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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

IASMINNI RACHADEL FERREIRA MENDES

O DANO MORAL DECORRENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR VÍCIOS


CONSTRUTIVOS SOB A ÓTICA DA JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DE SANTA CATARINA NO ANO DE 2022

Palhoça
2022
IASMINNI RACHADEL FERREIRA MENDES

O DANO MORAL DECORRENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR VÍCIOS


CONSTRUTIVOS SOB A ÓTICA DA JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DE SANTA CATARINA NO ANO DE 2022

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Direito da Universidade do Sul de
Santa Catarina como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Dagliê Colaço, Ma.

Palhoça
2022
IASMINNI RACHADEL FERREIRA MENDES

O DANO MORAL DECORRENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR VÍCIOS


CONSTRUTIVOS SOB A ÓTICA DA JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DE SANTA CATARINA NO ANO DE 2022

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel e aprovado em sua forma final pelo
Curso de Graduação em Direito, da
Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 09 de dezembro de 2022.

______________________________________________________
Professor e orientador Dagliê Colaço, Ma.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Deisi Cristini Schveitzer, Ma.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Tânia Maria Françosi Santhias, Ma.
Universidade do Sul de Santa Catarina
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

O DANO MORAL DECORRENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR VÍCIOS


CONSTRUTIVOS SOB A ÓTICA DA JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DE SANTA CATARINA NO ANO DE 2022

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de
Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de Conclusão de Curso.
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso
de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça, 09 de dezembro de 2022.

____________________________________
IASMINNI RACHADEL FERREIRA MENDES
Dedico este trabalho à pessoa que foi meu
porto seguro, meu alicerce e minha força, meu
grande amor, André Felipe Mendes.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, o autor e consumador da minha fé, sem o qual eu


sequer estaria aqui, à Ele a honra, a glória e louvor para sempre.
Este trabalho é uma pequena parte de toda minha trajetória acadêmica, a qual algumas
pessoas tiveram parte de uma forma ou de outra, e sem as quais talvez eu não tivesse chegado
tão longe.
Dessas pessoas, menciono primeiro o meu marido, André Felipe Mendes. Me faltam
palavras para agradecer todo o apoio, suporte e força que me deu em todos os anos da minha
graduação. Esteve comigo desde o primeiro dia de aula, me viu passar noites em claro
inúmeras vezes e em muitas ficou acordado comigo só para me fazer companhia. Viu meus
surtos, consolou meus choros e me deu forças quando nem eu acreditava em mim mesma.
Esteve comigo também em inúmeros momentos de felicidade. Meu amor, sem você eu não
teria conseguido, te amo e te agradeço hoje e sempre.
Agradeço também à minha família, que sempre me apoiou, que torce por mim todos os
dias e que sei o quanto se orgulha da minha trajetória. Meu pai, Giovani Ferreira, pelo apoio
para conseguir iniciar minha graduação e por sempre torcer por mim. Minha mãe, Vanessa
Merize, que sempre está pronta para aplaudir minhas vitórias. Meus avós, Dica e João, eu os
amo de todo meu coração. Minha madrinha Viviani Ferreira, que me deu meu primeiro Vade
Mecum e até hoje tem meu contato salvo como “Promotora”, obrigada por todo o apoio.
Minha prima Thaysi Silva, sempre torcendo e se orgulhando de mim, obrigada pela sua
amizade.
Agradeço, ainda, à família que não é de sangue, mas que me acolheu e me tem como
filha, e sempre torcem por mim e me apoiam de todas as formas possíveis, meus sogros Cátia
e Marcelo Mendes, meu muito obrigada. Meu cunhado, Jonatas Mendes, agradeço por ser
meu parceiro e amigo, e por comemorar cada vitória minha como se fosse sua.
Aos meus poucos, mas ótimos amigos, por todo o carinho, apoio, risadas e rolês:
Bruna Possenti e Samuel Vicente, Maria Helena e Matheus Martins, Ana Paula e Lucas
Damaceno, contem comigo assim como sei que posso contar com vocês.
Por fim, à minha orientadora, Dagliê Colaço, que me aturou em muitos surtos, atrasos
e doidices, e que tenho certeza de que foi minha melhor escolha para esse momento, seus
conselhos, sua organização e sua atenção foram imprescindíveis para que eu pudesse enfrentar
essa etapa, meu muito obrigada.
RESUMO

A presente monografia teve como finalidade responder o seguinte questionamento: quais


foram os principais critérios utilizados pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina no ano de
2022 para a concessão de danos morais por vícios construtivos? Para cumprir com este
objetivo, analisou-se o instituto da responsabilidade civil, explicando seus conceitos, espécies
e elementos, dentre eles o dano moral, com base no Código Civil e no Código de Defesa do
Consumidor. Em seguida, foi abordada a responsabilidade civil no âmbito da construção civil,
elucidando o que são os vícios construtivos, esclarecendo a responsabilidade dos construtores
e incorporadores por falhas na construção, bem como as hipóteses de exclusão de sua
responsabilidade. Por fim, foi feita a pesquisa das decisões do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina no ano de 2022 que versaram sobre danos morais por vícios construtivos, verificando
quais os argumentos utilizados pelos magistrados para a concessão, ou não, do dano moral na
hipótese. O método de pesquisa utilizado foi o dedutivo qualitativo, com a técnica de pesquisa
bibliográfica e documental. Chegou-se à conclusão que o Tribunal de Justiça de Santa
Catarina não utiliza de um parâmetro único para a concessão da indenização, sendo analisadas
as particularidades de cada caso concreto, observando principalmente o tipo e a gravidade do
vício construtivo, o tempo em que perdurou o vício e a conduta do causador do dano, de tentar
ou não solucionar a questão. Além disso, verificou-se que grande parte das decisões que
negaram a indenização utilizaram como argumento a ausência de prova efetiva de dano moral,
entendendo pela ocorrência de mero inadimplemento contratual, em que não há o dever de
indenizar. Por fim, constatou-se que as decisões analisadas estão em conformidade com o
entendimento doutrinário e jurisprudencial sobre o tema, que entendem não ser cabível o dano
moral nos casos de inadimplemento contratual sem efetiva comprovação de lesão
extrapatrimonial.

Palavras-chave: Responsabilidade civil. Dano moral. Vícios Construtivos.


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Concessão do dano moral ...................................................................................... 40


Gráfico 2 – Valores dos danos morais ...................................................................................... 41
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
2 RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................................................ 12
2.1 O CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................... 12
2.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL ..................................................... 12
2.2.1 Responsabilidade civil contratual e extracontratual .......................................... 13
2.2.2 Responsabilidade civil subjetiva e objetiva ......................................................... 14
2.2.3 Responsabilidade civil nas relações de consumo ................................................. 15
2.3 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................... 16
2.3.1 Ato ilícito ................................................................................................................. 16
2.3.2 Culpa ....................................................................................................................... 17
2.3.3 Nexo causal ............................................................................................................. 18
2.3.4 Dano......................................................................................................................... 19
2.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL .......................................... 21
2.4.1 Culpa exclusiva da vítima...................................................................................... 21
2.4.2 Caso fortuito e força maior ................................................................................... 22
2.4.3 Excludentes previstas no Código de Defesa do Consumidor ............................. 22
2.4.3.1 Não colocação do produto no mercado .................................................................... 23
2.4.3.2 Inexistência de defeito ............................................................................................. 24
2.4.3.3 Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro ........................................................ 24
3 RESPONSABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL ........................................ 26
3.1 PATOLOGIAS NA CONTRUÇÃO CIVIL ............................................................ 26
3.1.1 Solidez e segurança da obra .................................................................................. 27
3.1.2 Perfeição da obra ................................................................................................... 28
3.1.3 Vícios redibitórios .................................................................................................. 29
3.2 RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR, DO INCORPORADOR E DO
AGENTE FINANCEIRO ........................................................................................ 30
3.2.1 Construtor............................................................................................................... 30
3.2.2 Incorporador .......................................................................................................... 31
3.2.3 Agente Financeiro .................................................................................................. 32
3.3 INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NA
CONSTRUÇÃO....................................................................................................... 34
3.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL NA CONSTRUÇÃO ....... 36
4 O DANO MORAL POR VÍCIOS CONSTRUTIVOS NA JURISPRUDÊNCIA
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA NOS MESES DE
JANEIRO A OUTUBRO DE 2022 ....................................................................... 39
4.1 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL............................................................................ 40
4.1.1 Processos que concederam danos morais por vícios construtivos ..................... 41
4.1.2 Processos que não concederam danos morais por vícios construtivos .............. 44
4.2 O DANO MORAL POR INADIMPLEMENTO CONTRATUAL ......................... 49
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 52
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 54
APÊNDICE A – LISTAGEM DOS PROCESSOS ANALISADOS .................. 59
ANEXO A – EMENTAS DOS PROCESSOS ANALISADOS .......................... 61
10

1 INTRODUÇÃO

A construção civil está presente desde o princípio das civilizações, tendo sido
aprimorada ao longo dos anos com o avanço da tecnologia. Com o aumento significativo da
população, a demanda dessa área passou a crescer de forma considerável, de modo que foram
surgindo cada vez mais construções, para todas as necessidades.
Com o crescimento no número de construções, intensificou-se também a quantidade
de problemas relacionados à construção, os denominados vícios construtivos, gerados tanto
pela má qualidade dos materiais construtivos, quanto pela má execução do serviço de
construção.
Diante destes problemas construtivos, os donos de uma obra, ou os adquirentes de
unidades imobiliárias, muitas vezes sem conseguir acionar os responsáveis pela construção de
forma extrajudicial, se veem compelidos a acionar o judiciário para resolver seu problema,
pleiteando, juntamente com o pedido de resolução dos vícios, uma indenização moral pelo
transtorno sofrido.
Dessa forma, cabe o questionamento: em quais hipóteses são cabíveis danos morais
por vícios de construção?
O presente trabalho objetiva responder essa pergunta, com a análise da indenização
por danos morais em decorrência de vícios construtivos sob a ótica da jurisprudência do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina, de modo a verificar quais são os critérios utilizados
pelo órgão julgador para a concessão, ou não, de dano moral por vícios construtivos.
Ademais, a fim de responder o questionamento acima, são objetivos da presente
monografia a conceituação do instituto da responsabilidade civil, com seus elementos,
espécies e excludentes, bem como a compreensão da responsabilidade civil no âmbito da
construção civil, visando apresentar os agentes que podem ser responsabilizados por defeitos
na construção.
O tema é pertinente em virtude da quantidade de demandas que o judiciário recebe em
razão dessa situação, além disso, é interessante entender se há uniformidade nas razões
proferidas pelo Tribunal para a concessão do dano.
Para ser possível cumprir com o objetivo ora apresentado, este trabalho se divide em
cinco capítulos, sendo um de introdução, três de desenvolvimento, e um com as considerações
finais a respeito do tema abordado.
O primeiro capítulo de desenvolvimento tratará acerca do instituto da responsabilidade
civil de forma geral, buscando explicar seu conceito, espécies e elementos, bem como abordar
11

as formas de exclusão da responsabilidade civil, se baseando tanto no Código Civil quanto no


Código de Defesa do Consumidor.
O segundo capítulo de desenvolvimento abordará a responsabilidade civil no âmbito
da construção civil, inicialmente explicando o conceito de patologias construtivas e as
patologias relevantes para o direito, e após, tratará a respeito dos agentes sujeitos à
responsabilização por vícios construtivos, com base no Código Civil, no Código de Defesa do
Consumidor e na Lei de Incorporações Imobiliárias.
Por fim, o terceiro e último capítulo do desenvolvimento será o responsável por
adentrar na questão dos danos morais por vícios construtivos, de forma que analisará as
decisões do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, no lapso temporal de janeiro a outubro de
2022, relativas à indenização por danos morais em decorrência de vícios de construção,
explicando cada decisão e verificando quais os motivos utilizados pelo Tribunal para a
concessão da indenização e os argumentos utilizados para a não concessão, bem como
tratando a respeito do dano moral por inadimplemento contratual, verificando se as decisões
analisadas estão em conformidade com o entendimento doutrinário e jurisprudencial sobre o
tema.
Finalmente, o trabalho se encerrará com o capítulo de conclusão, onde serão dispostas
as considerações finais a respeito da pesquisa e da análise jurisprudencial realizada.
Para tanto, a metodologia a ser aplicada no presente trabalho será a da pesquisa
dedutiva qualitativa, com as técnicas de pesquisa bibliográfica – tendo como fontes livros,
periódicos e artigos – e documental, utilizando-se das legislações pertinentes e jurisprudências
a fim de que se possa compreender e elucidar o tema proposto.
12

2 RESPONSABILIDADE CIVIL

Este capítulo tem como objetivo apresentar o instituto da responsabilidade civil no


direito brasileiro, analisando seus conceitos, espécies e elementos com base no Código Civil e
no Código de Defesa do Consumidor (CDC).

2.1 O CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

A palavra “responsabilidade”, no seu sentido etimológico, remete à ideia de obrigação,


incumbência ou encargo, e conforme disciplina Carlos Roberto Gonçalves (2022, p. 31),
“encerra a ideia de segurança ou garantia da restituição ou compensação do bem sacrificado.
Teria, assim, o significado de recomposição, de obrigação de restituir ou ressarcir”.
Já em seu conceito jurídico, a responsabilidade, segundo Sérgio Cavalieri Filho (2021,
p. 37) também se configura como uma obrigação, mas neste caso, uma obrigação de reparar o
prejuízo causado pela violação de um dever primário.
Para Sílvio de Salvo Venosa, a responsabilidade advém do dever de indenizar um
prejuízo causado a outrem:

Em princípio, toda atividade que acarrete prejuízo gera responsabilidade ou dever de


indenizar. [...] O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual
alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as consequências de um ato, fato
ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar
o dever de indenizar. (VENOSA, 2022, p. 356)

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2022, p. 16) entendem que a
responsabilidade “pressupõe a atividade danosa de alguém que, atuando a priori ilicitamente,
viola uma norma jurídica preexistente (legal ou contratual), subordinando-se, dessa forma, às
consequências do seu ato (obrigação de reparar)”.
Em vista disso, é possível inferir que o instituto da responsabilidade civil busca
garantir segurança social, tendo em vista que prevê para àquele que teve um direito lesado a
restituição ou compensação do seu bem jurídico, atribuindo a obrigação de indenizar ao
causador do dano.

2.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil pode ser classificada, principalmente para fins didáticos, em


algumas espécies. Para esta pesquisa, é relevante o estudo de apenas três espécies, sendo elas:
13

a) a responsabilidade civil contratual e extracontratual, b) a responsabilidade civil objetiva e


subjetiva e c) a responsabilidade civil nas relações de consumo.

2.2.1 Responsabilidade civil contratual e extracontratual

Em primeiro plano, analisar-se-á a divisão da responsabilidade feita com base na sua


origem, podendo ser contratual ou extracontratual. Sérgio Cavalieri Filho ensina a respeito
das duas modalidades:

Em suma: tanto na responsabilidade extracontratual como na contratual há a


violação de um dever jurídico preexistente. A distinção está na sede desse dever.
Haverá responsabilidade contratual quando o dever jurídico violado
(inadimplemento ou ilícito contratual) estiver previsto no contrato. A norma
convencional já define o comportamento dos contratantes e o dever específico a cuja
observância ficam adstritos. E como o contrato estabelece um vínculo jurídico entre
os contratantes, costuma-se também dizer que na responsabilidade contratual já há
uma relação jurídica preexistente entre as partes (relação jurídica, e não dever
jurídico, preexistente, porque este sempre se faz presente em qualquer espécie de
responsabilidade). Haverá, por seu turno, responsabilidade extracontratual se o dever
jurídico violado não estiver previsto no contrato, mas sim na lei ou na ordem
jurídica. (CAVALIERI FILHO, 2021, p. 51)

Como se vê, a responsabilidade contratual advém da inexecução do contrato, enquanto


a responsabilidade extracontratual é aquela que deriva de uma violação à lei ou à ordem
jurídica.
Além da diferença em sua origem, há também de se mencionar que, embora tenham
consequências jurídicas muito semelhantes, estas duas modalidades de responsabilidade
também podem ser distinguidas por outro ponto: o ônus da prova.
Carlos Roberto Gonçalves (2022, p. 34), acerca do ônus da prova, ensina que, na
modalidade de responsabilidade contratual, o lesado deve apenas comprovar o
inadimplemento do contrato para ver garantido seu direito de reparação, ficando a cargo do
devedor comprovar a existência de alguma causa excludente de responsabilidade prevista em
lei. Já na responsabilidade extracontratual, recai sobre o lesado o ônus de comprovar a culpa
do agente para o ato ilícito causador do dano, excetuadas as hipóteses de responsabilidade
objetiva, que se verá adiante.
Assim, a classificação da responsabilidade em contratual e extracontratual, ainda que
não possua tanta relevância prática, em alguns casos deve ser observada para que haja a
correta aplicação do ônus da prova.
14

2.2.2 Responsabilidade civil subjetiva e objetiva

Outra classificação que pode ser feita a respeito da responsabilidade civil é a divisão
entre responsabilidade objetiva e subjetiva. A principal diferença entre essas duas
modalidades de responsabilidade diz respeito ao elemento da culpa.
A culpa, em sentido amplo, pode ser definida como a ação ou omissão que causa
danos. Pode ser provocada por negligência, imprudência ou imperícia, ou por dolo, quando a
ação ou omissão é voluntária e possui o desejo de causar o dano (RIZZARDO, 2019, p. 25).
Para a responsabilidade civil subjetiva, deve ser observado se o agente do ato ilícito
agiu ou não com culpa em sua conduta, enquanto na responsabilidade civil objetiva, o agente
responde independentemente da ocorrência de culpa.
No direito brasileiro, “o princípio gravitador da responsabilidade extracontratual no
Código Civil ainda é o da responsabilidade subjetiva, ou seja, responsabilidade com culpa,
pois esta também é a regra geral traduzida no Código em vigor, no caput do art. 927”
(VENOSA, 2022, p. 368).
A responsabilidade civil objetiva, segundo Sílvio de Salvo Venosa (2022, p. 368),
somente pode ser aplicada quando expressamente autorizada por lei, sendo que na falta de
autorização expressa, a responsabilidade por atos ilícitos será subjetiva. Tal exigência se dá
porque a responsabilidade objetiva não pode ser aplicada a todos, mas tão somente a quem
exerce atividade com probabilidade de dano, visto que se baseia na teoria do risco, que afirma
que quem exerce atividade perigosa, possui o dever de reparar os danos dela advindos,
independentemente de ter agido ou não com culpa (CAVALIERI FILHO, 2021, p. 226).
Sobre a teria do risco, Venosa explica que ela leva em conta a potencialidade de causar
danos:

Ao se analisar a teoria do risco, mais exatamente do chamado risco criado, nesta fase
de responsabilidade civil de pós-modernidade, o que se leva em conta é a
potencialidade de ocasionar danos; a atividade ou conduta do agente que resulta por
si só na exposição a um perigo, noção introduzida pelo Código Civil italiano de
1942 (art. 2.050). Leva-se em conta o perigo da atividade do causador do dano por
sua natureza e pela natureza dos meios adotados. (VENOSA, 2022, p. 364)

Nesse sentido, têm-se que a responsabilidade civil objetiva onera de forma muito mais
rigorosa o causador do dano que exerce atividade considerada perigosa, porque ainda que
tenha incorrido em culpa stricto sensu, deverá reparar qualquer dano causado.
15

Portanto, a responsabilidade objetiva somente pode ser utilizada nos casos


expressamente previstos em lei, como caráter de exceção, razão pela qual a responsabilidade
subjetiva, com a verificação de culpa, é a regra geral no ordenamento jurídico brasileiro.

