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ECONOMIA POLITICA II

1. Mercados de concorrência perfeita


Se houvessem mercados de concorrência perfeita encontraríamos sempre 3 características.
Estas características essenciais, que permitem a concorrência perfeita, terão sempre que
existir, ainda que imperfeitamente:

1. Diversidade de compradores e vendedores em condições relativamente igualitárias

2. Identidade do produto

3. Ausência de restrições à saída ou entrada de empresas

DIVERSIDADE DE COMPRADORES E VENDEDORES


EM CONDIÇÕES RELATIVAMENTE IGUALITÁRIAS
Corresponde ao facto de nenhum deles (quer o comprador ou vendedor) ter um tal poder de
mercado que consiga influenciar por si só, apenas com o seu comportamento, as condições
de compra e venda de um determinado bem ou serviço. A concorrência perfeita que garantir
que nenhum concorrente, sozinho, consiga condicionar o preço de certo bem ou serviço, ou
condicionar outro tipo de condições, como:

 Condições e prazo de pagamento;

 Garantias e reparações;

 Condições de entrega ou de devolução;

Nenhum produtor, distribuidor ou consumidor deve poder ter o poder suficiente para
influenciar, decisivamente o mercado. Se isto acontecer, aquelas condições ser-lhe-ão dadas
e resta-lhe apenas:

 Aceitá-las (porque está em condições de prestar o seu serviço com lucro)

 Sair do mercado (pois entende que não consegue produzir tão barato ou a margem de
lucro é pequena e não consegue sobreviver). Se sair do mercado pode encerrar a
empresa e ficar insolvente ou prescindir de adquirir aquele bem ou serviço

Estas empresas que não conseguem influenciar as condições são chamados de “Price
Takers” pois aceitam o que lhes é dado ou saem do mercado, visto que não podem
influenciar nem tomar outra alternativa.
Nos mercados de concorrência imperfeita ou monopolísticos, as 2 ou mais empresas que
controlam esse mercado poderão ser “Price Makers”. Estas empresas definem o preço de
mercado daquele bem ou serviço que oferecem (fazem não só o preço que os clientes são
obrigados a aceitar, dado que não têm outras possibilidades, como também definem as
condições que os seus concorrentes vão cobrar- preço de monopólio

Quando alguns operadores têm algum peso que lhes permite condicionar as condições de
mercado, deixamos de ter um mercado concorrencial e passamos a ter um mercado cujas
regras são definidas pela atuação de um pequeno número de vendedores ou compradores:

 No caso da oferta: monopólio (apenas 1 vendedor) ou oligopólio (alguns vendedores,


mas mais do que 1)

 No caso da procura: monopsónio (apenas 1 comprador) ou oligopsónio (poucos


compradores, mas mais do que 1)

Tem-se assistido ao crescimento dos grandes distribuidores que têm um peso muito
superior à maioria dos retalhistas e dos fornecedores. Ora, a distribuição situa-se entre o
consumo final e a produção (distribuidores adquirem o bem ao produtor e revendem,
posteriormente, ou ao consumidor, ao retalhista ou até ao bolsista). Os grandes
distribuidores estão nesta situação, em que têm de ser dominantes para cima e para baixo,
quer ao nível das compras que fazem, quer ao nível das vendas.

Diferentes tipos de canais de distribuição:


A 1ª hipótese é a venda direta, pelo produtor ao consumidor que é cada vez mais rara.
Opta-se por se vender ao retalhista que, posteriormente, vende ao consumidor. Outra
hipótese é vender ao grossista que faz a mesma venda ao consumidor final através dos
retalhistas. Por último, podem também existir os chamados agentes que atuam do lado do
produtor e negoceiam com os grossistas

Concluindo, estes distribuidores:

 Conseguem influenciar, a montante, o comportamento dos produtores,


nomeadamente, o preço que estes praticam, porque lhes compram uma parte
significativa da produção. Os pequenos compradores estão dependentes deste tipo
de contratos, uma vez que, se estas vendas para grandes superfícies estão sujeitas a
ficam com excesso de bem e não conseguir escoar

 Conseguem influenciar, a jusante, o comportamento dos consumidores finais,


nomeadamente fixando o preço que lhes cobram porque são o principal meio de
abastecimento
 Conseguem influenciar as pequenas empresas retalhistas concorrentes que se
adaptam naturalmente às condições de mercado das grandes superfícies, alterando
o seu preço, diversidade, tipo de serviço

Isto é o efeito “guarda chuva”. Uma grande empresa cria um guarda chuva que protege os
preços das empresas mais pequenas e permite-lhes cobrar preços mais altos e condições que
não conseguiriam impor, por si só, aos consumidores finais.

IDENTIDADE DO PRODUTO
Quando falamos em mercados, estamos a falar de mercados compartimentados de produtos e
serviços. Um mercado é um local onde se troca um determinado bem e não todos os bens.
Por esse motivo, os bens têm de ser fundamentalmente idênticos.

Os operadores e, sobretudo, os consumidores finais, têm de ter a oportunidade de comparar


esses bens entre si e trocarem de fornecedor, se as condições de oferta se alterarem. O preço
também influencia a escolha. O preço é praticamente igual em produtos semelhantes pois
depende de 2 grandes fatores:

 Preço internacional do crude: depende muito das tensões políticas nas principais
regiões produtoras;

 Carga fiscal: imposto específico que o Estado impõe sobre o produto petrolífero

São exemplos de mercados com identidade de produtos o mercado dos combustíveis, o


mercado de gelados ou bebidas de marcas conhecidas. Para esses mercados, temos 2 tipos de
concorrência diferente:

 Concorrência inter-marcas: entre os vários fabricantes de marcas diferentes que


produzem produtos semelhantes

 Concorrência intra-marca: entre os diferentes distribuidores de bens produzidos pela


mesma empresa e, portanto, bens rigorosamente iguais

 Concorrência monopolística: mercados em que temos produtos aparentemente muito


homogéneos, mas que, na verdade, são diversificados e diferenciáveis entre si. Daí
permitirem que alguns produtores que oferecem produtos únicos, se tornem
monopolistas. Para esses produtos podemos ter pequenos mercados monopolistas.

A definição de mercado relevante engloba mais do que uma vertente. Por isso, há uma
comunicação da Comissão Europeia que procede a essa definição, compilando os pontos de
vista sobre esta questão e as posições retiradas dos acórdãos dos Tribunais da União. Da
comunicação da Comissão, podemos retirar 2 dimensões fundamentais, diferentes, as
complementares do conceito “mercado relevante”:
Dimensão geográfica: compreende a área geográfica em que dois produtos são
oferecidos por empresas diferentes em “condições de concorrência homogéneas”. Pode ser
uma dimensão fundamental para estabelecermos o limite de mercado, isto é, qual o alcance
geográfico da empresa em questão.

