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Palhoça
2022
IASMINNI RACHADEL FERREIRA MENDES
Palhoça
2022
IASMINNI RACHADEL FERREIRA MENDES
______________________________________________________
Professor e orientador Dagliê Colaço, Ma.
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________
Prof. Deisi Cristini Schveitzer, Ma.
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________
Prof. Tânia Maria Françosi Santhias, Ma.
Universidade do Sul de Santa Catarina
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de
Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de Conclusão de Curso.
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso
de plágio comprovado do trabalho monográfico.
____________________________________
IASMINNI RACHADEL FERREIRA MENDES
Dedico este trabalho à pessoa que foi meu
porto seguro, meu alicerce e minha força, meu
grande amor, André Felipe Mendes.
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
2 RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................................................ 12
2.1 O CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................... 12
2.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL ..................................................... 12
2.2.1 Responsabilidade civil contratual e extracontratual .......................................... 13
2.2.2 Responsabilidade civil subjetiva e objetiva ......................................................... 14
2.2.3 Responsabilidade civil nas relações de consumo ................................................. 15
2.3 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................... 16
2.3.1 Ato ilícito ................................................................................................................. 16
2.3.2 Culpa ....................................................................................................................... 17
2.3.3 Nexo causal ............................................................................................................. 18
2.3.4 Dano......................................................................................................................... 19
2.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL .......................................... 21
2.4.1 Culpa exclusiva da vítima...................................................................................... 21
2.4.2 Caso fortuito e força maior ................................................................................... 22
2.4.3 Excludentes previstas no Código de Defesa do Consumidor ............................. 22
2.4.3.1 Não colocação do produto no mercado .................................................................... 23
2.4.3.2 Inexistência de defeito ............................................................................................. 24
2.4.3.3 Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro ........................................................ 24
3 RESPONSABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL ........................................ 26
3.1 PATOLOGIAS NA CONTRUÇÃO CIVIL ............................................................ 26
3.1.1 Solidez e segurança da obra .................................................................................. 27
3.1.2 Perfeição da obra ................................................................................................... 28
3.1.3 Vícios redibitórios .................................................................................................. 29
3.2 RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR, DO INCORPORADOR E DO
AGENTE FINANCEIRO ........................................................................................ 30
3.2.1 Construtor............................................................................................................... 30
3.2.2 Incorporador .......................................................................................................... 31
3.2.3 Agente Financeiro .................................................................................................. 32
3.3 INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NA
CONSTRUÇÃO....................................................................................................... 34
3.4 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL NA CONSTRUÇÃO ....... 36
4 O DANO MORAL POR VÍCIOS CONSTRUTIVOS NA JURISPRUDÊNCIA
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA NOS MESES DE
JANEIRO A OUTUBRO DE 2022 ....................................................................... 39
4.1 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL............................................................................ 40
4.1.1 Processos que concederam danos morais por vícios construtivos ..................... 41
4.1.2 Processos que não concederam danos morais por vícios construtivos .............. 44
4.2 O DANO MORAL POR INADIMPLEMENTO CONTRATUAL ......................... 49
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 52
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 54
APÊNDICE A – LISTAGEM DOS PROCESSOS ANALISADOS .................. 59
ANEXO A – EMENTAS DOS PROCESSOS ANALISADOS .......................... 61
10
1 INTRODUÇÃO
A construção civil está presente desde o princípio das civilizações, tendo sido
aprimorada ao longo dos anos com o avanço da tecnologia. Com o aumento significativo da
população, a demanda dessa área passou a crescer de forma considerável, de modo que foram
surgindo cada vez mais construções, para todas as necessidades.
Com o crescimento no número de construções, intensificou-se também a quantidade
de problemas relacionados à construção, os denominados vícios construtivos, gerados tanto
pela má qualidade dos materiais construtivos, quanto pela má execução do serviço de
construção.
Diante destes problemas construtivos, os donos de uma obra, ou os adquirentes de
unidades imobiliárias, muitas vezes sem conseguir acionar os responsáveis pela construção de
forma extrajudicial, se veem compelidos a acionar o judiciário para resolver seu problema,
pleiteando, juntamente com o pedido de resolução dos vícios, uma indenização moral pelo
transtorno sofrido.
Dessa forma, cabe o questionamento: em quais hipóteses são cabíveis danos morais
por vícios de construção?
O presente trabalho objetiva responder essa pergunta, com a análise da indenização
por danos morais em decorrência de vícios construtivos sob a ótica da jurisprudência do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina, de modo a verificar quais são os critérios utilizados
pelo órgão julgador para a concessão, ou não, de dano moral por vícios construtivos.
Ademais, a fim de responder o questionamento acima, são objetivos da presente
monografia a conceituação do instituto da responsabilidade civil, com seus elementos,
espécies e excludentes, bem como a compreensão da responsabilidade civil no âmbito da
construção civil, visando apresentar os agentes que podem ser responsabilizados por defeitos
na construção.
O tema é pertinente em virtude da quantidade de demandas que o judiciário recebe em
razão dessa situação, além disso, é interessante entender se há uniformidade nas razões
proferidas pelo Tribunal para a concessão do dano.
Para ser possível cumprir com o objetivo ora apresentado, este trabalho se divide em
cinco capítulos, sendo um de introdução, três de desenvolvimento, e um com as considerações
finais a respeito do tema abordado.
O primeiro capítulo de desenvolvimento tratará acerca do instituto da responsabilidade
civil de forma geral, buscando explicar seu conceito, espécies e elementos, bem como abordar
11
2 RESPONSABILIDADE CIVIL
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2022, p. 16) entendem que a
responsabilidade “pressupõe a atividade danosa de alguém que, atuando a priori ilicitamente,
viola uma norma jurídica preexistente (legal ou contratual), subordinando-se, dessa forma, às
consequências do seu ato (obrigação de reparar)”.
Em vista disso, é possível inferir que o instituto da responsabilidade civil busca
garantir segurança social, tendo em vista que prevê para àquele que teve um direito lesado a
restituição ou compensação do seu bem jurídico, atribuindo a obrigação de indenizar ao
causador do dano.
Outra classificação que pode ser feita a respeito da responsabilidade civil é a divisão
entre responsabilidade objetiva e subjetiva. A principal diferença entre essas duas
modalidades de responsabilidade diz respeito ao elemento da culpa.
