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CURSO DE DIREITO
CRICIÚMA SC
2022
CÁSSIO CLARINDA DA CUNHA
CRICIÚMA SC
2022
CÁSSIO CLARINDA DA CUNHA
BANCA EXAMINADORA
Prof. XXXXXXXXX
Prof. XXXXXXXX
Dedico esse trabalho à minha esposa, e
aos meus pais, pela compreensão e
incentivo durante todos os momentos
desta etapa na minha vida.
AGRADECIMENTOS
.
“Em matéria de propriedade, o direito
do primeiro ocupante é incerto e pouco
seguro. O direito de conquista, pelo
contrário, assenta em fundamentos
sólidos. Ele é respeitável porque é o
único que se faz respeitar. ”
Anatole France
RESUMO
This course conclusion work addresses the exclusion of the joint owner within the
scope of the building condominium due to the practice of antisocial conduct, through a
jurisprudential analysis of the limitation of the exercise of the right to property,
depending on the right of neighborhood and the building condominium. The problem
arises of whether, or not, the unit owner considered harmful to the neighborhood can
be excluded by the assembly of condominium owners from the right to live on their
property. Through the study of property law and its limitations; of the examination of
the condominiums, their organization and applicable norms and to verify the decisions
of the Courts of Justice regarding the expulsion of the antisocial condominium, the
objective was to analyze the possibility of the exclusion of the antisocial condominium
from the building condominium, according to the jurisprudence of the Court of Justice
of São Paulo and from Paraná. Within this context, the methodology used was the
analysis starting from the observation of Brazilian legislation, a bibliographic review
was used in relation to the level, exploratory research, as it allows identifying the
variables that involve the researched object, seeking to provide greater intimacy with
the problem. As for the approach applied, it was the quali-quantitative one, used to
carry out a more in-depth analysis of the property issue. The choice of this theme was
due to the constant disputes that occur due to different points of view regarding the
subject. The acts considered antisocial do not form a closed and exhaustive list.
Finally, it is concluded that, on the one hand, it is argued that the absence of a legal
provision is an obstacle to the exclusion of the social condominium and that there can
be no broad interpretation of a restrictive rule of property rights. Also the right to
housing and human dignity would prevent the compulsory removal of the antisocial
condominium. On the other hand, the paradigms of sociability must be honored, in
order to allow the exclusion of the antisocial condominium. Therefore, in exceptional
cases, the exclusion of the antisocial unit owner is allowed, for the sake of peace,
safety and the health of other neighbors.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 O DIREITO DE PROPRIEDADE E VIZINHANÇA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
.................................................................................................................................. 15
2.1 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO DIREITO DE PROPRIEDADE ................. 18
2.2 O DIREITO DE VIZINHANÇA E A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE........ 19
2.3 A INSERÇÃO DO CONDOMÍNIO NO CONTEXTO JURÍDICO ATUAL .............. 24
3 ELEMENTOS QUE CARACTERIZAM O CONDOMÍNIO EDILÍCIO ...................... 27
3.1 O CONDOMÍNIO EDILÍCIO E SEUS INSTRUMENTOS NORMATIVOS ............ 27
3.2 INSTITUIÇÃO DE CONDÔMINO PROPRIEDADE INDIVIDUAL E COLETIVA .. 31
3.3 CONVENÇÃO E O REGIMENTO INTERNO DO CONDOMÍNIO ....................... 33
4. POSSIBILIDADE DE EXCLUSÃO DO CONDÔMINO ANTISSOCIAL DO
CONDOMÍNIO EDILÍCIO .......................................................................................... 36
4.1 ANALISE JURISPRUDENCIAL E DOUTRINARIA QUANTO A DEFINIÇÃO DE
CONDÔMINO ANTISSOCIAL ................................................................................... 39
4.2 A DEFINIÇÃO DOUTRINÁRIA SOBRE O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
INTRÍNSECO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ......................................................... 41
4.3 ESTUDO JURISPRUDENCIAL DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
E PARANÁ. ............................................................................................................... 44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 49
REFERENCIAS......................................................................................................... 52
11
1 INTRODUÇÃO
Vizinho é todo aquele que pode afetar ou ser afetado pela utilização (isto é,
pelo exercício da faculdade de uso) de um outro imóvel. A noção básica para
a configuração da abrangência da vizinhança é a de todo o espaço que pode
ser atingido por interferência. Deste modo, é impossível estabelecer, de um
ponto de vista apriorístico, qual seja sua exata delimitação física ou espacial
em termos quantitativos. Desloca-se o conceito para uma categoria
qualitativa: é a região passível de interferência. Havendo real possibilidade
de interferência em um imóvel através do uso ou da fruição exercida em
outro, haverá a figuração de uma relação vicinitária e, havendo conflito, a
possibilidade de sua composição. A ideia de vizinhança, portanto, em termos
jurídicos, é relacional. Trata-se de verificar a abrangência das interferências
recíprocas que a utilização de imóveis pode provocar, para tutelar alguns
valores como a paz, o bem-estar social e manter a harmonia entre os
vizinhos. (Penteado, 2014, p. 429).
