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Artigo publicado

na edição 34

maio e junho de 2013


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Conceito de Torre de Controle


aplicado à Gestão de Transportes
Dispor de informação em tempo REAL deixou de ser um luxo e passou
a ser uma necessidade para as empresas que desejam ter a logística
como um diferencial competitivo. Conheça o conceito de TORRE DE
CONTROLE, aplicado ao transporte rodoviário de cargas!

N
ão faltam motivações para uma melhor gestão de • O aumento do número de itens comercializados e
transportes. Como principal custo logístico e im- a redução no tamanho dos pedidos, resultando em
portante viabilizador no nível de serviço, a gestão maiores dificuldades para a unitização das cargas e
da atividade de transportes deve ser encarada como algo em um maior número de viagens (em veículos de
crítico e estratégico para todas as empresas, independen- menor porte) para o atendimento da demanda do
temente do ramo de atuação, localização, porte etc. cliente.
O aperfeiçoamento dos mecanismos de planejamento • A ampliação dos canais de distribuição, exigindo a
e controle serão imprescindíveis diante da nova legislação realização de coletas e entregas em diferentes locais
que disciplina a jornada dos motoristas e do aumento como grandes e médias redes atacadistas e varejistas,
dos custos e da complexidade operacional, decorrente pequenos supermercados, padarias, empórios, quitan-
de diversos fatores como: das, avícolas, bares e botecos, lojas de conveniência
• A ampliação das restrições à circulação de em postos de gasolina, shoppings e centros comer-
veículos de porte grande e médio nas ci- ciais, restaurantes, escritórios de empresas, cameló-
dades mais populosas do Brasil, permitindo dromos, residências de clientes etc.
apenas a utilização de equipamentos de • O aumento dos requerimentos dos serviços exigi-
menor porte como Veículos Leves de dos pelos clientes, relacionados ao agendamento das
Carga (comprimento máximo de cargas e descargas, redução dos tempos de resposta,
6,30 m), Veículos Urbanos de Car- horários de entregas e coletas, tipos de veículos uti-
ga (comprimento máximo de 5,50 lizados etc.
m), vans e utilitários. • O aumento das exigências por parte das seguradoras,
• A redução da velocidade de circulação tornando o Plano (ou Programa) de Gerenciamento
dos veículos em função dos congestionamen- de Risco cada vez mais rigoroso e difícil de ser cum-
tos nas regiões urbanas, que acaba impactan- prido.
do diretamente na produtividade dos veículos, Portanto, não faltam obstáculos e desafios para o
reduzindo de forma significativa o número de profissional de transportes. Nesse novo ambiente, alta-
entregas e a quilometragem percorrida dia- mente complexo e competitivo, contar com informação
riamente. em tempo real deixou de ser um luxo desnecessário, e

Marco Antonio Oliveira Neves


diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda.

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passou a ser uma condição sine qua non para a sobrevi- mais adequadas fontes de transportes, definição do nível
vência e perpetuação das empresas. de serviço, políticas tarifárias, utilização de tecnologias
para o apoio à operação etc.
Conceitos relacionados à Gestão de No nível tático temos que responder a importantes
Transportes questões como:
A atividade de gestão de transporte compreende uma • qual o perfil mais adequado das empresas de trans-
série de ações envolvendo a esfera estratégica, tática e portes nas parcerias a serem estabelecidas?
operacional.
• quantas transportadoras utilizar e como dividi-las ge-
Atividades desenvolvidas nas “células” de gestão de
ograficamente?
transportes:
• qual o tamanho e perfil da frota necessária para o
• Contratação de Transporte
atendimento da demanda prevista?
• Planejamento e Execução de Embarques
• qual a infraestrutura de apoio necessária à operação?
• Otimização da Capacidade Disponível
• Auditoria e Pagamento de Fretes • como deve ser e o que deve constar no contrato fir-
• Administração de Não Conformidades em Transporte mado entre as partes?
• Relatórios de Desempenho em Transporte • que indicadores de desempenho medir e quais as me-
• Visibilidade da Operação tas a serem alcançadas?
• Programa de Excelência em Transporte • que planos contingenciais serão necessários?
• Gerenciamento de Risco • como integrar as informações e uniformizar conceitos
• Projetos em Transporte junto a todos os parceiros?
• Soluções em Transporte Global Na operação, serão desenvolvidas atividades como:
• Logística Reversa • emissão de documentos e apontamentos diversos
• Serviços Especiais (entregas noturnas, entregas em fi- • apuração dos indicadores de desempenho e geração
nais de semana etc.) dos relatórios gerenciais diários
Infelizmente, pouco tempo é realmente dedicado pe- • elaboração das escalas de trabalho e alocação da tri-
los gerentes e diretores da área de logística às atividades pulação
de cunho estratégico. No Brasil, nos dedicamos fervoro- • designação e alocação dos veículos
samente ao “durante”, porém pouca ênfase é dada ao • elaboração dos programas de viagens (rotogramas)
“antes” e ao “muito antes”. Até mesmo o “depois” apre- • roteirização e rastreamento das cargas
senta imperfeições, com representado na figura abaixo. • elaboração de manuais operacionais (manuseio, acon-
Pior do que tudo isso é ainda valorizar o profissional dicionamento e transporte dos materiais)
“bombeiro” como a solução ideal para a gestão de trans- • aplicação de check-lists na entrada e saída dos veículos
portes. Bombeiros apagam incêndios, continuamente, • atendimento a outros departamentos internos
sem atuar na causa raiz. Bombeiros custam caro, embora • atendimento a motoristas e clientes
possam parecer a solução para os problemas. Bombeiros • atendimento a fornecedores (empresas de gerencia-
“emburrecerão” com o tempo, e se transformarão em mento de risco, por exemplo)
obstáculos para as mudanças necessárias na empresa. Logicamente, a esfera operacional demandará uma
A esfera estratégica compreende ações relacionadas maior parcela de tempo da equipe de gestão de trans-
ao desenho e dimensionamento da malha logística, pla- portes, mas é preciso dedicar tempo para as atividades
nejamento da demanda por transporte, identificação das táticas e estratégicas.