2.2.3 Responsabilidade civil nas relações de consumo

Resta a análise da responsabilidade civil nas relações de consumo, que abrange


conceitos das duas espécies de responsabilidade vistas anteriormente.
O Código de Defesa do Consumidor, cuja vigência se deu antes do atual Código Civil,
foi revolucionário no que diz respeito à responsabilidade civil, tendo em vista que até seu
surgimento não havia legislação que protegesse o consumidor em casos de acidentes de
consumo. Nas relações de consumo, o consumidor precisava provar o dolo ou culpa do
fornecedor para conseguir responsabilizá-lo, o que se tornava uma prova quase impossível
(CAVALIEIRI FILHO, 2021, p. 349).
Verificando a dificuldade do consumidor em ver seu dano reparado, e se atentando
para o fato de que a sociedade atual é uma sociedade de produção em massa, onde a relação
entre os produtores e consumidores ficou cada vez mais distante, o Código de Defesa do
Consumidor consagrou como regra nas relações de consumo a responsabilidade civil objetiva,
de forma que o consumidor não precisa comprovar o elemento culpa para atribuir ao
fornecedor a obrigação de indenizar (GONÇALVES, 2022, p. 231), tal disposição ficou clara
no art. 14 do referido código: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços [...]” (BRASIL, 1990).
As espécies de responsabilidade civil reguladas pelo Código de Defesa do
Consumidor, segundo o que ensina Carlos Roberto Gonçalves são duas:

a responsabilidade pelo fato do produto e do serviço e a responsabilidade por vícios


do produto ou do serviço. [...] A primeira é derivada de danos do produto ou serviço,
também chamados de acidentes de consumo (extrínseca). A segunda, relativa ao
vício do produto ou serviço (intrínseca), tem sistema assemelhado ao dos vícios
redibitórios, ou seja, quando o defeito torna a coisa imprópria ou inadequada para o
uso a que se destina, há o dever de indenizar. (GONÇALVES, 2022, p. 232)

Em ambos os casos supracitados aplica-se a responsabilidade civil objetiva, tendo em


vista que o Código do Consumidor adotou a teoria do risco. De acordo com Sérgio Cavalieri
Filho, na teoria do risco, a responsabilidade decorre do próprio risco da atividade:
16

todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo tem
o dever de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços
fornecidos, independentemente de culpa. Este dever é imanente ao dever de
obediência às normas técnicas e de segurança, bem como aos critérios de lealdade,
quer perante os bens e serviços ofertados, quer perante os destinatários dessas
ofertas. [...] O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e serviços que oferece
no mercado de consumo, respondendo pela qualidade e segurança dos mesmos.
(CAVALIERI FILHO, 2022, p. 351)

Isto posto, é possível perceber que as relações de consumo não seguem a regra geral
da responsabilidade subjetiva, mas seguem regulamento próprio previsto no Código de Defesa
do Consumidor, que determina que, em razão da teoria do risco, o fornecedor é obrigado a
garantir os produtos e serviços que coloca em mercado, respondendo, geralmente, de forma
objetiva pelos danos que causar.

2.3 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

De acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2021, p. 22), “quatro são os elementos
essenciais da responsabilidade civil: ação ou omissão, culpa ou dolo do agente, relação de
causalidade e o dano experimentado pela vítima”. Cristiano Chaves de Farias, Nelson
Rosenvald e Felipe Peixoto Braga Netto (2019, p. 187) também defendem “a classificação
tetrapartida dos pressupostos da responsabilidade civil, cujos elementos são: (a) ato ilícito; (b)
culpa; (c) dano; (d) nexo causal”.
Desse modo, cumpre explicar, em linhas gerais, cada um destes elementos que
compõe o instituto da responsabilidade civil.

2.3.1 Ato ilícito

O conceito de ato ilícito pode ser extraído do Código Civil, em seu artigo 186, que
dispõe: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL,
2002).
Para Silvio de Salvo Venosa (2022, p. 378) “os atos ilícitos são os que emanam direta
ou indiretamente da vontade e ocasionam efeitos jurídicos, mas contrários ao ordenamento”.
Nesse sentido, Gagliano e Pamplona Filho (2022, p. 23) descrevem o ato ilícito como
“conduta humana, positiva ou negativa (omissão), guiada pela vontade do agente, que
desemboca no dano ou prejuízo”.
17

Como se vê, o ato ilícito ocasiona a violação de um direito, mas conforme leciona
Paulo Nader (2016, p. 68), não é qualquer violação de direito que pode ser considerada um ato
ilícito, isso porque, para configurar ato ilícito é necessária uma ação ou omissão, praticada por
dolo ou culpa, que cause dano a alguém, havendo nexo de causalidade entre a conduta e o
resultado.

2.3.2 Culpa

A culpa em sentido amplo, segundo o entendimento de Silvio de Salvo Venosa (2022,


p. 379), “abrange não somente o ato ou conduta intencional, o dolo (delito, na origem
semântica e histórica romana), mas também os atos ou condutas eivados de negligência,
imprudência ou imperícia, qual seja, a culpa em sentido estrito (quase delito)”.
No mesmo sentido leciona Paulo Nader (2016, p. 105):

Em sentido amplo, culpa é o elemento subjetivo da conduta, compreensivo tanto da


culpa stricto sensu quanto da ação ou omissão dolosa. Na responsabilidade civil, diz-
se que a conduta é dolosa ou voluntária, quando o agente pratica o fato
determinadamente, visando a causar dano a alguém. A conduta dolosa é chamada
por alguns culpa delitual.

Gagliano e Pamplona Filho (2022, p. 62), também acreditam que a culpa pode ser
dividida em seu sentido amplo ou estrito, sendo que ambas derivam da inobservância de um
dever previamente imposto pela ordem jurídica. Para eles, se esta violação de um dever
jurídico for proposital, o agente atuou com dolo, já se a violação adveio de negligência,
imprudência ou imperícia, está-se diante de culpa stricto sensu.
No que diz respeito à culpa em sentido estrito, que abrange a imperícia, imprudência e
negligência, Maria Helena Diniz (2022, p. 25) explica que:

A imperícia é falta de habilidade ou inaptidão para praticar certo ato; a negligência é


a inobservância de normas que nos ordenam agir com atenção, capacidade,
solicitude e discernimento; e a imprudência é precipitação ou o ato de proceder sem
cautela.

Por conseguinte, tem-se que a culpa, que é o elemento subjetivo da conduta humana,
pode ser praticada com dolo, ou seja, com intenção de causar o dano, ou sem intenção danosa,
mas apenas com falta de habilidade, cautela ou atenção.
Como já visto no capítulo que trata a respeito da responsabilidade objetiva e subjetiva,
a culpa será o elemento determinante para averiguar se o agente de um ato ilícito responde ou
18

não pelo dano causado. No caso da responsabilidade subjetiva, que é a regra geral, o agente só
responde se tiver agido de modo culposo, enquanto na responsabilidade objetiva a culpa é
elemento prescindível, respondendo o agente independentemente da sua existência.

2.3.3 Nexo causal

O nexo causal é um elemento de ordem subjetiva e imaterial da responsabilidade civil,


que pode ser definido como a relação de causa e efeito que existe entre a conduta humana e o
dano gerado (TARTUCE, 2022, p. 224).
Conforme bem explicado por Caio Mario da Silva Pereira e Gustavo Tepedino, para a
configuração da responsabilidade civil não basta que se tenha cometido um ato ilícito ou que a
vítima sofra um dano, é necessário que:

se estabeleça uma relação de causalidade entre a injuridicidade da ação e o mal


causado, ou, na feliz expressão de Demogue, “é preciso esteja certo que, sem este
fato, o dano não teria acontecido. Assim, não basta que uma pessoa tenha
contravindo a certas regras; é preciso que sem esta contravenção, o dano não
ocorreria”. (PEREIRA; TEPEDINO, 2022, p. 129)

Neste sentido, ainda que haja um dano, se sua causa não estiver diretamente
relacionada com um ato ilícito cometido pelo agente, não há que se falar em obrigação de
indenizar (GONÇALVES, 2021, p. 22).
Maria Helena Diniz (2022, p. 49) acrescenta, ainda, que não é necessário que o dano
resulte de forma imediata do ato ilícito, bastando que “se verifique que o dano não ocorreria
se o fato não tivesse acontecido. Este poderá não ser a causa imediata, mas, se for condição
para a produção do dano, o agente responderá pela consequência”.
Diferentemente da culpa, o nexo de causalidade é elemento indispensável em qualquer
espécie de responsabilidade civil. Silvio de Salvo Venosa (2022, p. 401) elucida sobre o tema:
“A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a
vítima, que experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao
responsável, não há como ser ressarcida”.
Há de se ressaltar, contudo, que este é o elemento de mais difícil determinação no caso
concreto (PEREIRA; TEPEDINO, 2022, p. 129), tendo em consideração que nem sempre é
possível definir com exatidão a causa do dano.
19

2.3.4 Dano

A palavra “dano” advém do latim damnum, e possui como significado a ocorrência de


um prejuízo, um detrimento ou perda a alguém (TARTUCE, 2022, p. 279). Segundo
Agostinho Alvim (1965, apud GONÇALVES, 2022, p. 307), o “dano, em sentido amplo, vem
a ser a lesão de qualquer bem jurídico, e aí se inclui o dano moral. Mas, em sentido estrito,
dano é, para nós, a lesão do patrimônio”.
Bruno Miragem também define o dano como perda ou lesão ao patrimônio:

A noção de dano toma o sentido de perda, uma lesão a um patrimônio compreendido


em sentido amplo como conjunto de bens e direitos de que seja titular a pessoa. É
lesão a interesses juridicamente protegidos. Ou a diminuição ou supressão de uma
situação favorável reconhecida ou protegida pelo direito. (MIRAGEM, 2021, p. 94).

Assim como o nexo causal, o dano também é um dos pressupostos indispensáveis para
o reconhecimento da responsabilidade civil, tendo em vista que não há indenização sem a
existência de prejuízo, sendo indispensável a prova de uma lesão (DINIZ, 2022, p. 32).
Os danos são divididos pela doutrina em duas categorias principais: os danos
patrimoniais (materiais) e os danos extrapatrimoniais (morais). Carlos Roberto Gonçalves
(2021, p. 150) entende que “Material é o dano que afeta somente o patrimônio do ofendido.
Moral é o que só ofende o devedor como ser humano, não lhe atingindo o patrimônio”.
Acerca do dano material, Maria Helena Diniz, conceitua:

O dano patrimonial vem a ser a lesão concreta, que afeta um interesse relativo ao
patrimônio da vítima, consistente na perda ou deterioração, total ou parcial, dos bens
materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniária e de
indenização pelo responsável. Constituem danos patrimoniais a privação do uso da
coisa, os estragos nela causados, a incapacitação do lesado para o trabalho, a ofensa
a sua reputação, quando tiver repercussão na sua vida profissional ou em seus
negócios. (DINIZ, 2022, p. 34).

Trata-se, portanto, de um dano que repercute exclusivamente na esfera patrimonial da


vítima. Paulo Nader (2016, p. 78) explica que integram o dano material tanto os bens que o
lesado perdeu, quanto os que ele deixou de ganhar por conta do ato ilícito, sendo que o
primeiro caso se refere aos danos emergentes, e o segundo aos lucros cessantes.
Arnaldo Rizzardo corrobora com esse entendimento:

Quando os efeitos atingem o patrimônio atual, acarretando uma perda, uma


diminuição do patrimônio, o dano denomina-se emergente damnum emergens; se a
pessoa deixa de obter vantagens em consequência de certo fato, vindo a ser privada
de um lucro, temos o lucro cessante lucrum cessans. (RIZZARDO, 2019, p. 17).
20

Dessa forma, é possível entender o dano material como um gênero do qual derivam
duas espécies: a) os danos emergentes, que considera tudo aquilo que alguém perdeu após um
ato ilícito, e b) os lucros cessantes, que pode ser definido como todo o lucro que se deixou de
auferir em consequência da lesão sofrida.
No que se refere ao dano moral, este “Apresenta-se como aquele mal ou dano – que
atinge valores eminentemente espirituais ou morais, como a honra, a paz, a liberdade física, a
tranquilidade de espírito, a reputação, a beleza etc.” (RIZZARDO, 2019, p. 18).
A lesão indenizável pelo dano moral é aquela cujo conteúdo não é pecuniário, mas sim
aquela que fere a esfera íntima da pessoa, seus direitos de personalidade, como exemplo os
direitos à vida privada, à honra e à imagem (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022, p.
35).
Silvio de Salvo Venosa destaca, ainda, o objetivo do dano moral, que é o de indenizar
a dor sofrida e à lesão à dignidade humana:

Nesse sentido, a indenização pelo dano exclusivamente moral não possui o acanhado
aspecto de reparar unicamente o pretium doloris, mas busca restaurar a dignidade do
ofendido. Por isso, não há que se dizer que a indenização por dano moral é um preço
que se paga pela dor sofrida. É claro que é isso e muito mais. Indeniza-se pela dor da
morte de alguém querido, mas indeniza-se também quando a dignidade do ser
humano é aviltada com incômodos anormais na vida em sociedade. (VENOSA,
2022, p. 611).

À vista disso, fica claro que o dano extrapatrimonial é aquele que repara as lesões de
cunho íntimo e personalíssimo da vítima, garantindo que seu abalo, ainda que exclusivamente
moral, não fique impune.
Há de se mencionar, por fim, que desde a edição da Súmula nº 37 do Superior
Tribunal de Justiça, que disciplinou que “São cumuláveis as indenizações por dano material e
dano moral oriundos do mesmo fato” (BRASIL, 1992), cessou-se a controvérsia existente
acerca da possibilidade de cumulação entre os danos materiais e morais decorrentes de um
mesmo fato. Paulo Nader (2016, p. 99) esclarece que “prevaleceu o entendimento de que,
embora oriundos de um fato jurídico único, os danos são distintos e, sendo assim, todos
devem ser reparados”.
21

2.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Tendo sidos abordados os conceitos, as espécies e os elementos da responsabilidade


civil, é necessária também a apresentação das causas excludentes de responsabilidade, que se
encontram elencadas tanto no Código Civil quanto no Código de Defesa do Consumidor.
Gagliano e Pamplona Filho (2022, p. 53) apontam que, como causas excludentes de
responsabilidade civil “devem ser entendidas todas as circunstâncias que, por atacar um dos
elementos ou pressupostos gerais da responsabilidade civil, rompendo o nexo causal,
terminam por fulminar qualquer pretensão indenizatória”.
Para Venosa, são excludentes de responsabilidade as causas “que impedem que se
concretize o nexo causal, a culpa exclusiva da vítima, o fato de terceiro, o caso fortuito e a
força maior e, no campo contratual, a cláusula de não indenizar” (2022, p. 402).
Isto posto, analisar-se-á as causas que possuem pertinência temática com esta
pesquisa, quais sejam, a culpa exclusiva da vítima, o caso fortuito e força maior, e as causas
previstas exclusivamente no Código de Defesa do Consumidor.

2.4.1 Culpa exclusiva da vítima

A culpa ou fato exclusivo da vítima, apesar de não estar prevista expressamente no


Código Civil, é elencada pela doutrina como causa excludente de responsabilidade civil pois
rompe com o nexo de causalidade, vez que não há contribuição do suposto responsável para o
fato, sendo o dano causado pelo próprio prejudicado (TARTUCE, 2022, p. 261).
Carlos Roberto Gonçalves (2022, p. 420) leciona nesse sentido:

Quando o evento danoso acontece por culpa exclusiva da vítima, desaparece a


responsabilidade do agente. Nesse caso, deixa de existir a relação de causa e efeito
entre o seu ato e o prejuízo experimentado pela vítima. Pode-se afirmar que, no caso
de culpa exclusiva da vítima, o causador do dano não passa de mero instrumento do
acidente. Não há liame de causalidade entre o seu ato e o prejuízo da vítima.

Conforme dispõe Nader (2016, p. 133), quando se comprova a culpa exclusiva da


vítima, ainda que de presentes os requisitos caracterizadores do ato ilícito, não há nexo de
causalidade entre a ação ou omissão do agente e o resultado lesivo, de forma que é excluída a
responsabilidade civil.
22

2.4.2 Caso fortuito e força maior

Consoante disposto no Código Civil em seu artigo 393, “O devedor não responde
pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver
por eles responsabilizado” (BRASIL, 2002). Assim, é possível inferir que se trata de uma
causa de exclusão de responsabilidade civil.
A definição de caso fortuito e força maior, embora não seja assente na doutrina, foi
dada pelo Código Civil, no parágrafo único do Art. 393, como sendo “fato necessário, cujos
efeitos não era possível evitar ou impedir” (BRASIL, 2002).
Cavalieri Filho conceitua o caso fortuito e a força maior com base na previsibilidade
do evento:

estaremos em face do caso fortuito quando se tratar de evento imprevisível e, por


isso, inevitável; se o evento for irresistível, ainda que previsível, por se tratar de fato
superior às forças do agente, como normalmente são os fatos da Natureza
(tempestades, enchentes, furacões etc.), estaremos em face da força maior, como o
próprio nome o diz. É o act of God, no dizer dos ingleses, em relação ao qual o
agente nada pode fazer para evitá-lo, ainda que previsível. (CAVALIERI FILHO,
2021, p. 113).

Apesar da diferenciação entre os conceitos, em ambas as situações, no caso fortuito e


na força maior, há sempre a ocorrência de um acidente que produz um prejuízo, e ambos são
caracterizados pela presença de dois elementos: a inevitabilidade do evento, e a ausência de
culpa para a ocorrência do evento (DINIZ, 2022, p. 51).
Diante disso, ainda que haja a distinção conceitual entre os dois fenômenos, na prática,
ambas possuem a mesma consequência, que é o rompimento do nexo causal e a exclusão da
responsabilidade civil (VENOSA, 2022, p. 404), tendo inclusive o Código Civil optado por
considerá-las como expressões sinônimas.

2.4.3 Excludentes previstas no Código de Defesa do Consumidor

Além das hipóteses de exclusão de responsabilidade trazidas pelo Código Civil e pela
doutrina, o Código de Defesa do Consumidor trouxe suas próprias hipóteses de exclusão de
responsabilidade, nos seus art. 12, § 3º, e 14, § 3º.
No caso do art. 12, §3º, o fabricante, o construtor, o produtor ou importador deve
demonstrar, para se isentar da responsabilidade que: (a) não colocou o produto no mercado;
23

(b) embora tenha colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; e (c) a culpa exclusiva
do consumidor ou de terceiro.
Já na hipótese do art. 14, § 3º, o fornecedor de serviços não será responsabilizado se
comprovar que: (a) tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; e (b) a culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro.
Sabendo que a responsabilidade civil prevista no Código de Defesa do Consumidor é
objetiva, a única forma do fornecedor se isentar da responsabilidade, é comprovando que
ocorreu uma das hipóteses acima. Assim, cumpre explicar cada uma das excludentes citadas.

2.4.3.1 Não colocação do produto no mercado

A primeira das causas excludentes de responsabilidade trazida pelo Código de Defesa


do Consumidor é da não colocação do produto no mercado, aplicável ao fabricante,
construtor, produtor ou importador do produto.
De acordo com Rizzardo (2019, p. 401), para afastar a sua responsabilidade sob o
argumento de não ter colocado o produto no mercado, o produtor deve comprovar que ocorreu
a falsificação do produto, fato comum nos dias de hoje em virtude da pirataria, ou ainda que o
produto foi furtado e colocado no mercado por outrem.
Bruno Miragem explica que a não colocação do produto no mercado exclui o nexo de
causalidade entre o dano e o agente:

O critério de não colocação no mercado, nesse sentido, verifica-se pela ausência de


voluntariedade por parte do fornecedor, e da mesma forma isenta de culpa no
oferecimento do produto no mercado. A exclusão de responsabilidade, assim, surge
da ausência de uma conduta que se vincule – via nexo de causalidade – a um dano
eventualmente sofrido pelo consumidor. Todavia, há de reconhecer-se na hipótese a
existência de uma presunção contra o fornecedor. Ou seja, identificando-se o
produto defeituoso no mercado, e verificando-se que em razão dele produziu-se um
dano ao consumidor, ensejando a responsabilidade pelo fato do produto, presume-se
que o fornecedor tenha colocado o produto no mercado. Incumbe a esse fornecedor,
para excluir-se do dever de indenizar, demonstrar o contrário. (MIRAGEM, 2021, p.
317).