Utilizando como exemplo um velho ditado popular, “seu direito acaba quando
começa o direito do outro”, consegue-se entender a principal ideia do que seria o uso
anormal da propriedade, previsto nos artigos 1.277 a 1.281 do CC. O uso normal da
propriedade é aquele que gera incômodos aos vizinhos.
Observa-se que a regra não é a mesma para todos os locais, já que devem ser
considerados todos os envolvidos: um hospital com grande frequência de
ambulâncias, por exemplo, não pode ser punido por sua própria natureza, assim como
um aeroporto, não pode ser punido pelo barulho das aeronaves.
Coelho (2019), usa um exemplo de atuação em Direito Imobiliário no tema dos
direitos de vizinhança é a questão do barulho, em especial de estabelecimentos
comerciais, como bares. É comum que bares gerem ruídos acima do permitido pela
legislação local, se estendendo pela noite e incomodando a vizinhança. Nesses casos,
é possível notificar o estabelecimento e, caso não seja cessado a ruído, ajuizar uma
ação com essa finalidade. Também é muito comum haver casos envolvendo
a necessidade de realizar ou de cessar alguma obra que possa estar gerando prejuízo
aos vizinhos.
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Dispõe o Código Civil, nos artigos 1277 a 1284, sobre o uso anormal da
propriedade pelo uso que viola o princípio da função social da propriedade. No que
trata dos direitos de vizinhança, o uso anormal da propriedade é aquele que perturba
a saúde, a segurança e o sossego daqueles que possuem propriedade vizinha. Para
Diniz (2015, p. 90) “existem três maneiras que o direito de vizinhança pode se
apresentar: restrição ao direito de propriedade, limitações legais ao domínio e
contiguidade entre dois imóveis”. O conceito de vizinhança se estende até onde o ato
praticado em um prédio possa produzir consequências em outro e, havendo
interferência, sem importar a distância, acaba por caracterizar conflito de vizinhança.
Maria Helena Diniz afirma que a função social da propriedade é essencial para
garantir o básico das condições de convivência social. Diniz também afirma que a
propriedade é direito garantido pela Constituição, e que esse direito deve ser exercido
ecoando na função social da propriedade. Está ligada à função social da propriedade,
ao exercício da propriedade e não ao direito de propriedade em si. Esse exercício deve
ser efetivo e socialmente harmônico ao uso do bem ao qual reflete a propriedade,
buscando o equilíbrio entre o direito de propriedade, que é de satisfação particular e a
sua devida função social, que busca o interesse público e a satisfação da sociedade
com os deveres cumpridos. (DINIZ, 2009).
A função social da propriedade, está prevista no artigo 5º, inciso XXIII, da
Constituição Federal, e como já mencionado também está contemplada no artigo
1.228, §§ 1º e 2º, do Código Civil vigente, que dispõe:
20
1
Importante filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata genebrino. É considerado um
dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo.
23
É sabido que o uso regular de um direito reconhecido não constitui ato ilícito,
conforme se verifica da análise do art. 188, I do Código Civil. Desta forma, o exercício
irregular de um direito enseja o ato ilícito denominado tecnicamente de abuso de
direito. Alguns doutrinadores apontam que o abuso de direito, a priori não se revela
como ilícito, mas com o tempo e, por infringir a esfera jurídica de outrem, passa a se
configurara como ato ilícito (SOARES, 2014).