A quebra de homogeneidade pode ser provocada por barreiras à entrada no mercado ou


apenas pela natureza das coisas. São exemplos de condições de concorrência não
homogénea:

 Carácter perecível dos produtos;

 Custos de transporte e seguros;

 Tarifas aduaneiras;

 Perdas de uma determinada vantagem de natureza legal ou contratual

 Proibições ou limitações à comercialização: regras relativas a segurança, proteção dos


consumidores, moralidade pública…

Dimensão do mercado de produto: compreende os bens considerados


permutáveis ou substituíveis pelo consumidor devido às suas características, preços e
utilização pretendida. Ou seja, trata-se de saber se 2 produtos, pela sua natureza, são ou não,
concorrentes entre si, isto é, se podem roubar clientes um ao outro ou se podem influenciar. Se
estes sucedâneos existirem, irão exercer pressão concorrencial uns sobre os outros, obrigando
as empresas a melhorar os processos e a qualidade, a não aumentar preços e a inovar para
não perderem mercado ou clientela para a concorrência. Portanto, as empresas precisam de
concorrência para serem melhores e para que o mercado ganhe com isso

OUTRAS DIMENSÕES DE MERCADO


Sendo as necessidades diferentes, as condições de oferta serão diferentes, assim como os
mercados:

 Diferenciação dos consumidores: produtos diferentes para clientes residenciais e


empresariais, porque os consideram dois mercados distintos

 Concursos públicos: uma vez que alguns concursos estão reservados a empresas que
disponham de determinado tipo de certificações

 Mercados de bens e serviços gratuitos: será que constituem ou não um mercado, sendo
que, aparentemente, não existe a bilateralidade de prestações que, normalmente,
caracteriza as transações em qualquer mercado?!
MERCADOS EXCLUSIVOS: mercados que estão limitados por circunstâncias
particulares, tais como:

 Direito de propriedade intelectual/industrial: confere uso exclusivo de merca ou


produto ao titular desse direito, como é o caso da patente- propriedade industrial. Para
que haja incentivo à inovação, investimento, descobrimentos e progresso técnico da
sociedade)

 Limitações legais e concessões públicas: certos mercados estão delimitados por ação
direta do Estado, que tem o poder de vedar ou limitar o acesso dos operadores ao dito
mercado em função de uma variedade de critérios.

AUSÊNCIA DE RESTRIÇÕES À SAÍDA OU ENTRADA


DE EMPRESAS
Para que o mercado seja de concorrência perfeita, é necessário que o empresário tenha
ampla liberdade de entrada e saída do mercado. A existência de barreiras à saída pode
ser, em si mesmo, um forte desincentivo à entrada de empresas, no caso de a rentabilidade do
negócio ser inferior à esperada.

A existência de barreiras à entrada pode resultar de uma grande diversidade de


fatores, que podemos dividir em várias categorias:

1. Barreiras estruturais à entrada: existem naquele mercado, independentemente


da conduta das empresas que se situam nesse mercado

 Barreiras legais/administrativas: impostas pelo legislador/administrador para


impedir a entrada de um número excessivo de empresas ou de empresas que não
tenham determinadas características que o legislador entende como fundamentais

Constitui uma garantia essencial para o Estado que todos os operadores presentes no
mercado sejam o próprio Estado ou empresas públicas para certos tipos de serviços. O
encerramento total do mercado a agentes privados acontece entre nós com a lei de
delimitação dos setores que veda as seguintes atividades ao mercado concorrencial:

 Captação, tratamento e distribuição de água para consumo público

 Recolha, tratamento e rejeição de águas residuais urbanas

 Recolha e tratamento de resíduos sólidos urbanos

 Transporte ferroviários explorados em regime de serviço público

 Exploração de portos marítimos


Isto são barreiras legais à concorrência, o que significa que, em nenhum destes mercados,
pode aparecer uma empresa que queira distribuir água, lixo…pois a lei não deixa e estas
funções estão confinadas ao Estado ou empresas públicas.

Concessão de serviços públicos ou de exploração de bens do domínio público. Embora não


implique, necessariamente, vedar esses setores a novos concorrentes, implica a criação de
entraves e muitas vezes implica a consagração de regimes de exclusividades dos preços
normalmente muito longos. Estas entraves constituem-se para proteção de interesses
públicos que impõe que, nesses setores, exista um controlo mais apertado relativamente ao
número de empresas e suas características que podem agir nesses concretos mercados

Proteção do mercado em relação ao exterior, ou seja, implica a criação de entraves à


instalação de empresas/produtos importados, seja pela cobrança de impostos a produtos
importados, seja à instalação de empresas, impondo-lhes obrigações não impostas a
concorrentes domésticas. Os entraves colocados às empresas podem ser, por exemplo,
impor-lhes que beneficiem os produtos nacionais

Contudo, hoje em dia, esta última possibilidade está muito condicionada pelas obrigações
assumidas perante a OMC, que impõe restrições fortes quer à cobrança dos direitos
aduaneiros quer à possibilidade de criar entraves à instalação de empresas e concorrência em
certos mercados

 Barreiras económicas

 Elevados investimentos iniciais, que demorarão muitos anos a amortizar

Isto acontece, principalmente, nas indústrias pesadas, criação de redes de distribuição. Por
conta do investimento inicial elevado, as empresas precisam de muito dinheiro para
iniciarem a sua empresa. Devido a isto, o artigo 11º/2 da LDC pode obrigar os concorrentes a
partilharem essas redes, de forma a promover o aumento da concorrência. Costume chamar-
se a estes mercados “monopólios naturais”

Como se explicam estes monopólios naturais? Porque se tratam de setores em que, seja
pela estrutura do mercado, natureza do produto e/ou processo de produção, a solução
economicamente razoável é haver apenas um (ou muito poucos) operadores. Isto porque a
sua diversificação irá multiplicar os elevados custos de produção, aumentando
provavelmente o preço final.

