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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC-SP

CESAR CALO PEGHINI

A aplicação da boa-fé objetiva nas Situações Jurídicas Reais

Doutorado em Direito

São Paulo
2017
CESAR CALO PEGHINI

A aplicação da boa-fé objetiva nos Negócios Jurídicos Reais

Doutorado em Direito

Tese apresentada a Banca Examinadora de


qualificação da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, como exigência parcial para a
obtenção do título de Doutor em Direito Civil sob
a orientação do Prof. Dr. Willis Santiago Guerra
Filho

São Paulo
2017
Banca Examinadora
____________________

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____________________

____________________

____________________
AGRADECIMENTO

Apenas para quem passou horas a fio em um


computador, limitado no tempo e seio familiar
compreende a magnitude e determinação rumo
ao conhecimento, elevação espiritual e
profissional. Concluir esta tese remete a
concretude de um sonho, sendo assim,
inúmeras são as pessoas que oportunizaram
findá-la com esmero.
Agradecer a família, os amigos e a própria vida
por conferir horas de estudo e reflexão não
bastaria. Contudo e indubitavelmente agradeço
minha família, amada mãe, amado pai em
respeitosa e saudosa memória, avôs, tios,
primos e amigos por compreenderem tanta
ausência no convívio familiar e social. Agradeço
aos meus pais de coração, os quais me
adotaram meio ao furacão de atividades e
sentimentos, sogra e sogro, além de sua grande
família.
Agradeço em especial o compartilhamento das
ideias e infinitas conversas acerca da vida e do
tema da presente tese, aos amigos e
professores que igualmente compartilham da
missão de elevar e levar conhecimento.
Uma das pessoas valiosas que passaram em
minha vida trata da querida Professora Doutora
Thereza Celina Diniz de Arruda Alvim, qual me
permitiu adentrar ao estudo acadêmico e tornar
o que sou hoje, um profissional amante da
docência e do conhecimento, infinitamente
muito obrigado. Ao grande amigo, Professor
Doutor Daniel Willian Granado pela confiança
em minha retidão profissional, sem o qual, talvez
não conseguisse êxito no ingresso dessa
empreitada.
Para os grandes mestres, os quais participaram
dessa trajetória ao longo dos últimos quatro
anos de minha vida, Professor Doutor Renan
Lotufo que recepcionou a orientação, Professor
Doutor Roberto Senise Lisboa qual me manteve
na orientação elucidando o caminho a ser
seguido e Professor Doutor Willis Santiago
Guerra Filho que recepcionou e potencializou
com sua sabedoria a presente tese ramificando
a pesquisa para outras áreas do conhecimento.
À ilustre Banca Examinadora Convocada do
presente trabalho Professora Doutora Ana
Elizabeth Lapa Wanderley Cavalcanti, Professor
Doutor Erik Frederico Gramstrup, Professor
Doutor Flávio Murilo Tartuce Silva, Professora
Doutora Marcia Cristina de Souza Alvim,
Professor Doutor Roberto Senise Lisboa,
Professor Doutor Rogério Luiz dos Santos Terra
e Professor Doutor Willis Santiago Guerra Filho
os quais influenciaram de forma significativa e
valorosa cada ponderação e, por fim, porém não
menos importante a Banca Examinadora
Convocada do presente trabalho que dividirão
comigo este momento tão importante e
esperado ficando aqui meus sinceros
agradecimentos.
Dedico este trabalho à minha amada filha Alice
Costa Peghini que deu seus primeiros passos em
meio a tanto trabalho; cujo sorriso recarregou
minhas energias a cada propósito de vida. Para
ela registro que não se trada de alcançar o topo do
mundo, mas sim que a caminhada até lá, te
fortalece. E, minha amada esposa Aline que me
incentivou e compartilhou cada caminhar e
proporcionou uma nova forma de olhar a vida,
agora, compartilhando um pedaço de mim fora do
peito, minha família.
Liberdade cristã e libertinagem

“A mim tudo é permitido, mas nem tudo me


convém. A mim tudo é permitido, mas não me
deixarei dominar por coisa alguma” (I Cor 6,12)
RESUMO

Fruto da atividade humana, o direito tem como marco referencial o fato social, qual
visa à pacificação social por meio da aplicação de normas e técnicas de solução de
conflitos. Com fim de pacificação social a norma é aplicada em todos os ramos do
direito, oriunda da influência do meio que a circunda, acha-se inclusive refletida no
Direito Civil, em especial para a presente tese, no que tange aos Direitos Reais.
Frente à corporeidade imanente do ser humano, imperioso condicioná-lo a existência
das coisas e suas relações intersubjetivas. Assim o presente trabalho tem como objeto
a análise dos direitos reais, bem como a confrontação da aplicação da boa-fé objetiva
em referidas relações. Trafegará entre a evolução legislativa dos referidos institutos,
bem como a suas características gerais, tratará acerca do paradigma da boa-fé
objetiva que permeia todo o direito e seus nítidos reflexos ao Direito Real, para
finalmente, explorar a efetividade da aplicação da boa-fé objetiva às seguintes
situações jurídicas reais: propriedade; superfície; servidões; usufruto; uso; habitação;
direito do promitente comprador do imóvel; penhor; hipoteca; e anticrese, e, seus
reflexos no atual enquadramento do sistema jurídico normativo. Portanto, esmiuçado
doutrina e decisões oriundas dos tribunais nacionais, em especial o Superior Tribunal
de Justiça a partir da vigência do Código Civil de 2002 até o dia 01 de julho de 2017,
verificou a concretude da aplicação da boa-fé objetiva, nas situações jurídicas reais.

Palavras-chave: Direito Civil. Direito das Coisa. Direitos Reais. Situações Jurídicas
Reais. Boa-fé objetiva.
ABSTRACT

Originating from human activity, the law relies on the social fact as a landmark
reference which seeks social peace upon application of conflict-resolution rules and
techniques. In pursuing social peace, the legal rule is applied to all branches of the law
and stems from the influence of the environment surrounding it, being even reflected
in the Civil Law, especially within the ambit of this paper, when it comes to Property
Rights. In view of the corporeal nature of the human being, it is imperative to condition
it to existing things and to their intersubjective relationships. Thus, the subject-matter
of this paper consists in analyzing property rights and in confronting the application of
objective good faith to such relations. This study will cover the legislative development
of said legal institutes, their general features, the objective-good-faith paradigm
pervading the law and their perceptible impacts in Property Rights, to finally explore
the effectiveness of the application of objective good faith to the following legal
situations: property; surface; easements; usufruct; use; dwelling; the right of the
purchaser of real property; pledge; mortgage; and antichresis, and their impacts on the
current normative legal system’s framework. Therefore, by scrutinizing both academic
writings and judgments from domestic courts, particularly the Superior Court of Justice,
as of the effective date of the Brazilian Civil Code of 2002 up until July 1, 2017, one
has examined the concrete aspects involving the application of the objective good-faith
to actual legal situations.

Keywords: Civil Law; Rights In Rem. Property Rights. Actual Legal Situations.
Objective Good-Faith.
RÉSUMÉ

Produit de l'activité humaine, le droit a comme cadre référentiel le fait social, qui
objective la pacification sociale moyennant l'application des normes et techniques de
solution de conflits. Dans ce dessein de pacification sociale, la norme est appliquée
dans tous les domaines du droit, originaire de l'influence du moyen environnant, et se
reflète même dans le droit civil, notamment pour la présente thèse, en ce qui concerne
les droits réels. Face à la corporéité immanente de l'être humain, il est impérieux de
le conditionner à l'existence des choses et leurs rapports intersubjectifs. De cette
façon, le présent travail a comme objet l'analyse des droits réels, ainsi que la
confrontation de l'application de la bonne foi objective en relations référées. Il transitera
entre l'évolution législative des instituts référés, ainsi que leurs caractéristiques
générales, tout en abordant le paradigme de la bonne foi objective qui se répand dans
le droit tout entier et ses évidents réflexes dans le droit réel, pour finalement explorer
l'effectivité de l'application de la bonne foi objective aux suivantes situations juridiques
réelles: propriété; superficie; servitudes; usufruit; usage; habitation; droit du promettant
acheteur de l'immeuble; gage; hypothèque; et antichrèse, et leurs reflets dans l'actuel
encadrement du système juridique normatif. Par conséquent, tout en examinant la
doctrine et les décisions des tribunaux nationaux, notamment la Cour Suprême de
Justice depuis l'entrée en vigueur du Code civil de 2002 jusqu'au 1er juillet 2017, il a
été vérifié la concrétude de l'application de la bonne foi objective dans les situations
juridiques réelles.

Mots-clé: Droit civil. Droit du patrimoine. Droits réels. Situations juridiques réelles.
Bonne foi objective.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
CAPÍTULO 1 – OS DIREITOS REAIS E O DIREITO POSITIVADO ........................ 18
1.1. ETIMOLOGIA E NOÇÃO DA PALAVRA “DIREITOS REAIS” ........................................... 18
1.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA ....................................................................................... 26
1.2.1. Direito Romano ..................................................................................... 26
1.2.2. Os Direitos Reais do Direito Medieval até a Pré-codificação nacional.. 29
1.2.3. Os Direitos Reais no Direito Pátrio ....................................................... 36
1.3. OS DIREITOS REAIS E SUA ATUAL CODIFICAÇÃO NACIONAL ..................................... 38
1.4. FUNDAMENTO E TEORIAS .................................................................................... 40
1.5. DISTINÇÃO ENTRE OS DIREITOS REAIS E PESSOAIS ................................................ 43
1.6. CONCEITOS INTERMEDIÁRIOS .............................................................................. 46
1.7. EFEITOS DOS DIREITOS REAIS ............................................................................. 49
1.8. TIPICIDADE DOS DIREITOS REAIS NA ATUAL LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ..................... 55
CAPÍTULO 2 – NEGÓCIOS JURÍDICOS E A APLICAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA
.................................................................................................................................. 63
2.1. TERIA GERAL DO NEGÓCIO JURÍDICO .................................................................. 63
2.1.1. Noção do Negócio Jurídico ................................................................... 63
2.1.2. Característica dos negócios jurídicos ................................................... 69
2.1.3. Interpretação do negócio jurídico .......................................................... 73
2.2. PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO ........................................................................... 75
2.2.1. Existência ............................................................................................. 77
2.2.2. Validade ................................................................................................ 81
2.2.3. Eficácia ................................................................................................. 87
2.3. A BOA-FÉ NA NO DIREITO PÁTRIO ......................................................................... 92
2.3.1. Análise histórica acerca da boa-fé ........................................................ 99
2.3.2. Codificações anteriores e o Código Civil de 1916 .............................. 101
2.3.4. A Constituição de 1988 e o Código Civil de 2002 ............................... 103
2.4. OS PRINCÍPIOS NORTEADORES: OPERABILIDADE; ETICIDADE E SOCIALIDADE .......... 104
2.5. A BOA-FÉ E SUA SISTEMÁTICA HERMENÊUTICA .................................................... 111
2.5.1. A boa-fé nos sistemas jurídico fechado e aberto ................................ 111
2.5.2. Boa-fé como elemento autopoiético sistêmico e a contribuição dos
ensinamentos de Willis Santiago Guerra Filho ........................................................ 122
2.6. AS FUNÇÕES DA BOA-FÉ ................................................................................... 133
2.6.1. Função interpretativa .......................................................................... 134
2.6.2. Função sanção, controladora ou reativa e o abuso do Direito ............ 137
2.6.3. Função integração .............................................................................. 139
2.7. A BOA-FÉ E OS DEVERES SECUNDÁRIOS OU ANEXOS ........................................... 150
2.7.1. Dever de lealdade ............................................................................... 152
2.7.2. Dever de cooperação ou colaboração ................................................ 152
2.7.3. Dever de informação ou de esclarecimento ........................................ 153
2.7.4. Dever de segurança e proteção .......................................................... 157
2.7.5. Dever de prestação de contas ............................................................ 157
2.7.6. Dever de sigilo .................................................................................... 159
2.7.7. Quebra dos deveres secundários ou anexos ...................................... 160
2.8. CONCEITOS PARCELARES DOUTRINÁRIOS E JURISPRUDENCIAIS DERIVATIVOS DA
FUNÇÃO INTEGRATIVA ............................................................................................. 164
2.8.1. Tu quoque ........................................................................................... 164
2.8.2. Exceptio Doli ....................................................................................... 167
2.8.3. Venire contra factum proprium non valet ............................................ 168
2.8.4. Supressio (Verwirkung) e surrectio (Erwirkung) .................................. 170
2.8.5. Doctrine of mitigation ou duty to mitigate the loss ............................... 173
2.8.6. Teoria do adimplemento substancial .................................................. 176
2.8.7. Droit de Suite ...................................................................................... 179
2.8.8. Nachfrist .............................................................................................. 181

CAPITULO 3 – DIREITO REAIS EM ESPÉCIE ANÁLISE ACERCA DA


APLICAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA ................................................................... 184
3.1. PROPRIEDADE ................................................................................................. 186
3.2. PROPRIEDADE ESPECIAIS ................................................................................. 191
3.2.1. Condomínio Geral ............................................................................... 191
3.2.2. Condomínio Edilício ............................................................................ 194
3.2.3. Loteamentos Fechados ...................................................................... 205
3.2.4. Propriedade Resolúvel. ....................................................................... 209
3.2.5. Exercício do direito de Vizinhança ...................................................... 213
3.2.6. Bem de família .................................................................................... 215
3.3. DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR ...................................................... 218
3.4. DIREITOS REAIS DE GOZO ................................................................................. 220
3.4.1. Superfície ............................................................................................ 220
3.4.2. Enfiteuse ............................................................................................. 225
3.4.3. Servidões ............................................................................................ 227
3.4.4. Usufruto .............................................................................................. 229
3.4.5. Uso ..................................................................................................... 232
3.4.6. Habitação ............................................................................................ 234
3.5. DIREITOS REAIS DE GARANTIA .......................................................................... 235
3.5.1. Penhor ................................................................................................ 235
3.5.2. Hipoteca .............................................................................................. 239
3.5.3. Anticrese ............................................................................................. 244

CONCLUSÃO ......................................................................................................... 246


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 259
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................ 281
ANEXOS ................................................................................................................. 296
ANEXO I – BOA-FÉ OBJETIVA E PROPRIEDADE ......................................................... 296
ANEXO II – BOA-FÉ OBJETIVA E CONDOMÍNIO GERAL ................................................ 309
ANEXO III – BOA-FÉ OBJETIVA E CONDOMÍNIO EDILÍCIO ............................................ 311
ANEXO IV – BOA-FÉ OBJETIVA E LOTEAMENTOS FECHADOS ...................................... 312
ANEXO V – BOA-FÉ OBJETIVA E PROPRIEDADE RESOLÚVEL ...................................... 313
ANEXO VI – BOA-FÉ OBJETIVA E EXERCÍCIO DE VIZINHANÇA ..................................... 314
ANEXO VII – BOA-FÉ OBJETIVA E BEM DE FAMÍLIA .................................................... 316
ANEXO VIII – BOA-FÉ OBJETIVA E DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR .......... 322
ANEXO IX – BOA-FÉ OBJETIVA E SUPERFÍCIE........................................................... 323
ANEXO X – BOA-FÉ OBJETIVA E ENFITEUSE ............................................................. 324
ANEXO XI – BOA-FÉ OBJETIVA E SERVIDÕES ........................................................... 325
ANEXO XII – BOA-FÉ OBJETIVA E USUFRUTO ........................................................... 326
ANEXO XIII – BOA-FÉ OBJETIVA E USO ................................................................... 328
ANEXO XIV – BOA-FÉ OBJETIVA E HABITAÇÃO ......................................................... 342
ANEXO XV – BOA-FÉ OBJETIVA E PENHOR .............................................................. 345
ANEXO XVI – BOA-FÉ OBJETIVA E HIPOTECA ........................................................... 346
ANEXO XVII – BOA-FÉ OBJETIVA E ANTICRESE ........................................................ 350
INTRODUÇÃO

O direito é fruto da atividade humana, em especial, tem como marco referencial


o fato social, que visa à pacificação social1 por meio da aplicação de normas e técnicas
de solução de conflitos2.

Da doutrina, verifica-se a percepção de que nossa vida se desenvolve no


mundo das normas, onde os sujeitos acreditam ser livres, mas estão envolvidos em
verdade, em estreitíssimas regras de conduta3.

Não obstante, tal definição não é tão simples, pois conforme anota Tércio
Sampaio Ferraz Júnior4 há uma ambivalência ao referido instituto, pois se de um lado
consiste em procedimentos judiciais representado por símbolos; de outro,
corresponde a um dos fatores de estabilidade social, onde diferentes situações e
pessoas podem encontrar ordem e aceitação.

Referida ordem e aceitação tem forte reflexo no Direito Civil5, que conforme se
percebe contém forte influência do meio que o circunda6, em especial no que se refere
à família, o contrato e a propriedade7.

1 ROSA, Felippe Augusto de Miranda. Sociologia do direito: o fenômeno jurídico como fato social. 17ª
ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2004.
2 SOUTO, Cláudio; FALCÃO, Joaquim. Sociologia e Direito: Leituras básicas de sociologia jurídica.

São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1980.


3 PENTEADO, Luciano de Camargo. Direito das Coisas. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2ª ed, p.

32, 2008.
4 FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão, Dominação.

9ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016. p. 12.


5 Importante registrar que no presente trabalho foi realizado um corte metodológico quanto à retirada

dos direitos reais públicos, como exemplo podem ser citados a concessão de uso especial para fins de
moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007), bem como a concessão de direito real de uso (Redação
dada pela Medida Provisória nº 759, de 2016), ambos institutos previstos no art. 1.225 do CC ou a
legitimação fundiária da lei nº 13.465, de 2017.
6 CUNHA, Paulo Ferreira da. Direito Constitucional Geral: Uma perspectiva Luso-Brasileira. São

Paulo: Método, 2007.


7 Quanto ao aspecto da propriedade a ocupação do solo anota-se a leitura da seguinte obra: GUERRA,

Maria Magnólia Lima. Aspectos Jurídicos do uso do solo Urbano. Fortaleza: Imprensa Universitária
da Universidade Federal do Ceará, 1981.
14
O objeto da presente tese tem forte relação com a presente tríade, em especial
com o último emento citado, uma vez que o estudo se dedica a estudar os Direitos
Reais.

Nessa toada, deve ser registrado que tido direito está longe de ser um estudo
ultrapassado e arcaico, pois trata perenemente atual por várias razões. O principal
delas é que a corporiedade acha-se imanente ao ser humano, e de certo modo a
existência humana se condiciona a existência das coisas8.

Referida afirmação, tem como base o artigo 1º, do Código Civil qual dispõe a
distinção entre pessoa e coisa indicando “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres
na ordem civil”, bem como, mesmo com o avanço tecnológico não há como afastar a
aplicação das normas do referido ramo, em especial sob o enfoque das relações
intersubjetivas.

Assim o presente trabalho tem como objeto a análise dos direitos reais na atual
condição que se encontra, bem como o confrontar uma possível aplicação da boa-fé
objetiva em referidas relações.

Para ser tracejado um caminho assertivo, importante se faz constar que


galgaremos alguns pontos fundamentais de tal forma a ser possível extrair o objetivo
fundamental do presente trabalho.

Assim, inicialmente, será examinada a evolução legislativa dos referidos


institutos, bem como a suas características gerais. Tal cortejo desse processo
evolutivo permitirá a melhor compreensão do instituto e seus efeitos atuais.

Após tal estudo adentraremos no paradigma da boa-fé objetiva que permeia


todo o direito e traz seus nítidos reflexos ao direito real.

8PENTEADO, Luciano de Camargo. Direito das Coisas. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2ª ed, p.
32, 2008.
15
Por fim, será verificada a aplicação da boa-fé objetiva às situações jurídicas
reais, bem como e seus reflexos em seu atual enquadramento no sistema jurídico
normativo.

Para a elaboração do referido trabalho científico, os métodos de pesquisa


utilizados será inicialmente o dedutivo9, fazendo referência às leis referentes ao tema,
bem como, utilizando de artigos específicos, doutrinas e ainda analogia, costumes, e
aos princípios gerais do direito.

Já em um segundo momento será utilizado o método indutivo 10 partindo de


dados particulares e localizados, podendo ser obtidas conclusões mais amplas e
genéricas do que os dados e premissas de quais derivam. Por fim, porém não menos
importante, será utilizado o critério empírico, segundo o qual tem os seguintes critérios
de pesquisa:

Pesquisou-se no site do Superior Tribunal de Justiça, Acórdãos Repetitivos,


Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou Informativos
de Jurisprudência que apresentassem relação temática aos tópicos da presente tese,
bem como, da existência ou não do reconhecimento da boa-fé objetiva.

A premissa inicial para ensejar a busca dos temas, ou seja, dos julgados
relacionados à tese, foi entrar em contato com o departamento central de pesquisa de
jurisprudência do site: http://www.stj.jus.br.

Nesse departamento, obteve a informação de que a busca deveria se pautar


em restringir a pesquisa, pela utilização da informação a partir da vigência do Código
Civil de 2002, ademais, deveria contar com a conjunção “e” a fim de que as palavras
buscadas não fossem variáveis.

Desta forma, a pesquisa realizada, obteve como palavras-chave “boa-fé


objetiva e propriedade”, “boa-fé objetiva e condomínio edilício”, “boa-fé objetiva e

9 GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; FONSECA DIAS, Maria Tereza. (RE) pensando a pesquisa
jurídica. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 23.
10 Idem.

16
loteamentos fechados”, “boa-fé objetiva e propriedade resolúvel” etc., conforme os
termos indicados pela central de pesquisas do Superior Tribinal de Justiça, para busca
de julgados.

Assim, foram 156 (cento e cinquenta e seis) resultados obtidos, ora as palavras-
chave buscadas apresentavam relação temática, ora não, ora apresentava a
indicação da presença da boa-fé, ora não.

Portanto, a fim de restringir a temática, os casos em que nas buscas não


apresentaram relação temática, este resultado negativo foi imediatamente descartado
quanto da insignificância da existência da boa-fé ou não.

Todavia, se da busca realizada houvesse a apresentação de Acórdãos,


Decisões ou Informativos de jurisprudência, por exemplo, foi verificada a existência
ou não do julgamento pautado na boa-fé, ou não.

Ou seja, analisou se o Excelso Superior Tribunal de Justiça pauta suas


decisões - desde que com relação temática - às vistas da boa-fé objetiva.

Ademais imperioso destacar que a busca foi realizada como data final o dia
01/07/2017, momento qual findou a pesquisa junto ao site do Superior Tribunal de
Justiça. Sendo essas considerações iniciais, passamos às temáticas.

17
CAPÍTULO 1 – OS DIREITOS REAIS E O DIREITO POSITIVADO

1.1. ETIMOLOGIA E NOÇÃO DA PALAVRA “DIREITOS REAIS”

Para Limongi França11, o termo Real tem origem na palavra latina res, que
significa “coisa”. Esse era o precedente Romano, segundo o qual, a coisa poderia até
ser sinônimo de bem.