Para Diniz (2018), abusa do direito de propriedade de imóvel quem a utiliza
nocivamente, pondo em risco ou afetando a segurança, o sossego e a saúde dos
donos dos prédios vizinhos. Portanto, define-se o uso da propriedade conforme
prevê o art. 1.228 do Código Civil. Privilegiando sua função social com efetivo
interesse dói proprietário ou a sua comodidade e, nunca sendo utilizada como
instrumento de vingança, capricho ou com o fito de perturbar ou causar dano a
outrem.
É abuso de direito, por exemplo, construir muro altíssimo apenas para fazer
sombra sobre o prédio vizinho ou para atrapalhar a navegação aérea; ou construir
um poço profundo para suprimir as águas dos demais adquirentes do lote, ou não
permitir a passagem forçada para o proprietário que necessite escoar sua produção
agrícola, encontrando-se a estrada pública em péssimas condições, entre outros
comportamentos igualmente reprováveis (DINIZ, 2018).
Todavia, há casos que se tem que tolerar as interferências à propriedade em
razão do interesse público (art. 1.1278 Código Civil) podendo requerer a qualquer
tempo a redução ou a própria cessação da atividade considerada como nociva, basta
que se prove que tal fato não traria prejuízo à atividade em prol do interesse público.
Segundo Dantas (2019), o fundamento da responsabilidade nessa seara, não
se esteia na culpa e assenta-se efetivamente na responsabilidade objetiva. Assim,
se o ato praticado no imóvel vizinho repercute de modo prejudicial e danoso ao outro,
impõe-se o dever de remover o mal causado ou indenizar o dano experimentado, a
exemplo da construção de um imóvel em terreno contíguo, cujo sistema de
estaqueamento cause trincas, fissuras, rachaduras no imóvel vizinho.
O próprio código civil brasileiro de 2002 limita, sem, no entanto, estabelecer
punição direta, o proprietário, nos atos produzidos por sua propriedade ao bem estar
dos seus vizinhos, no parágrafo segundo do art. 1.228:
§2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade,
ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
24
que não ocorre para aqueles que não moram em condomínio, já que a moradia, em
sua totalidade, é de propriedade do dono do imóvel (NADER, 2016).
Portanto, ao decidir habitar em condomínio edilício, o interessado deve saber,
de antemão, que terá deveres não apenas patrimoniais, ou seja, inerentes à
manutenção e conservação do bem imóvel, as denominadas obrigações protper rem,
mas também deveres extra-patrimoniais, materializados na adoção de atitudes
socialmente compatíveis com a convivência em comum (MIRANDA, 2020).
Tanto isso é verdade, que no inciso IV do Art. 1336 do Código Civil, o legislador
estabelece expressamente como um dos deveres dos condôminos o dever de não
utilizar sua propriedade de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança
dos demais.
Por isso que o capítulo do Código Civil que regula esse instituto não deveria se
chamar simplesmente “Do condomínio edilício”. Melhor seria que fosse intitulado “Do
condomínio e da convivência edilícia”, já que não regula apenas e tão somente o
exercício comum do direito de propriedade, mas, também e principalmente a forma de
convivência entre os condôminos.
Então, na medida em que se destaca esse dever de convivência, constata-se
que o condomínio acaba sendo uma pequena amostra da vida em sociedade,
possuindo, inclusive, uma complexa estrutura que o torna quase numa reprodução de
uma pequena cidade. Com efeito, o condomínio possui a sua ‘lei orgânica’, que vem
a ser a convenção, detém um “prefeito” personificado na figura do síndico, possui um
“Tribunal de Contas”, traduzido no conselho fiscal e tem até “território”, que vem a ser
os limites espaciais em que se expande o condomínio (NEHME; IRIBURE, 2019).
E precisamente por ser uma célula da vida em sociedade, um verdadeiro
microcosmo jurídico, o condomínio não pode se colocar nem à margem dessa mesma
sociedade, nem como uma ilha dentro do próprio ordenamento jurídico. E isso nos
leva naturalmente a dizer, que a interpretação das regras que regulam o condomínio
há de ser feita levando-se em consideração o todo, ou seja, todo o arcabouço jurídico
do Estado, por amor à unidade do sistema (MUCCILLO, 2018)..
E se a regulamentação existente para o condomínio não se apresenta tão clara
sobre a possibilidade de exclusão do condômino antissocial, há que se sair do
particular e ir para o geral, analisando-se o ordenamento jurídico e suas peculiares
características, para que, a partir desse levantamento, se possam extrair importantes
efeitos em relação ao tema.