Assim, evidente que com o rompimento do nexo causal, o fornecedor não pode ser
obrigado a indenizar o dano. Contudo, fica claro que a incumbência de comprovar tal
excludente decai exclusivamente sobre o fornecedor.
24

2.4.3.2 Inexistência de defeito

A excludente de inexistência do defeito pode ser alegada tanto pelo fabricante,


construtor, produtor ou importador de produto, quanto pelo fornecedor de serviços. Trata-se
também de causa que elide o nexo de causalidade.
Assim como na excludente de não colocação no mercado, a alegação de inexistência
de defeito deve ser comprovada pelo fornecedor, sendo seu ônus demonstrar que o dano
adveio de outro fato, que não um defeito no produto ou serviço, como bem explica Cavalieri
Filho:

O fato gerador do acidente de consumo é o defeito, conforme já vimos. Mas se o


produto ou serviço não é defeituoso, e o ônus dessa prova é do fornecedor, não
haverá também relação de causalidade entre o dano e a atividade do fornecedor. O
dano terá decorrido de outra causa não imputável ao fabricante do produto ou ao
prestador do serviço. Há igualmente, aqui, uma presunção que milita contra o
fornecedor, ao qual caberá elidi-la. (CAVALIERI FILHO, 2022, p. 378).

Nesse sentido, tem-se que há uma presunção em favor do consumidor de existência do


defeito, cabendo ao fornecedor demonstrar, com provas cabais, a inexistência de falha no
produto ou serviço, para poder então se isentar da obrigação de indenizar (MIRAGEM, 2021,
p. 319).

2.4.3.3 Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro

A última das causas excludentes de responsabilidade prevista pelo Código de Defesa


do Consumidor foi a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, que pode ser alegada tanto
pelo fornecedor de produtos quanto pelo fornecedor de serviços.
Cavalieri Filho (2022, p. 378) aduz que “Se o comportamento do consumidor é a única
causa do acidente de consumo, não há como responsabilizar o produtor ou fornecedor por
ausência de nexo de causalidade entre a sua atividade e o dano”.
A culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro pode ser verificada nas hipóteses de
ausência de conhecimento para utilização do produto, desobediência das recomendações de
utilização ou conservação, mal uso, forçando o funcionamento ou excedendo a capacidade de
uso (RIZZARDO, 2019, p. 401).
Assim como as excludentes vistas anteriormente, trata-se de causa excludente do nexo
de causalidade “entre a conduta do fornecedor e o dano sofrido pelo consumidor, pelo advento
25

de outra conduta que, tendo sido realizada, demonstra-se que tenha dado causa ao evento
danoso” (MIRAGEM, 2021, p. 320).
Destarte, neste capítulo demonstrou-se que a responsabilidade civil está prevista tanto
no Código Civil quanto no Código de Defesa do Consumidor e pode ser classificada como
contratual ou extracontratual e como subjetiva ou objetiva. Possui como elementos o ato
ilícito, o nexo causal, a culpa e o dano e tem como excludentes a culpa exclusiva da vítima, o
caso fortuito e a força maior, além da inexistência de defeito e não colocação do produto no
mercado, aplicáveis aos casos regidos pelo CDC. Agora, passar-se-á à análise da
responsabilidade civil no âmbito da construção civil, onde serão abordadas de forma
específica a responsabilidade do construtor e do incorporador, principalmente por patologias
construtivas que causarem.
26

3 RESPONSABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Desde o princípio das civilizações, a sociedade tem buscado construir as mais diversas
estruturas para se adequar às suas necessidades, sejam habitacionais (casas e edifícios),
laborais (escritórios, indústrias, galpões etc.) ou de infraestrutura (pontes, barragens, metrôs
etc.). O desenvolvimento da tecnologia proporcionou o crescimento acelerado das
construções, e como consequência, se observou também um aumento nos erros relacionados à
construção civil, fazendo com que as construções tenham desempenho insatisfatório em
relação à finalidade a que se destinam (SOUZA; RIPPER, 1998, p. 13).
Estes erros construtivos, denominados patologias dentro da construção civil, quando
causam prejuízo de ordem patrimonial ou moral a alguém, podem ser fonte geradora de
responsabilidade civil para os construtores e incorporadores.
Desta forma, este capítulo terá como finalidade o estudo das patologias construtivas
sob a ótica do ordenamento jurídico brasileiro e a responsabilidade civil delas advindas,
buscando elucidar a responsabilidade dos construtores e incorporadores segundo o Código
Civil Brasileiro, a Lei de Incorporações e o Código de Defesa do Consumidor.

3.1 PATOLOGIAS NA CONTRUÇÃO CIVIL

Em ordem de compreender a responsabilidade civil dentro da área da construção civil,


é mister que se entenda, primeiramente, quais as possíveis causas geradoras de danos no
âmbito da construção, denominadas de patologias construtivas ou manifestações patológicas.
Sena et al (2021, p. 211) explica que “são muitas as patologias das construções. Para
cada item (fundação, estrutura, argamassa, alvenaria, esquadria etc.), existe uma infinidade de
sintomas e/ ou manifestações que requerem orientações, reparos e cuidados”.
O conceito de patologia construtiva pode ser retirado da Norma NBR 15575-11, que
define como manifestação patológica toda “irregularidade que se manifesta no produto em
função de falhas no projeto, na fabricação, na instalação, na execução, na montagem, no uso
ou na manutenção, bem como problemas que não decorram do envelhecimento natural”
(ABNT, 2013, p. 9).

1
A ABNT NBR 15575-1 é a norma técnica que estabelece requisitos gerais e critérios de desempenho aplicáveis
à edifícios habitacionais de até cinco pavimentos, buscando atender as exigências dos usuários, podendo ser
utilizada como procedimento de avaliação do desempenho dos sistemas construtivos. (ABNT, 2013, p. 1)
27

Segundo a NBR 15575-1, há alguns requisitos mínimos que devem ser atendidos na
construção, e que se não observados, podem gerar patologias construtivas, sendo eles:
segurança estrutural; segurança contrafogo; segurança no uso e na operação; estanqueidade;
desempenho térmico; desempenho acústico; desempenho lumínico; saúde, higiene e qualidade
do ar; funcionalidade e acessibilidade; conforto tátil e antropodinâmico; durabilidade;
manutenibilidade; e impacto ambiental (ABNT, 2013, p. 11).
Pode-se listar como algumas das patologias mais comuns “as fissuras ou trincas, as
eflorescências, as deformações ou flechas excessivas, a corrosão de armaduras, os ninhos de
concretagem devido à segregação dos materiais que constituem o concreto” (WEIMER et al.,
2018, p. 15).
Sérgio Cavalieri Filho (2021, p. 436) explica que “os defeitos da obra, via de regra,
serão de concepção – projeto, cálculos –, ou de construção – fundações, concretagem etc. –,
defeitos que comprometem a segurança da obra.”, mas ensina também que há uma diferença
entre defeito e vício na obra:

Assim, entende-se por defeito a desconformidade entre a obra construída e a boa


técnica construtiva, desconformidade grave a ponto de comprometer a sua segurança
e provocar um acidente – ruína total ou parcial. Vício, por sua vez, é
desconformidade menos grave que, embora não comprometa a segurança da obra,
afeta a sua utilidade e reduz o seu valor. (CAVALIERI FILHO, 2021, p. 436).

Portanto, entende-se por defeito as patologias que acometem a segurança e solidez da


obra, pois capazes de gerar acidentes e danos de grande monta, e por vício as imperfeições
que, embora não tenham o condão de gerar danos graves, afetam a serventia da construção,
podendo ocasionar pequenos e médios prejuízos.
É importante ressaltar que, embora sejam inúmeras as espécies de patologias
construtivas, para o ordenamento jurídico brasileiro, as manifestações patológicas capazes de
ensejar a responsabilidade civil dos construtores e/ou incorporadores perante o dono da obra
são os defeitos ou vícios que acometem a solidez, a segurança ou a perfeição da obra. É
necessário abordar uma a uma para entender seus conceitos, bem como explicar a respeito dos
vícios redibitórios, também passíveis de ensejar responsabilidade dos construtores.

3.1.1 Solidez e segurança da obra

No que se refere à solidez e segurança da obra, estas estão prevista no Código Civil
em seu artigo 618, que aduz que o empreiteiro responderá pela solidez e segurança do
28

trabalho, em razão dos materiais e do solo (BRASIL, 2002). Como se vê, a legislação não
conceituou o que seria a solidez e segurança da obra, deixando tal definição para a doutrina e
a jurisprudência nos casos concretos.
Cristiano Chaves de Farias, Nelson Rosenvald e Felipe Peixoto Braga Netto (2019, p.
1388) dispõem que a solidez e segurança devem ser interpretadas de maneira mais ampla, de
forma a abranger tanto defeitos que podem gerar a ruína do imóvel ou que comprometam sua
estrutura e habitabilidade, quanto os vícios menos graves, como infiltrações e semelhantes.
Nesse mesmo sentido disciplina Sérgio Cavalieri Filho (2021, p. 446):

Quando a lei fala em solidez e segurança, está a se referir não apenas à solidez e
segurança globais, mas, também, parciais. Esses vocábulos devem ser interpretados
com certa elasticidade, abrangendo danos causados por infiltrações, vazamentos,
quedas de blocos do revestimento etc.

Desta maneira, tem-se que a solidez e a segurança da obra estão ligadas a defeitos e
vícios de grande a média monta, abrangendo tanto aqueles que podem comprometer a
habitabilidade do imóvel quanto aqueles que prejudicam a finalidade e usabilidade do imóvel.

3.1.2 Perfeição da obra

No que diz respeito à perfeição da obra, embora não esteja prevista necessariamente
em contrato ou na lei, pode-se dizer que se constitui como um dever ético-profissional do
construtor perante o dono da obra, vez que a construção é um processo técnico, que envolve a
composição e coordenação de materiais para que se atinja a finalidade da obra
(GONÇALVES, 2022, p. 242).
Nesse sentido é o ensinamento de Hely Lopes Meirelles (2005, p. 292):

A responsabilidade pela perfeição da obra é o primeiro dever legal de todo


profissional ou firma de Engenharia, Arquitetura ou Agronomia, sendo de se
presumir em qualquer contrato de construção, particular ou pública, mesmo que não
conste de nenhuma cláusula do ajuste. Isto porque a construção civil é,
modernamente, mais que um empreendimento leigo, um processo técnico de alta
especialização, que exige, além da peritia artis do prático do passado, a peritia
technica do profissional da atualidade.

Em outras palavras, é dever do construtor de entregar a obra perfeita e acabada para o


fim que se destina, sob pena ser responsável pelos danos que sua incapacidade técnica gerar.
Nesse sentido, o Código Civil em seu artigo 615, permite que o dono da obra a rejeite caso o
29

empreiteiro tenha se afastado das regras técnicas aplicáveis ao trabalho, ou até mesmo das
instruções recebidas (BRASIL, 2002).
Hely Lopes Meirelles (2005, p. 294) corrobora com o entendimento previsto no
Código Civil: “Dessa responsabilidade não se exime o profissional ou firma construtora, ainda
que tenha seguido instruções do proprietário ou da Administração, pois não pode aplicar
material inadequado ou insuficiente, nem relegar a técnica apropriada para a obra contratada”.
Assim, o dever de entregar a obra perfeita para o seu fim é uma obrigação da qual o construtor
não pode se exonerar.

3.1.3 Vícios redibitórios

Importante fazer algumas considerações a respeito dos vícios redibitórios, que são
ocorrências muito comuns no âmbito da construção civil, tendo em vista se tratar de uma área
que abrange materiais que, em razão da sua natureza, só irão apresentar defeitos passado
algum tempo de uso.
O conceito de vício redibitório, de acordo com Hely Lopes Meirelles (2005, p. 295) é:
“um vício grave existente no produto adquirido, mas não percebido no momento da aquisição;
vício de tal gravidade que, se o adquirente tivesse conhecimento dele antes do ajuste, não o
teria adquirido, ou pleitearia abatimento no preço”.
Para Sérgio Cavalieri Filho (2021, p. 437), os vícios e defeitos ocultos são a maior
fonte de litígio entre os construtores e proprietários da obra, uma vez que, no momento da
entrega da obra, esta se encontra aparentemente perfeita, e após algum tempo, com o uso,
começam a aparecer infiltrações, vazamentos, rachaduras, defeitos nas instalações, dentre
outros.
O referido autor ainda explica que, tendo em vista a natureza oculta dos vícios, a
aceitação da obra não pode ser entendida como uma aceitação plena, mas apenas provisória:

Tendo em vista que esses vícios ocultos, por sua natureza, não podem ser percebidos
à primeira vista e, normalmente, só vão surgindo ao longo de meses e anos depois de
recebida a obra, tem-se entendido que esse recebimento não envolve aceitação plena,
apenas provisória, para verificação. Demonstrado que o defeito ou vício da coisa, diz
Caio Mário, é efetivamente oculto, não pode prevalecer a presunção de que a obra
foi aceita, em decorrência do recebimento. De igual sentir Mário Moacyr Porto: ‘O
recebimento da obra extingue a responsabilidade do construtor quanto aos vícios
aparentes, mas não quanto aos vícios ocultos, que poderão ser arguidos e reclamados
durante todo o prazo quinquenal da garantia’. (CAVALIERI FILHO, 2021, p. 437).
30

Acerca do prazo para alegar os vícios redibitórios, Carlos Roberto Gonçalves (2022, p.
244), explica: “Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo
contar-se-á do momento em que dele se tiver ciência, até o prazo máximo de um ano (CC, art.
445 e § 1º)”. Isto posto, os vícios redibitórios, diferentemente dos vícios aparentes, podem ser
alegados posteriormente à entrega da obra, podendo ser reclamados a partir do momento da
sua ciência.

3.2 RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR, DO INCORPORADOR E DO AGENTE


FINANCEIRO

Alguns são os agentes que integram a construção de um imóvel, como por exemplo, o
construtor, o engenheiro, o arquiteto, o projetista, o incorporador, o agente financeiro (quando
for o caso) e outros. Para este trabalho, é relevante que se entenda a responsabilidade de dois
dos principais responsáveis pela construção: a) o construtor (que pode ser contratado por
empreitada ou por meio de terceirização); e b) o incorporador (que embora não se envolva na
construção, é quem idealiza e comercializa o imóvel).
Assim sendo, uma vez que já foram explanadas as patologias construtivas e as causas
geradoras de responsabilidade civil dentro da área da construção, analisar-se-á os dois
principais agentes acima citados, de forma a entender de que maneira eles podem ser
responsabilizados pelos vícios e defeitos ocorridos em uma obra. Ademais, pela relevância
temática, também será objeto de uma breve análise a possível responsabilidade de instituição
financeira que atuar como agente financeiro nos casos de incorporação imobiliária.

3.2.1 Construtor

A NBR 15575-1 (2013, p. 6) define como construtor a “pessoa física ou jurídica,


legalmente habilitada, contratada para executar o empreendimento de acordo com o projeto e
em condições mutuamente estabelecidas”.
O construtor pode ser contratado tanto por meio de contrato de empreitada quanto por
contrato de prestação de serviços (por administração). No contrato de empreitada, pode ser
contratada somente a mão de obra ou pode ser contratado o fornecimento de mão de obra e
material, hipótese em que ambos serão de responsabilidade do construtor. Neste tipo de
contrato, o construtor realiza o serviço por conta própria ou por terceirizados e assume os
riscos globais da obra, incluindo os dos serviços realizados por terceiros que ele contratou. Já
31

no contrato por administração, o dono da obra é quem fiscaliza e assume os riscos e os custos
da obra, sendo o construtor um mero prestador de serviços. Em ambos os casos, porém, o
construtor se obriga a executar a obra nos termos dos projetos recebidos do dono da obra
(TAPAI, 2022, p. 141).
No que tange ao tipo de responsabilidade que é atribuída ao construtor em caso de
defeitos na obra, Paulo Nader entende que se trata de uma responsabilidade de resultado, visto
que o construtor é obrigado a garantir a qualidade, solidez e segurança necessárias à obra:

A responsabilidade do construtor é de resultado, como já assinalado, porque se


obriga pela boa execução da obra, de modo a garantir sua solidez e capacidade para
atender ao objetivo para o qual foi encomendada. Defeitos na obra, aparentes ou
ocultos, que importem sua ruína total ou parcial configuram violação do dever de
segurança do construtor, verdadeira obrigação de garantia (ele é o garante da obra),
ensejando-lhe o dever de indenizar independentemente de culpa. Essa
responsabilidade só poderá ser afastada se o construtor provar que os danos
resultaram de uma causa estranha – força maior, fato exclusivo da vítima ou de
terceiro, não tendo, aqui, relevância o fortuito interno (item 93.1). (NADER, 2016,
p. 546).

Sendo uma obrigação de resultado, como consequência, a responsabilidade civil


atribuída ao construtor será objetiva, ou seja, aquela em que há o dever de indenizar
independentemente da verificação da culpa, haja vista a natureza do contrato.

3.2.2 Incorporador

O incorporador, consoante art. 29 da Lei nº 4.591/1964 (Lei de Incorporações


Imobiliárias), é toda pessoa física ou jurídica que embora não construa o imóvel, efetiva a
venda de frações ideais de terreno, que posteriormente serão vinculadas a unidades autônomas
de edificações construídas sob regime condominial, sendo responsável por levar a termo a
incorporação, e se responsabilizando pelo prazo, preço e condições da obra (BRASIL, 1964).
Ainda sobre o conceito de incorporador, Melhim Namem Chalhub (2019, p. 477)
esclarece:

O incorporador é o titular da incorporação imobiliária, aquele que idealiza o


empreendimento e o promove desde os estudos preliminares, ao mobilizar os
profissionais habilitados para exame da titulação do terreno, estudo da legislação
urbanística, sondagem dos riscos ambientais, formulação dos estudos arquitetônicos
e econômico-financeiros, entre outros; depois de estimada preliminarmente a
viabilidade do negócio, diligencia a aprovação dos projetos e as licenças
correspondentes à execução do empreendimento, registra o Memorial de
Incorporação no Registro de Imóveis, promove a comercialização das unidades a
construir, realiza, por si ou por terceiros, a construção do conjunto imobiliário,
32

promove a averbação da construção, entrega as unidades imobiliárias aos


adquirentes, outorga-lhes os contratos de transmissão da propriedade e liquida o
passivo da incorporação.

Embora não tenha construído o imóvel, o incorporador é o responsável perante os


adquirentes pelas unidades imobiliárias que comercializar, conforme disposto no artigo 43,
inciso II da Lei 4.591/1964 (BRASIL, 1964):

Art. 43. Quando o incorporador contratar a entrega da unidade a prazo e preços


certos, determinados ou determináveis, mesmo quando pessoa física, ser-lhe-ão
impostas as seguintes normas:
[...]
II - responder civilmente pela execução da incorporação, devendo indenizar os
adquirentes ou compromissários, dos prejuízos que a estes advierem do fato de não
se concluir a edificação ou de se retardar injustificadamente a conclusão das obras,
cabendo-lhe ação regressiva contra o construtor, se for o caso e se a este couber a
culpa;
[...]

Acerca da responsabilidade do incorporador Melhim Namem Chalhub (2019, p. 479)


elucida que “À luz dessa disposição legal, pouco importa que se trate de vício construtivo
decorrente de má execução dos serviços por construtor que o incorporador tenha contratado
para realizar a construção, pois a responsabilidade é dele, incorporador”. Portanto, em razão
da natureza da sua atividade, o incorporador é obrigado a garantir o produto que
comercializou, ainda que não o tenha construído diretamente.
Por fim, importante salientar que nos casos que envolvem incorporação imobiliária, o
construtor e o incorporador respondem de forma solidária pelos defeitos da construção. O
incorporador responde por ser o comercializador do imóvel, e por ter contratado a construção,
e o construtor responde em razão da garantia legal imposta a ele diante do seu trabalho.
Nestes casos, a legitimidade para reclamar sobre os defeitos será tanto dos condôminos, em
relação aos defeitos de suas unidades, quanto do condomínio, no que se refere aos defeitos das
áreas comuns (CAVALIERI FILHO, 2015, p. 789).

