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Florianópolis, SC
2021
DANIEL SANTOS RODRIGUES
Florianópolis, SC
2021
DANIEL SANTOS RODRIGUES
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de
Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de Conclusão de Curso.
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em
caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.
À minha família amada, em especial, minha esposa Fernanda e meus filhos Fernando e
Violetta, por todo apoio recebido e pela compreensão com relação aos momentos em que
precisei me ausentar para me dedicar à conclusão deste curso.
À minha orientadora Deisi Cristini Schveizer pela generosidade, paciência e por todos
os ensinamentos transmitidos durante a graduação e desenvolvimento deste trabalho.
Ao corpo docente da UNISUL que cumpriu de forma exemplar com sua missão de
transmitir conhecimento e de fazer apaixonar-me pelo Direito.
À UNISUL, enquanto instituição de ensino de excelência, por todas as oportunidades
de aprendizado e de desenvolvimento disponibilizadas ao seu aluno que contribuem para que
este se torne de fato um cidadão.
A todos aqueles que de forma direta ou indireta contribuíram para que fosse possível a
conclusão deste curso.
“Visto que o fundamento da propriedade é a utilidade, onde não houver utilidade
possível não pode existir propriedade.” (Jean Jacques Rousseau).
RESUM
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................9
2 DIREITOS PATRIMONIAIS REAIS E PESSOAIS....................................................11
2.1 DIREITOS REAIS...........................................................................................................12
2.1.1 Noções introdutórias, conceitos e elementos.............................................................13
2.1.2 Características..............................................................................................................16
2.1.3 Classificação.................................................................................................................20
2.2 DIREITOS PESSOAIS....................................................................................................22
2.3 DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E DIREITOS PESSOAIS.............................25
3 O DIREITO DE PROPRIEDADE E O INSTITUTO DO CONDOMÍNIO................30
3.1 CONCEITOS E ELEMENTOS DA PROPRIEDADE....................................................30
3.2 CARACTERÍSTICAS......................................................................................................35
3.3 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE.......................................................................37
3.4 O INSTITUTO DO CONDOMÍNIO...............................................................................40
4 A MULTIPROPRIEDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.......48
4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO................................................................................................48
4.2 HISTÓRICO, EVOLUÇÃO E DENOMINAÇÃO..........................................................50
4.3 CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E ESPÉCIES.........................................................52
4.4 CONTORNOS DA MULTIPROPRIEDADE NO DIREITO ESTRANGEIRO.............55
4.5 A NATUREZA JURÍDICA DA MULTIPROPRIEDADE.............................................60
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................67
REFERÊNCIAS......................................................................................................................69
9
1 INTRODUÇÃO
1
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel; Teoria
Geral do Processo. 26. ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2010. p. 35.
2
DOWER, Nelson; SUZUKI, Claudio Mikio; JANDON, Carlos Eduardo; SOUZA, Luiz Roberto Carboni;
BLASI, Renato Rubens; GABRIEL, S. Instituições de Direito Público e Privado. 15. ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2017. E-book.
3
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2017. p. 36.
4
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 14 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991. p. 258.
1
5
Direitos inerentes à pessoa humana e, portanto, a ela ligados de maneira perpétua e permanente, não podendo
mesmo conceber o indivíduo que não tenha direito à vida, à liberdade física ou intelectual, ao seu nome, ao seu
corpo, à sua imagem e àquilo que ele crê ser sua honra. Tais direitos são inalienáveis, intransmissíveis,
imprescritíveis e irrenunciáveis (RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Parte Geral. Vol. 1. 34. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007. p. 61).
6
Ramo do direito civil concernente às relações entre pessoas unidas pelo matrimônio, pela união estável ou pelo
parentesco e aos institutos complementares de direito protetivo ou assistencial, pois, embora a tutela e curatela
não advenham de relações familiares, têm, devido à sua finalidade, conexão com o direito de família (GOMES,
Orlando. Direito de família. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1999).
7
Os direitos patrimoniais consistem no “[...] conjunto de bens, direitos e obrigações de uma pessoa natural ou
jurídica, sendo suscetíveis de estimação pecuniária, dividindo-se em reais e pessoais.” (DOWER, Nelson
Godoy Bassil. Curso moderno de direito civil - v. 2. 5. ed. São Paulo: Nelpa, 2011. p. 5).
8
GONÇALVES, Carlos Roberto; Direito Civil Brasileiro – Teoria Geral das Obrigações. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. E-book.
9
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. E-
book.
1
10
BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das Coisas. Vol. I. História do Direito Brasileiro, Vol. 3. Obra Fac-similar.
Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2003. E-book. p. 9.
11
LÔBO, Paulo. Direito civil. v. 4: coisas. 6. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2021. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
12
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Direito das Coisas – Direito Autoral. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. E-book.
13
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro - Direito das Coisas. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
E-book.
14
MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de B. M. F. Curso de Direito Civil. Parte Geral.
Vol. 1. 45. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 202.
1
apreendidas e submetidas à dominação do homem [...]”15. Desta forma, as coisas materiais que
não podem ser exatamente apropriados exclusivamente pelo homem por conta de sua
abundância ou da incapacidade de mensuração, como por exemplo, o ar para respiração, a luz
do sol e ou a água da chuva, não podem ser considerados bens em sentido jurídico16.
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda defende que, no direito, o conceito de coisa não é
nem naturalístico e nem físico, mas sim um conceito econômico-social: “o que o espírito
humano inventa, criando valor econômico-social, pode não ser corpóreo.”17
Verifica-se que nem sempre é possível correlacionar tão bem as expressões bens e
coisas, pois, algumas vezes, coisas são consideradas gêneros de bens, e em outras, ocorre
justamente o inverso: bem é gênero, coisa, a espécie. Além disso, muitas vezes são
empregados como sinônimos, isto é, possuem o mesmo significado e utilizados para
definir o mesmo objeto18. A possibilidade jurídica de apropriação é essencial para que um
determinado bem seja considerado uma coisa e, consequentemente, possa ser objeto da
disciplina dos direitos reais19. Neste sentido, Paulo Lôbo apresenta o processo de
coisificação em que determinados direitos ou bens passam a ser objeto da relação
jurídica mencionada
anteriormente:
Assim, em direito das coisas emprega-se a expressão coisa no seu sentido estrito,
isto é, bens corpóreos, sendo inaplicáveis à bens incorpóreos ou a direitos, a não ser
expressamente que a lei admita tal aplicação, o que se pode verificar em leis esparsas como,
por exemplo, no caso do usufruto de ações emitidas por sociedade anônimas ou da cessão
15
BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das Coisas. Vol. I. História do Direito Brasileiro, Vol. 3. Obra Fac-similar.
Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2003. E-book. p. 10.
16
LOPES, José Reinaldo de Lima. Curso de Filosofia do Direito – o direito como prática. São Paulo: Editora
Atlas, 2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
17
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado. XI. Atualizado por Luiz Edson
Fachin. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 74.
18
MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de B. M. F. Curso de Direito Civil. Parte Geral.
Vol. 1. 45. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 203.
19
GAGLIANO, Pablo Stolzer; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. 5. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
20
LÔBO, Paulo. Direito civil. v. 4: coisas. 6. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2021. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
1
fiduciária de direitos creditórios ou mesmo no Código Civil como por exemplo, o penhor do
título de crédito previsto no artigo 1.45121.
Também são muito comuns as dúvidas relacionadas à utilização dos termos direito
das coisas e direitos reais. Visando esclarecer o emprego dos termos, Flávio Tartuce compila
de forma sintetizada as seguintes definições obtidas na doutrina pátria: o direito das coisas é o
ramo do Direito Civil que tem como conteúdo as relações jurídicas estabelecidas entre
pessoas e coisas determinadas ou determináveis. Em contrapartida, os Direitos Reais
representam o conjunto de normas que regulamentam as relações de domínio existentes entre
a pessoa humana e as coisas passíveis de apropriação22.
Assim, enquanto o direito das coisas estuda a relação de senhoria, de poder e de
titularidade de um determinado sujeito sobre uma certa coisa, ou seja, o direito subjetivo que
liga um sujeito de direito às coisas das quais se apropriou, os direitos reais regulam as
relações jurídicas estabelecidas por meio da qual o titular pode gozar, explorar ou retirar da
coisa, de modo exclusivo e contra todos, as utilidades que ela é capaz de produzir23.
Por isso, a noção de senhoria, indicada anteriormente, necessita de
regulamentação jurídica para adequar a sociedade aos anseios e necessidades individuais.
Como as coisas apropriáveis são finitas, cabe ao Estado regular sua apropriação e utilização.
Relacionado com o conceito maior de propriedade, o direito real é o que mais recebe reflexos
históricos, políticos e econômicos nas diversas épocas e nos diversos Estados, isto é, altera-se
no espaço e no tempo24.
Alguns doutrinadores divergem acerca do termo direito das coisas adotado pelo
Código Civil de 2002 para designar o livro que aborda a posse e os direitos reais 25. A maior
crítica reside no fato de que o instituto da posse não é especificamente um direito, mas sim
um fato socioeconômico potestativo que é juridicamente protegido26. Inclusive está em
tramitação
21
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil – Direito das Coisas – Direito Autoral. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. E-book.
22
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. E-
book.
23
MONTEIRO, Washington de Barros; MALUF, Carlos Alberto Dabus; Curso de Direito Civil: Direito das
Coisas. Vol. 3. 39. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009.
24
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Reais. 20. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2020. E-book.
25
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. E-
book.
26
ALVES, José Carlos Moreira. Posse. 2. ed. Vol. 2. Tomo I. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
1
na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 699/2011 que altera o título do Livro III para
“DA POSSE E DOS DIREITOS REAIS (NR)”27.
Na lição de Orlando Gomes, os direitos reais estão ancorados em duas grandes
teorias justificadoras: a Teoria Realista e a Teoria Personalista. Na primeira, o direito real tem
por característica a percepção de um poder imediato da pessoa exercido sobre a coisa de
maneira erga omnes, isto é, contra todos. Por sua vez, a teoria Personalista preceitua que os
direitos reais também são relações entre pessoas, todavia, no que diz respeito ao polo passivo,
seria este indeterminado, havendo neste caso, a verificação de uma obrigação passiva
universal, que deveria respeitar o direito. Assim, a obrigação se concretizaria toda vez que
alguém violasse o direito28.
2.1.2 Características
27
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei PL nº699/2011. Altera o Código Civil, instituído pela Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=494551. Acesso em: 16 abr.
2021. Texto Original.
28
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed. rev. e atual. por Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-
book. p. 9-10.
29
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil – Direito das Coisas – Direito Autoral. 4 ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. E-book.
30
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. E-
book.
1
31
SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Direito Imobiliário. Teoria e Prática. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020. E-book.
32
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed. rev. e atual. por Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-
book. p. 20.
33
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro - Direito das Coisas. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
E-book.
34
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem
com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos
expressos neste Código (BRASIL, 2002).
35
Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos,
só se adquirem com a tradição (BRASIL, 2002).
36
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. Vol. 4. 28. ed. São Paulo:
Saraiva, 2014. p. 36.
37
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: Direitos das Coisas / Direito Autoral. 4. ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2012. E-book.