A culpa, em sentido amplo, pode ser definida como a ação ou omissão que causa
danos. Pode ser provocada por negligência, imprudência ou imperícia, ou por dolo, quando a
ação ou omissão é voluntária e possui o desejo de causar o dano (RIZZARDO, 2019, p. 25).
Para a responsabilidade civil subjetiva, deve ser observado se o agente do ato ilícito
agiu ou não com culpa em sua conduta, enquanto na responsabilidade civil objetiva, o agente
responde independentemente da ocorrência de culpa.
No direito brasileiro, “o princípio gravitador da responsabilidade extracontratual no
Código Civil ainda é o da responsabilidade subjetiva, ou seja, responsabilidade com culpa,
pois esta também é a regra geral traduzida no Código em vigor, no caput do art. 927”
(VENOSA, 2022, p. 368).
A responsabilidade civil objetiva, segundo Sílvio de Salvo Venosa (2022, p. 368),
somente pode ser aplicada quando expressamente autorizada por lei, sendo que na falta de
autorização expressa, a responsabilidade por atos ilícitos será subjetiva. Tal exigência se dá
porque a responsabilidade objetiva não pode ser aplicada a todos, mas tão somente a quem
exerce atividade com probabilidade de dano, visto que se baseia na teoria do risco, que afirma
que quem exerce atividade perigosa, possui o dever de reparar os danos dela advindos,
independentemente de ter agido ou não com culpa (CAVALIERI FILHO, 2021, p. 226).
Sobre a teria do risco, Venosa explica que ela leva em conta a potencialidade de causar
danos:
Ao se analisar a teoria do risco, mais exatamente do chamado risco criado, nesta fase
de responsabilidade civil de pós-modernidade, o que se leva em conta é a
potencialidade de ocasionar danos; a atividade ou conduta do agente que resulta por
si só na exposição a um perigo, noção introduzida pelo Código Civil italiano de
1942 (art. 2.050). Leva-se em conta o perigo da atividade do causador do dano por
sua natureza e pela natureza dos meios adotados. (VENOSA, 2022, p. 364)
Nesse sentido, têm-se que a responsabilidade civil objetiva onera de forma muito mais
rigorosa o causador do dano que exerce atividade considerada perigosa, porque ainda que
tenha incorrido em culpa stricto sensu, deverá reparar qualquer dano causado.
15
todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo tem
o dever de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços
fornecidos, independentemente de culpa. Este dever é imanente ao dever de
obediência às normas técnicas e de segurança, bem como aos critérios de lealdade,
quer perante os bens e serviços ofertados, quer perante os destinatários dessas
ofertas. [...] O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e serviços que oferece
no mercado de consumo, respondendo pela qualidade e segurança dos mesmos.
(CAVALIERI FILHO, 2022, p. 351)
Isto posto, é possível perceber que as relações de consumo não seguem a regra geral
da responsabilidade subjetiva, mas seguem regulamento próprio previsto no Código de Defesa
do Consumidor, que determina que, em razão da teoria do risco, o fornecedor é obrigado a
garantir os produtos e serviços que coloca em mercado, respondendo, geralmente, de forma
objetiva pelos danos que causar.
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2021, p. 22), “quatro são os elementos
essenciais da responsabilidade civil: ação ou omissão, culpa ou dolo do agente, relação de
causalidade e o dano experimentado pela vítima”. Cristiano Chaves de Farias, Nelson
Rosenvald e Felipe Peixoto Braga Netto (2019, p. 187) também defendem “a classificação
tetrapartida dos pressupostos da responsabilidade civil, cujos elementos são: (a) ato ilícito; (b)
culpa; (c) dano; (d) nexo causal”.
Desse modo, cumpre explicar, em linhas gerais, cada um destes elementos que
compõe o instituto da responsabilidade civil.
O conceito de ato ilícito pode ser extraído do Código Civil, em seu artigo 186, que
dispõe: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL,
2002).
Para Silvio de Salvo Venosa (2022, p. 378) “os atos ilícitos são os que emanam direta
ou indiretamente da vontade e ocasionam efeitos jurídicos, mas contrários ao ordenamento”.
Nesse sentido, Gagliano e Pamplona Filho (2022, p. 23) descrevem o ato ilícito como
“conduta humana, positiva ou negativa (omissão), guiada pela vontade do agente, que
desemboca no dano ou prejuízo”.
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Como se vê, o ato ilícito ocasiona a violação de um direito, mas conforme leciona
Paulo Nader (2016, p. 68), não é qualquer violação de direito que pode ser considerada um ato
ilícito, isso porque, para configurar ato ilícito é necessária uma ação ou omissão, praticada por
dolo ou culpa, que cause dano a alguém, havendo nexo de causalidade entre a conduta e o
resultado.
2.3.2 Culpa
Gagliano e Pamplona Filho (2022, p. 62), também acreditam que a culpa pode ser
dividida em seu sentido amplo ou estrito, sendo que ambas derivam da inobservância de um
dever previamente imposto pela ordem jurídica. Para eles, se esta violação de um dever
jurídico for proposital, o agente atuou com dolo, já se a violação adveio de negligência,
imprudência ou imperícia, está-se diante de culpa stricto sensu.
No que diz respeito à culpa em sentido estrito, que abrange a imperícia, imprudência e
negligência, Maria Helena Diniz (2022, p. 25) explica que:
Por conseguinte, tem-se que a culpa, que é o elemento subjetivo da conduta humana,
pode ser praticada com dolo, ou seja, com intenção de causar o dano, ou sem intenção danosa,
mas apenas com falta de habilidade, cautela ou atenção.
Como já visto no capítulo que trata a respeito da responsabilidade objetiva e subjetiva,
a culpa será o elemento determinante para averiguar se o agente de um ato ilícito responde ou
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não pelo dano causado. No caso da responsabilidade subjetiva, que é a regra geral, o agente só
responde se tiver agido de modo culposo, enquanto na responsabilidade objetiva a culpa é
elemento prescindível, respondendo o agente independentemente da sua existência.