 Setores muito dependentes de preferências específicas dos consumidores

Setores em que os consumidores têm dificuldade em aceitar novas marcas

 Barreiras tecnológicas
Sistemas em rede: utilização de sistemas pré-instalados, que pressupõem o acesso a
tecnologia que não se domina

Patentes licenciadas a alguns concorrentes, mas não a novas empresas: hoje em dia, isto
começa a ser tratado como uma prática abusiva

Especificações técnicas: por exemplo, adaptadores de energia, corrente elétrica

2. Barreiras estratégias à entrada


Estas resultam do comportamento estratégico das empresas que já ocupam o mercado, e que
para consolidarem a sua posição adotam estratégias comerciais que servem como
mecanismos de proteção contra potenciais novos concorrentes, isto é, tentam dificultar o
acesso a novos concorrentes, através:

 Controlo total dos canais de distribuição: muitas vezes com contratos de


exclusividade, não deixando espaço para a distribuição de novos produtos. Todavia, é
preciso contar com a força de alguns distribuidores, que podem preferir romper um
contrato e passar a trabalhar com outro fornecedor

 Controlo dos preços pelas empresas incumbentes: ou seja, as empresas que já se


encontram instaladas no mercado. Em casos extremos, esse controlo pode ir até à
prática de dumping (prática de colocar no mercado produtos abaixo do custo com o
intuito de eliminar a concorrência e aumentar as quotas de mercado) para impedir um
novo concorrente de igualar os preços instalados, e assim eliminar o perigo de perder
quota de mercado

 Marketing cada vez mais agressivo e mais omnipresente: para exponenciar a ligação
afetiva entre a marca e os consumidores

 Ocupação de todos os nichos de mercado: para não deixar “portas abertas” por onde
novos operadores possam vir a entrar. Isto faz-se através de uma grande diferenciação
dos produtos, como acontece hoje com bebidas que tradicionalmente constituíam um
mercado homogéneo, ou produtos alimentares. Isto vai depois criar, muitas vezes,
micro-mercados de concorrência monopolística

3. Barreiras à saída das empresas


 Cumprimento de contratos: concessões por períodos longos, que muitas vezes
preveem pesadas cláusulas penais pré-estabelecidas em caso de quebra antecipada

 Dificuldade em liquidar ativos de baixa liquidez: caso a empresa decida sair do


mercado como, por exemplo, unidades industriais de setores em crise ou em declínio
 Outras considerações estratégicas: interação daquela empresa noutros negócios do
grupo ou interesse em aproveitar parcerias entretanto criadas com outras empresas

Para concluir…
Quanto mais difícil é entrar num mercado, mais rentável será esse mercado, isto é,
proporciona grande lucro às empresas lá instaladas

Quanto mais difícil é sair de um mercado, mais arriscado será entrar no mesmo mercado pois
o investimento torna-se mais arriscado: a empresa arrisca-se a ficar presa ai negócio, ainda
que este lhe traga prejuízo

EXEMPLOS DE MERCADOS DE CONCORRÊNCIA PERFEITA:


 Oligopólios;

 Monopsónios;

 Oligopsónios;

OS MONOPOLIOS
Os mercados monopolistas são aqueles que são controlados e onde existe apenas uma empresa. Um
monopólio caracteriza-se por lhe faltar o primeiro elemento (diversidade de compradores e
vendedores em condições relativamente igualitárias) dos 3 caracterizadores dos mercados de
concorrência perfeita.

Nestes mercados, temos apenas uma empresa no mercado ou apenas uma empresa que domine o
mercado e que abate todas as outras. Estes monopólios apenas serão tolerados tendo em conta o
interesse público considerado superior ao interesse da liberdade da concorrência nesse mercado
específico. Este interesse público pode ser:

 Estrutural: condição genérica para um maior desenvolvimento ou para uma melhor afetação
dos recursos;

 Conjuntural: prendendo-se com um setor, uma empresa ou um momento específico;

Interesse no desenvolvimento técnico, científico ou artístico


Para as empresas investirem neste desenvolvimento, têm de ter uma perspetiva de compensação
económica, que lhes é fornecida pelos direitos de exclusividade concedidos por certos direitos de
propriedade industrial e intelectual. Estes direitos de exclusividade são direitos de monopólio sobre
novas invenções de produção inovadoras (patentes) ou artísticas (direitos de autor)
Para fomentar esse desenvolvimento, o Estado tem de atribuir aos criadores e inventores o direito de
explorarem e aproveitarem economicamente, os resultados do seu trabalho. As patentes servem para
proteger a invenção de novos produtos/processos, durante 20 anos, mediante a qual se dá ao
inventor um direito exclusivo de explorar economicamente esses novos produtos. Contudo, o dono da
patente pode ser forçado a ceder o seu direito, por exemplo:

 Se ele não explorar a patente e nem permitir que alguém o faça;

 Se houver outras patentes protegidas que dependam da utilização da sua própria patente;

 Se existirem motivos de interesse público, relacionados com “saúde pública”, defesa


nacional, ou desenvolvimento económico ou tecnológico do país

Nos termos do Código dos Direitos de Autor e Direitos Conexos, os direitos de autor protegem as
criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, conferindo ao seu criador e aos seus
herdeiros, o direito exclusivo de as explorarem economicamente até 70 anos após a morte do criador.
Ou seja, tendo o direito exclusivo de explorar a sua produção tem, então, um monopólio na
exploração dessas obras e, por consequência, o direito de recolher, em exclusivo, os benefícios
económicos decorrentes da exploração desse bem, através de uma retribuição de 2 componentes:

 Física: que o autor recebe sempre à cabeça

 Variável: que consiste numa percentagem dos lucros resultantes da venda do produto
protegido (royalties)

Muitas vezes, temos monopólios, no sentido em que temos produtos protegidos por patentes. A
patente destina-se a recompensar o investimento feito na investigação, promover a investigação,
protegendo quem investiu. No entanto, têm sido detetados casos verdadeiros de abuso de patente:

 Hopping: titular da patente vai introduzindo pequenas alterações, que possibilitam o registo de
um “novo” produto e, por consequência, a renovação da proteção da exploração exclusiva por
mais 20 anos. Isto é uma forma de perpetuar a duração da proteção conferida pela patente.

 Pay for delay: empresa paga a outras empresas concorrentes, para que estas se
comprometam a prescindir de explorar aquela patente mesmo depois de expirado o prazo de
proteção, permitindo à empresa que a detém, continuar a ser monopolista

INTERESSE EM PRESERVAR A EXPLORAÇÃO DE


CERTOS SETORES DE ESPECIAL IMPORTÂNCOA NAS
MÃOS DO ESTADO OU DE EMPRESAS QUE
APRESENTEM GARANTIAS ESPECIAIS
O Estado ou reserva para si próprio a exploração de um determinado fator ou, então, reserva esse
exclusivo a empresas que lhe deem certas garantias, impedindo, portanto, que outras entrem no
mercado.