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Em 2021, o Senado aprovou projeto de lei que altera o Código Civil para dar
aos condomínios edilícios o direito de adquirir a qualidade de pessoa jurídica. O PL
3.461/19, a partir do registro, o condomínio já adquire diversas obrigações legais,
como o cadastro na Receita Federal a fim de obter o CNPJ, o dever de recolher
contribuições sociais e preencher livros fiscais, por exemplo. Além disso, pode entrar
com ação na Justiça representado pelo seu administrador ou síndico, mas ainda não
tem o reconhecimento de personalidade jurídica.
Assim, de acordo com Machado (2017), se garante segurança jurídica ao
prever legalmente condomínio no rol das pessoas jurídicas de direito privado
elencadas no Código Civil. Já existe, na perspectiva social, a visão do condomínio
edilício como sujeito de direitos e deveres. Ato contínuo, a doutrina e jurisprudência
vêm consolidando o entendimento do condomínio como pessoa jurídica, desta forma,
assegurando personalidade jurídica ao mesmo. Pelo texto, a transformação em
pessoa jurídica ocorrerá quando o condomínio registrar, em Cartório de Registro Civil
das Pessoas Jurídicas, o documento da criação, a convenção e a ata da decisão pela
constituição da pessoa jurídica, com o voto favorável dos titulares de, no mínimo, dois
terços das frações ideais.
Desta maneira, se resolveria problemas burocráticos que alguns condomínios
têm enfrentado, especialmente na questão patrimonial. Segundo Muccillo (2018), não
há, na lei brasileira, um regime jurídico totalmente adequado para enquadrar os
condomínios e o projeto faz uma escolha que considero adequada, já que o regime
das pessoas jurídicas é o que mais se aproxima da realidade dessas entidades sui
generis.
A proposição altera também a Lei dos Registros Públicos 6.015/75, para
determinar a possibilidade de registro do ato, da convenção do condomínio, e da ata
com a decisão pela constituição da pessoa jurídica no Cartório de Registro Civil de
Pessoas Jurídicas. De acordo com o novo artigo inserido no texto, os valores cobrados
para inscrição do condomínio no Registro Civil de Pessoas Jurídicas não podem tornar
impeditiva a inscrição de condomínios formados por pessoas de menor poder
aquisitivo (NEHME; IRIBURE, 2019).
27
explicar a natureza jurídica das relações que estabelecem entre os proprietários dos
vários apartamentos. Há teoria mais acertada é a que veem no condomínio em
edifícios de apartamentos uma mistura de propriedade individual e de condomínio.
Também há a teoria que inclui tais relações jurídicas quando se fala de
servidões. Para outros, ainda ocorre a existência de pessoa coletiva ou jurídica,
proveniente da reunião dos vários proprietários, teoria essa que veio a ser transição
para outra, a da sociedade ou associação de fato. Entretanto, doutrina mais em voga
prefere vislumbrar uma comunidade de direito, de que são titulares várias pessoas,
incidindo sobre o mesmo objeto (NEHME; IRIBURE, 2019).
Para efeitos tributários, cada autônoma será tratada como prédio isolado,
contribuindo o condômino, diretamente com as importâncias relativas aos impostos e
taxas federais, estaduais e municipais, na forma dos respectivos lançamentos (art. 11
da Lei nº 4.591/64). Com isso, seus direitos são quase tão completos, quase tão
absolutos, quanto os do proprietário único de sua casa (MALUF, 2020).
Miranda (2020), colabora afirmando que a nova lei civil perdeu a oportunidade
de dar personalidade jurídica ao condomínio, tão necessária a esse instituto, que dela
precisa para poder interagir com maior desenvoltura no mundo jurídico, principalmente
no que tange a aquisição de bens imóveis que se possam incorporar ao prédio já
existente. O condomínio é uma ficção jurídica que existe na órbita do direito. Baseado
na doutrina é uma quase pessoa, que infelizmente, pela nova lei civil, vai continuar
sem personalidade jurídica.
de seus titulares, devem estes sempre utilizar e gozar dentro dos limites da
Convenção Condominial e da lei. (DINIZ, 2018, p. 217).
implantados como qualquer loteamento aberto, que, por meio de autorização de uma
lei municipal, tem o seu perímetro fechado, e com isso, tem o acesso controlado aos
seus limites.