O conceito de Direito Real no dicionário jurídico de Maria Helena Diniz 12 trata


do quanto segue:

Direito civil. Trata-se do jus in re, ou seja, do poder imediato


sobre a coisa. É uma relação entre o homem e a coisa corpórea
ou incorpórea que contém um sujeito ativo, uma coisa e a
inflexão imediata daquela sobre esta. É oponível erga omnes,
isto é, a quem quer que seja, havendo uma relação jurídica entre
o titular e toda humanidade, que fica obrigada passivamente a
respeitar o direito do sujeito ativo. Com isso seu titular tem ação
real e direito de sequela contra quem injusta ou indistintamente
detiver a coisa. Portanto, o direito real é o direito subjetivo de ter
como seus objetos materiais ou coisas corpóreas ou incorpóreas
(Goffredo Telles Jr.)

Para De Plácido e Silva13, Direito Real pode ser conceituado nos seguintes
termos:

Direito Real. Assim se diz da relação jurídica que atribui ou


investe a pessoa, seja física ou jurídica, na posse, uso e gozo
de uma coisa, corpórea ou incorpórea, que é de sua
propriedade.

11 FRANÇA. Rubens Limongi. Instituições de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 1988. p. 341.
12 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. 2ª ed. rev. e atual. e aum. São Paulo: Editora Saraiva,
2005. p. 203.
13 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1973. Vol. II, D-I. p.

543.
18
Em virtude do mencionado, pode ser anotado que o conceito de direito real é
complexo, e que se relaciona com outros ramos do direito civil.

Em continuidade, não há outra forma de tratar do tema sem alocar que os


Direitos Reais são um ramo do Direito Civil, ao lado se outros, como Obrigações e
Família14, porém não é só, há de se questionar se existe diferença entre os institutos
denominados bem e coisa.

Nesse sentido, o conceito de bem e coisa sempre foram apresentados pela


doutrina de forma controvertida15, pois, não cabe Lei necessariamente conceituar
institutos.

Para Caio Mário16, bem é tudo que nos agrada, como dinheiro, casa, a herança
de um parente, direito a sua integridade moral e física. Todavia os bens jurídicos são
aqueles que se ponde integrar no patrimônio do sujeito tendo expressão patrimonial
ou não, como por exemplo respectivamente, uma casa ou nome.

Assim, a questão por evidente resta não pacificada, pois, se verifica na doutrina
notória oscilação, tanto é assim que para parte dessa17 bem é gênero a qual coisa é
uma espécie. Nesse exato pensamento Limongi França18 anota: “dada a latitude que
se define as coisas, vê-se que preferiu a referência às coisas à referência dos bens
(...) tomar bem como uma noção mais genérica, englobando toda a realidade que
possa ser objeto do direito”

14 Nessa toada, se faz necessário anotar, que na origem histórica do instituto não havia essa distinção,
pois, os Direitos Reais somente eram uma categoria de direitos subjetivos. LEITÃO, Luís Manuel Teles
de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015. p. 11.
15 PEREIRA. Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980.

Vol. IV. p. 346.


16 Idem, p. 347.
17 MAGALHÃES, Lúcia Regina Esteves de. Direitos Reais na Atualidade. Série Aperfeiçoamento de

Magistrados. Rio de Janeiro: Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ, 2013.
Disponível em: <http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/16/
direitosreais_63.pdf>. Acesso em: 08 mar. 2017.
18 FRANÇA. Rubens Limongi. Instituições de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 1988. p. 341.

19
Já para Maria Helena Diniz19 e Silvio de Salvo Venosa20, o caminho seria o
inverso, ou seja, coisa é gênero, segundo o qual bem é espécie.

Nos termos do apresentado na Codificação Civil, bem como pautada na


legislação e doutrina Alemã21 é possível entender que bem é gênero, vez que Livro II
do da Codificação de 2002 é denominado “Dos Bens”, já a coisa, seria uma espécie
alocada no Livro III, neste último conceito, enquadram-se apenas as utilidades
corpóreas ou materiais.

Levando-se em consideração esses aspectos, existe uma forte relação entre


bem e coisa, segundo a qual até mesmo os conceitos dos institutos acabam
convergindo em uma mesma ideia, porém pode ser extraído que bem é gênero o qual
coisa é espécie cabendo esse último somente para coisas corpóreas ou materiais.

Outra impressão terminológica se faz colocada por Ascenção22 da distinção


entre o Direito das Coisas e Direitos Reais. Lembra referido autor que na Alemanha,
usa-se a designação Sachenrecht23 com significado literal Direito das Coisas utilizado
pela opção legislativa Brasileira.

Meneses Leitão24 anota que os Direito Reais visam distinção dicotômica da


composição romana das ações reais e pessoais, já os Direitos das Coisas regulam a
atribuição das coisas corpóreas com eficácia real perante terceiros.

Retomando a ideia de Ascenção25 anota que por uma questão sistêmica, não
obstante a aproximação entre as propostas terminológicas, tanto um conceito como
outro não são suficientes. Tal situação pode ser sentida nos manuais acadêmicos

19 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: Teoria Geral do Direito Civil. 30ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2013. p. 365.
20 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Direitos Reais. 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 1.
21 SCHAPP, Jan. Direito das Coisas: Sachenrecht. Tradução de Klaus-Peter Rurack e Maria da Glória

Lacerda Rutack. 3ª ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2010. .
22 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p. 17.
23 SCHAPP, Jan. Direito das Coisas: Sachenrecht. Tradução de Klaus-Peter Rurack e Maria da Glória

Lacerda Rutack. 3ª ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2010.
24 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.

p. 15.
25 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p. 17.

20
utilizados hodiernamente, pois utilizam ora o termo Direitos Reais, ora o termo Direito
das Coisas para o tratamento da matéria.

No Brasil, junto ao livro III, do Código Civil, segue na nomenclatura Direito das
Coisas não trata somente dos direitos reais, mas, inclui no referido tratamento o
instituto da posse, que de forma lídima não pode ser tido como direito real.

Transparece ter usado o legislador propositalmente um termo mais amplo para


o referido capítulo, ou seja, ao trabalhar os institutos da posse e direitos reais indicou
que o mesmo caminho seria a situação de gênero e espécie, segundo a qual o direito
das coisas é gênero, e, posse e direitos reais são espécies. Caminho esse seguido
na presente tese.

Tendo em vista os aspectos observados, há ainda uma questão no Direito


Nacional terminológica que pode ser observada, segundo qual os Direito das Coisas
e Direitos Reais não podem ser confundidos. Pois conforme pode ser extraído da
organização dos livros e matérias estabelecidas na atual codificação a nomenclatura
Direito das Coisas não trata somente dos direitos reais, mas, inclui no referido
tratamento o instituto da posse. Assim, sendo os direitos reais uma fração do campo
de atuação do Direito das Coisas.

Outros conceitos importantes dos quais devem ser aventados, tendo em vista
o forte elemento correlato com os direitos reais, - de forma arrazoada -, são eles: o
conceito de propriedade, patrimônio e domínio.

Inicialmente conceituar propriedade é um trabalho árduo, pois o legislador não


conceituou, cabendo assim a doutrina referida tarefa, nesse sentido vale a citação de
Gustavo Tepedino26:

A redescoberta do direito civil, que se intensificou desde então


de maneira impressionante, deve muito a estes queridíssimos
decanos. Construíram os alicerces da dogmática do direito civil

26 TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil – TOMO II. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 386.
21
brasileiro atual, instigaram com suas obras o interesse de todas
as gerações de estudiososa que se dedicaram ao ensino
jurídico. O Professor Caio Mário, que pontificou por tantos anos
entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, sistematizou de maneira
formidável o direito civil, ao mesmo tempo que suscitava em
seus leitores, mesmo nos mais jovens acadêmicos, o ímpeto
invencível pelo estudo aprofundado dos temas por ele tratados.
O Professor Silvio Rodrigues, com sua didática insuperável,
formou dezenas de turmas na Universidade de São Paulo,
espairando por todo o Brasil a afeição pelo direito civil. Aqueles
seus livros de capa azul são ainda conduzidos com devoção por
milhares de admiradores.

Desta forma não é possível deixar de registrar a importância da doutrina na


construção do Direito e não se vislumbra outra forma mais assertiva de enfrentar a
presente temática, sem fazer as devidas referências nesse sentido. Assim, para Clóvis
de Beviláqua27:

O conceito da propriedade coletiva, familial, ou privada, não


pode ser idêntico; mas, em todos esses regimes, que
representam a evolução do fenômeno econômico-jurídico da
propriedade, há uma idéia essencial comum, no obstante as
profundas diferenças que os caracterizam. Economicamente, é
a utilização das forças naturais, e depois também das psíquicas,
para a satisfação das necessidades humanas, reduzidas, nos
primeiros tempos, e variando infinitamente, com o envolver da
cultura. E, juridicamente, é a segurança, que o grupo social
oferece a essa utilização. A utilização assim assegurada é o
poder atribuído a um sujeito e cuja extensão e intensidade
variam. As coisas utilizadas são bens.

27 BEVILÁQUA. Clóvis. Direito das Coisas. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 1951. p. 155.
22
Já para o professor Silvio Rodrigues28 “a propriedade representa a espinha
dorsal do direito privado, pois o conflito de interesses entre os homens, que o
ordenamento jurídico procura disciplinar, manifesta-se, na quase generalidade dos
casos, nas disputas sobre bens”.

Dessa forma, não se pode negar que a propriedade é um direito real, ou seja,
de um direito qual recai diretamente sobre a coisa e independe, para o seu exercício,
de prestação de quem quer que seja.

Nesse sentido, Maria Helena Diniz29 pontua: “a propriedade é a relação


fundamental do direito das coisas, abrangendo todas as categorias dos direitos reais,
girando em seu torno todos os direitos reais sobre coisas alheias, sejam direitos reais
limitados de gozo ou fruição, sejam os de garantia ou de aquisição”. Já para Cristiano
Chaves de Farias e Nelson Rosenvald30, pontuam assertivamente:

A propriedade é um direito complexo, que se instrumentaliza


pelo domínio, possibilitando ao seu titular o exercício de um feixe
de atributos consubstanciados nas faculdades de usar, gozar,
dispor e reivindicar a coisa que lhe serve de objeto (art.1228 do
CC). A referida norma conserva os poderes do proprietário nos
moldes tradicionais. (...) Na Constituição Federal o termo de
propriedade é conceituado de forma bem mais ampla do que no
Código Civil, servindo a qualquer espécie de titularidade aferível
patrimonialmente. Em verdade a Lei Maior tutela diversas
propriedades. A garantia do direito de propriedade não se limita
por conseqüência ao direito real, mas também incide em direitos
e obrigacionais, de conteúdo patrimonial. (...) Enfim,
perceberemos quando do estudo da função social, que a
disciplina do diversos moldes de propriedade é examinada e

28 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Direito das Coisas. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002. Vol. 3. p.
76-77.
29 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 4: Direito das Coisas. 20ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2004. p. 104.


30 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen

Júris, 2007.
23
concretizada a luz da promoção do princípio da solidariedade,
sobre o qual se alcança a dignidade da pessoa humana no plano
dos direitos reais.

De todos os apontamentos apresentados quanto a construção de uma possível


construção do conceito de propriedade, pode ser afirmado com clareza que nenhum
deles encontram-se equivocados; não obstante, se faz necessário entender - como
muito bem colocado pela doutrina31 – que a evolução do fenômeno econômico-jurídico
da propriedade32, sempre deve ser observada nos termos do fato histórico e social,
qual também deve ser acompanhado para os Direitos Reais.

Em continuidade, não nos termos anotado acima, Limongi França 33 discorre


duas acepções do direito de propriedade. A primeira, em um sentido amplo recaindo
sobre coisas corpóreas como incorpóreas, bem como, uma segunda situação, qual o
direito de propriedade recai exclusivamente sobre coisas corpóreas, que tem a
denominação peculiar de domínio.

Desta colocação pode ser notada a clara distinção entre a noção de


propriedade, mostra-se, destarte, mais ampla e mais compreensiva do que a de
domínio, segundo a qual, somente recai sobre coisas corpóreas.34

Por fim, porém não menos importante, temos a nomenclatura utilizada no


instituto do patrimônio. Cumpre registrar que no passado, a doutrina35 – economicista
devido ao positivismo de Comte – entendia que patrimônio era apenas a
representação econômica da pessoa.

31 BEVILÁQUA. Clóvis. Direito das Coisas. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 1951. p. 155.
32 PENTEADO, Luciano de Camargo. Direito das Coisas. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2ª ed,
2008.
33 FRANÇA. Rubens Limongi. Instituições de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 1988.
34 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: Direito das Coisas. 37ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2003. Vol. 3. p. 83.


35 PEREIRA. Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980.

Vol. IV. p. 396.


24
Referido conceito tem como base o momento histórico nos quais a burguesia,
ao ascender ao poder político no período iluminista compreendido entre o final do
século XVIII e a primeira metade do século XIX consagrou no plano jurídico apenas
valores que refletissem os ideais do novo sistema capitalista36 baseado na doutrina
de Adam Smit37,38.

Nesse mesmo sentido Clóvis Beviláqua39: patrimônio é "o complexo das


relações jurídicas de uma pessoa, que tiverem valor econômico". Não obstante, pode
ser afirmado que o patrimônio é a universalidade de direitos e obrigações vinculada à
determinada pessoa.

Desta forma, anota a doutrina40 que não obstante a natureza nitidamente o


patrimônio tenha característica economia, essa ainda pode contar a feição ou
extensão distinta da ideia pecuniária, embora sem valor venal pode representar uma
utilidade simplesmente moral com valor de afeição para o seu proprietário

Assim, de acordo com a doutrina mais recente de Cristiano Chaves de Farias


e Nelson Rosenvald41, verifica-se que há uma preocupação com o ser humano,
verificam também o patrimônio moral, relacionado em conjunto dos direitos da
personalidade.

Dada visão é a base do estatuto jurídico do patrimônio mínimo, desenvolvida


pelo Luiz Edson Fachin42. Com fulcro no princípio da dignidade da pessoa humana da
Carta Magna, há necessidade imperiosa de o ordenamento jurídico civil observar um
mínimo de patrimônio a cada pessoa, a fim desse indivíduo levar uma vida digna,
como exemplo, cita-se o instituto do Bem de Família.

36 PEGHINI, Cesar Calo. A função social da propriedade no Código Civil e na Constituição Federal.
Revista Forense, São Paulo, vol. 404, p. 43-105, 2009.
37 SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: Livro I. Tradução de Maria Teresa de Lemos Lima, Curitiba:

Juruá. 2006.
38 SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: Livro II. Tradução de Maria Teresa de Lemos Lima, Curitiba:

Juruá. 2007.
39 BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria geral do Direito Civil. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1975. p. 209.
40 HUNGRIA. Nelson. Comentários ao Código Penal: Artigos 155 a 196. São Paulo: Forense, 1955.

Vol. VII. p. 9.
41 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Reais. 11ª ed. São

Paulo: Atlas, 2015. Vol. 5. p. 253.


42 FACHIN, Luiz Edson. Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo. 2ª ed. São Paulo: Renovar, 2006.

25
Em virtude do que foi mencionado não é possível confundir os institutos da
propriedade, domínio e patrimônio uma vez que não obstante sua proximidade, pois
a propriedade um sentido amplo recaindo sobre coisas corpóreas como incorpóreas.
Já por sua ver o domínio recai exclusivamente sobre coisas corpóreas, e por fim, o
patrimônio tem relação ao complexo das relações jurídicas de uma pessoa que não
necessariamente guarda relação econômica em seu escopo de formação.

1.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

1.2.1. Direito Romano

O Direito Romano não conhecia a distinção entre direitos obrigacionais e


direitos reais, mas, distinguia dos grandes núcleos de ações ditas como as actiones
in rem (dentre outras a ação reivindicatória) e, as actiones in personam43. Nesse
sentido por ser retirado das institutas de Gaius44:
§ 1. ______ | __ quot genera actionum sint, uerius uidetur duo
esse, in rem et in personam; nam qui IIII esse dixerunt ex

43 ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978. Vol. I. p. 352.
44 NEW YORK. G A I – Institvtiones or Institutes of Roman Law by Gaius. London: Edinburgh,
MDCCCCCIV. p. 442-443. (...) § 1. We have now to treat of Actions, which according to the better view
fall into two classes, being either Real or Personal: for those who count four classes, including the forms
of sponsio, commit the error of co-ordinating sub-class with classes § 2. A Personal action is na action
which seeks to enforce na obligation imposed on the defendant by his contract or delict, that is to say,
is na action by which one claims in the intentio of the formula that he is bound to convey some property
too ne, or to perform for one some servisse, or to make some other kind of performance. § 3. A Real
action is na action by which one claims as one’s own in the intentio some corporal thing or some
particular right in the thing, as a right of use or usufruct of a thing belonging to a neighbour, or a right of
horse-way or carriage-way through his land, or of fetching water from a source in his land, or of rainsing
one’s house above a certain height, or of having the prospect from one’s Windows unobstructed; or
when the opposite party (that is the owner) brings the negative action asserting that there is no such
right in the thing. § 4. Real and Personal actions being thus distinghuished, it is clear that I cannot,
demand my own property from another in the following form; ‘If it be proved that the defendant is bound
to convey such property to me.’ For what is already, my own cannot be conveyed to me, since
conveyance to me makes a thing mine, and what is already mine cannot be made mor mine than it is.
Yet, to show the law’s detestation of thieves, in order to make them liable to a greater number of actions,
it is received doctrine that besides the penalty of twice the value of the thing stolen awarded against the
thief not cought in the act, and the penalty of four times the value against the thief caught in the act,
damages for the thing itself may be recovered by a personal action in which the contention is thus
defendant ought to convey the thing in question, ‘although they are also liable to be sued by na action
with the intentio thus formulated: ‘If it be proved tha the plaintiff is owner of the thing in question.’ § 5. A
Real action is called vindicatio; a Personal action whereby we contend that some property shold be
conveyed to uso r some servisse performed for us, is called condictio. § 6º. We sue sometimes only to
obtain property, sometimes only for a penalty, sometimes both for property and for a penalty. § 7. We
sue, for instance, only for property in actions founded on contract. § 8. We sue, for instance, only for a
penalty in the action of Theft ando f Outrage, and, acoording to some, of Rapine; for we may obtain
restitution on account of the thingitself either by vindicatio or condictio. (...)
26
sponsionum generibus, non animaduerterunt quasdam species
actionum inter genera se rettulisse. Inst. 4, 6, 1. § 2. In personm
actio est, qua agimus cum aliquo, qui nobis uel ex contractu uel
ex delicto obligatus est, id est cum intendímus DARE FACERE
PRAESTARE OPORTRE. Inst. 1. c. (...) § 3. In rem actio est,
eum aut corporalem rem intendimus mostram esse, aut ius
aliquod nobis conpetere, ueluti utendi aut utendi fruendi, eundi
agendi aquamue ducendi uel altius tollendi prospiciendiue; <aut
cum> actio ex diuerso aduersario est netatiua. Inst 1. c. § 4. Sie
itaque discretis actionibus certum est non posse nos rem
mostram ab alio ita petere SI PARET EVM DARE OPORTERE,
nec enim quod nestrum est nobis dari potest, cum seilicet id dari
nobis intellegatur, quod <ita datur, ut> nostrum fiat; nec res quae
<mostra iam est> mostra amplius fieri potest. plane ódio furum,
quo magis pluribus actionibus teneantur, receptum est, ut extra
poenam dupli aut quadrupli rei recipiendae nomine fures etiam
hac actione teneantur SI PARET EOS DARE OPORTERE,
quamuis sit etiam aduersus eos haec actio, qua rem mostram
esse petimus. Inst. 4, 6, 14. § 5. Appellantur autem in rem
quidem actiones uindicationes, in personam uero actiones,
quibus DARI FIERIVE OPORTERE intendimus, condictiones.
Inst. 4, 6, 15. § 6. Agimus autem interdum, ut rem tantum
consequamur, interdum ut poenam tantum, alias ut rem et
poenam. Inst. 4, 6, 16. § 7. Rem tantum persequimur uelut
actionibus, <quibus> ex contractu agimus. Inst. 4, 6, 17. § 8.
Poenam tantum persequimur uelut actione furti et iniuriarum et
secundum quorudam opinionem actione ui bonorum raptorum;
nam ipsius re et uindicatio et condctio nobis copetit. Inst. 4, 6, 18.
(...)

27
Assim, nas institutas de Gaio e Justiniano pode ser retirada a base polarizada
nos textos da vindicatio e da actio45,46,47, bem como nessa toada, a actio, tem como
base uma determinada pessoa obrigada por uma prestação; por sua vez a vindicatio,
tem forte referencial nas questões de violação de direitos como família, sucessões e
direito reais48.

Uma outra grande classificação para o tema em referência, relaciona-se com


os poderes atribuídos ao iudex para decidir o litígio. Referida classificação tem como
elemento três planos distintos as ações de direito estrito - iudicia stricti iuris -, ações
arbitrárias e ações de boa-fé - iudicia bonae fidei - 49.

Respectivamente, a ações em sentido estrito está relacionada com a situação


segundo o qual o iudex somente se encontra rigorosamente vinculado a absolver ou
condenar o réu, enquanto a segunda, o juiz deve convida o réu a “devolver a coisa”
antes da condenação. Por fim, porém não menos importante a ações de boa-fé
segundo o iudex tem mais poder para apreciar os fatos mais livremente, julgando ex
fide bona (de acordo com a boa-fé)50.

Sendo assim, a categoria de Direito Reais tem origem nas actiones in rem, que
corresponde atualmente aos direitos cujo incidem sobre as coisas, segundo qual, a
atual característica unitária correspondente à denominada eficácia real51-52.

45 ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978. Vol. I.
46 NÓBREGA. Vandikc, Londres da. História e Sistema do Direito Privado Romano. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1995.
47 BUNAZAR. Maurício. Obrigação Propter Rem: Aspectos Teóricos e Práticos. São Paulo: Editora

Atlas, 2014. p. 27.


48 VARELA, João de Matos Antunes. Das Obrigações. 10ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2000. Vol.

I. p. 165.
49 ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978. Vol. I. p. 316.
50 Idem, p. 317.
51 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.

p. 12
52 Em especial quanto aos direitos reais de garantia anota a doutrina pontua que essas modalidades

não são comuns ao cotidiano romano, pois a fiança seria o meio mais importante de garantia dos
créditos, tendo em vista seu significado prático e configuração técnica. COSTA JUNIOR, Francisco
José de Almeida Prado Ferraz. As garantias reais no Direito Romano. Revista de Direito Imobiliário,
Santa Catarina, vol. 77, p. 13-28, jul.-dez. 2014.
28
Todo o desenvolvimento posterior53 assentará no estudo dos direitos pessoais
e direitos reais, ainda que não exista expressa referência do termo direito real, no
Direito Romano54.

Por todos esses aspectos se faz possível afirmar que no direito romano não
havia uma distinção, mas sim as actiones in rem (dentre outras a ação reivindicatória)
e, as actiones in personam55,56 segundo a qual a questão era analisada pelo campo
do do exercício de uma ação. Assim, a categoria de Direito Reais tem origem nas
actiones in rem, que corresponde atualmente aos direitos cujo incidem sobre as coisas
que reflete em todo o desenvolvimento posterior.

Porém não é só, outra constatação importante no direito romano tem relação
aos poderes atribuídos ao iudex para decidir o litígio. Segundo o qual pode ser
extraído a possiblidade daquele em determinadas demandas, o iudex ter mais
poderes para apreciar os fatos livremente, julgando ex fide bona (de acordo com a
boa-fé).

