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Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
O TRANSPORTE NA GESTÃO DA
CADEIA DE SUPRIMENTOS E AS
EMPRESAS QUE UTILIZAM A
FERRAMENTA MILK RUN
Graziela Oste Graziano (UNINOVE)
grabela@terra.com.br
Nádia Kassouf Pizzinato (UNINOVE)
nkp@merconet.com.br
Andrea Kassouf Pizzinatto (UNINOVE)
nkp@merconet.com.br
Marina Ariente (UNINOVE)
msarient@terra.com.br
Isabela Oste Graziano (UNINOVE)
grabela@terra.com.br
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O sistema JIT, segundo Fleury et al, (2000), é um exemplo básico do sistema de
produção enxuta, o qual concentra-se em reduzir ineficiências e tempo improdutivo nos
processos, e em aperfeiçoar continuamente a qualidade dos produtos fabricados ou de serviços
prestados, para atender as necessidades e expectativas dos clientes .
Já o conceito Milk Run foi implantado no Brasil em 1998 pela GM. A rota de Milk
Run é aquela na qual um caminhão tanto realiza entregas de um único fornecedor para
múltiplos destinos, ou vai de múltiplos fornecedores para um único destino, respeitando as
janelas de tempos pré-estabelecidas para a coleta e entrega (LIMA et al., 2005).
Na indústria automotiva onde este processo é mais difundido, o Milk Run é adotado
por muitas indústrias automobilísticas para alimentar sua linha de montagem de automóveis.
Este sistema de coletas programadas de peças ou matérias-primas visa em um tempo
rigorosamente e previamente determinado coletar as peças ou matérias-primas nos
fornecedores, cumprindo-se determinadas rotas, buscando minimizar o custo de transporte da
operação e reduzir o estoque na cadeia de suprimentos (MOURA e BOTTER, 2002).
Para entender a relação do JIT com a ferramenta Milk Run, se faz necessário antecipar
que esta última é um dos tipos de formas alternativas para abastecimento de peças, ou
componentes, que segundo Moura e Botter (2002), são: a) Direto: fornecedores entregam
produtos diretamente na fábrica. b) Montagem: Fornecedores entregam produtos em um
Centro de Distribuição ou Depósito de Consolidação em volumes pequenos onde são
montados e/ou utilizados com outros materiais de diversos fornecedores formando
subconjuntos para posteriormente serem enviados para fabrica através de um modal de
transporte. c) Milk Run: Transportador ou operador logístico enviam um veiculo em rota
previamente estabelecida, programada para coletar produtos em vários fornecedores,
considerando a capacidade do veículo em relação a m3, peso e janelas de tempo, efetuando a
entrega de todo o material na fábrica (normalmente, uma montadora).
Trata-se de sistema baseado na coleta programada de materiais, peças e componentes,
denominada Milk Run, que visa com horários e rotas previamente determinadas entregar ou
retirar os materiais e embalagens dos fornecedores e clientes da cadeia produtiva,
maximizando o uso dos veículos e mão-de-obra envolvida no transporte, o que
conseqüentemente minimiza os custos desta operação. Além deste, outro beneficio
visualizado por Moura e Botter ( 2002), é a redução da necessidade de estoques
intermediários em toda cadeia produtiva. Os autores citados também informam que a indústria
automobilística pode operar o Milk Run de três maneiras:
a) sendo operado pelo próprio cliente: a montadora customiza a melhor rota de coleta,
determinando as quantidades especificas de todos os componentes a serem retiradas em cada
fornecedor localizado na rota, buscando o melhor aproveitamento do veículo e mão-de-obra
empregada no transporte.
b) o cliente realizando todo o planejamento logístico, customizando as rotas e definindo as
quantidades necessárias a serem retiradas em cada fornecedor, porém, o transporte físico das
mercadorias sendo terceirizado para transportadoras;
c) o cliente apenas definindo a quantidade dos componentes e o horário que precisa dos
mesmos em sua fábrica para a montagem de seus produtos, as demais fases do processo sendo
terceirizada para um operador logístico.
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Os pontos determinantes da estrutura do sistema de abastecimento de peças a ser
utilizado são o volume de materiais que serão adquiridos e a localização dos fornecedores
dentro de uma região geográfica, orientam Moura e Botter (2002).
3. Metodologia da Pesquisa
Para melhor estudar o objetivo geral já apresentado no artigo, se faz necessário
levantar os objetivos específicos do estudo: verificar a influência da padronização da
sistemática de trabalho do Milk Run e do JIT e seus impactos no processo de melhoria
contínua do Milk Run; verificar a aplicação desta ferramenta na movimentação interna de
materiais e comparar a sistemática de coleta programada, com a sistemática convencional de
transporte, cada fornecedor entregando seus produtos.
Assim, este trabalho é de natureza exploratória, perfil de estudo em que, segundo
Vergara (2004), Aaker, Kumar e Day (2001), se busca um entendimento sobre a natureza
geral de um problema.
