regime tem exceções (falaremos mais à frente).

13.3 Prazo para interposição

A regra é que o prazo para interposição de recurso é de 30 dias (artigo 638º, nº1 CPC). Este prazo conta-se
a partir da notificação do ato judicial de que se recorre (artigo 638º, nº3 CPC). No caso de recurso tem por
objeto a reapreciação da prova gravada acrescem 10 dias ao prazo (artigo 638º, nº6 CPC). Como já referimos,
se for recurso subordinado, o prazo conta-se a partir da notificação do recurso interposto pela parte
contrária. Interposto recurso, o prazo para a contra-alegação é o mesmo que vale para a interposição de
recurso (artigo 638º, nº5 CPC) ou seja, 30 dias.

Como é que se interpõe recurso? Há um aspeto interessante do regime: o recurso embora se dirija ao
tribunal superior é interposto no tribunal que proferiu a decisão recorrida (artigo 637º, nº1). Proferida
sentença na primeira instância, junto de quem se interpõe o recurso? Junto do próprio tribunal de primeira
instância. O recorrente tem o ónus de formular conclusões das quais concretize porque pretende que a
decisão recorrida deva ser alterada (artigo 639º, nº1 e 2 CPC). Isto é, não pode haver um recurso em abstrato,
deve haver uma especificação dos seus concretos fundamentos, aliás, não sendo estas conclusões
apresentadas do modo devido, deverá ser o recorrente convidado a aperfeiçoar o recurso sob pena de ele
não ser conhecido (artigo 639º, nº3 e 640º CPC). Dissemos que o recurso é interposto junto do tribunal a
quo. É este tribunal que admitirá ou não o recurso (artigo 641º e 643º CPC) embora, caso não admita, possa
haver reclamação para o tribunal que seria competente, ou seja, tribunal da relação (artigo 643º, nº1 CPC).

O recurso inicia-se com um pedido- qual pedido? O pedido de modificação da decisão recorrida. Uma vez
que, no processo civil, vale o princípio do dispositivo e o princípio do pedido, isso significa que o tribunal ad
quem não poderá modificar a decisão em sentido diferente daquele que fora pedido. Pode não atender ao
pedido, o que não pode é dar um sentido ao recurso diferente daquela que fora pedido pela parte (princípio
da reformatio in peius), isto é, modificação da decisão em prejuízo da parte (isso não pode acontecer).

Vamos olhar agora para os dois recursos ordinários principais que são o Recurso de Apelação (para o
Tribunal da Relação) e o Recurso de Revista (para o STJ). Embora o recurso seja interposto posteriormente
à sentença de primeira instância não podem nele ser introduzidos novos factos. A decisão valerá sempre por
referência ao momento do enceramento da audiência na primeira instância. Em sede de recurso, quando
muito podem apresentar-se documentos novos, mas por referência aos factos anteriores (artigo 652º e
662º, nº1) e novos pareceres (artigo 651º, nº3)

13.4 Recurso de Apelação

Está regulado nos artigos 644º ss CPC. É o recurso mais regulado pela Lei. É próprio deste recurso admitir
não só a sindicância da aplicação do Direito pelo Tribunal de primeira instância, mas ainda a modificação da
decisão em matéria de facto.

Para o julgamento do recurso é designado um relator (artigo 632º, nº1) que com 2 adjuntos formará a
conferência para julgar a causa (artigo 56º LOSJ). O relator tem um conjunto de competências muito mais
amplas do que simplesmente redigir o acórdão (competências estas previstas no artigo 652º, nº1 CPC). O
relator é aquele que vai dirigir o recurso no tribunal superior, praticando os principais atos que sejam
exigidos para a sua tramitação. Entre esses atos está elaborar um projeto de acórdão (artigo 657º, nº1 CPC).
este projeto de acórdão será apreciado pela conferência (pelo relator e por dois adjuntos) tomando-se uma
decisão por maioria (artigo 659º, nº3 CPC). O Acórdão será elaborado de acordo com a orientação que tenha
prevalecido (artigo 663º, nº1). Na eventualidade do relator ficar vencido, o Acórdão será lavrado pelo
primeiro adjunto vencedor (artigo 663º, nº3). O juiz vencido pode apresentar as razões da sua discordância
(artigo 663º, nº1 parte final).