3.2.3 Agente Financeiro

Ainda que não esteja presente em todos os contratos de construção, o agente financeiro
é figura importante em muitos dos casos de incorporação imobiliária e vem constantemente
sendo objeto de discussão na esfera judicial no que diz respeito à sua responsabilidade pelos
vícios construtivos.
33

Sobre a responsabilidade do agente financeiro, o art. 31-A, §12 da Lei 4.591/1964


dispõe que quando ocorrer a contratação de financiamento bancário na incorporação
imobiliária, inclusive mediante transmissão das unidades imobiliárias integrantes da
incorporação para o credor, nenhuma das responsabilidades ou obrigações do incorporador ou
do construtor são transferidas para a instituição bancária (BRASIL, 1964).
Chalhub explica a respeito do tema:

“É que no financiamento das incorporações imobiliárias a instituição financeira atua


meramente como fornecedora de recursos financeiros para a execução da obra e,
após sua conclusão, concede financiamento individualmente a cada adquirente para
pagamento do preço de aquisição. Nessa condição, a instituição financeira não tem
qualquer interferência no projeto, na escolha dos materiais, na direção da obra e em
qualquer ato relacionado à atividade empresarial da incorporação; na dinâmica dessa
operação financeira, ao ser contratado o financiamento da construção, incorporador
e financiadora estabelecem um cronograma financeiro de liberação de parcelas de
recursos financeiros em correspondência a cada etapa da obra e, assim, o que faz a
instituição financeira é, periodicamente, verificar o estágio em que se encontra a
obra, cotejá-lo com a etapa prevista no cronograma físico de execução da obra e
liberar a parcela correspondente a essa etapa de obra, podendo liberá-la parcialmente
se a etapa estiver executada apenas em parte. Disso resulta que a instituição
financeira não interfere em qualquer ato relacionado ao projeto ou à execução da
obra, não sendo, portanto, passível de responsabilização por qualquer defeito de
construção, inexecução ou retardamento de qualquer obrigação do incorporador e/ou
do construtor relativa à realização da construção e entrega da obra com averbação da
construção no Registro de Imóveis. (CHALHUB, 2019, p. 485)

Contudo, se a instituição bancária atuar além das atividades de um mero agente


financeiro, como por exemplo, executando políticas públicas de promoção moradia, ela passa
a ser responsável solidariamente com o construtor e com o incorporador pelos vícios da obra.
O Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência que corrobora com esse entendimento:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


REPARAÇÃO DE VÍCIOS CONSTRUTIVOS CUMULADA COM
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. SFH. PROGRAMA
MINHA CASA MINHA VIDA. ILEGITIMIDADE DA CEF. ATUAÇÃO COMO
AGENTE FINANCEIRO. CONSONÂNCIA DO ACÓRDÃO RECORRIDO COM
A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. [...]
1. De acordo com a jurisprudência desta Corte, a Caixa Econômica Federal
"somente tem legitimidade passiva para responder por vícios, atraso ou outras
questões relativas à construção de imóveis objeto do Programa Habitacional Minha
Casa Minha Vida se, à luz da legislação, do contrato e da atividade por ela
desenvolvida, atuar como agente executor de políticas federais para a promoção de
moradia para pessoas de baixa renda, sendo parte ilegítima se atuar somente como
agente financeiro (...)" (AgInt no REsp 1.646.130/PE, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, Quarta Turma, DJe de 4/9/2018).
2. O eg. Tribunal de origem consignou que a CEF participou do contrato apenas na
qualidade de agente financeiro, tomando o imóvel como garantia fiduciária do valor
mutuado, de modo que as responsabilidades contratuais assumidas dizem respeito
apenas à atividade financeira, sem nenhuma vinculação com outras
34

responsabilidades referentes à concepção do empreendimento ou à negociação do


imóvel. [...] (BRASIL, 2022, p. 2, grifo do autor)

Sendo assim, pode-se concluir que a instituição bancária responsável por fornecer
recursos financeiros para a execução de uma construção só será por esta responsabilizada
quando sua atividade exceder a de um mero agente financeiro, onde exercer atividades
próprias de construção ou comercialização do imóvel.

3.3 INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NA CONSTRUÇÃO

O artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor incluiu no conceito de fornecedor o


construtor: “Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, [...], que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.” (BRASIL, 1990, grifo
do autor). Desta redação, também é possível inferir que o incorporador se enquadra no
conceito de fornecedor, vez que desenvolve atividade de comercialização de produtos.
Para Sérgio Cavalieri Filho, quando o construtor e o incorporador constroem e vendem
uma unidade imobiliária para o destinatário final do produto, está configurada a relação de
consumo:

Respeitando as opiniões em contrário, não há como negar que o


incorporador/construtor é um fornecedor de produtos ou serviços à luz dos conceitos
claros e objetivos constantes do art. 3o do CDC. Quando ele vende e constrói
unidades imobiliárias, assume uma obrigação de dar coisa certa, e isso é da essência
do conceito de produto; quando contrata a construção dessa unidade, quer por
empreitada quer por administração, assume uma obrigação de fazer, o que se ajusta
ao conceito de serviço. E sendo essa obrigação assumida com alguém que se
posiciona no último elo do ciclo produtivo, alguém que adquire essa unidade
imobiliária como destinatário final, para fazer dela a sua moradia e da sua família,
está formada a relação de consumo que torna impositiva a aplicação do Código do
Consumidor porque as suas normas são de ordem pública. Havendo circulação de
produtos ou serviços entre fornecedor e consumidor, teremos relação de consumo
necessariamente regulada pelo Código do Consumidor. (CAVALIEIRI FILHO,
2015, p. 790)

Este também é o entendimento de Paulo Nader (2016, p. 546), que explica que “Para
que o construtor se sujeite à legislação especial, há de ocupar um dos polos da relação jurídica
e, no outro, o destinatário final”.
Configurada a relação de consumo, o construtor e o incorporador passam a responder
não só nos ditames da legislação civil, mas também como fornecedores de um produto,
35

sujeitando-se às regras e disposições previstas no Código de Defesa do Consumidor, que são


muito mais protetivas e eficientes para o consumidor (CAVALIERI FILHO, 2022, p. 332).
O Código de Defesa do Consumidor consagra duas hipóteses de responsabilidade civil
aplicáveis ao fornecedor de produtos: a) responsabilidade pelo fato do produto (defeito), no
artigo 12; e b) responsabilidade pelo vício do produto, no artigo 18, in verbis:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o


importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto,
fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua utilização e riscos.
[...]
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis
respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem
impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor,
assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição
das partes viciadas. (BRASIL, 1990).

São entendidos como produtos defeituosos, pelo CDC (Art. 12, § 1º), aqueles que não
fornecem a segurança que dele se pode esperar, levando em consideração sua apresentação, o
uso e os riscos que dele se esperam, bem como a época em que foi colocado em circulação
(BRASIL, 1990). Já os produtos com vícios que os tornem impróprios para uso ou consumo,
para o CDC (Art. 18, § 6º), são aqueles cujos prazos de validades estejam vencidos, aqueles
que estejam deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos,
fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, aqueles em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação, bem como, os que por qualquer
motivo sejam considerados inadequados ao fim que se destinam (BRASIL, 1990).
Importante frisar, também, os ensinamentos de Hely Lopes Meirelles, no que diz
respeito à responsabilidade do construtor pelos vícios construtivos sob a ótica do CDC:

Quanto aos vícios construtivos, também responde o construtor (por empreitada ou


por administração) pelos danos que causar ao consumidor (arts. 18 a 25). Neste caso,
porém, o Código do Consumidor não repetiu a locução “independentemente da
existência de culpa”, utilizada nos arts. 12 e 14 para os defeitos. Mas isto não
transmuda sua responsabilidade em subjetiva, dependente de apuração de culpa. Há
um dever legal do fornecedor de que o serviço ou produto oferecido ao mercado
corresponda ao que dele se espera - dever de qualidade-adequação, no dizer de
Cláudia Lima Marques. Basta a comprovação da existência do vício para gerar a
responsabilidade do construtor - pelo quê se conclui ser esta de caráter legal.
(MEIRELLES, 2005, p. 290)
36

Como bem destacado, o tipo de responsabilidade aplicável às relações regidas pelo


Código de Defesa do Consumidor, é objetiva. O fornecedor responde frente aos consumidores
independentemente de ter agido ou não com culpa. (TARTUCE; NEVES, 2022, p. 137).
Inclusive, ressalta-se o disposto no art. 23 do CPC que dispõe que “A ignorância do
fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime
de responsabilidade.” (BRASIL, 1990), ou seja, o fornecedor responde ainda que não tivesse
ciência do vício.
Quanto ao ônus da prova relativo à comprovação dos defeitos ou vícios existentes na
obra, Sérgio Cavalieri Filho bem explica que é do fornecedor:

Vê-se, assim, que enquanto pelo Código Civil a vítima é que tem que provar o
defeito da obra e suas consequências, pelo Código do Consumidor o defeito é
presumido, o que em muito favorece a posição do consumidor. Ocorrendo o
acidente, o consumidor terá apenas que provar o dano e o nexo causal. Convém
ressaltar que mesmo em relação ao nexo causal não se exige da vítima uma prova
robusta e definitiva, eis que essa prova é praticamente impossível em certos casos.
Bastará, por isso, a chamada prova de primeira aparência, prova de verossimilhança,
decorrente das regras da experiência comum, que permita um mero juízo de
probabilidade. (CAVALIERI FILHO, 2022, p. 332)

Destaca-se, por fim, que no âmbito do Código de Defesa do Consumidor, a


responsabilidade entre os fornecedores é solidária, conforme disciplinado no art. 25, § 1º:
“Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente
pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.” (BRASIL, 1990). Desse modo, tanto o
construtor, quanto o incorporador, bem como os fornecedores de materiais específicos, são
responsáveis solidariamente pela obra, na medida da sua participação no produto/serviço.

3.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL NA CONSTRUÇÃO

Como já se viu, a responsabilidade civil aplicada à construção civil geralmente é


objetiva, ou seja, não requer a verificação de culpa, mas tão somente do defeito, do dano e do
nexo causal. Em virtude disso, poucas são as vezes que o construtor ou o incorporador
conseguirão se isentar da responsabilidade.
Afora as hipóteses de exclusão de responsabilidade já destacadas no capítulo
“Excludentes de responsabilidade civil”, que também podem ser aplicadas na construção civil,
mas que são mais genéricas, existem algumas causas específicas que devem ser observadas
quando se está falando da área da construção.
37

Chalhub (2019, p. 492) ensina que são excludentes de responsabilidade do construtor e


do incorporador os defeitos oriundos de a) mau uso do imóvel; b) falta de conservação e
manutenção do imóvel; e c) desgaste natural;
Em primeiro plano, no que diz respeito ao desgaste natural do imóvel, tem-se que é
algo completamente normal e esperado, vez que todos os produtos possuem uma vida útil
limitada, como bem explica Sério Cavalieri Filho (2021, p. 462): “[...] desgaste natural do
bem – decorre da sua fruição, uma vez que, não existindo produto eterno, é inevitável que
algum desgaste venha a ocorrer depois de tempo razoável do uso normal”.
O desgaste natural está ligado diretamente a vida útil do imóvel. Nas palavras de
Cavalieri Filho, vida útil significa tempo de durabilidade do bem:

[...] vida útil do produto ou serviço, entendendo-se como tal o tempo razoável de
durabilidade do bem de consumo, considerando a sua qualidade, finalidade e tempo
de utilização. Como os bens de consumo não são eternos, possuem durabilidade
variada, a identificação da vida útil exigirá sempre uma apreciação concreta em cada
caso, na qual o julgador tem certa flexibilidade, mas o fator tempo será sempre
relevante. (CAVALIERI FILHO, 2022, p. 210)

Nesse sentido, como os bens não são eternos, possuem um prazo razoável de
durabilidade, e passam por um desgaste normal após certo período de uso, não é possível
atribuir ao construtor a responsabilidade de arcar com os danos advindos desse desgaste.
Contudo, importa salientar que, pelo tipo de responsabilidade aplicável, cabe ao construtor
demonstrar que o dano sobreveio de desgaste natural e não de falha construtiva.
Já no que se refere ao mau uso e falta de manutenção do imóvel, trata-se de itens que
são de responsabilidade do proprietário do imóvel, conforme disciplinado pela NBR 15575-1:

Ao usuário ou seu preposto cabe realizar a manutenção, de acordo com o


estabelecido na ABNT NBR 5674 e o manual de uso, operação e manutenção, ou
documento similar (ver 3.26). O usuário não pode efetuar modificações que
prejudiquem o desempenho original entregue pela construtora, sendo esta última não
responsável pelas modificações realizadas pelo usuário. (ABNT, 2013, p. 13)

Como se vê, a norma é clara ao determinar que o construtor não será responsabilizado
por modificações realizadas pelo proprietário que prejudiquem o desempenho original do
imóvel. Além disso, a norma atribui ao usuário a responsabilidade pela manutenção do bem.
No que diz respeito à manutenção do imóvel, o construtor e o incorporador são
obrigados a fornecer ao proprietário da obra o manual de uso do imóvel, para que ele possa ter
conhecimento da necessidade de manutenção e da forma que ela deve ser feita, como elucida
Hely Lopes Meirelles:
38

É obrigatória a entrega, ao dono da obra ou primeiro comprador do imóvel, do


Manual do Proprietário. Mesmo antes do Código do Consumidor, a NBR-
5.671/1989 já previa a obrigatoriedade do fornecimento ao proprietário do ‘Manual
de Uso e Manutenção do Empreendimento’
[...]
Evidentemente, a obrigação de entrega do Manual não é só do incorporador, mas
também e principalmente do construtor, pois ele é o principal responsável pelas
obrigações decorrentes da construção. (MEIRELLES, 2005, p. 312)

Como manutenção, entende-se por “conjunto de atividades a serem realizadas para


conservar ou recuperar a capacidade funcional da edificação e seus sistemas constituintes, a
fim de atender às necessidades e segurança dos seus usuários” (ABNT, 2013, p. 8). Souza e
Ripper definem como “o conjunto de atividades necessárias à garantia do seu desempenho
satisfatório ao longo do tempo, ou seja, o conjunto de rotinas que tenham por finalidade o
prolongamento da vida útil da obra, a um custo compensador” (SOUZA; RIPPER, 1998, p.
21).
Em se tratando de atividade que deve ser realizada ao longo do tempo, muito após o
prazo de entrega da obra, é evidente que o único responsável possível por ela precisa ser o
usuário do imóvel. Diante disso, a falta de manutenção pelo usuário exclui a responsabilidade
do construtor e do incorporador pelos danos gerados, embora, mais uma vez, o ônus de
comprovar que o dano decorre de conduta causada pelo usuário recai sobre o
construtor/incorporador.
Em vista disso, este capítulo se dedicou a compreender a responsabilidade civil no
âmbito da construção civil, tratando a respeito das patologias construtivas e a forma que elas
podem ser fonte geradora de responsabilidade para o construtor e o incorporador de uma obra,
bem como o agente financeiro. Demonstrou-se também a incidência do Código de Defesa do
Consumidor nas relações abrangidas pela construção civil, e por fim apresentou as causas
excludentes de responsabilidade civil relacionadas específicas à área da construção.
Dessa forma, o próximo capítulo buscará abordar o dano moral decorrente do
reconhecimento de responsabilidade civil por vícios construtivos pela ótica da jurisprudência
do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, nos meses de janeiro a outubro de 2022, trazendo
uma análise dos julgados que concederam o dano moral nos casos de vícios construtivos e os
argumentos utilizados para a concessão, bem como dos julgados que não concederam e seus
motivos.
39

4 O DANO MORAL POR VÍCIOS CONSTRUTIVOS NA JURISPRUDÊNCIA DO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA NOS MESES DE JANEIRO A
OUTUBRO DE 2022

Conforme disposto no art. 5º, inciso X da Constituição Federal, são invioláveis a


intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano (material ou moral) advindo da sua violação (BRASIL, 1988).
O dano moral, como já disposto em capítulo anterior, é aquele relativo à intimidade da
pessoa, que gera abalos psíquicos ou que fere sua honra ou imagem. Humberto Theodoro
Júnior dispõe que os danos morais indenizáveis são aqueles que geram prejuízo grave:

Para que se considere ilícito o ato que o ofendido tem como desonroso é necessário
que, segundo um juízo de razoabilidade, autorize a presunção de prejuízo grave, de
modo que “pequenos melindres”, insuficientes para ofender os bens jurídicos, não
devem ser motivo de processo judicial. (THEODORO JUNIOR, 2016, p. 6)

Nos casos de vícios construtivos em imóveis, há hipóteses em que estes são capazes de
causar ofensas graves aos direitos de personalidade dos proprietários de imóveis, gerando
direito à indenização por dano moral, contudo, tal circunstância deve estar efetivamente
comprovada para dar azo à indenização moral, vez que o dano não pode ser presumido nestes
casos. Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

"o dano moral, na ocorrência de vícios de construção, não se presume,


configurando-se apenas quando houver circunstâncias excepcionais que,
devidamente comprovadas, importem em significativa e anormal violação de direito
da personalidade dos proprietários do imóvel" (BRASIL, 2018, p. 3).

Sendo assim, passa-se para a parte da pesquisa que se dedicará a analisar as


indenizações por dano moral sobre vícios construtivos na jurisprudência do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina, de modo a observar quais os critérios de concessão do dano moral
nestes casos, e quais os critérios para não concessão, verificando se há uniformidade ou
divergência nos parâmetros aplicados pelo Tribunal, e investigando se os argumentos
utilizados estão em consonância com a legislação cível abordada neste trabalho.
Para a realização da pesquisa, foi utilizado o site do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina, na aba “busca avançada” de jurisprudência, através do sítio eletrônico
https://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/#formulario_ancora, tendo sido pesquisadas as
palavras-chave “vícios construtivos” e “dano moral”, com o filtro temporal de 01/01/2022 a
40

01/10/2022, obtendo 15 (quinze) resultados nessa busca, onde todos serão estudados,
constando as ementas de cada decisão no Anexo A deste trabalho.

4.1 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL

Dos 15 (quinze) resultados encontrados na busca jurisprudencial, 5 (cinco) foram de


concessão do dano moral por vícios construtivos e 10 (dez) foram de não concessão do dano
moral, como se vê no gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Concessão do dano moral

Concessão do dano moral


CONCEDIDOS NÃO CONCEDIDOS

10

Total

Dos processos em que foram concedidas as indenizações, os valores variaram de R$


2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) à R$ 15.000,00 (quinze mil reais), como demonstrado
no gráfico abaixo:
41

Gráfico 2 – Valores dos danos morais

Valores dos danos morais

R$ 15.000,00 R$ 2.500,00
1 1

R$ 5.000,00
3

Assim, mostra-se necessária a análise individual de cada um dos processos, iniciando


por aqueles que concederam a indenização por danos morais.

4.1.1 Processos que concederam danos morais por vícios construtivos

No primeiro processo de concessão do dano moral, de número 0302908-


37.2015.8.24.0082, foi fixada a indenização por dano moral no montante de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) para cada autor, sendo dois autores.
Trata-se de caso em que os autores adquiriram um apartamento e logo após passarem a
residir no imóvel este apresentou uma série de problemas relacionados a falhas nos sistemas
de impermeabilidade. A perícia realizada nos autos constatou que os defeitos foram advindos
de falha no sistema de impermeabilização no apartamento de cima, uma cobertura, que
ocasionou diversos problemas no apartamento dos autores, como mofos, infiltrações, goteiras
e estragos nos mobiliários decorrentes desses defeitos. A sentença entendeu pela procedência
do pedido de indenização por danos materiais, relativos às despesas necessárias à eliminação
do problema de infiltração, bem como a condenação por danos morais.
O Tribunal de Justiça entendeu pela manutenção da condenação por danos morais, no
montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para cada autor, utilizando como argumento
principal o fato de que os vícios do caso acarretaram consequências que ultrapassaram o mero
42

descumprimento do dever de garantia, bem como ultrapassaram o mero dissabor do cotidiano.