1
O Código Civil de 2002 excluiu do rol dos direitos reais a enfiteuse e as rendas
expressamente constituídas sobre imóveis, previstas anteriormente pelo Código de 1916, e
incluiu o direito de superfície e o direito do promitente comprador do imóvel41. A Lei nº
11.481, de 15 de junho de 2007 acrescentou ao rol do artigo 1.225 do Código Civil a
concessão de uso especial para fins de moradia e a concessão de direito real de uso42. Por
fim, o último direito
38
LÔBO, Paulo. Direito civil. v. 4: coisas. 6. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2021. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
39
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado. XI. Atualizado por Luiz Edson
Fachin. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
40
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071impressao.htm. Acesso em: 19 mar. 2021.
41
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro - Direito das Coisas. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
E-book.
42
MATHIAS, Maria Ligia Coelho; DANELUZZI, Maria Helena M. B. Considerações sobre a Lei Nº 11.481/07
Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia e Concessão de Direito Real de Uso. Revista Justitia, São
Paulo. v. 64. n. 197. p. 193-197. jul./dez. 2007. Disponível em:
2
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/25936. Acesso em: 19 mar. 2021.
2
real adicionado a este rol foi o direito de laje introduzido por intermédio da Lei nº 13.465 de
11 de julho de 201743.
Na doutrina atual, a taxatividade tem sido alvo de debates por parte de alguns
autores que têm apresentado contrapontos e limitações a esta característica.
De acordo com Gustavo Tepedino, “[...] o sistema de numerus clausus constitui-se
em orientação afeta à política legislativa, não se configurando um elemento ontologicamente
vinculado à teoria dos direitos reais.”44 Por sua vez, Paulo Lôbo indica que modernamente, o
numerus clausus dos direitos reais não é privilégio de qualquer lei específica, inclusive do
Código Civil de 2002, podendo outras leis instituírem novos direitos reais. Verifica-se, por
exemplo, que o Código Civil de 1916 fez enumeração dos direitos reais, mas, todavia,
permitiu que outros direitos fossem criados em leis esparsas como foi o caso do direito do
promitente comprador de imóvel e da propriedade fiduciária em garantia. Outro exemplo seria
o caso da propriedade fiduciária em garantia, que embora não esteja explicitamente referida
como direito real na enumeração do artigo 1.225, acabou sendo disciplinada nos artigos 1.361
a 1.368-A45.
Flávio Tartuce defende uma relativização da taxatividade dos direitos reais
motivada principalmente pelo reconhecimento da influência do princípio da autonomia
privada46 no direito das coisas. De acordo com o autor, o rol constante do artigo 1.225 do atual
Código Civil não seria taxativo, mas sim exemplificativo, havendo uma quebra parcial da
regra da taxatividade ou tipicidade dos direitos reais. As alterações legislativas recentes
confirmariam o entendimento de que a relação constante do artigo 1.225 do CC/2002 é aberta,
havendo a possibilidade de introdução de novos direitos reais por meio de novas leis no
sistema jurídico47. A justificativa apresentada pelo autor baseia-se no fato de que o Código
vigente é inspirado na teoria tridimensional de Miguel Reale48, que tem como um de seus
pilares o princípio da
43
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. E-
book.
44
TEPEDINO, Gustavo. Comentários ao Código Civil. vol. 11. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 37.
45
LÔBO, Paulo. Direito civil. v. 4: coisas. 6. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2021. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
46
A autonomia privada consiste “[...]no poder reconhecido aos particulares de autorregulamentação dos seus
interesses, de autogoverno de sua esfera jurídica. [...] os particulares podem, no domínio da sua convivência
com outros sujeitos jurídico-privados, estabelecer a ordenação das respectivas relações jurídicas.” (PINTO,
Carlos Alberto da Mota. Teoria Geral do Direito Civil. 4. ed. Coimbra: Editora Coimbra. 2005, p. 102).
47
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. E-
book.
48
A teoria tridimensional do direito elaborada por Miguel Reale trata da relação dialética entre fato, valor e
norma. “A norma será o fato valorado pelo magistrado em consonância aos princípios constitucionais.
O magistrado exercerá a vital tarefa de, periodicamente, construir e reconstruir a norma, segundo o
2
valor
2
[...]os privados podem atuar dentro dos tipos legais, utilizando a sua vontade
criadora para inovar no território concedido pelo sistema jurídico, modificando o
conteúdo dos direitos afirmados na norma. Como exemplo, podemos citar a
multipropriedade, – tanto resultante da fusão da propriedade individual e coletiva
nas convenções de condomínio, como aquela tratada na propriedade de shopping
center, de flat ou time sharing.51
2.1.3 Classificação
Existem várias classificações doutrinárias relativas aos direitos reais, sendo que é
majoritária a divisão desses direitos em dois grupos: Direito real sobre a coisa própria (jus in
re
justiça.” (FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direito Civil: Teoria Geral. 9. ed. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011. p. 55).
49
O Princípio da Operabilidade, leva em consideração que o direito é feito para ser efetivado, para ser
executado. Por essa razão, o Código Civil buscou evitar as complicações e complexidades. (GONÇALVES,
Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, v. 1: parte geral. 18. ed. São Paulo Saraiva, 2019. E-book.). Para
Reale, o princípio da operabilidade leva a redigir certas normas abertas, e não normas cerradas, para que a
atividade social mesma, na sua evolução, venha a alterar-lhe o conteúdo daquilo que ele denomina estrutura
hermenêutica. Essa estrutura hermenêutica complementa naturalmente a estrutura normativa. Por isso, a
doutrina é fundamental porque ela é o modelo dogmático e teórico que diz o que os demais modelos
jurídicos significam (CARVALHO, Augusto César Leite. Princípios de direito do trabalho sob a
perspectiva dos direitos humanos. São Paulo: LTR, 2018. E-book. Disponível em: https://livros-e-
revistas.vlex.com.br/source/principios-direito-trabalho-perspectiva-direitos-humanos-22009. Acesso em: 20
mar. 2021).
50
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. E-
book.
51
FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direitos reais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 12.
52
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, vol. IV, 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
2
propria), que é o domínio, e direitos sobre a coisa alheia (jura in re aliena) que são os demais
direitos reais, além do domínio, como seus desmembramentos53.
O direito real sobre a coisa própria, também conhecido por direito real ilimitado, é
representado pela propriedade, que é o direito real por excelência, e constitui síntese de todos
os direitos reais, manifestando-se no domínio, ou no poder de submissão de uma coisa à
vontade da pessoa54.
Maria Helena Diniz sistematiza os direitos reais dispondo a propriedade como
elemento central deste sistema em razão do grau de extensão dos poderes existentes jus
disponendi, utendi ou fruendi. Desta forma:
[...] a propriedade seria o núcleo do sistema dos direitos reais devido estar
caracterizada pelo direito de posse, uso, gozo e disposição. A posse aparece como a
exteriorização do domínio. Todos os demais direitos reais formariam categorias
distintas conforme atinjam o jus disponendi, utendi ou fruendi.55
53
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso de direito civil: direito das coisas. v. 5. 2. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
54
RIZZARDO. Arnaldo. Direito das Coisas. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense 2021. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
55
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. Vol. 4. 28. ed. São Paulo:
Saraiva, 2014. p. 35.
56
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed. rev. e atual. por Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-
book. p. 17.
2
57
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: Direitos das Coisas / Direito Autoral. 4. ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2012, E-book.
58
BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das Obrigações. Salvador: Livraria Magalhães, 1896. E-book. Disponível em:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/242359. Acesso em: 24 mar. 2021.
59
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Vol. 2. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
60
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral das Obrigações. 22. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007. p. 3
61
MONTEIRO, Washington de Barros; MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito Civil: Direito das
Obrigações. Vol. 4. Parte 1. 39. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009.
2
garantido o cumprimento, sob pena de coerção judicial. Assim, a obrigação é uma relação
jurídica, que exclui os deveres alheios ao direito, como o de gratidão ou cortesia, visto que o
devedor pode ser compelido a realizar a prestação62 .
Para Washington de Barros Monteiro, a efemeridade, maior ou menor, é inerente a
todas as obrigações. Isto quer dizer que o caráter da obrigação é transitório uma vez que não
podem existir obrigações perpétuas ou infinitas. Uma vez que determinada prestação foi
satisfeita, seja de forma amigável ou judicialmente, põe-se um fim à obrigação63.
Conforme lição de Paulo Lôbo o objeto da obrigação é a prestação:
[...] ao direito corresponde o dever, que tem por objeto a prestação. Quando o direito
pode ser exercido, tem-se a pretensão do credor, a que corresponde a obrigação do
devedor (no sentido estrito e preciso do termo) de fazer, de não fazer e de dar. As
obrigações de dar compreendem as obrigações de entregar ou restituir posse,
propriedade ou outro direito64.
Seu objeto consiste em uma prestação pessoal pois somente a pessoa vinculada
está obrigada ao cumprimento da prestação. Assim, trata-se de relação jurídica de natureza
pessoal e econômica, já que se institui entre duas pessoas (credor e devedor) e por ser
necessário que a prestação positiva ou negativa (dar, fazer ou não fazer) tenha um valor
pecuniário, isto é, que seja aferível em termos monetários65.
O conceito de obrigação também pode ser explorado por meio da análise dos seus
elementos constitutivos. A doutrina sistematiza os elementos constitutivos da obrigação em
três grupos: elementos subjetivos, elementos objetivos ou materiais e elementos imateriais66.
Em relação aos elementos subjetivos, trata-se dos sujeitos que se encontram nos
polos da relação jurídica, representados pelo sujeito ativo (credor) que é o beneficiário da
obrigação e pelo sujeito passivo (devedor) que assume um dever de cumprimento da
obrigação sob pena de responder com o seu patrimônio. Os sujeitos da obrigação, tanto o
devedor quanto o credor, podem ser pessoa natural ou jurídica desde que estes sejam
determinados ou, no mínimo, determináveis. Não há possibilidade de obrigação sem
conhecimento de seus sujeitos.
62
GAGLIANO, Pablo Stolzer; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. 5. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
63
MONTEIRO, Washington de Barros; MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de direito civil. Vol. 4. Parte 1.
38. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
64
LÔBO, Paulo. Direito Civil. Obrigações. Vol. 2. 7. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p. 21.
65
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Obrigações e Responsabilidade Civil. 21. ed. São Paulo: Atlas,
2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
66
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. E-
book.
2
O que pode ocorrer é que, em algumas ocasiões, o sujeito da obrigação não é desde logo
determinado, porém, a fonte da obrigação deverá fornecer os elementos ou dados necessários
para a sua determinação67.
De uma maneira geral, a definição da titularidade do sujeito nos polos credor ou
devedor da relação obrigacional dependerá da função que desempenham as prestações. Por
exemplo, é bastante comum nas relações contratuais que os contratantes sejam, ao mesmo
tempo, credores e devedores de prestações distintas68.
De acordo com Fabio Ulhoa Coelho, os elementos objetivos ou materiais dizem
respeito ao conteúdo da obrigação, ou seja, a prestação. Para o autor, é sempre uma conduta
do devedor que se manifesta por meio de uma ação ou omissão dele. Esta conduta realiza as
finalidades da obrigação estabelecidas pelas próprias partes ou pela lei. Ela pode ser positiva
ou negativa. No primeiro caso, é uma ação do devedor, que se obriga a dar ou fazer algo; no
segundo, é uma omissão, obrigando-se o devedor a não fazer determinado ato. A prestação
positiva, por sua vez, pode ter por objeto uma coisa ou um comportamento esperado. No caso
de ser uma coisa, o devedor se obriga a dar um bem ao credor. No caso de ser um
comportamento, espera-se que o devedor faça algo, ou seja, que preste um serviço ou que aja
conforme determinada maneira69.