Neste sentido, ainda que haja um dano, se sua causa não estiver diretamente
relacionada com um ato ilícito cometido pelo agente, não há que se falar em obrigação de
indenizar (GONÇALVES, 2021, p. 22).
Maria Helena Diniz (2022, p. 49) acrescenta, ainda, que não é necessário que o dano
resulte de forma imediata do ato ilícito, bastando que “se verifique que o dano não ocorreria
se o fato não tivesse acontecido. Este poderá não ser a causa imediata, mas, se for condição
para a produção do dano, o agente responderá pela consequência”.
Diferentemente da culpa, o nexo de causalidade é elemento indispensável em qualquer
espécie de responsabilidade civil. Silvio de Salvo Venosa (2022, p. 401) elucida sobre o tema:
“A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a
vítima, que experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao
responsável, não há como ser ressarcida”.
Há de se ressaltar, contudo, que este é o elemento de mais difícil determinação no caso
concreto (PEREIRA; TEPEDINO, 2022, p. 129), tendo em consideração que nem sempre é
possível definir com exatidão a causa do dano.
19
2.3.4 Dano
Assim como o nexo causal, o dano também é um dos pressupostos indispensáveis para
o reconhecimento da responsabilidade civil, tendo em vista que não há indenização sem a
existência de prejuízo, sendo indispensável a prova de uma lesão (DINIZ, 2022, p. 32).
Os danos são divididos pela doutrina em duas categorias principais: os danos
patrimoniais (materiais) e os danos extrapatrimoniais (morais). Carlos Roberto Gonçalves
(2021, p. 150) entende que “Material é o dano que afeta somente o patrimônio do ofendido.
Moral é o que só ofende o devedor como ser humano, não lhe atingindo o patrimônio”.
Acerca do dano material, Maria Helena Diniz, conceitua:
O dano patrimonial vem a ser a lesão concreta, que afeta um interesse relativo ao
patrimônio da vítima, consistente na perda ou deterioração, total ou parcial, dos bens
materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniária e de
indenização pelo responsável. Constituem danos patrimoniais a privação do uso da
coisa, os estragos nela causados, a incapacitação do lesado para o trabalho, a ofensa
a sua reputação, quando tiver repercussão na sua vida profissional ou em seus
negócios. (DINIZ, 2022, p. 34).
Dessa forma, é possível entender o dano material como um gênero do qual derivam
duas espécies: a) os danos emergentes, que considera tudo aquilo que alguém perdeu após um
ato ilícito, e b) os lucros cessantes, que pode ser definido como todo o lucro que se deixou de
auferir em consequência da lesão sofrida.
No que se refere ao dano moral, este “Apresenta-se como aquele mal ou dano – que
atinge valores eminentemente espirituais ou morais, como a honra, a paz, a liberdade física, a
tranquilidade de espírito, a reputação, a beleza etc.” (RIZZARDO, 2019, p. 18).
A lesão indenizável pelo dano moral é aquela cujo conteúdo não é pecuniário, mas sim
aquela que fere a esfera íntima da pessoa, seus direitos de personalidade, como exemplo os
direitos à vida privada, à honra e à imagem (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022, p.
35).
Silvio de Salvo Venosa destaca, ainda, o objetivo do dano moral, que é o de indenizar
a dor sofrida e à lesão à dignidade humana:
Nesse sentido, a indenização pelo dano exclusivamente moral não possui o acanhado
aspecto de reparar unicamente o pretium doloris, mas busca restaurar a dignidade do
ofendido. Por isso, não há que se dizer que a indenização por dano moral é um preço
que se paga pela dor sofrida. É claro que é isso e muito mais. Indeniza-se pela dor da
morte de alguém querido, mas indeniza-se também quando a dignidade do ser
humano é aviltada com incômodos anormais na vida em sociedade. (VENOSA,
2022, p. 611).
À vista disso, fica claro que o dano extrapatrimonial é aquele que repara as lesões de
cunho íntimo e personalíssimo da vítima, garantindo que seu abalo, ainda que exclusivamente
moral, não fique impune.
Há de se mencionar, por fim, que desde a edição da Súmula nº 37 do Superior
Tribunal de Justiça, que disciplinou que “São cumuláveis as indenizações por dano material e
dano moral oriundos do mesmo fato” (BRASIL, 1992), cessou-se a controvérsia existente
acerca da possibilidade de cumulação entre os danos materiais e morais decorrentes de um
mesmo fato. Paulo Nader (2016, p. 99) esclarece que “prevaleceu o entendimento de que,
embora oriundos de um fato jurídico único, os danos são distintos e, sendo assim, todos
devem ser reparados”.
21
Consoante disposto no Código Civil em seu artigo 393, “O devedor não responde
pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver
por eles responsabilizado” (BRASIL, 2002). Assim, é possível inferir que se trata de uma
causa de exclusão de responsabilidade civil.
A definição de caso fortuito e força maior, embora não seja assente na doutrina, foi
dada pelo Código Civil, no parágrafo único do Art. 393, como sendo “fato necessário, cujos
efeitos não era possível evitar ou impedir” (BRASIL, 2002).
Cavalieri Filho conceitua o caso fortuito e a força maior com base na previsibilidade
do evento:
Além das hipóteses de exclusão de responsabilidade trazidas pelo Código Civil e pela
doutrina, o Código de Defesa do Consumidor trouxe suas próprias hipóteses de exclusão de
responsabilidade, nos seus art. 12, § 3º, e 14, § 3º.
No caso do art. 12, §3º, o fabricante, o construtor, o produtor ou importador deve
demonstrar, para se isentar da responsabilidade que: (a) não colocou o produto no mercado;
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(b) embora tenha colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; e (c) a culpa exclusiva
do consumidor ou de terceiro.
Já na hipótese do art. 14, § 3º, o fornecedor de serviços não será responsabilizado se
comprovar que: (a) tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; e (b) a culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro.
Sabendo que a responsabilidade civil prevista no Código de Defesa do Consumidor é
objetiva, a única forma do fornecedor se isentar da responsabilidade, é comprovando que
ocorreu uma das hipóteses acima. Assim, cumpre explicar cada uma das excludentes citadas.
Assim, evidente que com o rompimento do nexo causal, o fornecedor não pode ser
obrigado a indenizar o dano. Contudo, fica claro que a incumbência de comprovar tal
excludente decai exclusivamente sobre o fornecedor.