Nos termos da decisão:

os vícios fizeram com que os autores, tivessem que se preocupar constantemente em


razão do negócio realizado. Primeiro, quando as primeiras rachaduras
apareceram, com a qualidade da coisa que comprara. Depois de a ré consertar esses
defeitos, houve o retorno do mesmo problema, quando então passou a se questionar
sobre a segurança do bem que habitava. Aliás, os vídeos colacionados aos autos
revelam situação bastante preocupante. Decerto não é nada prazeroso o dia a dia de
quem olha para sua casa e vê água pingando do teto, com claros prejuízos ao bem
em si e possivelmente ao mobiliário que o guarnece. As preocupações cotidianas
com o que acontecerá a cada nova intempérie climática ultrapassam limites
toleráveis. (SANTA CATARINA, 2022a)

O segundo processo de concessão do dano moral foi o de número 0002819-


21.2011.8.24.0020, que trata de demanda indenizatória ajuizada pela proprietária de um
imóvel em face de empresa de arquitetura (contratada para elaboração de projeto de
arquitetura) e empresa de engenharia (contratada para execução de obra de reforma em sua
residência). A parte autora afirma que as reformas foram feitas em completa desconformidade
com as normas técnicas e de segurança, gerando vícios estruturais no imóvel.
O juízo reconheceu a responsabilidade pelos vícios apenas da empresa de engenharia
contratada para a execução do projeto, reconhecendo a ilegitimidade da empresa de
arquitetura, pela ausência de erro no projeto arquitetônico. Ainda no tocante à
responsabilidade da empresa de engenharia, o órgão julgador destacou que por ser a
“empreiteira a detentora do conhecimento técnico necessário no ramo, caberia a ela empregar
todos os meios disponíveis para garantir a qualidade e segurança do empreendimento,
comportamento não observado no caso” (SANTA CATARINA, 2022b). Com isso, a empresa
de engenharia foi condenada à devolução dos valores recebidos à autora, bem como ao
pagamento de danos morais.
Os danos extrapatrimoniais haviam sido concedidos no patamar de R$ 10.000,00 (dez
mil reais), mas foram minorados em recurso para o montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais),
sob o argumento de tal valor “se afigura justo e adequado, sendo passível de abrandar a
situação a qual a demandante foi exposta, compensando o abalo moral sofrido e, ainda,
concomitantemente, de exercer função de desestímulo a novas práticas lesivas do requerido.”
(SANTA CATARINA, 2022b). O cabimento ou não de danos morais não foi objeto de
discussão no recurso.
Nos autos de número 0805508-56.2013.8.24.0045, quatro autoras adquiriram quatro
unidades habitacionais em um condomínio, e verificaram que os imóveis apresentaram
43

diversos problemas construtivos, principalmente no que se refere ao sistema de esgoto. A


sentença condenou os réus ao reparo dos vícios constatados por laudo pericial, e negou os
danos morais requeridos. As autoras se insurgiram em grau de recurso quanto ao dano moral.
O Tribunal de Justiça reformou a decisão de origem, concedendo o dano moral às autoras, sob
argumento de que restou comprovado nos autos a existência de vício construtivo que
ultrapassou a esfera do mero dissabor/ mero inadimplemento contratual. No caso em apreço,
as autoras tiveram que conviver por 3 anos com problemas no sistema de esgoto do edifício,
tendo ocorrido inclusive o transbordamento do esgoto, com o derramamento de detritos
sanitários na calçada, sendo o problema só solucionado quando determinada a obrigação de
fazer em sede de tutela de urgência. O órgão colegiado entendeu sob a seguinte
fundamentação:

ter sido violada a prerrogativa das Autoras e de qualquer cidadão de manter a


integridade física de sua moradia, fato que atinge a harmonia subjetiva do morador,
considerando inegável abalo anímico. [...] é evidente que o abrupto e inesperado
transbordamento do esgoto do imóvel enseja em seu proprietário e morador
insegurança e aflição, aliado à demora e resistência do responsável em sanar o
problema, gerando inexorável abalo moral. (SANTA CATARINA, 2022g).

Sob estes fundamentos, foi concedido a indenização por danos morais a cada uma das
autoras, no patamar de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais).
O quarto processo de concessão, de número 0301426-26.2016.8.24.0080, se refere à
ação de obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por danos morais ajuizados
pelos compradores de uma residência em face da construtora. Alegaram que após algum
tempo da aquisição do imóvel, este apresentou diversas falhas estruturais como rachaduras,
infiltrações, desníveis, falhas no reboco e outros. A sentença julgou procedentes os pedidos de
obrigação de fazer, obrigando a ré a reparar os vícios constatados no imóvel por meio de
perícia, bem como condenou a ré ao pagamento de indenização por danos morais no importe
de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
Os autores se insurgiram no recurso apenas no tocante ao valor da indenização por
danos morais. O Tribunal de Justiça manteve o valor fixado em sentença, argumentando que,
embora a falha da construtora tenha extrapolado o limite do tolerável, por ter deixado o
imóvel em condições insalubres, o valor arbitrado pelo juízo singular está de acordo com as
peculiaridades do caso e com os parâmetros adotados pelo tribunal em situações semelhantes.
Por fim, o processo número 0313525-05.2016.8.24.0023, trata de ação de obrigação de
fazer com pedido de indenização por danos materiais e morais, em que os autores afirmam
44

serem proprietários de imóvel localizado abaixo do apartamento pertencente aos réus e que
sofrem vícios construtivos como infiltrações, goteiras, rachaduras e outros problemas
provenientes da ausência de manutenção do imóvel dos réus.
O laudo pericial realizado no processo demonstrou que as infiltrações presentes no
apartamento dos autores têm como origem falhas no imóvel dos réus, que fica no andar
superior. Foram constatados os seguintes vícios no imóvel dos autores: deterioração do
revestimento argamassado (reboco) e da pintura afetados pelas infiltrações; insalubridade do
ambiente provocado pela formação de mofos nos ambientes; desconforto e sensação de
insegurança provocadas pelas fissuras e pelo descascamento da pintura; deterioração dos
móveis de madeira MDF instalados próximos aos pontos de infiltração. E o laudo confirmou
que as infiltrações do apartamento dos autores são provenientes de problemas de
impermeabilização existentes na cobertura.
A sentença condenou os réus a realizar os reparos necessários no imóvel dos autores,
ao pagamento de indenização pelos danos materiais comprovados e indenização por danos
morais no importe de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). Em grau recursal, o Tribunal de Justiça
entendeu pela manutenção da indenização arbitrada pelo juízo singular vez que: a) os
problemas de infiltração perduraram por anos e em todos os ambientes do imóvel e os réus se
recusaram a solucionar os problemas pela via extrajudicial; b) tais infiltrações limitaram o uso
do imóvel e geraram preocupações com móveis e eletrônicos, bem como infortúnios com a
parte estética, tendo os autores que utilizar baldes e panos para conter a umidade do imóvel.
Desse modo, julgaram como adequada a indenização e o montante fixado.

4.1.2 Processos que não concederam danos morais por vícios construtivos

O primeiro processo de não concessão de dano moral é o de número 0005525-


22.2011.8.24.0005, que se trata de uma demanda de obrigação de fazer com pedido de
indenização por danos materiais e morais ajuizada por um condomínio em face de construtora
contratada para realizar serviços no edifício. Alegou o condomínio que menos de 05 (cinco)
anos após a entrega da obra os moradores do condomínio observaram a existência de diversos
defeitos relativos à construção. A prova pericial realizada nos autos concluiu que as
irregularidades encontradas no condomínio são decorrentes de má execução do serviço, e não
decorrem de falta de manutenção preditiva, como quis alegar a construtora ré. A sentença
condenou a empresa ré ao pagamento de indenização por danos materiais em razão do vício
na prestação de serviços, bem como obrigou a ré a executar os serviços necessários para
45

correção dos defeitos relatados na obra. No tocante ao dano moral, a sentença foi de
improcedência. O condomínio se insurgiu nesse ponto em seu recurso, tendo o Tribunal de
Justiça mantido a decisão singular, fundamentando que o condomínio, por ser uma massa
patrimonial, não é capaz sofrer mácula em sua honra objetiva capaz de ensejar dano moral, e
ainda que se admitisse essa possibilidade, não houveram indícios que os defeitos atingiram a
credibilidade do condomínio, além de que a perícia constatou que a edificação em questão não
apresentava risco de colapso, motivo pelo qual não caberia dano moral.
No processo de número 5002103-83.2020.8.24.0054, a parte autora postulou
indenização por danos materiais e morais em face do Banco do Brasil S.A. em razão de vícios
construtivos constatados no seu imóvel, adquirido pelo programa “Minha Casa Minha Vida”,
cujo contrato era vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação. A perícia técnica realizada
no condomínio em que se encontra o imóvel constatou diversos vícios de construção no
condomínio e nos apartamentos:

“Recalque de grau considerável nas calçadas e nos muros de contenção, manchas,


bolhas e desplacamentos nos revestimentos da fachada associadas à presença de
umidade, causando riscos de queda de revestimento sobre os usuários que circulam
pelas edificações, deterioração do reboco e pintura ao longo do perímetro da
edificação em função da ascendente indicativa de ausência ou insuficiência de
impermeabilização. Presença de trincas, fissuras e rachaduras generalizadas nos
revestimentos da paredes, abatimento da área de circulação de veículos da entrada
do residencial, desplacamento ou som cavo de revestimento de todos os corredores e
apartamentos vistoriados e ineficácia severa em todo o sistema de esgoto e hidros
sanitário, inclusive com a ausência de filtros e sumidouros nas fossas, sendo um
grave problema de saúde pública, abatimento nos muros de contenção como
provável ausência de drenagem e sobrecarga do sistema e, por fim, a ineficácia da
cobertura (telhado) dos quatro blocos que compõem o residencial, caracterizadas
pelo caimento em desacordo com as normas técnicas, bem como ausência de
parafusamento nas telhas de fibrocimento.” (SANTA CATARINA, 2022d).

A sentença reconheceu a responsabilidade da instituição financeira pelos vícios,


condenando ao pagamento dos danos materiais comprovados pela autora, mas negando os
danos morais postulados. Em grau recursal, o Banco do Brasil tentou ver reconhecida sua
ilegitimidade para responder pelos danos, alegando ser mero agente financeiro, e a autora
postulou novamente os danos morais.
O tribunal de justiça confirmou a responsabilidade do Banco pelos vícios construtivos,
tendo em vista que este não atuou como mero agente financeiro, mas sim como responsável
pela execução de empreendimento destinado ao direito de moradia para população de baixa
renda no âmbito do programa “Minha Casa Minha Vida”.
46

No tocante aos danos morais, o Tribunal manteve a negativa, sob o fundamento que a
situação se trata de mero inadimplemento contratual incapaz de gerar abalo anímico
indenizável, afirmando que:

o dano moral demanda a existência de agressão para além da naturalidade dos fatos
cotidianos, causando aflições fundadas ou angústia no espírito da vítima, de modo
que dissabores, frustrações ou sensibilidade extrema, decorrentes do simples
descumprimento contratual, estão excluídos da espécie. (SANTA CATARINA,
2022d).

O terceiro processo, de número 0300174-07.2018.8.24.0051, se trata de caso em que


as partes firmaram contrato verbal de compra e venda relativo a um apartamento situado em
condomínio. Na época das negociações o imóvel estava inacabado, ficando a construtora
responsável pelas obras faltantes, o que não ocorreu, ocasionando o inadimplemento
contratual. De acordo com o laudo técnico realizado, o imóvel possuía os seguintes vícios
construtivos: infiltrações, fissuras nas paredes e no teto, escadas sem corrimão e infiltrações
na garagem, falta de iluminação e de pavimento, além de ter sido constatado pelo Corpo de
Bombeiros que o imóvel estava em desacordo com as “normas de segurança contra incêndio e
pânico”. A sentença determinou a rescisão contratual, com a devolução dos valores
adimplidos pelo autor, e o retorno das partes ao status quo ante. No tocante aos danos morais,
foram negados. Em grau de recurso, o Tribunal de Justiça manteve a rescisão contratual e
também manteve a negativa do dano moral, sob fundamento de que o mero inadimplemento
contratual por si só não é capaz de gerar abalo moral indenizável, e que não haviam nos autos
provas aptas a ensejar a reparação moral pretendida, destacando o entendimento da sentença:
“Muito embora o autor tenha criado efetiva expectativa de conclusão da obra, a aquisição de
imóvel na planta envolvem os riscos de seu descumprimento, o que não pode ensejar dano
moral presumido.” (SANTA CATARINA, 2022e).
Já o processo 0300941-69.2017.8.24.0022, cuida de ação de indenização por danos
materiais e morais ajuizada pelos adquirentes de uma casa em condomínio em face da
construtora. Os autores alegam que com o decorrer do tempo começaram a aparecer diversos
vícios no imóvel em razão da má construção da casa. O laudo pericial realizado no imóvel
constatou que a edificação possui grande deficiência patológica em seu revestimento,
classificando as anomalias como de média monta, que apesar de não apresentar problemas
estruturais que possam acarretar risco à segurança dos moradores, pode provocar a perda
parcial do desempenho e funcionalidade da edificação. A sentença acolheu o pedido de dano
material e negou o pedido de dano moral por ausência de prova de efetivo prejuízo à honra e à
47

imagem. O objeto do recurso ao Tribunal de Justiça foi o dano moral. O órgão colegiado
manteve a negativa entendendo que:

o pedido de indenização fundou-se basicamente no aborrecimento causado pela


negativa da ré em realizar os reparos devidos em seu imóvel, sendo que os apelantes
não demonstraram nenhum elemento concreto que indicasse um efetivo abalo à
honra objetiva ou subjetiva. (SANTA CATARINA, 2022f).

O acórdão ainda dispôs que, o laudo pericial confirmou que não há problemas
estruturais no imóvel, apenas de revestimento, de modo que, não havendo risco de ruína, o
mero inadimplemento contratual não dá azo à indenização moral.
No processo de número 5015479-87.2020.8.24.0038, o autor afirmou que assim que
ingressou no apartamento que adquiriu da construtora ré percebeu diversas irregularidades
como infiltrações e rachaduras, razão pela qual pretende ser indenizado pelos vícios
construtivos. A sentença entendeu por condenar a ré a realizar os reparos necessários para
sanar os vícios construtivos encontrados no apartamento, mas negou os danos morais
postulados. O Tribunal de Justiça manteve a negativa do dano moral, por entender que a
situação se tratou de mero inadimplemento contratual, que não lhe causaram aborrecimentos
além dos normais. Ademais, afirmou que o requerente nunca residiu no imóvel, de modo que
sequer sofreu com as infiltrações encontradas no apartamento.
Os autos número 0014426-94.2012.8.24.0020 e número 0006203-21.2013.8.24.0020
foram julgados de forma conjunta, com elaboração de minuta de acórdão idêntica em ambos
os processos, pelo reconhecimento da conexão entre eles. Trata-se de caso em que os autores
contrataram a empresa ré para a construção de sua residência. A empresa atrasou a entrega da
obra, e nas partes que entregou foram constatados diversos vícios de construção, motivo pelo
qual os autores postularam a rescisão do contrato, com indenização por danos materiais e
morais sofridos. O laudo pericial realizado nos autos listou uma séria de patologias
encontradas no imóvel, como infiltrações, vazamentos, mofo e outros, decorrentes da
inadequada execução dos serviços, e da má qualidade dos produtos empregados, ressaltando,
contudo, que nenhuma das patologias coloca em risco a estrutura do imóvel. A sentença
entendeu por rescindir o contrato, e condenar a empresa ré ao pagamento dos danos materiais
comprovados, e danos morais no importe de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). A empresa ré
apresentou recurso contestando, dentre outras coisas, a condenação por danos morais. O
Tribunal de Justiça acolheu o recurso da ré, modificando a decisão de origem para afastar a
condenação por danos morais, afirmando que não houve comprovação de lesão que
48

ultrapassasse a esfera do mero inadimplemento contratual. Ademais, os vícios constatados no


imóvel poderiam ter sido minimizados com uma melhor manutenção, como observado pelo
perito do juízo, de modo que os incômodos sofridos não dão azo à indenização moral.
No oitavo processo de negativa, de número 0303795-56.2018.8.24.0004, a parte autora
ajuizou ação de obrigação de fazer cumulada com pedido de danos morais em face da
construtora do apartamento que adquiriu. Aduziu que após passar a residir no imóvel este
apresentou diversos vícios, como bolhas, rachaduras, deformações no reboco e outros, de
modo que pleiteou pela obrigação da ré em realizar os reparos, bem como pediu danos morais
pela situação sofrida. A sentença deferiu o pedido de obrigação de fazer, mas indeferiu o
pedido de danos morais. O Tribunal de Justiça manteve a negativa do dano moral, afirmando
que o laudo pericial realizado no imóvel identificou que as patologias construtivas
encontradas não eram problemas capazes de acarretar riscos à segurança da autora, de forma
que o mero inadimplemento contratual, por si só, não é causa capaz de gerar dano moral, não
tendo ficado comprovando nos autos constrangimento extraordinário em razão da inexecução
da obrigação.
No processo número 0018499-77.2014.8.24.0008 os autores adquiriram apartamento
em empreendimento construído pela parte ré, e após passarem a residir no imóvel constataram
a existência de diversos vícios de construção. A sentença condenou a ré ao pagamento de
indenização pelos danos materiais decorrentes dos vícios construtivos e do atraso na entrega
da obra, tendo negado o pedido de indenização por danos morais. Em grau recursal, o
Tribunal de Justiça manteve a negativa da indenização por danos morais, entendendo que no
caso ocorreu o mero inadimplemento contratual, que por si só não enseja o pagamento de
indenização por danos morais, não tendo sido comprovado nos autos qualquer dano capaz de
gerar abalo anímico a ser indenizado.
Por fim, nos autos número 5016362-94.2020.8.24.0018 o autor adquiriu apartamento
em empreendimento construído pela parte ré, e após passar a residir constatou a existência de
diversos vícios de construção no imóvel. A sentença entendeu que o autor não especificou
quais os danos a serem reparados em seu apartamento, se limitando a alegações genéricas de
vícios no edifício como um todo, de modo que indeferiu o pedido de danos materiais, mas
deferiu o pedido de danos morais. Em grau recursal, o Tribunal de Justiça reformou a decisão
no tocante à indenização por danos morais, entendendo que no caso ocorreu o mero
inadimplemento contratual, que por si só não enseja o pagamento de indenização por danos
morais, e que no caso, apesar de o condomínio em que o autor reside possuir vícios
49

construtivos, sua unidade imobiliária não possui problemas de habitação, de modo que não é
cabível a indenização por danos morais.

4.2 O DANO MORAL POR INADIMPLEMENTO CONTRATUAL

Da análise dos julgados é possível inferir que não há um padrão para concessão de
danos morais por vícios construtivos. Das cinco decisões que concederam o dano moral, cada
uma apresentou argumento diverso, sendo verificado em cada caso concreto se ficaram
comprovados abalos morais acima do entendido como razoável pelo Tribunal.
Nos processos em que a indenização por danos morais foi negada, o principal
argumento utilizado pelos togados foi o do mero inadimplemento contratual, sendo que dos
10 processos em que o dano moral não foi concedido, em 9 foi mencionado o termo “mero
inadimplemento contratual” como fundamento decisório.
Diante disso, é importante entender se os critérios utilizados pelo Tribunal de Justiça
estão em consonância com a legislação e o entendimento doutrinário sobre o tema.
Primeiramente, importa esclarecer que a relação obrigacional em que estão enquadradas as
partes dos processos ora analisados é contratual, tendo em vista que foram estudados casos
relativos a contratos de compra e venda de imóveis, sendo a responsabilidade civil aplicável a
estes casos também contratual.
A respeito da responsabilidade contratual, Rogério Donnini explica:

Numa relação obrigacional o que se espera do devedor é o exato cumprimento da


obrigação, ou seja, o preciso cumprimento da prestação assumida. Contudo, nem
sempre isso acontece, por se deparar o credor com o descumprimento da prestação
pelo devedor ou ainda a inexatidão, o cumprimento inadequado, impróprio dessa
prestação, o que resulta no dever de indenizar os danos causados. (DONNINI, 2011,
p. 16)

Maria Helena Diniz (2022, p. 97) também elucida que “O mero descumprimento
injustificado de uma prestação avençada resulta para a parte lesada a possibilidade de
reparação do dano que, em regra, substitui a prestação.”
Em outras palavras, pode-se entender que do inadimplemento contratual surge o dever
de indenizar. A respeito do descumprimento de contrato, o Código Civil, em seu artigo 389,
dispõe que: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado.” (BRASIL, 2002).
50

Com essa redação, o diploma civil deixou de trazer, expressamente, a possibilidade de


indenização por danos morais em razão do inadimplemento contratual, consagrando apenas a
hipótese do dano material. Monteiro Filho expõe que “ao assim proceder abriu ensanchas à
exegese literal que indica a solução negativa à reparabilidade do dano extrapatrimonial no
seio do direito dos contratos”. (2016, apud LIMA, 2020, p. 132).
Contudo, embora não adotada pelo Código Civil, a reparação por danos morais em
decorrência do descumprimento contratual foi admitida pela doutrina e pela jurisprudência
como uma possibilidade, ainda que não em todos os casos.
Carlos Alberto Bittar elucida a respeito desta possibilidade:

normalmente, defluem danos materiais das relações patrimoniais, uma vez que nessa
esfera buscam as partes a satisfação de interesses econômicos, esgotando-se os seus
efeitos, pois, de regra, no plano referido, com a não execução de obrigações
contratuais. Podem, no entanto, ações ou omissões de qualquer das partes ofender a
moralidade da outra, fazendo emergir, assim, a temática em questão, em diferentes
contratos, ou em compromissos assumidos na vida negocial, nas quais se atinjam a
personalidade, ou bens de estimação do lesado. Assim, por descumprimento de
obrigação, por mora ou por força de cumprimento defeituoso, consequências lesivas
de ordem moral são frequentes na vida de relações, a exigir a devida reparação.
(BITTAR, 2015, p. 186)

Nesse sentido, o dano por descumprimento contratual será reparável a depender o


objeto do contrato inadimplido. Se o objeto é de cunho estritamente patrimonial, o dano será
apenas material, mas se o contrato for de prestação incidente sobre a pessoa, pode, no caso de
descumprimento, causar lesões na esfera extrapatrimonial, e assim ser passível de indenização
moral (THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 111).
Como já mencionado, não são todas as hipóteses de inadimplemento contratual que
admitem reparação por danos morais. O Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento,
bastante consolidado, que o “mero inadimplemento contratual” não é causa passível de
indenização moral:
[...] A jurisprudência desta Corte Superior se firmou na vertente de não acarretar
dano moral o tão só descumprimento de contrato, como o de promessa de compra e
venda de imóvel, pois o inadimplemento da obrigação contratual não é imprevisível,
não gerando, de forma extraordinária, ofensa a direito da personalidade, ainda que
enseje desconforto e frustração na esfera íntima do indivíduo. (BRASIL, 2009, p. 1).