 Setores vedados por lei à iniciativa privada: e que apenas podem ser explorados pelo Estado
ou por empresas concessionadas (distribuição de água; tratamento de resíduos)

 Setores especialmente protegidos e regulados: pelo produto que fabricam ou distribuem, por
exemplo:

Fabrico e venda de armas: pode ser um perigo para a segurança das pessoas e do próprio Estado e,
portanto, este mercado está sujeito a regulamentação especial e, não estando vedado a iniciativa
privada, tem regras muito especificadas de autorização e concessão

Produção e distribuição de energia: deste setor não depende apenas toda a economia de um país,
mas também o controlo e a própria sobrevivência dos cidadãos. No entanto, a sua produção e
distribuição exige a capacidade de organização industrial que os Estados, normalmente, não têm

EM QUE MEDIDA ESTA MATÉRIA ESTÁ SUJEITA A 2 ORNAMENTOS?


 Ornamento nacional

A maior parte dos Estados tem relativamente pouca legislação sobre a regulação do mercado e
concorrência, e todos eles muito conformes à lei comunitária. As potenciais diferenças surgem ao
nível da sua aplicação concreta, e não da redação.

Diplomas legais:

 Lei da concorrência (lei 19/2012 de 8 de maio)

 Estatuto da ADC (DL 125/2014 de 18 de agosto)

 Direito a indeminização por práticas contrárias à concorrência (Lei 23/2018 de 5 de junho)

Regulamentos e instruções diversas

Prática decisória da ADC e jurisprudência do Tribunal da Concorrência e dos tribunais superiores

Decisões Políticas: poder de reverter decisões da ADC sobre controlo de concentrações

Concessão de auxílios públicos

É muito importante termos sempre presente os princípios essenciais de relacionamento entre estes 2
ornamentos:

 Primado: direito comunitário prevalece sobre as regras nacionais


 Efeito direto: direito originário, regulamentos e decisões têm sempre efeito direto. As diretivas,
em princípio, apenas têm efeito direto vertical

Os tribunais nacionais devem seguir, nas decisões internas, as orientações da jurisprudência dos
tribunais europeus.

Num mercado concorrencial, existem vários competidores que proporcionam serviços


idênticos/sucedâneos em que não existam barreiras à entrada ou saída. Quando uma empresa passa
a distribuir pior, os seus consumidores finais cessam relações com essa mesma empresa e mudam de
parceiro comercial. Se essa empresa se encontrar sozinha, ou, ainda que tenha concorrência, se
encontrar numa posição que lhe permitia impor condições, essa alternativa não existe.

A estratégia chamada dumping pode compensar, mas é proibida porque só está ao alcance de
grandes empresas com grande capacidade financeira e com a finalidade de aumentar clientes,
roubados à concorrência. Se tiver capacidade financeira para diminuir preços durante alguns meses,
terá muita clientela e já poderá aumentar os preços

Na avaliação da estrutura de mercado, há várias dimensões a ter em conta, nomeadamente:

 Concorrência real/atual: que nos diz qual a posição relativa das diferentes empresas que,
naquele momento, competem pelo mesmo mercado.

Quanto mais empresas existirem para além da dominante, mais disperso estará o poder de mercado
remanescente, logo, menor será a quota de mercado que aquela tem de possuir para poder ser
considerada como tal.

 Concorrência potencial: que traduz a possibilidade de surgirem novos operadores naquele


mercado para além dos que já se encontram atualmente, e que tem em conta as barreiras à
entrada.

Um mercado com fortes restrições à entrada de novas empresas oferece muito mais garantias às que
já estão instaladas, que têm a sua posição facilitada uma vez que não sofrem a pressão concorrencial
de, a qualquer momento, uma nova empresa entrar e lhes roubar uma parte da sua quota. Por isso
mesmo, podem comportar-se como dominantes com uma quota mais diminuta do que se estiverem
num mercado em que a entrada seja mais livre.

 O poder dos consumidores: isto é, a possibilidade de os consumidores reagirem às mudanças


de estratégia, exercendo pressão sobre as empresas na defesa dos seus direitos, e que por
sua vez depende dos seguintes aspetos:

 Capacidade de organização e mobilização: associações ou organizações de defesa dos


consumidores que sejam mais ativas

 Mecanismos disponíveis na ordem jurídica para combater abusos de mercado: ações


populares, possibilidade de deduzir pedidos de indemnização cível
Sem estes elementos, os consumidores constituem um grupo demasiado disperso para fazerem valer
os seus interesses, e por isso, são facilmente controláveis pelas empresas.

IMPORTANTE: A definição do conceito de posição dominante não serve apenas para detetar a prática
de eventuais abusos pelas empresas que estiverem nesse patamar. Serve ainda, a montante, para
definir se um projeto de concentração pode ou não negar negativamente o mercado.

O critério principal para autorizar ou não uma operação de concentração era precisamente o de esta
“conduzir à criação ou reforço de uma posição dominante”. Foi entretanto, substituído pelo chamado
“teste SLC” (substancial lesseningg of competition”). Ou seja, pode acontecer que uma concentração
que conduza a uma posição dominante seja autorizada, ou que não seja autorizada uma outra que
não conduza àquele resultado.

Explicadas as linhas gerais do conceito de posição dominante, importa ficar bem claro que a simples
existência dessa posição não é penalizada pelo Direito, muito embora traga consigo ineficácia
económica. O que a lei, efetivamente, proíbe é que a empresa dominante adote comportamentos
abusivos, ou seja, comportamentos de mercado que não adotaria se não ocupasse a posição que
ocupa.

COMPORTAMENTOS ABUSIVOS
Comecemos por distinguir dois tipos de abuso:

1. Abuso de exclusão;

2. Abuso de exploração;

1. ABUSO DE EXCLUSÃO

Têm como objetivo principal excluir concorrentes, forçando uma ou mais empresas concorrentes a
retirarem-se do mercado. O objetivo final é roubar clientela e, ao fazer isso, por vias ilegítimas, a
empresa dominante está a roubar capacidade lucrativa aos concorrentes. Desta forma, a tarefa dos
concorrentes fica dificultada de tal forma que não conseguirão ser rentáveis e terão de sair do
mercado. Assim, a empresa dominante consegue alagar a sua quota de mercado, através:

 Preços predatórios: a empresa dominante atua como predador no mercado, praticando preços
artificialmente baixos, que não poderia praticar em posições normais pois não lha dão lucro. O
objetivo é que a empresa dominante roube clientes às empresas mais pequenas e, por isso,
force os mais pequenos concorrentes a sair do mercado dado que não conseguem
acompanhar os preços praticados. Estas empresas têm uma grande capacidade de suportar
porque têm grandes reservas de financiamento

 Recusa de venda: quando de destinem a excluir os concorrentes de uma empresa integrada


verticalmente com a fornecedora, ou seja, empresa recusa-se a fornecer bens a outra empresa
concorrente, excluindo-a do mercado, pois não existem outras alternativas viáveis
 Compressão/esmagamento das margens: a empresa integrada verticalmente vai favorecer a
empresa do seu grupo, praticando, apenas para ela, preços mais baixos e obrigando as
empresas concorrentes a lucrarem menos ao colocarem o produto no mercado mais barato
para concorrerem com outra. Através deste esmagamento de margens, a rentabilidade das
concorrentes será tão comprida que terão que sair do mercado porque não conseguirão pagar
os custos de produção sequer.