muito antes antes durante depois

planejamento gestão operação controle

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Conceito de Torre de Controle • Reclamações de Clientes
Pense no funcionamento de um aeroporto e adapte O aprendizado diário levará à adoção de mecanismos
essa realidade ao transporte rodoviário de cargas. Ima- de prevenção, transformados, provavelmente, em políti-
gine um departamento atuando como uma Torre de cas de gestão da área de transportes. Através da “Torre
Controle, utilizando informações em tempo real para a de Controle”, conseguiremos balancear a performance
tomada de decisão. entre planejamento, gestão e operação.
É uma metodologia de gestão que tem como obje-
tivo primário agilizar o processo de tomada de decisão Estrutura da Torre de Controle
em transportes, fornecendo à equipe operacional infor- Para o perfeito funcionamento da Torre de Controle, é
mações de forma rápida, objetiva e em tempo real, in- necessário definir claramente os papéis desempenhados
tegrando os três níveis de decisão: operacional, tático e por Gerentes (ou Coordenadores), Analistas e Assisten-
estratégico. tes de Logística.
A Torre de Controle atuará no planejamento dos re- Normalmente identificamos analistas atuando como
cursos, no monitoramento da disponibilidade de veículos assistentes, desempenhando atividades repetitivas, que
e motoristas, no nível de utilização dos ativos operacio- poderiam (e deveriam) ser totalmente ou parcialmente
nais e no nível de serviço e custos obtidos. automatizadas, e gerentes sobrecarregados, sendo “obri-
A Torre de Controle envolve o monitoramento de gados” a descer e ocupar o espaço vago deixado pelos
variáveis-chave da operação em tempo real; esse modelo analistas. Resumindo: ninguém desenvolve satisfatoria-
de gestão permite que alterações significativas em indi- mente as atribuições para as quais foi contratado, ou para
cadores de alta e média criticidade sejam rapidamente as quais se preparou.
identificadas e corrigidas. Paralelamente às atividades de execução, recomenda-
Variáveis-chave monitoradas na Torre de Controle: mos que a Torre de Controle contemple a alocação de
• Atendimento da demanda por transporte recursos voltados exclusivamente à engenharia logística,
• Tempos improdutivos, que envolve o tempo parado dedicados aos projetos de melhoria contínua na área.
em congestionamentos e o tempo de espera para car- Esse profissionais atuarão, por exemplo, em projetos que
ga e descarga nos Clientes envolvam modelos fiscais, embalagens e unitização de
• Aproveitamento do frete-retorno cargas, novas tecnologias, seguros de cargas, etc.Exemplo
• Produtividade da frota (quilometragem rodada men- de organograma na figura 1.
salmente/número de viagens realizadas / total de cole- Ao Gerente de Logística caberá o planejamento estra-
tas e entregas feitas) tégico de operações, a disponibilização de meios para a
• Nível de aproveitamento da capacidade do veículo execução do trabalho e realização das metas da empresa,
• Controle do consumo e do rendimento dos insumos a definição das políticas de gestão de transportes e nível
produtivos (diesel, peças de veículos e pneus) de serviço, a realização da interface com outros depar-
• Custos operacionais tamentos e com Clientes, a gestão da equipe, o controle
• Indicadores de avarias, furtos e extravios da performance operacional através de indicadores de
• Nível de serviço ao cliente (pontualidade na entrega, desempenho e o desenvolvimento de ações preventivas
documentação correta, nenhum material faltante) e corretivas, o monitoramento dos planos de ação, a ad-
• Turn-over e Absenteísmo de motoristas ministração dos programas de excelência em transportes
planejamento

