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6.

DIREITO EMPRESARIAL: CAMBIÁRIO pessoais (aval, fiança) ou reais


6.1. Introdução (penhor, hipoteca, etc.) que ele
ofereça em segurança da oportuna
No passado, o empresário era individual,
realização da prestação futura a que
como por exemplo o alfaiate. A pessoa jurídica só foi
se obrigou; mas, de qualquer forma,
surgir na década 30, criada pela doutrina italiana e
é sempre a confiança elemento
incorporada no código italiano em 42.
essencial do crédito”
A teoria adotada pelo CC/02 a respeito do o Prazo: (para pagamento)
conceito de empresa diz que: empresa é uma  “Constituindo o prazo, o intervalo, o
atividade (porque o empresário pratica uma série de período que medeia entre a prestação
atos) econômica (visa lucro *) organizada (para não presente e atual e a prestação futura”.
gerar falência) destinada a produção (indústria) ou  Suas acepções são:
circulação (comércio) de bens ou serviços para o o Moral: precisa pagar o que está devendo;
mercado e exercida com profissionalidade e o Econômica: valor que tem a receber;
habitualidade. o Jurídica: direito de exigir.

*associação não pode ser considerada empresa O direito cambiário é o estudo de títulos de
porque não visa lucro, mesmo sendo pessoa
crédito. Em noção de virtude, a teoria criada por
jurídica.
Cesare Vivante diz que, título de crédito é o
Para constituir empresa deve haver dois elementos: documento necessário¹ para o exercício de direito
literal² e autônomo³ nele mencionado.
 Mercado: onde a atividade comercial se
manifesta. OBS.: possui regramento próprio (Direito

 Concorrência: no mercado existe forte fator de comercial e a Lei Uniforme de Genebra (LUG),

concorrência. uma convenção universal que entrou no direito


brasileiro e é uma lei geral para títulos de crédito)
OBS.: concorrência faz o preço abaixar.
Título de crédito é diferente de contrato, ambos
O que é crédito? são documentos, mas possuem regramento e
princípios diferentes.
 O crédito existe para facilitar a circulação de
riqueza e deve possuir dois elementos: 6.2. Princípios:
o Confiança: (de quem vai pagar)
1. Documentalidade/cartularidade: é a
 “Quem aceita, em troca de sua
materialização do direito no documento, não
mercadoria ou de seu dinheiro, a
poderá ser exercido o direito sem a exibição do
promessa de pagamento futuro,
documento, a chamada cártula.
confia no devedor. Essa confiança
1.1. Incorporação: o crédito se incorpora no
pode não repousar exclusivamente
documento de tal maneira que não existe
no devedor, mas em garantias

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sem ele. A perda do documento importa na Não pode opor resistência ao pagamento de
perda do direito. título que circulou. Ex.: João vende carro com
2. Literalidade: somente o que nele está escrito é motor fundido sem avisar a Marcelo que paga com
que se deve levar em consideração, não valendo cheque, este circula e chega em Ana. O motor
qualquer obrigação expressa em documento estraga e Marcelo reclama com João que diz que o
dele separado, ou seja, vale o que está escrito cheque já circulou. Marcelo não pode deixar de
no título. Se não está escrito, não existe. pagar a Ana, uma vez que esta não tem culpa. Caso
não pague, Ana pode pedir execução judicial do
Obs.: a quitação admite recibo a parte? Não.
título de crédito.
3. Autonomia: independente, desvinculado.
Exceções ao princípio da inoponibilidade:
Todo título de crédito nasce de uma relação
fundamental, de um contrato que deu origem ao  Terceiro de má-fé
título. Depois de emitido, o título passa a ter o A má-fé deve ser provado (quase
existência autônoma, independentemente de impossível) e há prazo para indenização
sua relação fundamental. Os títulos de crédito por má-fé.
não são vinculados, ou seja, são desvinculados  Defeitos formais do título
de sua origem e de sua causa. Ex.: título dado o Ex.: cheque impresso, uma vez que só o
para compra de algo pode ser usado para banco pode emitir cheque.
compra de outro.
6.3. Classificações
3.1. Abstração; o título de crédito se
desvincula da relação fundamental que lhe  Título não-causal: ou abstratos, pode ser
deu origem, ou seja, se houve um vício na emitido por qualquer causa. Ex.: cheque
origem do título, as obrigações derivadas (título à vista)
não terão prejuízo. Isso só acontece  Título causal: somente pode ser emitido para
quando o título vai para um terceiro de documentar determinadas operações. Ex.:
boa-fé. duplicata (prestação de serviço e compra e
4. Inoponibilidade de exceções e terceiros de venda)
boa-fé: o executado em virtude de um título de CP Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou

crédito não pode alegar matéria de defesa nota de venda que não corresponda à

estranhada à sua relação direta com o exequente mercadoria vendida, em quantidade ou


qualidade, ou ao serviço prestado.
(matéria não relacionada a existência do título),
(Redação dada pela Lei nº 8.137, de
salvo comprovada a má-fé. Isto é, o executado
27.12.1990) Pena - detenção, de 2 (dois)
não pode alegar vício da relação contra o
a 4 (quatro) anos, e multa.
terceiro de boa-fé. Somente pode alegar a
 Título à vista:
respeito dos aspectos indiretos.
 Título a prazo:

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 Títulos públicos: são aqueles emitidos pelo Art. 903. Salvo disposição diversa em lei

governo federal, como por exemplo, Tesouro especial, regem-se os títulos de crédito

IPCS e Tesouro Selic. pelo disposto neste Código.

 Títulos privados: são títulos emitidos por Efeitos:


bancos, securitizadoras, financeiras ou
Art. 887. O título de crédito, documento
empresas.
necessário ao exercício do direito literal e
 Título ao portador: são transmitidos por mera autônomo nele contido, somente produz efeito
tradição (entrega do título). quando preencha os requisitos da lei.
 Nominativo: transmitidos à ordem (por
Art. 888. A omissão de qualquer requisito legal,
endosso) ou não à ordem (por cessão de que tire ao escrito a sua validade como título de
crédito). É aquele emitido em favor da pessoa crédito, não implica a invalidade do negócio
que consta no registro do emitente. jurídico que lhe deu origem.

6.4. Legislação aplicável Requisitos essenciais:

 Lei Saraiva Art. 889. Deve o título de crédito conter a data


 Lei Uniforme de Genebra: Uma lei de 1930, da emissão, a indicação precisa dos direitos

adotada no Brasil pelo Decreto 57.663, traz que confere, e a assinatura do emitente.

uma sistematização de princípio e regras § 1º É à vista o título de crédito que não contenha
presentes em vários países, fixando normas indicação de vencimento.
internacionais para os títulos de crédito.
§ 2º Considera-se lugar de emissão e de
Muitos autores entendem que se deve analisar pagamento, quando não indicado no título, o
primeiro a Lei Uniforme e somente se esta não domicílio do emitente.
disciplinar a questão, aplicar as normas do
§ 3º O título poderá ser emitido a partir dos
Código Civil.
caracteres criados em computador ou meio
 Código Civil/2002 (Art. 887 a 980): técnico equivalente e que constem da
estabelece regras gerais para os títulos de escrituração do emitente, observados os
crédito. Não pretende, porém, regular cada requisitos mínimos previstos neste artigo.
um dos títulos de crédito existente no direito
Cláusulas vedadas:
pátrio. Suas normas, de caráter geral,
permanecem como fonte subsidiária, Art. 890. Consideram-se não escritas no título a
cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a
aplicáveis sempre que não houve disposição
excludente de responsabilidade pelo pagamento
específica a regulamentar a matéria.
ou por despesas, a que dispense a observância de
OBS.: No caso dos títulos atípicos (não termos e formalidade prescritas, e a que, além dos
regulados por lei), aplicam-se apenas as limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos
normas do Código Civil e obrigações.

Título incompleto:

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Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo fé e na conformidade das normas que disciplinam
da emissão, deve ser preenchido de conformidade a sua circulação.
com os ajustes realizados.
Aval:
Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes
Art. 897. O pagamento de título de crédito, que
previstos neste artigo pelos que deles
contenha obrigação de pagar soma determinada,
participaram, não constitui motivo de oposição ao
pode ser garantido por aval.
terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o
título, tiver agido de má-fé. Parágrafo único. É vedado o aval parcial.

