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EXECUÇÃO, PROCESSO COLETIVO E JUIZADOS ESPECIAIS – CCJ0038

PROF. ALEX CADIER - AULA 6 – 25/03/2022

TEMA DA AULA PASSADA: DEFESAS DO EXECUTADO

 Defesa do executado na fase de cumprimento de sentença – Impugnação.


 Defesa do executado no processo de execução de titulo executivo extrajudicial – Embargos
à execução.
 Exceção de pré-executividade ou objeção de não executividade.

TEMA DE HOJE: PENHORA E EXPROPRIAÇÃO DE BENS

- PENHORA E DEPÓSITO

Hoje vamos analisar o conceito de penhora e as espécies de penhora, identificar os bens


passíveis de penhora e compreender as diversas formas de expropriação dos bens.

A penhora consiste no ato coercitivo de natureza processual através do qual bens do


devedor são constritos para cumprimento da obrigação. Ela só é considerada efetiva quando
depositados os bens penhorados.

Obs.: Toda execução é real, pois recai sobre o patrimônio do devedor.

Art. 831 do CPC: “A penhora deverá recair sobre tantos bens quantos
bastem para o pagamento do principal atualizado, dos juros, das custas e
dos honorários advocatícios”.

Muito embora a penhora recaia sobre todos os bens do devedor, a lei põe a salvo alguns
bens, considerados impenhoráveis. Apenas os bens passíveis de alienação podem ser constritos
através da penhora.

São considerados bens impenhoráveis, ou seja, bens não passíveis de penhora (art. 833,
CPC):

a) os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; a


exemplo dos bens gravados com cláusula de impenhorabilidade e inalienabilidade;

b) os bens móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do


executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns
correspondentes a um médio padrão de vida;

c) os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado


valor;
d) os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de
aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de
trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal;

e) os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens


móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado;

f) o seguro de vida;

g) os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas;

h) a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família;

i) os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em


educação, saúde ou assistência social;

j) a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-


mínimos;

k) os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da
lei;

l) os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação


imobiliária, vinculados à execução da obra.

Obs 1: A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive
àquela contraída para sua aquisição.

Obs 2: A impenhorabilidade de vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, pensões e


quantias recebidas por liberalidade de terceiro destinadas ao sustento do devedor e sua família,
bem como a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta)
salários-mínimos não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia,
independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta)
salários-mínimos mensais.

Considerando a existência de bens do devedor, o art. 835 do CPC estabelece uma ordem
preferencial para serem penhorados, salientando que a preferência é a penhora de valores;
porém, não se levará a efeito a penhora quando o produto da execução dos bens encontrados for
totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução.

A penhora de bens se dará na seguinte ordem:

1. dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;

2. títulos da dívida pública da União, dos estados e do Distrito Federal com cotação em
mercado;

3. títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;


4. veículos de via terrestre;

5. bens imóveis;

6. bens móveis em geral;

7. semoventes;

8. navios e aeronaves;

9. ações e quotas de sociedades simples e empresárias;

10. percentual do faturamento de empresa devedora;

11. pedras e metais preciosos;

12. direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária


em garantia;

13. outros direitos.

Obs: A Corte Especial do STJ, em recursos repetitivos, fixou duas teses quanto ao inciso I do art.
835.
(1) A cota de fundo de investimento não se subsume à ordem de preferência legal disposta no
inciso I do artigo 655 do CPC de 1973, ou no inciso I do artigo 835 do novo CPC.
(2) A recusa de nomeação à penhora de cotas de fundo de investimento reputada legítima a partir
das particularidades de cada caso concreto não encerra, em si, excessiva onerosidade ao devedor,
violação do recolhimento dos depósitos compulsivos e voluntários, do Banco Central do Brasil, ou
afronta da impenhorabilidade das reservas obrigatórias.
(REsp 1.388.638, REsp 1.388.640 e REsp 1.388.642).

O auto ou o termo de penhora tem seus elementos pré-determinados por lei, sendo
necessários à sua regularidade formal. Segundo o art. 838, ele deverá conter: a indicação do dia,
do mês, do ano e do lugar em que foi feita; os nomes do exequente e do executado; descrição dos
bens penhorados, com as suas características; e a nomeação do depositário dos bens.

Não haverá intimação do executado a respeito da penhora quando esta for realizada na
sua presença, já que nesse caso o executado reputar-se-á intimado (art. 841, § 3º, CPC).

