Você está na página 1de 8

O Procedimento de

Injunção
(apontamentos sumários)

por,
Nuno Almeida Ribeiro
Agente de Execução
O Procedimento de Injunção;
- Breve caracterização e contextualização:
O procedimento de injunção é um procedimento especial previsto no Dec. Lei
269/98 de 1 de setembro, destinado a exigir o cumprimento de obrigações
1
pecuniárias emergentes de contrato, de valor não superior a 15000 euros (art.
1º do diploma preambular), ou de obrigações emergentes de transações
comerciais, independentemente do valor. (art. 7º do Dec. Lei 269/98).

Os procedimentos previstos no Dec. Lei 269/98 de 1 de setembro visam,


sobretudo, tornar mais céleres os processos de cobrança e retirar dos tribunais
trabalho com a prolação mecânica de despachos e sentenças, indutoras da
funcionalização dos magistrados. Estes procedimentos são:

1 - A ação declarativa destinada a exigir o cumprimento de obrigação


pecuniária emergente de contrato, prevista nos arts. 1º a 6º do Dec. Lei
268/98;
2 - O procedimento de injunção, previsto nos arts. 7º e ss. do Dec. Lei
269/98 (“(…) providência que tem por fim conferir força executiva a
requerimento destinado a exigir o cumprimento das obrigações (…)”);

Ambos os procedimentos se destinam à mesma finalidade, cabendo ao credor


optar por um deles, consoante pretenda o recurso à via judicial (ação
declarativa), ou à via não judicial (injunção).

Obviamente, o recurso à injunção tem vantagens face à ação declarativa, pois


tratando-se de um procedimento de natureza iminentemente administrativa,

1 não carece de intervenção obrigatória de mandatário;

2 a sua apresentação faz-se através do preenchimento simplificado de um


requerimento aprovado por Portaria;

3 a taxa de justiça é consideravelmente mais baixa do que a taxa de


justiça paga na ação declarativa (até 5000 euros – 0,5UC/ de 5000 a
15000 euros – 1 UC/ a partir de 15000 euros – 1,5 UC, conforme Tabela
II do Regulamento das Custas Processuais. Agravamento para as
entidades que tenham dado entrada, em tribunal, de mais de 200 ações
no ano anterior – art. 13º/n.º 3 do Regulamento das Custas
Processuais);

4 caso não ocorram vicissitudes, como a frustração da notificação do


requerido ou a apresentação de oposição, a aposição da fórmula
executória ocorre num prazo muito curto (maior celeridade).
Apresentação do requerimento de injunção:
O requerimento de injunção é apresentado no Balcão Nacional de Injunções
(BNA) e enviado eletronicamente, nos termos previstos no art. 5º/n.º 1 da
Portaria 220-A/2008 de 4 de março, ou via papel nas secretarias judiciais
competentes (art. 5º/n.º 2 a 5 da referida Portaria). A entrega do requerimento
de injunção por advogado ou solicitador é efetuada apenas por via eletrónica – 2

art. 19º do Dec. Lei 269/98.

No requerimento de injunção, o requerente deve identificar os elementos


previstos no n.º 2 do art. 10º do Dec. Lei 269/98:

• identificar as partes;
• indicar se existe domicílio convencionado (12º-A do Dec. Lei 29/98);
• expor sucintamente os factos;
• formular o pedido (10º/n.º 3 do Dec. Lei 269/98 – durante o
procedimento de injunção não é permitida a alteração dos elementos
constantes do requerimento, designadamente o pedido formulado);
• indicar se pretende que o processo seja apresentado à distribuição, no
caso de se frustrar a notificação;
• indicar o tribunal competente para apreciação dos autos, se forem
apresentados à distribuição (a este propósito ver as regras de fixação da
competência territorial, previstas nos arts. 70º e ss. do Código de
Processo Civil, nomeadamente, o art. 71º).

Subscrição do requerimento de injunção por


solicitador:
É importante salientar que o requerimento de injunção, independentemente do
valor, pode ser subscrito por solicitador, uma vez que, sendo um procedimento
de natureza administrativa, não está sujeito às regras do patrocínio judiciário,
previstas nos arts. 40º a 52º e 58º do Código de Processo Civil, as quais valem
apenas para as ações judiciais (consultar valor das alçadas: art. 44º da Lei
62/2013 de 26 de agosto - Lei da Organização do Sistema Judiciário).
(Não) Junção de documentos com o
requerimento de injunção:
Com o requerimento de injunção não são juntos quaisquer documentos, pois só
numa eventual fase judicial poderão ser necessários (art. 3º/n.º 4 do Dec. Lei
269/98. Quanto à procuração forense, basta a menção da sua existência, 3
quando for o caso, conforme previsto no art. 10º/n.º 5 do Dec. Lei 269/98.

