Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FERRAMENTA MFV
(1) (2)
Universidade Federal de São João del – Rei (UFSJ) – Departamento de Mecânica (DEMEC) - Praça Frei Orlando, 170 – Centro.
RESUMO: A redução dos custos, sem perda na qualidade, é um desafio constante para diversas empresas,
além de crucial para seu sucesso no mercado. Tem-se, portanto, a necessidade de reduzir as atividades que
consomem recursos e não geram valor, ou seja, que a empresa trabalhe num regime de Produção Enxuta
(Lean Production). Neste contexto, a ferramenta de Mapeamento do Fluxo de Valor – MFV (Value Streamn
Mapping) se mostra de grande utilidade. Introduzida pela Produção Enxuta, a MFV é um método de
modelagem de empresas com um procedimento para construção de cenários de manufatura. Sua aplicação
torna possível melhorar a eficiência de qualquer processo, desde que haja um produto para um cliente.
Baseada no sistema Toyota de produção, o método pode ser utilizado para redução de desperdícios, bem
como suas fontes, e do lead time. MFV é uma ferramenta que utiliza papel e lápis e ajuda a visualizar o
fluxo de material e de informação na medida em que o produto segue o fluxo de valor. Diante disso,
objetiva-se, neste trabalho, analisar um cenário real, propondo melhorias para uma produção enxuta da
linha de produção de uma empresa fabricante de aviamentos de forração para calçados. Para aplicação
dessa ferramenta, os produtos fabricados pela empresa estudada foram classificados em grupos por
utilização de máquinas. O grupo escolhido para realização do mapeamento representa 70% das vendas da
empresa. Realizou-se o mapeamento do estado atual desse grupo, por meio do qual foi possível analisar
oportunidades de melhorias de desperdícios de produção, voltados ao desperdício de superprodução,
estoque, espera e processamento. Prevê-se melhorias significativas com a implementação de kanbans e
adaptações no processo, antevendo uma redução de 56% do lead time total e 5% de melhorias nos tempos
efetivo de corte.
1. INTRODUÇÃO
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1.1. Definição
O fluxo de valor é toda ação indispensável para trazer um produto por todos seus fluxos
essenciais. O fluxo de produção que vai desde a matéria-prima até o consumidor, e o fluxo do
projeto do produto, desde sua concepção até o lançamento. Mapear o fluxo de valor é uma
ferramenta que utiliza papel e lápis e ajuda a visualizar o fluxo de material e de informação na
medida em que o produto segue o fluxo de valor (ROTHER e SHOOK, 2003).
Nos últimos anos, Mike Rother e John Shook, vêm tentando criar maneiras para ajudar
empresas a terem uma visão total sobre o fluxo, com o objetivo de instalar um sistema enxuto de
produção, ao invés de um sistema onde ocorram melhorias isoladas (ibdem).
2.2.1. Definição
De acordo com Jones e Womack (2004), “...MFV é o simples processo de observação direta
do fluxo de informação e de materiais conforme eles ocorrem, resumindo-os visualmente e
vislumbrando um estado futuro com melhor desempenho”. Considerando essa definição, vemos
que o objetivo essencial do MFV é ter uma visualização clara dos processos de manufatura e de
seus desperdícios, bem como de medidas eficientes de análise que auxiliem no projeto de
otimização do fluxo e eliminação de desperdícios.
Na modelagem do fluxo de valor um conjunto de símbolos pré-definidos é utilizado,
podendo haver também a criação ou inclusão de novos símbolos, para a reprodução de detalhes
particulares do processo. A Figura 1 mostra alguns dos ícones usados na técnica do MFV
De acordo com SCHONBERGER (1984), kanban significa ‘anotação visível’ ou ‘placa visível’.
Kanban, para um melhor entendimento, é uma espécie de cartão de informações. O Sistema foi
criado pela Toyota e utiliza este cartão para comunicar a necessidade de entrega de certa
quantidade de peças, e um segundo para indicar a necessidade de aumentar a produção destas.