 Obrigações de compra exclusiva impostas aos distribuidores: os concorrentes não podem


escoar a sua produção junto dos clientes/distribuidores da empresa dominante porque estes
estão contratualmente obrigados a distribuir apenas produtos fornecidos por aquela

 Descontos de fidelização: garantem que os clientes da empresa dominante lhe permaneçam


fieis sob pena de deixarem de beneficiar desse preço mais baixo. Por outro lado, os
concorrentes não conseguem acompanhar. Esta é uma prática social muito corrente, mas
muitas vezes são uma prisão fornecedora do desconto. Isto porque clientes não podem deixar
de comprar x quantidade, caso contrário ficam sem desconto e dessa forma, não conseguem
pagar

 Conexão de mercados: através de vendas subordinadas ou agrupadas ambos se traduzem na


imposição, feita pelo vendedor, ao comprador de uma obrigação de compra de bens ou
serviços que ele normalmente não iria comprar, sob pena de não poder comprar os bens ou
serviços que realmente lhe interessam

 Abusos de patente: retirando-se aos concorrentes a possibilidade de entrar naquele mercado


para além do que seria a “vida normal” de uma patente

 Abusos de litigância: criar litigiosidade permanente com os concorrentes, impedindo-se aqueles


com menos recursos financeiros de fazer valer os seus direitos por incapacidade de suportar
as custas dos processos. Isto é, as empresas podem colocar todos os concorrentes m tribunal
e prolongar os processos e por consequência os preços que isso acarreta.

 Cláusulas inglesas: cobrir o preço mais baixo oferecido pela concorrência equivale, na prática,
a tentar eliminar a concorrência pelo preço, uma vez que os consumidores sabem que
comprando àquela empresa podem sempre beneficiar do melhor preço do mercado.

2. ABUSOS DE EXPLORAÇÃO

Tem em vista aumentar os lucros da empresa dominante sem necessariamente aumentar a sua quota
de mercado. São menos vulgares e contêm menos variedade que os abusos de exclusão.

A posição de domínio confere à empresa que dela beneficie, uma posição de supremacia em relação
aos seus concorrentes, permitindo-lhe adotar estratégias destinadas a retirar-lhes abusivamente quota
de mercado ou mesmo força-los a abandonar o mercado. Destina-se a aumentar o lucro da empresa
dominante, sem alterar a sua quota de mercado, pelo que estes comportamentos estão direcionados
para os consumidores. A empresa dominante só terá este poder sobre os clientes se fornecer um bem
que não tenha sucedâneos credíveis no mercado e se tiver uma procura rígida. Apenas nestas
circunstâncias os consumidores não terão uma alternativa razoável e terão que se sujeitar. Caso
contrário, poderiam fugir para a concorrência

 Preços excessivos: consiste numa empresa aproveitar-se da sua posição de único fornecedor
efetivo de um certo bem ou serviço para praticar preços claramente exagerados em reação ao
que seria o preço normal de mercado. Como não existe concorrência, a empresa única,
aproveita-se desse facto, mas pode vir a ser prejudicada a longo prazo

 Abusos de exploração: vendas subordinadas e agrupadas (têm muitas vezes como finalidade,
não a exclusão do concorrente nos mercados daqueles produtos, mas o escoamento da
produção ou stocks da empresa dominante) e a recusa de venda (pode ter como objetivo a
punição de um parceiro que se recusou a aceitar certas condições comerciais. Nessa medida
tem como finalidade forçá-lo a aceitar as condições impostas pela empresa dominante)

A formação de preços nos mercados monopolistas


As 2 grandes diferenças entre uma empresa que atua num mercado concorrencial e uma empresa
monopolista são:

 A primeira é uma price taker: aceita o preço que o mercado lhe dá, porque a diversidade de
concorrentes que oferecem produtos iguais ou sucedâneos não lhe permite ter o poder de
mercado suficiente para influenciar o preço

 A segunda é uma price maker: decide o preço que vai cobrar, porque é o único fornecedor e
dessa forma é que determina o preço e a quantidade oferecida

Partindo desse pressuposto, e empresa monopolista irá fixar o preço de acordo com a curva da
procura do bem ou serviço que oferece, e que será tipicamente descendente: diminui à medida que o
preço aumenta. Ou seja, quanto mais a empresa dominante aumenta os preços, menos consumidores
interessados em adquirir aquele bem àquele preço terá.

Já no mercado de concorrência perfeita, a curva da procura é reta: a empresa sabe que consegue
vender qualquer unidade adicional ao preço de mercado, mas não pode definir esse preço (pois a
empresa, em mercados de concorrência perfeita, não altera preços, o preço é o mesmo independente
da quantidade)

O preço P de um bem, em mercado concorrencial ou monopolista, é sempre igual ao rendimento


médio (RMed) desse bem, que representa o rendimento que o produtor recebe por unidade vendida e
que equivale à divisão do rendimento total (RT) pelo número total de unidades vendidas (Q). Portanto,
em qualquer mercado: P=RMed=RT

Aquilo que distingue a formação de preços nos mercados concorrenciais e monopolistas é a relação
com o rendimento marginal. O rendimento marginal é o que se obtém por unidade adicional vendida
daquele bem ou serviço, e que se calcula subtraindo o rendimento da venda da quantidade Q ao
rendimento da venda da quantidade Q+1

Em concorrência perfeita o rendimento marginal é igual ao preço, que é dado pelo mercado e não
definido pela empresa. Por cada unidade adicional, o lucro que o empresário obtém é constante. Não
ganha sempre o mesmo com cada unidade adicional que produzir, pois tem custos que tem se
suportar.