24
de outra conduta que, tendo sido realizada, demonstra-se que tenha dado causa ao evento
danoso” (MIRAGEM, 2021, p. 320).
Destarte, neste capítulo demonstrou-se que a responsabilidade civil está prevista tanto
no Código Civil quanto no Código de Defesa do Consumidor e pode ser classificada como
contratual ou extracontratual e como subjetiva ou objetiva. Possui como elementos o ato
ilícito, o nexo causal, a culpa e o dano e tem como excludentes a culpa exclusiva da vítima, o
caso fortuito e a força maior, além da inexistência de defeito e não colocação do produto no
mercado, aplicáveis aos casos regidos pelo CDC. Agora, passar-se-á à análise da
responsabilidade civil no âmbito da construção civil, onde serão abordadas de forma
específica a responsabilidade do construtor e do incorporador, principalmente por patologias
construtivas que causarem.
26
Desde o princípio das civilizações, a sociedade tem buscado construir as mais diversas
estruturas para se adequar às suas necessidades, sejam habitacionais (casas e edifícios),
laborais (escritórios, indústrias, galpões etc.) ou de infraestrutura (pontes, barragens, metrôs
etc.). O desenvolvimento da tecnologia proporcionou o crescimento acelerado das
construções, e como consequência, se observou também um aumento nos erros relacionados à
construção civil, fazendo com que as construções tenham desempenho insatisfatório em
relação à finalidade a que se destinam (SOUZA; RIPPER, 1998, p. 13).
Estes erros construtivos, denominados patologias dentro da construção civil, quando
causam prejuízo de ordem patrimonial ou moral a alguém, podem ser fonte geradora de
responsabilidade civil para os construtores e incorporadores.
Desta forma, este capítulo terá como finalidade o estudo das patologias construtivas
sob a ótica do ordenamento jurídico brasileiro e a responsabilidade civil delas advindas,
buscando elucidar a responsabilidade dos construtores e incorporadores segundo o Código
Civil Brasileiro, a Lei de Incorporações e o Código de Defesa do Consumidor.
1
A ABNT NBR 15575-1 é a norma técnica que estabelece requisitos gerais e critérios de desempenho aplicáveis
à edifícios habitacionais de até cinco pavimentos, buscando atender as exigências dos usuários, podendo ser
utilizada como procedimento de avaliação do desempenho dos sistemas construtivos. (ABNT, 2013, p. 1)
27
Segundo a NBR 15575-1, há alguns requisitos mínimos que devem ser atendidos na
construção, e que se não observados, podem gerar patologias construtivas, sendo eles:
segurança estrutural; segurança contrafogo; segurança no uso e na operação; estanqueidade;
desempenho térmico; desempenho acústico; desempenho lumínico; saúde, higiene e qualidade
do ar; funcionalidade e acessibilidade; conforto tátil e antropodinâmico; durabilidade;
manutenibilidade; e impacto ambiental (ABNT, 2013, p. 11).
Pode-se listar como algumas das patologias mais comuns “as fissuras ou trincas, as
eflorescências, as deformações ou flechas excessivas, a corrosão de armaduras, os ninhos de
concretagem devido à segregação dos materiais que constituem o concreto” (WEIMER et al.,
2018, p. 15).
Sérgio Cavalieri Filho (2021, p. 436) explica que “os defeitos da obra, via de regra,
serão de concepção – projeto, cálculos –, ou de construção – fundações, concretagem etc. –,
defeitos que comprometem a segurança da obra.”, mas ensina também que há uma diferença
entre defeito e vício na obra:
No que se refere à solidez e segurança da obra, estas estão prevista no Código Civil
em seu artigo 618, que aduz que o empreiteiro responderá pela solidez e segurança do
28
trabalho, em razão dos materiais e do solo (BRASIL, 2002). Como se vê, a legislação não
conceituou o que seria a solidez e segurança da obra, deixando tal definição para a doutrina e
a jurisprudência nos casos concretos.
Cristiano Chaves de Farias, Nelson Rosenvald e Felipe Peixoto Braga Netto (2019, p.
1388) dispõem que a solidez e segurança devem ser interpretadas de maneira mais ampla, de
forma a abranger tanto defeitos que podem gerar a ruína do imóvel ou que comprometam sua
estrutura e habitabilidade, quanto os vícios menos graves, como infiltrações e semelhantes.
Nesse mesmo sentido disciplina Sérgio Cavalieri Filho (2021, p. 446):
Quando a lei fala em solidez e segurança, está a se referir não apenas à solidez e
segurança globais, mas, também, parciais. Esses vocábulos devem ser interpretados
com certa elasticidade, abrangendo danos causados por infiltrações, vazamentos,
quedas de blocos do revestimento etc.
Desta maneira, tem-se que a solidez e a segurança da obra estão ligadas a defeitos e
vícios de grande a média monta, abrangendo tanto aqueles que podem comprometer a
habitabilidade do imóvel quanto aqueles que prejudicam a finalidade e usabilidade do imóvel.
No que diz respeito à perfeição da obra, embora não esteja prevista necessariamente
em contrato ou na lei, pode-se dizer que se constitui como um dever ético-profissional do
construtor perante o dono da obra, vez que a construção é um processo técnico, que envolve a
composição e coordenação de materiais para que se atinja a finalidade da obra
(GONÇALVES, 2022, p. 242).
Nesse sentido é o ensinamento de Hely Lopes Meirelles (2005, p. 292):
empreiteiro tenha se afastado das regras técnicas aplicáveis ao trabalho, ou até mesmo das
instruções recebidas (BRASIL, 2002).
Hely Lopes Meirelles (2005, p. 294) corrobora com o entendimento previsto no
Código Civil: “Dessa responsabilidade não se exime o profissional ou firma construtora, ainda
que tenha seguido instruções do proprietário ou da Administração, pois não pode aplicar
material inadequado ou insuficiente, nem relegar a técnica apropriada para a obra contratada”.
Assim, o dever de entregar a obra perfeita para o seu fim é uma obrigação da qual o construtor
não pode se exonerar.
