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AÇÃO

a
3 EDIÇÃO/2023

​1. CONCEITO DE AÇÃO 2


​ .1. CARACTERÍSTICAS DA AÇÃO
1 4
​ .2. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES
1 4

​2. CONDIÇÕES DA AÇÃO 6


​2.1. INTERESSE DE AGIR 6
​2.2. LEGITIMIDADE DE PARTE 7
​2.3. FORMAS DE VERIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO 9

​3. ELEMENTOS DA AÇÃO 10


​3.1. PARTES 11
​3.2. CAUSA DE PEDIR 12
​3.3 PEDIDO 12


1
​1. CONCEITO DE AÇÃO

Em um primeiro momento não se via uma clara divisão entre Direito Material e Direito Processual,
dessa forma “se alguém tinha o seu direito de propriedade desrespeitado, e ia a juízo, entendia-se que, ao
fazê-lo, apenas punha em movimento o seu direito de propriedade. O direito de ação não era autônomo, isto
é, não havia o direito de ir a juízo para postular uma resposta do Poder Judiciário a uma pretensão.”1
“A ação é o poder de exigir do Estado um determinado provimento jurisdicional. Do ponto de vista
constitucional, a ação é uma garantia constante do art. 5º, inc. XXXV, da Constituição Federal, segundo o qual “a
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito”. A ação é, portanto, um
instituto ligado ao direito processual constitucional, método particular de exame do processo a partir dos
princípios, garantias e regras constantes da Constituição Federal. Por esse prisma constitucional, a ação pode
ser vista, a princípio, como uma garantia de acesso aos órgãos jurisdicionais.”2
Em outra palavras a Ação tem natureza de Direito Público Subjetivo exercido contra o Estado, sobre a
ideia explica o professor Marcus Vinicius: “ é direito subjetivo, porque o lesado tem a faculdade de exercê-lo, ou
não, e é contra o Estado, porque a ação põe em movimento a máquina judiciária, que, sem ela, é inerte. O
termo “ação” contrapõe-se ao termo “inércia”. É a ação que tira o Estado da sua originária inércia e o movimenta
rumo à tutela ou provimento jurisdicional. É exercida contra o Estado, porque dirigida a este, e não à parte
contrária. É verdade que o adversário do autor é sempre o réu, mas o direito de ação não é dirigido contra este,
mas contra o próprio Estado, porque serve para movimentá-lo.”3
Neste momento é importante também reforçarmos o conceito de Jurisdição: “é uma das funções do
Estado e consiste no poder-dever que este tem de substituir as partes na solução dos conflitos de interesse,
para que esta seja imparcial, proferida por quem não integra o litígio. É a jurisdição que garante a
imparcialidade na solução dos conflitos de interesse. Mas ela é inerte, e precisa que alguém tome a iniciativa de
movimentá-la.”4
É oportuno salientar que o conceito de Ação pode ser entendido em dois sentidos: amplo ou estrito.
No sentido amplo, a ação pode ser entendida como o direito fundamental de acesso à Justiça, mais
especificamente, de exigir do Poder Judiciário uma tutela jurisdicional adequada, tempestiva e efetiva. Nesse
prisma, o objetivo da ação é funcionar como um instrumento de provocação da jurisdição (pois é inerte)
para instauração do processo com o fim de resolver a lide.
Já em sentido estrito a ação costuma ser definida pela doutrina a partir das seguintes teorias:

TEORIAS DA AÇÃO EM SENTIDO ESTRITO5

TEORIA IMANENTISTA Ela foi adotada no art. 75 do CC/16: “a todo direito corresponde uma ação”.
(CLÁSSICA / CIVILISTA) Para essa teoria, a ação seria um produto do direito material,

Nesta teoria, a ação é tratada como um direito autônomo ao direito material,


TEORIA CONCRETA mas vinculada ao resultado. Portanto, só haveria direito de ação nas hipóteses
em que a pretensão do autor fosse acolhida.

1
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
2
Marcato, Antonio C. Código de Processo Civil Interpretado. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2022.
3
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022
4
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
5
BORBA, Mozart. Diálogos sobre o CPC. 7ª ed. Salvador. Ed. Juspodivm, 2020. Pg. 915
2
Para essa teoria, a ação é tratada com total autonomia do direito material, por
isso considerada abstrata. Assim, haverá o direito de ação independentemente
TEORIA ABSTRATA
do resultado da sentença, pelo simples fato de alguém ter provocado o Poder
Judiciário.