A não oposição:
Se, depois de notificado, o requerido não deduzir oposição, o secretário aporá,
no requerimento de injunção, a seguinte fórmula: “Este documento tem força
executiva” – art. 14º/n.º 1 do Dec. Lei 269/98.

O secretário só pode recusar a aposição de fórmula executória quando o


pedido não se ajuste ao montante ou finalidade do procedimento, cabendo
reclamação para o Juiz deste ato – art. 14º/n.º3 e n.º 4 do Dec. Lei 269/98.

A aposição de fórmula executória implica o pagamento, pelo requerido, de juros


acrescidos, à taxa de 5% ao ano, a contar da data de aposição da fórmula
executória – art. 13º/n.º1, al. d) do Dec. Lei 269/98.

A oposição à injunção:
• prazos;
• taxa de justiça;
• tramitação após oposição.

Segundo o art 12º/n.º 1 do Dec. Lei 269/98, o prazo para o requerido deduzir
oposição, querendo, é de 15 dias.

Quanto às regras para a contagem do prazo, há que atentar no art. 4º do


diploma preambular ao Dec. Lei 269/98 de 1 de setembro: “À contagem de
prazos constantes das disposições do regime aprovado pelo presente diploma
são aplicáveis as regras do Código de Processo Civil, sem qualquer dilação.”

Assim, há que ter em conta as seguintes regras:


a) art. 279º/ al. b) do Código Civil – na contagem do prazo não se inclui o
dia em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr, ou
seja, o primeiro dia do prazo é o dia seguinte àquele em que se
considera feita a notificação, mesmo que esse dia seja sábado, domingo
ou feriado;
b) nos termos do art. 138/n.º 1 do Código de Processo Civil, o prazo é
contínuo, ou seja, contam-se os sábados, domingos e feriados, 4
suspendendo-se durante as férias judicias, salvo se se tratar de atos a
praticar em processos que a lei considere urgentes.
Nota: as férias judiciais decorrem de 22 de dezembro a 3 de janeiro, de
domingo de ramos a segunda feira de Páscoa e de 16 de julho a 31 de
agosto, conforme o art. 28º da Lei 62/2013, de 26 de agosto;
c) Quando o prazo para a prática do ato terminar em dia em que os
tribunais estiverem encerrados, transfere-se o seu termo para o primeiro
dia útil seguinte, conforme o art. 138º/n.º 2 do Código de Processo Civil.
Nota: o ato pode ainda ser praticado nos três primeiros dias úteis
subsequentes ao termo do prazo, ficando, porém, a sua validade
dependente do pagamento imediato de uma multa, nos termos definidos
no art. 139º/n.º5 do Código de Processo Civil (ver, também, números 6 a
8 do indicado art. 139º).

Taxa de justiça na oposição:


Segundo o art. 16º do Dec. 269/98, deduzida a oposição, ou frustrada a
notificação, a secretaria apresenta os autos à distribuição que imediatamente
se seguir.