Importante fazer algumas considerações a respeito dos vícios redibitórios, que são
ocorrências muito comuns no âmbito da construção civil, tendo em vista se tratar de uma área
que abrange materiais que, em razão da sua natureza, só irão apresentar defeitos passado
algum tempo de uso.
O conceito de vício redibitório, de acordo com Hely Lopes Meirelles (2005, p. 295) é:
“um vício grave existente no produto adquirido, mas não percebido no momento da aquisição;
vício de tal gravidade que, se o adquirente tivesse conhecimento dele antes do ajuste, não o
teria adquirido, ou pleitearia abatimento no preço”.
Para Sérgio Cavalieri Filho (2021, p. 437), os vícios e defeitos ocultos são a maior
fonte de litígio entre os construtores e proprietários da obra, uma vez que, no momento da
entrega da obra, esta se encontra aparentemente perfeita, e após algum tempo, com o uso,
começam a aparecer infiltrações, vazamentos, rachaduras, defeitos nas instalações, dentre
outros.
O referido autor ainda explica que, tendo em vista a natureza oculta dos vícios, a
aceitação da obra não pode ser entendida como uma aceitação plena, mas apenas provisória:
Tendo em vista que esses vícios ocultos, por sua natureza, não podem ser percebidos
à primeira vista e, normalmente, só vão surgindo ao longo de meses e anos depois de
recebida a obra, tem-se entendido que esse recebimento não envolve aceitação plena,
apenas provisória, para verificação. Demonstrado que o defeito ou vício da coisa, diz
Caio Mário, é efetivamente oculto, não pode prevalecer a presunção de que a obra
foi aceita, em decorrência do recebimento. De igual sentir Mário Moacyr Porto: ‘O
recebimento da obra extingue a responsabilidade do construtor quanto aos vícios
aparentes, mas não quanto aos vícios ocultos, que poderão ser arguidos e reclamados
durante todo o prazo quinquenal da garantia’. (CAVALIERI FILHO, 2021, p. 437).
30
Acerca do prazo para alegar os vícios redibitórios, Carlos Roberto Gonçalves (2022, p.
244), explica: “Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo
contar-se-á do momento em que dele se tiver ciência, até o prazo máximo de um ano (CC, art.
445 e § 1º)”. Isto posto, os vícios redibitórios, diferentemente dos vícios aparentes, podem ser
alegados posteriormente à entrega da obra, podendo ser reclamados a partir do momento da
sua ciência.
Alguns são os agentes que integram a construção de um imóvel, como por exemplo, o
construtor, o engenheiro, o arquiteto, o projetista, o incorporador, o agente financeiro (quando
for o caso) e outros. Para este trabalho, é relevante que se entenda a responsabilidade de dois
dos principais responsáveis pela construção: a) o construtor (que pode ser contratado por
empreitada ou por meio de terceirização); e b) o incorporador (que embora não se envolva na
construção, é quem idealiza e comercializa o imóvel).
Assim sendo, uma vez que já foram explanadas as patologias construtivas e as causas
geradoras de responsabilidade civil dentro da área da construção, analisar-se-á os dois
principais agentes acima citados, de forma a entender de que maneira eles podem ser
responsabilizados pelos vícios e defeitos ocorridos em uma obra. Ademais, pela relevância
temática, também será objeto de uma breve análise a possível responsabilidade de instituição
financeira que atuar como agente financeiro nos casos de incorporação imobiliária.
3.2.1 Construtor
no contrato por administração, o dono da obra é quem fiscaliza e assume os riscos e os custos
da obra, sendo o construtor um mero prestador de serviços. Em ambos os casos, porém, o
construtor se obriga a executar a obra nos termos dos projetos recebidos do dono da obra
(TAPAI, 2022, p. 141).
No que tange ao tipo de responsabilidade que é atribuída ao construtor em caso de
defeitos na obra, Paulo Nader entende que se trata de uma responsabilidade de resultado, visto
que o construtor é obrigado a garantir a qualidade, solidez e segurança necessárias à obra:
3.2.2 Incorporador
Ainda que não esteja presente em todos os contratos de construção, o agente financeiro
é figura importante em muitos dos casos de incorporação imobiliária e vem constantemente
sendo objeto de discussão na esfera judicial no que diz respeito à sua responsabilidade pelos
vícios construtivos.
33
Sendo assim, pode-se concluir que a instituição bancária responsável por fornecer
recursos financeiros para a execução de uma construção só será por esta responsabilizada
quando sua atividade exceder a de um mero agente financeiro, onde exercer atividades
próprias de construção ou comercialização do imóvel.
Este também é o entendimento de Paulo Nader (2016, p. 546), que explica que “Para
que o construtor se sujeite à legislação especial, há de ocupar um dos polos da relação jurídica
e, no outro, o destinatário final”.
Configurada a relação de consumo, o construtor e o incorporador passam a responder
não só nos ditames da legislação civil, mas também como fornecedores de um produto,
35
São entendidos como produtos defeituosos, pelo CDC (Art. 12, § 1º), aqueles que não
fornecem a segurança que dele se pode esperar, levando em consideração sua apresentação, o
uso e os riscos que dele se esperam, bem como a época em que foi colocado em circulação
(BRASIL, 1990). Já os produtos com vícios que os tornem impróprios para uso ou consumo,
para o CDC (Art. 18, § 6º), são aqueles cujos prazos de validades estejam vencidos, aqueles
que estejam deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos,
fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, aqueles em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação, bem como, os que por qualquer
motivo sejam considerados inadequados ao fim que se destinam (BRASIL, 1990).
Importante frisar, também, os ensinamentos de Hely Lopes Meirelles, no que diz
respeito à responsabilidade do construtor pelos vícios construtivos sob a ótica do CDC:
Vê-se, assim, que enquanto pelo Código Civil a vítima é que tem que provar o
defeito da obra e suas consequências, pelo Código do Consumidor o defeito é
presumido, o que em muito favorece a posição do consumidor. Ocorrendo o
acidente, o consumidor terá apenas que provar o dano e o nexo causal. Convém
ressaltar que mesmo em relação ao nexo causal não se exige da vítima uma prova
robusta e definitiva, eis que essa prova é praticamente impossível em certos casos.