Seria de forma simples, uma mistura entre a teoria concreta com a abstrata.
Para essa teoria, o exercício do direito de ação dependerá do preenchimento
de condições para o exercício da ação, as quais provocarão uma resposta de
TEORIA ECLÉTICA
mérito, seja procedente ou improcedente. Também é considerada abstrata
(MISTA)
porque não exige a procedência do pedido para a caracterização do direito de
ação. Em suma, o direito de ação surge como direito a uma resposta de mérito.
Foi a teoria adotada pelo CPC de 1973.

📌 OBSERVAÇÃO
A execução também é ação? Tendo em vista que o cerne da Teoria Eclética é o “direito a uma resposta
de mérito” em um primeiro momento a execução poderia parecer fora deste conceito, no entanto ter em mente
que esta teoria exige, “para a caracterização da ação, que haja o direito a uma resposta de mérito, e não que
haja, necessariamente, o direito a uma sentença de mérito”. 6
A diferença entre Resposta de Mérito e Sentença de Mérito é explicada pelo professor Marcus Vinicius
em sua obra: 7

resposta é algo muito mais abrangente do que sentença. Há dois tipos de processo: o de conhecimento e o de
execução (o CPC ainda prevê processos antecedentes, em que se pede tutela cautelar ou antecipada, e que,
posteriormente, com a formulação do pedido principal, convertem-se em processos de conhecimento ou de
execução). Em ambos há pedido, tanto que se iniciam com uma petição inicial. Portanto, em ambos há mérito,
sinônimo de pedido. Mas os pedidos são muito diferentes: no processo de conhecimento, o que se quer é o
que o juiz diga quem tem razão, que ele declare o direito, decidindo se a razão está com o autor ou com o réu.
De uma maneira muito simplificada, processo de conhecimento é aquele que serve para que o juiz diga quem
tem razão. E, desde que preenchidas as condições, ele o fará. O meio processual pelo qual o juiz o diz é a
sentença de procedência ou improcedência. Quando ele a profere, diz se a razão estava com o autor ou com o
réu. Portanto, a resposta ao pedido, isto é, a resposta de mérito no processo de conhecimento, é a sentença
de procedência ou improcedência. Na execução, o pedido é muito diferente, de outra natureza. Não se quer
mais que o juiz diga, mas que ele faça, ou, mais precisamente, que satisfaça. A execução pressupõe que se
saiba com quem está a razão: com aquele munido de um título executivo. Assim, o que se pede não é que o
juiz o diga, por meio de uma sentença, mas que tome providências concretas, efetivas, materiais, de satisfação
do direito do exequente, por meio de penhoras, avaliações, arrestos, alienações judiciais e o oportuno
pagamento ao credor. Isso é o que se pede. Pois bem, se a execução estiver em termos e forem preenchidas
as condições, o juiz dará uma resposta ao pedido executivo. Só que essa resposta não virá sob a forma de uma
sentença – que serve para que o juiz diga alguma coisa –, mas da prática de atos concretos tendentes à
satisfação do credor. Tais atos também constituem uma forma de resposta àquilo que foi pedido, e, portanto,
uma forma de resposta de mérito.

6
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
7
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
3
Sistematizando8 :

TIPO DE PROCESSO PRETENSÃO (MÉRITO) RESPOSTA AO MÉRITO

PROCESSO DE CONHECIMENTO Que o juiz diga quem tem razão, O juiz, preenchidas as condições,
declarando qual o direito aplicável dirá quem tem razão ao proferir
à espécie. uma sentença de procedência ou
de improcedência.

EXECUÇÃO Que o juiz satisfaça o direito do O juiz, preenchidas as condições,


credor. determina providências concretas,
materiais, de satisfação do crédito,
tais como penhoras, avaliações e
alienações judiciais de bens.

1.1. CARACTERÍSTICAS DA AÇÃO


O professor Marcelo Ribeiro9 apresenta as seguintes características da ação:
1. Ser um poder jurídico: exercido para provocar o exercício da jurisdição e obter um provimento.
2. Possui caráter público: uma vez que no Brasil temos o princípio constitucional do monopólio de
jurisdição, de sorte que esse poder jurídico é exercido contra o Estado, mas em face de alguém, o réu.
3. Possui autonomia: vez que o exercício desse poder não demanda a existência de direitos substantivos
ou mesmo uma relação jurídica de direito material.