Por fim, os elementos imateriais da obrigação referem-se ao vínculo jurídico
existente na relação obrigacional refletindo o liame legal que une os sujeitos, isto é, relação
que obriga o devedor ao cumprimento da prestação positiva ou negativa em favor do credor 70.
De acordo com Washington Barros Monteiro este vínculo obrigacional:
67
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações - v. 2. São Paulo:
Saraiva, 2011. E-book.
68
TEPEDINO, Gustavo. SCHREIBER, Anderson. Fundamentos do Direito Civil - v. 2 – Obrigações. Rio de
Janeiro: Forense, 2020. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
69
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: Obrigações - Responsabilidade Civil. v. 2. 5. ed. – São Paulo:
Saraiva, 2012. E-book.
70
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações - v. 2. São Paulo:
Saraiva, 2011. E-book.
71
MONTEIRO, Washington de Barros; MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de direito civil. Vol. 4. Parte 1.
38. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 12.
2
Como visto na seção 2.1, o direito das coisas disciplina as relações jurídicas que
dizem respeito aos bens que podem ser apropriados pelo homem e, por isso, ele inclui tão
somente os direitos reais. Neste sentido, para melhor entendimento dos conceitos relacionados
aos direitos reais, se torna importante a distinção entre estes e os ditos direitos pessoais ou
obrigacionais74.
Tal distinção trata-se de uma questão recente, já que no direito romano clássico
não havia quaisquer preocupações em elaborar uma teoria dos direitos reais, pois não se
falava em direitos (jus), mas em ações (actio), por isso, afirma-se que a actio precedeu o jus
tanto que os termos jus in re e jus ad rem, utilizados para distinguir os direitos reais dos
pessoais somente irão aparecer no século XII sob a influência do direito canônico 75.
Uma primeira distinção é feita com relação aos sujeitos que compõe a relação
jurídica. Nos direitos pessoais, constate-se uma dualidade de sujeitos: o credor e o devedor
atuam como sujeito ativo e passivo, respectivamente, sendo desta forma identificados quando
se estabelece a relação jurídica. A importância do papel dos sujeitos na relação obrigacional
se justifica na medida em que não há pretensão sem um credor que a pleiteie e por outro lado,
não há prestação sem um devedor para cumpri-la76. Por sua vez, nos direitos reais, há apenas
um único sujeito, uma vez que estes direitos disciplinam a relação entre o homem e a coisa,
sendo que na relação jurídica, verifica-se a existência de três elementos: o sujeito ativo, a
coisa e a
72
Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor (BRASIL, 2002).
73
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral das Obrigações. 22. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007. p. 29.
74
SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil: Contemporâneo. 4.ed. São Paulo: Editora Saraiva. E-
book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
75
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 19. ed. São Paulo: Editora Forense, 2019. E-book. Acesso
restrito via Minha Biblioteca.
76
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. Vol.4. 27. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. p. 28.
2
inflexão imediata do sujeito ativo sobre a coisa77. Conforme explica Arnaldo Rizzardo, a
distinção entre os direitos pessoais e reais estaria no sujeito passivo, pois:
[...] nos direitos pessoais, o sujeito passivo (ou devedor) é pessoa certa e
determinada. Nos direitos reais, é indeterminado, o que redunda em uma obrigação
passiva universal, consistente no dever de respeitar o direito. [...] não existe um
devedor individual. Este surgirá quando se verificar a lesão no direito, pois o que há
é uma obrigação passiva universal, uma obrigação de abstenção de todas as pessoas.
Todas são obrigadas a se abster de qualquer ato sobre a coisa, em face do direito
real. O devedor da obrigação seria a totalidade das demais pessoas, excetuado, na
humanidade, apenas o titular do direito, que seria o credor.78
77
MATHIAS, Maria Lígia Coelho. Direito Civil – direitos reais. Coleção Leituras Jurídicas – Provas e
Concursos. Vol. 7. 4. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011, p. 3.
78
RIZZARDO, Arnaldo. Direito das Coisas. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. E-book. Acesso restrito em
Minha Biblioteca.
79
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil - Direito das coisas. Vol. 5. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 9.
80
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed. rev. e atual. por Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-
book.
81
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código
(BRASIL, 2002).
82
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Reais. 20. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2020. E-book.
3
o que os aproximaria, neste sentido, dos direitos pessoais. Todavia, a doutrina majoritária
ainda adota o posicionamento de que os direitos reais não podem ser objeto de livre
convenção entre particulares, ou seja, as partes não podem estabelecer, por si mesmas, direitos
reais com conteúdo arbitrário, estando sempre vinculadas aos tipos jurídicos disponibilizados
pela norma jurídica83.
Os direitos pessoais e reais também se distinguem em razão da sua eficácia, isto é,
característica que se relaciona à amplitude e aplicabilidade do direito perante a terceiros. Os
direitos reais têm eficácia erga omnes, isto é, se exerce contra todos, indicado pela doutrina
como o princípio do absolutismo. Já os direitos pessoais possuem eficácia interpartes, ou seja,
são oponíveis entre as partes de uma relação linear, sendo tal característica expressão do
princípio da relatividade dos efeitos contratuais84.
Com relação à extinção, verifica-se que nos direitos pessoais diante da constatação
do perecimento do direito que se dá quando o sujeito se queda inerte, operando a prescrição 85
ou a decadência86. Já nos direitos reais, estes se conservam até o momento em se constitua
uma situação contrária em benefício de outro titular87.
O direito de sequela, a possibilidade de aquisição mediante usucapião, a posse e a
possibilidade de abandono da coisa são caracteres de exclusividade do direito real, como se
verá a seguir.
Em relação à sequela, o titular pode perseguir a coisa onde quer que se encontre e
respondendo esta, onde quer que ela esteja, não restando esta possibilidade ao detentor do
83
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 27. ed. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 30.
84
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELA, Felipe. Curso de Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2021.
E-book. Acesso restrito em Minha Biblioteca.
85
Prescrição é a extinção de uma ação ajuizável em virtude da inércia de seu titular durante um certo lapso de
tempo, na ausência de causas preclusivas de seu curso (MAGALHÃES, Esther C. Piragibe; MAGALHÃES,
Marcelo C. Piragibe. Dicionário jurídico Piragibe. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007)
86
Decadência é instituto do direito substantivo em que há a perda de um direito previsto em lei. O legislador
estabelece que certo ato terá de ser exercido dentro de determinado tempo, fora do qual ele não poderá mais
efetivar-se porque dele decaiu o seu titular. A decadência se consubstancia pelo decurso de um termo
prefixado para o exercício do direito. O tempo age em relação à decadência como um requisito do ato, pelo
que a própria decadência é a sanção consequente da inobservância de um termo (GONÇALVES, Carlos
Roberto. Direito civil: parte geral. Sinopses Jurídicas. v.1. 25. ed. São Paulo Saraiva, 2018. E-book.
Acesso restrito via Minha Biblioteca).
87
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 27. ed. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 30.
3
direito pessoal já que estes geram a responsabilidade patrimonial dos bens do devedor pelo
inadimplemento da obrigação88.
A aquisição de direitos reais por meio de usucapião ocorre por meio das diversas
modalidades previstas constitucionalmente e pelos outros instrumentos legais, sendo este
instituto totalmente incompatível com os direitos pessoais89.
A posse também é característica exclusiva do direito real, uma vez que ela é a
exteriorização do domínio da coisa90. Ressalta-se que nem todos os direitos reais comportam a
figura da posse, como é o caso, por exemplo, da hipoteca 91. Por sua vez, há também quem
defenda a possibilidade de posse dos direitos pessoais, com base na Teoria Objetiva de
Lhering92, chegando a tal conclusão com base no corolário de que a posse é um exercício de
um direito. Todavia, essa corrente não encontra eco uma vez que a posse não consiste no
exercício de qualquer direito. Como a posse é exterioridade da propriedade, traduzindo-se em
condição econômica para o exercício desse direito e sabendo que a propriedade se trata de um
direito patrimonial, não lhe seria possível alargar o sentido para aplicá-la também aos direitos
extrapatrimoniais93.
Em relação à possibilidade de abandono, verifica-se aplicabilidade apenas aos
direitos reais já que a coisa pode ser abandonada caso o titular desta não queira arcar com
ônus gerados por ela. O abandono consiste no “[...] ato de derrelicção (perda voluntária da
posse, cuja aparência fática é a de abandono material) praticado com a intenção de perder a
88
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2020. E-book.
89
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, vol. IV, 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
90
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, v. 5: direito das coisas. 16. ed. São Paulo: Saraiva Jur
2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
91
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil – Direito das Coisas – Direito Autoral. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. E-book.
92
De acordo com a Teoria Objetiva de Lhering para constituir a posse basta o corpus, já que o animus está
intrínseco no corpus. Lhering não contesta a necessidade do elemento intencional, apenas entende que esse
elemento implícito se acha no poder do fato exercido pela coisa. A posse será a exteriorização da
propriedade, o poder de dispor da coisa. É a visibilidade do domínio, tendo em vista a sua função
econômica. O Código Civil adotou a Teoria Objetiva de Ihering no art. 1.196, que reza que se considera
possuidor todo aquele que tem de fato o exercício pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade. É o sinal exterior da propriedade, direito de possuir, e pelo qual o proprietário, de modo geral,
afirma seu poder sobre aquilo que lhe pertence (CASSETTARI, Chistiano. Elementos de direito civil. 9. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021. E-book).
93
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed. rev. e atual. por Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-
book. p. 43-44.
3
94
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELA, Felipe. Curso de Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2021.
E-book. Acesso restrito em Minha Biblioteca.
95
Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade: [...] III - por abandono;
(BRASIL, 2002).
96
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Obrigações e Responsabilidade Civil. 21. ed. São Paulo: Atlas,
2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
97
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2020. E-book.
3
98
MATTIETTO, Leonardo. Função social e diversificação do direito de propriedade. Revista da Faculdade de
Direito de Campos, Rio de Janeiro, v. 6, n. 6, p. 155-168, jun. 2005. Disponível em:
http://fdc.br/Arquivos/Mestrado/Revistas/Revista06/Docente/06.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021.
99
ASSIS, Luis Gustavo Bambini. A evolução do Direito de Propriedade ao longo dos textos constitucionais.
Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo. v. 103. p. 781 – 791, jan./dez.
2008. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67828. Acesso em: 15 abr. 2021.
100
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: Direitos das Coisas / Direito Autoral. 4. ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2012. E-book.
101
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 19. ed. São Paulo: Editora Forense, 2019. E-book. Acesso
restrito via Minha Biblioteca.
3
mentalidade jurídica, isto é, tomar esta como um conjunto de valores enraizados em certo
âmbito espacial e cultural, e que em cada etapa da histórica respeita um perfil específico102.