1.2.2. Os Direitos Reais do Direito Medieval até a Pré-codificação nacional

Não obstante a configuração romana, os juristas medievos impuseram à


construção romana um elemento interessante que segue até a modernidade. Qual
seja, se toda a ação tem por pressuposto um direito, desloca-se a questão para o
direito subjetivo, iniciando a ideia da ius in rem e ius in personam57, ou seja, o direito
recai sobre uma coisa ou uma determinada prestação.

53 Nesse sentido: “O Direito Romano está nas bases de todos grandes Códigos ocidentais, bem assim
dos orientais como o do Japão e o da China, devendo chamar-se, ao seu conjunto, de “sistema
romano”, em substituição à errónea perspectiva segundo a qual corresponderia a um extrapolado
“sistema francês”. 3. Os Códigos Civis e de Direito Privado de toda América Latina, desde os primeiros
até os mais recentes e avançados, assentam as suas bases nos princípios fundamentais oriundos do
Direito Romano.” FRANÇA, Rubens Limongi. Recepção do Direito Romano no Direito Brasileiro.
Doutrinas Essenciais de Direito Civil, vol. 1, p. 963, 2010.
54 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p. 135.
55 ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978. Vol. I. p. 352.
56 VARELA, João de Matos Antunes. Das Obrigações. 10ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2000. Vol.

I. p. 165.
57 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p. 135

29
Porém não é só, pois, historicamente o papel dos Direitos Reais se confunde
com Direito Civil, bem como o instituto da propriedade - em especial o mais relevante
deste -, tem tratamento especifico na Idade Média.

Como é sabido, com a queda do Império Romano pelos bárbaros, se fez


necessária uma nova fórmula de exploração da terra58. Referido fenômeno histórico
percorreu uma longa evolução, segundo a qual, o servo inicialmente, não tinha direito
algum sobre a terra, para ao final se tornar proprietário pleno59.

Nesse ínterim, - de forma muito pontual -, inicialmente os donos das terras


mantinham para si a propriedade não atribuindo qualquer direito ao cultivador direto.
Todavia, a questão historicamente se agravou por falta de mão de obra, que resultou
na necessidade de outorgar aos cultivadores alguns direitos. Tais direitos, visavam a
proteção do cultivador frente ao senhorio, que após um longo desenrolar econômico
possibilitou a figura da enfiteuse e conceitos jurídicos como domínio direto
(concedente) e domínio útil (enfiteuta)60.

Dada situação, perdura até o advento da Revolução Francesa, pois nos termos
dos objetivos liberais, afasta-se por vez a figura do senhorio de forma definitiva, tendo
em vista os encargos decorrentes da utilização da terra61.

Nesse momento, reformula-se o conceito de propriedade atribuindo a mesma


uma caraterística absoluta, bem como com seus nítidos desdobramentos conhecidos
ius utendi, fruendi et abutendi62.

Deve ficar anotado que o direito privado do dado momento foi marcado por um
momento de codificações, bem como de ideologia da propriedade privada absoluta e
pela ampla liberdade contratual como instituto auxiliar para facilitar as transferências
e a criação de riqueza.

58 OLCESE, Tomás. Formação histórica da real property Law inglesa: tenures, estates, equity &
trusts. São Paulo: USP, 2012. 186 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Universidade de São Paulo,
Faculdade de Direito.
59 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p. 136.
60 Idem.
61 Idem, p. 138.
62 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p. 138.

30
Nesse sentido, a doutrina63 aponta a ideologia jurídica da seguinte forma:

Podemos denominar de “ideologia dos 3 cs“: pretende-se que a legislação civil


(leia-se, os códigos) seja completa, clara e coerente. A ideologia da completude
significa que a legislação é (supostamente) completa, não possuindo lacunas; a idéia
de legislação caracterizada pela sua clareza significa que as regras jurídicas são
facilmente interpretáveis, não contendo significados ambíguos ou polissêmicos. E a
ideologia da coerência afasta a possibilidade de antinomias. Tudo isso deriva do mito
do legislador iluminista, inteligente, onisciente, previdente, capaz de tudo regular
detalhadamente, antecipadamente, de forma clara e sem contradições.

Compre registrar que referidos elementos foram reproduzidos de forma


evidente nos primeiros Códigos Civis64 da era moderna, sendo eles o Código Civil
Francês (1804)65, e Código Civil Alemão (1896)66. Deve ser lembrado que ambos os
diplomas visavam combater o absolutismo Estatal, eram patrimonialistas e
individualistas, realidade apresentada pelo período as quais foram promulgados.

Dado o exposto deve ser anotado que o os direitos reais no direito medieval até
a pré-codificação nacional sofreram duas fortes influencias a primeira delas que toda

63 FACCHINI NETO, Eugênio. A Constitucionalização do Direito Privado. Revista do Instituto do


Direito Brasileiro, Lisboa, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, ano 1, nº 1, 2012.
Disponível em: <http://www.cidp.pt/publicacoes/revistas/ridb/2012/01/2012_01_0000_Capa.pdf>.
Acesso em: 05 jul. 2017.
64 Sobre a codificação é importante anotar que: “A codificação é um movimento jurídico aparecido no

Ocidente no século XIX, em função do qual os direitos ocidentais, quanto à forma, se dividem em:
Direito continental ou codificado que compreende o grupo francês, tendo por ponto de partida o Código
de Napoleão (Code Civil des Français), e o grupo alemão; e so sistema comum law ou do grupo Anglo-
Americano. O movimento, apesar de não ser muito antigo, pois data de pouco mais de um século, foi
conhecido desde a Antigüidade. A história do Direito Romano processa-se entre duas codificações: a
Lei da XII Tábuas e o Corpus Juris de Justiniano. Na Suméria existiram codificações famosas. Até bem
pouco tempo, era tido o Código de Hamurabi como a mais antiga codificação. Entretanto, em 1948,
outro código mais antigo foi descoberto, o Código de Ur-Namu.” OLIVEIRA, Adriane Stoll de. A
codificação do Direito. Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina, 03 mar. 2011.
Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/11087-11087-1-PB.pdf>.
Acesso em: 14 fev. 2017.
65 FRANÇA. Code Civil Napoleon (1840). Bibliothèque nationale de France. Disponível em:

<http://geneaduclos.free.fr/docs/Code%20Civil%20des%20Francais_1804.pdf>. Acesso em: 28 set.


2016.
66 ALEMANHA. Bürgerliches Gesetzbuch (BGB). Bundesministerium de Justiz und für
Verbraucherschutz, [s.d.]. Disponível em: <https://www.gesetze-im-internet.de/bgb>. Acesso em: 22
set. 2016.
31
a ação tem por pressuposto um direito, desloca-se a questão para o direito subjetivo,
iniciando a ideia da ius in rem e ius in personam, ou seja, o direito recai sobre uma
coisa ou uma determinada prestação.

Já em segundo momento, é possível afirmar que os direitos reais se confundem


no referido período com propriedade, segundo a qual foram dois movimentos claros
tidos como anterior e posterior a revolução francesa, segundo qual o servo
inicialmente, não tinha direito algum sobre a terra, para ao final se tornar proprietário
pleno.

1.2.2.1. Direitos Reais na pré-codificação nacional

Brasil enquanto colônia portuguesa, encontrava-se sobre a égide dos diplomas


legais de Portugal, ou seja, a aplicação de toda a legislação lusitana, tinha seus
devidos efeitos em vigor dentro do território brasileiro que se inicia com a concessão
de terras pelas sesmarias do Século XVI67, até a sua separação jurídica que ocorrerá
em 1822 com a independência do Brasil.68

Em continuidade, não obstante a Independência do Brasil ter ocorrido, deve ser


registrado que nos termos da Lei Imperial de 20 de outubro de 1823, determinou o
mantenimento da legislação do Reino de Portugal, no Direito pátrio.69, 70

67 MAGALHÃES, Lúcia Regina Esteves de. Direitos Reais na Atualidade. Série Aperfeiçoamento de
Magistrados. Rio de Janeiro: Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ, 2013.
Disponível em: <http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/16/
direitosreais_63.pdf>. Acesso em: 08 mar. 2017.
68 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. O Direito Real de Superfície. Revista dos Tribunais, São Paulo,

1993. p. 45.
69 Neste sentido: TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões.

Arts. 1.277 a 1.389. In: ALVIM, José Manuel de Arruda; ALVIM Thereza (org.). Comentários ao Código
Civil Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2004. Vol. 12.
70 CAVALCANTI, Marise Pessoa. Superfície compulsória: instrumento de efetivação da função social

da propriedade. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 30.


32
A legislação aplicada tem como marco referencial três momentos, o primeiro
deles – em razão da ordem cronológica – as Ordenações Afonsinas, em um segundo
momento analisaremos ainda as Ordenações Manuelinas e por fim Filipinas71.

Com intuito de alocar o presente estudo temporalmente72, bem como fazendo


um breve apontamento quanto à vigência das Ordenações no Brasil, verifica-se que
as Ordenações Afonsinas tiveram seu início de vigência em 1500, com o
descobrimento do Brasil, não obstante ser datada de 1446.

Ato seguinte em 1514, deu-se início as Ordenações Manuelinas que


perduraram até 1603, com o início de vivencia das Ordenações Filipinas. Por fim, deve
ser registrado que a Consolidação das Leis Civis aproveitou parte significativa deste
último diploma português73.

1.2.2.2. Ordenações Afonsinas

O Direito Português antigo, tem como influência o Direito Romano, Direito


Germânico e o Direito Canônico. Tais fontes, foram sustentáculos para elaboração do
da primeira codificação portuguesa, ou seja, as Ordenações Afonsinas de 1446.

Neste sentido, pontua Marcus Vinicius dos Santos Andrade74:

O ordenamento português, a partir de então, teve como base


cultural o direito romano e leis esparsa promulgadas pelos reis,
além de normas consuetudinárias. Posteriormente, em 1446 ou
1447, veio a primeira codificação, conhecida por Ordenanças

71 OLIVEIRA, Adriane Stoll de. A codificação do Direito. Santa Catarina: Universidade Federal de
Santa Catarina, 03 mar. 2011. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/
anexos/11087-11087-1-PB.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2017.
72 MAZZEI, Rodrigo Reis. O direito de Superfície no Ordenamento Jurídico Brasileiro. São Paulo:

PUC-SP, 2007. 404 f. Dissertação (Mestrado em Direito), Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. p. 92.
73 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação

urbana. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 56.


74 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade.

Curitiba: Juruá, 2009. p. 45.


33
Afonsinas, congregando não só essa legislação nacional,
esparsa, consolidando costumes, mas, de outro lado o direito
romano subsidiariamente aplicado

Conforme pode ser apercebido, não obstante a influência do Direito Alemão,


não há registro claro dos direitos reais. Tal situação é muito clara tendo em vista a
organização política, segundo a qual havia o nítido binômio de exploração do vassalo
pelo senhor feudal75.

1.2.2.3. Ordenações Manuelinas

Em continuidade, o então Rei de Portugal, D. Manuel, em 1512, manda editar


as Ordenações Manuelinas, trabalhos este, que somente fora concluído em 1521 com
a duplicidade das primeiras duas edições de 1512 e 1514. Pontua Marcus Vinicius
dos Santos Andrade, que foram editadas as Ordenações Manuelinas, com as mesmas
influencias de um conjunto de normas locais, contudo com a participação dos
glosadores76 teve a existência de vultoso número de leis acompanhada de atos
modificadores das Ordenações Afonsinas.

Em decorrência disto, ou seja, tendo em vista a forte influência das Ordenações


Afonsinas, há pequenas inovações quanto aos direitos reais, mas já pode ser
percebido o instituto das sesmarias e seus desdobramentos como enfiteuse e os
arredamentos77.

75 PORTUGAL. Ordenações Afonsinas. Coimbra: Universidade de Coimbra, [s.d.]. Disponível em:


<http://www.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas>. Acesso em: 22 set. 2016.
76 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da Cidade.

Curitiba: Juruá, 2009. p. 46.


77 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação

urbana. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 60.


34
1.2.2.4. Ordenações Filipinas

Por fim, em 1603 fora publicada as Ordenações Filipinas, quando Portugal se


encontrava sob dominação espanhola, bem como toda as normas aplicadas a este
foram encampadas por aquele 78.

Registra-se que juntamente com as leis extravagantes, tiveram vigência no


Brasil de 1603 até 1916. Sendo que praticamente foram encampadas as regras
anteriores das ordenações que antecederam, ou seja, as sesmarias continuam
previstas em conjunto dos seus desdobramentos como enfiteuse e os arredamentos79.

Dada situação se manteve até 1769 quando foi editada a Lei da Boa Razão,
por Marquês de Pombal que sem revogar as Ordenações Filipinas teve como objetivo
verificar novos critérios ao sistema de fontes do direito português para a aplicação das
normas jurídicas80.

Em virtude do que foi mencionado, os direitos reais na pré-codificação nacional


sofreram forte fluência dos diplomas legais de Portugal, em especial as Ordenações
Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, que de forma pontual contribuíram aos direitos
reais, Tais contribuições foram evidenciadas pela inclusão do instituto das sesmarias
e seus desdobramentos como enfiteuse e os arredamentos tendo em vista seu
contexto histórico.

78 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação
urbana. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 62.
79 PORTUGAL. Ordenações Filipinas. Coimbra: Universidade de Coimbra, [s.d.]. Disponível em:

<http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm>. Acesso em: 22 set. 2016.


80 MACIEL, José Fábio Rodrigues. A Lei da Boa Razão e a formação do direito brasileiro. Jornal Carta

Forense, São Paulo, 03 jun. 2008. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/


a-lei-da-boa-razao-e-a-formacao-do-direito-brasileiro/1668>. Acesso em: 06 jul. 2017.
35
1.2.3. Os Direitos Reais no Direito Pátrio

A história dos Direitos Reais no Brasil começa a traçar suas linhas com a
entrada em vigor da Constituição Imperial de 25 de março de 1824 deliberou, no artigo
179, XVIII,81 a necessidade da elaboração de uma Codificação Civil.

Anotada Constituição previa a elaboração do Código Civil no prazo de um ano,


bem como foram várias tentativas para criação de uma codificação tanto no império
como na república.

Dentre todas as tentativas, deve ser anotado e referenciado Teixeira de Freitas


que foi contratado no ano de 1855 para elaboração inicial de uma Consolidação da
Leis Civis, trabalho esse concluído em 1858 do referido trabalho82.

Nesse sentido, tendo em vista o aproveitamento de elementos apresentados


nas ordenações anteriores, não há grande evolução no que se refere aos Direitos
Reais, restando somente duas referências interessantes.

A primeira delas prevista no art. 62 que dispõe serem bens particulares os


alodiais, bem como as enfiteuses. Já em um segundo momento, tem-se a hipoteca
como elemento referenciado no atr. 1.270 e seguintes, da referida codificação. De
forma primária constam na codificação nacional, os primeiros direitos reais nacionais,
os primeiros de gozo e segundo de garantia83.

Tendo em vista o sucesso da referida obra, Teixeira de Freitas foi indicado para
criação de um esboço ou o que se pode chamar de 1ª Projeto de Código Civil

81 FRANÇA, Rubens Limongi. Recepção do Direito Romano no Direito Brasileiro. Doutrinas


Essenciais de Direito Civil, vol. 1, p. 963, 2010.
82 CAVALHEIRO, Rodrigo da Costa Ratto. A Vida e a Obra e Teixeira de Freitas. Direito no Brasil:

passado e presente - Law in Brazil: Past and Present. Piracicaba, vol. 2, nº 4. 2003.
83 FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das Leis Civis. Brasília: Senado Federal, Conselho

Editorial, 2003. Vol. 2. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/ id/496206>. Acesso em:


22 set. 2016.
36
Brasileiro, elaborado no período de 1860 e 1865, com 5.000 artigos, demonstra um
avanço nas concepções iniciais da Consolidação84

Como é sabido, em razão do avanço de sua obra, está foi rejeitada no Brasil.
Todavia, vale ressaltar que o esboço do Código de Direito Civil Brasileiro de Teixeira
de Freitas foi aproveitado na Argentina85.

Por fim, porém não menos importante, já em 1899, tendo em vista a rejeição
do esboço de Teixeira de Freitas, foi contratado o Clóvis Beviláqua, cujo Código foi
aprovado em 1916 pela Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916.

A codificação sofreu forte influência de do Esboço Teixeira de Freitas, ao


Código Civil Frances, Código Civil Português e até mesmo o Código Civil Alemão,
todavia a ordem do referido momento histórico era prestigiar o patrimonialismo e o
individualismo, característica essas marcantes no Código Civil de 191686.

Nesse sentido, o art. 674 regulamentava que:

Art. 674. São direitos reais, além da propriedade: I - A emfiteuse.


II - As servidões. III - O usofruto. IV - O uso. V - A habitação. VI
- As rendas expressamente constituídas sobre imóveis. VII - O
penhor. VIII - A anticrise. IX - A hipoteca.

Nesses termos, ocorrerá uma grande guinada na regulamentação civil, pois o


rol estabelecido foi ampliado, assim como o desenvolvimento do instituto.

Sentida alteração perpetuou – claro, que com alterações87 - até a entrada em


vigor do Código Civil de 2002.

84 CAVALHEIRO, Rodrigo da Costa Ratto. A Vida e a Obra e Teixeira de Freitas. Direito no Brasil:
passado e presente - Law in Brazil: Past and Present. Piracicaba, vol. 2, nº 4. 2003.
85 CAVALHEIRO, Rodrigo da Costa Ratto. A Vida e a Obra e Teixeira de Freitas. Direito no Brasil:

passado e presente - Law in Brazil: Past and Present. Piracicaba, vol. 2, nº 4. 2003.
86 MARCOS, Rui Figueiredo; MATHIAS, Carlos Fernando; NORONHA, Ibsen. História do Direito

Brasileiro. São Paulo: Gen, 2014. p. 416.


87 Dentre as alterações pode ser citada a lei de alienação fiduciária em garantia de bens móveis

(Decreto-lei nº 911, de 1º de outubro de 1969), alienação fiduciária em garantia de bens imóveis (Lei
nº 9.514, de 20 de novembro de 1997) e o Estatuto das Cidades Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001.
37
Levando-se em consideração esses aspectos, os Direitos Reais no Brasil
começam a traçar suas linhas com a entrada em vigor da Constituição Imperial de 25
de março de 1824 dada a necessidade de criação de uma nova codificação. Tal
codificação de fato somente ocorreria em 1916 pela Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de
1916. Todavia não pode ser deixado de lado a contribuição da obra de Teixeira de
Freitas que influenciou não somente a referida codificação, mas também a legislação
de outros países.

1.3. OS DIREITOS REAIS E SUA ATUAL CODIFICAÇÃO NACIONAL

Na Codificação atual, os Direitos Reais têm previsão expressa no art. 1.225 do


Código Civil de 2002, o qual cabe referência:

São direitos reais: I - a propriedade; II - a superfície;III - as


servidões; IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o
direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a
hipoteca; X - a anticrese. XI - a concessão de uso especial para
fins de moradia; XII - a concessão de direito real de uso; e XIII
- a laje.

Conforme pode ser apercebido, há um rol estabelecido, qual será objeto de


análise posterior, pois como é sabido, existem outros Direitos Reais que não foram
referenciados, como exemplo, a alienação fiduciária em garantia de bens imóveis (Lei
nº 9.514, de 20 de novembro de 1997).

Não obstante deve ser ressaltado que da mesma forma da experiência


portuguesa88, o legislador nacional referenciou um dos Direitos Reais em seu texto,
em especial o instituído do direito de propriedade no art. 5º, segundo o qual no XXII e
XIII dispõe: “é garantido o direito de propriedade e a propriedade atenderá a sua
função social”

88Há previsão da tutela constitucional do Direito de Propriedade no art. 61 nº 1 da Continuação


Portuguesa. LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora
Almedina, 2015. p. 14.
38
Tal situação é uma guinada histórica, tendo em vista o Direito Civil, e em
especial os Direitos Reais até a Constituição Federal de 1988, não se aproximou de
forma efetiva das normas Constitucionais.

Esse nítido distanciamento entre as normas civis e constitucionais permitiu de


forma clara que o Código Civil anterior sobrevivesse há 4 (quatro) Constituições -
Constituição de 1934 (Segunda República); Constituição de 1937 (Estado Novo);
Constituição de 1946; e Constituição de 1967 (Regime Militar), - sem sofrer severas
alterações relevantes89,90,91.

Não obstante, a Constituição de 1988 denominada de constituição cidadã


passa a regular de forma contundente tanto as relações de Direito Público, como
aquelas de Direito Privado, estabelecendo as diretrizes do Direito Civil
fundamentadas, a partir daí na tábua de valores Constitucionais92.

Tais valores são pautados na dignidade, solidariedade, liberdade e igualdade,


e ainda pelos demais direitos referidos nos artigos 1º, 3º, 5º e 7º, do mesmo Codex.

Com essa alteração, alteraram-se ainda os valores Civis, que passam a


proteger a pessoa humana, nos mesmos valores afirmados pela constituição. Logo, a
partir da Constituição Federal de 1988 foi necessária a elaboração de um novo Código
Civil, desta feita, garantista como a constituição93.

89 PONTUAL, Helena Daltro. Uma breve história das Constituições do Brasil. Brasília: Senado
Federal, [s.d.]. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/noticias/especiais/constituicao25anos/
historia-das-constituicoes.htm>. Acesso em: 06 jul. 2017.
90 ABREU, Natasha Gomes Moreira. O mapeamento conceitual da propriedade e sua função social. In:

PAE KIM, Richard; MAFRA, Tereza Cristina Monteiro. Direito Civil Constitucional. XXV Encontro
nacional do CONPEDI - BRASÍLIA/DF, Florianópolis: CONPEDI, 2016. Disponível em:
<http://www.conpedi.org.br/publicacoes/y0ii48h0/kvg8f9o7/Aee4sF54BH85biN1.pdf>. Acesso em: 03
jul. 2017.
91 JELINEK, Rochelle. O princípio da função social da propriedade e sua repercussão sobre o

sistema do código civil. Porto Alegre: PUCRS, 2006. 41 f. Dissertação (Mestrado em Direito) –
Especialização em Direito Ambiental, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Disponível
em: <http://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/rochelle.pdf>. Acesso em: 03 jul. 2017.
92 TARTUCE, Flávio. Direito Civil e a Constituição. In: TAVARES, André Ramos; OLAVO, Augusto

Viana Alves Ferreira; LENZA, Pedro (coord.). Constituição federal 15 anos: mutação e evolução,
comentários e perspectivas. São Paulo: Editora Método, 2003. 43 f. (Texto digitado). Disponível em:
http://www.flaviotartuce.adv.br/artigos/6. Acesso em: 06 jul. 2017.
93 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.

p. 16.
39
Portanto, na Codificação atual, os Direitos Reais têm previsão expressa no art.
1.225 do Código Civil de 2002, bem como pode ser apercebido, não obstante o um rol
estabelecido há outros direitos reais não alocados no referido dispositivo. Porém não
é só, deve ser registrado que a Constituição de 1988 denominada de constituição
cidadã passa a regular de forma contundente as relações de Direito Privado incluindo
temáticas como a dignidade, solidariedade, liberdade e igualdade fundamentais nas
relações intersubjetivas.