1.2. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES


Há inúmeras classificações das ações:
1. reais ou pessoais;
2. mobiliárias ou imobiliárias;
3. reipersecutória;
4. necessária;
5. de acordo com o tipo de tutela pretendida: conhecimento, execução e cautelar;
6. dúplices.

A ação reipersecutória, está prevista no art. 790, I do CPC, nas palavras do doutrinador Haroldo
Lourença “é toda ação em que se busca uma coisa (res), ou seja, em que se persegue algo, podendo ser real
(por exemplo, uma reivindicatória de um bem imóvel) ou pessoal (por exemplo, a ação de despejo)10”
Seguindo os ensinamentos de Haroldo Lourença11:

8
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
9
Ribeiro, Marcelo. Processo Civil, 2ª edição . Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2019.
10
Lourenço, Haroldo. Processo Civil Sistematizado . Disponível em: Minha Biblioteca, (6ª edição). Grupo GEN, 2021.
11
Lourenço, Haroldo. Processo Civil Sistematizado . Disponível em: Minha Biblioteca, (6ª edição). Grupo GEN, 2021.
4
“Ação necessária é aquela pela qual se afirma um direito que só pode ser exercido perante o Judiciário, como
uma ação anulatória, rescisória, falência, interdição etc., as quais geram processos necessários, em que o
interesse de agir dispensa demonstração, sendo in re ipsa.

Ação de conhecimento é a que visa certificar um direito, já a de execução busca efetivar o direito e, por fim, a
cautelar, a proteção da efetividade de um outro processo (acautelamento). Tal classificação, porém, está um
pouco esvaziada, eis que vivemos a era dos processos multifuncionais, não havendo uma pureza de funções,
ou seja, as ações não servem apenas ao conhecimento, à execução ou ao acautelamento, buscando-se “tudo
ao mesmo tempo”, por meio das ações sincréticas ou processos sine intervallo, que servem a mais de um
propósito. O sincretismo processual, que é a possibilidade de o processo servir a mais de um propósito, é um
fenômeno contemporâneo e irreversível.

No que se refere a demandas dúplices, a doutrina afirma que é aquela em que tanto o autor como o réu
podem formular pedido em seu favor, em que a simultaneidade da posição de autor e réu assumida pelos
litigantes decorre da pretensão deduzida em juízo. Imaginemos uma ação demarcatória dos limites de uma
propriedade, na qual a discussão irá possibilitar a tutela de um bem da vida a ambas as partes,
independentemente de suas posições processuais de autor ou réu, sendo desnecessário que o réu formule
pedido de fixação dos limites aquém ou além do que foi deduzido pelo autor, pois sua simples defesa
implicará a improcedência, ao menos parcial, do pedido do autor, e esta improcedência do pedido do autor
corresponderá ao atendimento da pretensão do réu.”

O Professor Marcus Vinicius traz as seguintes classificações12:


a. Classificação com base no fundamento: É costume designarmos uma ação pelo fundamento que a
embasa. Frequentemente se utilizam expressões como “ação real” ou “ação pessoal” para distinguir
entre aquelas que têm por fundamento um direito real ou um direito pessoal. Essa forma de
classificação não é adequada, porque o real ou pessoal não é ação, mas o direito material em que ela
está fundamentada. A ação em que o proprietário reivindica um bem não é, ela em si, real, mas está
embasada, fundada em um direito real.
b. Classificação pelo resultado: Também não é correto designarmos as ações pelo tipo de resultado que
pretendemos obter, em relação ao direito material (por exemplo, ação de rescisão de contrato, ou de
prestação de contas, ou possessória). Uma vez que foi acolhida entre nós uma teoria abstratista, que
sustenta que a ação goza de autonomia em relação ao ­direito material, não é razoável classificá-la de
acordo com os aspectos materiais discutidos. O correto é considerar apenas os aspectos propriamente
ligados à atividade jurisdicional desencadeada.
c. Classificação quanto ao tipo de atividade exercida pelo juiz: Tradicionalmente, é possível identificar,
com base nesse critério, dois tipos fundamentais de ação: as de conhecimento ou cognitivas e as de
execução, que formarão processos de conhecimento e de execução. O que distingue cada uma delas? A
atividade que o juiz é chamado a desempenhar. Nas de conhecimento, pede-se que ele profira uma
sentença, na qual dirá se a razão está com o autor ou não, bem como se ele tem ou não direito ao
provimento jurisdicional postulado. Nas de execução, o que se pede são providências concretas,
materiais, destinadas à satisfação do direito. Não mais que o juiz, por meio de uma sentença, diga
quem tem razão, mas que faça valer, por meios adequados, o direito ao seu respectivo titular.