Assinatura: Art. 898. O aval deve ser dado no verso ou no


anverso do próprio título.
Art. 892. Aquele que, sem ter poderes, ou
excedendo os que tem, lança a sua assinatura em § 1º Para a validade do aval, dado no anverso
título de crédito, como mandatário ou do título, é suficiente a simples assinatura do
representante de outrem, fica pessoalmente avalista.
obrigado, e, pagando o título, tem ele os mesmos
§ 2º Considera-se não escrito o aval
direitos que teria o suposto mandante ou
cancelado
representado.

Transferência:  Leis Especiais:


o Duplicata
Art. 893. A transferência do título de crédito
o Cheque
implica a de todos os direitos que lhe são
o Cédulas de crédito
inerentes.
6.5. Títulos de Crédito em espécie
Art. 894. O portador de título representativo de
mercadoria tem o direito de transferi-lo, de 6.5.1. Letra de Câmbio
conformidade com as normas que regulam a sua
circulação, ou de receber aquela
Inicialmente, cabe ressaltar os períodos

independentemente de quaisquer formalidades, históricos em que esta espécie de título se encontrou,


além da entrega do título devidamente quitado. sendo o primeiro título de crédito da história. O
primeiro momento, ocorreu no período italiano, era
Garantia:
usada para troca de moedas. No segundo momento,
Art. 895. Enquanto o título de crédito estiver em no período francês, era utilizada para lastrear
circulação, só ele poderá ser dado em garantia, ou contrato de compra e venda. E, por fim, no terceiro
ser objeto de medidas judiciais, e não,
período na Alemanha, era utilizada como título de
separadamente, os direitos ou mercadorias que
credito na concepção que temos hoje.
representa.

Reivindicação:

Art. 896. O título de crédito não pode ser


reivindicado do portador que o adquiriu de boa-

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A letra de câmbio, por definição, é uma VI - O nome da pessoa a quem ou a ordem de
ordem de pagamento, que pode ser à vista ou à prazo. quem deve ser paga; (Beneficiário)

É diferente de nota promissório (promessa) e de VII - A indicação da data em que, e do lugar onde
a letra é passada;
cheque (somente à vista). Regida pela Lei Saraiva
Emissão e vencimento
juntamente com a Lei Uniforme de Genebra.
VIII - A assinatura de quem passa a letra
Sacador (emite a Sacado (vai pagar) (sacador).
ordem) Assinando a ordem de pagamento, a letra é
vinculada, uma vez que tanto a aceitação como
seu pagamento lhe dão garantia.
Tomador/Beneficiário
Ex.: cheque: sacador é o emitente, sacado, o banco. 6.5.1.1. Institutos cambiários:
1) Saque/emissão: a palavra saque tem dois
A Letra de Cambio é um título de crédito
significados: retirada e emissão (criar). Neste
livre, não havendo, portanto, um modelo de
contexto, ela tem o sentido de emitir, como a
padronização previsto na legislação. Apenas, deve
própria criação da letra de cambio.
seguir os requisitos formais previsto no artigo 1° da
LUG, para que se torne uma letra de câmbio: OBS.: O título emitido em branco, é aquele assinado
em branco, mas não preenchido, porém válido.
Artigo 1º - A letra contém: Ademais, também pode circular.
I - A palavra “letra” inserta no próprio texto do
título é expressa na língua empregada para a
O título de crédito pode ser emitido em