1.4. FUNDAMENTO E TEORIAS

Primacialmente Ascenção94 anota que “todo o direito serve objetivos práticos.


(...) O direito real serve a função substancial da atribuição das coisas às pessoas,
permitindo-lhes beneficiar da utilidade daquelas”

Não obstante acertada anotação, o fundamento, bem como o objeto dos


direitos reais derivam das teorias históricas existentes, as quais são de suma
importância para o instituto95.

Inicialmente a corrente realista ou clássica, no sentido de os Direitos Reais


constituem um poder imediato que exerce sobre a coisa, ou seja, há uma relação
jurídica entre a pessoa e a coisa.

Assim o direito real opõe-se ao direito pessoal, pois esse último traz uma
relação pessoa-pessoa, ou seja, não há relação pessoal96.

Já a segunda corrente a personalista, no sentido que os Direitos Reais são


relações jurídicas estabelecidas pelas pessoas, mas intermediada pelas coisas, sendo
o sujeito passivo indeterminado, ou seja, há uma obrigação passiva universal.

94 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p. 14.
95 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.
p. 27.
96 Idem, p. 28.

40
Meneses Leitão97 analisando a contribuição de Pufendorf e Kant, pondera que
embora pareça que há uma relação da pessoa com a coisa, na verdade existe
efetivamente uma vinculação dos outros para com o proprietário da coisa.

Tal situação poderia ser exercida por meio da vindicatio, ou seja, por exigir a
eventual entrega, ou retomada da coisa, passando assim a oponibilidade erga omnes
a constituir uma característica distintiva dos direitos reais.

Prosseguindo na análise das teorias dos direitos reais, Menezes Leitão98 anota
que houve um debate importante entre Thibaut e Feuerbach no século XIX quanto a
actio, para a configuração do direito real.

Thibaut afastou-se da concepção da ius in re e ius in personam, anotando que


mais importante que a distinção romana, se faz com a ação em si, ou seja, “acção de
reivindicação”, pois ela tem um caráter de direito absoluto qual pode ser tutelado por
uma ação absoluta, como exemplo, a filiação.

Por outra via Feuerbach retoma o conceito quanto à distinção, permitindo que
o objeto do direito real, seja aquele que se situaria de forma exterior de uma obrigação,
possibilitando o direito de ação quanto a coisa que lhe pertence, em desfavor a todas
as pessoas.

Todavia, tendo em vista que parte da doutrina entende ser possível uma
eficácia interna da obrigação, as teorias acima citadas são insuficientes, pois nos
termos de Antunes Varela99, na verdade o que efetivamente existe são os direitos
mais fortes e mais fracos, sendo aqueles os direitos reais.

Sendo assim, houve uma um grande desenvolvimento em torno do direito real


após a pandectistica alemã fundando-se nas seguintes teses: a) teoria do poder direto

97 Idem, p. 29.
98 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.
p. 30.
99 VARELA, João de Matos Antunes. Das Obrigações. 10ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2000. Vol.

I. p. 166.
41
e imediato sobre uma coisa; b) teoria do poder absoluto; c) as teorias mistas; e d)
novas orientações100.

Inicialmente a teoria do poder direto e imediato considera que o direito real recai
direta e imediatamente sobre a coisa corpórea, sem necessitar de colaboração de
ninguém para ser exercido101.

Em seguida, verifica-se a teoria do poder absoluto, - em um contraponto a


primeira teoria -, esta, tem como base a relação com outros sujeitos da ordem jurídica,
por meio de uma faculdade de exigir dos sujeitos a abstenção de perturbar o exercício
do direito sobre a coisa102.

Aplicada inicialmente na Alemanha, e influenciando os sistemas normativos da


França e Portugal, foi criticada pela sua abstração na relação contra todos os demais
sujeitos, bem como, deixou de lado a relação da pessoa, com a coisa.

Destarte, insurgiu-se uma teoria mista, com posicionamento dominante do


Direito Português, segundo o qual são defensores Inocêncio Galvão Telles 103,
Antunes Varela e Mota Pinto que traduzem uma junção das duas concepções
indicando a existência de um lado interno – poder sobre a coisa - e externo – dever
de outras pessoas respeitarem o exercício desse poder, em relação dos direitos
reais104.

Por fim, nas novas orientações portuguesas, existem posicionamentos


importantes como de Oliveira Ascenção105 segundo o qual “os direitos reais são
direitos absolutos, inerentes a uma coisa e, funcionalmente dirigidos a outorgar
vantagens intrínsecas ao titular da coisa”, Menezes Cordeiro106 segundo o qual o

100 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.
p. 31.
101 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.

p. 32.
102 Idem, p. 34.
103 TELLES, Inocêncio Galvão. Direito das Obrigações. 7ª Ed. rev. e atual. Coimbra: Editora Coimbra,

1997.
104 Idem, p. 37.
105 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p. 20.
106 CORDEIRO, Menezes. Direitos Reais: Sumários. Lisboa: AAFDL, 2000-2001. p. 58.

42
direito real é “uma permissão normativa especifica de aproveitamento de uma coisa
corpórea” e Menezes Leitão107 sendo “um direito absoluto e inerente a uma coisa
corpórea, que permite ao seu titular determinada forma de aproveitamento jurídico
desta”.

Nos termos do já aventado anteriormente, desde a doutrina clássica até a mais


moderna quanto ao fundamento e teorias acerca dos direitos reais, há de se citar que
tidos direitos são regulamentações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas,
determináveis e determinadas, tendo como fundamento inicial, o direito de
propriedade que pode ser pleno ou restrito.

1.5. DISTINÇÃO ENTRE OS DIREITOS REAIS E PESSOAIS

Inicialmente, cumpre registrar que o Direito das Obrigações é fundamental para


a devida compreensão do Direito. Tal justificativa tem como fundamento que sua base,
deve suprir diversas lacunas não pactuadas entre as partes. Sendo assim, sua
aplicação é ampla, seja no Direito Empresarial, Contratual ou Direito de Família dentre
outros, sua prevalência é verificada.

Assim a distinção entre os direitos reais e obrigacionais são latentes.


Resumidamente, pode ser extraído da doutrina108 que:

Direitos reais: são absolutos, ou seja, afetam um contingente


indeterminado de pessoas, com caráter patrimonial, numa
relação básica titular-coisa, numerus clausus, delimitado por lei,
não há uma prestação a cumprir, sendo mais um dever de "não-
agir". Direitos pessoais: são relativos, pois atingem pessoas

107LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.
p. 41.
108GOMES JUNIOR, Luiz Manoel. A posse é um direito real? Diferença entre os direitos reais e os

pessoais. Revista de Direito Privado, São Paulo, vol. 5, p. 160-191, jan-mar, 2001.
43
certas e determinadas, neles vigoram a autonomia da vontade,
o sujeito passivo deve cumprir uma obrigação em favor do ativo.

Não obstante, alguns apontamentos são necessários, dentre eles retomando o


conceito de obrigação, realizada estas primeiras colocações, o conceito de obrigação
é o vínculo jurídico pelo qual o devedor compromete-se a realizar em favor do credor,
uma prestação de caráter econômico de dar, fazer ou não fazer. Conceito de Clóvis
Beviláqua109.

Porém, o conceito atual de obrigação do Clóvis do Couto e Silva 110 é estático,


enquanto o conceito atual é dinâmico, ou seja, trata-se da obrigação como processo
de colaboração continua e efetiva entre as partes, denominada pelo autor “de
obrigação como processo de continua e efetiva entre as partes”.

Desta monta, é possível afirmar que na atualidade a obrigação é a relação


jurídica transitória, existente entre o sujeito ativo e passivo, denominado credor e
devedor, o conjunto de atividades necessárias à satisfação do credor, seja essa
positiva ou negativa, as quais levam ao adimplemento, porém todas estas fases
interdependentes norteadas pela boa-fé, ou seja, atos aglutinadores de reação de
cooperação entre os obrigados.

Sendo assim, a obrigação nuclear consiste na entrega do veículo; por exemplo,


mas, ao lado desse dever nuclear, encontram-se outros deveres anexos, secundários,
laterais, colaterais, correlatos, instrumentais, fiduciários etc., todos impostos pelo
princípio da boa-fé objetiva111.

Por seguinte, não é possível deixar de lado, ainda que já tenha sido pontuada,
a primeira distinção dos direitos reais e direitos obrigacionais, pois, somente ocorrera

109 BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das Obrigações. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1977. p. 11-16.
110 SILVA, Clóvis do Couto e. A obrigação como processo. São Paulo: Bushatsky, 1976.
111 CORDEIRO, Antônio Manuel da Rocha e Menezes. Da boa-fé no Direito Civil. Coimbra: Almedina,

2001.
44
nas institutas de Gaio e Justiniano, com base polarizada nos textos da vindicatio e da
actio112.

A actio tem como base uma determinada pessoa obrigada por uma prestação;
por sua vez a vindicatio tem forte referencial nas questões de violação de direitos
como família, sucessões e direito reais113.

A doutrina114, acertadamente inclui alguns aspectos nítidos quanto aos


contornos distintivos das relações jurídicas obrigacionais. Sendo assim, surge o mote
claro e característico de três frentes latentes quanto aos direitos reais, sendo essa
distinção a “espinha dorsal do direito privado”115.

Inicialmente a ideia de direitos absolutos – conhecido pelo efeito erga omnes -


e relativos sendo aqueles, os aplicados ao direito real, pois é mais forte seu poder de
marco referencial que o direito obrigacional, bem como, extrapolam a ideia de relação
intersubjetiva direta, pois, atinge sujeitos indeterminados.

Nesse sentido, a actio in rem, e, actio in personam tomam forma116. A primeira,


muito mais eloquente do que a segunda, pois se dirigia contra uma coisa, e não
especificamente uma pessoa individualmente determinada117.

Em um segundo momento, não pode ser despercebido a forte relação do direito


real como objeto imediato ligado à coisa corpórea ou incorpórea, por sua vez, os
direitos subjetivos obrigacionais com uma atividade e conduta do devedor. Nessa
senda, os direitos reais podem ser adquiridos por meio da posse – usucapião -, o que
não ocorre por meios obrigacionais118.

112 BUNAZAR. Maurício. Obrigação Propter Rem: Aspectos Teóricos e Práticos. São Paulo: Editora
Atlas, 2014. p. 27.
113 Idem.
114 OLIVEIRA, Nuno Manuel Pinto. Direito das Obrigações. Coimbra: Livraria Almedina, 2005. Vol. I.

p. 234.
115 COSTA, Dilvanir José da. Direito real. Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 782, p. 727-736, dez.

2000.
116 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p. 15.
117 GUERRA FILHO, Willis Santigo. Estudos Jurídicos. Teoria do Direito Civil. Fortaleza: Imprensa

Oficial do Ceará, 1985. p. 97


118 Idem, p. 111.

45
Por fim, porém não menos importante, nos direitos subjetivos obrigacionais às
partes tem maior autonomia privada quanto sua criação e instituição, já por sua vez
nos direitos reais, sua criação é restringida aos modelos previamente estabelecidos
em lei119.

Em virtude do que foi mencionado, são três os elementos mais latentes quanto
aos direitos reais que os diferenciam dos direitos obrigacionais, tidos como a ideia de
ser um direito absoluto; a forte relação do direito real como objeto imediato ligado à
coisa corpórea ou incorpórea; sua criação ser restringida aos modelos previamente
estabelecidos em lei.

Diante do exposto, não pode ser deixado de lado que há uma dicotomia
existente entre os direitos reais e os direitos pessoais120, atribuindo-se a cada um
deles feição principiológica característica para cada um deles121.

1.6. CONCEITOS INTERMEDIÁRIOS

Dentre os institutos apresentados, ou seja, os direitos subjetivos reais e direitos


obrigacionais, se faz necessário registrar dois conceitos intermediários, quais sejam,
aqueles que não podem ser tidos excessivamente um Direito Real ou Obrigacional.

119 Idem, p. 112.


120 Não obstante existir uma teoria clássica ou dualista ou tradicional ou realista conforme já apontado,
deve ser anotado nos termos da doutrina que há ainda as teorias que negam a existência de diferençar
substanciais entre os direitos reais e pessoas. Deve ser registrado que que ambas as teorias não foram
incorporadas pelo Direito Nacional. Sendo assim, inicialmente a teoria unitária personalista pontua que
não há diferença entre o direito real e pessoal, pois o direito real é de natureza pessoal com conteúdo
negativo, ou seja, essa teoria simplesmente reduz todos os direitos elevados a condição pessoal; por
sua ver a teoria unitária poderá que todos os direitos são reais, não há distinção, pois direitos pessoais
recaem sobre o patrimônio, ou seja, é o caminho contrário e visa reduzir os direitos pessoais aos direitos
reais. GATTI, Edmundo; ALTIERINI, Jorge H. El Derecho Real: Elementos Para Una Teoría General.
reimp. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1998. p. 33-49.
121 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p. 15.

46
Sendo assim, inicial há relação jurídica propter rem, ob rem, intra rem, quod
rem - diante de -, também denominada de Obrigação Ambulatória ou Reipersecutória,
puramente real, em razão da coisa dentre outras122.

Nesse sentido, para Menezes Leitão123: “as situações jurídicas propter rem
correspondem àquelas situações sujo sujeito activo ou passivo é determinado em
virtude da titularidade de um direito real (...) atribui ao seu titular direitos ou obrigações
em relação a outrem”.

Referida relação – que também segue outras denominações por parte da


doutrina124 - não surge da vontade expressa ou tácita do devedor, mas, decorre do
fato de o sujeito ser titular do Direito Real, ou seja, é uma obrigação sui generis tendo
parte do Direito Obrigacional e parte do Direito Real.

Conforme doutrina125 esta é uma obrigação de natureza híbrida, pois há uma


relação jurídica com característica pessoal e real, portanto, trata-se de uma obrigação
a qual se une a uma coisa, acompanhando-a pela pessoa.

Não obstante o posicionamento apresentado cumpre registrar nos termos do


apresentado por Mauricio Bunazar126, não há que se fazer em instituto hibrida ou sui
generis tendo em vista sua fonte.

Tal apontamento, tem como fundamento que a obrigação propter rem tem forte
proximidade com a relação jurídica obrigacional, ou seja, é uma relação pessoal – sua

122 BRANDÃO, Tom Alexandre. A Contribuição ao estudo das obrigações Propter Rem e Institutos
Correlatos. São Paulo: PUC-SP, 2009. 121 f. Dissertação (Mestrado em Direito Civil) – Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
123 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.

p. 75.
124 BUNAZAR. Maurício. Obrigação Propter Rem: Aspectos Teóricos e Práticos. São Paulo: Editora

Atlas, 2014. p. 18.


125 Mas conforme a doutrina há outras situações que são consideradas hibridas como exemplo pode

ser citado como obrigações de eficácia real, ônus real, relações condominiais, impostos sobre a
propriedade e os direitos de vizinhança. BRANDÃO, Tom Alexandre. A Contribuição ao estudo das
obrigações Propter Rem e Institutos Correlatos. São Paulo: PUC-SP, 2009. 121 f. Dissertação
(Mestrado em Direito Civil) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
126 BUNAZAR. Maurício. Obrigação Propter Rem: Aspectos Teóricos e Práticos. São Paulo: Editora

Atlas, 2014. p. 18.


47
fonte – somada a sua finalidade específica de adimplemento de uma benfeitoria
necessária.

Exemplarmente dá-se no pagamento das despesas de conservação da coisa


comum, ou seja, taxa condominial prevista no art. 1.345 do Código Civil.

Nesse sentido, pautado na doutrina, referido autor entende que o direito de


vizinhança é um direito autônomo, que existe mesmo sem propriedade, vide o
exemplo, ainda que extremo de estatização total da propriedade, segundo o qual o
direito de vizinhança ainda persiste127.

Conforme doutrina128 dominante, as características da obrigação propter rem


são inicialmente ambulat cum domino - anda com o domínio -, ou seja, a obrigação
grava o bem e o persegue.

O segundo conceito intermediário se trata do instituto da Posse129 tido como


autônomo por parte da doutrina130, que não é um Direito Real ou obrigacional, mas
tem suas características próprias131, ou seja, tanto de Direito Real como de Direito
obrigacional, apontando fortemente a doutrina se referido instituto é até mesmo um
fato ou direito132.

Por fim, o último elemento ou conceito intermediário é o instituto do abuso no


exercício da propriedade ou ato emulativo, aquele decorrente do art. 1.228, parágrafo

127 Não obstante o respeitável posicionamento na presente tese conforme será observado o direito de
vizinhança é uma decorrência ou desdobramento do direito de propriedade.
128 BUNAZAR. Maurício. Obrigação Propter Rem: Aspectos Teóricos e Práticos. São Paulo: Editora

Atlas, 2014. p. 27.


129 Por ter essa característica de conceito intermediário, anota-se o corte metodológico para não realizar

o estudo sob a aplicação da boa-fé objetiva.


130 GONÇALVES, Marcos Alberto Rocha. Estatutos da posse: contribuições para o debate da função

social e da eficiência econômica à luz do código civil brasileiro. São Paulo: PUC-SP, 2012. 187 f.
Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
131 Conforme pode ser apercebido, alguns aspectos podem ser pontuados, dentre eles que: quanto à

competência para as possessórias sobre imóveis, é o do lugar da situação do bem (art. 47, §2°, CPC),
no referido caso a posse teve tratamento de direito real; quanto à prescrição, o prazo é de 10 anos,
seja a ação de natureza real ou pessoal (art. 207 do CC); e quanto à necessidade de participação do
cônjuge nas ações possessórias, o art. 73, caput, CPC, há dispensa (a posse aqui teve tratamento de
direito pessoal), salvo em se tratando de composse e de ato que deva ser praticado por ambos os
cônjuges (art. 73, §2° do CPC).
132 ALVES, José Carlos Moreira. Posse: Evolução Histórica. Rio de Janeiro: Editora Forense. 1985.

Vol. 1.
48
segundo, do Código Civil de 2002 que trata do exercício da propriedade Direito Real,
esse gera responsabilidade civil no direito pessoal, como exemplo excesso ou barulho
excessivo de animais.

Quanto aos Conceitos intermediários, dado o exposto tem natureza jurídica


hibrida, não surge da vontade expressa ou tácita do devedor, mas, decorre do fato de
o sujeito ser titular do Direito Real. Como exemplo pode ser citadas as despesas de
conservação da coisa comum, a Posse e o abuso no exercício da propriedade ou ato
emulativo. Desta forma, levando-se em conta o que foi observado referida situação é
uma obrigação sui generis tendo parte do Direito Obrigacional e parte do Direito Real.

1.7. EFEITOS DOS DIREITOS REAIS

Estudar os efeitos dos Direitos Reais é entender qual seu âmbito de aplicação
no mundo jurídico. Nesse sentido, conforme Pinto Oliveira 133, os efeitos básicos dos
direitos subjetivos reais são divididos em duas frentes. A oponibilidade erga omnes -
e sendo assim seus desdobramentos do direito de sequela134 e direito de
preferência135 -, bem como sua taxatividade para criação.

Para doutrina136, os efeitos dos direitos podem ser complementados pela:


“Possibilidade de abandono; Viabilidade de incorporação pelo meio da posse;
Previsão da usucapião como um meio de sua aquisição; (...); Regência pelo princípio
da publicidade dos atos tradição e registro”.

Sobre o princípio da publicidade, deve ser registado137, que quatro são os


motivos que justificam a adoção de tal princípio: “a) a necessidade de segurança nas

133 OLIVEIRA, Nuno Manuel Pinto. Direito das Obrigações. Coimbra: Livraria Almedina, 2005. Vol. I.
p. 235.
134 BRANDÃO, Tom Alexandre. A Contribuição ao estudo das obrigações Propter Rem e Institutos

Correlatos. São Paulo: PUC-SP, 2009. 121 f. Dissertação (Mestrado em Direito Civil) – Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
135 Idem.
136 Idem.
137 GOMES JUNIOR, Luiz Manoel. A posse é um direito real? Diferença entre os direitos reais e os

pessoais. Revista de Direito Privado, São Paulo, vol. 5, p. 160 - 191, jan-mar, 2001.
49
transações imobiliárias; b) o conceito do bem imóvel enquanto fonte segura de
riquezas; c) necessidade de mecanismos para a decisão dos litígios e; d) garantias
seguras para o crédito”.

Outro posicionamento de suma importância é de Meneses Leitão138 segundo o


qual a doutrina aponta serem características dos direitos reais: “o caráter absoluto; a
inerência; a sequela; e a prevalência” os quais cabe algumas pequenas ponderações
respectivamente.

O direito é absoluto, pois tem como base a relação jurídica erga omnes, ou
seja, contra todos. Por sua vez a inerência relaciona o fato do direito real ter uma
ligação intensa com a coisa não podendo ser separado.

Em continuidade do direito de sequela ser aquele que o titular pode buscar com
qualquer pessoa. Por fim, a prevalência o direito de preferência sobre as demais
modalidades de créditos.

A doutrina ainda aponta a característica da perpetuidade, como sendo um


elemento marcante dos Direitos Reais, segundo o qual o direito não se perde pelo não
uso, mas somente pelos meios previstos em lei139.

Assim, em oposição ao direito real que é perpétuo, os direitos pessoais seriam


transitórios dos direitos pessoais, situação essa que tem se modificado
hodiernamente. Conforme poderá a doutrina140 existem obrigações que são próximos
aos contratos perpétuos141, como exemplo pode ser citado os contratos cativos de
longa duração142.

138 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.
p. 43.
139 BRANDÃO, Tom Alexandre. A Contribuição ao estudo das obrigações Propter Rem e Institutos

Correlatos. São Paulo: PUC-SP, 2009. 121 f. Dissertação (Mestrado em Direito Civil) – Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
140 Idem.
141 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Direito das Coisas. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 17.
142 MARQUES, Cláudia Lima. GUZINSKI, Vicente Maboni. Os Contratos Cativos de longa duração no

Direito do Consumidor. In: X SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA. Ciências Sociais Aplicadas. Rio
Grande do Sul: PUC-RS, 2009. Disponível em: <http://www.pucrs.br/edipucrs/XSalaoIC/Ciencias_
Sociais_Aplicadas/Direito/71141-VICENTE_MABONI_GUZINSKI.pdf>. Acesso em: 08 mar. 2017.
50
Porém não é só, lembra ainda a doutrina143 que os direitos reais são dotados
de elasticidade e da consolidação. Segundo a qual se faz possível direito de
propriedade seja desmembrado em outros direitos, como por exemplo, a distinção
entre o gozo e a nua propriedade, bem como respectivamente da consolidação,
haveria novamente uma reunificação daqueles direitos desmembrados como a
extinção da superfície.

Outro elemento citado pela doutrina144 é a exclusividade não sendo possível


que dois direitos reais, com idênticas características tenham efeitos sobre a mesma
coisa no mesmo tempo, salvo se houver a coexistência de dois direitos reais como,
por exemplo, o direito de propriedade e usufruto.

Logo, tanto da legislação como na doutrina, podem ser retirados vários


elementos importantes quantos tidos efeitos: a oponibilidade erga omnes, direito de
sequela, direito de preferência, taxatividade, possibilidade de abandono; viabilidade
de incorporação pelo meio da posse; previsão da usucapião como um meio de sua
aquisição; regência pelo princípio da publicidade dos atos tradição e registro,
perpetuidade, são dotados de elasticidade e da consolidação.