Sobre esse entendimento, Cavalhieri Filho (2021, p. 134) explica que “o


inadimplemento contratual só enseja dano moral quando os seus efeitos se irradiam para a
esfera da pessoa, ofendendo de maneira relevante a sua personalidade”. Sendo assim, para
51

ensejar a indenização moral o descumprimento contratual deve ultrapassar a esfera do mero


inadimplemento, causando efeitos de natureza mais grave à esfera íntima da pessoa.
Alexandre Pereira Bonna esclarece acerca do chamado “mero dissabor”:

"é possível verificar a violação de um bem existencial e não ser o caso de reconhecer
o direito à indenização, especialmente quando a intensidade da violação de um
interesse existencial protegido juridicamente for tão baixa a ponto de se comparar
com intercorrências inerentes à vida humana, no que doutrina e jurisprudência
convencionaram a chamar de mero dissabor ou mero aborrecimento." (BONNA,
2021, p. 13)

Dessa forma, o mero descumprimento contratual, sem outras evidências de grave lesão
ao foro íntimo da pessoa, não gera responsabilização por danos morais. O Tribunal de Justiça
de Santa Catarina inclusive editou a Súmula 29 que trata sobre o tema: "o descumprimento
contratual não configura dano moral indenizável, salvo se as circunstâncias ou as evidências
do caso concreto demonstrarem a lesão extrapatrimonial" (SANTA CATARINA, 2019).
Diante disso, têm-se que os julgados do Tribunal de Justiça de Santa Catarina ora
analisados, que tratam a respeito de danos morais por vícios construtivos, estão em
consonância com a legislação e doutrina atuais.
Nos processos em que o argumento utilizado pelo Tribunal de Justiça foi o do mero
inadimplemento contratual, o órgão colegiado entendeu que os requerentes da indenização
não comprovaram a ocorrência efetiva de dano à personalidade, intimidade, honra,
personalidade, ou à vida privada, de modo que não faziam jus à indenização.
Ademais, outro ponto analisado pelos julgadores no momento da não concessão da
indenização foi o da gravidade dos vícios construtivos. Para que sejam concedidos danos
morais por problemas de construção, alguns julgados entendem que os vícios devem ser
graves a ponto de comprometer a estrutura do imóvel, gerando risco de ruína ou risco à
segurança da edificação.
Sendo assim, é possível concluir que a não concessão do dano moral por vícios
construtivos se dá em virtude por dois motivos principais: a) a não comprovação da
ocorrência de dano que ultrapassasse a esfera do mero inadimplemento contratual; e b) a
existência de vícios construtivos que não são capazes de comprometer a segurança do imóvel.
Sendo concedidas indenizações apenas nos casos em que os danos ultrapassaram a esfera do
“mero dissabor”.
52

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho se propôs a estudar as decisões do Tribunal de Justiça de Santa


Catarina referentes aos danos morais por vícios construtivos, de modo a entender os motivos
que levam o órgão julgador a entender pela procedência ou improcedência dos pedidos de
indenização por danos morais na hipótese.
Para que se pudesse chegar à pesquisa em questão, foi necessário fazer primeiramente
uma contextualização conceitual do instituto da responsabilidade civil, onde se verificou que a
responsabilidade civil pode ser dividida em algumas espécies, como contratual e
extracontratual, objetiva e subjetiva e ainda a responsabilidade prevista no Código de Defesa
do Consumidor. Além disso, foram abordados os elementos da responsabilidade civil, sendo o
ato ilícito, o nexo causal, o dano e a culpa. Ademais, demonstrou-se as causas excludentes de
responsabilidade civil aplicáveis ao Código Civil e ao Código de Defesa do Consumidor,
sendo as principais o caso fortuito e a responsabilidade exclusiva da vítima.
Em segundo ponto, tratou-se da responsabilidade no campo da construção civil. Foram
conceituadas as patologias construtivas, que podem ser tanto de projeto, quanto em razão da
má execução da construção, ou da má qualidade da construção. Além de terem sido abordadas
os vícios construtivos relativos à solidez, segurança e perfeição da obra, bem como os vícios
redibitórios, que são os vícios ocultos, percebidos após algum tempo de uso. Explicou-se a
respeito dos agentes passíveis de sofrerem responsabilização pela construção, sendo os
principais o construtor e o incorporador, e foi tratada também a questão da excludente de
responsabilidade desses agentes, pela falta de manutenção por parte do usuário, ou pelos
desgastes naturais do imóvel.
Posteriormente, adentrou-se na pesquisa de fato, onde foram analisadas 15 (quinze)
decisões do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, obtidas no lapso temporal de 01/01/2022 a
01/10/2022, que tratavam a respeito da indenização por danos morais decorrentes de vícios
construtivos.
Com a análise destas decisões, pôde-se concluir que o Tribunal não possui um
parâmetro único para concessão do dano moral, mas que observa alguns pontos para prover o
pedido de indenização, sendo eles: a gravidade dos vícios constatados no imóvel, sendo
providos os danos morais apenas em casos de defeitos graves, o tempo em que as pessoas
tiveram que conviver com os vícios, e a conduta do causador do dano, de não resolver de
forma extrajudicial o problema.
53

Além disso, os valores das decisões levaram em conta também esses pontos, sendo
que o valor mais adotado pelo tribunal foi de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), aplicado em três
casos, e o maior valor foi de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), que considerou principalmente a
gravidade dos vícios e o tempo em que perduraram.
Já nas hipóteses de não concessão do dano moral, percebeu-se que o Tribunal adota
um parâmetro decisório uniforme: nos casos em que há um mero inadimplemento contratual,
com vícios que não comprometem a estrutura do imóvel, e nos casos sem evidências
concretas de lesão aos direitos de personalidade da pessoa, não cabe indenização.
Verificou-se, por fim, se as decisões emitidas pelo Tribunal seguiam o entendimento
da doutrina e da jurisprudência sobre o tema, concluindo-se que sim, vez que tanto a doutrina
quanto o Superior Tribunal de Justiça possuem entendimento de que só é cabível dano moral
por inadimplemento contratual nos casos mais graves, com lesões comprovadas ao foro
íntimo da pessoa.
Sendo assim, foi possível inferir que, para o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, o
dano moral decorrente de vícios construtivos é cabível apenas quando cabalmente
comprovado que os vícios ultrapassam a esfera do mero inadimplemento contratual, com
prova de lesão extrapatrimonial, levando em conta a gravidade do vício e o período de
duração do defeito.
Desse modo, acredita-se que a jurisprudência Catarinense vem abordando de forma
justa o tema em seus julgados, concedendo indenizações conforme a gravidade dos casos, e
apenas nos processos em que os danos morais foram devidamente comprovados, não
favorecendo a chamada “cultura das indenizações”.
54

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15575:2013.


Edificações habitacionais — Desempenho: Parte 1: Requisitos gerais. 2013. 71 p. Disponível
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ABNT%20NBR%2015575-1%20-
%20Edificios%20habitacionais%20de%20ate%20cinco%20pavimentos%20-
%20Desempenho%20-%20Parte%201%20Requisitos%20gerais.pdf. Acesso em 12 set 2022.

BITTAR, Carlos Alberto. Reparação civil por danos morais. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

BRAGA NETTO, Felipe Peixoto; FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson.
Novo tratado de responsabilidade. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. E-book. Acesso
restrito via Minha Biblioteca.

BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá


outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078compilado.htm. Acesso em 07 set 2022.

BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil e dá outras


providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/110406compilada.htm. Acesso em: 07 set
2022.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 07 set 2022.

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506.143/RJ. Relator: Ministro Vasco Della Giustina, 15 de setembro de 2009. Disponível em:
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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Agravo Em Recurso Especial n.


1288145/DF. Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, 12 de novembro de 2018.
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Haidée Denise Grin, 26 de maio de 2022f. Disponível em:
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Marcos Fey Probst, 31 de maio de 2022g. Disponível em:
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SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação n. 0301426-26.2016.8.24.0080. Relator:


Luiz Cézar Medeiros, 05 de julho de 2022i. Disponível em:
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SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação n. 0014426-94.2012.8.24.0020. Relator:


Luiz Cézar Medeiros, 26 de julho de 2022j. Disponível em:
https://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=&only_ementa=&frase=&id=32165894570
4905045363666029677&categoria=acordao_eproc. Acesso em 20 out 2022.

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação n. 0006203-21.2013.8.24.0020. Relator:


Luiz Cézar Medeiros, 26 de julho de 2022k. Disponível em:
https://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=&only_ementa=&frase=&id=32165894570
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SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação n. 0303795-56.2018.8.24.0004. Relator:


Haidée Denise Grin, 18 de agosto de 2022l. Disponível em:
https://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=&only_ementa=&frase=&id=32166084067
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SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação n. 0018499-77.2014.8.24.0008. Relator:


Osmar Nunes Júnior, 25 de agosto de 2022m. Disponível em:
https://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=&only_ementa=&frase=&id=32166152772
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SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação n. 0313525-05.2016.8.24.0023. Relator:


Marcio Rocha Cardoso, 13 de setembro 2022n. Disponível em:
https://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=&only_ementa=&frase=&id=32166309639
6157353188477620169&categoria=acordao_eproc. Acesso em 20 out 2022.

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação n. 5016362-94.2020.8.24.0018. Relator:


Luiz Cézar Medeiros, 20 de setembro 2022o. Disponível em:
https://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=&only_ementa=&frase=&id=32166371992
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SENA, Carolina Silva. et al. Gestão de obras e patologia das estruturas. Porto Alegre:
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SOUZA, Vicente Custódio Moreira de; RIPPER, Thomaz. Patologia, recuperação e reforço de
estruturas de concreto. São Paulo: Pini, 1998. E-book. Disponível em:
http://andrerodrigues.eng.br/wp-
content/uploads/2020/07/Patologia_recupera%C3%A7%C3%A3o_e_refor%C3%A7o_de_est
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TAPAI, Marcelo de Andrade. Direito imobiliário. 2. ed. Rio de Janeiro: Método, 2022. E-
book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

TARTUCE, Flávio. Responsabilidade civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022. E-book.
Acesso restrito via Minha Biblioteca.

TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito do consumidor:


direito material e processual. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense; Método, 2022. E-book. Acesso
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inicial. Disponível em: http://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/#formulario_ancora. Acesso em
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VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: obrigações e responsabilidade civil. 22. ed. São
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WEIMER, Bianca Funk. et al. Patologia das estruturas. Porto Alegre: SAGAH, 2018. E-book.
Acesso restrito via Minha Biblioteca.
59

APÊNDICE A – LISTAGEM DOS PROCESSOS ANALISADOS

1. Apelação n. 0302908-37.2015.8.24.0082, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.


Relator: Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, julgado em 22-02-
2022.
2. Apelação n. 0002819-21.2011.8.24.0020, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Osmar Nunes Júnior, Sétima Câmara de Direito Civil, julgado em 17-03-
2022.
3. Apelação n. 0005525-22.2011.8.24.0005, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Volnei Celso Tomazini, Segunda Câmara de Direito Civil, julgado em 31-03-
2022.
4. Apelação n. 5002103-83.2020.8.24.0054, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: André Luiz Dacol, Sexta Câmara de Direito Civil, julgado em 26-04-2022.
5. Apelação n. 0300174-07.2018.8.24.0051, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Monteiro Rocha, Segunda Câmara de Direito Civil, julgado em 19-05-2022.
6. Apelação n. 0300941-69.2017.8.24.0022, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Haidée Denise Grin, Sétima Câmara de Direito Civil, julgado em 26-05-2022.
7. Apelação n. 0805508-56.2013.8.24.0045, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Marcos Fey Probst, Sexta Câmara de Direito Civil, julgado em 31-05-2022.
8. Apelação n. 5015479-87.2020.8.24.0038, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, julgado em 05-07-
2022.
9. Apelação n. 0301426-26.2016.8.24.0080, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, julgado em 05-07-
2022.
10. Apelação n. 0014426-94.2012.8.24.0020, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, julgado em 26-07-
2022.
11. Apelação n. 0006203-21.2013.8.24.0020, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, julgado em 26-07-
2022.
12. Apelação n. 0303795-56.2018.8.24.0004, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Haidée Denise Grin, Sétima Câmara de Direito Civil, julgado em 18-08-2022.
60

13. Apelação n. 0018499-77.2014.8.24.0008, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.


Relator: Osmar Nunes Júnior, Sétima Câmara de Direito Civil, julgado em 25-08-
2022.
14. Apelação n. 0313525-05.2016.8.24.0023, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Marcio Rocha Cardoso, Sexta Câmara de Direito Civil, julgado em 13-09-
2022.
15. Apelação n. 5016362-94.2020.8.24.0018, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Relator: Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, julgado em 20-09-
2022.
61

ANEXO A – EMENTAS DOS PROCESSOS ANALISADOS

1. Ementa do Processo 0302908-37.2015.8.24.0082


PROCESSUAL CIVIL - INCORPORADORA, EMPRESA DE PROPÓSITO ESPECÍFICO
E CONSTRUTORA - CADEIA DE FORNECIMENTO - LEGITIMIDADE -
SOLIDARIEDADE
Na aplicação do Código de Defesa do Consumidor, as incorporadoras que vinculam seu nome
de modo direto com a negociação de unidades no empreendimento a que se refere a empresa
de propósito específico, respondem solidariamente pelas obrigações por esta assumidas.
Afinal, "a despeito de não figurar no compromisso de compra e venda, tendo a incorporadora
participado diretamente da divulgação do empreendimento imobiliário, ostenta legitimidade
para a causa fundada no atraso para a conclusão da obra vendida por empresa que incorporou"
(AC n. 2015.085116-6, Des. Henry Petry Junior).
Ademais, havendo defeito ou vício no serviço, no caso de cadeia de fornecedores, em que
estes têm funções específicas para cada ente, embora o grupo aja de forma coordenada na
prestação dos serviços e fornecimento de produtos aos consumidores, respondem, de forma
solidária, todos aqueles que participam de alguma forma daquilo que disponibilizam no
mercado (CDC, art. 7º, parágrafo único).
MODIFICAÇÃO DO PEDIDO APÓS CONTESTAÇÃO - INVIABILIDADE -
ESTABILIDADE DA DEMANDA - DESPROVIMENTO
1 O princípio da estabilização da demanda determina que, após a citação da parte ré, o pedido
e a causa de pedir devam permanecer inalterados com o intuito de manter a segurança jurídica
e respeitar o limite da jurisdição.
2 Uma vez estabilizada a demanda, isto é, realizada a citação do réu, não cabe ao autor
modificar os pedidos ou a causa de pedir (CPC, art. 329, inc. II), a não ser que realizado até o
saneamento, e com isso consinta o réu.
CIVIL - APARTAMENTO - VÍCIOS CONSTRUTIVOS - COBERTURA - FALTA DE
MANUTENÇÃO - OBRA INADEQUADA - PROVA PERICIAL - CONCLUSÃO -
DESCONSTITUIÇÃO - ELEMENTOS - AUSÊNCIA
1 Diante de laudo pericial claro e objetivo quanto à origem dos defeitos nos imóveis objeto da
lide, não há como desconsiderar as inferências do profissional técnico da confiança do juízo,
mormente quando nos autos inexistem elementos capazes de infirmar a conclusão a que
chegou o experto.
Ademais, por força da responsabilidade objetiva prevista no art. 14 do Código de Defesa do
Consumidor, cabe ao fornecedor provar que o defeito inexiste ou que decorra de culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Além dessa previsão legal, a demonstração por perícia técnica do nexo de causalidade entre os
vícios construtivos e os graves danos verificados no imóvel torna indubitável a
responsabilidade do fornecedor.
2 Como "ao proprietário do terraço de cobertura incumbem as despesas da sua conservação,
de modo que não haja danos às unidades imobiliárias inferiores" (CC, art. 1.344), cabe a ele
reparar danos causados ao apartamento subjacente quando decorrentes de falta de manutenção
ou de obra por ele executada.
DANO MORAL - VÍCIOS CONSTRUTIVOS - RISCO À SEGURANÇA -
HABITABILIDADE PREJUDICADA - CONFIGURAÇÃO - VERBA DE NATUREZA
COMPENSATÓRIA
1 Ultrapassam o mero inadimplemento contratual os vícios construtivos que tornam o imóvel
inabitável, com prejuízo à saúde e à segurança do consumidor, que, além de precisar continuar
62

residindo no local por certo tempo, depois se vê obrigado a desocupá-lo, em decorrência da


insegurança da construção.
2 Na fixação do valor dos danos morais deve o julgador, na falta de critérios objetivos,
estabelecer o quantum indenizatório com prudência, de modo que sejam atendidas as
peculiaridades e a repercussão econômica da reparação, devendo esta guardar
proporcionalidade com o grau de culpa e o gravame sofrido.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - CPC, ART. 85, § 2º - MAJORAÇÃO DEVIDA
Em obediência ao estabelecido nos incisos I, II, III e IV do § 2º do art. 85 do Código de
Processo Civil, a ausência de complexidade e a repetitividade da causa devem ser
considerados no arbitramento dos honorários advocatícios.
(TJSC, Apelação n. 0302908-37.2015.8.24.0082, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 22-02-2022).