Bastará, por isso, a chamada prova de primeira aparência, prova de verossimilhança,
decorrente das regras da experiência comum, que permita um mero juízo de
probabilidade. (CAVALIERI FILHO, 2022, p. 332)
[...] vida útil do produto ou serviço, entendendo-se como tal o tempo razoável de
durabilidade do bem de consumo, considerando a sua qualidade, finalidade e tempo
de utilização. Como os bens de consumo não são eternos, possuem durabilidade
variada, a identificação da vida útil exigirá sempre uma apreciação concreta em cada
caso, na qual o julgador tem certa flexibilidade, mas o fator tempo será sempre
relevante. (CAVALIERI FILHO, 2022, p. 210)
Nesse sentido, como os bens não são eternos, possuem um prazo razoável de
durabilidade, e passam por um desgaste normal após certo período de uso, não é possível
atribuir ao construtor a responsabilidade de arcar com os danos advindos desse desgaste.
Contudo, importa salientar que, pelo tipo de responsabilidade aplicável, cabe ao construtor
demonstrar que o dano sobreveio de desgaste natural e não de falha construtiva.
Já no que se refere ao mau uso e falta de manutenção do imóvel, trata-se de itens que
são de responsabilidade do proprietário do imóvel, conforme disciplinado pela NBR 15575-1:
Como se vê, a norma é clara ao determinar que o construtor não será responsabilizado
por modificações realizadas pelo proprietário que prejudiquem o desempenho original do
imóvel. Além disso, a norma atribui ao usuário a responsabilidade pela manutenção do bem.
No que diz respeito à manutenção do imóvel, o construtor e o incorporador são
obrigados a fornecer ao proprietário da obra o manual de uso do imóvel, para que ele possa ter
conhecimento da necessidade de manutenção e da forma que ela deve ser feita, como elucida
Hely Lopes Meirelles:
38
Para que se considere ilícito o ato que o ofendido tem como desonroso é necessário
que, segundo um juízo de razoabilidade, autorize a presunção de prejuízo grave, de
modo que “pequenos melindres”, insuficientes para ofender os bens jurídicos, não
devem ser motivo de processo judicial. (THEODORO JUNIOR, 2016, p. 6)
Nos casos de vícios construtivos em imóveis, há hipóteses em que estes são capazes de
causar ofensas graves aos direitos de personalidade dos proprietários de imóveis, gerando
direito à indenização por dano moral, contudo, tal circunstância deve estar efetivamente
comprovada para dar azo à indenização moral, vez que o dano não pode ser presumido nestes
casos. Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
01/10/2022, obtendo 15 (quinze) resultados nessa busca, onde todos serão estudados,
constando as ementas de cada decisão no Anexo A deste trabalho.
10
Total
R$ 15.000,00 R$ 2.500,00
1 1
R$ 5.000,00
3
Sob estes fundamentos, foi concedido a indenização por danos morais a cada uma das
autoras, no patamar de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais).
O quarto processo de concessão, de número 0301426-26.2016.8.24.0080, se refere à
ação de obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por danos morais ajuizados
pelos compradores de uma residência em face da construtora. Alegaram que após algum
tempo da aquisição do imóvel, este apresentou diversas falhas estruturais como rachaduras,
infiltrações, desníveis, falhas no reboco e outros. A sentença julgou procedentes os pedidos de
obrigação de fazer, obrigando a ré a reparar os vícios constatados no imóvel por meio de
perícia, bem como condenou a ré ao pagamento de indenização por danos morais no importe
de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
Os autores se insurgiram no recurso apenas no tocante ao valor da indenização por
danos morais. O Tribunal de Justiça manteve o valor fixado em sentença, argumentando que,
embora a falha da construtora tenha extrapolado o limite do tolerável, por ter deixado o
imóvel em condições insalubres, o valor arbitrado pelo juízo singular está de acordo com as
peculiaridades do caso e com os parâmetros adotados pelo tribunal em situações semelhantes.
Por fim, o processo número 0313525-05.2016.8.24.0023, trata de ação de obrigação de
fazer com pedido de indenização por danos materiais e morais, em que os autores afirmam
44
serem proprietários de imóvel localizado abaixo do apartamento pertencente aos réus e que
sofrem vícios construtivos como infiltrações, goteiras, rachaduras e outros problemas
provenientes da ausência de manutenção do imóvel dos réus.
O laudo pericial realizado no processo demonstrou que as infiltrações presentes no
apartamento dos autores têm como origem falhas no imóvel dos réus, que fica no andar
superior. Foram constatados os seguintes vícios no imóvel dos autores: deterioração do
revestimento argamassado (reboco) e da pintura afetados pelas infiltrações; insalubridade do
ambiente provocado pela formação de mofos nos ambientes; desconforto e sensação de
insegurança provocadas pelas fissuras e pelo descascamento da pintura; deterioração dos
móveis de madeira MDF instalados próximos aos pontos de infiltração. E o laudo confirmou
que as infiltrações do apartamento dos autores são provenientes de problemas de
impermeabilização existentes na cobertura.
A sentença condenou os réus a realizar os reparos necessários no imóvel dos autores,
ao pagamento de indenização pelos danos materiais comprovados e indenização por danos
morais no importe de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). Em grau recursal, o Tribunal de Justiça
entendeu pela manutenção da indenização arbitrada pelo juízo singular vez que: a) os
problemas de infiltração perduraram por anos e em todos os ambientes do imóvel e os réus se
recusaram a solucionar os problemas pela via extrajudicial; b) tais infiltrações limitaram o uso
do imóvel e geraram preocupações com móveis e eletrônicos, bem como infortúnios com a
parte estética, tendo os autores que utilizar baldes e panos para conter a umidade do imóvel.
Desse modo, julgaram como adequada a indenização e o montante fixado.
4.1.2 Processos que não concederam danos morais por vícios construtivos
correção dos defeitos relatados na obra. No tocante ao dano moral, a sentença foi de
improcedência. O condomínio se insurgiu nesse ponto em seu recurso, tendo o Tribunal de
Justiça mantido a decisão singular, fundamentando que o condomínio, por ser uma massa
patrimonial, não é capaz sofrer mácula em sua honra objetiva capaz de ensejar dano moral, e
ainda que se admitisse essa possibilidade, não houveram indícios que os defeitos atingiram a
credibilidade do condomínio, além de que a perícia constatou que a edificação em questão não
apresentava risco de colapso, motivo pelo qual não caberia dano moral.