12
Gonçalves, Marcus Vinicius R. Esquematizado - Direito Processual Civil. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Editora Saraiva, 2022.
5
2. CONDIÇÕES DA AÇÃO

“As condições da ação têm como finalidade precípua otimizar a atividade jurisdicional, evitando o
desperdício de tempo e atividade jurisdicional, assim, objetivam evitar a propositura de ações totalmente
descabidas e infundadas e, durante o processo, evitar a prática de atos desnecessários, claramente incabíveis”13
Como dito, no ordenamento jurídico brasileiro, o direito processual de ação é condicionado e, por isso,
só é possível exercê-lo se houver preenchimento dos requisitos previstos para tanto. As condições da ação são,
portanto, requisitos para que haja o direito processual de ação.
De acordo com Liebman, a razão para a existência de condições da ação é a economia processual, pois
estas representam a ponte entre o direito processual de ação e o direito material e permitem que o juiz, de
plano, possa extinguir o processo sem fazer uso da máquina estatal.
No Brasil, existem duas condições processuais, conforme o artigo 17 do CPC, quais sejam, a (I)
Legitimidade ad causam e o (II) Interesse de agir, os quais tratam-se de matéria de ordem pública, podendo
ser analisadas de ofício pelo juiz.
No ponto, ressalta-se que no Código de Processo Civil anterior, havia uma terceira condição da ação:
possibilidade jurídica do pedido. Todavia, no CPC de 2015, a possibilidade jurídica do pedido não consta mais
como elemento da ação. Para justificar essa supressão, há duas teorias: 1ª) A possibilidade jurídica do pedido
virou uma condição da ação vinculada ao interesse de agir. 2ª) Não existe mais a possibilidade jurídica do
pedido como elemento da ação. Segundo essa corrente, a impossibilidade jurídica do pedido está relacionada
ao mérito. Não há posição dominante na doutrina quanto ao tema.
Ademais, vale ressaltar que, o CPC atual não usa mais a expressão “condições” (conforme se percebe no
Art. 485) para se referir aos requisitos da ação, mas sim a expressão pressupostos.
Passemos, agora, ao exame das condições da ação previstas pelo art. 17 do CPC/15.

2.1. INTERESSE DE AGIR


O interesse processual ou interesse de agir se refere sempre à utilidade que o provimento jurisdicional
pode trazer ao demandante. O professor Antônio Carlos14 continua seus ensinamentos:

“Para a comprovação do interesse processual, primeiramente, é preciso a demonstração de que sem o


exercício da jurisdição, por meio do processo, a pretensão não pode ser satisfeita. Daí surge a necessidade
concreta da tutela jurisdicional e o interesse em obtê-la (interesse-necessidade). A necessidade pode surgir
por força da resistência do obrigado no cumprimento espontâneo do que foi pactuado ou ainda por força da
indispensabilidade do exercício da jurisdição para a obtenção de determinado resultado. Tal ocorre nas
chamadas ações constitutivas necessárias nas quais o exercício da jurisdição para a obtenção do resultado
pretendido é indispensável. Não se pode anular um matrimônio, por exemplo, sem a propositura de demanda
judicial direcionada à obtenção do resultado pretendido.”

A definição do interesse de agir pode adotar um conceito tripartido ou bipartido, conforme a doutrina.

13
Lourenço, Haroldo. Processo Civil Sistematizado . Disponível em: Minha Biblioteca, (6ª edição). Grupo GEN, 2021.
14
Marcato, Antonio C. Código de Processo Civil Interpretado . Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2022.
6
No primeiro, são considerados como seus elementos a utilidade, adequação e necessidade. No segundo, são
considerados apenas a utilidade e necessidade ou adequação e necessidade.
Vejamos, então, a definição de cada um desses elementos.
a) Utilidade: Deve a prestação jurisdicional buscada apresentar alguma utilidade, aqui entendida como
melhoria da situação fática, para o autor
b) Necessidade: Sem a intervenção jurisdicional o autor não obtém a pretensão buscada.