O conceito clássico de propriedade origina-se do final do século XVIII, tendo sido
inserido por meio do Código Civil Napoleônico. O Código Francês trazia em seu artigo 544
103
a ideia de propriedade como o direito que o seu titular exerce de la manière la plus
absolute104. No direito pátrio, a propriedade é reconhecida pela Constituição Federal da
República Federal do Brasil de 1988 como direito fundamental previsto em seu artigo 5º,
inciso XXII105. Tal direito, todavia, não goza de absolutismo, sofrendo determinadas
limitações, estabelecidas pela própria carta cidadã de 1988, pelo mesmo artigo 5º, inciso
XXIII106, relacionadas ao dever de cumprimento de determinada função social 107. Luiz Edson
Fachin indica que o direito de propriedade cumpre papel relevante para a concretização da
dignidade da pessoa humana. Para o autor:
102
GROSSI, Paolo. História da propriedade e outros ensaios. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
103
Art. 544. A propriedade é o direito de gozar e dispor as coisas da forma mais absoluta, desde que não seja
utilizada de forma proibida por lei ou regulamento (FRANÇA. Code Civil. Loi du 27 Janvier 1804
promulguée le 6 février 1804. Paris, 1804. Disponível em:
https://www.legifrance.gouv.fr/codes/section_lc/LEGITEXT000006070721/LEGISCTA000006117904/#LE
GISCTA000006117904. Acesso em 18 abr. 2021).
104
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELA, Felipe. Curso de Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2021.
E-book. Acesso restrito em Minha Biblioteca.
105
Art. 5º. [...] XXII - é garantido o direito de propriedade (BRASIL, 1988).
106
Art. 5º. [...] XXIII - a propriedade atenderá a sua função social (BRASIL, 1988).
107
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2020. E-book.
108
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado. XI. Atualizado por Luiz Edson
Fachin. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 61.
109
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...] II – propriedade privada (BRASIL,1988).
3
110
ASSIS, Luis Gustavo Bambini. A evolução do Direito de Propriedade ao longo dos textos constitucionais.
Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo. v. 103. p. 781 – 791, jan./dez.
2008. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67828. Acesso em: 15 abr. 2021.
111
OLIVEIRA, Claudio Brandão de. A Constituição, o Estado e o Direito de Propriedade. In: OLIVEIRA, J. M.
Leoni Lopes de (org.). Temas de direito privado. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001, p.87-118.
112
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado. XI. Atualizado por Luiz Edson
Fachin. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 70.
113
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2020. E-book.
3
114
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELA, Felipe. Curso de Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2021.
E-book. Acesso restrito em Minha Biblioteca.
115
FERNANDES, Alexandre Cortez. Direitos Civil: Direitos Reais. 2. ed. revista e ampliada. Caxias do Sul:
Educs, 2016. p. 29.
116
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed. rev. e atual. por Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-
book. p. 103.
117
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do. Poder de
quem quer que injustamente a possua ou detenha (BRASIL, 2002).
3
118
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Direitos Reais. vol. 5. 8. ed.
Salvador: ed. JusPOVIM, 2012. p. 262-263
3
coisa, como por exemplo no caso de inalienabilidade por força de lei ou decorrente da
vontade. Nessas hipóteses, diz-se que a propriedade é menos plena, ou limitada119.
A faculdade de usar (ius utendi) consiste em dar à coisa a destinação econômica
que lhe é própria, ou seja, dar-lhe uso sem promover alteração de sua substância. Assim, por
exemplo, o titular usa o imóvel quando o habita, permite que terceiro o faça ou, simplesmente,
o mantém em seu poder120. No entanto, o uso precisa ser civiliter, “[...] uma vez que o uso se
subordina às normas da boa vizinhança e é incompatível com o abuso do direito de
propriedade.”121 Subordinando, o parágrafo segundo do artigo 1.228 do Código de 2002 122, a
propriedade à teoria do abuso do direito, veda o exercício da propriedade dirigido no
propósito de ser nocivo a terceiro123.
O poder ou direito de gozar ou fruir (ius fruendi) consiste na percepção dos frutos
e na utilização dos produtos da coisa. É o direito de gozar da coisa ou de explorá-la
economicamente. Resulta na obtenção de vantagens econômicas que são geradas pelo bem,
como os frutos industriais e civis, os produtos, os rendimentos financeiros e as outras
utilidades que o bem possa produzir. O disposto pelos artigos 92124 e 1.232125 do Código Civil
de 2002 reforçam este atributo da propriedade: no primeiro, pelo reconhecimento da
dependência existencial entre principal e acessório e no último, pelo regramento que
estabelece que o dono do principal também o será dos seus acessórios. É o que se constata no
uso, na habitação, no usufruto, na locação e no caso de posse, conforme artigo 1.214126 do
mesmo diploma legal127.
Por sua vez, o poder de dispor (ius abutendi) consiste “[...] na mais viva expressão
dominial, pela maior largueza que espelha e importa no poder de decisão quanto ao destino a
119
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, vol. IV. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
120
VENOSA, Sílvio de Salvo. Código Civil Comentado, vol. XII, São Paulo: Atlas, 2003, p. 186.
121
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, vol. IV. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
122
Art. 1.228. [...] § 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e
sejam animados pela intenção de prejudicar outrem (BRASIL, 2002).
123
TEPEDINO, Gustavo; MONTEIRO FILHO, Carlos Edison do Rêgo; RENTERIA, Pablo. Fundamentos de
Direito Civil. Vol. 5 – Direitos Reais. Rio de Janeiro: Editora Forense. 2020. E-book.
124
Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência
supõe a do principal (BRASIL, 2002).
125
Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo
se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem (BRASIL, 2002).
126
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos (BRASIL, 2002).
127
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. Volume 4. 28. ed. São Paulo:
Saraiva, 2014. p. 135.
3
ser dado à coisa.”128 Fábio Ulhoa Coelho ensina que o titular do direito tem o poder de
destruir, total ou parcialmente o bem objeto de propriedade, quando isso não configure
conduta antissocial, podendo reformá-lo, fundi-lo ou em alterar a sua substância (disposição
material). Também poderá abandoná-lo, aliená-lo ou dá-lo em garantia (disposição jurídica).
Desta forma, o proprietário é o único senhor dado ao destino daquele bem129.
Por fim, a última faculdade inerente ao direito de propriedade consiste no direito
de reivindicar a coisa contra quem a possua ou a detenha injustamente (ius vindicandi) –
sendo que direito será exercido por meio de ação petitória, fundada na propriedade, sendo a
mais comum a ação reivindicatória, principal ação real fundada no domínio (rei vindicatio),
devendo para isso, o autor provar o seu domínio, oferecendo prova da propriedade, com o
respectivo registro e descrevendo o imóvel com suas confrontações. Esta ação petitória não se
pode confundir com nenhuma das ações possessórias, uma vez que nestas não se discute
propriedade, mas sim a posse do bem130.
Visando ampliar a compreensão do conceito de propriedade, se faz necessário a
análise de suas características, o que será visto na seção a seguir.
3.2 CARACTERÍSTICAS
128
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, vol. IV. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
129
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil – Direito das Coisas – Direito Autoral. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. E-book.
130
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2020. E-book.
131
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed. rev. e atual. por Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-
book. p. 103.
4
proprietário podem ser destacáveis, podendo ser recompostas na unidade primitiva, quando se
forma, novamente, a unidade plena132.
A propriedade é considerada um direito absoluto em razão da capacidade de
oponibilidade erga omnes, característica inerente aos direitos reais e também por ser
considerada o mais completo dos direitos, o que lhe confere seu conteúdo de plenitude133.
A ideia de caráter absoluto foi predominante no século XIX, inspirada pela
doutrina liberal, e representava o reconhecimento, em favor do proprietário, da intensidade do
poder exercido sobre os seus bens. Todavia, este absolutismo não é mais admitido nos tempos
atuais, uma vez que o ordenamento jurídico impõe limites para o seu exercício, ora em favor
do interesse público, ora em prol da coletividade ou mesmo de outros valores preponderantes,
como aqueles que dizem respeito à garantia da dignidade humana do indivíduo, como por
exemplo, o uso da propriedade como forma de garantir sua moradia ou mesmo de subsistência
por meio da sua exploração134.
Para Carlos Roberto Gonçalves, outra característica que se observa no direito real
de propriedade diz respeito à exclusividade. Como consequência desta característica, constata-
se que a mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneamente a duas ou
mais pessoas. Assim, “o direito de um sobre determinada coisa exclui o direito de outro sobre
essa mesma coisa (duorum vel plurium dominium in solidum esse non potest).” 135
Verifica-se por meio do artigo 1.231136 do Código Civil de 2002 que tal
característica goza de presunção relativa, uma vez que, até que se prove o contrário, a
propriedade é plena e exclusiva. Observa-se que apesar desta característica do direito real de
propriedade, tal exercício sofre limitações pois envolve interesses indiretos de outras pessoas,
e até mesmo de toda a sociedade, quando diz respeito ao atendimento da sua função social137.
Um ponto que merece ser destacado diz respeito ao condomínio. Neste caso a
exclusividade não desaparece, uma vez que os condôminos são, conjuntamente, titulares do
132
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2020. E-book.
133
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso de direito civil: direito das coisas. v. 5. 2. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
134
RIZZARDO, Arnaldo. Direito das Coisas. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. E-book. Acesso restrito em
Minha Biblioteca.
135
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, v. 5: direito das coisas. 16. ed. São Paulo: Saraiva Jur
2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
136
Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário (BRASIL, 2002).
137
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2020. E-book.
4
direito, cada qual, de sua parte ideal. O condomínio implica uma divisão abstrata da
propriedade, pois cada condômino é detentor de uma quota ideal do bem 138. Este trabalho
abordará o instituto do condomínio em maiores detalhes na seção 3.5.
A característica da perpetuidade do direito real de propriedade resulta do fato de
que ele subsiste independentemente de exercício, enquanto não sobrevier causa extintiva legal
ou oriunda da própria vontade do titular, não se extinguindo por não ser utilizada. Assim,
enquanto não ocorrer nenhum dos modos de extinção previstos em lei como por exemplo, a
desapropriação, o perecimento ou a usucapião, persistirá o direito de propriedade139.
Essa perpetuidade não significa que um bem deve pertencer sempre ao mesmo
titular, visto que, o indivíduo, em regra, vive menos tempo do que duram os seus bens. A
perpetuidade contempla a possibilidade de sua transmissão, que é um dos meios de tornar
durável a propriedade, por um lapso de tempo indefinido, uma vez que o adquirente é o
sucessor do transmitente, a título singular ou universal, recebendo todos os seus direitos sobre
a coisa transmitida140.
Por fim, a última característica a ser mencionada diz respeito à elasticidade do
direito de propriedade. Para Orlando Gomes, o direito de propriedade “[...] pode ser
distendido ou contraído, no seu exercício, conforme se lhe agreguem ou retirem faculdades
destacáveis.”141 Na propriedade plena, onde se encontram todos os atributos inerentes da
propriedade, a elasticidade é máxima. Na medida em que se retira um desses atributos, a
elasticidade diminui142.
138
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, vol. IV. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
139
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Direito das Coisas. Vol. 5. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
140
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direitos das Coisas. 22. ed. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 137.
141
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed. rev. e atual. por Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-
book. p. 105
142
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2020. E-book.