Uma das fontes de informação do estudo exploratório é o estudo de caso (MATTAR,
1996), utilizado quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em
algum contexto da vida real. Assim, como estudos de caso, ainda de forma exploratória, na
segunda etapa do estudo foram selecionadas para análise da prática do Milk Run duas
empresas, sendo a primeira um operador logístico de uma montadora de automóveis e a
segunda, uma grande empresa do setor de autopeças.
Optou-se em coletar os dados na pesquisa por meio de documentos disponibilizados
pela empresa e por meio de um questionário. Roesch (1996, p. 134), comenta que "o
questionário não é apenas um formulário, ou um conjunto de questões listadas sem muita
reflexão. O questionário é um instrumento de coleta de dados que busca mensurar alguma
coisa. Para tanto, requer esforço intelectual anterior de planejamento, com base na
conceituação do problema de pesquisa e do plano da pesquisa, e algumas entrevistas
exploratórias preliminares”. Além do questionário, outro método que foi utilizado para coleta
dos dados foi a observação dos pesquisadores, técnica que utiliza os sentidos para obtenção de
determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas, também, em
examinar fatos ou fenômenos que desejam estudar (MARCONI e LAKATOS, 1990).
Os dados na pesquisa foram analisados qualitativamente, por meio de discussão e
interpretação dos resultados, obtendo desse modo uma análise do conteúdo. Segundo Iemma
(1992, p. 6) “a análise qualitativa é utilizada para descrever qualidades, categorias, etc. Não
podem ser comparadas a conjuntos numéricos”. Cooper et al (2003) salientam que o
qualitativo se refere ao significado, à definição, à analogia, ao modelo ou à metáfora
caracterizando alguma coisa.
4. Resultados da Pesquisa
A seguir, os resultados das investigações junto aos dois elos do sistema automotivo
selecionados como estudos de casos: um operador logístico de uma montadora de automóveis
e uma grande empresa do setor de autopeças
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4.1 O Milk Run na Coleta de Peças Automotivas: O Operador Logístico de uma
Montadora de Automóveis
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O operador logístico faz o possível para respeitar as janelas de tempo, sendo este o
conceito do Milk Run, coletar e entregar no horário certo. Porém na prática verificaram-se
vários problemas que impactam negativamente na programação, entre os problemas mais
comuns pode-se citar: atraso no fornecedor, trânsito lento, atraso problema interno da
montadora, atraso na doca devido à falta de espaço, inexistência de carga no fornecedor,
veículo quebrado, troca de motorista, linha de montagem parada.
4.2 A Utilização do Milk Run no Transporte Interno de uma grande empresa do setor
de autopeças
Para melhor visualizar o impacto da utilização do sistema Milk Run no transporte
interno de peças, foi preciso levantar o histórico destas operações na empresa onde foi
realizada a pesquisa de campo. No segundo sub-item desta parte, analisa-se o uso do Milk
Run pela organização
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d) grandes ocorrências de divergências nas quantidades de peças fornecidas;
e) baixa produtividade, no início do mês horas extras e no final do mês falta de serviço;
f) ocupação dos ativos de transporte e estoque altíssimo.
De 1986 a 2000, o planejamento e controle da produção era realizado com uso de
comissionamento, onde as grande ordens (pedidos dos clientes) eram fragmentadas em lotes
menores diários com base na média do consumo do cliente; neste período, o foco era cumprir
o programa colocado pelo cliente sem haver uma preocupação com os níveis de estoque. Com
este novo enfoque, houve um maior nivelamento da demanda de serviço para o almoxarifado,
porém o envio de peças ainda era empurrado para produção, sendo utilizadas
aproximadamente trinta empilhadeiras para realizar as entregas na fábrica.
Neste momento o OTD (On Time to Delivery) tempo de entrega era de
aproximadamente dez horas, ou seja, após a solicitação de peças por parte da produção, o
tempo de reação do almoxarifado era de pelo menos dez horas, exigindo que a produção
mantivesse um grande estoque intermediário para atender todo este tempo de espera.
O terceiro período, de 2000 até 2008 pode ser assim analisado: em 2000 teve início a
utilização do princípio da produção puxada, situação em que toda cadeia produtiva e logística
é baseada no cliente, ou seja, o início da cadeia produtiva está na solicitação de peças por
parte do cliente final. A partir deste momento a expedição passou a entregar apenas o que foi
pedido (puxado) pelo cliente, e a produção por sua vez irá produzir apenas o suficiente para
repor o estoque da expedição, com o mínimo de estoques intermediários. O almoxarifado irá
entregar exatamente a quantidade de componentes que serão utilizados pela produção e o
fornecedor irá fornecer a quantidade exata para repor o estoque do almoxarifado. Para
sustentar este princípio foi adotado o Milk Run como sistema de transporte interno.
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Figura 1 – Pontos de Paradas com Informações do Milk Run Interno
Fonte: A partir dos Dados coletados na Empresa em Estudo (2008)
Tome-se como exemplo a Rota dezenove, que possui dezesseis pontos de parada e
cada um destes pontos tem sua folha de trabalho padronizado: para cuja elaboração foi
realizado um meticuloso trabalho de análise de movimentos e cronometragem de tempo,
indicando exatamente onde, como, e quais são os locais a serem abastecidos pelo Milk Run
em cada ponto de parada.