Há necessidade quando existe LIDE (pretensão resistida) e é necessário, portanto, a intervenção


jurisdicional. Só é possível exercitar o direito processual da ação: (i) se houver uma disposição legal específica
que obrigue o autor a ingressar com a ação (imposição legal) ou (ii) se não houver uma disposição legal
específica que obrigue o autor a ingressar com a ação, mas não for possível resolver a questão
extrajudicialmente (resistência).
Exemplos:
• Adoção e divórcio com filhos incapazes (são hipóteses que só são possíveis por meio de processo
judicial) – imposição legal.
• “A” ingressa na justiça para cobrar o valor que “B” deve a ele e não quer pagar – resistência.

📌 OBSERVAÇÃO
Atualmente, a jurisprudência tem se inclinado para exigir requerimento administrativo prévio como
condição para ajuizamento da ação (manifestação do interesse processual necessidade).

c) Adequação: O pedido deve ser adequado para resolver a lide. A demanda judicial deve ser feita pela
via adequada. Como exemplo disso, tem-se o mandado de segurança, o qual só pode ser utilizado
quando há prova pré-constituída. Se o autor/impetrante ingressar com um mandado de segurança sem
as provas documentais pré-constituídas, o juiz extinguirá o processo sem resolução do mérito (após
intimar o autor para emendar a petição inicial, desde que ele não faça as adequações necessárias).

2.2. LEGITIMIDADE DE PARTE


Consiste na pertinência subjetiva da demanda (situação prevista em lei que legitima a presença do
sujeito na relação jurídica processual).
Pode ser dividida em:
1. Legitimação Ordinária (art. 18, CPC), na qual o sujeito litiga em nome próprio na defesa de interesse
próprio e trata-se da regra do ordenamento jurídico brasileiro.
2. Legitimação Extraordinária, na qual o sujeito litiga em nome próprio por interesse alheio e trata-se de
exceção no ordenamento jurídico pátrio, ocorrendo apenas em casos expressos (substituição
processual é sinônimo de legitimação extraordinário, vide STJ, AgRg REsp. 1.188.180/RJ).
Acerca da da legitimação extraordinária e das figuras do substituto e substituído processual, importante
se atentar para a tabela a seguir:

7
SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL15

Titular da ação – autorizado pelo


ordenamento jurídico – que age em
juízo em nome próprio, mas pleiteando
direito alheio (ou que não é o único
Um exemplo seria a atuação de um sindicato
titular).
em ação coletiva quando pleiteia um reajuste
SUBSTITUTO
⚠️ ATENÇÃO da categoria. Perceba que o sindicato pede em
juízo um direito alheio. Ele, sindicato, age em
Substituído processual é o titular do
nome próprio, mas demanda direito de
direito material e possui interesse
outrem, dos sindicalizados (que são os
jurídico no processo. Diante disso,
substituídos).
poderá atuar como assistente
litisconsorcial.

Titular da pretensão material que está


SUBSTITUÍDO sendo exercida em juízo pelo substituto
processual.

Sobre o tema, vale mencionar, ainda, que a substituição processual é diferente da representação
processual. O representante não é parte, pois está no processo em nome alheio na defesa de interesse
alheio; já o substituído é parte porque, apesar de buscar a defesa de interesse alheio, atua em nome próprio.
Já no que diz respeito ao microssistema de direitos difusos e coletivos, é possível dizer que o legitimado
coletivo é aquele que estará no processo em nome próprio na defesa de interesse da coletividade ou da
comunidade. Salienta-se que, para uma parcela da doutrina (MARINONI e NERY), teríamos nesse cenário a
legitimação autônoma para a condução do processo, mas para outra (BARBOSA MOREIRA e DINAMARCO),
tratar-se-ia de simples legitimidade extraordinária.
Por fim, oportuno ter mente outras classificações da legitimidade, a saber:

​CLASSIFICAÇÃO DA LEGITIMIDADE

​AUTÔNOMA ​Legitimidade da parte.