4
explicitado pelo inciso XXIII do artigo 5º e reforçada pelo inciso III do artigo 170 da
Constituição Federal143. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho mencionam que a
função social da propriedade também recebeu previsão legal por meio do §1º do artigo
1.228144 do Código Civil de 2002 cujo regramento informa que o direito de propriedade deve
ser exercido observando outros direitos difusos e da coletividade como por exemplo, o
respeito ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e artístico145.
A função social determina o exercício e o próprio direito de propriedade ou o
poder de fato (posse) sobre a coisa. O interesse individual tem o dever observância ao
interesse social. O exercício da posse ou do direito individual da propriedade deve ser feito no
sentido da utilidade, não somente para o titular, mas para todos. Quando o proprietário não
confere à propriedade uso adequado, ou mesmo quando a utiliza apenas para fins de
especulação, está agindo, desta maneira, contra este interesse social146.
No atual contexto social e democrático, verifica-se que apenas a propriedade que
respeite a sua função social terá proteção constitucional. Neste sentido, a função social
representa um elemento constitutivo do próprio direito de propriedade, e não apenas um mero
aspecto externo a restringir o exercício deste direito147.
Tal ponto de vista também é defendido por José Afonso da Silva que considera a
função social um elemento interno e estrutural do direito de propriedade que tem a função de
remodelar as faculdades de usar, gozar e de dispor do bem, e que por isso, não pode ser
confundida meramente com os ditos sistemas de limitação da propriedade, a exemplo, dos
ônus, das obrigações e do poder de polícia, que são externos à estrutura deste direito e dizem
respeito apenas ao seu exercício148.
A função social também desempenha papel importante no desenho da relação
jurídica do direito de propriedade. Como já visto neste trabalho, o titular do bem pode opor o
143
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. 16. ed. São Paulo:
Editora Método, 2017. p. 146.
144
Art. 1.228. [...] §1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei
especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem
como evitada a poluição do ar e das águas (BRASIL, 2002).
145
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. Vol. 5. Direitos
Reais. São Paulo: Editora Saraiva Educação, 2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
146
LÔBO, Paulo. Direito civil. v. 4: coisas. 6. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2021. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
147
HOLTHE, Leo Van. Direito Constitucional. 6. ed. Salvador: Editora Juspodivm. 2010. p. 417.
148
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. São Paulo: Editora Malheiros.
2014. p. 284-285.
4
direito real erga omnes e exigir a abstenção ofensiva de todos e simultaneamente também está
obrigado a cumprir a função social. Por sua vez, a sociedade é devedora do respeito aos
poderes dominiais do titular do bem e, simultaneamente, pode exigir o cumprimento da
função social. Assim, ora o sujeito passivo total é representado pela sociedade em relação às
prerrogativas dominiais do titular do bem, ora é sujeito ativo total, que exige o respeito ao
cumprimento da função social da propriedade 149.
A proteção do ordenamento jurídico é conferida apenas àquele titular que não
ignora o bem comum. O titular da coisa sofre limitações no âmbito do exercício de sua
autonomia privada, uma vez que deve fazer tudo para colaborar com a sociedade, desde que
não se prejudique. É esta compreensão de que a vantagem do titular se condiciona ao
reconhecimento da dignidade alheia e do anseio da sociedade por bem-estar, que vem
legitimando a integração da propriedade, em determinadas circunstâncias, como verdadeiro
direito de terceira geração150.
Desta maneira, juntamente com todos os direitos assegurados ao proprietário, o
ordenamento constitucional lhe impõe deveres relacionados ao uso adequado e racional da
propriedade. Por isso, não pode o dono de certo terreno urbano mantê-lo sem uso ou não
edificado, sob pena de sofrer sanções na esfera administrativa, conforme expresso no §4º do
artigo 182151 da Constituição Federal; também não pode o proprietário de imóvel rural mantê-
lo improdutivo, devendo ficar atento às condições estabelecidas pelo artigo 186152 da
Constituição Federal de 1988. No caso de descumprimento da função social, o Estado poderá
149
CARVALHO, Raquel Melo Urbano de. Curso de Direito Administrativo. 6. ed. Salvador: Juspodivm,
2008. p. 946-948.
150
HOLTHE, Leo Van. Direito Constitucional. 6. ed. Salvador: Editora Juspodivm. 2010. p. 418.
151
Art. 182. [...] § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano
diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não
utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada
pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
(BRASIL, 1988)
152
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e
graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores (BRASIL, 1988).
4
Conforme visto na seção 3.2 deste trabalho, o direito real de propriedade reúne
diversas características, dentre elas, a da exclusividade. Destarte, inicia-se esta seção com o
estudo do instituto do condomínio apresentando inicialmente a concepção de que este não se
constitui em exceção à característica da exclusividade supramencionada.
Lafayette Rodrigues Pereira, ao tratar da exclusividade do domínio, afirma que:
153
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. 16. ed. São Paulo:
Editora Método, 2017. p. 146-147.
154
PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direito das Coisas. Vol. I. História do Direito Brasileiro. Obra fac-similar.
Brasília: Senado Federal: Superior Tribunal de Justiça, 2004. p. 119.
155
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de direito privado. XI. Atualizado por Luiz Edson
Fachin. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 117.
4
totalidade e nas mínimas partes da coisa.”156 Em outras palavras, o condomínio é uma forma
de propriedade conjunta ou copropriedade157.
Na lição de Caio Mario da Silva Pereira verifica-se condomínio “[...]quando a
mesma coisa pertence a mais de uma pessoa, cabendo a cada uma delas igual direito,
idealmente, sobre todo e cada uma de suas partes.” O poder jurídico conferido ao condômino
não se estabelece apenas sobre uma parte da coisa. Incide sobre ela em sua integralidade,
sendo assegurada a exclusividade jurídica ao conjunto de condôminos em relação a qualquer
terceiro. Também disciplina os respectivos comportamentos destes, além de estabelecer como
se dará a participação de cada um, tendo em vista a utilização do objeto158.
Assim, cada um dos titulares detém uma quota ou fração ideal “qualitativamente
igual da coisa e não uma parcela material desta.” Por isso, todos os condôminos têm direitos
qualitativamente iguais sobre a totalidade do bem, sofrendo limitação na proporção
quantitativa em que concorrem com os demais titulares sobre o conjunto159.
Desta forma, apenas a parte ideal será considerada objeto do direito do condômino
e não a coisa toda. A parte ideal não é determinável, enquanto perdurar o condomínio. Desta
forma, cada condômino não pode ser considerado dono de toda a coisa, ou usá-la, fruí-la e
aliená-la com exclusividade. Diante de tal indeterminação, o condômino, precisando defender
sua parte ideal em relação a terceiros, acaba necessitando também defender a coisa toda. A
parte ideal pode ser normalmente alienada ou ainda ser objeto de outros direitos reais
limitados como por exemplo, a hipoteca, uso, usufruto, uso, habitação, entre outros160.
As partes ideais não são necessariamente iguais; mas se estas não forem
explícitas, consideram-se iguais. Se o contrato de doação ou o testamento nada dizem acerca
das proporções, presumem-se iguais as partes ideais. Conforme parágrafo único do artigo
1.315161 do Código Civil de 2002, verifica-se que a igualdade das partes ideais é presunção
legal. O ônus de afirmar e provar a desigualdade das partes ideais é de quem interessa essa
desigualdade. O
156
BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das Coisas. Vol. I. História do Direito Brasileiro, Vol. 3. Obra Fac-similar.
Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2003. E-book. p. 251-255.
157
GAGLIANO, Pablo Stolzer; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. 5. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
158
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, vol. IV. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
159
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direitos das Coisas. 22. ed. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 235.
160
LÔBO, Paulo. Direito civil. v. 4: coisas. 6. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2021. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
161
Art. 1.315. [...] Parágrafo único. Presumem-se iguais as partes ideais dos condôminos (BRASIL, 2002).
4
162
LÔBO, Paulo. Direito civil. v. 4: coisas. 6. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2021. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
163
RIZZARDO, Arnaldo. Direito das Coisas. Grupo GEN, 2021. E-book. Acesso restrito em Minha Biblioteca.
164
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 22. ed. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 237.
165
TEPEDINO, Gustavo; MONTEIRO FILHO, Carlos Edison do Rêgo; RENTERIA, Pablo. Fundamentos de
Direito Civil. Vol. 5 – Direitos Reais. Rio de Janeiro: Editora Forense. 2020. E-book.
166
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2020. E-book.
4
167
Art. 1.319. a todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de
cada um pela sua parte nas despesas da divisão (BRASIL, 2002).
168
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELA, Felipe. Curso de Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2021.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
169
Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão
de cada um pela sua parte nas despesas da divisão (BRASIL, 2002).
170
Art. 1.320. [...] §1º Podem os condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por prazo não maior de
cinco anos, suscetível de prorrogação ulterior (BRASIL).
171
Art. 1.320. [...] §2º Não poderá exceder de cinco anos a indivisão estabelecida pelo doador ou pelo testador
(BRASIL, 2002).
172
Art. 1.320. [...] §3º A requerimento de qualquer interessado e se graves razões o aconselharem, pode o juiz
determinar a divisão da coisa comum antes do prazo (BRASIL, 2002).
173
FERNANDES, Alexandre Cortez. Direitos Civil: Direitos Reais. 2. ed. revista e ampliada. Caxias do Sul:
Educs, 2016. p. 191.
174
LÔBO, Paulo. Direito civil. v. 4: coisas. 6. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2021. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
175
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed. rev. e atual. por Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-
book. p. 233.
4
176
Art. 1.327. O condomínio por meação de paredes, cercas, muros e valas regula-se pelo disposto neste Código
(arts. 1.297 e 1.298; 1.304 a 1.307) (BRASIL, 2002).
177
GAGLIANO, Pablo Stolzer; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. 5. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
178
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direitos das Coisas. 27. ed. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 250.
179
. TEPEDINO, Gustavo; MONTEIRO FILHO, Carlos Edison do Rêgo; RENTERIA, Pablo. Fundamentos de
Direito Civil. Vol. 5 – Direitos Reais. Rio de Janeiro: Editora Forense. 2020. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
180
FERNANDES, Alexandre Cortez. Direitos Civil: Direitos Reais. 2. ed. revista e ampliada. Caxias do Sul:
Educs, 2016. p. 192.
181
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 27. ed. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 252.
4
182
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, vol. IV, 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
183
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELA, Felipe. Curso de Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2021.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
184
SENADO FEDERAL, Subsecretaria de Edições Técnicas. Novo Código Civil: Exposição de Motivos e
Texto Sancionado. 2. ed. Brasília, DF: Senado Federal, 2005. Disponível em:
http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/70319. Acesso em: 24 abr. 2021.
185
FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direitos reais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p.
704-705.
186
SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Direito Imobiliário. Teoria e Prática. 15. ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense,
2020. E-book.
5
Código do Processo Civil187. Por sua vez, a corrente que trata o condomínio edilício como
pessoa jurídica argumenta que tal construção se justifica com o objetivo de conferir validade
jurídica aos atos e negócios jurídicos em que este é parte.
No entanto, o ordenamento jurídico brasileiro qualifica o condomínio edilício
como direito real de propriedade marcado pela conjugação ou simultaneidade da propriedade
coletiva com a propriedade individual das unidades autônomas188.