No processo de número 5002103-83.2020.8.24.0054, a parte autora postulou
indenização por danos materiais e morais em face do Banco do Brasil S.A. em razão de vícios
construtivos constatados no seu imóvel, adquirido pelo programa “Minha Casa Minha Vida”,
cujo contrato era vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação. A perícia técnica realizada
no condomínio em que se encontra o imóvel constatou diversos vícios de construção no
condomínio e nos apartamentos:
No tocante aos danos morais, o Tribunal manteve a negativa, sob o fundamento que a
situação se trata de mero inadimplemento contratual incapaz de gerar abalo anímico
indenizável, afirmando que:
o dano moral demanda a existência de agressão para além da naturalidade dos fatos
cotidianos, causando aflições fundadas ou angústia no espírito da vítima, de modo
que dissabores, frustrações ou sensibilidade extrema, decorrentes do simples
descumprimento contratual, estão excluídos da espécie. (SANTA CATARINA,
2022d).
imagem. O objeto do recurso ao Tribunal de Justiça foi o dano moral. O órgão colegiado
manteve a negativa entendendo que:
O acórdão ainda dispôs que, o laudo pericial confirmou que não há problemas
estruturais no imóvel, apenas de revestimento, de modo que, não havendo risco de ruína, o
mero inadimplemento contratual não dá azo à indenização moral.
No processo de número 5015479-87.2020.8.24.0038, o autor afirmou que assim que
ingressou no apartamento que adquiriu da construtora ré percebeu diversas irregularidades
como infiltrações e rachaduras, razão pela qual pretende ser indenizado pelos vícios
construtivos. A sentença entendeu por condenar a ré a realizar os reparos necessários para
sanar os vícios construtivos encontrados no apartamento, mas negou os danos morais
postulados. O Tribunal de Justiça manteve a negativa do dano moral, por entender que a
situação se tratou de mero inadimplemento contratual, que não lhe causaram aborrecimentos
além dos normais. Ademais, afirmou que o requerente nunca residiu no imóvel, de modo que
sequer sofreu com as infiltrações encontradas no apartamento.
Os autos número 0014426-94.2012.8.24.0020 e número 0006203-21.2013.8.24.0020
foram julgados de forma conjunta, com elaboração de minuta de acórdão idêntica em ambos
os processos, pelo reconhecimento da conexão entre eles. Trata-se de caso em que os autores
contrataram a empresa ré para a construção de sua residência. A empresa atrasou a entrega da
obra, e nas partes que entregou foram constatados diversos vícios de construção, motivo pelo
qual os autores postularam a rescisão do contrato, com indenização por danos materiais e
morais sofridos. O laudo pericial realizado nos autos listou uma séria de patologias
encontradas no imóvel, como infiltrações, vazamentos, mofo e outros, decorrentes da
inadequada execução dos serviços, e da má qualidade dos produtos empregados, ressaltando,
contudo, que nenhuma das patologias coloca em risco a estrutura do imóvel. A sentença
entendeu por rescindir o contrato, e condenar a empresa ré ao pagamento dos danos materiais
comprovados, e danos morais no importe de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). A empresa ré
apresentou recurso contestando, dentre outras coisas, a condenação por danos morais. O
Tribunal de Justiça acolheu o recurso da ré, modificando a decisão de origem para afastar a
condenação por danos morais, afirmando que não houve comprovação de lesão que
48
construtivos, sua unidade imobiliária não possui problemas de habitação, de modo que não é
cabível a indenização por danos morais.
Da análise dos julgados é possível inferir que não há um padrão para concessão de
danos morais por vícios construtivos. Das cinco decisões que concederam o dano moral, cada
uma apresentou argumento diverso, sendo verificado em cada caso concreto se ficaram
comprovados abalos morais acima do entendido como razoável pelo Tribunal.
Nos processos em que a indenização por danos morais foi negada, o principal
argumento utilizado pelos togados foi o do mero inadimplemento contratual, sendo que dos
10 processos em que o dano moral não foi concedido, em 9 foi mencionado o termo “mero
inadimplemento contratual” como fundamento decisório.
Diante disso, é importante entender se os critérios utilizados pelo Tribunal de Justiça
estão em consonância com a legislação e o entendimento doutrinário sobre o tema.
Primeiramente, importa esclarecer que a relação obrigacional em que estão enquadradas as
partes dos processos ora analisados é contratual, tendo em vista que foram estudados casos
relativos a contratos de compra e venda de imóveis, sendo a responsabilidade civil aplicável a
estes casos também contratual.
A respeito da responsabilidade contratual, Rogério Donnini explica:
Maria Helena Diniz (2022, p. 97) também elucida que “O mero descumprimento
injustificado de uma prestação avençada resulta para a parte lesada a possibilidade de
reparação do dano que, em regra, substitui a prestação.”
Em outras palavras, pode-se entender que do inadimplemento contratual surge o dever
de indenizar. A respeito do descumprimento de contrato, o Código Civil, em seu artigo 389,
dispõe que: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado.” (BRASIL, 2002).
50
normalmente, defluem danos materiais das relações patrimoniais, uma vez que nessa
esfera buscam as partes a satisfação de interesses econômicos, esgotando-se os seus
efeitos, pois, de regra, no plano referido, com a não execução de obrigações
contratuais. Podem, no entanto, ações ou omissões de qualquer das partes ofender a
moralidade da outra, fazendo emergir, assim, a temática em questão, em diferentes
contratos, ou em compromissos assumidos na vida negocial, nas quais se atinjam a
personalidade, ou bens de estimação do lesado. Assim, por descumprimento de
obrigação, por mora ou por força de cumprimento defeituoso, consequências lesivas
de ordem moral são frequentes na vida de relações, a exigir a devida reparação.