Mas independentemente da quantidade produzida o lucro marginal que o produtor obtém se mantém
inalterado?

Não, pois isso dependerá da sua estrutura de custos: produzindo a custos marginais crescentes, o
ponto último de produção (maximização do lucro) é aquele em que os CM igualam o RM, é neste
ponto que o rendimento marginal começa a cair e se torna inferior aos custos. Já a empresa
monopolista tem poder de mercado para definir o preço que vai cobrar. Assim, vai fazê-lo tendo em
conta a curva da procura, que lhe dá as quantidades procuradas daquele bem a cada preço. Sendo a
curva da procura descendente, o Rendimento Marginal é sempre inferior a P: o monopolista irá
sempre obter menos rendimento por cada unidade adicional que decidir colocar no mercado e,
portanto, esse rendimento será sempre inferior ao preço cobrado pela última unidade vendida.

EFEITO PRODUÇÃO: é o efeito decorrente do empresário vender mais unidades por cada descida do
preço: com preço de 10 vende 1, com preço de 6, vende 5. Como vendo mais unidades, compensa a
diminuição do preço. Todavia, só é rentável vender até 5 unidades (ou seja, até ao ponto em que
RM=0)

A curva do rendimento marginal está sempre abaixo da curva da procura, que define o preço (e que é
também a curva do RMed) e que iguala o RM (RT/Total de unidades que o monopolista consegue
vender)

Pode até acontecer que o rendimento marginal seja negativo, se a descida de preço correspondente
ao aumento da oferta (efeito-preço) e que passa a ser o preço vigente para todas as unidades
existentes no mercado, levar a perdas maiores do que os ganhos correspondentes ao aumento de
unidades vendidas (efeito-produção)
Como é que a empresa monopolista maximiza o seu lucro? Qual o ponto ótimo de produção?

Na interseção da curva de custo marginal e rendimento


marginal (quer para empresas em mercado concorrencial ou
monopolista). Aqui, esse é o ponto A, que corresponde à
quantidade Qmax e ao preço fixado B, que resulta da
interseção daquela quantidade com a curva da procura. A
partir do ponto A, o custo marginal passa a ser superior ao
RM, o que significa que o produtor vai perder dinheiro para

colocar uma unidade adicional no mercado. Pelo que, para de produzir no ponto A (onde acaba o
lucro). Num mercado concorrencial, sabemos que o preço é igual ao rendimento marginal. Logo, num
mercado de concorrência perfeita, a curva da procura estaria sobreposta à curva de rendimento
marginal. E o preço situar-se-ia no ponto A. Portanto, e comparada com a empresa em mercado
concorrencial, a empresa monopolista pode cobrar um excesso igual ao segmento AB na venda do
mesmo produto. Qual o lucro da empresa monopolista?

Sabemos que o lucro (BC) é igual à diferença entre o


rendimento médio e os custos médios. O preço iguala
o rendimento médio. Logo, o lucro vai ser igual à
diferença entre o preço (B) e o custo médio (CMT)
multiplicada pela quantidade L=(P-CMT) x Q

Nesta figura o lucro corresponde à área BCDE


(BC=preço -CMT; DC=quantidade)

Depois de decorridos 20 anos da patente, todas as empresas concorrentes começarão a produzir o


medicamento patenteado e, devido a isso, estaremos perante um mercado de concorrência perfeita,
em que teremos um bem mais abundante e mais barato (maior oferta e menos preço). O gráfico ao
lado mostra a venda de um medicamento em situação de monopólio e concorrência perfeita

Há um aspeto a ter em conta: a empresa inovadora, que foi


monopolista, continua a poder cobrar um preço superior ao
dos concorrentes, por razões de confiança e reputação no
mercado, resultado dos 20 anos de patente. A prova é que,
mesmo com a concorrência de um idêntico, o medicamento
de marca custa 80% maus e os consumidores preferem-no

SERÁ O MONOPÓLIO UMA FORMA EFICIENTE DE ORGANIZAÇÃO DO MERCADO DO PONTO


DE VISTA DA CRIAÇÃO E DA REPARTIÇÃO DE EXCEDENTE?
Como sabemos, o excedente total resulta da soma do excedente do produtor com o excedente do
consumidor. Num monopólio existe esta conjugação de excedentes?

O excedente do produtor é a diferença entre o preço de mercado e o custo marginal, que representa
os custos de produção do mercado (ou seja, a diferença entre o montante que o produtor recebe pela
venda de uma quantidade de bem e o montante mínimo que estaria disposto a aceitar para produzir e
vender essa quantidade). O excedente do consumidor é a diferença entre a utilidade total de um bem
e o seu valor de mercado total (ou seja, a diferença entre o preço que ele efetivamente paga e o que
estaria disposto a pagar)

Do lado produtor, claramente que sim. Se este estabelece o preço acima da interseção entre as
curvas de custo e rendimento marginal, está a cobrar um preço superior ao de uma empresa em
mercado concorrencial-medida do seu excedente graças à existência do monopólio

Se os consumidores estão a pagar mais em monopólio do que pagariam em concorrência aberta,


naquela medida, é essa, em termos comparativos, a medida do seu défice. Considerando que o
monopólio conduz a uma concentração da riqueza, essa disparidade de resultados torna-se ainda
mais evidente.

É no ponto de interseção que se encontra o equilíbrio dos excedentes.

 Atrás desse ponto:

 O excedente do consumidor excede os custos do produtor;

 Cada unidade adicional aumenta o bem estar dos consumidores;

 Logo, uma quantidade inferior fica aquém do necessário para satisfazer as necessidades de
consumo;

 Além desse ponto:

 O custo do produtor excede o excedente do consumidor;

 Cada unidade adicional diminui o excedente (e o bem estar) total, uma vez que o seu consumo
não vai ser valorizado na proporção do seu custo de produção

 A empresa não vai conseguir cobrir os seus custos, e será, a prazo, comercialmente inviável

A opção de fixação de preço de acordo com o custo marginal é a que conduz à maximização do
excedente total- opção de uma empresa em mercado concorrencial. A grande diferença é que
enquanto aqui o nível de produção se estabelece na interseção da curva do custo marginal com a da
procura, uma empresa monopolista vai situá-lo na interseção daquela com a curva do rendimento
marginal. Tendo em atenção estes 2 aspetos, podemos então perceber melhor a ineficiência social
que resulta do monopólio: o chamado “custo de peso morto”. Em primeiro lugar podemos ver que a
quantidade produzida pelo monopolista fica aquém da quantidade socialmente eficiente. Isto acontece
porque o monopolista decida a quantidade que vai produzir não com base na procura, mas no seu
rendimento marginal. Em mercados concorrenciais isto não acontece porque a curva do rendimento
marginal é reta e sobreposta à da procura.