Outra espécie de condomínio especial previsto pelo ordenamento jurídico trata-se
do condomínio em lotes. Trata-se de modalidade derivada de condomínio edilício introduzida
pela Lei nº 13.465, de 11 de julho de 2017 que acrescentou ao Código Civil de 2002 o artigo
1.358-A189. Conforme estabelecido pelo §2º do artigo 1.1358-A, aplicam-se, no que couber, as
regras dos condomínios edilícios aos condomínios de lotes190.
Para Melhim Namem Chalhub, o condomínio de lotes caracteriza-se pela:
187
Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:[...] XI - o condomínio, pelo administrador ou
síndico. (BRASIL, 2015)
188
TEPEDINO, Gustavo; OLIVA, Milena Donato. Fundamentos do Direito Civil. Vol. 1 - Teoria Geral do
Direito Civil. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2020. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
189
Art. 1.358-A. Pode haver, em terrenos, partes designadas de lotes que são propriedade exclusiva e partes que
são propriedade comum dos condôminos (BRASIL, 2002).
190
Art. 1.358-A [...] Aplica-se, no que couber, ao condomínio de lotes o disposto sobre condomínio edilício neste
Capítulo, respeitada a legislação urbanística (BRASIL, 2002).
191
CHALHUB, Melhim Namem. Condomínio de lotes de terreno urbano. Revista de Direito Imobiliário, São
Paulo, v. 67, p. 101-151, jul./dez. 2009. Disponível em: www.livrariart.com.br/proview. Acesso restrito via
ProView.
192
Art.2º [...] § 1º A fração ideal de cada condômino poderá ser proporcional à área do solo de cada unidade
autônoma, ao respectivo potencial construtivo ou a outros critérios indicados no ato de instituição (BRASIL).
193
LÔBO, Paulo. Direito civil. v. 4: coisas. 6. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2021. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
5
194
Art.2º [...] 4º Considera-se lote o terreno servido de infra-estrutura básica cujas dimensões atendam aos índices
urbanísticos definidos pelo plano diretor ou lei municipal para a zona em que se situe (BRASIL, 1979).
195
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2020. E-book.
196
Art.1.358-A [...]§ 3º Para fins de incorporação imobiliária, a implantação de toda a infraestrutura ficará a cargo
do empreendedor (BRASIL, 2002).
197
TEPEDINO, Gustavo; MONTEIRO FILHO, Carlos Edison do Rêgo; RENTERIA, Pablo. Fundamentos de
Direito Civil. Vol. 5 – Direitos Reais. Rio de Janeiro: Editora Forense. 2020. E-book. Acesso restrito via
Minha Biblioteca.
5
4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A multipropriedade tem sido considerada por muitos como uma forma criativa de
ampliação e racionalização do aproveitamento econômico de bens passíveis de apropriação e
uso temporário, sendo de utilidade tanto para quem é consumidor como para quem pertence
ao setor produtivo ligado ao setor imobiliário e hoteleiro198.
Do ponto de vista do consumidor, a multipropriedade possibilita a apropriação e a
fruição de um bem por muitas pessoas que, na maioria das vezes, não teriam capacidade de
custear o preço da propriedade em sua totalidade, uma vez que, na multipropriedade, o preço
de aquisição do bem é proporcional a uma determinada fração do preço de aquisição da
propriedade integral. Da mesma forma, o custo de manutenção do bem é rateado entre os
multiproprietários na proporção da fração de tempo atribuída a cada um deles199.
Por sua vez, do ponto de vista do setor produtivo, principalmente para a indústria
turístico-hoteleira, o mercado de multipropriedade aquece a economia das regiões onde se
instalam esses empreendimentos não apenas nas altas estações, mas também em todos os
períodos do ano200. Assim, verifica-se maior potencial para os negócios, na medida que se
habilita a multiplicação da produção e da oferta de bens de mercado, implicando aumento de
198
CHALHUB, Melhim Namem. Incorporação Imobiliária. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2019. E-
book. Acesso Restrito via Minha Biblioteca.
199
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Panorama do Direito Imobiliário no Século XXI. In: DINIZ,
Maria Helena. Direito em Debate. Vol. 2. São Paulo: Almedina Brasil. p. 193-217. 2020.
200
TEPEDINO, Gustavo. Aspectos Atuais da Multipropriedade Imobiliária. In: AZEVEDO, Fábio de Oliveira;
MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito Imobiliário: Escritos em Homenagem ao Professor Ricardo
Pereira Lira. São Paulo: Atlas, 2015. p. 512 – 522. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
5
201
CHALHUB, Melhim Namem. Incorporação Imobiliária. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2019. E-
book. Acesso Restrito via Minha Biblioteca.
202
CAPANEMA, Sylvio. A multipropriedade. Revista Justiça & Cidadania, Rio de Janeiro. n. 225. p. 62-63.
mai. 2020. Disponível em: https://www.editorajc.com.br/wp-content/uploads/RJC_225.pdf. Acesso em: 19
maio 2021.
203
Modelo econômico em que determinado mercado reúne redes distribuídas de indivíduos para compartilhar ou
trocar ativos que são subutilizados. Engloba tipos de bens ou serviços, compartilhados ou trocados por
utilidades passíveis ou não de valor monetário. Trata-se de inovação disruptiva, sendo frequentemente
associada a produtos e serviços que, utilizando de velhas tecnologias conseguem criar modelos de negócios
com foco em colaboração, e que assim, conseguem estabelecer novos nichos de mercados e desbancar os
tradicionais agentes econômicos até então dominantes (KOOPMAN, Christopher; MITCHELL, Matthew;
THIERER, Adam. The sharing economy and consumer protection regulation: the case for policy change.
The Journal of Business, Entrepreneurship & Law. Malibu, v. 8, p. 530-545, 2015. Disponível em:
https://digitalcommons.pepperdine.edu/jbel/vol8/iss2/4/. Acesso em: 04 maio 2021.).
204
ADIT. A história por trás da Multipropriedade, do Timesharing e do Fractional. Maceió, 2020.
Disponível em: https://adit.com.br/a-historia-por-tras-da-multipropriedade-do-timeshare-e-do-fractional/.
Acesso em: 05 maio 2021.
205
CALFAT, Caio. Cenário do Desenvolvimento de Multipropriedades no Brasil. São Paulo, 2020. p. 11-12.
Disponível em: https://www.caiocalfat.com/cdmb. Acesso em: 18 maio 2021.
5
206
PEGHINI, Cesar Calo; DOMINICANO, Flavia Lara Vogel. Multipropriedade: Evolução Histórica e
Análise da Lei 13.777/2018. Migalhas Edilícias. 2020. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/arquivos/2020/8/28FEFDA08EE89C_multipropriedade.pdf. Acesso em: 19
maio 2021.
207
De acordo com Pietro Bonfante citado por Emanuele Calo e Tomasso Corda, o turno é um dos sistemas
existentes no Direito romano que serve de meio para regulamentar o gozo entre os condôminos. O mesmo
autor relaciona a existência de uma sentença de apelação em Gênova, de 9 de janeiro de 1914, cujo teor
expressa limitações ao direito de uso de outros condôminos deste sistema por turnos: “Um condomínio de
águas com desfrute por turnos não pode impedir o acesso e o aproveitamento dos outros condôminos”.
(CALO, Emanuele; CORDA, Tomasso. La Multipropiedad: Principios Teóricos, Precedentes Doctrinales y
Jurisprudenciales, Legislaciones Extranjeras. Madrid: EDERSA, 1985, p. 1-2).
208
SARAIVA, Bruno de Souza. Teoria Geral da Multipropriedade Imobiliária no Direito Civil Brasileiro.
Fortaleza: Editora DIN.CE, 2017. p. 23.
209
LIMA, Frederico Henrique Viegas de. Aspectos Teóricos da Multipropriedade no Direito Brasileiro. Revista
dos Tribunais, São Paulo. Vol. 658/1990, p. 28- 42. ago. 1990.
5
210
Posteriormente, recebeu outras denominações: pluriproprieté (pluripropriedade), proprieté spatio-temporel-le
(propriedade espaço-temporal), coproprieté saisonnère (copropriedade sazonal), droit de joissance à temps
partagé (direitos de compartilhamento de tempo) (OLIVEIRA JÚNIOR, Dário da Silva; CHRISTOFARI,
Victor Emanuel. Multipropriedade (Timeshare): Aspectos Cíveis e Tributários. Rio de Janeiro:
LumenJuris, 2000. p.4).
211
ULLOA, Milushka Felícitas Rojas. La Naturaleza jurídica de la multipropriedade. Tese (Doutorado em
Direito e Ciência Política). Faculdad de Derecho y Ciencia Política, Universidad Nacional Mayor de San
Marcos. Lima - Peru, 2008. Disponível em:
https://cybertesis.unmsm.edu.pe/bitstream/handle/20.500.12672/1484/Rojas_um.pdf. Acesso em: 05 maio
2021. p. 27-28.
212
VILCHEZ, William Molinari. La Naturaleza Jurídica Pluriforme de la Multipropriedad. Tese
(Doutorado em Direito). Faculdad de Derecho, Universidad Complutense de Madrid. Madri,Espanha. 2002.
Disponível em: https://eprints.ucm.es/id/eprint/4361/1/T25710.pdf. Acesso em: 08 maio 2021. p. 8-9.
213
TORRES, Andreza Cristina Baggio. Teoria contratual pós-moderna. Curitiba: Juruá, 2007. p. 176.
214
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELA, Felipe. Curso de Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2021.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
215
PADESCA, Ana Luisa Balmori. Multipropriedad, Time-Sharing y Habitación Periódica en La Unión
Europea, Suiza, Turquía, Estados Unidos de America y Argentina. Tese (Doctorado en Derecho) –
5
Nos demais países onde foi incorporada recebeu distintas denominações. Na Itália,
foi chamada de multiproprietá e proprietá spazio-temporale; Na Espanha, denominada de
multipropriedad ou derecho de aprovechamiento por turno de bienes inmuebles; em Portugal,
designada como direito real de habitação periódica; a doutrina argentina refere-se à
propriedade de tempo compartilhado216.
No Brasil, recebeu a denominação de Multipropriedade, sendo também utilizados
os termos anglicanos Fractional onwership e Time-sharing. Ressalta-se, todavia, que há na
doutrina opiniões de que Multipropriedade e Time-sharing são institutos distintos217.
Para Gustavo Tepedino, todas essas designações foram utilizadas para se referir à
determinada pluralidade de direitos individuais exercida sobre uma mesma base material,
dividida em frações de tempo, dando ideia, à primeira vista, da existência de múltiplos
domínios, sucessivamente encadeados e decorrentes da divisão modular, sendo por isso,
atribuída tal nomenclatura ao fenômeno218.
A seguir, será abordado o conceito do instituto da multipropriedade, bem como
suas principais características, configurações e modelos estudados pela doutrina.
220
VILCHEZ, William Molinari. La Naturaleza Jurídica Pluriforme de la Multipropriedad. Tese
(Doutorado em Direito). Faculdad de Derecho, Universidad Complutense de Madrid. Madri,Espanha. 2002.
Disponível em: https://eprints.ucm.es/id/eprint/4361/1/T25710.pdf. Acesso em: 08 maio 2021. p. 41.
221
TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade Imobiliária. São Paulo: Editora Saraiva, 1993. p. 1.