Ao adquirir um terreno em loteamento fechado, você só terá direito sobre seu
próprio lote, pois, quando a prefeitura aprova o sistema viário, o acesso é livre à
população. O que poderá ocorrer é um controle de circulação, ou seja, para quem não
reside ou trabalha no loteamento fechado, a entrada é liberada mediante
apresentação de documentos (LOPES, 2019).
Quando um loteamento fechado é aprovado é criada também uma associação,
com a qual a prefeitura poderá assinar o contrato de comodato para o fechamento do
loteamento e autorizar a instalação de portaria para controlar o acesso. Dessa forma,
a responsabilidade pela manutenção do sistema viário passa ao loteamento enquanto
vigorar a concessão de uso (LOPES, 2019).
De acordo com Soares (2014), quanto ao condomínio fechado, existe a
obrigatoriedade do pagamento da taxa de condomínio para a manutenção das áreas
comuns. O condômino que deixar de efetuar o pagamento de infraestrutura de uso
comum dos condôminos, o condomínio precisa ter uma administração para controlar
a arrecadação da taxa mensal e gerenciar os serviços de manutenção. No loteamento,
a figura do administrador existe quando há uma associação encarregada de prestar
serviços aos proprietários (GONÇALVES, 2017).
Os moradores de condomínio têm que seguir o que for decidido em convenção
e o que estiver contido no regulamento interno. Já os moradores de loteamento
fechado seguem os dispositivos do estatuto social. Para o morador causador de
problemas algumas condutas são passíveis de juízo, tais como: ruídos excessivos,
gritarias e brigas no recinto do condomínio, guarda ou porte de substâncias tóxicas
nas unidades autônomas ou o uso das mesmas nas áreas comuns do condomínio
(CHAVES, 2017). Também podemos acrescentar o furto ou roubo praticado em áreas
comuns, crimes contra a honra, calúnia e injúria, violência sexual, alteração da
destinação do edifício, em detrimento da qualidade pretendida originalmente pelos
condôminos e a falta de pagamento das despesas de condomínio são infrações que,
ainda que indenizáveis patrimonialmente tornam insuportável a continuidade da vida
em condomínio com o infrator (ABBI, 2016).
Portanto, condomínio geral aplica-se a qualquer coisa, seja ela móvel ou
imóvel, que possua mais de um dono, e condomínio edilício, por sua vez, são apenas
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Art. 19. Cada condômino tem o direito de usar e fruir, com exclusividade, de
sua unidade autônoma, segundo suas conveniências e interesses,
condicionados, umas e outros às normas de boa vizinhança, e poderá usar
as partes e coisas comuns de maneira a não causar danos ou incômodo aos
demais condôminos ou moradores, nem obstáculo ou embaraço ao bom uso
das mesmas partes por todos. (BRASIL, 2016).
convivência entre os moradores. Afinal, eles contêm normas que devem ser seguidos
por todos tendo como o objetivo a manutenção da ordem e o bem-estar coletivo.
A convenção condominial é considerada como a “lei do condomínio” porque
tem a função de manter uma boa relação entre as partes, para que o ambiente entre
os condôminos seja o mais agradável possível (BERNARDO, 2003).
Segundo Muccillo (2018), a convenção de condomínio é o documento mais
importante de um condomínio, pois funciona como uma espécie de constituição que
reúne as regras sobre a convivência e a administração. Desse modo, seu foco é
garantir uma rotina pacífica e uma gestão eficaz e transparente. Sua elaboração é
obrigatória e deve ser registrada no cartório de registro de imóveis, acompanhando a
matrícula do imóvel e deve ter, ao menos, os requisitos do artigo 1.334 do Código
Civil:
2
A expressão lei do silêncio faz referência a leis que estabelecem restrições objetivas para a geração
de ruídos durante dia e noite. Sons em volume elevado são danosos à saúde humana e animais. Art.
35
2º É proibido perturbar o sossego e o bem-estar público da população pela emissão de sons e ruídos
por quaisquer fontes ou atividades que ultrapassem os níveis máximos de intensidade fixados
nesta Lei.