Muitos consumidores estariam dispostos a pagar um preço superior ao CM, mas já não estão
dispostos a pagar o preço fixado, e portanto, prescidem daquele consumo. Há, portanto, um
desencontro entre a oferta e a procura

A área de peso morto representa, portanto, o bem-estar económico que é desperdiçado em resultado
da quantidade de price maker do monopolista. Os seus efeitos de distorção do mercado são de
alguma forma semlhantes aos de um imposto, com uma diferença fundamental: enquanto os impostos
serão utilizados pelo Estado na produção de bens públicos, a renda do monopolista vai satisfazer
interesses privados.

Uma das formas de o monopolista minimizar estes efeitos é através da discriminação dos
preços. Supondo que uma empresa que produz e distribui um jogo para consola, e que dispõe da
seguinte informação de mercado:

a) Se o vender a 100

€ terá 4000 compradores;

b) Se o vender a 30€ terá 10000 compradores;


Admitindo um custo marginal próxima do 0, a opção racional do ponto de vista do monopolista seria a
que lhe der mais lucro, ou seja, a opção A, uma vez que lhe permite ter um lucro de 400.000€, mais
100.000€ do que se produzir 10.000 unidades. No entanto, essa opção tem um custo implícito que
deve ser considerado: vai prescindir de 6.000 consumidores que estariam dispostos a pagar 30€ por
aquele bem. Ou seja, mesmo tomando a opção mais rentável está a prescindir de um lucro de
180.000€. Ora, isto é um custo de peso morto:

 o mercado está preparado para absorver mais unidades e disposto a pagar um preço superior
ao custo marginal;
 mas o monopolista estabelece o seu preço de acordo com a opção que lhe garante um maior
lucro total

Para tentar evitar esta perda, o produtor poderá discriminar o preço que vai cobrar a diferentes tipos
de consumidores, de forma a tentar chegar a todos os segmentos do mercado. Se conseguir,
aumentará simultaneamente o seu lucro provado e eficiência na produção.

CONCLUSÕES RELATIVAMENTE À DISCRIMINAÇÃO DE


PREÇOS:
 Estratégia racional por parte do produtor, uma vez que maximiza o seu excedente

 Pode aumentar o bem-estar social, reduzindo a zona de peso morto que mais consumidores
acedam aos produtos

 Pode ser atenuada por operações de nivelamento dos operadores que consigam furar os
esquemas de distribuição discriminatória, sobretudo, quando assente em critérios de
distribuição geográfica: comprar onde é mais barato e revender onde é mais caro

Concorrência monopolística

A concorrência monopolística e o oligopólio são tipos de mercado onde se combinam elementos


daqueles 2 modelos puros, mas de maneira diferente:

 No oligopólio, temos identidade de produtos, mas muita pouca variedade de operadores

 Na concorrência monopolística, temos muitos operadores, mas diversidade dos produtos


oferecidos em função do número de empresas

Mas existem diferenças importantes entre ambos:

 No oligopólio, por haver poucos concorrentes, cada um deles tem sempre algum poder de
mercado que lhe permite influenciar as decisões dos outros operadores. Isto significa que o
comportamento estratégico tem mais importância. Por outro lado, há poucas empresas que
repartem entre si o poder de mercado, fica mais facilitado o conluio entre elas, ou seja, mais
probabilidade de colusão entre duas empresas oligopolistas

 Num mercado de concorrência monopolística isto não é garantido, porque, havendo maior
diversidade de concorrentes (menos que imperfeitos) cada um deles tem menos poder de
mercado e menos capacidade de influenciar os outros operadores. Mas, em compensação, e
de forma mais ou menos simétrica, tem um poder quase total sobre o seu próprio produto, que
sofre menos influência do comportamento dos rivais

COMO SE CARACTERIZA UM MERCADO DE


CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA?
 ALTAMENTE COMPETITIVO

 Muitos operadores;

 Grande variedade de produtos (concorrem imperfeitamente entre si)

 Liberdade de entrada e saída das empresas no mercado

TRAÇOS DE MERCADOS MONOPOLISTAS


 In substituibilidade perfeita dos produtos oferecidos

 Grande liberdade na determinação do preço dos operadores (price makers)

 O preço é sempre fixado acima do custo (e rendimento) marginal;

O que distingue estes mercados é, assim, o facto de os produtos oferecidos não serem idênticos, mas
serem similares, integrando-se num mercado genérico que abarca vários produtos, ou melhor, várias
versões diferenciadas do mesmo produto, mas como os produtos são rigorosamente idênticos, e por
isso não são totalmente substituíveis, aquele mercado genérico não resiste a uma análise e a uma
desagregação mais fina

Cada empresa tem, portanto, de certa forma, um monopólio sobre o seu próprio produto, por ele ser
único. Porém, a verdade é que muitas outras oferecem produtos similares, que acabam por concorrer
pela mesma fatia de clientela. Claro que não se tratando agora de modelos puros, nem sempre é fácil
definir com rigor se estamos ou não perante produtos idênticos, apenas similares ou verdadeiramente
diferentes. Como qualquer empresa que não se situe num mercado de concorrência perfeita, uma
concorrente monopolista vai enfrentar uma curva da procura descendente. E, assim, vai adotar uma
estratégia de maximização de lucro semelhante às empresas monopolistas:

 Determina a quantidade a produzir na interseção das curvas de rendimento marginal e do


custo marginal

 Estabelece o preço do produto no ponto da curva da procura correspondente àquela


interseção;

Comparemos o que acontece no curto prazo consoante uma empresa dá lucro ou dá prejuízo:

NO CURTO PRAZO… a empresa dá lucro. A curva da procura está estendida para a direita e o preço
fixado está acima do custo médio. No curto prazo, esta empresa vai tentar conservar os seus lucros:
para isso tem de manter a procura naquele nível o que só conseguirá mantendo a qualidade do seu
produto introduzindo inovações que tragam novos clientes

NO LONGO PRAZO…
Num mercado concorrencial há liberdade de entrada e saída de empresas no mercado, Assim sendo,
o sucesso desta empresa vai incentivar outras a entrar no mercado, e estas vão oferecer produtos
idênticos ou similares aos que já eram oferecidos. Havendo mais escolha, alguns consumidores vão
transferir a sua preferência para outros produtos, deslocando para a esquerda a curva da procura de
cada empresa que já estava instalada no mercado. Ou seja, a consequência imediata é a repartição
por mais empresas do lucro total proporcionado por aquele mercado, o que significa menos lucro para
cada uma. Esta tendência vai continuar até o lucro das empresas se aproxime do zer, e assim deixe
de haver incentivo à entrada de novas empresas a oferecer produtos que concorram naquele
mercado. Ou seja, no longo prazo, o equilíbrio atinge-se quando as empresas deixam de ter lucro
económico

As empresas que ficarem e forem capazes de sobreviver ao período inicial terão cada vez menos
concorrentes, porque muitas delas saíram. Isto significa que vão diminuindo progressivamente os
prejuízos pelo aumento da procura, uma vez que a clientela das empresas que saem vai transferir-se
para as que ficam. Esta tendência vai manter-se até as empresas deste mercado imperfeito terem um
prejuízo zero, porque a partir daí deixa de haver incentivo à saída de mais empresas do mercado. O
equilíbrio atinge-se no ponto zero.