​SUBORDINADA ​Legitimidade do assistente simples.

​EXCLUSIVA ​Legitimidade de apenas um sujeito.

Legitimidade de mais de um sujeito. Poderá ser:


​CONCORRENTE a) Isolada/disjuntiva: bastando a atuação de um dos legitimados;
b) Conjunta/complexa: demandando a atuação de todos;

​TOTAL ​Legitimidade para todo o processo.

15
BORBA, Mozart. Diálogos sobre o CPC. 7ª ed. Salvador. Ed. Juspodivm, 2020. Pg. 918
8
​PARCIAL ​Legitimidade para determinados atos.

2.3. FORMAS DE VERIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO


Para estabelecer a forma verificar a existência das condições da ação, existem duas principais teorias: a
teoria da asserção e a teoria da exposição ou comprovação.
Para a TEORIA DA ASSERÇÃO, as condições da ação devem ser demonstradas in status assertionis, ou
seja, em abstrato, da maneira em que foram apresentadas ao juiz na petição inicial. Se, no momento de
propositura da ação, for constatada a ausência de condições da ação, o juiz, de plano, pode julgar o processo
extinto sem resolução do mérito. Entretanto, se, para chegar à conclusão de ausência de condições de ação, o
juiz precisar citar o réu, colher provas, entre outras ações, o caso já não será julgado sem mérito. Dessa forma,
tem-se que para referida teoria, parte-se do pressuposto que a parte está dizendo a verdade, uma vez que
o exame das condições da ação dispensa a produção de prova.
A principal crítica doutrinária à teoria da asserção é que a natureza de um instituto jurídico (no caso, as
condições da ação) não pode mudar de acordo com o momento em que ele é reconhecido. Bastaria ao autor
mentir em sua petição inicial para que a legitimidade e o interesse deixassem de ser condições da ação para
tornarem-se questões de mérito.

⚠️ ATENÇÃO
Alguns autores (ex: Didier) até entendem que tal análise possa ser feita depois da petição inicial, mas
desde que ainda com uma cognição superficial das alegações feitas pelo autor. O autor em referência aponta
que não é o momento que caracteriza a teoria da asserção, mas sim a produção ou não de prova para a verificação
do preenchimento das condições da ação.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Defensor Público do Estado de Roraima (FCC - 2021), sobre a teoria da asserção, foi assinalado
como CORRETA a assertiva que disse: “a verificação de ilegitimidade passiva do réu após a produção de provas
enseja a extinção do processo com resolução do mérito.“

Já para a TEORIA DA EXPOSIÇÃO OU COMPROVAÇÃO, as condições da ação devem ser examinadas


em concreto, com todos os dados possíveis fornecidos pelo autor à luz do direito material e eventualmente
refutados pelo réu e pelas provas constantes dos autos.

⚠️ ATENÇÃO
No Brasil, a doutrina majoritária adota a TEORIA AUTONOMISTA/ABSTRATIVISTA E ECLÉTICA das
condições da ação (Liebman). No âmbito do STJ, mais recentemente, tem prevalecido a teoria da asserção
(Tema nº 939 – Repetitivo). Neste sentido: REsp nº 818.603/RS; REsp nº 1.395.875/PE, Segunda Turma, DJe
7/3/2014).

9
Destaque-se que a decisão que reconhece a falta de uma das condições da ação é uma decisão sem
mérito.
Importante perceber que, no CPC/15, a legitimidade e interesse devem ser demonstrados por todos
aqueles que postulam no processo, não se reduzindo ao autor e ao réu. O conceito de partes é dinâmico. Como
exemplo, num caso de impedimento e suspeição, o juiz é parte (réu).