Caso contrário, após a formalização da penhora, o executado será intimado por seu
advogado (art. 841, § 1º, CPC). Não tendo advogado constituído, será intimado pessoalmente, a
princípio por via postal (art. 841, § 2º, CPC).

Também será considerada realizada a intimação quando o executado houver mudado de


endereços. A penhora será efetuada no lugar onde se encontrem os bens, ainda que eles estejam
sob a posse, a detenção ou a guarda de terceiros (art. 845, CPC).

No caso de bens imóveis, independentemente de onde se localizem, e de veículos


automotores, a penhora será realizada por termo nos autos (art. 845, § 1º, CPC).
Para isso, será necessária a apresentação de certidão do RGI para os imóveis e de qualquer
certidão que ateste a existência, para os veículos.

Não possuindo o executado bens no foro em que se processa a causa e a penhora não
puder se realizar nos próprios autos, a execução será feita por carta, penhorando-se, avaliando-se
e alienando-se os bens no foro de situação da coisa (art. 845, § 2º, CPC).

A penhora deve ser realizada por oficial de Justiça, em horário e local autorizados por lei e
deve haver a intimação do cônjuge do devedor. Caso o oficial de Justiça verifique que o executado
fechou as portas da casa a fim de obstar a penhora dos bens (art. 846, caput, CPC), o fato deverá
ser comunicado ao juiz, que deferirá a ordem de arrombamento.

Deferido o arrombamento, dois oficiais de Justiça devem cumprir o mandado, arrombando


o local em que se presumir o bem, lavrando tudo no auto circunstanciado, que deverá ser
assinado por duas testemunhas, presentes na diligência.

Poderá, ainda, ser requisitada a força policial a fim de auxiliar os oficiais de Justiça na
penhora e na prisão de quem resistir à ordem. No caso de prisão, deve se seguir a lavratura de
auto de prisão em flagrante, com rol de testemunhas, como dispõe o art. 846 do CPC.

Das diversas espécies de penhora:

 Penhora em dinheiro – art. 854, CPC;


 Penhora de créditos – arts. 855-860, CPC;
 Penhora das Quotas ou das Ações de Sociedades Personificadas – art. 861, CPC;
 Penhora de Empresa, de Outros Estabelecimentos e de Semoventes – arts. 862-865, CPC;
 Penhora de Percentual de Faturamento de Empresa – art. 866, CPC;
 Penhora de Frutos e Rendimentos de Coisa Móvel ou Imóvel – arts. 867-869, CPC.

- AVALIAÇÃO

A avaliação é o primeiro ato preparatório da expropriação, fixando os limites para a


alienação judicial do bem e impedindo que seja alienado por preço vil. A avaliação será feita, em
regra, pelo oficial de justiça (art. 870, caput, CPC). Caso haja necessidade de conhecimentos
especializados para fixar o valor do bem, e o valor da execução o comportar, será nomeado pelo
juiz um perito avaliador, que emitirá um laudo, em um prazo não superior a dez dias (art. 870,
parágrafo único, CPC).

Após a avaliação, a requerimento do interessado e ouvida a parte contrária (art. 874,


caput, CPC), o juiz mandará reduzir a penhora aos bens suficientes ou transferi-la para outros que
bastem à execução, se o valor do bem for considerado superior ao crédito (art. 874, I, CPC).
Poderá, ainda, ser ampliada a penhora como opção se o valor do bem for também superior ao
crédito (art. 874, II, CPC).
Efetivadas as providências de penhora e avaliação, o juiz dará início aos atos de
expropriação do bem (art. 875, CPC).

- EXPROPRIAÇÃO DE BENS

Os bens penhorados destinam-se à futura expropriação e, por isso, devem ficar


custodiados até o advento dessa etapa. Em regra, a nomeação do depositário recai sobre o
próprio devedor, salvo se o credor não concordar e o juiz assim decidir.

A expropriação nada mais é do que a alienação forçada dos bens penhorados, com o
escopo de pagar ao credor. A expropriação importará, assim, na perda da propriedade do
executado.

Entretanto, pode ocorrer apenas a perda da faculdade temporária de fruir do bem, nos
casos em que este se submete à exploração econômica paulatina, com o objetivo de gerar fundos
necessários ao pagamento do crédito exequendo. É o que se denomina de usufruto de bem móvel
ou imóvel (art. 825, III, CPC).

De acordo com o art. 825 do CPC, portanto, a expropriação consiste em adjudicação,


alienação e apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros
bens.