O Acórdão tem uma estrutura análoga à de uma sentença (relatório, fundamentação e decisão- artigo 663º,
nº2 CPC). Prevê ainda a lei que se acrescente um sumário (artigo 663º, nº7). Este sumário não é elaborado
para as partes, mas sim no interesse de terceiros que queiram saber qual a interpretação que foi dada pelo
tribunal ao Direito naquele concreto caso. O Acórdão pode ter uma estrutura simplificada nos casos previstos
no artigo 663º, nº5 em que se limita à parte decisória.

Excecionalmente, nos casos previstos no artigo 656º CPC, pode a decisão ser tomada só pelo relator (sem
ser pela conferência). Quando é que tal é possível? Quando a questão já tenha sido apreciada de forma
uniforme ou reiterado ou quando o recurso seja manifestamente infundado, sem prejuízo, quando a decisão
seja tomada só pelo Relator admite-se reclamação para a conferência (artigo 652º, nº3) reclamando-se no
prazo de 10 dias (artigo 149º, nº1 CPC).

13.5 Recurso de Revista

O recurso regra ordinário, para o STJ é o recurso de revista que é um recurso que tem a particularidade de
incidir sobre matéria de Direito (artigo 664º, nº1 CPC), isto porque, a função própria do STJ não é servir de
instância para recurso de decisões em geral, mas tribunal especialmente vocacionado para a garantia da
uniformidade do Direito. Sem prejuízo do que se disse, o STJ entendendo que se justifica alguma alteração
no julgamento de facto, pode ordenar que o processo desça ao Tribunal recorrido (artigo 682º, nº3). Nos
termos gerais, aplicam-se aqui as notas relativas à apelação (artigo 679º CPC) - é o mesmo quanto ao relatoe,
conferência etc.

Embora a sua decisão possa ser suscitada por qualquer das partes (artigo 686º, nº2) e deva ser proposta
pelo relator, adjuntos, presidentes de secções cíveis ou Ministério Público, pode o Presidente do STJ
determinar que para efeitos de uniformização de jurisprudência, o julgamento deva ser feito pelo Pleno das
Secções Cíveis (artigo 686º, nº1). Quando assim ocorra, o julgamento deve realizar-se com a presença de
pelo menos ¾ dos juízos (artigo 687º, nº4 CPC).

A uniformização de jurisprudência pode ocorrer no âmbito do recurso de revista ou mediante o recurso


extraordinário de uniformização de jurisprudência.

Como é que a interposição de recurso se repercute nos efeitos da sentença de que se recorre? O recurso pode
ter dois tipos de efeitos: (1) efeito meramente devolutivo ou (2) efeito suspensivo. Um recurso com o
primeiro efeito é aquele que se limita a suscitar a intervenção de um novo tribunal, mas sem suspender os
efeitos da decisão recorrida. O suspensivo é quando suspende realmente os efeitos da decisão recorrida.
Quanto a ambos os recursos, a regra é o efeito meramente devolutivo. No caso do recurso de apelação o
efeito suspensivo dá-se quando se verifique alguma das causas previstas no artigo 674º, nº3 e 4 CPC/647º:

1. Ações quanto a estado de pessoas


2. Ações relativas a arrendamento, posse ou propriedade no caso de habitação
3. A decisão causar prejuízo considerável á parte e ela oferecer-se para prestar caução

Quanto ao recurso de revista, só há efeito suspensivo em ações sobre o estado de pessoas (artigo 676º, nº1
CPC). Em todos os outros casos o efeito é meramente devolutivo.