Hoje existem três tipos de kanban (SLACK, 1999). Kanban de transporte: utilizado para avisar, ao
estágio anterior, que o material pode ser transferido do estoque para um destino determinado.
Kanban de produção: um sinal para o processo produtivo para que passe produzir um item.
Kanban do fornecedor: para indicar ao fornecedor a necessidade de enviar materiais ou
componentes para determinado estágio da produção.
O kanban pode ser usado basicamente de duas formas, utilizando um ou dois cartões. No
primeiro caso, temos os postos de trabalho próximo sendo possível a utilização do mesmo quadro
por dois centros de controle. Porém quando temos uma distância significativa entre dois postos de
trabalho pode haver a utilização de dois quadros.
O primeiro passo realizado para definição do mapeamento do fluxo de valor foi a escolha
do grupo de família que possui maior demanda dentro da fábrica. Para tal, foi montada uma
matriz, apresentada no QUADRO 1, para melhor visualização dos produtos que passam por
máquinas comuns nos seus processos.
1
Enfesto é a sobreposição de tecidos em camadas alinhadas e amarradas. O objetivo do preparo de enfestos é a
produtividade através do corte em pilhas.
Qualificação Profissional: Seu Futuro não se faz em casa, Se faz AQUI!
Anais do VII COEN - Congresso de Engenharias
FIGURA 3. Mapa do estado atual.
Fonte: Autor.
Com a execução do mapeamento do estado atual, foi possível perceber que algumas
atividades geravam desperdícios ao processo e não agregavam valor ao produto final. A
construção do mapeamento do estado futuro foi possível através de estudos e análises no Gemba,
os principais desperdícios de produção que serão foco de redução serão: superprodução, estoque,
espera e processamento.
Alguns dos benefícios esperados com a implementação do estado futuro são:
1. Eliminação dos estoques de matéria prima: O processo de preparo de enfestos irá solicitar
a matéria prima de acordo com o dimensionamento estudado para a implementação da
ferramenta kanban. A solicitação só irá ocorrer com o aviso de cartão kanban, evitando
gerar estoques desnecessários no processo.
2. Eliminação da espera de matéria prima para preparo de enfestos: O Kanban no preparo de
enfestos irá facilitar a solicitação de matéria prima ao almoxarifado e ainda permitir que o
processo nunca pare para espera de um material chegar ao setor.
3. Eliminação dos estoques de produto acabado: Através do novo sistema de planejamento
de corte do setor, o processo de embalagem terá tempo de analisar com prudência e gerar
demandas de arquivos para corte de apenas os produtos necessários. Além do novo
planejamento, a implementação do kanban de produtos acabados fará com que os
colaboradores do processo de embalagem gerem apenas solicitações de corte para
reabastecimento dos kanban, reduzindo erros de dimensionamento e de geração de novos
estoques.
Qualificação Profissional: Seu Futuro não se faz em casa, Se faz AQUI!
Anais do VII COEN - Congresso de Engenharias
4. Eliminação da superprodução: O planejamento de corte atuando juntamente com os
cartões kanban, irão trazer demandas precisas ao processo de corte otimizando as
máquinas e abastecendo suas demandas de acordo com as necessidades dos planos.
5. Eliminação de espera de produtos acabados para embalagem: Com o kanban, os planos
serão embalados através da retirada dos produtos em supermercados, eliminando a
espera de corte para depois embalar.
6. Melhorias no processo de planejamento: Com o planejamento prévio das máquinas, será
possível desenvolver um agrupamento de produtos, reduzindo e otimizando setup de
arquivos das máquinas e de matérias primas. O novo processo de planejamento irá trazer
produtividade e eficiência ao setor.
7. Melhorias no fluxo de informação entre PPCP e Almoxarifado: A proposta é de
desenvolvimento de um item dentro do sistema integrado da empresa, para comunicação
entre PPCP e almoxarifado, para que a liberação de planos seja feita via sistema, reduzindo
erros de liberação de matérias que não estão fisicamente na fábrica, gerando agilidade,
confiabilidade e melhorando o fluxo de informação.