222
SARAIVA, Bruno de Souza. Teoria Geral da Multipropriedade Imobiliária no Direito Civil Brasileiro.
Fortaleza: Editora DIN.CE, 2017. p. 20.
223
TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade Imobiliária. São Paulo: Editora Saraiva, 1993. p. 3.
224
ULLOA, Milushka Felícitas Rojas. La Naturaleza jurídica de la multipropriedade. Tese (Doutorado em
Direito e Ciência Política). Faculdad de Derecho y Ciencia Política, Universidad Nacional Mayor de San
Marcos. Lima - Peru, 2008. Disponível em:
5
https://cybertesis.unmsm.edu.pe/bitstream/handle/20.500.12672/1484/Rojas_um.pdf. Acesso em: 05 maio
2021. p. 27-28.
5
225
VANZELA, Rafael Domingos Faiardo. Numerus clausus dos direitos reais e autonomia nos contratos de
disposição. 2009. Tese (Doutorado em Direito Civil) - Universidade de São Paulo, 2009. p. 316.
226
CARVALHO JUNIOR, Marcelo Araújo. Multipropriedade Imobiliária e Coligação Contratual.
Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019. p. 15. Disponível
em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/38038. Acesso em: 17 maio 2021.
227
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Roberto Paulino de. A relação jurídica real no direito contemporâneo: por
uma teoria geral do direito das coisas. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, 2010. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/3769. Acesso em: 17 maio 2021.
228
TEPEDINO, Gustavo. Aspectos Atuais da Multipropriedade Imobiliária. In: AZEVEDO, Fábio de Oliveira;
MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito Imobiliário: Escritos em Homenagem ao Professor Ricardo
Pereira Lira. São Paulo: Atlas, 2015. p. 512 – 522. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
229
VILCHEZ, William Molinari. La Naturaleza Jurídica Pluriforme de la Multipropriedad. Tese
(Doutorado em Direito). Faculdad de Derecho, Universidad Complutense de Madrid. Madri, Espanha. 2002.
Disponível em: https://eprints.ucm.es/id/eprint/4361/1/T25710.pdf. Acesso em: 08 maio 2021. p. 128.
6
230
TEPEDINO, Gustavo. A Multipropriedade e a Lei nº 13.777/2018: Virtudes e problemas. In: SALOMÃO,
Luis Felipe; TARTUCE; Flávio. Direito civil, diálogos entre a doutrina e a jurisprudência, v. 2. 1. Rio de
Janeiro: Atlas, 2020. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
231
CHALHUB, Melhim Namem. Incorporação Imobiliária. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2019. E-
book. Acesso Restrito via Minha Biblioteca.
232
TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade Imobiliária. São Paulo: Editora Saraiva, 1993. p. 4.
6
233
OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. Análise detalhada da multipropriedade no Brasil após a Lei nº
13.777/2018: pontos polêmicos e aspectos de Registros Públicos. 2019. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td255.
Acesso em: 18 maio 2021.
234
Artigo 2º. As empresas mencionadas no artigo 1º não podem suportar fiança (FRANÇA, 1986, tradução
nossa).
235
Artigo 3º. Os sócios ficam obrigados, perante a sociedade, a responder às chamadas de fundos exigidos para
construção, aquisição, desenvolvimento ou restauração de edifício social na proporção dos seus direitos no
capital social e a participar nos encargos nas condições previstas. no artigo 9º desta lei. [...], O sócio faltoso
não pode reclamar, a partir de deliberação da assembleia geral, nem o gozo da fracção do imóvel a que se
destina, nem a manutenção desse gozo (FRANÇA, 1986, tradução nossa).
236
Artigo 2.º Outros direitos reais, 1 - O proprietário das unidades de alojamento sujeitas ao regime de direitos
reais de habitação periódica não pode constituir outros direitos reais sobre as mesmas. [...] (PORTUGAL,
1993)
237
Artigo 6.º Constituição do direito real de habitação periódica - 1 - Salvo o disposto em lei especial, o direito
real de habitação periódica é constituído por escritura pública ou por documento particular autenticado
(PORTUGAL, 1993).
238
Artigo 3º - Duração. 1 - O direito real de habitação periódica é, na falta de indicação em contrário, perpétuo,
podendo ser-lhe fixado um limite de duração, não inferior a um ano a contar [...] (PORTUGAL, 1993).
239
Artigo 22.º - Prestação periódica – 1. O titular do direito real de habitação periódica é obrigado a pagar
anualmente ao proprietário das unidades de alojamento sujeitas ao regime dos direitos reais de habitação
periódica a prestação pecuniária indicada no título de constituição (PORTUGAL, 1993).
6
240
TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade Imobiliária. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 11.
241
VILCHEZ, William Molinari. La Naturaleza Jurídica Pluriforme de la Multipropriedad. Tese
(Doutorado em Direito). Faculdad de Derecho, Universidad Complutense de Madrid. Madri,Espanha. 2002.
Disponível em: https://eprints.ucm.es/id/eprint/4361/1/T25710.pdf. Acesso em: 08 maio 2021.
242
TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade Imobiliária. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 16.
243
SARAIVA, Bruno de Souza. Teoria Geral da Multipropriedade Imobiliária no Direito Civil Brasileiro.
Fortaleza: Editora DIN.CE, 2017. p. 23.
6
sazonal, ao qual se aplicaria o conjunto de disposições da lei, desde que não contrariassem sua
natureza jurídica244.
Em 2012, foi promulgada a Lei nº 4/2012, de 6 de julho de 2012, que introduziu
no ordenamento aperfeiçoamentos originários da Diretiva 2008/122/CE, conferindo-se mais
proteção aos consumidores em relação a determinados aspectos dos contratos de
aproveitamento por turno de bens imóveis, de aquisição de produtos de férias, de revenda e de
intercâmbio de imóveis para fins de férias, tendo em vista o aparecimento de novos produtos
no setor turístico. Além disso, ampliou a integração com as normas internas, reforçou as
informações do instituto para os consumidores e regulou com maior precisão os prazos para
exercício do direito de desistência, dentre outros aperfeiçoamentos245.
Também é bastante interessante o modelo de multipropriedade adotado pela
Grécia. Neste país, a multipropriedade é um direito de uso cíclico e individual que pode ser
constituído por meio de um contrato que se assemelha em muito ao de locação 246. A
multipropriedade é disciplinada no país por meio da Lei nº 1652/1986 de 14 de outubro de
1986. De acordo com a lei, o locatário adquire, através de escritura notarial de time-sharing
com o locador do imóvel, o direito limitado (temporal) de usar, em troca de pagamento
estipulado em contrato, um apartamento de férias ou quarto de hotel em resort de férias
(direito de time-sharing), e usufruir de quaisquer serviços oferecidos em relação aos imóveis
alugados. A escritura notarial de time- sharing deve ser registrada no Registro de Imóveis247.
Desta maneira, o time-sharing grego pode ser considerado, de certa forma, um
contrato misto, de viés obrigacional, já que envolve o arrendamento da coisa e a prestação de
serviços, turísticos por uma das partes a outra por um preço previamente estabelecido248.
244
ESPANHA, Ley 42/1998, de 15 de diciembre de 1998. Sobre derechos de aprovechamiento por turno de
bienes inmuebles de uso turístico y normas tributarias. Exposición de motivos. Madrid: Agencia Estatal
Boletín Oficial del Estado, 1998. Disponível em: https://www.boe.es/eli/es/l/1998/12/15/42. Acesso em: 23
maio 2021.
245
ESPANHA, Ley 4/2012, de 6 de julio de 2012. De contratos de aprovechamiento por turno de bienes de
uso turístico, de adquisición de productos vacacionales de larga duración, de reventa y de intercambio
y normas tributarias. Preámbulo. Madrid: Agencia Estatal Boletín Oficial del Estado, 2012. Disponível em:
https://www.boe.es/eli/es/l/2012/07/06/4/con. Acesso em: 23 maio 2021.
246
SARAIVA, Bruno de Souza. Teoria Geral da Multipropriedade Imobiliária no Direito Civil Brasileiro.
Fortaleza: Editora DIN.CE, 2017. p. 52.
247
KALIN, Christian H. International Real Estate Handbook: Acquisition, Ownership and Sale of Real Estate
Residence, Tax and Inheritance Law. [S. l]: Wiley, 2005. p. 276.
248
PADESCA, Ana Luisa Balmori. Multipropriedad, Time-Sharing y Habitación Periódica en La Unión
Europea, Suiza, Turquía, Estados Unidos de America y Argentina. Tese (Doctorado en Derecho) –
Universidad Extremadura, Carceres, España, 2000. Disponível em:
https://biblioteca.unex.es/tesis/8477234787.PDF. Acesso em 19 maio 2021. p. 173.
6
249
REINO UNIDO. Statutory Instruments 2010 N. 2960. The Timeshare, Holiday Products, Resale and
Exchange Contracts Regulations. London, 2010. Disponível em:
https://www.legislation.gov.uk/uksi/2010/2960/contents. Acesso em: 28 maio 2021.
250
CONWAY, Lorraine. Timesharing: problems faced by UK owners. Research Briefing. London: House of
Commons Library. 17 mar. 2021. Disponível em: https://commonslibrary.parliament.uk/research-
briefings/sn05925. Acesso em: 27 maio 2021.
251
PADESCA, Ana Luisa Balmori. Multipropriedad, Time-Sharing y Habitación Periódica en La Unión
Europea, Suiza, Turquía, Estados Unidos de America y Argentina. Tese (Doctorado en Derecho) –
Universidad Extremadura, Carceres, España, 2000. Disponível em:
https://biblioteca.unex.es/tesis/8477234787.PDF. Acesso em 19 maio 2021. p. 33.
6
tanto caracteres de direito obrigacional quanto de direito real252. A seguir, será discutida a
natureza jurídica da multipropriedade no ordenamento jurídico brasileiro.
252
CARVALHO JUNIOR, Marcelo Araújo. Multipropriedade Imobiliária e Coligação Contratual. Tese
(Mestrado em Direito) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019. Disponível em:
https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/38038. Acesso em: 17 maio 2021.
253
LIMA, Frederico Henrique Viegas de. Aspectos Teóricos da Multipropriedade no Direito Brasileiro. Revista
dos Tribunais, São Paulo. Vol. 658/1990, p. 28- 42. ago. 1990.
254
PEGHINI, Cesar Calo; DOMINICANO, Flavia Lara Vogel. Multipropriedade: Evolução Histórica e
Análise da Lei 13.777/2018. Migalhas Edilícias. 2020. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/arquivos/2020/8/28FEFDA08EE89C_multipropriedade.pdf. Acesso em: 19
maio 2021.
255
SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil: Contemporâneo. 4.ed. São Paulo: Editora Saraiva. 2021.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
6
criação de novo direito real por convenção privada, conclui que “[...] o contrato de ‘time-
sharing’ possui natureza jurídica de direito pessoal que está relacionado diretamente a um
direito real, o do titular do bem objeto da multipropriedade”. Assim, para o ministro, a
multipropriedade tratava-se de um direito pessoal, diante da ausência de previsão legal256.