Por todos esses aspectos, se faz possível afirmar sem medo de errar, que a
aplicação dos efeitos atinentes aos direitos reais é de suma importância entender sua
efetiva aplicação nas relações interjetivas.

Desses efeitos, conforme bem aponta a doutrina, se faz necessário assinalar


algumas ponderações em relação a pós-modernidade, pois essas características são
contestadas pela doutrina e jurisprudência contemporânea diante da notória
aproximação entre os Direitos Pessoais e Reais145.

143 GOMES JUNIOR, Luiz Manoel. A posse é um direito real? Diferença entre os direitos reais e os
pessoais. Revista de Direito Privado, São Paulo, vol. 5, p. 160-191, jan-mar, 2001.
144 GOMES JUNIOR, Luiz Manoel. A posse é um direito real? Diferença entre os direitos reais e os

pessoais. Revista de Direito Privado, São Paulo, vol. 5, p. 160-191, jan-mar, 2001.
145 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Direito das Coisas. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 18.

51
Tal justificativa tem como fundamento o entendimento de que há contratos os
quais não tem como base o direito obrigacional, ou “contratual puro”. Nesse sentido,
há contratos com elementos multisistêmicos, como os contratos de Direito
Empresarial, Contratos de Direito de Família, e por fim, porém não menos importante
há contratos de Direito das Coisas.

Nesse sentido Luciano de Camargo Penteado146 anota que todo o contrato tem
efeitos para os contratantes, com mais ou menos intensidade, não obstante nem todos
os contratos tem relação somente com efeitos obrigacionais, referido autor, pondera
ainda que não há no Brasil contrato de direitos sucessório por proibição de lei, todavia
com a forte aproximação dos direitos reais com pessoais é possível falar em uma
contratualização dos Direitos da Coisas.

Em especial quanto aos contratos de direitos das coisas, referido autor pondera
que147:

Nem sempre se atenta, nos estudos da dogmática de direito


privado, para a distinção existente entre os contratos de direito
obrigacional e os contratos de direito das coisas. Enquanto os
primeiros operam criação, modificação ou extinção de situações
jurídicas obrigacionais, as quais se configuram, própria e
especificadamente, como situações jurídicas relacionais, os
segundo operam de outra maneira, em outro setor da dogmática.
Os contratos de direito das coisas atuam no Direito das Coisas,
de modo a imputar situações jurídicas absolutas ou relações
jurídicas reais.

146 PENTEADO, Luciano de Camargo. Efeitos contratuais perante terceiros. São Paulo: Quartier
Latin, 2007. p. 89.
147 PENTEADO, Luciano de Camargo. Direito das Coisas. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2ª ed,

p. 519-520, 2008.
52
Flávio Tartuce148 concorda com o referido movimento, não obstante deixa claro
em sua obra que essa tendência ainda depende de maturação, pois coloca em xeque
toda a divisão metodológica dos direitos reais e pessoais.

Assim, a primeira ponderação se refere à característica do absolutismo – ou


seja, os direitos reais são absolutos enquanto os direitos reais são relativos 149 -, tal
elemento não significa dizer em empregar os atributos do direito de propriedade – art.
1.228 do Código Civil - de forma isolada, pois há outros direitos ou valores mais
relevantes que o direito real.

Anota-se que na pós-modernidade, não existe direito absoluto no sentido de


prevalência sobre os demais, pois vivemos um momento importante relacionado à
ponderação de direitos – embora muito criticada -, conflitos enfrentados de forma
corriqueira em tribunais como o direito à propriedade, art. 5º, XXII, da CF e a proteção
ambiental.

No referido exemplo, com a observância com que ambos os direitos são


protegidos constitucionalmente, nenhum prevalece sobre o outro, sendo possível
adotar a técnica de ponderação de acordo com as circunstâncias do caso concreto,
da teoria de Robert Alexy150, concretizada pelo enunciado doutrinário nº. 274 do
Conselho da Justiça Federal nas Jornadas de Direito Civil:

274 – Art. 11: Os direitos da personalidade, regulados de


maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da
cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º,
inc. III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa
humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode
sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação.

148 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Direito das Coisas. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 7.
149 VARELA, João de Matos Antunes. Das Obrigações. 10ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2000. Vol.
I. p. 166.
150 ALEXY, Robert, Teoria de Los Derechos Fundamentales. Madrid: Centro de Estúdios

Constitucionales, 1997.
53
Em continuidade, o efeito erga omnes que é relevante nos Direitos Reais, tendo
em vista os seus desdobramentos, em especial o direito de sequela151.

Nesse sentido, pode ser extraído da doutrina152:

O poder absoluto ou erga omnes tem como efeito prático ou


vantagem o direito de seqüela ou de seguir, perseguir, o objeto
de seu direito onde quer que esteja e reivindicá-lo do poder de
quem injustamente o possua. Os romanos já proclamavam:
ubicunque sit res, domino suo clamat - a coisa clama por seu
dono. A seqüela, que decorre do poder absoluto, constitui efeito
típico do direito real, de par com o jus utendi, fruendi et abutendi,
que decorre do poder direto sobre a coisa.

Não obstante seja esse direito – de sequela - um marco referencial dos Direitos
Reais ele encontra limitações quanto não observado outros direitos. Como exemplo
traz a Súmula nº 308, do Superior Tribunal de Justiça, trata que o negócio jurídico
gera efeitos entre as partes, uma vez que ocorreu a prevalência da boa-fé objetiva.
Assim, o efeito principiológico permeia e mitiga o princípio da publicidade.

Ainda nessa esteira, a doutrina lembra atinente aos efeitos relativos aos
contratos, que esta situação não é mais tão absoluta, podendo os efeitos dos contratos
atingirem terceiros. Tida situação verifica o fenômeno denominado eficácia ou tutela
externa dos contratos contemplada no enunciado doutrinário nº. 21 do Conselho da
Justiça Federal nas Jornadas de Direito Civil:

21 – Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421


do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão
do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a
terceiros, implicando a tutela externa do crédito.

151 VARELA, João de Matos Antunes. Das Obrigações. 10ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2000. Vol.
I. p. 169.
152 COSTA, Dilvanir José da. Direito real. Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 782, p. 727-736, dez.

2000.
54
Em vista dos argumentos apresentados, deve ser anotado que não obstante os
elementos delineadores dos direitos reais serem se suma importância alguns desses
efeitos são contestados pela doutrina e jurisprudência contemporânea diante da
notória aproximação entre os Direitos Pessoais e Reais.

Inicialmente, anota-se que há contratos os quais não tem como base o direito
obrigacional, mas sim elementos multisistêmicos com feições próprias, em especial
no direito das coisas criando situações jurídicas absolutas ou relações jurídicas reais
deixando de existir distinção entre os direitos obrigacionais e reais. Não obstante ser
algo a se pensar essa tendência depende de muita reflexão, pois coloca em xeque
toda a divisão metodológica dos direitos reais e pessoais.

Outro aspecto pontuado pela doutrina refere-se quanto ao efeito do


absolutismo, tal elemento não significa dizer em empregar os atributos do direito de
propriedade – art. 1.228 do Código Civil - de forma isolada, pois há outros direitos ou
valores mais relevantes que o direito real que devem ser ponderados.

Por fim, percebe-se que o efeito erga omnes, em especial o direito de sequela
é de suma importância aos direitos reais, não obstante referido efeito ele encontra
limitações quanto não observado outros direitos, os quais serão objeto de estudo em
capítulo próprio a luz da prevalência da boa-fé objetiva

1.8. TIPICIDADE DOS DIREITOS REAIS NA ATUAL LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Entender se nos direitos reais há uma taxatividade ou não153, ou seja, identificar


se o rol estabelecido no art. 1225 do Código Civil é numerus apertus - taxativo - ou
numerus clausus – exemplificativo - sempre foi um grande desafio, como exemplo

153Anota-se que na teoria geral dos negócios jurídicos não há que se falar em tipicidade. BETTI, Emílio.
Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora, Campinas: Servanda Editora, 2008.
p. 279.
55
pode ser citada a Espanha154 e França155 a que optaram pelo sistema numerus
apertus como a Itália156 e na Alemanha157 Portugal 158pelo caminho do numerus
clausus159.

Inicialmente a doutrina clássica, dentre eles Washington de Barros Monteiro e


Orlando Gomes depreendem pela taxatividade do rol160. Nesse mesmo sentido pontua
Maria Helena Diniz161: “O direito real, por sua vez, não pode ser objeto de livre
convenção; está limitado e regulado expressamente por norma jurídica, constituindo
essa especificação da lei um numerus clausus (Código Civil, art. 1.225, I a XII)”

Na mesma ideia do Direito Português a fundamentação principalmente por


força da segurança jurídica, pois a livre criação poderia provocar perturbação no
comércio jurídico, bem como se entende, que a propriedade e assim os direitos reais
tem uma grande função de organização social162, e entregar ao particular sua
regulamentação sem a intervenção legal seria equívoco163.

Nessa toada, a rol taxativo implica em uma limitação do número de realidade


jurídicas, não podendo os mesmos resultar dos costumes ou da autonomia privada,

154 INSTITUT DE DRET PRIVAT EUROPEU I COMPARAT. Código Civil español. Universidade de
Giroma, [s.d.]. Disponível em: <http://civil.udg.es/normacivil/estatal/CC/INDEXCC.htm>. Acesso em: 22
set. 2016.
155 FRANÇA. Code Civil Napoleon (1840). Bibliothèque nationale de France. Disponível em:

<http://geneaduclos.free.fr/docs/Code%20Civil%20des%20Francais_1804.pdf>. Acesso em: 28 set.


2016.
156 THE CARDOZO ELETRONIC LAW BULLETIN. Il Codice Civile Italiano. Obiter Dictum Eletronic

Law Journal, 1997-1999. Disponível em: <http://www.jus.unitn.it/cardozo/obiter_dictum/home.html>.


Acesso em: 22 set. 2016.
157 ALEMANHA. Bürgerliches Gesetzbuch (BGB). Bundesministerium de Justiz und für

Verbraucherschutz, [s.d.]. Disponível em: <https://www.gesetze-im-internet.de/bgb>. Acesso em: 22


set. 2016.
158 PORTUGAL. Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de Novembro de 1966. Código Civil Português,

Supremo Tribunal de Justiça, Portugal, 1966. 553 f. Disponível em: <http://www.stj.pt/ficheiros/


fpstjptlp/portugal_codigocivil.pdf>. Acesso em: 22 set. 2016.
159 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direitos Reais. Coimbra: Editora Coimbra, 2000. p.

153.
160 VANZELLA, Rafael Domingos Faiardo. Numerus Clausus dos direitos reais e autonomia nos

contratos de disposição. São Paulo: USP, 2009. 67 f. Tese (Doutorado em Direito Civil) – Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo.
161 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: Teoria Geral do Direito Civil. 30ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2013. p. 29.


162 VANZELLA, Rafael Domingos Faiardo. Numerus Clausus dos direitos reais e autonomia nos

contratos de disposição. São Paulo: USP, 2009. 67 f. Tese (Doutorado em Direito Civil) – Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo.
163 VARELA, João de Matos Antunes. Das Obrigações. 10ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2000. Vol.

I. p. 187.
56
todavia referida restrição deve ser restringida quanto a criação de novos direitos reais,
mas não quanto a abrangência do negócio real164.

Não obstante respeitado posicionamento doutrinário, há um contraponto da


doutrina contemporânea que ventila simplesmente ser uma situação de tipicidade, ou
seja, ser o rol exemplificativo ou numerus apertus podendo a lei criar outros direitos
reais que não estão previstos no art. 1225 do Código Civil.

O fundamento inicial e fato notório verificado hodiernamente, que há Direitos


Reais não previstos no rol do art. 1.225, do Código Civil de forma expressa, como
exemplo pode ser citada a alienação fiduciária em garantia de bens imóveis - Lei
9.514/1997 - e móveis - Decreto-lei nº. 911/69, alterado pela Lei 10.931/2004 -; essa
devidamente registrada constitui direito em favor do detentor da posse direta para fins
de moradia. Deste modelo apresentado, conclui-se pela aplicação no direito nacional
por ser exemplificativo e não taxativo o rol, conforme doutrina clássica.

Nesse sentido, conforme pode ser extraído, há outros Direitos Reais não
previstos no referido artigo, inobstante a possibilidade de serem criados por lei, dada
situação primazia o princípio da operabilidade - modelo filosófico aberto - de
hermenêutica e aplicação da norma da simples tipicidade165.

Esse é o entendimento de André Gondinho166, qual pondera:

A principal razão da exclusão da autônima como fonte criativa de figuras reais,


decorre da eficácia absoluta dessa espécie de direito, sem deixar de lado que a
autonomia da vontade poderia criar entraves nítidos ao trafego jurídico, dificultando a
visão econômico-social, bem como prévio conhecimento de terceiros da existência
atípica do direito constituído.

164 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015.
p. 21.
165 REALE, Miguel. Um artigo-chave do Código Civil. Jornal O Estado de São Paulo, São Paulo, 21

jun. 2003.
166 GONDINHO, André Pinto da Rocha Osório. Direitos reais e Autonomia da Vontade: O Princípio

da Tipicidade dos Direitos Reais. São Paulo: Renovar. 2001.


57
Não obstante, mais adiante em suas colocações – tendo como base a
inspiração Espanhola -, referido autor, anota de ser possível a modulação dos direitos
reais existentes, ou seja, entende serem possíveis variações existentes de direitos
reais quanto aos já existentes.

O fundamento de tal assertiva tem o tem como fenômeno elementar os


interesses coletivos, interesses de terceiros e interesses dos próprios titulares dos
direitos reais sempre com o intuito de fornecer a função social167,168 da propriedade.

O próprio Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no referido sentido:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


EMBARGOS DE TERCEIRO. MULTIPROPRIEDADE
IMOBILIÁRIA (TIME-SHARING ). NATUREZA JURÍDICA DE
DIREITO REAL. UNIDADES FIXAS DE TEMPO. USO
EXCLUSIVO E PERPÉTUO DURANTE CERTO PERÍODO
ANUAL. PARTE IDEAL DO MULTIPROPRIETÁRIO.
PENHORA. INSUBSISTÊNCIA. RECURSO ESPECIAL
CONHECIDO E PROVIDO. 1. O sistema time-sharing ou
multipropriedade imobiliária, conforme ensina Gustavo
Tepedino, é uma espécie de condomínio relativo a locais de
lazer no qual se divide o aproveitamento econômico de bem
imóvel (casa, chalé, apartamento) entre os cotitulares em
unidades fixas de tempo, assegurando-se a cada um o uso
exclusivo e perpétuo durante certo período do ano. 2.
Extremamente acobertada por princípios que encerram os
direitos reais, a multipropriedade imobiliária, nada obstante ter
feição obrigacional aferida por muitos, detém forte liame com o

167 ABREU, Natasha Gomes Moreira. O mapeamento conceitual da propriedade e sua função social.
In: PAE KIM, Richard; MAFRA, Tereza Cristina Monteiro. Direito Civil Constitucional. XXV Encontro
nacional do CONPEDI - BRASÍLIA/DF, Florianópolis: CONPEDI, 2016. Disponível em:
<http://www.conpedi.org.br/publicacoes/y0ii48h0/kvg8f9o7/Aee4sF54BH85biN1.pdf>. Acesso em: 03
jul. 2017. .
168 JELINEK, Rochelle. O princípio da função social da propriedade e sua repercussão sobre o

sistema do código civil. Porto Alegre: PUCRS, 2006. 41 f. Dissertação (Mestrado em Direito) –
Especialização em Direito Ambiental, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Disponível
em: <http://www.mprs.mp.br/areas/urbanistico/arquivos/rochelle.pdf>. Acesso em: 03 jul. 2017.
58
instituto da propriedade, se não for sua própria expressão, como
já vem proclamando a doutrina contemporânea, inclusive num
contexto de não se reprimir a autonomia da vontade nem a
liberdade contratual diante da preponderância da tipicidade dos
direitos reais e do sistema de numerus clausus . 3. No contexto
do Código Civil de 2002, não há óbice a se dotar o instituto da
multipropriedade imobiliária de caráter real, especialmente sob
a ótica da taxatividade e imutabilidade dos direitos reais inscritos
no art. 1.225. 4. O vigente diploma, seguindo os ditames do
estatuto civil anterior, não traz nenhuma vedação nem faz
referência à inviabilidade de consagrar novos direitos reais.
Além disso, com os atributos dos direitos reais se harmoniza o
novel instituto, que, circunscrito a um vínculo jurídico de
aproveitamento econômico e de imediata aderência ao imóvel,
detém as faculdades de uso, gozo e disposição sobre fração
ideal do bem, ainda que objeto de compartilhamento pelos
multiproprietários de espaço e turnos fixos de tempo. 5. A
multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente
codificada, possui natureza jurídica de direito real,
harmonizando-se, portanto, com os institutos constantes do rol
previsto no art. 1.225 do Código Civil; e o multiproprietário, no
caso de penhora do imóvel objeto de compartilhamento espaço-
temporal (time-sharing), tem, nos embargos de terceiro, o
instrumento judicial protetivo de sua fração ideal do bem objeto
de constrição. 6. É insubsistente a penhora sobre a integralidade
do imóvel submetido ao regime de multipropriedade na hipótese
em que a parte embargante é titular de fração ideal por conta de
cessão de direitos em que figurou como cessionária. 7. Recurso
especial conhecido e provido. REsp 1.546.165 – SP,
j. 26/4/2016, DJe 6/9/2016, rel. João Otávio Noronha.

59
Um desses entendimentos poderia ser extraído da doutrina, quando da
superfície em segundo grau ou sobreelevação169 que tem como objeto a instituição de
uma outra superfície sobre uma já existente.170

Nessa seara, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald ponderavam 171:


“É lamentável que não haja previsão normativa desta interessante figura, pois permitia
o acréscimo de função social da posse em várias favelas e aglomerados populares
pela via de sua regularização através do registro imobiliário”.

Veja, que no presente momento está sendo utilizados os verbos poderia e


ponderavam no passado, tendo em vista que o termo utilizado, pois a Lei 13.465/2017
regulamentou o direito de laje tido como a superfície em segundo grau o sobre-
elevação.

Não obstante ao posicionamento firmado pela doutrina majoritária, há um


quarto posicionamento, novel na doutrina de contratualização do direito real 172.
Segundo referida corrente, em especial aos que a advogam, indicam que não é
possível a limitação da autonomia privada, para criar novos direitos reais.

O exemplo apresentado por essa corrente seria, por exemplo aplicar os efeitos
de direitos reais a institutos como a multipropriedade imobiliária173, bem como os buit
to suit afastando efeitos de Direito Pessoais, em detrimento dos direitos reais. O
fundamento jurídico seria que o rol taxativo ou a tipificação dos direitos reais não
podem impedir que o bem imóvel cumpra a sua função social prevista na Constituição.

169 Tido instituto tem como fundamento a grande densidade populacional e os poucos lugares passíveis
de construção ainda existentes. BENASSE, Paulo Roberto. O Direito de Superfície e o código civil
brasileiro. Campinas: Bookseller, 2002. p. 83.
170 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação

urbana. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 305-306.


171 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen

Júris, 2007. p. 405.


172 Idem.
173 Deve ser registrado que a reforma legislativa por meio da lei 13.465 de junho 2017 perdeu a

oportunidade de tratar do referido instituto uma vez que trabalhou alterações efetivas em matéria de
loteamento e condomínios edilícios.
60
Registra-se, não obstante, que não há confirmação tanto pela legislação
nacional, doutrina ou jurisprudência174, bem como a manutenção de um quadro
fechado – tipicidade - é interessante tendo em vista a segurança jurídica175, o melhor
funcionamento do sistema176 e atingir negativamente o funcionamento da economia
de mercado177.

Não obstante os apontamentos admiráveis, se faz necessário pontuar as que


surgem novas demandas sociais negociais, as quais necessitam de novas
ferramentas para atendimento de seu exercício, por exemplo, o surgimento do
fenômeno da multipropriedade já citado ou novas espécie de direito pessoal de
gozo178 que uma vez confirmada a característica real teria maior eficácia e aplicação
prática.

Colocando termo final do presente capítulo, deve ser registrado em virtude do


de todo o foi mencionado à questão da taxatividade ou não dos direitos reais.

Nesse sentido, bem como em vista das correntes e argumentos apresentados


inicialmente a doutrina clássica, depreendem pela taxatividade do rol, ou seja, há um
rol numerus clausus (Código Civil, art. 1.225, I a XII).

Já em um segundo momento há um contraponto – majoritário da doutrina –


indicando ser simplesmente uma situação de tipicidade, ou seja, ser o rol
exemplificativo ou numerus apertus podendo a lei criar outros direitos reais que não
estão previstos no art. 1225 do Código Civil.

174 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Direito das Coisas. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 7.
175 VARELA, João de Matos Antunes. Das Obrigações. 10ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2000. Vol.
I. p. 187.
176 VANZELLA, Rafael Domingos Faiardo. Numerus Clausus dos direitos reais e autonomia nos

contratos de disposição. São Paulo: USP, 2009. 67 f. Tese (Doutorado em Direito Civil) – Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo.
177 MELLO, Maria Tereza Leopardi; ESTEVES, Heloísa Lopes Borges. Direito e Economia na noção

de ‘direitos de propriedade’. Rio de Janeiro: Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio


de Janeiro, [s.d.]. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/datacenterie/pdfs/seminarios/pesquisa/
texto1111.pdf.> Acesso em: 13 jul. 2017.
178 CHATEAUBRIAND FILHO, Hindemburgo. Autonomia privada e tipicidade dos direitos reais. Revista

dos Tribunais, São Paulo, vol. 745, p. 41-47, nov. 1997.


61
Uma terceira via também deve ser citada, segundo a qual, seria possível a
modulação dos direitos reais existentes, ou seja, entende serem possíveis variações
existentes de direitos reais quanto aos já existentes como, por exemplo, o direito de
superfície por cisão.

Por fim, há um quarto posicionamento, novel na doutrina de contratualização


do direito real segundo o qual seria possível a mitigar complementarmente a limitação
da autonomia privada criando direitos reais novos, situação essa não confirmada pela
doutrina e pela jurisprudência, mas tem em seu escopo suas virtudes e
intemperanças.

62
CAPÍTULO 2 – NEGÓCIOS JURÍDICOS E A APLICAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA

2.1. TERIA GERAL DO NEGÓCIO JURÍDICO

2.1.1. Noção do Negócio Jurídico

Inicialmente, antes de adentrar definitivamente ao objeto do presente tópico,


deve ser anotada, a proposta de corte metodológico, haja vistas não ser objeto do
presente estudo os fatos jurídicos em geral, tendo em vista a profundidade do tema,
bem como seus desdobramentos teóricos e práticos.

Diante do introito e sem maiores delongas, verifica-se que, o que fundamenta


o negócio jurídico ou ato jurídico179, são os acontecimentos emanados da vontade
lícita do homem, em razão dos quais seus efeitos no direito nascem, se modificam, ou
se extinguem em decorrência desta vontade180.