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Promotor de Justiça do Estado da Bahia (Fundação CEFETBAHIA - 2018), foi apresentado o texto
que segue: “O direito de ação é deduzido a partir das noções de jurisdição e processo, e ocorre quando o
Estado, substituindo o particular, resolve conflitos entre os sujeitos de direito, exercendo de fato a jurisdição. O
resultado processual advindo desse direito de agir provocando o Estado-juiz dependerá de certas condições.”
Sob esse aspecto, tendo ainda a noção de ação como um elemento fundamental do direito processual, foi tido
como CORRETO afirmar que: “não há nenhuma condição atrelada ao direito de postular em juízo, embora se
revele prejudicado o exame do mérito da ação, se ausente o interesse processual ou a legitimidade.”
Na prova para Magistratura do Estado de São Paulo foi questionado: “O momento processual adequado para
ser examinada, pelo julgador, questão envolvendo ilegitimidade das partes será:
I. quando do despacho da petição inicial;
II. no despacho saneador;
III. no despacho saneador ou na sentença;
IV. quando do julgamento do recurso.”
Tendo sido consideradas CORRETAS todas as afirmativas acima.
Na prova para Magistratura do Estado de São Paulo foi questionado: “O sistema faculta ao juiz rever de ofício
decisões interlocutórias ­irrecorríveis:" Tendo sido considerada CORRETA a alternativa que completou: “se
atinentes aos pressupostos processuais ou às condições da ação”
Na prova para Procurador do município de Belo Horizonte/MG (CESPE - 2017), foi considerada CORRETA a
afirmar que disse: “A falta de condição da ação, ainda que não tenha sido alegada em preliminar de
contestação, poderá ser suscitada pelo réu nas razões ou em contrarrazões recursais.”
Na prova para Magistratura do Trabalho da 4ª região (RS) (Baca própria - 2016), foi determinado que assinalasse
a resposta INCORRETA, sendo assinalada a resposta a seguir: “São condições da ação, conforme previsão
expressa, e, portanto, matéria de ordem pública, sobre as quais o Juiz deve se pronunciar de ofício, a
legitimidade de parte, o interesse processual e a possibilidade jurídica do pedido.”

​3. ELEMENTOS DA AÇÃO

Segundo Marcus Vinicius Rios Gonçalves, os elementos da ação a constituem e a identificam,


permitindo analisar se ela é idêntica a outra (hipótese em que haverá litispendência ou coisa julgada), se é
semelhante a outra (hipótese em que haverá conexão ou continência), ou se é diferente.

10
Nas palavras de Marcelo Ribeiro16:

“Os elementos da ação, aqui compreendidos pela parte, pelo pedido e pela causa de pedir, traduzem os
elementos da relação jurídica, outrora estudados na Teoria Geral do Direito e que, aqui, identificam a situação
concreta deduzida em juízo, sobre a qual se demanda uma resposta judicial.

Perceba que esses três elementos, quando regulados pelo direito material, no Código Civil, retratam,
respectivamente: os sujeitos de direito (partes), o bem (pedido) e o fato jurídico que desenlaça a própria
relação jurídica (causa de pedir)”.

Diferem-se das condições da ação, porque estas são requisitos que devem existir para o exercício do
direito de ação, e são divididos em: partes, causa de pedir e pedido.
Passemos, pois, à análise individualizada dos conceitos.

3.1. PARTES
Geralmente tratam-se do autor (quem pede) e do réu (a quem se pede), mas devem ser consideradas
com uma visão dinâmica e não estática. Há algumas divergências na doutrina que merecem atenção, a
saber:
1. CHIOVENDA afirma que parte é quem pede e contra quem se pede tutela jurisdicional (conceito
restrito). Assim, seriam partes o autor, réu, denunciado à lide, chamado ao processo, o sócio ou pessoa
jurídica diante da desconsideração.

2. LIEBMAN, por outro lado, afirma que parte é todo sujeito que participa da relação jurídica processual
em contraditório como titular das situações jurídicas ativas e passivas (conceito amplo). Ou seja, além
das figuras citadas no item anterior, são também considerados partes o assistente, amicus curiae e o
MP.

3. DINAMARCO adota posição que congloba as duas anteriores. Assim, teríamos partes na demanda
(conceito de Chiovenda) e partes no processo (conceito de Liebman).

📌 OBSERVAÇÕES
■ Tanto no conceito restritivo quanto no conceito ampliativo, o juiz não é considerado parte.
■ Não há posição dominante em relação a esse tema. Trata-se apenas de discussão doutrinária.

Segundo as palavras de Marcelo Ribeiro:

“Podemos concluir que autor é aquele que pede, e o réu, aquele em face de quem se pede, pois, como
sabemos, o pedido não é dirigido diretamente ao réu, mas sim ao Estado, que, no Brasil, detém o monopólio
da jurisdição. Em razão da autonomia entre as já comentadas esferas de direitos, cabe aqui uma importante
observação: nem sempre aquele que se apresenta como titular ou integrante da relação de direito material

16
Ribeiro, Marcelo. Processo Civil, 2ª edição . Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2019.
11
será necessariamente aquele a buscar sua guarda em juízo, pois, em alguns casos, o ordenamento permite
que um terceiro vá a juízo e deduza um pedido em face de outra pessoa. ”17.