14. Caso Julgado

Nós vimos que uma vez interposta a decisão pode a parte consoante os casos reclamar ou recorrer. E quando
já tiverem exercitado todos os meios disponíveis de reclamação/recurso? quando tal ocorra, a decisão diz-se
transitada em julgada (artigo 628º CPC). Uma decisão transita em julgando quando é insuscetível de recurso
ou de reclamação. Qual é o momento em que em princípio se dá o trânsito em julgado? É no prazo de 10
dias ou 30 dias após a prolação da decisão. A partir do momento em que a decisão transita em julgado, ela
torna-se estável e indiscutível para o Direito. Isto é, a partir desse momento é indiferente para o Direito a
controvérsia entre as partes.

Nós podemos ter 2 modalidades de caso julgado: o caso julgado pode ser formal quando incida sobre a
relação processual tendo força vinculativa dentro do processo (artigo 620º, n1º) ou pode ser material
quando o tribunal se pronuncie sobre a relação material controvertida e a sua pronúncia valha com força
obrigatória dentro e fora do processo (artigo 619º, nº1). O caso julgado material não é uma alternativa ao
caso julgado formal, é um mais. Todo o caso julgado material é também caso julgado formal.

Qual é o valor do caso julgado? Distinguem-se dois efeitos do caso julgado: um efeito negativo e um efeito
positivo. Do ponto de vista negativo, o caso julgado tem por efeito constituir a chamada exceção de caso
julgado. Em que consiste esta exceção? Consiste na possibilidade de obstar a uma segunda ação com objeto
conflituante com o decidido na primeira (artigos 577º alínea i); 580º e 581º CPC). proposta uma segunda
ação com objeto conflituante com o decidido na primeira, o segundo tribunal sabendo que há exceção
dilatória de caso julgado deve absolver o réu da instância, ou seja, recusar-se a agir. Para proteger a decisão
transitada em julgado, preveem-se as duas seguintes funções: a violação de caso julgado é sempre
fundamento de recurso (artigo 629º, nº2 alínea a) CPC) e mesmo que venha a ser proferida uma segunda
decisão, é a primeira que prevalece (artigo 625º, nº1 CPC). Mas o caso julgado tem ainda efeito positivo,
nomeadamente, autoridade do caso julgado que consiste em o que foi decidido na ação impor-se em
qualquer nova ação em que a mesma questão venha a ser suscitada. Tal é especialmente relevante quando
o decidido na ação seja prejudicial em relação ao objeto de uma nova ação.

Ex.: Temos uma ação de investigação da paternidade. O A propõe ação contra B a dizer que B é pai e B diz
que não é. Admita-se que é estabelecida a paternidade. Pode a seguir haver uma novação do autor contra
o réu ou do réu contra o auto para negar o resultado da primeira? Não, precisamente por causa do efeito
negativo do caso julgado, isto é, exceção de caso julgado
Ex2.: Temos os mesmos factos, só que agora a segunda ação é que o A pede alimentos ao réu (B). Pode?
Neste caso as duas ações não têm o mesmo objeto. No entanto, é pressuposto dos alimentos haver uma
relação familiar, portanto, o decidido na primeira ação é prejudicial ou pressuposto do que vai ser
conhecido já segunda ação- autoridade do caso julgado

Este valor do caso julgado produz-se em relação ao quê? Diz a lei, no artigo 580º, nº1 e 581º, nº1 CPC que
há exceção de caso julgado quando se repete uma causa e diz o artigo 581º, nº1 que se repete a causa
quando se propõe uma ação idêntica a outra quanto aos sujeitos, ao pedido e à causa de pedir. Portanto,
qual é o critério que a lei dá? Nós estaremos perante um problema relativo ao caso julgado quando haja
esta tríplice identidade (pedido, causa de pedir e sujeitos). O professor entende que a lei está mal redigida,
pois a lei diz mais do que é pretendido. O critério fundamental é este: nós estaremos perante exceção de
caso julgado quando o objeto da segunda ação seja incompatível em termos práticos com o decidido na
primeira, mesmo que, o pedido, causa de pedir ou os sujeitos possam não coincidir. Portanto, o que a lei
oferece no artigo 581º, nº1 CPC é apenas um critério supletivo para identificar esta possível oposição, mas
pode haver oposições geradas a partir de embates diferentes entre o decidido na primeira ação e o objeto
da segunda ação.