Paulo Lôbo181 anota que o conceito de negócio jurídico é relativamente recente


na doutrina jurídica ainda que seu desenvolvimento inicial possa ser atribuído aos
jusnaturalistas do século XVIII, deve-se boa contribuição aos juristas alemães do
século XIX, bem como seu ingresso no brasil somente concorrerá no século XX por
influência dos autores alemães e italianos.

Destarte, destaca ser o negócio jurídico oriundo de uma relação jurídica, na


qual, às partes envolvidas, no direito privado, impõe-se sobre a outra num vínculo
correspondente182.

179 Segundo Vicente Ráo, não há fundamentos para distinção de ato jurídico e negócio jurídico, uma
vez que a legislação assim não a distingui, todavia com base na doutrina alemã se verifica uma
distinção entre os atos negociais e não negociais, que se perpetua até os dias atuais. Desta forma,
será mantida no presente trabalho o mantenimento da terminologia predominante. RÁO, Vicente. Ato
Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema do conflito entre os
elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999. p. 41 e seguintes.
180 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil Teoria Geral: Acções e factos Jurídicos. 3ª ed. São

Paulo: Editora Saraiva. 2010. Vol. II. p. 27.


181 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Parte Geral. 5ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015.

p. 228.
182 BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora, Campinas:

Servanda Editora, 2008. p. 26.


63
Há algumas formas de interpretações aos negócios jurídicos, como a filológico
e a crítica. A primeira compreende em ser empregada uma interpretação que se vale
ao uso do nexo gramatical e lógico do discurso, já uma interpretação crítica, se vale
de uma inteligência crítica para solucionar lacunas, contradições e abstenções do
negócio jurídico, como retrata Marino183,184.

Como exemplo de negócios jurídicos cita-se o testamento e pacto antenupcial,


os contratos, dentre muitos outros atos derivados da vontade lícita humana185,186.

Emilio Betti187, conceitua o negócio jurídico com evidencia à três elementos: a)


a forma (que pode ser direta e indireta; deter caráter formal e não formal), b) o
conteúdo (negócios familiares e patrimoniais; negócios de atribuição patrimonial e
negócios de segundo grau; atos de disposição e atos de obrigação) 188 e c) causa
(negócio inter vivos e mortis causa, negócios a título oneroso ou gratuito, negócios
causais e abstratos)189.

Em continuidade, a pedra de toque do negócio jurídico é a autonomia privada


ou a liberdade negocial tida como elemento estrutural190, que não é absoluta, eis por
estar condicionada a parâmetros de ordem pública191, a exemplo dos princípios da
função social, da boa-fé objetiva, da dignidade da pessoa humana.

183 MARINO, Francisco de Paula de Crescenzo. Interpretação do Negócio Jurídico. São Paulo:
Editora Saraiva, 2011. p. 67.
184 Nesse sentido: AQUINO, Wilson. Negócio Jurídico: Doutrinas Essenciais Obrigações e Contratos.

São Paulo, Revista dos Tribunais, vol. 1, 2011. p. 1387.


185 Como acrescenta LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: Teoria geral do Direito Civil.

6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 388: além de ser o negócio jurídico uma declaração de vontade em
que as partes se autorregulam, a estas, lhe conferem ainda a viabilidade de serem representadas,
munidas de poderes para agir em nome da parte interessada, conforme enunciado 116, do CC.
186 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Parte Geral. 5ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. p. 243.
187 BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora, Campinas:

Servanda Editora, 2008. p. 398.


188 Idem, p. 419.
189 Idem, p. 448.
190 No referido sentido pontua a doutrina que “a autonomia percorre todos os domínios da atividade

humana e não apenas a atividade econômica”. ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil Teoria
Geral: Acções e factos Jurídicos. 3ª ed. São Paulo: Editora Saraiva. 2010. Vol. II. p. 68.
191 RÁO, Vicente. Ato Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema

do conflito entre os elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999.
p. 51
64
A autonomia privada nasce com a disposição dos particulares para o futuro, os
quais visam com o regramento, coexistir recíprocas relações, a fim de satisfazer a
diversidade econômica social, com base na ordem jurídica.192

Nesse diapasão é com uso, por exemplo, da circulação de bens, que os


particulares satisfazem seus anseios em regular suas relações recíprocas, seja pela
autodeterminação, ou autorregulamentação de seus interesses, os quais como critério
vinculante se utiliza da regra de conduta, qual inobservada sobrevém uma sanção
imposta pela vida social193.

E, mais, pondera Emilio Betti194 ser o negócio jurídico, um ato humano


relevantemente social, o qual decorre de liberdade e de iniciativa consciente. A
consequência desse ato pode ser onerosa, mas ainda sim, ao seu autor é submetido
à autorresponsabilidade no mundo social, isto porque são correlatos e alternados a
liberdade e a autorresponsabilidade, ou seja: “liberdade, ou seja, iniciativa consciente,
antes do ato; autorresponsabilidade, ou seja, necessidade de suportar as
consequências, depois de realizado o ato vinculante, sem outro limite e corretivo além
da boa-fé”.

A autonomia privada se atina como atividade e potestas, criadora, modificadora


ou extintora das relações jurídicas entre particulares, as quais são contidas pelas
normas jurídicas preexistentes195.

Silvio Rodrigues196,197 pondera assertivamente a importância da relação jurídica


entre particulares constituídos de forma lícita, cujo aos quais as leis os encobrem por
um manto de força obrigatória volvendo o negócio ventilado, e, se descumprido, uma
força coercitiva recai ao seu cumprimento. Advento pelo qual, sobressai por deveras

192 BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora, Campinas:
Servanda Editora, 2008. p. 74.
193 Idem, p. 76.
194 Idem.
195 Idem.
196 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. 34ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2003. p. 170.
197 Nesse sentido: SILVA, Clóvis Couto e. A Teoria Da Base Do Negócio Jurídico No Direito Brasileiro.

Doutrinas Essenciais Obrigações e Contratos, Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 4, jun. 2011. p.
529-536.
65
o princípio assinalado entre as partes, qual seja, pacta sunt servanda, chancelado
pelas normas de ordem pública e da boa-fé.

Para José Alberto Vieira198, o fato jurídico trata de um evento ou acontecimento


o qual produz efeito jurídico. Nesta monta, o negócio jurídico decorre de um
comportamento humano, uma ação, que desencadeia a produzir efeitos, ou impedir
que ocorram.

Sendo assim, subjacente ao negócio jurídico, o efeito jurídico implicitamente


ligado à vontade humana, não necessariamente confere efeitos por este pretendido,
mas pode desencadear contra à sua vontade, ou seja, comportamento humano qual
o agente nega seus efeitos e ao Direito que o vincula. Todavia, embora trate de uma
referência importante, não é objeto da presente tese, é relevante uma pequena fração
do fato, qual entende-se como negócio jurídico.

Assim, não obstante a amplitude da autonomia199 a mesma se faz limitada, por


isso já há quem entenda que na verdade, não se fala mais em autonomia privada,
mas sim em autonomia solidária200,201, 202.

Tal situação decorre do evento social atual, em especial das alterações de


paradigmas que alteram toda a concepção do direito no último século. Como exemplo,
cita-se os contratos de consumo, que atualmente em sua maioria são de adesão203.

198 VIEIRA, José Alberto. Negócio Jurídico, anotação aos artigos 217º a 295º do Código Civil. reimp.
Coimbra: Coimbra Editora, 2009. p. 9.
199 Lembra José de Oliveira Ascenção que a autonomia pode ter forma muito variada, como na

negociação, de criação (de modelo negocias atipicos), na estipulação e de vinculação. ASCENSÃO,


José de Oliveira. Direito Civil Teoria Geral: Acções e factos Jurídicos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva. 2010. Vol. II.
200 Nesse sentido, trata do tema em artigo digital: COSTA, Judith Martins. Reflexões Sobre o Princípio

Da Função Social Dos Contratos. Revista Direito GV, São Paulo, vol. 1, p. 61-66, mai. 2005. Disponível
em: <http://direitosp.fgv.br/publicacoes/revista/artigo/reflexoes-sobre-principio-funcao-social-social-
contratos>. Acesso em: 08 abr. 2017.
201 DELGADO, José Augusto. Reflexões sobre o negócio jurídico. Doutrinas Essenciais Obrigações

e Contratos, vol. 1, p. 203-265, jun. 2011. p. 1229.


202 Pondera: CABRAL, Érico de Pina. A “autonomia” no direito privado. Doutrinas Essenciais

Obrigações e Contratos, São Paulo, vol. 3, p. 95-146, 2011: “A limitação funcional da autonomia
privada vem consagrada em vários dispositivos do ordenamento jurídico, como por exemplo, no art.
421, do CC/2002 (LGL\2002\400); art. 4.º, do CDC (LGL\1990\40) e nos arts. 1.º, 3.º, 5.º, 7.º, 170, entre
outros, da CF/1988 (LGL\1988\3)”.
203 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: Teoria geral do Direito Civil. 6ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2010. p. 389.


66
Tanto o ato jurídico, quanto o negócio jurídico, caracterizam-se como sendo,
comportamento humano voluntário em razão dos quais os direitos nascem, se
modificam ou se extinguem dentre eles.

Quanto à noção de negócio jurídico, pela observação dos aspectos analisados


pode ser tida – não obstante a profundidade que o tema detém - como acontecimentos
emanados autonomia privada lícita do homem, em razão dos quais seus efeitos no
direito nascem, se modificam, ou se extinguem em decorrência desta vontade em um
vínculo correspondente.

No entanto, deve ser analisada de acordo com as seguintes correntes, ou


também denominadas como teorias explicativas do negócio jurídico, são elas: a Teoria
voluntarista (Willenstheorie); e, a Teoria objetivista ou declaração
(Erklarungstheorie)204,205. Estas duas correntes digladiaram por muito tempo.

A primeira sustentava que o núcleo existencial do negócio jurídico seria a


vontade interna, ou seja, a intenção. Já por sua vez a corrente objetivista depreendia
que o núcleo do negócio jurídico era a vontade externa, ou declarada 206,207,208,209,210.

A corrente que mais influenciou o Direito Civil foi a voluntarista, desde o Código
Civil de 16, pois, conforme se verifica o art. 112, do Código Civil, “nas declarações de

204 Nesse sentido: SILVA, Clóvis Couto e. A Teoria Da Base Do Negócio Jurídico No Direito Brasileiro.
Doutrinas Essenciais Obrigações e Contratos, Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 4, jun. 2011. p.
529-536.
205 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico existência, validade e eficácia. Atualizado

de acordo com o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10.1.2002). 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
p. 73.
206 BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora, Campinas:

Servanda Editora, 2008. p. 270.


207 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Parte Geral. 5ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. p. 230.
208 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. 14ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2004. p. 394.

O mencionado doutrinador depreende que por advir de uma atividade humana o negócio jurídico, há
que se observa ainda a causa, o motivo com relevância jurídica, ou seja, v.g. determinado indivíduo
compra um imóvel, o motivo jurídico que detem relevância jurídica trata do pagamento.
209 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: Teoria geral do Direito Civil. 6ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2010. p. 392. Referido doutrinador acrescenta que “a teoria da causa adotada por Windsched
trata da negativista, ou seja, aquela a qual a causa é desnecessária duplicação dos elementos
integrantes do negócio jurídico”.
210 LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore (coord.). Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo:

Editora Atlas, 2008. p. 412.


67
vontade, se atenderá mais à intenção, vontade interna, do que ao sentido literal da
linguagem”.

Hoje, no entanto, de acordo com Antônio Junqueira de Azevedo 211, a teoria


voluntarista e a da declaração não são antagônicas, pois, o negócio jurídico explica-
se tanto na vontade interna quanto na vontade externa, ou seja, uma é causa da outra.
Nesse mesmo sentido José Augusto Delgado já dizia que negócio jurídico é fruto da
vontade interna e externa212.

Assim, no processo formativo do negócio jurídico, verifica-se a congruência da


vontade interna e externa. A vontade interna nasce no íntimo enquanto a declaração
da vontade se expressa na manifestação da vontade externa. Na verdade, essas
teorias se completam213.

O Negócio jurídico será válido quando a vontade interna é causa da vontade


externa. Se houver desarmonia entre a vontade interna e externa, provavelmente
houve vício de vontade.

Não obstante as duas importantes teorias tem-se mais outra linha: a teoria da
pressuposição (Windscheid). Referida teoria sustenta que o negócio jurídico somente
poderá ser considerado válido e eficaz se a certeza subjetiva projetada pelo
declarante não se modificar durante a execução do negócio214,215,216.

Parecida com a teoria da base do negócio jurídico de Oertmann, a teoria da


pressuposição sustenta que somente será válido o negócio jurídico se a vontade do
declarante não mudar durante a execução. Há um exemplo do bancário o qual celebra

211 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico existência, validade e eficácia. Atualizado
de acordo com o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10.1.2002). 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
212 DELGADO, José Augusto. Reflexões sobre o negócio jurídico. Doutrinas Essenciais Obrigações

e Contratos, vol. 1, p. 203-265, jun. 2011. p. 1229.


213 Nesse sentido, BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora,

Campinas: Servanda Editora, 2008. p. 190.


214 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral

1. 17ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. p. 365.


215 SILVA, Clóvis Couto e. A Teoria Da Base Do Negócio Jurídico No Direito Brasileiro. Doutrinas

Essenciais Obrigações e Contratos, Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 4, jun. 2011. p. 529-536.
216 CHAGAS, Carlos Orlandi. Novos Defeitos do Negócio Jurídico. São Paulo: USP, 2014. 104 f.

Tese (Doutorado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014. p. 7.
68
contrato de locação de casa de praia pressupondo que estaria de férias, mas o banco
não lhe deu férias na data prevista217,218.

No referido caso, caberia a sua invalidação, porém a atual Codificação não


admite essa teoria, pois gera insegurança jurídica, mas influenciou indiretamente a
teoria da imprevisão.

Em decorrência das duas teorias apresentadas, destaca Francisco Paulo de


Crescenzo Marino219, o dever de ser o negócio jurídico interpretado. Isto porque o
negócio jurídico mesmo sendo “claro”, esta clareza transparece após a interpretação
do negócio jurídico, haja vistas que a própria clareza é relativa e pode variar à cada
interlocutor.

2.1.2. Característica dos negócios jurídicos

Primeiramente, quando classificado determinado instituto, busca-se verificar


qual é sua natureza jurídica, sendo possível assim, determinar qual é a sua
categorização junto aos demais institutos.

Inicialmente tem-se a classificação quanto da manifestação de vontade220.


Sendo que há três situações distintas, a primeira trata dos negócios jurídicos
unilaterais, são aqueles em que a declaração de vontade somente importa a um dos
sujeitos da obrigação, ou seja, há um único objetivo 221,222. Como exemplo, cita-se o
testamento ou a promessa de recompensa.

217 DELGADO, José Augusto. Reflexões sobre o negócio jurídico. Doutrinas Essenciais Obrigações
e Contratos, vol. 1, p. 203-265, jun. 2011. p. 1229.
218 AQUINO, Wilson. Negócio Jurídico: Doutrinas Essenciais Obrigações e Contratos. São Paulo,

Revista dos Tribunais, vol. 1, 2011. p. 1387.


219 MARINO, Francisco de Paula de Crescenzo. Interpretação do Negócio Jurídico. São Paulo:

Editora Saraiva, 2011. p. 65.


220 RÁO, Vicente. Ato Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema

do conflito entre os elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999.
p. 65.
221 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: Teoria Geral do Direito Civil. 30ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2013. p. 482.


222 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: Teoria geral do Direito Civil. 6ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2010. p. 393.


69
Dentro dessa classificação, á de se notar que nesses negócios jurídicos há uma
subclassificação, qual menciona os negócios jurídicos receptícios 223 (produz efeitos
após o conhecimento da declaração pelo destinatário), bem como os não receptícios
(aqueles em que não importam os destinatários, v.g., renúncia de herança) para a
realização do vínculo obrigacional. Como exemplo, em primeiro momento tem-se o
testamento, e em segundo, tem-se a promessa de recompensa224,225.

A segunda forma de apresentação quanto à manifestação de vontade são os


negócios jurídicos bilaterais, sendo aqueles em que há duas manifestações de
vontade coincidentes sobre o mesmo objeto, ou seja, há um sinalagma contratual,
como exemplo, contrato de compra e venda226.

Interessante destacar neste momento a relevância dada por Betti227, quanto ao


objeto de interpretação dada aos contratos bilaterais, haja vistas que o princípio da
hermenêutica, favorece compreender que até mesmo um negócio jurídico tido como
“claro” deve ser submetido à interpretação, qual fixará os significados
comportamentais concomitantes das partes a fim de resultar em fatos antecedentes e
consequentes qual embasarão a estrutura do ato.

Por fim, porém não menos importante há os negócios jurídicos plurilaterais 228,
sendo aqueles negócios jurídicos que envolvem mais de duas partes interessadas
sobre o mesmo objeto, à exemplo: contrato de consórcio.

Em sequência há a classificação quanto das vantagens patrimoniais


envolvidas.

223 Também denominada como teoria preceptiva, como pondera CABRAL, Érico de Pina. A “autonomia”
no direito privado. Doutrinas Essenciais Obrigações e Contratos, São Paulo, vol. 3, p. 95-146, 2011.
224 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: Teoria Geral do Direito Civil. 30ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2013. p. 482.


225 LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore (coord.). Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo:

Editora Atlas, 2008. p. 417.


226 Idem, p. 482.
227 BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora, Campinas:

Servanda Editora, 2008. p. 467.


228 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: Teoria geral do Direito Civil. 6ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2010. p. 393.


70
Isto porque os negócios jurídicos gratuitos são aqueles atos que envolvem
somente o sacrifício patrimonial de uma das partes, não importando a outra nenhuma
contraprestação229. Como exemplo há a doação pura. Já por sua vez os negócios
jurídicos onerosos são os atos que envolvem sacrifício patrimonial de ambas as
partes, como exemplo, o contrato de locação.

Referente a essa classificação, conforme bem aponta Vicente Ráo 230, tem-se
situações em que os negócios jurídicos são neutros, ou seja, nem são onerosos
tampouco gratuitos, pois não pode ser agregado valor ao mesmo.

Como exemplo, o bem de família voluntário ou gratuito, bem como os negócios


jurídicos bifontes que podem ser tanto gratuitos como onerosos, como exemplo
podemos citar o contrato de empréstimo, depósito e mandato.

Outra classificação icônica na doutrina é aspecto temporal231, segundo o qual


os negócios jurídicos inter vivos, são aqueles destinados em vida e tem seu efeito
imediato, e negócios jurídicos causa mortis tratam dos efeitos somente que ocorrem
após a morte, v.g. testamento e codicilo.

Resume Marino232, que um negócio jurídico inter vivos compõe um conflito


entre seus interessados, já o negócio jurídico causa mortis tenta compor uma relação
sucessória entre o de cujus e seu herdeiro, ou legatário233.

Por conseguinte, tem-se ainda a classificação quando da necessidade ou não,


de solenidade234. Referida classificação de suma importância aos direitos reais aponta

229 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: Teoria Geral do Direito Civil. 30ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2013. p. 481.
230 RÁO, Vicente. Ato Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema

do conflito entre os elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999.
p. 69.
231 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil Teoria Geral: Acções e factos Jurídicos. 3ª ed. São

Paulo: Editora Saraiva. 2010. Vol. II. p. 86.


232 MARINO, Francisco de Paula de Crescenzo. Interpretação do Negócio Jurídico. São Paulo:

Editora Saraiva, 2011. p. 347.


233 Nesse sentido, corrobora o entendimento de BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico.

Tradução de Servanda Editora, Campinas: Servanda Editora, 2008. p. 2448.


234 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: Teoria Geral do Direito Civil. 30ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2013. p. 482.


71
que negócios jurídicos são formais ou solenes, ou seja, aqueles que necessitam de
alguma publicidade para atingirem o plano da validade e aperfeiçoamento. Como
exemplo pode ser citado o art. 108, do Código Civil.

Diferentemente dos negócios jurídicos informais ou não solenes, estes não


necessitam de qualquer formalidade para ter validade ou aperfeiçoamento, como
exemplo pode ser citado o artigo 107, do Código Civil.

Seguinte classificação de importância tem-se os contratos quando à


independência ou autonomia. Inicialmente o negócio jurídico principal, sendo aqueles
negócios que independem de outro para sua existência, validade e eficácia. Como
exemplo uma compra de venda simples.

Já um segundo momento cita-se os negócios jurídicos acessórios ou


dependentes no sentido que dependem de outro contrato para sua existência,
validade e eficácia, podendo ser citada a fiança locatícia.

Ainda, deve ser alocada a classificação quanto das condições pessoais dos
contratantes. Na existência de um negócio jurídico impessoal, em relação a sua
execução, não há especificações pessoais, ou seja, este pode ser realizado por
qualquer pessoa235. Como exemplo o contrato de locação.

Quanto ao negócio jurídico personalíssimos ou intuiu personae, estão atrelados


a uma condição pessoal da parte contratante, como exemplo, um show de um notório
artista.

Por fim, porém não menos importante, a classificação quando ao momento de


aperfeiçoamento tem como base que os negócios jurídicos são consensuais, ou seja,
aqueles que geram efeitos a partir do acordo de vontades entre as partes, por
exemplo: contrato de compra e venda pura (art. 482, do Código Civil) ou os negócios
jurídicos eficácia real, nos quais há de ter a entrega do objeto jurídico tutelado. Como
exemplo, o contrato de depósito e o de comodato. Deve ser anotado que os negócios

235 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Parte Geral. 5ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. p. 251.
72
jurídicos reais não podem ser confundidos com os direitos reais estabelecidos no art.
1225 do Código Civil.

No que se refere às características do negócio jurídico, entende-se que quanto


da manifestação de vontade, podem ser unilaterais, bilaterais, plurilaterais. Em
sequência, quanto das vantagens patrimoniais envolvidas são tidos como gratuitos ou
onerosos. Pode ainda ser analisado ainda no aspecto temporal, tidos como negócios
jurídicos inter vivos ou causa mortis. Por conseguinte, quando a solenidade, podem
ser tidos como solene, formais ou informais. Já à independência ou autonomia, são
tidos como principais, acessórios ou conexos. Ainda, deve ser registrada a condição
das partes, sendo um negócio jurídico impessoal ou intuiu personae. Por fim, porém
não menos importante, a classificação quando ao momento de aperfeiçoamento,
podendo ser consensuais ou de eficácia real.

2.1.3. Interpretação do negócio jurídico

A fonte fundamental da interpretação dos negócios jurídicos tem como base a


Teoria da Confiança também chamada de Teoria da Confiança Legítima prevista na
atual codificação no art. 112 do Código Civil que dispõe “Nas declarações de vontade
se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da
linguagem”236

Conforme muito bem aponta a doutrina237,238 essa teoria é intermediária,


localizada entre a teoria da vontade e a teoria da declaração.

Segundo a teoria da confiança, interpreta-se o negócio jurídico de acordo com


a vontade consubstanciada; verifica-se a vontade na declaração (implica numa
presunção relativa de vontade)239.

236 Esta mesma experiência é da doutrina italiana, BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico.
Tradução de Servanda Editora, Campinas: Servanda Editora, 2008. p. 465.
237 Idem, p. 464.
238 LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore (coord.). Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo:

Editora Atlas, 2008. p. 420.