O procedimento de injunção transmuta-se em ação declarativa, que segue os


termos previstos nos arts. 1º/n.º 4, 3º e 4º, conforme indicação do art. 17º,
todos do Dec. Lei 269/98. Quando tal acontece, é devido o pagamento de taxa
de justiça, nos termos da Tabela I do Regulamento da Custas Processuais,
pelo autor e réu, descontando-se, no caso do autor, o valor já pago. O prazo
para efetuar o pagamento é de 10 dias a contar da data da distribuição,
conforme art. 7º/n.º 6 do Regulamento das Custas Processuais (nota: somos
notificados para proceder a esse pagamento).
Tramitação do processo após dedução de
oposição pelo requerido:
1. Tendo o processo sido apresentado à distribuição, nos termos do art.
16º/n.º 1 do Dec. Lei 269/98 (consultar as regras de competência
territorial – arts. 70 e ss. do Código de Processo Civil), o duplicado da 5
oposição/contestação é remetido ao autor, simultaneamente com a
notificação da data de audiência de julgamento – art. 1º/n.º 4 do Dec. Lei
269/98.
2. Recebidos os autos, o Juiz pode convidar as partes a aperfeiçoar as
peças processuais – art. 17º/n.º 3 do Dec. Lei 269/98.
3. Se a ação tiver de prosseguir, pode o Juiz julgar logo procedente alguma
exceção dilatória ou nulidade, que lhe cumpra conhecer, ou decidir do
mérito da causa – art. 3º/n.º 1 do Dec. Lei 269/98.
4. A audiência de julgamento realiza-se dentro de 30 dias, não sendo
aplicável o disposto nos números 1 a 3 do art. 151º do Código de
Processo Civil – art. 3º/n.º 2 do Dec. Lei 269/98.
5. Quando a decisão final admita recurso ordinário, pode qualquer das
partes requerer a gravação de audiência – art. 3º/n.º 3 do Dec. Lei
269/98.
6. As provas são oferecidas na audiência, podendo cada parte oferecer até
três testemunhas, se o valor da ação não exceder a alçada do tribunal
de primeira instância, ou até cinco testemunhas, nos restantes casos.
Em qualquer dos casos, a parte não pode produzir mais de três
testemunhas sobre cada um dos factos que se propõe provar – art.
3º/n.º4 e n.º 5 do Dec. Lei 269/98.
7. Na audiência de julgamento, se as partes estiverem presentes ou
representadas, o Juiz procura conciliá-las – art. 4º/n.º 1 do Dec. Lei
269/98.
8. Não é motivo de adiamento a falta, ainda que justificada, de qualquer
das partes e, nas ações de valor não superior à alçada da primeira
instância, também a dos seus mandatários. Nas ações de valor superior
à alçada do tribunal de primeira instância, em caso de adiamento, a
audiência deve efetuar-se num dos 30 dias imediatos, não podendo
haver segundo adiamento – art. 4º/n.º 2 e n.º 3 do Dec. Lei 269/98.
9. Quando as partes não tenham constituído mandatário judicial, ou este
não comparecer, nas ações de valor não superior à alçada do tribunal de
primeira instância, a inquirição das testemunhas é efetuada pelo Juiz –
art. 4º/n.º 4 do Dec. Lei 269/98.
10. Se ao Juiz parecer adequada, para a boa decisão da causa, a
realização de alguma diligência, suspende a audiência e marca logo dia
para a sua realização, devendo o julgamento concluir-se em 30 dias; a
prova pericial é sempre realizada por um único perito – art. 4º/n.º 5 do
Dec. Lei 269/98.
11. Finda a produção da prova, pode cada um dos mandatários fazer uma
breve alegação oral – art. 4º/n.º 6 do Dec. Lei 269/98.
12. A sentença, sucintamente fundamentada, é logo ditada para a ata – art.
4º/n.º 7 do Dec. Lei 269/98 (raro acontecer).
13. Pode haver depoimento por escrito se a testemunha tiver conhecimento 6
dos factos por virtude do exercício das suas funções – art. 5º/n.º 1 do
Dec. Lei 269/98. O depoimento escrito deverá ser acompanhado de
cópia do documento de identificação do depoente e indicará se existe
alguma relação de parentesco, afinidade, amizade ou dependência – art.
5º/n.º 2 do Dec. Lei 269/98.
14. Se os autos forem apresentados à distribuição, em virtude da dedução
de oposição, cuja falta de fundamento o réu não devesse ignorar, é
condenado, na sentença, em multa de montante igual a duas vezes o
valor da taxa de justiça devida na ação declarativa – art. 13º/n.º 1 do
Dec. Lei 269/98.
Legislação importante:
• Dec. Lei n.º 269/98 de 1 de setembro (Cumprimento de Obrigações
Pecuniárias); 7

• Código de Processo Civil;

• Código Civil;

• Dec. Lei n.º 34/2008 de 26 de fevereiro (Regulamento das Custas


Processuais);

• Portaria 220-A/ 2008 de 4 de março (Balcão Nacional de Injunções


(BNI));

• Lei 62/2013 de 26 de agosto (Lei da Organização do Sistema Judiciário).

Nuno Almeida Ribeiro


934650198
nunoalmeidaribeiro@gmail.com

Você também pode gostar