redação desse título; branco ou incompleto, mas deve ser preenchido


Deve conter a palavra, caso contrário não será antes da apresentação ou pagamento.
considera como letra de câmbio. Não basta
A regra geral, o título deve ser emitido em
intitular, deve estar inserido no texto.
moeda corrente nacional, no entanto há exceções. A
II - O mandato puro e simples de pagar uma
emissão em moeda estrangeira é permitida pelo DL
quantia determinada;
857/69, desde que se trate de operação exterior. Em
A ordem deve ser pura e simples, isto é, que ela
não admite condição. caso de importação ou exportação, câmbio,
III - O nome daquele que deve pagar (sacado); financiamento para o exterior e, por último, quando
Deve conter o nome de quem recebe a ordem, uma das partes residirem no exterior. Mas na data de
para que este aceite e apõe sua assinatura. vencimento, paga em moeda corrente nacional
IV - A época do pagamento;
É possível cláusula de estipulação de juros
Deve conter se será à vista, à prazo, à tempo de
desde que, a letra seja pagável à vista ou a um certo
vista ou de data.
V - A indicação do lugar em que se deve efetuar tempo da vista e obedeça ao limite legal de juros

o pagamento; previsto no CPC e CTN, de 1% ao mês. No entanto,


E na sua falta, será o lugar designado ao lado do os bancos e as instituições financeiras não sofrem
nome e o lugar do domicilio do sacado.

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qualquer restrição quanto a limitação de juros, mas 3) Endosso: é ato unilateral de vontade de
podem ser discutidas judicialmente transferência do título de um credor a outro. É o
meio para transferir o direito sobre o título. Deve
Súmula 596 STF: As disposições do Decreto
22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos sempre constar do título e se dá por uma

outros encargos cobrados nas operações assinatura lançada no verso do título, não
realizadas por instituições públicas ou privadas, precisando de indicação do ato. Porém, se feito
que integram o Sistema Financeiro Nacional. na frente, deverá constar como endosso.
 Endossante: aquele que transfere por
endosso;
2) Aceite: é um ato de vontade materializado pela  Endossatário: aquele que recebe o título
assinatura no título, que resulta da concordância
do sacado, tornando-o responsável pelo OBS.: diferente do aceite, não existe endosso

pagamento da quantia expressa no título. Em parcial, pelo princípio da cartularidade.

suma, o aceite formaliza com a assinatura.


É possível ao sacador impedir a circulação da

Assim o sacado passa a ser o devedor letra por endosso, desde que conste uma cláusula de

principal (o sacador não deixa de ser devedor), não à ordem ou equivalente.

passando a ser chamado de aceitante.


A transferência de título à ordem

O aceite, por sua vez, pode ser recusado pelo (destinatário específico) é realizada por meio de

sacado, gerando seu vencimento antecipado, endosso.

devendo o tomador cobrar integralmente do sacador


O endosso pode ser em preto, indicando a
(devedor originário). Gera um protesto para
pessoa a quem é transferido o título (pessoa
pagamento, a consequência do protesto por falta de
determinada) ou, em branco, não indicando a
pagamento, “suja” o nome.
pessoa a quem é transferido o título, bastando apenas

ATENÇÃO! O aceite é necessário, mas não a assinatura do endossante.

obrigatório.
ATENÇÃO! O título em branco torna-se um título

Este aceite pode ser expresso, pela assinatura, ao portador.

porém o aceite tácito, por sua vez, não existe na letra


Uma cadeia de endosso se formada através
de cambio. Além disso, pode ser parcial ou total, este
de vários endossos pretos. Porém, nunca se forma
sendo pode ser tanto limitativo quanto modificativo.
uma cadeia de endosso em branco, isto é, não se

 Limitativo: a respeito do valor constando no inicia por endosso em branco, mas poderá terminar

título; com um. Não existe outro endosso após o branco,

 Modificativo: de alguns requisitos, como por porque tem efeito de título ao portador.

exemplo, do dia do pagamento.

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OBS.: aceite em branco e endosso em branco, este é
atrás e aquele é na frente.

Pode o endosso ser atípico ou bancário,


aquele que não é translativo de direito de
propriedade do título. Por exemplo, o devedor não
pagou, o título continua sendo seu, não é transferido
ao banco. O banco atua como agente cobrador até o
protesto (negativação), sendo parte ilegítima “ad
causam” na ação de sustação de protesto.

O endosso póstumo ou tardio é aquele feito


após a colocação do título em cobrança ou protesto.
Transfere a titularidade por cessão. É legitimo.

O endosso gera responsabilidade entre o


endossante e endossatário. Para não responder, deve
fazer um endosso com garantia, assim, apenas o
devedor principal será responsabilizado.

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