239 Idem, p. 424. Referida doutrina pondera que o legislador ao privilegiar a teoria da confiança em

detrimento da vontade, gerou alterações na própria aferição dos vícios do consentimento, haja vista
73
Para Roberto Senise Lisboa240, a aplicação da confiança-princípio se baseia
“na expectativa de cumprimento de deveres de conduta assumidos por ocasião de um
negócio jurídico, pena de perdas e danos, quando não for possível a satisfação do
interesse positivo”. E, continua ao tratar que versa então de molde ético objetivo, qual
cabe apreciação da confiança a fim de alcançar as perspectivas faticamente geradas,
mesmo que de forma implícita, destarte, a adoção da boa-fé objetiva constitui previsão
de uma veracidade igualmente objetivada, qual desencadeará a ponderação do
confiante na existência ou não do rompimento da confiança241.

Atinente à referida teoria ainda se faz necessário arrolar os seguintes pontos


relevantes na atual codificação, quais sejam:

Inicialmente quanto a presente questão, no caso de omissão ou contradição,


verifica-se a figura da reserva mental prevista no art. 110, do Código Civil, segundo o
qual subsistirá a vontade ainda que o autor a tenha manifestado com reserva, salvo
se o destinatário tinha conhecimento (interior da pessoa), hipótese que comporta ação
anulatória242.

A questão não é simples, e requer prova inequívoca do conhecimento da


reserva, tida prova é muito difícil de ser produzida.

Outro ponto de suma importância é o negócio jurídico que contraria a boa-fé e


os costumes. Anotada situação é regulada pelo art. 113 do Código Civil que dispõe
“Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar
de sua celebração”.

que, em certos casos a invalidação dos negócios jurídicos e de sua desconstituição pela anulabilidade
(art. 171, II CC) passa doravante a depender não apenas da incidência da vontade defeituosa, mas
principalmente pela possibilidade do destinatário da declaração reconhecer o vicio em face das
circunstancias do negócio jurídico.
240 LISBOA, Roberto Senise. Confiança contratual. São Paulo: Atlas, 2012. p.154-155.
241 Idem.
242 AVILLÉS, André Guimarães. A declaração de vontade negocial na formação do negócio

jurídico. São Paulo: PUC-SP, 2016. 168 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. p. 146.
74
Conforme pode ser observado, há um dispositivo específico quanto à boa-fé,
que fundamenta de forma clara conforme aponta à doutrina a distinção da teoria da
confiança do instituto da boa-fé objetiva.

Assim, levando-se em conta o que foi observado quanto à interpretação do


negócio jurídico, de ser observada uma ambivalência pela qual a teoria da Confiança
também chamada de teoria da confiança legítima prevista na atual codificação no art.
112 do Código Civil, bem como a boa-fé e os costumes anotada no art. 113 do Código
Civil são elementos delineadores dos negócios jurídicos.

2.2. PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

Historicamente nos termos da doutrina os elementos do negócio jurídico são


pautados em três fases, os quais seguem: elementos essenciais, elementos naturais
e por fim, elementos acidentais243.

Conforme anota muito bem a doutrina244, os elementos essenciais são aqueles


tidos como genéricos e específicos, aqueles por sua vez são elementares a qualquer
negócio jurídico - agente capaz; objeto lícito; forma – já últimos seriam os específicos
de cada negócio como exemplo a nulidade especifica de uma compra e venda.

Em continuidade os elementos naturais são aqueles inerentes a índole dos


agentes, como por exemplo, uma questão de vício redibitório. São aqueles sem os
quais o negócio não existe. Exemplo na compra e venda são elementos essenciais à
coisa: o preço e o consentimento.

Por fim, elementos acidentais são as cláusulas acrescentadas nos negócios


destinadas a modificar as suas consequências naturais é o caso da condição, o termo

243 RÁO, Vicente. Ato Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema
do conflito entre os elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999.
p. 69.
244 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2014. p. 347.


75
e do encargo245, bem como os efeitos dos negócios jurídicos como o registro para
bens imóveis ou o inadimplemento obrigacional246.

Assim, os elementos do negócio jurídico podem ser essenciais, naturais e


acidentais. O primeiro, insuscetíveis de afastamento pelas partes interessadas, o
seguinte, podem ser ou não afastados pelas partes, caso haja previsão legal
dispositiva ou cogente, e o último, o elemento acidental, trata daquele qual existe no
negócio jurídico in concreto, sem, todavia, haver exigência do tipo e nem de natureza
negocial247.

Os elementos essenciais são aqueles, cujo sem os quais o negócio não existe,
são imprescindíveis, haja vistas formar sua substância. Exemplo clássico indicado
pela doutrina trata do contrato de compra e venda, os elementos essenciais são a
coisa, preço e o consentimento248,249.

Em continuidade, os elementos naturais são as consequências automáticas do


negócio, e, por isso mesmo, não exigem menção expressa250. Por exemplo, com
relação ao vendedor de entregar a coisa vendida e do comprador de pagar o preço
que foi convencionado.

Por fim, tem-se ainda, os elementos acidentais tidos como as cláusulas


acrescentadas ou cláusulas acessórias nos negócios destinadas a modificar as suas
consequências naturais é o caso da condição o termo e do cargo251.

245 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Parte Geral. 5ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. p. 237.
246 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: Teoria Geral do Direito Civil. 30ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2013. p. 488.
247 MARINO, Francisco de Paula de Crescenzo. Interpretação do Negócio Jurídico. São Paulo:

Editora Saraiva, 2011. p. 36.


248 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: Teoria Geral do Direito Civil. 30ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2013. p. 488.


249 CABRAL, Érico de Pina. A “autonomia” no direito privado. Doutrinas Essenciais Obrigações e

Contratos, São Paulo, vol. 3, p. 95-146, 2011. p. 16.


250 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: Teoria Geral do Direito Civil. 30ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2013. p. 488.


251 Idem.

76
Não obstante, entende-se que para fins didáticos, melhor se aproveita a
doutrina de Pontes de Miranda252 segundo a qual o negócio jurídico também contém
em seu enquadramento três planos, quais sejam plano da existência, o da validade e
o da eficiência, os quais seguem logo abaixo253,254,255,256,257,258.

Sendo assim, vamos analisar cada uma dessas etapas pontualmente, para
melhor entender o referido tópico.

2.2.1. Existência

O primeiro plano, da existência, decorre de estudo dos requisitos ou elementos


constitutivos indispensáveis à existência do Negócio jurídico259. Embora o Código Civil
não tenha regulado o plano de existência, trata de um plano consagrado na doutrina
francesa quando do casamento inexistente entre pessoas do mesmo sexo, ou gênero.

Neste plano, estão os elementos mínimos de um contrato, os pressupostos de


existência, que formão o suporte fático. São os substantivos sem adjetivos, a saber:
Partes, Vontade, Objeto e Forma260.

252 MIRANDA, Pontes. Tratado de Direito Privado: Parte Especial - Tomo III. Revista dos tribunais,
São Paulo, 2012.
253 Depreende nesse sentido: VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. 14ª ed. São Paulo:

Editora Atlas, 2004. p. 380.


254 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2014. p. 348.


255 Depreende pelo sentido do plano da inexistência: LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil:

Teoria geral do Direito Civil. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 413.
256 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: Parte geral. 8ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016.

p. 290 e 314.
257 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral

1. 17ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. p. 365.


258 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral 1. 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 2016. p. 347.


259 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral 1. 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 2016. p. 347.


260 Idem, p. 348.

77
Se o negócio jurídico não apresentar tais pressupostos será inexistente “nada
para o direito”, sendo desnecessária até mesmo sua declaração de invalidade por
decisão261.

O grande problema é o Código Civil de 2002 não adotou expressamente esse


plano resolvendo as questões somente no plano da validade, ou seja, nulidade ou
anulabilidade. Por isso dizia Silvo Rodrigues que a teoria da inexistência seria inútil,
inconveniente e inapropriada262,263,264,265,266.

Não obstante o respeitado posicionamento lembra Vasconcelos267 que referido


plano deve ser mantido por uma função clara, ou seja, a diferença entre o ser e o
dever-ser e entre a realidade e o valor.

Nesse sentido continua o referido autor268 anotando que a inexistência assume


três modos, a inexistência ôntica, a inexistência qualificativa e a inexistência por mera
imposição da lei.

Respectivamente quanto à inexistência ôntica, o negócio jurídico não existe,


não ocorreu ou não aconteceu, pois se trata de uma mentira ou uma falsidade embora
com suposta aparência que possa induzir a uma ilusão. Como exemplo a falsificação
de um documento de propriedade269.

261 Nesse sentido, da tricotomia do direito, existência, validade e eficiência, trata GONÇALVES, Carlos
Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2014. p. 348.
262 Nesse sentido ponderam: RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. 34ª ed. São Paulo: Editora

Saraiva, 2003. p. 176.


263 Nesse sentido, BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora,

Campinas: Servanda Editora, 2008.


264 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2014. p. 350.


265 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. 14ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2004. p. 380.
266 CHAGAS, Carlos Orlandi. Novos Defeitos do Negócio Jurídico. São Paulo: USP, 2014. 104 f.

Tese (Doutorado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014. p. 98.
267 VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral do Direito Civil. 4ª ed. Coimbra: Editora Almedina,

2007. p. 736.
268 VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral do Direito Civil. 4ª ed. Coimbra: Editora Almedina,

2007. p. 737.
269 Nesse sentido: COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: Parte geral. 8ª ed. São Paulo: Editora

Saraiva, 2016. p. 309.


78
Em ao contínuo, a inexistência qualificativa seria aquele que existe, mas não
como apresentado no negócio jurídico eivado de falha na formação270. Como exemplo
o casamento realizado por árbitro de futebol, o casamento existe, mas não da forma
apresentada271.

Por fim, porém não menos importante àquele que se apresenta inexistente por
força de lei, o que não ocorre no sistema jurídico nacional, pois o legislador nacional
optou por iniciar pelo plano na validade. No exemplo do direito português, pode ser
citado o art. 1.629 que trata como inexistente o casamento celebrado com a falta de
competência funcional272.

Muitos autores são partidários da teoria de inexistência, dentre eles Marcos


Bernardes de Melo273, Antonio Junqueira de Azevedo274, José Fernando Simão275,
Pablo Stolze276.

Diante das críticas, pode-se afirmar didaticamente que o plano da existência


esta “embutido da validade”, mais especialmente no elemento nulidade. Tanto é
assim, que na prática forense é mais indicado seguir o caminho da nulidade
absoluta277.

270 GRAU, Eros Roberto. Negócio jurídico inexistente. Alienação fiduciária em garantia; existência,
validade e eficácia do negócio jurídico. Doutrinas Essenciais de Direito Civil, vol. 4, p. 237-250, out.
2010.
271 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: Teoria geral do Direito Civil. 6ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2010. p. 415.


272 ARTIGO 1629º (Funcionários de facto) Não se considera, porém, jurídicamente inexistente o

casamento celebrado perante quem, sem ter competência funcional para o acto, exercia publicamente
as correspondentes funções, salvo se ambos os nubentes, no momento da celebração, conheciam a
falta daquela competência. PORTUGAL. Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de Novembro de 1966. Código
Civil Português, Supremo Tribunal de Justiça, Portugal, 1966. 553 f. Disponível em:
<http://www.stj.pt/ficheiros/fpstjptlp/portugal_codigocivil.pdf>. Acesso em: 22 set. 2016.
273
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato Jurídico: Plano da existência. 20ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2014.
274
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico existência, validade e eficácia. Atualizado
de acordo com o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10.1.2002). 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
275 SIMÃO, José Fernando. A Boa Fé e o Novo Código Civil – Parte III. Folha do Acadêmico, São

Paulo, 2002. Disponível em: <http://professorsimao.com.br/artigos_simao_a_boa_fe_03.htm> Acesso


em: 01 set. 2016.
276 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral

1. 17ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. p. 372. Para o doutrinador a expressão deveria ser
Elementos constitutivos para caracterizar os fatores existenciais do negócio jurídico.
277 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral 1. 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 2016. p. 349.


79
Todavia, é possível identificar a aplicação do referido plano junto aos tribunais,
nesse sentido quanto:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.


LEGITIMIDADE ATIVA. TEORIA DA ASSERÇÃO. TEORIA DA
CAUSA MADURA. DIRETO CIVIL. ELEMENTOS DO NEGÓCIO
JURÍDICO. AUSÊNCIA DE VONTADE. INEXISTÊNCIA DO
ATO. DANO MORAL CARACTERIZADO. 1- A legitimidade
traduz-se na pertinência subjetiva da ação. Por isso, é suficiente
que a parte autora aponte contra alguém a violação a direito seu
para gerar o interesse da parte contrária em se defender dos
efeitos da tutela jurisdicional contra ela invocada. Em tal caso,
aplica-se a teoria da asserção, sendo legítima a parte autora. 2-
No plano da existência, o negócio jurídico deve preencher alguns
elementos. Dentre eles, está a vontade, pressuposto básico do
negócio jurídico e imprescindível à sua exteriorização. Sua
ausência importa em inexistência do negócio. Precedentes.
Venda realizada por terceiros, que detinham falsa procuração
dos falecidos proprietários do bem. Inexistência da venda, posto
que inexistente a declaração de vontade dos vendeddores.
Retorno ao status quo ante, permanecendo o bem na titularidade
do espólio. 3- Dano moral configurado, que deve ser fixado na
quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais), tendo em vista que a
conduta dos réus foge do mero aborrecimento, a partir do
momento que privou a possível companheira de gozar dos seus
direitos sucessórios, entenda-se direito real de habitação, por
força do art. 1.831 do Código Civil de 2002, com relação ao
imóvel onde residia com o falecido. 4- Reforma da sentença.
Provimento do recurso. (TJ-RJ - APL: 97755620048190208 RJ
0009775-56.2004.8.19.0208, Relator: DES. TERESA CASTRO
NEVES, Data de Julgamento: 29/03/2011, DECIMA SEXTA
CAMARA CIVEL, Data de Publicação: 01/04/2011)

80
Em virtude do mencionado quanto ao primeiro plano, da existência, decorre de
estudo dos requisitos ou elementos constitutivos indispensáveis à existência do
Negócio jurídico. Estão os elementos mínimos de um contrato, os pressupostos de
existência, que formão o suporte fático tido como: Partes, Vontade, Objeto e Forma.

Assim, se faz possível concluir ser o plano da existência aquele qual deriva da
congruência da vontade das partes a finalidade negocial e um objeto idôneo 278.

2.2.2. Validade

Diferentemente do plano anterior, a invalidade do negócio jurídico é a sua


desqualificação, ou seja, o negócio existe, mas não tem aptidão para produzir efeitos,
sendo possível afirmar que na atual sistemática a invalidade – gênero - retiram-se a
nulidade e a anulabilidade279.

Nesse sentido, a validade ou não do negócio jurídico resulta de um valor de


juízo, ou seja, de dever-ser. Assim valido é aquilo que é valioso, já o inválido é o
desvalioso280.

O plano da validade se demonstra de forma muito clara na atual legislação, em


especial no art. 104 do Código Civil que dispõe “A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma
prescrita ou não defesa em lei”

Clóvis Beviláqua disserta: “os atos jurídicos estão submetidos aos princípios
gerais do justo e do honesto, e devem ser interpretados como atos praticados de boa-
fé”281.

278 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2014. p. 350.
279 Muito embora não seja objeto da presente tese, haja vistas ter sido adotado pelo ordenamento pátrio

como aspecto de invalidade a nulidade e anulabilidade, para o doutrinador Emilio Betti há ainda outros
aspectos, como: inexistência, invalidade absoluta e relativa, total e parcial. BETTI, Emílio. Teoria geral
do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora, Campinas: Servanda Editora, 2008. p. 660.
280 VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral do Direito Civil. 4ª ed. Coimbra: Editora Almedina,

2007. p. 740.
281 BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria geral do Direito Civil. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1975. p. 216.

81
Do referido dispositivo pode ser apercebido que os pressupostos de validade
são pressupostos de existência qualificados, ou seja, os elementos da existência são
qualificados.

Referida qualificação dividia em quatro blocos é tratada pela doutrina282 da


seguinte forma: a manifestação de vontade deve ser livre e de boa-fé; agente deve
ser capaz e legitimado; objeto deve ser lícito, possível determinado e determinável e
a forma deve ser livre e prescrita em lei283,284,285,286.

Iniciando pela manifestação de vontade, qual deve ser livre e de boa-fé, ou


seja, de forma geral pode ser extraída sem vícios do consentimento ou sociais, bem
com imaculada quanto dever de boa-fé, há ainda algumas questões que devem ser
aventadas287.

A primeira questão emergente é: “Quem cala consente?”. Este ditado popular


tem respaldo no direito civil? Segundo Caio Mário, silêncio normalmente não traduz
manifestação de vontade, ou seja, se trata “do nada jurídico” alocado no plano da
inexistência do negócio jurídico288,289,290.

282 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral 1. 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2016. p. 350.
283 BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora, Campinas:

Servanda Editora, 2008. p. 655.


284 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2014. p. 350 e 358.


285 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: Parte geral. 8ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016.

p. 320.
286 BDINE JUNIOR, Hamid Charaf. Efeitos do Negócio Jurídico Nulo. São Paulo: PUC-SP, 2007. 246

f. Tese (Doutorado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 14.


287 Nesse sentido: BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora,

Campinas: Servanda Editora, 2008. p. 657.


288 Pondera em sentido contrário: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte

geral. 12ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2014. p. 355.


289 AQUINO, Wilson. Negócio Jurídico: Doutrinas Essenciais Obrigações e Contratos. São Paulo,

Revista dos Tribunais, vol. 1, 2011. p. 1387.


290 AVILLÉS, André Guimarães. A declaração de vontade negocial na formação do negócio

jurídico. São Paulo: PUC-SP, 2016. 168 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. p. 123.
82
Excepcionalmente, o silêncio pode indicar declaração de vontade, se
acompanhado por circunstancias e condições291,292, conforme se pode abstrair dos
termos do art. 111, do Código Civil que dispõe: “O silêncio importa anuência, quando
as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de
vontade expressa”.

Para José Alberto Vieira293, em relação ao Código Civil Português, o regime


qual encabeça o negócio jurídico detêm de duas modalidades de declaração: a
expressa e a tácita. Em relação ao negócio jurídico, pressupõe em regra uma
declaração negocial, ou seja, trata da exteriorização do comportamento do individuo
qual pretende destinar sua vontade, diferente da declaração de ciência, qual atestam
os fatos e situações, mas não do fazem de forma a veicular os efeitos jurídicos.

Em verdade da liberdade declarativa, sendo assim possuem o mesmo valor.


Ao revés, se houver exigência literal para declarar vontade de forma expressa, sua
preterição, tornará nulo o ato se silenciar ou fizer de forma tácita, uma vez que a regra
tinha natureza injuntiva.

A disposição do art. 111, do Código Civil, se repete no Código Civil português,


e, como exemplo, pode ser citado art. 539, do Código Civil que trata da doação pura,
tida pela doutrina como aquela sem encargo. Nos termos da codificação há um prazo
para a doação, caso o donatário não se manifestar pela renuncia, implicará em
aceitação da doação.

Feita a primeira anotação paralela aos elementos iniciais do art. 104, do Código
Civil é possível enfrentar seu primeiro inciso, qual seja: agente deve ser capaz.

291 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. 14ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2004. p. 384.
292 AVILLÉS, André Guimarães. A declaração de vontade negocial na formação do negócio
jurídico. São Paulo: PUC-SP, 2016. 168 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. p. 138.
293 VIEIRA, José Alberto. Negócio Jurídico, anotação aos artigos 217º a 295º do Código Civil. reimp.

Coimbra: Coimbra Editora, 2009. p. 12.


83
Referente ao presente tópico pode ser afirmado que a capacidade do agente é
de suma importância para realização do negócio jurídico, caso contrário, o ato não
pode subsistir juridicamente, conforme pondera Clóvis Beviláqua 294

Nesse contexto, deve ser analisado os elementos dispostos nos artigos 3º e 4º,
do Código Civil295 que tratam da capacidade civil absoluta e relativa.

Porém não é só, em determinadas situações não bastam somente ser sujeito
seja capaz, mas sim, ser legitimado para realização do negócio jurídico, ou seja, a
necessidade de habilitação especial para celebração de determinado negócio jurídico,
deter aptidão para exercer direitos e contrair obrigações na ordem civil 296,297,298.

O exemplo doas artigos 1.647 e 1.648, do Código Civil que são situações
impeditivas do casamento para pessoas capazes.

O próximo dispositivo tratado no referido artigo é o segundo inciso que obriga


ser o “Objeto deve ser licito, possível determinado e determinável”.

Em relação há ilicitude, essa não se trata simplesmente de respeito à Lei, mas


também de respeito ao padrão médio de moralidade.

Como exemplo pode ser citado contrato de prestação de serviço sexual, em


que o negócio jurídico é existente, mas ilícito, daí inválido, tal situação também pode
ser extraída do artigo 187, do Código Civil.

294 BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria geral do Direito Civil. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1975. p. 216.
295 Referidos dispositivos foram recentemente alterados pelo estatuto da pessoa com deficiência.
296 RÁO, Vicente. Ato Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema

do conflito entre os elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999.
p. 104.
297 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2014. p. 358.


298 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. 14ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2004. p. 386.

84
Quanto ao objeto, referido elemento deve ser possível no plano fático, ou seja,
quando a possibilidade de apropriação da coisa, ou ainda jurídica quando há vedação
legislativa, nesse sentido, como exemplo, pode ser citado o bem de família 299.

Encerrando o presente elemento, objeto deve se ter por claro que o negócio
jurídico pode ser determinado ou pelo menos determinável, tal situação é possível,
bem como devidamente regulamentada pelo direito das obrigações, em especial pelos
artigos 243 e 244, do Código Civil300.

O último elemento previsto relaciona-se com a forma, essa que deve ser livre e
prescrita em lei. Como é sabido, em regra, conforme art. 107, do Código Civil, os
negócios jurídicos são informais, pois há a predileção do legislado pelo princípio da
liberdade das formas301,302.

Não obstante, em determinadas situações, a forma (necessidade de se


materializar algo verbal em um documento escrito) ou solenidade (necessidade de
escrituração publica) se faz necessário para segurança dos negócios
jurídicos303,304,305.

Dada situação é de deveras importante, sendo que em ambas as situações


haverá a nulidade do negócio jurídico, art. 166, IV e V, do Código Civil.

299 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2014. p. 360.
300 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico existência, validade e eficácia. Atualizado

de acordo com o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10.1.2002). 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
p. 46.
301 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral 1. 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 2016. p. 357.


302 Nesse sentido: CHAGAS, Carlos Orlandi. Novos Defeitos do Negócio Jurídico. São Paulo: USP,

2014. 104 f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014.
p. 15.
303 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2014. p. 362.


304 Para VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. 14ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2004.

p. 389. Também há que se considerar ser requisito de validade e obediência à forma prescrita, ou então
deve deixar de adotar forma proibida em lei.
305 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico existência, validade e eficácia. Atualizado

de acordo com o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10.1.2002). 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
p. 47.
85
A necessidade de escrituração pública, por exemplo, acha-se prevista no artigo
108, do Código Civil, sendo necessária para os atos de disposição de imóvel com
valor superior a 30 salários mínimos.

