Você está na página 1de 8

6.

1 Introdução

Vimos nos capítulos anteriores quais variáveis afetam a demanda e a oferta de bens
e serviços e como são determinados os preços, supondo que, sem interferências, o mercado
automaticamente encontra seu equilíbrio. Implicitamente, estava sendo suposta uma
estrutura específica de mercado, qual seja, a de concorrência perfeita ou mercado
competitivo. Discutiremos neste capítulo mais detidamente essa e outras formas de
mercado.
As várias formas ou estruturas de mercado dependem fundamentalmente de três
características:
a) número de empresas que compõem esse mercado;
b) tipo do produto (se as firmas fabricam produtos idênticos ou diferenciados);
c) se existem ou não barreiras ao acesso de novas empresas nesse mercado.
A maior parte dos modelos existentes pressupõe que as empresas maximizam o
lucro total, o que, como vimos no final do capítulo anterior, corresponde ao nível de
produção no qual a receita marginal se iguala ao custo marginal. Essa é a hipótese da teoria
tradicional ou marginalista.
Especificamente para o caso de estruturas oligopolistas de mercado, veremos que
existe uma teoria alternativa, que pressupõe que a empresa maximiza o mark-up, que é a
margem entre a receita e os custos diretos (ou variáveis) de produção.
6.2 Concorrência perfeita (mercado competitivo)

A concorrência perfeita é um tipo de mercado em que há grande número de


vendedores (empresas), de tal sorte que uma empresa, isoladamente, não afeta a oferta do
mercado nem, consequentemente, o preço de equilíbrio. O grande número de empresas
nesse mercado faz com que elas sejam apenas tomadoras de preços ou price-takers.
Nesse tipo de mercado, devem prevalecer as seguintes premissas:
mercado atomizado, composto de grande número de empresas, como se fossem
tomos ;
produtos homogêneos: não existe diferenciação entre produtos ofertados pelas
empresas concorrentes;
não existem barreiras para o ingresso de empresas no mercado;
transparência do mercado: todas as informações sobre lucros, preços etc. são
conhecidas por todos os participantes do mercado.
Uma característica do mercado em concorrência perfeita é que, no longo prazo, não
existem lucros econômicos ou extraordinários (em que as receitas superam os custos),
mas apenas os chamados lucros normais, que representam a remuneração implícita do
empresário (seu custo de oportunidade).
Isso ocorre porque, em concorrência perfeita, como o mercado é transparente, se
existirem lucros extraordinários a curto prazo, isso atrairá novas firmas para o mercado,
pois também não há barreiras ao acesso. Com o aumento da oferta de mercado (devido ao
aumento no número de empresas), os preços de mercado tenderão a cair, e
consequentemente também os lucros extras que tendem a zero. Existirão apenas lucros
normais, implícitos nos custos, quando então cessa o ingresso de novas empresas nesse
mercado.
Deve-se salientar que, na realidade, não existe o mercado tipicamente de
concorrência perfeita, sendo talvez o mercado de produtos hortifrutigranjeiros o exemplo
mais próximo a esse modelo.
A Figura 6.1 representa a situação de uma empresa operando em um mercado
competitivo.
Figura 6.1 Concorrência perfeita.

A curva da demanda, do ponto de vista da empresa perfeitamente competitiva, tem a


configuração de uma reta (gráfico b), mostrando o preço estabelecido pelas forças de
mercado (gráfico a), e todas as firmas componentes desse mercado tornam-se tomadoras de
preço. Nenhuma firma isoladamente tem condições de alterar o preço ou praticar preço
superior ao estabelecido no mercado. Ela possui uma pequena participação no mercado (é
um tomo ) e sua atuação não influenciará o preço de mercado por não dispor de
quantidade suficiente para tanto. Contudo, a esse preço dado pelo mercado, ela poderá
vender quanto puder, limitada apenas por sua estrutura de custos.
Como o preço é fixado, a receita adicional (marginal) também é fixada e igual ao
preço. Assim, em concorrência perfeita, a condição na qual a empresa maximiza lucro,
vista no capítulo anterior, RMg = CMg, pode ser dada por P = CMg.
6.3 Monopólio