Os arts. 876 a 878 do CPC apontam a primeira modalidade de expropriação, constituindo a


mais simples de todas. Trata-se da adjudicação. Nessa, o exequente pode conseguir a aquisição do
bem penhorado pelo valor que o mesmo tiver sido avaliado.

A segunda modalidade de expropriação está regulamentada nos arts. 879 e seguintes do


CPC, correspondendo à alienação. A alienação pode ser dada por iniciativa particular (art. 879, I,
CPC) ou em leilão judicial sob as formas presencial ou eletrônica (art. 879, II, CPC).

Assim, não efetivada a adjudicação, o exequente poderá requerer a alienação por sua
própria iniciativa ou por intermédio de corretor ou leiloeiro público credenciado perante o órgão
judiciário, podendo indicá-lo (art. 880, caput, CPC).

A alienação por meio de leilão judicial inclui a alienação de bens móveis e imóveis, deve ser
realizada por leiloeiro público (art. 881, § 1º, CPC), sendo utilizada quando não efetivada a
adjudicação ou a alienação por iniciativa particular (art. 881, caput, CPC). Todos os bens devem ser
alienados em leilão público, com exceção das alienações a cargo de corretores de bolsa de valores
(art. 881, § 2º, CPC).

O art. 882 do CPC dá preferência à realização do leilão judicial eletrônico em detrimento do


presencial. A veiculação do ato judicial por meio eletrônico deverá atender aos requisitos de
ampla publicidade, autenticidade e segurança, com observância das regras estabelecidas na
legislação sobre certificação digital, além da regulamentação específica do CNJ (art. 882, §§ 1º e
2º, CPC).
Entretanto, não será aceito lance que ofereça preço vil (art. 891, CPC), assim considerado
aquele inferior ao mínimo estipulado pelo juiz e constante do edital. Caso não tenha fixado preço
mínimo, considera-se vil o preço inferior a 50% (cinquenta por cento) do valor da avaliação (art.
891, parágrafo único, CPC).

Anote-se que, “arrematado o bem, e emitido e entregue pelo arrematante ao leiloeiro,


tempestivamente, cheque no valor correspondente ao lance efetuado, não invalida a arrematação
o fato de não ter sido depositado o referido valor, em sua integralidade, à ordem do juízo, dentro
do prazo previsto pela lei processual”. Isso porque, de acordo com o art. 884 do CPC, o dever de
depositar é do leiloeiro, não do arrematante.

Realizada a praça ou o leilão e assinado o auto, expede-se a carta de arrematação,


documento destinado aos registros públicos (art. 901, § 2º, CPC), acompanhado de mandado de
imissão na posse, nos casos de bem imóvel ou a ordem de entrega, nos casos de bem móvel (art.
901, caput, CPC).

A expedição da carta de arrematação, assim como a da ordem de entrega de bem móvel,


está condicionada ao depósito ou prestação de garantias pelo arrematante, bem como ao
pagamento da comissão do leiloeiro e das despesas de execução (art. 901, § 1º, CPC).

A assinatura do auto de arrematação, regulada pelo art. 903 do CPC, configura perfeita e
acabada a arrematação, de forma que o ato, em regra, torna-se irretratável. As exceções dividem-
se em casos de invalidade, ineficácia e resolução da arrematação.

Será hipótese de invalidade, se realizada a arrematação por preço vil ou com outro vício de
legalidade (art. 903, § 1º, I, CPC); e de ineficácia, quando não observada a necessidade de
intimação do titular de direito real limitado sobre o bem arrematado (art. 903, § 1º, II, CPC).
Contudo, quando inadimplido o preço ou não prestada caução, ensejará resolução (art. 903, § 1º,
III).

Verificada qualquer dessas situações, o defeito deverá ser arguido em até dez dias do
aperfeiçoamento da arrematação, por simples petição, decidindo o juiz nos próprios autos (art.
903, § 2º, CPC).

Após esse prazo, preclui a oportunidade de se buscar a desconstituição do ato,


promovendo-se a expedição da carta de arrematação com o mandado de imissão na posse de
imóvel ou a ordem de entrega de coisa (art. 903, § 3º, CPC).

Ressalte-se que a arrematação será mantida mesmo que procedentes os embargos do


devedor ou a ação autônoma para invalidação da arrematação (art. 903, § 4º) – criada em
substituição aos embargos à arrematação do CPC/73.

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