PODEMOS CONCLUIR QUE OS MERCADOS DE


CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA APRESENTAM 2
CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS, QUE OS COLOCAM
ENTRE DOIS TIPOS ESTUDADOS ANTERIORMENTE:
Tal como um monopólio, o preço é fixado acima do custo marginal, isto porque o concorrente
monopolista tem controlo sobre o seu produto e pode ser ele a fixar o preço;

Mas, tal como acontece nos mercados de concorrência perfeita, esse preço iguala o custo médio
total- isto explica-se porque há liberdade de entrada e saída de empresas, e portanto, o lucro
económico tende para 0 em função dessa entrada e saídas

Este 2º ponto mostra-nos a diferença entre monopólio e concorrência monopolística. Como, em


monopólio há barreiras muito fortes à entrada, existe apenas uma vencedora, que não sofre qualquer
pressão concorrencial por não haver outras candidatas a entrar naquele mercado. Assim, sendo, e
porque o monopolista não tem de ajustar o seu preço à diminuição da procura que resulta de entradas
de novas empresas, ele pode sempre manter o preço acima do custo médio, e assim obter um lucro
económico-que ultrapasse a soma dos custos financeiros e de oportunidade.

Vamos agora comparar o comportamento, no longo prazo, de uma empresa num


mercado de concorrência perfeita e de concorrência monopolística.
Existem 2 diferenças fundamentais:

 Excesso de capacidade, levam a ineficiência na produção de bens


 Markup (margem de lucro que existe nos mercados de concorrência monopolística mais do que
existe nos mercados em concorrência perfeita)

 EXCESSO DE CAPACIDADE

Em concorrência monopolística, as empresas vão produzir as quantidades concorrentes ao ponto de


tangente entre a curva da procura e dos custos médios. Ou seja, vai produzir num ponto em que os
custos médios são ainda decrescentes. Isto significa que não produz no ponto de eficiência: esse
seria o ponto mais baixo da curva dos custos médios, em que esta interseta a curva dos custos
marginais.

Neste ponto de eficiência, ainda compensaria ao produtor produzir mais unidades adicionais, mas isso
não acontece. Por isso se diz que as empresas nos mercados de concorrência monopolística têm
excesso de capacidade: poderiam aumentar a quantidade e produzir numa escala mais eficiente,
diminuindo o custo médio. Não o faz porque nesse caso teria de baixar o preço, e diminuir os seus
lucros. Deste modo, fica assim, muita procura por satisfazer.

Se o produtor optasse por produzir no ponto ótimo, ganharia com cada unidade vendida e haveria
procura suficiente para aproveitar este preço. Porém, ele vai parar no ponto em que lhe é garantido o
maior lucro. Isto leva a que haja, então, o problema de excesso de capacidade, ou seja, poderia
produzir mais, mas prevalece o seu interesse individual mais do que o bem-estar social. Em
conclusão, a escala que maximiza o lucro do empresário não é a mais eficiente, o que melhor
aproveita os recursos e que maximiza o bem estar social

Ao contrário, as empresas em mercados de concorrência perfeita produzem sempre no ponto ótimo


de eficiência, uma vez que o preço, custo médio e custo marginal se equivalem. Isto significa que
produzem sempre no ponto mais baixo da curva dos custos médios, não desperdiçando capacidade
nem recursos.

Por outro lado, e uma vez que, como acabou de dizer-se, nestes mercados preço, custo médio e
custo marginal equivalem-se, é indiferente às empresas terem mais um cliente, porque o preço vai
equivaler ao custo marginal.

O ponto ótimo de eficiência em que o produtor fixa a quantidade de produção é um ponto em que este
não irá ganhar mais por cada unidade adicional produzida, dado que o preço é igual ao custo médio.
Pelo que, o produtor produz sempre no ponto mais eficiente na capacidade de produção

MARGEM DE LUCRO
Nestes mercados, tal como nos monopólios, cada venda a mais representa sempre um aumento do
lucro total, uma vez que o preço que esse cliente vai pagar excede sempre o custo da unidade
adicional e compensa sempre produzir mais uma unidade.
O aumento do lucro total não quer dizer que a venda seja feita ao mesmo preço que as unidades
anteriores (se o empresário aumenta a produção, aumenta a oferta do mesmo e o preço diminui). Por
outro lado, nos mercados de concorrência perfeita (em que o preço, custo médio e custo marginal se
equivalem) é indiferente às empresas terem mais um cliente, porque o preço vai equivaler ao custo
marginal.

IMPLICAÇÕES DE BEM ESTAR SOCIAL NOS MERCADOS DE


CONCORRÊNCIA PERFEITA
 O facto de o preço ser fixado acima do custo marginal traz custos de peso-morto: haverá
clientes que estariam dispostos a pagar um preço acima do custo marginal, mas não estão
dispostos a pagar o preço fixado. Ora, isto leva a que estes clientes não possam adquirir o bem
porque não há bens suficientes. Isto deve-se ao facto de o produtor ter escolhido fixar a
quantidade de produção num ponto em que não satisfaz todos os consumidores

 O facto de haver liberdade de entrada e saída das empresas traz simultaneamente


externalidades positivas e negativas, uma vez que o mercado está constantemente a ganhar
novas escolhas (com as empresas que entram e trazem novos produtos) e a perder opções.

A eficácia da publicidade na diferenciação dos produtos e na capacidade de angariação de clientela e


os gastos que as empresas têm com ela, variam consoante o tipo de mercados:

 Muito alta em produtos de consumo altamente diferenciados: produtos alimentares, vestuário…

 Muito pequena em produtos industriais, pouco diferenciados ou muito especializados

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