(BITTAR, 2015, p. 186)
"é possível verificar a violação de um bem existencial e não ser o caso de reconhecer
o direito à indenização, especialmente quando a intensidade da violação de um
interesse existencial protegido juridicamente for tão baixa a ponto de se comparar
com intercorrências inerentes à vida humana, no que doutrina e jurisprudência
convencionaram a chamar de mero dissabor ou mero aborrecimento." (BONNA,
2021, p. 13)
Dessa forma, o mero descumprimento contratual, sem outras evidências de grave lesão
ao foro íntimo da pessoa, não gera responsabilização por danos morais. O Tribunal de Justiça
de Santa Catarina inclusive editou a Súmula 29 que trata sobre o tema: "o descumprimento
contratual não configura dano moral indenizável, salvo se as circunstâncias ou as evidências
do caso concreto demonstrarem a lesão extrapatrimonial" (SANTA CATARINA, 2019).
Diante disso, têm-se que os julgados do Tribunal de Justiça de Santa Catarina ora
analisados, que tratam a respeito de danos morais por vícios construtivos, estão em
consonância com a legislação e doutrina atuais.
Nos processos em que o argumento utilizado pelo Tribunal de Justiça foi o do mero
inadimplemento contratual, o órgão colegiado entendeu que os requerentes da indenização
não comprovaram a ocorrência efetiva de dano à personalidade, intimidade, honra,
personalidade, ou à vida privada, de modo que não faziam jus à indenização.
Ademais, outro ponto analisado pelos julgadores no momento da não concessão da
indenização foi o da gravidade dos vícios construtivos. Para que sejam concedidos danos
morais por problemas de construção, alguns julgados entendem que os vícios devem ser
graves a ponto de comprometer a estrutura do imóvel, gerando risco de ruína ou risco à
segurança da edificação.
Sendo assim, é possível concluir que a não concessão do dano moral por vícios
construtivos se dá em virtude por dois motivos principais: a) a não comprovação da
ocorrência de dano que ultrapassasse a esfera do mero inadimplemento contratual; e b) a
existência de vícios construtivos que não são capazes de comprometer a segurança do imóvel.
Sendo concedidas indenizações apenas nos casos em que os danos ultrapassaram a esfera do
“mero dissabor”.
52
5 CONCLUSÃO
Além disso, os valores das decisões levaram em conta também esses pontos, sendo
que o valor mais adotado pelo tribunal foi de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), aplicado em três
casos, e o maior valor foi de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), que considerou principalmente a
gravidade dos vícios e o tempo em que perduraram.
Já nas hipóteses de não concessão do dano moral, percebeu-se que o Tribunal adota
um parâmetro decisório uniforme: nos casos em que há um mero inadimplemento contratual,
com vícios que não comprometem a estrutura do imóvel, e nos casos sem evidências
concretas de lesão aos direitos de personalidade da pessoa, não cabe indenização.
Verificou-se, por fim, se as decisões emitidas pelo Tribunal seguiam o entendimento
da doutrina e da jurisprudência sobre o tema, concluindo-se que sim, vez que tanto a doutrina
quanto o Superior Tribunal de Justiça possuem entendimento de que só é cabível dano moral
por inadimplemento contratual nos casos mais graves, com lesões comprovadas ao foro
íntimo da pessoa.
Sendo assim, foi possível inferir que, para o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, o
dano moral decorrente de vícios construtivos é cabível apenas quando cabalmente
comprovado que os vícios ultrapassam a esfera do mero inadimplemento contratual, com
prova de lesão extrapatrimonial, levando em conta a gravidade do vício e o período de
duração do defeito.
Desse modo, acredita-se que a jurisprudência Catarinense vem abordando de forma
justa o tema em seus julgados, concedendo indenizações conforme a gravidade dos casos, e
apenas nos processos em que os danos morais foram devidamente comprovados, não
favorecendo a chamada “cultura das indenizações”.
54
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55
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WEIMER, Bianca Funk. et al. Patologia das estruturas. Porto Alegre: SAGAH, 2018. E-book.
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59
"A verificação do dano moral não reside exatamente na simples ocorrência do ilícito, de sorte
que nem todo ato desconforme o ordenamento jurídico enseja indenização por dano moral. O
importante é que o ato ilícito seja capaz de irradiar-se para a esfera da dignidade da pessoa,
ofendendo-a de maneira relevante. Daí porque doutrina e jurisprudência têm afirmado, de
forma uníssona, que o mero inadimplemento contratual - que é um ato ilícito - não se revela,
por si só, bastante para gerar dano moral" (STJ, AgRg no REsp n. 1.269.246/RS. Quarta
Turma. Relator: Min. Luis Felipe Salomão. Julgado em 20/05/2014).
ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS RECURSAIS. INTELIGÊNCIA DO ART. 85, § 11,
DO CPC.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(TJSC, Apelação n. 0300941-69.2017.8.24.0022, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Haidée Denise Grin, Sétima Câmara de Direito Civil, j. 26-05-2022).
evento danoso no prazo previsto no art. 618 do Código Civil, o construtor poderá ser acionado
no prazo prescricional acima referido" (AgRg no Ag n. 1208663/DF, Min. Sidnei Beneti).
2 Segundo a teoria da actio nata, o termo inicial do interregno prescricional é o conhecimento
do evento danoso, o que, no caso, ocorreu quando se verificaram os vícios construtivos no
imóvel. Afinal, "o curso do prazo prescricional do direito de reclamar inicia-se somente
quando o titular do direito subjetivo violado passa a conhecer o fato e a extensão de suas
consequências, conforme o princípio da actio nata" (REsp n. 1.257. 387/RS, Mina. Eliana
Calmon).
3 É de ser reconhecido como inepto o pedido de reparação por danos materiais que não
encontra delimitação, com indicação precisa sobre qual seria o prejuízo a ser indenizado,
dificultando sobremaneira o direito defensivo.
4 Os aborrecimentos que geraram transtornos no momento dos fatos, irritações, dissabores e
outros contratempos cotidianos, não têm o condão de conferir direito ao pagamento de
indenização, pois não são suficientes para provocar forte perturbação ou afetação à honra e ao
bom nome do ofendido.
5 A existência de vícios construtivos que não comprometam a habitabilidade do imóvel não
resulta em danos morais.
Afinal, "o descumprimento contratual não configura dano moral indenizável, salvo se as
circunstâncias ou as evidências do caso concreto demonstrarem a lesão extrapatrimonial"
(TJSC, Súm. n. 29).
(TJSC, Apelação n. 5016362-94.2020.8.24.0018, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,
rel. Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 20-09-2022).