O mercado monopolista caracteriza-se por apresentar condições diametralmente


opostas às da concorrência perfeita. Nele existe um único empresário (empresa) dominando
inteiramente a oferta, de um lado, e todos os consumidores, de outro. Não há, portanto,
concorrência, nem produto substituto ou concorrente. Nesse caso, ou os consumidores se
submetem às condições impostas pelo vendedor, ou simplesmente deixarão de consumir o
produto.
Nessa estrutura de mercado, a curva da demanda da empresa é a própria curva da
demanda do mercado como um todo. Ao ser exclusiva no mercado, a empresa monopolista
determina o preço de equilíbrio, de acordo com sua capacidade de produção: se ela
aumentar a oferta, o preço de mercado diminuirá; se reduzir a oferta, o preço aumentará.
Assim, enquanto em concorrência perfeita a demanda para a firma é dada, e é uma reta
paralela ao eixo das quantidades, em monopólio a firma defronta com uma curva de
demanda negativamente inclinada, como na Figura 6.2.
Figura 6.2 Monopólio.
Como vimos no item sobre elasticidades, quando não existirem bens concorrentes
ou substitutos, como acontece no mercado monopolista, a demanda de mercado tende a ser
inelástica (não há opções para os consumidores). Então, quando o preço se elevar, haverá
uma queda relativamente pequena no consumo da mercadoria, o que redundará em aumento
da receita total da empresa (o aumento do preço supera proporcionalmente a queda no
consumo). Contudo, isso não significa que o monopolista poderá aumentar os preços
indefinidamente: se o preço se elevar em demasia, pesará muito no orçamento dos
consumidores, que tenderão a consumir menos do produto. Em outras palavras, a demanda
deixará de ser inelástica, e passará a ser elástica (quando, então, a queda no consumo supera
o aumento do preço).
Para que existam monopólios, deve haver barreiras que praticamente impeçam a
entrada de novas firmas no mercado. Essas barreiras à entrada podem advir das seguintes
condições:
monopólio puro ou natural: ocorre quando o mercado, por características
próprias, exige elevado volume de capital. As empresas já instaladas operam com grandes
plantas industriais, com elevadas economias de escala e custos unitários bastante baixos, o
que possibilita a cobrança de preços relativamente baixos por seu produto, o que acaba
sendo uma grande barreira para a entrada de novos concorrentes;
patentes: enquanto a patente não cai em domínio público, a empresa é a única
que detém a tecnologia apropriada para produzir aquele determinado bem;
controle de matérias-primas básicas: por exemplo, o controle das minas de
bauxita pelas empresas produtoras de alumínio.
Existe, ainda, o monopólio institucional ou estatal em setores considerados
estratégicos ou de segurança nacional (por exemplo, energia, comunicações e petróleo), em
que os preços não são fixados pelo mercado. Isso ocorreu e ainda ocorre com muitos desses
setores no Brasil e no mundo.
Dada a existência de barreiras à entrada de novas empresas, os lucros
extraordinários devem persistir também no longo prazo em mercados monopolizados,
diferentemente do que ocorre em concorrência perfeita, quando no longo prazo só existirão
lucros normais.
6.4 Oligopólio

O oligopólio é um tipo de estrutura normalmente caracterizada por um pequeno


número de empresas que dominam a oferta de mercado. Ele pode ser definido como um
mercado em que há pequeno número de empresas, como a indústria automobilística, ou
então em que há grande número de empresas, mas poucas dominam o mercado, como na
indústria de bebidas.
O setor produtivo brasileiro é altamente oligopolizado, sendo possível encontrar
inúmeros exemplos: montadoras de veículos, setor de cosméticos, indústria de papel,
indústria química, indústria farmacêutica, bebidas, alimentos, entre outras.
No oligopólio, tanto as quantidades ofertadas como os preços são fixados entre as
empresas por meio de conluios ou cartéis. O cartel é uma organização (formal ou informal)
de produtores dentro de um setor que determina a política de preços para todas as empresas
que a ela pertencem. Elas podem adotar uma política de preços comum, agindo como
monopolistas (chamada de solução de monopólio).[1] Podem ainda fazer uma
concorrência extrapreço em termos de propaganda, publicidade, promoções etc.
Nos oligopólios, há empresas líderes que, via de regra, fixam o preço, respeitando
as estruturas de custos das demais, e há empresas satélites que seguem as regras ditadas
pelas líderes. Esse é um modelo chamado de liderança de preços. Como exemplo, no
Brasil, pode-se citar a indústria de bebidas.
É possível caracterizar também tanto oligopólios com produtos diferenciados
(como a indústria automobilística) como oligopólios com produtos homogêneos
(alumínio, cimento).
Quanto aos objetivos da empresa oligopolista, a teoria microeconômica tem duas
correntes principais: a teoria marginalista ou neoclássica, pela qual o oligopolista maximiza
lucros, vista no capítulo anterior, e a teoria da organização industrial,[2] na qual o
objetivo principal do oligopolista é maximizar mark-up, que é igual a:
Mark-up = Receita de vendas Custos diretos (ou variáveis)