Todavia, o voto vencedor do Ministro João Otávio de Noronha firmou o
entendimento de que, mesmo sem legislação específica, a multipropriedade imobiliária
possuía natureza de direito real sendo compatível com os institutos constantes do rol previsto
do artigo
1.225 do Código Civil. Por conseguinte, por serem os multiproprietários titulares das “[...]
faculdades de uso, gozo e disposição sobre fração ideal do bem, ainda que objeto de
compartilhamento pelos multiproprietários de espaço e turnos fixos de tempo [...]” poderiam
utilizar instrumentos jurídicos como os embargos de terceiros para proteção de sua fração
ideal do imóvel objeto da constrição em caso de penhora257.
A decisão proferida pelo STJ foi considerada um grande avanço na temática. No
entanto, ainda pairava uma grande insegurança em relação à natureza jurídica da
multipropriedade imobiliária. Do ponto de vista prático, persistiam as dificuldades relativas ao
registro e averbações nos cartórios de Registro de Imóveis, o que levava a incorporadores e
investidores do mercado de multipropriedade a optarem pela realização de negócios de
natureza obrigacional, o que não satisfazia plenamente os interesses daqueles envolvidos258.
Finalmente, em resposta a esta demanda da sociedade, foi promulgada a Lei nº
13.777, de 20 de dezembro de 2018 que alterou a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002
(Código Civil) de 2002 e a Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei dos Registros
Públicos), para dispor sobre o regime jurídico da multipropriedade e seu registro.
No que se refere às alterações promovidas no Código Civil, um novo capítulo de
cunho analítico foi incluído neste diploma com vistas a estabelecer o regramento da
256
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1546165. MAGNUS LANDMANN
CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA. – ME. CONDOMÍNIO WEEK INN. Relator: Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva. 06 de setembro de 2016. Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=1546165&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=tru
e#DOC2. Acesso em: 20 maio 2021.
257
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1546165. MAGNUS LANDMANN
CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA. – ME. CONDOMÍNIO WEEK INN. Relator: Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva. 06 de setembro de 2016. Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=1546165&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=tru
e#DOC2. Acesso em: 20 maio 2021.
258
SCHREIBER, Anderson. Multipropriedade Imobiliária e a Lei 13.777/18. 2019. Disponível em:
https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/664096447/multipropriedade-imobiliaria-e-a-lei-13777-18.
Acesso em: 21 maio 2021.
6
259
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, vol. IV, 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
260
CASSETTARI, Chistiano. Elementos de direito civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. E-book.
261
Art. 1.358-C. Multipropriedade é o regime de condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo
imóvel é titular de uma fração de tempo, à qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com
exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser exercida pelos proprietários de forma alternada (BRASIL,
2002).
262
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. E-
book.
263
Art. 176 - O Livro nº 2 - Registro Geral - será destinado, à matrícula dos imóveis e ao registro ou averbação
dos atos relacionados no art. 167 e não atribuídos ao Livro nº 3.
[...]
§ 10. Quando o imóvel se destinar ao regime da multipropriedade, além da matrícula do imóvel, haverá uma
matrícula para cada fração de tempo, na qual se registrarão e averbarão os atos referentes à respectiva fração
de tempo, ressalvado o disposto no § 11 deste artigo.
264
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Reais. 20. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2020. E-book. Acesso
restrito via Minha Biblioteca.
6
o multiproprietário pode fazer uso de ações possessórias para a proteção do bem comum
mesmo fora do período referente à sua unidade autônoma265.
A inovação legislativa também introduziu outros pontos que merecem destaque,
como por exemplo, a não extinção da multipropriedade no caso de todas as frações de tempo
passarem a ser do mesmo titular266; a imposição de indivisibilidade do imóvel objeto da
multipropriedade; a definição de que, além do imóvel, compõem o objeto da
multipropriedade, as instalações, equipamentos e mobiliários destinados ao seu uso e gozo267;
o estabelecimento do período de sete dias como lapso temporal mínimo para uso e gozo do
imóvel, podendo este ser seguido, intercalado ou misto268. Por fim, a multipropriedade se
estabelece por ato entre vivos ou por testamento, com registro imobiliário, devendo constar do
ato a duração dos períodos de fração do tempo269.
Contudo, mesmo após a edição da lei da multipropriedade, uma posição
minoritária da doutrina ressalva que a multipropriedade imobiliária não pode ser considerada
um direito real per se, ou seja, um direito real autônomo, como fora afirmado pelo Recurso
Especial nº 1.546.165/SP. Os argumentos trazidos pelos defensores da tese indicam que a Lei
da multipropriedade definiu o instituto como modalidade condominial, conforme aludido
artigo 1.358-C do Código Civil de 2002, e que por isso, não é possível afigurar-se como
direito real autônomo. Nesta esteira, pondera-se que embora derive de negócio jurídico
celebrado entre diversas partes, “[...] representa uma forma de exercício de direito de
propriedade que considera
265
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, vol. IV, 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
266
Art. 1.358-C. [...] Parágrafo único. A multipropriedade não se extinguirá automaticamente se todas as frações
de tempo forem do mesmo multiproprietário (BRASIL, 2018).
267
Art. 1.358-D. O imóvel objeto da multipropriedade:
I - é indivisível, não se sujeitando a ação de divisão ou de extinção de condomínio;
II - inclui as instalações, os equipamentos e o mobiliário destinados a seu uso e gozo (BRASIL, 2018).
268
Art. 1.358-E. Cada fração de tempo é indivisível.
§ 1º O período correspondente a cada fração de tempo será de, no mínimo, 7 (sete) dias, seguidos ou
intercalados, e poderá ser:
I - fixo e determinado, no mesmo período de cada ano;
II - flutuante, caso em que a determinação do período será realizada de forma periódica, mediante
procedimento objetivo que respeite, em relação a todos os multiproprietários, o princípio da isonomia,
devendo ser previamente divulgado; ou
III - misto, combinando os sistemas fixo e flutuante (BRASIL, 2018).
269
Art. 1.358-F. Institui-se a multipropriedade por ato entre vivos ou testamento, registrado no competente
cartório de registro de imóveis, devendo constar daquele ato a duração dos períodos correspondentes a cada
fração de tempo (BRASIL, 2018).
6
variável de uso de temporal [...] assumindo uma natureza negocial, similar ao condomínio
edilício, com algumas particularidades regulamentadas pela Lei nº 13.777/2018”270.
A corrente minoritária se filia à tese de que os limites impostos pela taxatividade
dos direitos reais representam um óbice para criação do direito real per se. Reforçam este
argumento indicando o fato de que todas as vezes que o legislador inovou na criação de novos
direitos reais, modificou o artigo 1.225 do Código Civil de 2002, como foi o caso da
concessão de uso especial para fins de moradia, concessão de direito real de uso e o direito de
laje271.
Apresenta-se também como argumento, a imprecisão no emprego do ato de
registro junto ao Registro Geral de Imóveis que visa conferir publicidade ao negócio jurídico
celebrado e o resguardo dos direitos dos multiproprietários e sua eficácia ergas omnes perante
terceiros. O que se critica neste caso é o fato de o ato de registro recair sobre o ato de
instituição de multipropriedade e não de fato sobre o direito de multipropriedade em si, sendo
por isso, considerado, em sentido lato sensu, mero ato de averbação ao registro de
propriedade e não de registro no sentido da constituição do direito272.
Outro ponto controverso diz respeito à natureza jurídica dos bens móveis.
Registra- se que o legislador que concebeu a Lei nº 13.777, de 20 de dezembro de 2018,
restringiu o seu campo de aplicação apenas aos bens imóveis, deixando os bens móveis sem a
devida proteção do sistema jurídico. Tal fato mantém acesso o debate acerca da natureza
jurídica da multipropriedade mobiliária. Neste sentido, a doutrina tem se posicionado pela
inviabilidade de se admitir o regime de condomínio em multipropriedade para os bens
móveis273.
270
SILVESTRE, Giberto Fachetti; CASTELLO, João Victor Pereira; NASCIMENTO, Barbara R. Santana.
Multipropriedade imobiliária e sua natureza jurídica no Brasil: análise dos fundamentos do Recurso Especial
nº 1.546.165/SP e da Lei nº 13.777/2018. Derecho y Cambio Social, Lima, n. 63, p. 100-120. jan./mar.
2021. Disponível em: https://lnx.derechoycambiosocial.com/ojs-3.1.1-
4/index.php/derechoycambiosocial/article/view/471. Acesso em: 19 maio 2021.
271
Corrente apoiada por vários autores, dentre os quais, Orlando Gomes, Carlos Roberto Gonçalves, Arnoldo
Wald, Maria Helena Diniz, Silvio Rodrigues, Álvaro Villaça Azevedo, entre outros que defendem a
taxatividade dos direitos reais ainda em numerus clausus porquanto “[...] as regalias importantes que
distinguem os direitos reais, não podem ficar na dependência do arbítrio individual” (AZEVEDO, Álvaro
Villaça. Curso de direito civil: direito das coisas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. E-book. Acesso restrito
via Minha Biblioteca).
272
SILVESTRE, Giberto Fachetti; CASTELLO, João Victor P.; NASCIMENTO, Barbara R. Santana.
Multipropriedade imobiliária e sua natureza jurídica no Brasil: análise dos fundamentos do Recurso Especial
nº 1.546.165/SP e da Lei nº 13.777/2018. Derecho y Cambio Social, Lima, n. 63, p. 100-120. jan./mar.
2021. Disponível em: https://lnx.derechoycambiosocial.com/ojs-3.1.1-
4/index.php/derechoycambiosocial/article/view/471. Acesso em: 19 maio 2021.
273
GAGLIANO, Pablo Stolzer; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. 5. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
7
274
A evicção consiste na perda, pelo adquirente (evicto), da posse ou propriedade da coisa transferida, por força
de uma sentença judicial ou ato administrativo que reconheceu o direito anterior de terceiro, denominado
evictor (GAGLIANO, Pablo Stolzer; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume
único. 5. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca).
275
OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. Análise detalhada da multipropriedade no Brasil após a Lei nº
13.777/2018: pontos polêmicos e aspectos de Registros Públicos. 2019. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td255.
Acesso em 18 maio 2021.
276
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 3801/2020, de 15 de julho de 2020. Altera a Lei no
10.406, de 10 de janeiro de 2002, e a Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, para dispor sobre a
multipropriedade de bens móveis e seu registro. Brasília: Câmara dos Deputados. Disponível em:
7
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 19. ed. São Paulo: Editora Forense, 2019. E-
book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
ALVES, José Carlos Moreira. Posse. 2. ed. Vol. 2. Tomo I. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
ARAKAKI, Maria José. Fractional ownership: A visão dos tribunais brasileiros. Revista
Hotéis. São Paulo, 2016. Disponível em: https://www.revistahoteis.com.br/fractional-
ownership-a-visao-dos-tribunais-brasileiros/. Acesso em: 19 maio 2021.
ASSIS, Luis Gustavo Bambini. A evolução do Direito de Propriedade ao longo dos textos
constitucionais. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São
Paulo. v. 103. p. 781 – 791, jan./dez. 2008. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67828. Acesso em: 15 abr. 2021.
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso de direito civil: direito das coisas. v. 5. 2. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
BERNAT, Pedro A. Munar. El derecho real de aprovechamiento por turno, la nueva opción
legislativa em materia de multipropiedad. Revista Critica de Derecho Inmobiliario, Madrid,
n. 647. p. 1209-1244, jul./ago. 1998. Disponível em: https://www.revistacritica.es/estudios/el-
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