Para descrever o processo e facilitar a pesquisa de campo, foi considerado como início
de ciclo do Milk Run a requisição de material por parte da produção e seu final no momento
da entrega, conforme detalhado na Figura 2. Porém o comboio fica circulando em seus
horários programados mesmo que não exista requisições realizadas, pois é preciso recolher as
embalagens vazias. Durante a pesquisa foi constatado o início de turno com o comboio
realizando a sua primeira volta totalmente vazio.
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Figura 2 – Fluxo de Funcionamento do Milk Run Interno
Fonte: Elaborado pelos autores
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Além a redução da estrutura logística verificou-se nesta pesquisa de campo que o Milk
Run interno da empresa visitada é fortemente baseado no trabalho padronizado; observou-se
também constantes adaptações dos padrões de trabalho para atender à meta estabelecida
(princípio da melhoria contínua). Neste caso, a meta é o tempo de entrega, conhecido como
O.T.D (On Time to Delivery) como principal indicador para o monitoramento de seu
desempenho.
Devido às constantes alterações nos padrões de trabalho, é possível verificar a forte
redução do OTD (tempo de entrega de materiais) desde a implantação da sistemática Milk
Run, e também verifica-se as metas para os próximos anos, o que desafia o sistema a estar em
constante desenvolvimento.
5. Considerações Finais
Com este trabalho foi evidenciado por meio das pesquisas de campo que as
sistemáticas Milk Run externo e interno realmente trazem grandes vantagens para as empresas
que seguem seus princípios, coincidindo com as vantagens já identificadas por diversos
autores:
- redução do estoque (BAUDIN, 2005).
- maximização da Utilização dos ativos logísticos (MOURA e BOTTER, 2002)
- melhoria da comunicação entre cliente e fornecedor (BAUDIN, 2005).
- nivelamento da demanda x capacidade do almoxarifado (PARANHAS FILHO, 2007).
- redução das oscilações (BAUDIN, 2005).
- reduções no custo logístico (BALLOU, 2006).
A padronização dos trabalhos foi fundamental para o Milk Run produzir ganhos de
80% no OTD em oitos anos de operação, conforme observado na pesquisa de campo sobre o
Milk Run interno, recomendando a adaptação e utilização da sistemática de melhoramento
contínuo inclusive para o Milk Run externo.
Finalmente, é preciso lembrar que sistema de transporte direto de um fornecedor para
o cliente de forma contínua é confundido com o Milk Run, mas que para se caracterizar como
tal, explicam Moura e Botter (2002), a rota deve contemplar mais de um fornecedor e a
mesma deve aproveitar a capacidade do veículo
Observou-se que devido ao grande número de vantagens oferecidas pelo sistema de
transporte Milk Run, o mesmo passa a ser um diferencial competitivo, pois é uma ótima
alternativa para as empresas se manterem ativas neste mercado extremamente competitivo,
com clientes cada vez mais exigentes.
Devido aos problemas mencionados toda a operacionalização do Milk Run acaba
paralisada transferindo as perdas causadas por problemas internos dos clientes para os
operadores logísticos e seus parceiros, pois os veículos e seus operadores ficam em espera
sem flexibilidade, aguardando a solicitação dos clientes, sem receber nenhuma compensação
financeira, por seu tempo estar a disposição da montadora. Se forem deslocados os veículos
para realizar outro serviço e a rota voltar a circular o operador logístico poderá sofrer
punições caso atrase alguma entrega. O impacto deste problema é ainda maior quando trata-se
de motoristas autônomos que integram a rota e não possuem salário fixo, dependendo
exclusivamente deste serviço.
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Para reduzir os impactos destes problemas para os operadores logísticos e seus
parceiros é necessário que os clientes paguem ao menos o custo fixo de seus operadores
logísticos. Felizmente foi observado que esta solução esta sendo praticada recentemente na
empresa alvo da pesquisa.
Outra forma de reduzir os problemas mencionados é a utilização da sistemática de
melhoramento contínuo mencionado neste trabalho. Como sugestão para pesquisas futuras,
indica-se uma pesquisa focando o cálculo para definição da quantidade de rotas, intervalo de
abastecimento e tamanho de lote para utilização. Poderá focar também em estudos de quais
segmentos da indústria já aderiram à sistemática do Milk Run Interno.
6. Referências Bibliográficas
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2003.
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Os Impactos do EDI nas Operações Logísticas de uma Empresa do Setor Automobilístico. IN: XXIII Encontro
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FLEURY, P.; WANKE, P. e FIGUEIREDO, K. Logística Empresarial: A Perspectiva Brasileira. São Paulo :
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IEMMA, Antonio Francisco. Estatística Descritiva. São Paulo: Rô Publicações, 1992.
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MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1999.
MATTAR, Fauze Najib. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas, 1996.
MOURA, D. A.; BOTTER, R. C. Caracterização do Sistema de Coleta Programada de Peças, Milk Run: RAE
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PARANHAS FILHO, Moacyr. Gestão da Produção Industrial. IBPEX 2007.
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