O preço cobrado pela empresa, no modelo de mark-up, é calculado da seguinte


forma:
p = (1 + m)C

em que:
p = preço do produto;
C = custo direto unitário (que corresponde, na teoria marginalista, ao custo variável
médio);
m = taxa de mark-up, que é uma porcentagem sobre os custos diretos.
A taxa de mark-up deve ser fixada de tal forma a cobrir, além dos custos diretos, os
custos fixos, e atender a certa taxa de rentabilidade desejada pelos acionistas da empresa. O
conceito de mark-up corresponde aproximadamente ao conceito de margem de
contribuição utilizado na contabilidade privada, com a diferença de que esse último é
calculado para cada linha de produto, enquanto o conceito de mark-up é mais geral,
normalmente fixado pelos acionistas para os negócios globais da empresa.
A teoria do mark-up está respaldada em pesquisas empíricas que mostram que as
empresas, ao fixar seu preço de venda, não conseguem prever adequadamente a demanda
por seu produto e, portanto, suas receitas, mas conhecem muito bem seus custos. Como elas
têm poder monopolístico, podem, então, fixar os preços numa base mais objetiva, nos seus
custos, dependendo menos da demanda prevista de mercado. Difere assim da teoria
marginalista, segundo a qual a empresa, para fixar seu preço no lucro máximo, precisa
prever também as receitas (o que envolve ter razoável poder para prever a demanda por seu
produto), para igualar suas receitas marginais aos custos marginais.
6.5 Concorrência monopolística

A concorrência monopolística é uma estrutura de mercado intermediária entre a


concorrência perfeita e o monopólio, mas que não se confunde com o oligopólio, pelas
seguintes características:
número relativamente grande de empresas com certo poder concorrencial,
porém com segmentos de mercados e produtos diferenciados, seja por características
físicas, embalagem, seja pela prestação de serviços complementares (pós-venda);
margem de manobra para fixação dos preços não muito ampla, uma vez que
existem produtos substitutos no mercado.
Essas características acabam dando um pequeno poder monopolista sobre o preço
do produto, embora o mercado seja competitivo (daí o nome concorrência monopolística,
que é aparentemente contraditório). Por exemplo, na área médica, existe um grande número
de profissionais em todas as áreas, mas os mais credenciados e famosos cobram preços pela
consulta, tratamento ou operação muito maiores que a média (como Adib Jatene, na área de
cardiologia).
Como em concorrência perfeita, não há barreiras ao acesso de empresas no
mercado. Assim, lucros extraordinários a curto prazo atrairão novas empresas, e, a longo
prazo, só existirão lucros normais.
O Quadro 6.1 resume as principais diferenças entre as estruturas do mercado de
bens e serviços.
Quadro 6.1 Principais características das estruturas básicas de mercado

6.6 Estruturas do mercado de fatores de produção

Até aqui foram identificadas as estruturas de mercados de bens e serviços. O


mercado de fatores de produção mão de obra, capital, terra e tecnologia também
apresenta diferentes estruturas. Como o mercado de fatores depende da demanda de
insumos pelos setores produtores de bens e serviços, ou seja, deriva do mercado do
produto, a demanda por esses fatores é chamada de demanda derivada. Por exemplo,
como a demanda de autopeças deriva da demanda de automóveis, se houver redução da
demanda de automóveis, cairá também a demanda por autopeças.
As estruturas no mercado de fatores são resumidas a seguir.
6.6.1 Concorrência perfeita no mercado de fatores

A concorrência perfeita no mercado de fatores corresponde ao mercado cuja


oferta do fator de produção (por exemplo, mão de obra não especializada) é abundante, o
que torna o preço desse fator constante. Os ofertantes ou fornecedores, como são em grande
número, não têm condições de obter remuneração mais elevada por seus serviços.
6.6.2 Monopólio no mercado de fatores

Quando há um monopolista na venda de determinados insumos.


