PASSAGLIA, E., VIEIRA, H. Gerenciamento de Transportes e Frotas. 2ª. ed. rev. São Paulo: Cengage Learning, 2014. p. 88-105 Introdução
• Tanto no transporte de passageiros como no de cargas, a
operação de frotas está diretamente ligada à gerência de tráfego das empresas. Nesse setor é definido como os veículos vão operar e como as tripulações vão trabalhar. Além dos aspectos referentes ao planejamento e à programação dos serviços, outra tarefa fundamental atribuída a esse setor é o controle dessa operação • Por meio de uma análise técnica, pode-se afirmar que os problemas a serem solucionados no planejamento e programação da operação são de elevada complexidade e envolvem questões relacionadas, por exemplo, a roteirização, construção de linhas, alocação de frotas e programação da tripulação. Tudo isso conciliando racionalização, economia e segurança, com prazos de entrega, legislação trabalhista, tabela de horários, veículos disponíveis etc. • Para ajudar na resolução desses problemas, existem várias técnicas e procedimentos, alguns deles já bastante conhecidos e utilizados. Recentemente, têm surgido também diversos programas e equipamentos computacionais capazes de auxiliar na busca de melhores soluções para a operação de frotas. Esses recursos podem, se associados à experiência e à prática de profissionais do setor, sem dúvida, contribuir para encontrar alternativas mais econômicas, de modo a preservar a saúde e a competitividade das empresas Problema da Coleta e Distribuição
• Um dos problemas típicos da operação de frotas no
transporte rodoviário de cargas é o da coleta e distribuição. Enquadra-se no contexto da logística do transporte, e as características básicas desse tipo de problema são as seguintes: • Uma região geográfica é dividida em zonas, cujos contornos podem ser rígidos ou, em alguns casos, sofrer alterações momentâneas para acomodar diferenças de demanda em regiões contíguas • A cada zona é alocado um veículo, com uma equipe de serviço, podendo ocorrer outras situações, como mais de um veículo por zona, por exemplo • A cada veículo, é designado um roteiro, incluindo os locais de parada, pontos de coleta ou entrega, atendimento de serviços etc. e a sequência em que a equipe deve atendê- los • O serviço deve ser realizado dentro de um tempo de ciclo predeterminado; no caso de coleta/entrega urbana, o roteiro típico se inicia de manhã cedo e se encerra no fim do dia (ou antes, se o roteiro for totalmente cumprido antecipadamente). Nas entregas regionais o ciclo pode ser maior, e há casos de entregas rápidas em que o ciclo é menor que um dia útil • Os veículos são despachados a partir de um depósito, onde se efetua a triagem da mercadoria (ou serviço) em função das zonas. Nos casos em que há mais de um depósito, o problema pode ser analisado de forma análoga, efetuando-se, para isso, as divisões adequadas da demanda elou da área geográfica atendida. Questões metodológicas da Coleta e Distribuição
• Como dividir a região de atendimento em zonas de
serviço? • Como selecionar o veículo/equipe mais adequado ao serviço? • Qual a quilometragem média da frota e dos diversos tipos associados ao serviço, de forma a quantificar os custos? • Qual a fração do serviço (carga coletada ou distribuída, número de chamada etc.) não cumprida em um dia útil? • Qual a frequência ideal de serviço? • Como, enfim, selecionar a configuração mais adequada? Resoluções possíveis para a Coleta de Distribuição
• Na fase de planejamento e projeto do sistema de
coleta/distribuição, ainda não se tem ideia precisa dos pontos reais de atendimento. Nesse caso, é mais interessante adotar estimativas aproximadas (de cálculo rápido), de forma a possibilitar a análise de diversas alternativas • Já na fase de operação, são conhecidos os locais de atendimento. Em alguns casos, esses pontos são fixos, como na distribuição de jornais, entrega de produtos nos estabelecimentos varejistas etc. • Em outros casos, os locais de atendimento são aleatórios, sendo conhecidos somente na hora de executar o roteiro de serviços. Como exemplo, os serviços de entrega de compras para as lojas, os sistemas de atendimento para reparos e consertos etc. Em ambas as situações, é necessário definir um roteiro otimizado para cada equipe de serviço Variáveis, condicionantes e restrições para a Coleta e Distribuição • As variáveis que influem no dimensionamento de um sistema de coleta/distribuição