36
Para Zuliani (2020), o artigo 1.337 do Código Civil, por exemplo, possui
diversas cláusulas abertas: “reiteradamente”, “gravidade das faltas”, “reiterado
comportamento antissocial”, “incompatibilidade de convivência”. Viana (2013),
comenta que ao examinarmos este artigo, concluímos que o dispositivo faculta que
o síndico aplique multa ao condômino ou ao possuidor de reiterado comportamento
antissocial, limitada a 10 (dez) vezes o valor da contribuição das despesas
condominiais, independentemente de sua previsão na Convenção ou de prévia
deliberação assemblear dos demais condôminos.
A medida tem caráter excepcional, devendo ser utilizada com muita cautela e
ponderação, apenas quando presente situação de extrema gravidade no âmbito do
condomínio, em que haja urgência da repressão para se preservar a vida, a
integridade física ou assegurar a convivência comum. Da análise de tais
características, vale frisar, não bastar que a conduta seja antissocial, hábil a causar
profundo desgosto, mal-estar ou constrangimento coletivo. Deve haver, também,
uma reiteração da prática faltosa (FRANCO, 2018). Como exemplos de
comportamento antissocial de condôminos, podemos relacionar:
3
João (1166-1216), também conhecido como João Sem-Terra, foi o Rei da Inglaterra de 1199 até sua
morte. João perdeu o Ducado da Normandia e muitas de suas outras possessões para o rei Filipe II em
1204, resultando na queda de quase todo Império Angevino e contribuindo para o crescimento da
dinastia Capetiana no século XIII.
43
eternamente, nos termos de seu art. 6º, que “A lei é a expressão da vontade geral.
Todos os cidadãos têm o direito de concorrer pessoalmente, ou pelos seus
representantes, à sua formação. Nesse sentido a lei é fundamental para o controle e
prevenção de possíveis arbitrariedades. É com ela que temos assegurado inúmeros
direitos (DINIZ, 2018).
Esse processo está intimamente ligado a constitucionalização anterior do
Direito Administrativo e a descodificação das diversas áreas do Direito, com a edição
de diversas leis esparsas, na qual verificou-se a necessidade de encontrar um
fundamento de validade para esses microssistemas, que neste cenário seria a Carta
Constitucional.
A constitucionalização do direito administrativo se propõe a manter o constante
diálogo entre essa disciplina e o Direito Constitucional, verificando uma verdadeira
revolução copernicana do Direito”, pois a “Constituição passa a ocupar definitivamente
o centro do ordenamento jurídico e os demais ramos do direito circulam ao seu redor”,
por isso devem ser interpretados e aplicados a luz da Constituição (DINIZ, 2018).
Para Machado (2017), os princípios constitucionais não proclamam tão
somente uma natureza jurídica, mas também política, ideológica e social,
características estas que se encontram normativamente predominantes, e devem ser
entendidas como a concretização do Direito no sentido mais amplo possível, alçando
as diversas organizações e procedimentos vigentes. Assim, os princípios
constitucionais se caracterizam por um espírito primitivo, antecedente, governante do
sistema normativo fundamental do Estado, dotados de originalidade e superioridade
material sobre os conteúdos que formam o ordenamento jurídico inferior,
apresentando-se como função fundamentadora, interpretativa e supletiva.
Na Constituição Federal de 1988 encontram-se mencionados explicitamente os
princípios que devem reger a Administração Pública (COELHO, 2019). O
embasamento Direito Público é composto por um regime de Direito Público. Trata-se
de um complexo regido especificamente por princípios denominados Princípios de
Direito Público.
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seu comportamento não era antijurídico nem afetou a harmonia, a qualidade de vida
e o bem-estar geral, sob pena de restringir o seu próprio direito de propriedade.
5. Recurso especial a que se nega provimento. Importante pontuar que, em ato de
infração por parte do locatário, a responsabilidade poderá ser solidária com o locador-
proprietário, onde o proprietário que loca, a terceiro, imóvel em condomínio responde
pelas consequências do uso nocivo ou perigoso atribuído a seu inquilino. É o que
decorre da regra inserta no inciso III do artigo 10, combinado com seu parágrafo 1o,
da Lei no 4.591, de 16 de dezembro de 1964
Neste sentido, e com base em decisão jurisprudencial. Retirada do acórdão do STJ.
REsp. 254.520–PR, Rel. Min. Barros Monteiro (PARANÁ, 2019).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS
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Saraiva, 2015.
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54
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TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro:
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