6.6.3 Oligopólio no mercado de fatores

Ocorre quando poucas empresas produzem um determinado insumo (oligopólio na


venda do insumo).
6.6.4 Monopsônio (monopólio na compra de insumos)

O monopsônio ou monopólio na compra de insumos compreende uma forma de


mercado na qual há somente um comprador para muitos vendedores dos serviços dos
insumos. É o caso da empresa que se instala em determinada cidade do interior e, por ser a
única, torna-se demandante exclusiva da mão de obra local e das cidades próximas, tendo
para si a totalidade da oferta de mão de obra.
6.6.5 Oligopsônio (oligopólio na compra de insumos)

O oligopsônio ou oligopólio na compra de insumos é o mercado em que há poucos


compradores negociando com muitos vendedores. Por exemplo: a indústria de laticínios,
pois em cada cidade existem dois ou três laticínios que adquirem a maior parte do leite dos
inúmeros produtores rurais locais. A indústria automobilística, além de oligopolista no
mercado de bens e serviços, também é oligopsonista na compra de autopeças.
6.6.6 Monopólio bilateral

O monopólio bilateral ocorre quando um monopsonista, na compra do fator de


produção, defronta-se com um monopolista na venda desse fator. Por exemplo, só a
empresa A compra um tipo de aço que é produzido apenas pela siderúrgica B. A empresa A
é monopsonista, porque só ela compra esse tipo de aço, e a siderúrgica B é monopolista,
porque só ela vende esse tipo de aço.
Nesses casos, a determinação dos preços de mercado dependerá não só de fatores
econômicos, mas do poder de barganha de ambos: o monopsonista tentando pagar o preço
mais baixo (usando a força de ser o único comprador) e o monopolista tentando vender por
um preço mais elevado (usando o poder de ser o único fornecedor).
6.7 Grau de concentração econômica no Brasil

Uma medida comumente utilizada para verificar o grau de concentração econômica


é calcular a proporção do valor do faturamento das quatro maiores empresas de cada ramo
de atividade sobre o total faturado no ramo respectivo. Em termos percentuais, quanto mais
próximo de 100%, maior o grau de concentração do setor (as quatro maiores respondem
com a quase totalidade do faturamento); quanto mais próximo de 0%, menor o grau de
concentração (e, portanto, maior o grau de concorrência) do setor.
A Tabela 6.1 (na página seguinte) apresenta esse indicador de concentração
econômica para os ramos da indústria e do comércio em 1990. Observa-se que os setores
mais concentrados naquela data eram aços planos (100%), material de transporte (94%),
fumo (91%), amianto e gesso (88%) e cerveja (86%). Os setores mais competitivos são
fiação e tecelagem (20%), petroquímica (43%) e confecções (46%).
6.8 A ação governamental e os abusos do poder econômico nos mercados

Como vimos no Capítulo 2, o Brasil possui, desde os anos 1960, extensa legislação
que procura coibir os abusos do poder econômico em defesa da concorrência e da proteção
aos consumidores.
Dentro do chamado Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, o Conselho
Administrativo de Direito Econômico (CADE), a Secretaria de Desenvolvimento
Econômico (SDE) e a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE) são os órgãos
que têm por objetivo julgar os processos administrativos relativos a abusos do poder
econômico, bem como analisar fusões de empresas que podem criar situações de
monopólio ou maior domínio de mercado. Quando se prova que a limitação da
concorrência não propicia ganhos aos consumidores em termos de menores preços ou
produtos tecnologicamente mais avançados, o CADE pode determinar que o negócio seja
desfeito.
Tabela 6.1 Grau de concentração na indústria e comércio por setores

Faturamento das quatro maiores empresas, sobre o faturamento total de cada setor)

Setor industrial

Número de grupos considerados

Grau de concentração (%)

Grau de concentração média do setor (%)

1. Alimentos

Açúcar e álcool

Moinhos

Frigoríficos

Conservas

Você também pode gostar