apresentam, de maneira geral, variações estatísticas apreciáveis. Por esse motivo, não é adequado dimensionar o sistema por um modelo determinístico, no qual os efeitos da aleatoriedade de algumas variáveis não são considerados • Alguns condicionantes físicos temporais devem ser examinados e incorporados à metodologia de análise e dimensionamento, de forma a se chegar a resultados mais realistas • Um primeiro aspecto a considerar é o da capacidade física dos veículos de coleta/distribuição. Dependendo das características físicas da carga (peso e volume) e da capacidade do veículo, é possível ocorrer, em certas ocasiões, superlotação do caminhão. Nesse caso, parte da carga não pode ser transportada pelo veículo, devendo ser atendida de outra forma • Outra restrição importante no dimensionamento do sistema é a da máxima jornada de trabalho dos tripulantes (motorista, ajudantes). Acima de um determinado número de horas de trabalho por dia, o desgaste físico e psíquico torna-se excessivo, prejudicando o empregado e os níveis de desempenho do próprio sistema. Deve- se considerar também que a jornada máxima é determinada por lei e por acordos específicos com os sindicatos. Ocorre, assim, uma restrição temporal no dimensionamento e na operação do sistema • Outro problema que surge no dimensionamento de sistemas de coleta/distribuição operando em regiões relativamente grandes é o do desequilíbrio entre a produção dos veículos que atendem zonas próximas ao depósito e os que atendem zonas situadas na periferia. Esse desequilíbrio implica tratamento diferenciado para as zonas de coleta/distribuição, com base na localização espacial em torno do depósito. Questão do tamanho das regiões
• Em primeiro lugar, no caso de regiões
relativamente grandes, atendidas por um único depósito, há zonas próximas do armazém e outras bem mais distantes • Os veículos, no segundo caso, gastam um tempo significativamente maior para se deslocar do depósito à zona e vice-versa. Isso faz com que a produção dos veículos de distribuição, nas zonas mais afastadas, medida em número de clientes visitados por viagem, seja menor que a produção dos caminhões que atendem às zonas mais próximas • E necessário, assim, um ajuste compensatório, aumentando-se as áreas das zonas mais próximas e diminuindo-se as das zonas distantes Questão da natureza probabilística do tempo de ciclo
• Outro aspecto a considerar é a natureza
probabilística do tempo de ciclo. Como ele é formado pela soma de um número relativamente grande de segmentos, o resultado final (valor de Tc) pode apresentar variações apreciáveis em torno da média • Quando isso ocorrer, é preciso analisar com cuidado a variação do tempo de ciclo (Tc), de forma a evitar que haja, de um lado, excesso de horas de trabalho para a tripulação (motorista e ajudante) e, de outro, jornadas diárias muito curtas • E necessário dimensionar com cuidado o tamanho das zonas, a capacidade dos veículos e o número de pontos a serem visitados em cada roteiro, de forma a evitar esses tipos de problemas Questão da capacidade física dos veículos
• A capacidade física dos veículos é um dos aspectos que
devem receber a devida atenção no dimensionamento de sistemas de distribuição física de produtos. Ela pode ser quantificada em termos de peso ou volume. O primeiro caso ocorre para cargas de densidade mais elevada e o segundo para mercadorias leves. Algumas vezes, quando o produto é acondicionado, de forma homogênea, em pallets, caixas uniformes, sacas etc., a capacidade é expressa, na prática, por meio dessas unidades. Por exemplo: a capacidade de um caminhão que distribui botijões de gás GLP de 13 kg pode ser expressa pelo número máximo de unidades carregadas que pode transportar • Quando o veículo não for bem dimensionado para a distribuição dos produtos específicos da indústria ou da empresa comercial em questão, podem ocorrer situações insatisfatórias • Se o veículo estiver superdimensionado, a tendência é aumentar o número de clientes visitados por rota. Mas isso pode estourar o tempo máximo de trabalho diário da tripulação, com efeitos negativos em termos de produtividade, relações trabalhistas etc. • Se o veículo estiver subdimensionado, pode haver sobras inesperadas de mercadoria no depósito, obrigando a realização de viagens extras (de custo mais elevado) ou deixando a carga para a viagem seguinte, o que prejudica o nível de serviço oferecido aos clientes