2. Ementa do Processo 0002819-21.2011.8.24.0020


APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO INDENIZATÓRIA. REFORMA DE IMÓVEL. VÍCIOS
CONSTRUTIVOS. SENTENÇA QUE RECONHECEU A ILEGITIMIDADE PASSIVA DA
EMPRESA DE ARQUITETURA E JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTES OS
PEDIDOS AUTORAIS COM RELAÇÃO À EMPREITEIRA RESPONSÁVEL PELA
EXECUÇÃO DA OBRA. RECURSO DA PARTE AUTORA E DA EMPREITEIRA RÉ.
AVENTADA LEGITIMIDADE PASSIVA DA EMPRESA DE ARQUITETURA RÉ.
PONTO COMUM EM AMBOS OS APELOS. ARGUMENTAÇÃO NO SENTIDO QUE A
OBRA ESTAVA SOB A SUPERVISÃO DO ARQUITETO. POSSIBILIDADE DE
RESPONSABILIZAÇÃO PELOS DEFEITOS NA ESTRUTURA DO IMÓVEL.
INSUBSISTÊNCIA. EMPRESA QUE DESENVOLVEU TÃO SOMENTE O PROJETO
ARQUITETÔNICO. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PELO PROJETO
ESTRUTURAL OU PELA EXECUÇÃO DA REFORMA. ATRIBUIÇÕES DE
COMPETÊNCIA DE PROFISSIONAL DA ENGENHARIA CIVIL. ADEMAIS, OBRA
QUE FOI POSTERIORMENTE FINALIZADA COM BASE NO PROJETO
ARQUITÔNICO DA EMPRESA RÉ. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE
A CONDUTA DO ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA E A CONSTATAÇÃO DOS
DANOS NA RESIDÊNCIA. ILEGITIMIDADE PASSIVA MANTIDA.
APELO DA EMPREITEIRA RÉ. AVENTADA AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE
PELO INSUCESSO DA REFORMA. TENTATIVA DE IMPUTAR À CONSUMIDORA O
DEVER PELA CONTRATAÇÃO DE ENGENHEIRO E PELA ELABORAÇÃO DE
PROJETOS COMPLEMENTARES. TESE INSUSTENTÁVEL. EVENTUAL
NECESSIDADE DE COMPLEMENTAÇÃO TÉCNICA DA OBRA QUE DEVERIA SER
SUSCITADA PELA EMPREITEIRA, DETENTORA DO CONHECIMENTO DO RAMO.
DEVER DE EMPREGAR TODOS OS MEIOS NECESSÁRIOS PARA GARANTIR A
QUALIDADE E A SEGURANÇA DO EMPREENDIMENTO. CARÊNCIA DE ATUAÇÃO
DILIGENTE PARA O BOM ANDAMENTO DO REFORMA.
SUPOSTA AUSÊNCIA DE QUANTIFICAÇÃO DOS DANOS MATERIAIS. TESE
AFASTADA. SENTENÇA QUE DETERMINOU TÃO SOMENTE A DEVOLUÇÃO DOS
VALORES PAGOS À DEMANDADA, ALÉM DO PAGAMENTO DOS ALUGUÉIS
DESPENDIDOS PELA PARTE AUTORA EM RAZÃO DO ATRASO NA CONSTRUÇÃO.
QUANTIAS OBJETIVAMENTE INIDENTIFICÁVEIS. SENTENÇA MANTIDA.
DANO MORAL. PLEITO DE MINORAÇÃO. CABIMENTO. VALOR EXCESSIVO.
NECESSIDADE DE FIXAÇÃO EM ATENÇÃO AO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE E AOS CRITÉRIOS COMPENSATÓRIO, SANCIONATÓRIO E
PEDAGÓGICO. REDUÇÃO QUE SE IMPÕE. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE.
63

HONORÁRIOS RECURSAIS DEVIDOS COM RELAÇÃO AO APELO DA PARTE


DEMANDANTE.
RECURSO DA PARTE AUTORA CONHECIDO E DESPROVIDO. RECURSO DA
PARTE RÉ CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJSC, Apelação n. 0002819-21.2011.8.24.0020, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Osmar Nunes Júnior, Sétima Câmara de Direito Civil, j. 17-03-2022).

3. Ementa do Processo 0005525-22.2011.8.24.0005


APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS. CONDOMÍNIO RESIDENCIAL EM FACE DE
CONSTRUTORA. VÍCIOS CONSTRUTIVOS. SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES.
RECURSO DA EMPRESA RÉ. PRELIMINARES DE PRESCRIÇÃO DO DIREITO
AUTORAL E CERCEAMENTO DE DEFESA QUE FORAM OBJETO DE AGRAVO
RETIDO NA ORIGEM. CONTUDO, AUSÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO DE
APRECIAÇÃO NO PRESENTE APELO. NÃO CONHECIMENTO QUE SE IMPÕE,
EXEGESE DO ART. 523, § 1º, DO CPC/1973, VIGENTE À ÉPOCA DA INTERPOSIÇÃO.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA DO CONDOMÍNIO AUTOR EM RELAÇÃO
À PARTE INTERNA DOS APARTAMENTOS. TESE RECHAÇADA. DEMANDA QUE
BUSCA A REPARAÇÃO DE VÍCIOS CONSTRUTIVOS IDENTIFICADOS NA
ESTRUTURA DO EDIFÍCIO, CUJA CIRCUNSTÂNCIA INVARIAVELMENTE INCLUI
A PARTE INTERNA DE ALGUMAS UNIDADES AUTÔNOMAS. MÉRITO. PRETENSA
REFORMA DA SENTENÇA, SOB O ARGUMENTO DE QUE OS VÍCIOS
CONSTRUTIVOS DECORRERAM DO TEMPO DE USO DA EDIFICAÇÃO E NÃO
ERAM APARENTES NO MOMENTO DA ENTREGA DO EDIFÍCIO. TESE
RECHAÇADA. CONJUNTO PROBATÓRIO QUE DEMONSTROU QUE AS
IRREGULARIDADES ENCONTRADAS SUPERAM A MANUTENÇÃO PREDITIVA.
LAUDO TÉCNICO CORROBORADO PELA PERÍCIA JUDICIAL QUE EVIDENCIOU À
MÁ EXECUÇÃO DA OBRA. DEVER DE REPARAR OS DANOS MATERIAIS E
REALIZAR A REEXECUÇÃO DOS SERVIÇOS (NECESSÁRIOS) MANTIDO
INALTERADO.
RECURSO DO CONDOMÍNIO AUTOR. ALEGADA OCORRÊNCIA DE ABALO
MORAL. INSUBSISTÊNCIA. CONDOMÍNIO AUTOR QUE, CONFORME ATUAL
JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, NÃO POSSUI
PERSONALIDADE JURÍDICA PRÓPRIA E TAMPOUCO HONRA OBJETIVA.
INDEFERIMENTO DO PEDIDO MANTIDO, EMBORA POR FUNDAMENTO DIVERSO.
ALMEJADA REDISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS, SOB O ARGUMENTO
DE QUE DECAIU DE PARTE MÍNIMA DOS PEDIDOS. NÃO ACOLHIMENTO. VALOR
ECONÔMICO DOS PEDIDOS IRRELEVANTE PARA A DISTRIBUIÇÃO DA
SUCUMBÊNCIA. APELANTE QUE SUCUMBIU EM RELAÇÃO AO PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANO MORAL. SENTENÇA PRESERVADA.
RECURSO DA EMPRESA RÉ CONHECIDO EM PARTE E, NESTA EXTENSÃO,
DESPROVIDO. RECURSO DO CONDOMÍNIO AUTOR CONHECIDO E DESPROVIDO.
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS RECURSAIS EM DESFAVOR DE AMBAS AS PARTES.
(TJSC, Apelação n. 0005525-22.2011.8.24.0005, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Volnei Celso Tomazini, Segunda Câmara de Direito Civil, j. 31-03-2022).

4. Ementa do Processo 5002103-83.2020.8.24.0054


64

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA


CONTRATUAL E INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. COMPRA E
VENDA DE IMÓVEL OJBETO DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA. VÍCIOS
DE CONSTRUÇÃO. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DE
AMBAS AS PARTES.
RECURSO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DEMANDADA.
ADMISSIBILIDADE. RECURSO QUE IMPUGNA DIRETAMENTE OS
FUNDAMENTOS DA SENTENÇA. VIOLAÇÃO À DIALETICIDADE INEXISTENTE.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE NÃO
SE LIMITA A ATUAR COMO MERO AGENTE FINANCIADOR DO CONTRATO, POIS
REPRESENTA FUNDO DE ARRENDAMENTO IMOBILIÁRIO VINCULADO
A PROGRAMA DE MORADIA PARA PESSOAS DE BAIXA RENDA, E É
RESPONSÁVEL PELA AQUISIÇÃO DE IMÓVEIS, ANÁLISE DE PROJETOS E
CONTRATAÇÃO DA EXECUÇÃO DO EMPREENDIMENTO. LEGITIMIDADE
CONFIGURADA.
MÉRITO. RESPONSABILIDADE POR VÍCIOS CONSTRUTIVOS CONSTATADOS NA
UNIDADE ADQUIRIDA PELA PARTE AUTORA. APLICAÇÃO DO ARTIGO 18 DO
CDC. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA COM A CONSTRUTORA POR VÍCIOS DE
QUALIDADE, NA CONDIÇÃO DE FOMENTADORA DO EMPREENDIMENTO.
INVALIDADE DA CLÁUSULA QUE A EXONERA DO DEVER DE INDENIZAR. ART.
51, I, III E IV, DO CDC. DANOS APURADOS POR LAUDO TÉCNICO UNILATERAL
IDÔNEO E INCONTROVERSO. CONDENAÇÃO MANTIDA.
RECURSO DA PARTE AUTORA. ALEGADO DANO MORAL. INSUBSISTÊNCIA.
VÍCIOS CONSTRUTIVOS QUE POR SI SÓS NÃO COLOCARAM EM RISCO A
INTEGRIDADE FÍSICA E PSICOLÓGICA DA PARTE ADQUIRENTE. AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO A ELEMENTO DA PERSONALIDADE. ABALO ANÍMICO INEXISTENTE.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PRETENDIDA REDUÇÃO PELA PARTE RÉ.
INVIABILIDADE. VERBA FIXADA DE ACORDO COM O ART. 85, § 2º, I A IV, DO
CPC.
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS RECURSAIS.
RECURSOS DESPROVIDOS.
(TJSC, Apelação n. 5002103-83.2020.8.24.0054, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. André Luiz Dacol, Sexta Câmara de Direito Civil, j. 26-04-2022).

5. Ementa do Processo 0300174-07.2018.8.24.0051


DIREITO CIVIL - OBRIGAÇÕES - COMPRA E VENDA - RESCISÃO CONTRATUAL,
C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS - SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA EM 1º GRAU - INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES - RECURSO
DA RÉ - 1. REVELIA - IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL -
INTIMAÇÃO PESSOAL PARA SANAR O VÍCIO - INEXISTÊNCIA - VALIDADE DA
PROCURAÇÃO OUTORGADA PELO REPRESENTANTE LEGAL DA PESSOA
JURÍDICA - REVELIA AFASTADA - 2. RESCISÃO CONTRATUAL - VÍCIOS
CONSTRUTIVOS E AUSÊNCIA DE REGULARIZAÇÃO DO IMÓVEL PELA
CONSTRUTORA - IMPOSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO DE FINANCIAMENTO PELO
COMPROMISSÁRIO COMPRADOR - INADIMPLÊNCIA DA CONSTRUTORA
COMPROVADA - RESCISÃO DA AVENÇA E OBRIGAÇÃO DA RÉ DE RESTITUIR O
VALOR PAGO PELO AUTOR - 3. AFASTAMENTO DA INDENIZAÇÃO POR
BENFEITORIAS - INACOLHIMENTO - POSSE DE BOA-FÉ DO ADQUIRENTE
CONFIGURADA - BENFEITORIA ÚTIL COMPROVADA - ART. 1.219 DO CC/2002 -
65

INDENIZAÇÃO DEVIDA - TESE INACOLHIDA - 4. INDENIZAÇÃO PELA


INTEGRALIDADE DO PERÍODO DE OCUPAÇÃO E PELOS DANOS OCASIONADOS
AO IMÓVEL - TESES AFASTADAS POR MEIO DE DECISÃO SANEADORA -
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO A TEMPO E MODO - PRECLUSÃO - NÃO
CONHECIMENTO - RECURSO DE AMBAS AS PARTES - 5. DANOS MORAIS - VÍCIO
DE SERVIÇO - INADIMPLEMENTO CONTRATUAL - DANO MORAL - DEVER DE
INDENIZAR AUSENTE - PLEITO DO AUTOR IMPROVIDO - PLEITO DA RÉ NÃO
CONHECIDO, ANTE A AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL - RECURSO
DO AUTOR - 6. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS - MAJORAÇÃO -
TESE RECHAÇADA - ARBITRAMENTO ADEQUADO RECURSO DO AUTOR
CONHECIDO E IMPROVIDO - RECURSO DA RÉ PARCIALMENTE CONHECIDO E,
EM PARTE, PROVIDO.
1. A intimação da parte para regularização de vício processual de representação será pessoal,
conforme STJ.
É válida a procuração outorgada por representante legal da pessoa jurídica que detém poderes
para representá-la judicialmente, conforme contrato social, incorrendo revelia da ré.
2. Caracterizada a culpa da promitente-vendedora pelo inadimplemento contratual por vícios
construtivos não reparados e ausência de regularização do imóvel para obtenção de
financiamento, rescinde-se o pacto com o retorno das partes ao statu quo ante, restituindo-se
imediata e integralmente todos os valores pagos pelo consumidor/adquirente.
3. O compromissário comprador, que exerce posse de boa-fé até o desfazimento do contrato,
tem direito de ser indenizado por benfeitorias úteis (art. 1.219, CC/2002).
4. Ocorre preclusão temporal quando a parte não impugna em momento oportuno o
afastamento da indenização pela integralidade do período de ocupação e pelos danos
ocasionados do imóvel.
5. Inadimplemento contratual, desacompanhado de elementos capazes de abalar o psíquico do
suposto ofendido, não enseja indenização por danos morais porque a tolerância é um dos
esteios do ordenamento jurídico.
6. Mantém-se honorários advocatícios estipulados em valor condizente à natureza da causa,
ao trabalho realizado pelo causídico e ao tempo para sua realização.
(TJSC, Apelação n. 0300174-07.2018.8.24.0051, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Monteiro Rocha, Segunda Câmara de Direito Civil, j. 19-05-2022).

6. Ementa do Processo 0300941-69.2017.8.24.0022


APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. VÍCIOS CONSTRUTIVOS. SENTENÇA
DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE DANO MATERIAL E IMPROCEDÊNCIA DO
DANO MORAL.
RECURSO DOS AUTORES.
CONTRARRAZÕES. SUSCITADA A AUSÊNCIA DE DIALETICIDADE NO APELO.
INOCORRÊNCIA. RAZÕES RECURSAIS QUE COMBATEM A FUNDAMENTAÇÃO
LANÇADA NA SENTENÇA. CONHECIMENTO DO RECLAMO QUE SE IMPÕE.
MÉRITO. DANO MORAL. AUSÊNCIA DE PROVA DE ABALO PSÍQUICO, DOR,
VEXAME OU DE QUALQUER OUTRO MAL DE ORDEM IMATERIAL. PROVA
PERICIAL QUE CONSTATOU PATOLOGIAS LIGADAS AO REVESTIMENTO NÃO
APRESENTANDO PROBLEMAS ESTRUTURAIS QUE POSSAM ACARRETAR
RISCOS À SEGURANÇA DOS APELANTES. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO
QUE, DE PER SI, NÃO GERA O DEVER DE INDENIZAR. SOFRIMENTO
EXTRAORDINÁRIO NÃO EVIDENCIADO. INDENIZAÇÃO DESCABIDA. SENTENÇA
MANTIDA.
66

"A verificação do dano moral não reside exatamente na simples ocorrência do ilícito, de sorte
que nem todo ato desconforme o ordenamento jurídico enseja indenização por dano moral. O
importante é que o ato ilícito seja capaz de irradiar-se para a esfera da dignidade da pessoa,
ofendendo-a de maneira relevante. Daí porque doutrina e jurisprudência têm afirmado, de
forma uníssona, que o mero inadimplemento contratual - que é um ato ilícito - não se revela,
por si só, bastante para gerar dano moral" (STJ, AgRg no REsp n. 1.269.246/RS. Quarta
Turma. Relator: Min. Luis Felipe Salomão. Julgado em 20/05/2014).
ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS RECURSAIS. INTELIGÊNCIA DO ART. 85, § 11,
DO CPC.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(TJSC, Apelação n. 0300941-69.2017.8.24.0022, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Haidée Denise Grin, Sétima Câmara de Direito Civil, j. 26-05-2022).

7. Ementa do Processo 0805508-56.2013.8.24.0045


APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE
IMÓVEL EM CONSTRUÇÃO. VÍCIOS DA OBRA CONSTATADOS POR LAUDO
PERICIAL. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA.
PRELIMINARES. PLEITO DE RECONHECIMENTO DA DECADÊNCIA.
INOCORRÊNCIA. DIFERENCIAÇÃO ENTRE PRAZOS DE GARANTIA E
DECADÊNCIA. APLICAÇÃO DO PRAZO QUINQUENAL PREVISTO NA
LEGISLAÇÃO CIVIL. PRAZO NÃO CONSUMADO. PRECEDENTES
JURISPRUDENCIAIS. PREJUDICIAL AFASTADA. JULGAMENTO EXTRA PETITA.
INSUBSISTÊNCIA. ADEQUAÇÃO JURÍDICA DOS FATOS, EM OBSERVÂNCIA AO
PRINCÍPIO IURA NOVIT CURIA, QUE NÃO TRANSCENDE OS LIMITES PROPOSTOS
NA EXORDIAL. PREFACIAL AFASTADA.
RECURSO ADESIVO DOS REQUERIDOS. PRETENDIDO AFASTAMENTO DA
CONDENAÇÃO AO REPARO DE FISSURAS, POR SEREM CONSIDERADAS
NORMAIS. INSUBSISTÊNCIA. CONSTATAÇÃO DE DIVERSAS MICROFISSURAS
NOS IMÓVEIS PERICIADOS E, AINDA QUE ADMISSÍVEIS EM CONSTRUÇÕES DE
CONCRETO ARMADO, NÃO RETIRAM O CARÁTER DE VÍCIO CONSTRUTIVO.
DEVER DE REPARAR MANTIDO.
RECURSO DE APELAÇÃO DAS AUTORAS. PRETENDIDA REPARAÇÃO POR
DANOS MORAIS EM RAZÃO DO FORTE MAU CHEIRO OCASIONADO PELO
TRANSBORDAMENTO DO ESGOTO NA CALÇADA DO CONDOMÍNIO. VÍCIOS
CONSTRUTIVOS QUE ABALARAM A HABITABILIDADE DO IMÓVEL OBJETO DO
CONTRATO. EXISTÊNCIA DE ELEMENTOS PROBATÓRIOS DA EFETIVA
OCORRÊNCIA DE ABALO ANÍMICO INDENIZÁVEL. MAU CHEIRO E
TRANSBORDAMENTO DO ESGOTO QUE ENSEJAM A CONFIGURAÇÃO DE DANO
MORAL. DEVER DE INDENIZAR. QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM R$
2.500,00 (DOIS MIL E QUINHENTOS REAIS) PARA CADA AUTORA. QUANTIA
ADEQUADA À EXTENSÃO DOS DANOS SUPORTADOS. OBSERVÂNCIA,
ADEMAIS, DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE E DO
CARÁTER PEDAGÓGICO E INIBIDOR DA REPRIMENDA. SENTENÇA REFORMADA
NO PONTO.
INCLUSÃO, EM CASO DE CONVERSÃO EM PERDAS E DANOS, DO VALOR
RELATIVO ÀS ÁREAS COMUNS DO CONDOMÍNIO. DISPOSITIVO DA SENTENÇA
OMISSA NO PONTO, EMBORA TRATADO NA FUNDAMENTAÇÃO. NECESSIDADE
67

DE SANEAMENTO DO VÍCIO. INCLUSÃO DAS ÁREAS COMUNS NA


INDENIZAÇÃO EM CASO DE DESCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO.
TESE COMUM. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA.
CONDENAÇÃO DOS REQUERIDOS AO PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS
E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DOS PROCURADORES DA PARTE
DEMANDANTE FIXADOS EM 20% (VINTE POR CENTO) DA CONDENAÇÃO.
CONDENAÇÃO DE PEQUENO VALOR. VERBA HONORÁRIA QUE DEVE INCIDIR
SOBRE O VALOR DA CAUSA. EXEGESE DO ARTIGO 85, §2º DO CPC.
RECURSO ADESIVO DOS REQUERIDOS PARCIALMENTE CONHECIDO E
DESPROVIDO. RECURSO DE APELAÇÃO DAS AUTORAS CONHECIDO E PROVIDO.
(TJSC, Apelação n. 0805508-56.2013.8.24.0045, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Marcos Fey Probst, Sexta Câmara de Direito Civil, j. 31-05-2022).