nível de
atividade
operação

tempo curto médio longo


real prazo prazo prazo

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e o atendimento dos requisitos técnicos do contrato e tempo real, e mais do que isso, poder atuar em tempo
das normas e diretrizes estabelecidas pelos órgãos de re- real na reversão de possíveis efeitos indesejados, evitando
gulação (Anvisa, por exemplo). retrabalho e custos adicionais. Isso deverá representar, na
Os Analistas de Projetos (ou Engenheiros Logísticos) prática, custos adicionais em transportes. Mas nesse caso
deverão zelar pela melhoria contínua na operação, em é importante avaliar a relação custo benefício. Por exem-
projetos internos ou em soluções que envolvam Forne- plo: um aumento de 20% no frete permitirá um aumento
cedores e/ou Clientes. Os projetos de melhoria contínua nas vendas, em patamares superiores a 30%?
poderão lidar simultaneamente com diferentes frentes Mais do que selecionar adequadamente os seus par-
de atuação, como processos, infraestrutura, tecnologia, ceiros, é importante atuar de forma COLABORATIVA. O
pessoas e sistemas de gestão. Também poderão atuar no Embarcador não deve abdicar de suas responsabilidades
start-up de novas operações (abertura de um novo Cen- e deveres, mas sim atuar de forma harmoniosa e comple-
tro de Distribuição, por exemplo). mentar junto as suas Transportadoras e Operadores Lo-
Já os Analistas de Logística se envolverão com a con- gísticos. No mínimo, devemos somar competências, pois
tratação e administração de parceiros, cotações de fre- o ideal seria multiplicá-las.
tes regulares e eventuais, planejamento de embarques e A VISIBILIDADE também é fundamental. Com as tec-
otimização da capacidade de carga disponível, roteiriza- nologias GPS, GPRS, WEB/WAP e com os sistemas de
ção da entrega e alocação dos veículos e da tripulação, telemetria, é possível obter as informações em campo
administração das não conformidades em transportes, a e trabalha-las em tempo REAL! Será necessário, obvia-
conferência e autorização de fretes a pagar, a geração de mente, desenvolver interfaces entre os sistemas dos Em-
relatórios de desempenho em transporte e dos indica- barcadores e dos parceiros logísticos para a captura e
dores de performance, a elaboração e manutenção de tratamento dos dados.
manuais de procedimentos operacionais e a realização de A partir da captura dos dados, teremos outro proble-
interfaces internas e externas. ma: o que fazer com tanta informação? A empresa deverá
Os Assistentes de Logística se encarregarão do regis- decidir e optar pelo tipo de informação desejada. Ela
tro de dados em sistemas informatizados ou em plani- poderá optar por atuar apenas nas não conformidades
lhas paralelas, a realização de apontamentos diversos, o operacionais. Outros Embarcadores poderão definir raios
rastreamento e monitoramento de veículos, o apoio a de atuação, especificando claramente onde ela atuará e
motoristas em viagem, o acerto de contas com motoris- onde seu parceiros trabalharão. Aí voltamos novamente
tas, o atendimento a Clientes e a execução de atividades para a questão da COLABORAÇÃO.
administrativas diversas. Portanto, invista em COLABORAÇÃO e VISIBILIDA-
DE!
Fatores de Sucesso para a Implantação da
Torre de Controle Conclusão
As palavras-chave para o sucesso na implantação da Se para a sua empresa a logística é realmente um dife-
Torre de Controle são VISIBILIDADE e COLABORA- rencial estratégico de competitividade, está mais do que
ÇÃO. na hora de buscar informações em tempo real, para a
É necessário, desde o princípio, selecionar parceiros decisão imediata.
adequados ao seu propósito, de obter informação em A defasagem temporal entre o fato e a informação de-
verá ser reduzida de alguns dias para alguns SEGUNDOS!
Do que adianta saber de algo que já ocorreu, e para a
gerente qual não existe mais nada a ser feito, apenas lamentar?
operacional (1) E precisamos pensar adiante, ou seja, imaginar o que
analista de poderá acontecer antes que realmente aconteça! Parece
projetos (1) difícil, mas não é impossível! Já pensou em receber a in-
formação antes da entrega efetiva?
analista de Com a Torre de Controle deixaremos de atuar de for-
transporte (2) ma passiva e reativa, e passaremos a pensar e agir de forma
proativa. Deixaremos de lado as desculpas e lamentações,
que serão substituídas por ações positivas e realmente efi-
assistente de cazes, que levarão a menores custos e maiores níveis de
logística (4) serviço, equacionando o difícil “trampolim” ao qual o pro-
fissional de logística é submetido diariamente.
Figura 1. Organograma
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