Quanto à identidade do pedido: consideramos que o pedido é idêntico quando nas duas ações se pretenda
o mesmo efeito jurídico (artigo 581º, nº3 CPC). Por conseguinte, o pedido considera-se o mesmo ainda que
seja formulado de forma diversa (ex.: o autor propõe ação contra o réu para que ele seja considerado pai.
Na segunda ação o réu que agora é autor pede que seja declarado que não é pai). Não se admite que seja
formulado em segunda ação um pedido destinado a inviabilizar o decidido na primeira ação com
fundamento em exceções que deveriam ter sido deduzidas na primeira ação.
Quanto à identidade da causa de pedir: considera-se a mesma quando a pretensão deduzida em cada uma
das ações, tenha por fundamento o mesmo facto jurídico (artigo 581º, nº4) - ex.: ação de anulação de
contrato por erro. Pode a seguir propor ação do contrato por dolo? Pode, pois a causa de pedir é diferente.

Quanto aos limites subjetivos do caso julgado: vale a regra de que os efeitos da decisão se produzem apenas
entre as partes (artigo 581º, nº2- princípio da privatividade do caso julgado). A coisa julgada entre as partes
não aproveita nem prejudica a terceiros. A ideia da lei é que se apenas as partes puderam intervir na ação,
apenas é razoável que elas arquem com os efeitos da ação. Chame-se a atenção para as 3 seguintes
particularidades:

(1) À identidade de sujeitos quando as partes são as mesmas do ponto de vista da qualidade jurídica.
Este ponto de vista da qualidade jurídica, do ponto de vista da qualidade jurídica, um sucessor da
parte considera-se parte. ex.: o autor propõe uma ação contra o réu. o réu more. O decidido no caso
julgado é oponível aos sucessores

(2) Transmissão de cosia ou direito em litígio durante a ação: neste caso, mesmo que o adquirente não
seja admitido á ação ou nela não intervenha, a decisão é-lhe oponível (artigo 263º, nº3 CPC)

(3) Apesar do caso julgado se restringir às partes, hipóteses há em quem ele pode ser aproveitado a
terceiros: no caso de solidariedade, relações de acessoriedade, e ainda para ação de reivindicação,
para defesa da posse por compossuidor e para petição da herança (estes 3 últimos são entendimento
doutrinal, não estando expressamente previsto na lei).

Limites temporais do caso julgado: como referimos, a decisão profere-se por referência à situação de facto
existente à data do encerramento da audiência. Logo, caso julgado não obsta a que possa ser proposta uma
nova ação com fundamento em factos posteriores. Quando a sentença tenha condenado o réu a prestar
alimentos ou a satisfazer prestações dependentes de circunstâncias especiais quanto à sua medida ou
duração (artigo 619º, nº2- ex.: na responsabilidade civil extracontratual condenar com base em dano futuro)
é possível modificar a sentença caso se alterem as circunstâncias que determinaram a condenação. Quando
a sentença assente num juízo de prognose, pode modificar-se a decisão quando esse juízo se venha revelar
erróneo. Quando assim ocorra e se peça a modificação da decisão, a instância é renovada para esse efeito
(artigo 282º, nº2).

O modo normal de terminar a instância é o julgamento (artigo 257º, alínea a) CPC) que uma vez transitada
em julgado extingue a relação processual. Contudo, a lei prevê outras causas de extinção da instância e
constam do artigo 277º CPC:

1. Compromisso arbitral: artigo 280º e 277º/b CPC: consiste em as partes por acordo, subtraírem o
litígio à apreciação do tribunal e confiarem á resolução por árbitros que são particulares que vão
tomar a decisão. A arbitragem é regulada na lei de arbitragem voluntária.