8. Melhorias no processo de preparo de enfestos: Com a redução de desperdícios de estoque
e de espera no processo de preparo de enfestos, estima-se um melhor aproveitamento dos
colaboradores desse processo, gerando a redução de dois funcionários.
9. Melhoria no processo de corte: Com a otimização dos setups das máquinas e melhor
planejamento de corte, estima-se uma melhoria de 10% (no total das máquinas) de tempo
efetivo de corte.
10. Melhoria no lead time total de processo: Com a redução dos desperdícios de espera,
estoque, superprodução e processamento, estima-se ganho de 56% do lead time total da
fábrica.
11. Melhoria no tempo de processamento: Estima-se ganho de 5% de agregação de valor nos
processos devido a redução de desperdícios de processamento.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Produção enxuta procura otimizar seus processos de forma a transformar todo lead time
da empresa em valor agregado ao produto. Com o presente trabalho foi possível perceber que são
muitas atividades que não geram valor, no entanto, a utilização de ferramentas simples, como o
MFV faz com que seja mais fácil de visualizar as perdas do processo e propor melhorias.
O presente artigo trouxe também a percepção de que as ferramentas são melhor utilizadas
quando trabalhadas em conjunto, como a utilização do kanban dentro do MFV.
No que diz respeito às dificuldades para implementação da ferramenta, a cultura de
trabalho já inserida dentro da empresa foi o principal obstáculo encontrado pelos autores. E, só foi
possível continuar com o trabalho, devido ao apoio da alta direção e gerência de produção.
Além das melhorias propostas, foi percebido outras oportunidades dentro da empresa
estudada, que poderão atuar nas outras perdas estudadas dentro do conceito de produção
Qualificação Profissional: Seu Futuro não se faz em casa, Se faz AQUI!
Anais do VII COEN - Congresso de Engenharias
enxuta, como por exemplo, análises do layout da fábrica para redução de movimentações
desnecessárias, proposição de programas kaizen e implementação de um projeto de qualidade na
fonte para redução de perdas por defeitos, entre outros. As ferramentas citadas ficam de proposta
para estudos futuros.
6.REFERÊNCIAS
CORRÊA, H. L.; GIANESI, I. G. N. Just in time, MRP II e OPT: um enfoque estratégico. 2ª ed. São
Paulo: Atlas, 1996.
GONÇALVES, M. S.; MIYAKE, D. I. Fatores Críticos para a Aplicação do Mapeamento do Fluxo de
Valor em Projetos de Melhorias. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP. São Paulo: EPUSP,
2003.
JONES, D.; WOMACK, J. Enxergando o Todo – Mapeando o Fluxo de valor Estendido. São Paulo:
LeanInstitute Brasil, 2004.
MAIA, M. F., BARBOSA W. M. Estudo da Utilização da Ferramenta Mapeamento do Fluxo de
Valor (MFV) para Eliminação dos Desperdícios da Produção. Departamento de Engenharia Elétrica
e de Produção da Universidade Federal de Viçosa, 2006.
OHNO, T. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre:
Bookman, 1997.
QUEIROZ, J. A.; RENTES, A. F.; ARAUJO, C. A. C. Transformação Enxuta: aplicação do
mapeamento do fluxo de valor em uma situação real. 2004. Disponível em
<http://www.hominiss.com.br/artigos.asp> Acesso em: 20 março 2006.
ROTHER, M.; SHOOK, J. Aprendendo a Enxergar: mapeando o fluxo de valor para agregar valor e
eliminar o desperdício. São Paulo: LeanInstitute Brasil, 1999.
SCHONBERGER, R. J. Técnicas industriais japonesas: nove lições ocultas sobre simplicidade. São
Paulo: Pioneira, 1984.
SLACK, N. et. al. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1999.
7. DIREITOS AUTORAIS.
Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo das informações contidas neste artigo.
(1) (2)
Universidade Federal de São João del – Rei (UFSJ) – Departamento de Mecânica (DEMEC) - Praça Frei Orlando, 170 – Centro.