8. Ementa do Processo 5015479-87.2020.8.24.0038


CIVIL - DANO MORAL - IMÓVEL - VÍCIOS CONSTRUTIVOS - APARTAMENTO
INABITADO - INOCORRÊNCIA - VAGA DE ESTACIONAMENTO - LOCALIZAÇÃO -
CONTRATOS DE COMPRA E VENDA E DE FINANCIAMENTO - DIVERGÊNCIA -
AVENÇA ENTABULADA ENTRE ADQUIRENTE E ALIENANTE - PREVALÊNCIA
1 O inadimplemento contratual, na ausência de fato específico que cause abalo moral, em
regra, somente obriga à indenização dos danos materiais.
2 Os aborrecimentos que geraram transtornos no momento dos fatos, irritações, dissabores e
outros contratempos cotidianos, não têm o condão de conferir direito ao pagamento de
indenização, pois não são suficientes para provocar forte perturbação ou afetação à honra e ao
bom nome do ofendido.
3 Afinal, "o descumprimento contratual não configura dano moral indenizável, salvo se as
circunstâncias ou as evidências do caso concreto demonstrarem a lesão extrapatrimonial"
(TJSC, Súm. n. 29).
4 Existente divergência em relação à localização da vaga de estacionamento, deve prevalecer
o que o comprador e o vendedor estabeleceram na avença entre si ajustada em relação ao que
constar do contrato de financiamento bancário em que este figurou como mero interveniente.
(TJSC, Apelação n. 5015479-87.2020.8.24.0038, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 05-07-2022).

9. Ementa do Processo 0301426-26.2016.8.24.0080


PROCESSUAL CIVIL E CIVIL - MURO - EDIFICAÇÃO - CAUSA DE PEDIR -
AUSÊNCIA - PLEITO INEPTO - VÍCIOS CONSTRUTIVOS - DANOS MORAIS -
DEFEITO QUE COMPROMETE A HABITABILIDADE - CONFIGURAÇÃO - VALOR -
RAZOABILIDADE - MANUTENÇÃO
1 A inexistência de causa de pedir em relação a um pedido específico impede seu
deferimento, a teor do art. 330, inc. I e § 1º, inc. I, do Código de Processo Civil.
2 Em regra o descumprimento de contrato, por si só, não gera dano moral suscetível de
indenização compensatória. No entanto, a ocorrência de vícios construtivos que
comprometem a habilitabilidade e a segurança de moradia familiar, ultrapassa o mero
incômodo e configura a obrigação reparatória a esse título.
2 Na fixação do valor dos danos morais deve o julgador, na falta de critérios objetivos,
estabelecer o quantum indenizatório com prudência, de modo que sejam atendidas as
peculiaridades e a repercussão econômica da reparação, devendo esta guardar
proporcionalidade com o grau de culpa e o gravame sofrido.
68

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - CPC, ART. 85, § 2º - APLICAÇÃO - VALOR DA


CONDENAÇÃO - SENTENÇA REFORMADA
Os honorários advocatícios de sucumbência devem ser fixados em favor da parte vencedora
com atenção às regras previstas no art. 85 do Código de Processo Civil, respeitando-se os
limites legais e a ordem insculpida no § 2º do mesmo dispositivo.
Revela-se adequado o montante arbitrado a título de verba honorária de sucumbência com
base no total da condenação, porquanto atende as diretrizes legais do diploma processual e,
sobretudo, porque prestigia o arbitramento da verba do causídico apenas sobre os ganhos que
a parte assistida teve com a demanda.
(TJSC, Apelação n. 0301426-26.2016.8.24.0080, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 05-07-2022).

10. Ementa dos Processos 0014426-94.2012.8.24.0020 e 0006203-21.2013.8.24.0020


(julgados em conjunto, ementa única para ambos os processos)
CIVIL - VÍCIOS CONSTRUTIVOS - PROVA PERICIAL - CONCLUSÃO -
DESCONSTITUIÇÃO - ELEMENTOS - AUSÊNCIA
Diante de laudo pericial claro e objetivo quanto à origem dos defeitos no imóvel objeto da
lide, não há como desconsiderar as inferências do profissional técnico da confiança do juízo,
mormente quando nos autos inexistem elementos capazes de infirmar a conclusão a que
chegou o experto.
Ademais, por força da responsabilidade objetiva prevista no art. 14 do Código de Defesa do
Consumidor, cabe ao fornecedor provar que o defeito inexiste ou que decorra de culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Além dessa previsão legal, a demonstração por perícia técnica do nexo de causalidade entre os
vícios construtivos e os graves danos verificados no imóvel torna indubitável a
responsabilidade do fornecedor.
DANO MORAL - OBRA - ATRASO - DEFEITOS - HABITABILIDADE - NÃO
AFETAÇÃO - INOCORRÊNCIA
1 O inadimplemento contratual, na ausência de fato específico que cause abalo moral, em
regra, somente obriga à indenização dos danos materiais.
2 Os aborrecimentos que geraram transtornos no momento dos fatos, irritações, dissabores e
outros contratempos cotidianos, não têm o condão de conferir direito ao pagamento de
indenização, pois não são suficientes para provocar forte perturbação ou afetação à honra e ao
bom nome do ofendido.
3 O Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que "o mero atraso na entrega
do imóvel é incapaz de gerar abalo moral indenizável, sendo necessária a existência de uma
consequência fática capaz de acarretar dor e sofrimento indenizável por sua gravidade" (AgInt
nos EDcl nos EDcl no AREsp 1176442/PR, Min. Antonio Carlos Ferreira).
Afinal, "o descumprimento contratual não configura dano moral indenizável, salvo se as
circunstâncias ou as evidências do caso concreto demonstrarem a lesão extrapatrimonial"
(TJSC, Súm. n. 29).
4 A existência de vícios construtivos que não comprometam a habitabilidade do imóvel não
resulta em danos morais.
(TJSC, Apelação n. 0014426-94.2012.8.24.0020, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 26-07-2022). E (TJSC,
Apelação n. 0006203-21.2013.8.24.0020, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Luiz
Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 26-07-2022).
69

11. Ementa do Processo 0303795-56.2018.8.24.0004


APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C
DANOS MORAIS. VÍCIOS CONSTRUTIVOS EM IMÓVEL. SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DAS PARTES.
APELO DA AUTORA. PLEITO DE CONDENAÇÃO DA CONSTRUTURA EM
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE PROVA DE ABALO
PSÍQUICO, DOR, VEXAME OU DE QUALQUER OUTRO MAL DE ORDEM
IMATERIAL. PROVA PERICIAL QUE CONSTATOU PATOLOGIAS LIGADAS À MÁ
EXECUÇÃO DO SERVIÇO, NÃO APRESENTANDO PROBLEMAS ESTRUTURAIS
QUE POSSAM ACARRETAR RISCOS À SEGURANÇA DA
ADQUIRENTE. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO QUE, DE PER SI, NÃO GERA
O DEVER DE INDENIZAR. SOFRIMENTO EXTRAORDINÁRIO NÃO EVIDENCIADO.
INDENIZAÇÃO DESCABIDA. SENTENÇA MANTIDA.
"A verificação do dano moral não reside exatamente na simples ocorrência do ilícito, de sorte
que nem todo ato desconforme o ordenamento jurídico enseja indenização por dano moral. O
importante é que o ato ilícito seja capaz de irradiar-se para a esfera da dignidade da pessoa,
ofendendo-a de maneira relevante. Daí porque doutrina e jurisprudência têm afirmado, de
forma uníssona, que o mero inadimplemento contratual - que é um ato ilícito - não se revela,
por si só, bastante para gerar dano moral" (STJ, AgRg no REsp n. 1.269.246/RS. Quarta
Turma. Relator: Min. Luis Felipe Salomão. Julgado em 20/05/2014).
PLEITO DE MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA.
INACOLHIMENTO. FIXAÇÃO QUE ACERTADAMENTE OBSERVOU OS CRITÉRIOS
ESTABELECIDOS NO ART. 85, §2º DO CPC.
RECURSO ADESIVO DO RÉU. VÍCIOS CONSTRUTIVOS EM IMÓVEL. TESE DE QUE
A AUTORA CONTRIBUIU PARA O SURGIMENTO DOS DEFEITOS NA RESIDÊNCIA,
JÁ QUE NÃO REALIZOU PROCEDIMENTOS NECESSÁRIOS PARA A
CONSERVAÇÃO DO BEM. INSUBSISTÊNCIA. PROVA PERICIAL QUE INDICOU,
COM CLAREZA, QUE OS PROBLEMAS APRESENTADOS FORAM EM
DECORRÊNCIA DA MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CONSTRUTIVO PELA
EMPRESA RÉ, RESPONSÁVEL PELA OBRA. RECORRENTE QUE NÃO LOGROU
ÊXITO EM DESCONSTITUIR OS FATOS NARRADOS À EXORDIAL (ART. 373, II, DO
CPC). NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A CONDUTA REALIZADA PELA RÉ (MÁ
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO) E OS DANOS APRESENTADOS NO IMÓVEL
VERIFICADO. SENTENÇA MANTIDA.
PLEITO DE READEQUAÇÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. INACOLHIMENTO.
JUÍZO A QUO QUE OBSERVOU ADEQUADAMENTE O PREVISTO NO ART. 86,
CAPUT, DO CPC.
ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS RECURSAIS. INTELIGÊNCIA DO ART. 85, §11,
DO CPC.
RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS.
(TJSC, Apelação n. 0303795-56.2018.8.24.0004, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Haidée Denise Grin, Sétima Câmara de Direito Civil, j. 18-08-2022).

12. Ementa do Processo 0018499-77.2014.8.24.0008


APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DECLARATÓRIA E CONDENATÓRIA. PROMESSA DE
COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. ALEGAÇÃO DE ENTREGA DO
EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO COM ATRASO, VÍCIOS CONSTRUTIVOS E
ÁREA MENOR QUE A PROMETIDA. PRETENDIDA A REPARAÇÃO DOS DANOS
70

SOFRIDOS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DOS


AUTORES, DA IMOBILIÁRIA RÉ E DA CONSTRUTORA DEMANDADA.
RECURSO DA RÉ IMOBILIÁRIA.
PARTES AUTORAS QUE PEDIRAM NA EXORDIAL TÃO SOMENTE PELA
CONDENAÇÃO DA IMOBILIÁRIA RÉ AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR
DANO MATERIAL EM RAZÃO DA ENTREGA DO IMÓVEL COM ÁREA MENOR DO
QUE A PROMETIDA DURANTE A NEGOCIAÇÃO E EM RAZÃO DO ABALO
ANÍMICO SUPORTADO. JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU QUE RECONHECEU
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA IMOBILIÁRIA RÉ EM RELAÇÃO A TODOS
OS CAPÍTULOS DO PEDIDO DOS DEMANDANTES. SENTENÇA QUE EXCEDEU OS
LIMITES OBJETIVOS DA LIDE. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA.
JULGAMENTO EXTRA PETITA. NULIDADE PARCIAL DA SENTENÇA DECRETADA
NO PONTO.
PEDIDO DE EXCLUSÃO DA MULTA DO ART. 1.026, §2º, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. CABIMENTO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO QUE NÃO
VISARAM À PROLONGAÇÃO DA DEMANDA. AUSÊNCIA DO INTUITO DE
PREJUDICAR O PROCESSO. PENALIDADE QUE DEVE SER AFASTADA. APELO
PROVIDO.
RECURSO DA DEMANDADA CONSTRUTORA.
RESPONSABILIDADE CIVIL. VÍCIOS CONSTRUTIVOS IDENTIFICADOS EM
PERÍCIA JUDICIAL. AUSÊNCIA DE PROVA APTA A DESCONSTITUIR O ESTUDO
PROMOVIDO JUDICIALMENTE. SENTENÇA CONDENATÓRIA MANTIDA NO
PONTO.
CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE ALUGUÉIS PELO PERÍODO EM QUE OS
AUTORES NÃO PUDERAM USUFRUIR DO IMÓVEL ADQUIRIDO POR ATRASO NA
ENTREGA DO IMÓVEL. DANO MATERIAL PRESUMÍVEL NA HIPÓTESE.
SENTENÇA QUE FIXOU A CONDENAÇÃO EM 4% DO VALOR DO BEM POR MÊS
DE ATRASO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA NO PONTO PARA
DIMINUIR A QUANTIFICAÇÃO DO DANO MATERIAL A 0.5% DO VALOR DO BEM
PARA CADA MÊS. QUANTIA QUE MELHOR REFLETE A REALIDADE DE
MERCADO E OS PARÂMETROS COMUMENTE ADOTADOS POR ESTA CORTE.
APELO DA RÉ PARCIALMENTE PROVIDO.
RECURSO DOS AUTORES.
DANO MORAL. AVENTADA A COMPROVAÇÃO DE ABALO ANÍMICO
INDENIZÁVEL. TESE NÃO ACOLHIDA. MERO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL
QUE NÃO IMPLICARIA, POR SI SÓ, EM AFETAÇÃO À HONRA DOS APELANTES.
DANO MORAL INEXISTENTE NO CASO CONCRETO. SENTENÇA MANTIDA.
IRRESIGNAÇÃO NO TOCANTE AO VALOR DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
ACOLHIMENTO PARCIAL. MAJORAÇÃO DA VERBA PARA 15% SOBRE O VALOR
DA CONDENAÇÃO. CAUSA DE MÉDIA COMPLEXIDADE E LONGO TEMPO DE
TRAMITAÇÃO. RECURSO DOS AUTORES PARCIALMENTE PROVIDO.
REDISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS.
HONORÁRIOS RECURSAIS INDEVIDOS.
RECURSO DA RÉ IMOBILIÁRIA CONHECIDO E PROVIDO, APELOS DA RÉ
CONSTRUTORA E DOS AUTORES CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS.
(TJSC, Apelação n. 0018499-77.2014.8.24.0008, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Osmar Nunes Júnior, Sétima Câmara de Direito Civil, j. 25-08-2022).

13. Ementa do Processo 0313525-05.2016.8.24.0023


71

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MATERIAIS E


MORAIS. INFILTRAÇÃO CAUSADA PELO TERRAÇO DA COBERTURA. DIREITO
DE VIZINHANÇA. SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE O PEDIDO INICIAL.
DANOS MORAIS FIXADOS EM R$ 15.000,00 (METADE PARA CADA AUTOR).
DANOS MATERIAIS FIXADOS EM R$ 201,70. DETERMINAÇÃO DE PROVIDÊNCIAS
QUANTO AOS REPAROS NECESSÁRIOS À CESSAÇÃO DA INFILTRAÇÃO.
DETERMINAÇÃO DE REPAROS, EM FAVOR DA PARTE AUTORA, DAS ÁREAS
AFETADAS PELA INFILTRAÇÃO. IRRESIGNAÇÃO DO RÉU. TESES DO APELANTE:
A) OS DANOS CAUSADOS DEVEM SER IMPUTADOS À CONSTRUTORA, VEZ QUE
DECORRENTES DE VÍCIOS CONSTRUTIVOS; B) O TERRAÇO É ÁREA COMUM DO
CONDOMÍNIO, SENDO RESPONSABILIDADE DESTE A MANUTENÇÃO DA ÁREA
RESPECTIVA; C) O OCORRIDO NÃO É MOTIVO SUFICIENTE QUE JUSTIFIQUE A
CONDENAÇÃO DOS APELANTES AO PAGAMENTO DE DANOS
MORAIS. HIPÓTESES NÃO CONFIGURADAS. TESES AFASTADAS. LAUDO
TÉCNICO QUE, EFETIVAMENTE, COMPROVOU A ORIGEM DAS INFILTRAÇÕES
COMO SENDO OS RALOS DOS TERRAÇOS. MANUTENÇÃO FEITA
ANTERIORMENTE PELOS APELANTES, NO PISO E RALOS DO TERRAÇO DA
COBERTURA QUE FIZERAM CESSAR OS GOTEJAMENTOS E REDUZIRAM AS
INFILTRAÇÕES. MEDIDA QUE, ALÉM DE DEMONSTRAR A ORIGEM DO
PROBLEMA, AINDA EVIDENCIA A RESPONSABILIDADE DOS APELANTES
PELA MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO DA ÁREA RESPECTIVA. LAUDO
TÉCNICO QUE APONTOU, COMO POSSIBILIDADE DE CAUSA SECUNDÁRIA DAS
INFILTRAÇÕES, AS PATOLOGIAS DECORRENTES DOS VÍCIOS CONSTRUTIVOS
EVIDENCIADOS, HIPÓTESE QUE, MESMO SE CONFIRMADA FOSSE, NÃO
AFASTARIA A RESPONSABILIDADE DOS APELANTES. EXEGESE DO ART. 1.344
DO CC. RESPONSABILIDADE DOS APELANTES CONFIGURADA EM RAZÃO DA
INOBSERVÂNCIA DOS SEUS DEVERES DE CONSERVAÇÃO E MANUTENÇÃO DO
IMÓVEL. INFILTRAÇÕES DECORRENTES DE ÁREA PRIVATIVA E NÃO DE ÁREA
COMUM. INFILTRAÇÃO QUE SE PERDUROU AO LONGO DE ANOS. INÉRCIA DOS
APELANTES QUE, MESMO NOTIFICADOS PELO CONDOMÍNIO, NÃO BUSCARAM
UMA SOLUÇÃO. DANOS CAUSADOS EM TODOS OS CÔMODOS DO
APARTAMENTO VIZINHO, EXCETO COZINHA, COMO INFILTRAÇÃO, BOLHAS,
DESCASCAMENTO DE TINTA, GOTEIRAS, MOFO, ETC. DANO MORAL
CARACTERIZADO. PRECEDENTES. FIXAÇÃO DO QUANTUM QUE SE MOSTRA
ADEQUADO E RAZOÁVEL À SITUAÇÃO FÁTICA DOS AUTOS. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
(TJSC, Apelação n. 0313525-05.2016.8.24.0023, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Marcio Rocha Cardoso, Sexta Câmara de Direito Civil, j. 13-09-2022).

14. Ementa do Processo 5016362-94.2020.8.24.0018


CIVIL - IMÓVEL - COMPRA E VENDA - VÍCIOS CONSTRUTIVOS - PRESCRIÇÃO
DECENAL - CC, ART. 205 - TEORIA DA ACTIO NATA - CIÊNCIA DO FATO LESIVO -
LAPSO NÃO CONSUMADO - DANOS MATERIAIS - PLEITO INEPTO - AUSÊNCIA
DE DELIMITAÇÃO - DANOS MORAIS - HABITABILIDADE - NÃO AFETAÇÃO -
INOCORRÊNCIA
1 É entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça que, "na linha da jurisprudência
sumulada desta Corte (Enunciado 194), 'prescreve em vinte anos a ação para obter, do
construtor, indenização por defeitos na obra'. Com a redução do prazo prescricional realizada
pelo novo Código Civil, referido prazo passou a ser de 10 (dez) anos. Assim, ocorrendo o
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evento danoso no prazo previsto no art. 618 do Código Civil, o construtor poderá ser acionado
no prazo prescricional acima referido" (AgRg no Ag n. 1208663/DF, Min. Sidnei Beneti).
2 Segundo a teoria da actio nata, o termo inicial do interregno prescricional é o conhecimento
do evento danoso, o que, no caso, ocorreu quando se verificaram os vícios construtivos no
imóvel. Afinal, "o curso do prazo prescricional do direito de reclamar inicia-se somente
quando o titular do direito subjetivo violado passa a conhecer o fato e a extensão de suas
consequências, conforme o princípio da actio nata" (REsp n. 1.257. 387/RS, Mina. Eliana
Calmon).
3 É de ser reconhecido como inepto o pedido de reparação por danos materiais que não
encontra delimitação, com indicação precisa sobre qual seria o prejuízo a ser indenizado,
dificultando sobremaneira o direito defensivo.
4 Os aborrecimentos que geraram transtornos no momento dos fatos, irritações, dissabores e
outros contratempos cotidianos, não têm o condão de conferir direito ao pagamento de
indenização, pois não são suficientes para provocar forte perturbação ou afetação à honra e ao
bom nome do ofendido.
5 A existência de vícios construtivos que não comprometam a habitabilidade do imóvel não
resulta em danos morais.
Afinal, "o descumprimento contratual não configura dano moral indenizável, salvo se as
circunstâncias ou as evidências do caso concreto demonstrarem a lesão extrapatrimonial"
(TJSC, Súm. n. 29).
(TJSC, Apelação n. 5016362-94.2020.8.24.0018, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 20-09-2022).

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