2. Deserção (artigo 277º/c e 281º): consiste na inércia da parte. Considera-se deserta quando o
processo aguarda impulso processual há mais de 6 meses

3. Desistência, confissão, transação: coloca termo ao litígio. O juiz profere uma sentença
homologatória do ato das partes
4. Impossibilidade ou inutilidade superveniente (artigo 277º/e): Ex.: ação inibitória para inibir alguém
de praticar o ato, morrendo o réu.

15. Recursos Extraordinários

Terminada a ação é ainda possível em hipóteses muito restritas interpor recursos extraordinários. Quais
são os recursos extraordinários (posteriores ao caso julgado) que a lei admite? O recurso para
uniformização de jurisprudência (artigo 688º ss CPC) que é um recurso que se pode propor nas hipóteses
previstas no artigo 688º, nº1 no prazo de 30 dias a contar do trânsito em julgado e o recurso
extraordinário de revisão (artigo 696º ss CPC). Quanto à uniformização de jurisprudência ela não tem
que operar, podendo ter lugar no âmbito do recurso de revista. O recurso de revisão é um recurso
destinado a destruir uma sentença/acórdão e substitui-lo por outro. ele só é admitido quando se
verifique alguma das causas do artigo 696º CPC que, como veremos, são de verificação muito difícil e
sempre de enorme gravidade:

(1) Artigo 696º alínea a) CPC uma outra sentença transitada em julgado ter dado por provado que a
decisão a rever resulta de crime praticado pelo juiz.

(2) Falsidade de meio de prova determinante para a decisão da causa que não tenha sido discutida (696º,
alínea b)

(3) Documento de que a parte não conhecia ou não pode usar e só por si suficiente para mudar a decisão
(artigo 696º, alínea c)

(4) Ter o processo corrido à revelia sem ter havido citação ou o réu não tenha tido dela conhecimento
ou não podido apresentar contestação por razão de força maior

Mesmo assim, este recurso de revisão está sujeito a prazos relativamente restritos. Prazo de 60 dias a contar
do conhecimento da causa que determina a revisão (artigo 697º, nº2) não podendo ser interposto decorridos
mais de 5 anos após o trânsito em julgado. Este recurso é interposto junto do Tribunal que proferiu a
decisão a rever. Portanto, se for para rever uma sentença de primeira instância o recurso é interposto nesse
mesmo tribunal, porque o recurso de revisão tem duas fases: a primeira fase destina-se a rescindir/destruir
a decisão a rever. Concluindo o tribunal que há um destes fundamentos, profere uma decisão nova em seu
lugar (artigo 701º CPC).

16. Recurso para o Tribunal Constitucional

Além destes meios de recurso previstos no CPC importa mencionar uma outra possibilidade não prevista no
CPC, mas prevista na Lei do Tribunal Constitucional. Quando no âmbito de uma ação civil, o tribunal tenha
desaplicado uma norma com fundamento em inconstitucionalidade ou tenha sido suscitada a questão da
inconstitucionalidade de uma certa norma, é possível o recurso para o Tribunal Constitucional (artigo 280º,
nº1 CRP e artigo 70º, nº1, alíneas a); b) Lei do Tribunal Constitucional). Este recurso tem algumas
particularidades: é um recurso que tem um objeto estritamente normativo, limitado à questão da
inconstitucionalidade. Apenas se recorre para o TC para controlar a interpretação que foi feita do texto
constitucional e não da decisão da causa propriamente dita. Uma vez conhecendo o TC do recurso, o
processo regressa ao tribunal a quo para lhe ser dada a devida continuidade (artigo 80º, nº1 Lei do Tribunal
Constitucional). Quando é que este recurso pode ser interposto? Se o Tribunal Constitucional tiver
desaplicado uma norma pode ser proposto em qualquer altura, ou seja, em reação à decisão da primeira
instância, do Tribunal da Relação ou do STJ). Se o fundamento ter sido suscitada pela parte uma questão de
inconstitucionalidade (artigo 70º, nº1 alínea b) só é possível interpor recurso depois de esgotados os
recursos ordinários (artigo 70º, nº3).

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