3.2. CAUSA DE PEDIR


Trata-se do “porquê” do processo. No Brasil, adota-se a teoria da substanciação, a qual consiste na
ideia de que, para a admissão da ação, não é suficiente que se diga apenas qual é a norma legal que sustenta o
pedido (fundamento legal), é necessário que sejam citadas a razão jurídica (fundamento jurídico) e a razão de
fato (fundamento de fato), de modo que o elemento de maior importância é a descrição dos fatos, pois irá
vincular o magistrado. Tal teoria pressupõe que o juiz já conhece o direito, por isso o importante é uma
descrição fática correta, tendo em vista que o juiz que dará a palavra final sobre o direito posto.

📌 OBSERVAÇÕES
■ A título de conhecimento, vale mencionar a teoria da individuação, a qual apregoa que basta o
fundamento jurídico para que o Estado tenha que pronunciar um julgamento, mas que não é adotada no Brasil.
■ Muitos autores chamam a causa de pedir fundamento jurídico de “próxima” (a tese jurídica) e a causa
de pedir de “remota” (narrativa fática). Apesar de predominante, tal entendimento não é pacífico, pois alguns
autores invertem a causa de pedir próxima e a causa de pedir remota, com o fundamento de que a teoria da
substanciação, aparentemente, impõe a prevalência do fundamento de fato sobre o fundamento jurídico.
■ Não confunda fundamento jurídico com fundamento legal. Fundamento jurídico é a tese jurídica;
fundamento legal é a indicação do dispositivo do ordenamento jurídico que sustenta a tese jurídica. O
fundamento legal não é de indicação obrigatória pelas partes, pois, no Brasil, vige a ideia de “jura novit curia”,
ou seja, o juiz conhece o direito.

3.3 PEDIDO
“O pedido pode ser definido como o elemento nuclear da ação, pois, enquanto manifestação da
pretensão deduzida em juízo, é sobre ele que incidirá a decisão. Por exigência dos arts. 322 e 324 do CPC, o
pedido deve ser certo (expresso) e determinado. Compreendem-se, no pedido principal, os juros legais, a
correção monetária e as verbas de sucumbência, incluindo-se também os honorários advocatícios”18.

Art. 322. O pedido deve ser certo.

§ 1º Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive


os honorários advocatícios.

§ 2º A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé.

(...)

Art. 324. O pedido deve ser determinado.

§ 1º É lícito, porém, formular pedido genérico:

I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados;

II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato;

17
Ribeiro, Marcelo. Processo Civil, 2ª edição . Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2019.
18
Ribeiro, Marcelo. Processo Civil, 2ª edição . Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2019.
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III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado
pelo réu.

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção.

Consiste na prestação jurisdicional que se busca em juízo. Poder ser dividido em:
● Imediato: é o pedido contra o Estado, ou seja, o pedido de tutela jurisdicional.
● Mediato: é o pedido contra o réu, é o bem da vida buscado.

📌 OBSERVAÇÃO
O réu pede tutela declaratória negativa, ou seja, improcedência do pedido do autor.

Vale dizer que o pedido deve apresentar certeza e determinação, nos termos dos arts. 322 e 324, CPC,
os quais tratam-se de elementos cumulativos.
A certeza do pedido consiste na identificação da espécie de tutela e do gênero do bem da vida. Já a
determinação é a liquidez, ou seja, a quantidade e a qualidade do bem da vida. O art. 324, §1º, CPC, estabelece
exceções a essa regra, permitindo a formulação de pedido genérico nas ações universais, se o autor não puder
individuar os bens demandados; quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou
do fato; ou quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser
praticado pelo réu.
Por fim, deve-se dizer que o pedido seja expresso (art. 492, CPC), mas a tutela que o juiz conceder de
ofício é considerada como pedido implícito.

Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em
quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.

Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para Técnico do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (FGV - 2016), foi assinalado como
CORRETA a alternativa que disse: “causa de pedir, legitimidade e demanda”

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