Sendo assim, diante dos elementos apresentamos resumidamente o contrato


pode ser contrato informal, pois não exige qualquer formalidade podendo ser verbal,
formal quando exige qualquer formalidade em sua formação e solene quando exigir
escritura pública.

Não obstante, todos os elementos apresentados, deve ficar claro que a forma
e solenidade estão no plano da validade, e o registro, no da existência. Elemento esse
que será objeto de estudo no próximo tópico.

Dado o exposto, de forma distinta do plano anterior, a invalidade do negócio


jurídico é a sua desqualificação, ou seja, o negócio existe, mas não tem aptidão para
produzir efeitos.

O plano da validade se demonstra de forma muito clara na atual legislação, em


especial no art. 104 do Código Civil, bem como é possível afirmar que na atual
sistemática a invalidade – gênero - retiram-se a nulidade e a anulabilidade quanto não
previstos os elementos do citado artigo.

86
2.2.3. Eficácia

Neste plano, estão às consequências práticas dos negócios jurídicos,


elementos como exemplo a condição306,307 (evento futuro e incerto), termo308,309
(evento futuro e certo) e encargo ou modo310,311 (ônus em liberdade)312.

Anota-se que os direitos atuais ou adquiridos, são aqueles que podem ser
exercidos desde já, pois já se incorporam ao patrimônio da pessoa. O exemplo
clássico apresentado pela doutrina é do funcionário público que já completou o tempo
necessário para sua aposentaria313.

Por sua vez o direito futuro é aquele que não pode ainda ser exercido, pois não
reúne todos os fatos geradores necessários à sua aquisição314.

306 Para BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria geral do Direito Civil. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1975. p. 231.
“Condição é a determinação acessória, que faz a eficácia da vontade declarada dependente de algum
acontecimento futuro e incerto”.
307 Nesse sentido, RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. 34ª ed. São Paulo: Editora Saraiva,

2003. p. 240.
308 BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria geral do Direito Civil. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1975. p. 237. Termo

“é o dia no qual tem de começar ou de extinguir-se a eficácia de um negócio jurídico. Prazo é o lapso
de tempo decorrido entre a declaração da vontade e a superveniência do tempo. Os termos também,
à semelhança das condições podem retardar a eficácia do ato jurídico, ou extinguir o direito por ele
criado. Denomina-se o primeiro termo inicial ou suspensivo (dies a quo, ex die), e o segundo termo final
ou resolutivo (dies ad quem, ad diem). Diferem, porém, das condições, em que se referem a um
acontecimento certo ou a um tempo determinado”.
309 E, continua RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. 34ª ed. São Paulo: Editora Saraiva,

2003. p. 256: “ seu direito, portanto, é eventual, fica em suspenso, podendo jamais se cristalizar”.
310 BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria geral do Direito Civil. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1975. p. 237.

Pondera que: “encargo (modus) é a determinação acessória em virtude da qual se restringe a vantagem
criada pelo ato jurídico, estabelecendo o fim, a que deve ser aplicada a coisa adquirida, ou impondo
uma certa prestação”.
311 Pondera RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. 34ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2003.

p. 259: “o encargo é um ônus que diminui a extensão da liberalidade”.


312 OBS: nos contratos reais, aqueles que têm aperfeiçoamento com a entrega da coisa, a tradição está

no plano da validade, ou mesmo da existência para alguns. Como exemplos de contratos reais,
comodato, mutuo e deposito. Em regra, o contrato real é unilateral, pois após a entrega da coisa,
somente há deveres para aquele que a recebeu.
313 Depreende Emilio Betti, a invalidade e a eficácia surtem efeitos idênticos na ordem jurídica, como

regra geral, ressalvadas as hipóteses segundo as quais devem ser analisadas à luz da nulidade ratio
iures. Todavia, sua distinção se faz importante quando para apresentar clareza quanto ao estudo dos
negócios jurídicos. BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução de Servanda Editora,
Campinas: Servanda Editora, 2008. p. 655.
314 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. 34ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2003. p. 259.

87
Referido fato gerador pode ser dividido em duas modalidades, direito deferido
e não deferidos. Direito deferido trata daquele adquirido apenas pela vontade de seu
titular. Como exemplo o sujeito que já outorgou a escritura e falta somente levá-la à
circunscrição imobiliária.

Por sua vez, o fato gerador pode ser não deferido, ou seja, aquele cuja a
aquisição depende fatos falíveis, ou seja, futuros e incertos. É o que se dá nos casos
dos direitos condicionais, eventuais e na expectativa do direito conforme
ensinamentos de Silvio de Salvo Venosa315.

Não obstante não é só referido autor que pondera o direito condicional, nele há
as bases necessárias para aquisição do direito, ou seja, já estão formadas
dependendo, no entanto, para a efetiva aquisição, apenas de acontecimento externo
a ele316.

Como exemplo pode ser citado à escritura de doação que já foi lavrada
pendendo, no entanto, de uma determinada condição, qual seja, se chover em
determinada data fixada entre partes317.

Em continuidade, por sua vez, o direito eventual. Nele, as bases necessárias


para a aquisição do direito, também já estão formadas, dependendo apenas de
acontecimento interno, que é inerente ao próprio negócio318.

Por fim, o último elemento é a expectativa de direito, neste caso as bases


estruturais para aquisição não estão sequer formadas, por exemplo o direito de
herança de uma pessoa viva319.

315 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. 14ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2004. p. 491.
316 A mesma experiência retrata o Código Civil Português, conforme art. 270.º. VIEIRA, José Alberto.
Negócio Jurídico, anotação aos artigos 217º a 295º do Código Civil. reimp. Coimbra: Coimbra
Editora, 2009. p. 12.
317 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. 34ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2003. p. 241.
318 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico existência, validade e eficácia. Atualizado

de acordo com o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10.1.2002). 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
p. 53.
319 SAVI, Sergio. Responsabilidade civil por perda de uma chance. 2ª ed. São Paulo: Editora Atlas,

2009.
88
Retomando aos elementos – condição, termo e encargo - esses são as
cláusulas acrescentadas nos negócios jurídicos destinadas a modificar as suas
consequências naturais.

Nos termos da doutrina balizada, referidos elementos não se presumem, pois


dependem de previsão expressa no negócio, bem como referidos elementos não
afetam a existência do ato, mas apenas a sua eficácia320.

A doutrina321,322 lembra ainda que em regra todo negócio admite condição


termo e encargo e a inclusão deles nos negócios jurídicos de caráter patrimonial é
sempre possível, salvo no caso de aceitação e renúncia da herança conforme
previsão expressa do art. 1.808, Código Civil.

É sabido, no entanto que os negócios jurídicos referentes ao estado das


pessoas e o direito de família em sua essência não admitem elementos acidentais.
Como exemplo disso, não podem ser objeto de elementos acidentais, o casamento, a
emancipação, o reconhecimento de filhos e etc.

Diante de todo o exposto, lembra Flávio Tartuce323,324 que o negócio jurídico


pode assumir algumas formas como ser válido e eficaz; válido e ineficaz, por exemplo,
se pendente uma condição suspensiva; e por fim, inválido e eficaz, como por exemplo,
um ato praticado por nulidade relativa ainda não pronunciada judicialmente.

Feitas a ponderações iniciais o primeiro elemento a condição traduz o


acontecimento futuro e incerto que subordina ou interfere com a eficácia jurídica do
Negócio Jurídico.

320 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral 1. 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2016. p. 360.
321 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral

1. 17ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. p. 453.


322 PUGSLEY, Gustavo de Revorêdo. O efeito modificativo do fato jurídico sobre a relação jurídica

obrigacional. São Paulo: USP, 2015. 255 f. Dissertação (Mestrado em Direito Civil) – Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo.
323 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral 1. 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 2016. p. 360.


324 Nesse sentido: AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico existência, validade e

eficácia. Atualizado de acordo com o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10.1.2002). 4ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2002. p. 57.
89
Conforme pode ser apercebido na legislação vigente, em especial o art. 121,
do Código Civil, dispõe que “Considera-se condição a cláusula que, derivando
exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento
futuro e incerto”.

Sendo assim, toda cláusula que estipula condição deriva da vontade das partes
e a lei não pode fixar condição, antigamente chamadas conditiones iuris.

Em continuidade é de suma importância anotar que a incerteza é quanto à


ocorrência do fato.

Outra pergunta interessante é saber se a morte é uma condição. A resposta


vem em sentido negativo, pois em regra como é sabido, a única certeza que temos na
vida é a certeza da morte. Sendo assim, trata-se de um termo de prazo incerto.

Em continuidade, conforme muito bem aponta o legislador, os artigos 122 e


123, do Código Civil, há algumas proteções legislativas quanto à utilização do referido
mecanismo muito versátil, não sendo possível assim, instituir condições impossíveis
de ser executadas.

O segundo elemento apresentado deriva do instituto do termo, que é


acontecimento futuro e certo em que começa ou termina a eficácia do negócio
jurídico325.

Uma importante anotação inicial é que não é possível confundir termo com
prazo, pois o termo corresponde a uma data certa, enquanto que o prazo é o lapso de
tempo entre o termo inicial e o final.

Nesse sentido, podemos verificar o ponderado no artigo 132, do Código Civil


dispõe: “132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os
prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento”.

325 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. 34ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2003. p. 255.
90
Quanto à origem, o termo pode vir de exigência legal, daí a denominação de
termo legal. Já o termo judicial - estipulado pelo magistrado - é também chamado o
termo de graça. Além disso, há os termos convencionais.

Da mesma forma que anterior, cumpre registrar que determinados negócios


jurídicos não admitem termo. São aqueles relativos ao estado das pessoas, como por
exemplo, emancipação, os relativos ao direito de família puro, como por exemplo, o
casamento, bem como a aceitação e a renúncia da herança.

Por fim, o último elemento acidental do negócio jurídico é o encargo ou modo


decorrente da cláusula imposta nos negócios gratuitos que acaba por restringir a
vantagem do beneficiado, como exemplo a doação de um terreno ao Antônio, para
que seja construído um asilo326.

Sendo assim, o encargo é o ônus que se atrela a uma liberalidade, ou seja, não
é obrigação, é ônus, porque não há contraprestação. Tem-se um típico de contrato
gratuito que pode ser identificado facilmente nas doações, comodatos e testamentos.

Diante disso, nos negócios onerosos não haverá encargo, no sentido técnico
do termo, pois o encargo não pode ser entendido como sendo a contraprestação,
alguns autores, no entanto nesta situação o denominam de encargo impróprio.

Como exemplo uma doação de um terreno impondo o encargo de construir


capela. O encargo não obsta o surgimento do direito, mas conforme bem aponta Flávio
Tartuce327 o mesmo se trata de um fardo, ou seja, um presente de grego, bem como
continua a apontar que o instituto é facilmente identificado, pois termos como “para
que ou com o fim de” são identificados facilmente.

326 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: Teoria geral do Direito Civil. 6ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2010. p. 410.
327 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral 1. 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 2016. p. 367.


91
Por fim, encerrando o estudo os negócios jurídicos, observação dos aspectos
analisados quanto ao último plano, se faz possível afirmar às consequências práticas
dos negócios jurídicos estão previstas.

Referidos elementos estão previstos como exemplo a condição, termo e


encargo ou modo. Tidos como cláusulas acrescentadas nos negócios jurídicos
destinadas a modificar as suas consequências naturais.

Porém não é só, deve ser registrado, estão ainda, nesse plano as
consequências práticas dos contratos como inadimplemento – resolução -; juros;
multa ou cláusula penal e registro imobiliário, pois a escritura como já notado
anteriormente escritura se encontra no plano anterior.

2.3. A BOA-FÉ NA NO DIREITO PÁTRIO

Conforme Vicente Ráo328 a questão da boa-fé é antiga no direito. Ao inaugurar


a questão em sua obra, referido autor questiona se a Boa-fé é um dever de estado
ético, um estado psicológico ou, deve ser concebida de forma positiva, como ausência
de má-fé.

Para efeitos de direito negocial aduz citado autor329 no sentido da solução mais
aceita pela doutrina é do momento propiciado pela ética social e não alterado pelo
Direito que o adota, ou seja, deve ser atrelada à vida e remetida ao caso a caso, e,
apreciada pelos instrumentistas do direito. Tanto é assim, que se adverte de estarmos
diante de um sintagma, segundo qual a expressão em si mesma não está acabada,
podendo compreender vários sentidos330.

328 RÁO, Vicente. Ato Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema
do conflito entre os elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999.
p. 195.
329 Idem.
330 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 39.


92
Azevedo331, pondera que o princípio da boa-fé é fundamental para o direito,
pois “assegura o acolhimento do que é licito e a repulsa ao ilícito (...) é a essência do
próprio entendimento entre os seres humanos, é a presença da ética nos contratos”.
Porém não é só, a boa-fé objetiva pode compreender mais que isso, pois pode
incorporar elementos tais como uma estrutura normativa dotada de prescritibilidade;
um elemento de interpretação contratual; e um standart comportamental332.

No dicionário jurídico de Maria Helena Diniz333 a boa-fé objetiva é definida nos


seguintes termos:

Direito Civil. 1. Modelo de conduta social, ao qual cada pessoa


deve ajustar-se para agir com probidade (Judith Martins Costa).
2. Dever de agir conforme certos padrões socialmente
recomendados, de correção, lisura e honestidade (Fernando
Noronha).

No sistema normativo brasileiro há vários dispositivos que tratam acerca da


boa-fé, todavia, a questão é tão manifesta, que até mesmo em cartas internacionais
como das Nações Unidas, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por
ocasião da Conferência de Organização Internacional das Nações Unidas, convertida
em Decreto nº 19.841, de 22 de Outubro de 1945, dispõe:

Artigo 2. A Organização e seus Membros, para a realização dos


propósitos mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os
seguintes Princípios (...) 2. Todos os Membros, a fim de
assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens
resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de

331 AZEVEDO, Antonio Junqueira. Contratos: Disposições Gerais Princípios e Extinção. In: AZEVEDO,
Antonio Junqueira de; TORRES, Heleno Taveira; CARBONE, Paolo. Princípio do Novo Código Civil
Brasileiro e Outros Temas: Homenagem a Tullio Ascarelli. São Paulo: Quarter Latin, 2010.
p. 53.
332 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 40.


333 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. 2ª ed. rev. e atual. e aum. São Paulo: Editora Saraiva,

2005. p. 507.
93
boa-fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a
presente Carta.

Em legislação estrangeira, também há referência ao disposto, entre eles o


Código Civil Italiano de 1942334, qual trata da seguinte forma: “Negociações e
responsabilidade pré-contratual. As partes na condução das negociações e a
formação do contrato devem agir de boa-fé”.

Outro dispositivo muito interessante do Direito Italiano, encontra-se previsto no


art. 1.176335 que trata da realização da obrigação segundo o qual “No cumprimento
da obrigação, o devedor deve usar a diligência de um bom pai”.

Assim como o Código Civil Português, de 1966336: “ARTIGO 227º 1. Quem


negoceia com outrem para conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares
como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de
responder pelos danos que culposamente causar à outra parte”.

Não obstante as relevantes indicações, a consagração deste princípio deu-se


a partir da releitura do Direito Romano337, chegando ao ápice de sua consagração no

334 Texto no original: Art. 1337 Trattative e responsabilità precontrattuale. Le parti, nello svolgimento
delle trattative e nella formazione del contratto, devono comportarsi secondo buona fede (1366,1375,
2208). THE CARDOZO ELETRONIC LAW BULLETIN. Il Codice Civile Italiano. Obiter Dictum
Eletronic Law Journal, 1997-1999. Disponível em: <http://www.jus.unitn.it/cardozo/obiter_
dictum/home.html>. Acesso em: 22 set. 2016.
335 Texto no original: Art. 1176 Diligenza nell'adempimento Nell'adempiere l'obbligazione il debitore deve

usare la diligenza del buon padre di famiglia (Cod. Civ. 703, 1001, 1228, 1587, 1710-2, 1768, 2148,
2167. THE CARDOZO ELETRONIC LAW BULLETIN. Il Codice Civile Italiano. Obiter Dictum Eletronic
Law Journal, 1997-1999. Disponível em: <http://www.jus.unitn.it/cardozo/obiter_dictum/home.html>.
Acesso em: 22 set. 2016.
336 PORTUGAL. Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de Novembro de 1966. Código Civil Português,

Supremo Tribunal de Justiça, Portugal, 1966. 553 f. Disponível em: <http://www.stj.pt/ficheiros/


fpstjptlp/portugal_codigocivil.pdf>. Acesso em: 22 set. 2016.
337 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:

Editora Almedina, 2011. p. 18. Dissertam acerca do tema: “Como retrata a doutrina portuguesa, num
mar de decisões empíricas, tentou os romanos descobrirem meios para desvendar saídas de eventuais
litígios futuros valendo-se de modo diferente com a medida da variação em manifestações de
regularidades qual permitisse tratar os iguais, de forma igual e os diferentes de modo diferente”.
94
parágrafo 242, do BGB (Bürgerlichen Gesetzbuches)338,339,340,341 dispondo “O devedor
está obrigado a executar a prestação como exige a boa-fé, em atenção aos usos e
costumes”. A fim de enaltecer a importância do referido dispositivo, pontua-se que a
cláusula geral de boa-fé no referido país, ocupa lugar central no direito obrigacional,
criando deveres de conduta342,343.

Flávio Tartuce344 lembra que a regra da eticidade passou a ser reputada uma
cláusula geral nas relações negociais denominada de Treu und glauben - lealdade e
confiança, ou também denominada, boa-fé objetiva-345. O exemplo paradigmático
pontuado pela doutrina346 como deveres de proteção do ordenamento alemão é a
sentença Reichsgericht - tribunal do império-, conhecido como “o caso dos rolos de
linóleo”, segundo o qual, ocorrera um incidente antes mesmo da realização da
obrigação, ou seja, o caso em tela contém como base um indivíduo, qual foi até uma
loja de tapetes - antes da aquisição -, e, que por um acidente - diante da falta de
segurança do local -, foi atingido – em conjunto com uma criança - por um rolo de
tecido que lá estava347. No referido caso, o vendedor foi condenado, pois deveria ter

338 Texto Original: § 242 Leistung nach Treu und Glauben Der Schuldner ist verpflichtet, die Leistung
so zu bewirken, wie Treu und Glauben mit Rücksicht auf die Verkehrssitte es erfordern. ALEMANHA.
Bürgerliches Gesetzbuch (BGB). Bundesministerium de Justiz und für Verbraucherschutz, [s.d.],
Disponível em: <https://www.gesetze-im-internet.de/bgb>. Acesso em: 22 set. 2016. ALEMANHA.
Bürgerliches Gesetzbuch (BGB). Disponível em: ht https://www.gesetze-im-internet.de/bgb/. Acesso
em: 22/09/2016.
339 MARTINS-COSTA, Judith. O direito privado como um "sistema em construção" - as cláusulas gerais

no projeto do código civil brasileiro. Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 753, p. 24-48, 1998.
340 MARTINS-COSTA, Judith. O direito privado como um "sistema em construção" - as cláusulas gerais

no projeto do código civil brasileiro. Doutrinas Essenciais de Direito Civil, vol. 4, p. 391-423, out.
2010.
341 MARTINS-COSTA, Judith. O direito privado como um "sistema em construção" - as cláusulas gerais

no projeto do código civil brasileiro. Doutrinas Essenciais Obrigações e Contratos, vol. 1, p. 195-
228, jun. 2011. p. 13.
342 STEINER, Renata. Descumprimento Contratual: Boa-fé e Violação Positiva do Contrato. São

Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 62.


343 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

p. 25. Pontua quanto segue em relação a conduta: “Entende-se, pois, por conduta o comportamento
humano voluntário que se exterioriza através de uma ação ou omissão, produzindo consequências
jurídicas. A ação ou omissão é o aspecto físico, objetivo, da conduta, sendo a vontade o seu aspecto
psicológico, ou subjetivo”.
344 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São

Paulo: Método, 2015.


345 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. A boa-fé objetiva no

ordenamento jurídico e a jurisprudência contemporânea. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014.
p. 111.
346 STEINER, Renata. Descumprimento Contratual: Boa-fé e Violação Positiva do Contrato. São

Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 32.


347 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:

Editora Almedina, 2011. p. 604. Referidos doutrinadores consideram que às “partes, enquanto perdure
95
o dever de cuidado de armazenamento adequado, sendo assim, se tivesse cuidado
ao armazenar seus produtos, não haveria o dano, porém não foi o caso e, sendo
assim, teve de indenizar a pessoa acidentada.

Trata-se da evolução do conceito de boa-fé que saiu do plano intencional – da


boa-fé subjetiva348. Destarte, para o proprietário do estabelecimento não havia a
preocupação quanto a eventual vício para com a outra pessoa, bem ou negócio, para
um plano da conduta de lealdade das partes tida como a boa-fé objetiva349.

Segundo Miguel Reale, “apresenta-se como uma exigência de lealdade,


modelo objetivo de conduta, arquétipo social pelo qual impõe o poder-dever que cada
pessoa ajuste a própria conduta a esse arquétipo, obrando como obraria uma pessoa
honesta, proba e leal”.350

Nesse sentido, Alvaro Vilaça Azevedo351 pondera que os sistemas jurídicos são
construídos observando o direito consuetudinário com duas grandes colunas a
primeira, tida como boa-fé que sempre deve triunfar, e a má-fé que deve permanecer
em ruínas.

Em complemento, lembra Vicente Ráo352 que além de um princípio a boa-fé


reconhece o postulado moral e de segurança nas transações, bem como, criador de

um fenómeno contratual, estão ligadas a evitar que, no âmbito desse fenómeno, sejam afligidos danos
mútuos, nas suas pessoas ou nos seus patrimônios”.
348 “Já se tornou lugar-comum distinguir a forma objetiva da boa-fé de sua tradicional versão subjetiva.

Pode-se definir a boa-fé objetiva (Treu und Glauben) como um modelo ético de comportamento que se
exige de todos os integrantes da relação obrigacional, em contraposição com a noção subjetiva de boa-
fé (Guten Glauben), que significa o estado de crença de um sujeito de estar agindo em conformidade
com as normas do ordenamento. Desse modo, a boa-fé subjetiva (“boa-fé crença”) relaciona-se ao
desconhecimento de determinada circunstância, no que difere da boa-fé em sua dimensão normativa,
a boa-fé objetiva, que diz respeito à confiança e à legítima expectativa do sujeito (“boa-fé lealdade”).”
EHRHARDT JUNIOR, Marcos. A boa-fé na experiência jurídica brasileira. Revista de Direito Privado,
vol. 55, p. 181-211, jul.-set. 2013. p. 2.
349 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São

Paulo: Método, 2015. p. 92.


350 REALE, Miguel. A Boa-fé no Código Civil. [s.l.], 16 ago. 2003. Disponível em:
<http://www.miguelreale.com.br/artigos/boafe.htm>. Acesso em: 23 mar. 2017.
351 AZEVEDO, Antonio Junqueira. Contratos: Disposições Gerais Princípios e Extinção. In: AZEVEDO,

Antonio Junqueira de; TORRES, Heleno Taveira; CARBONE, Paolo. Princípio do Novo Código Civil
Brasileiro e Outros Temas: Homenagem a Tullio Ascarelli. São Paulo: Quarter Latin, 2010. p. 54.
352 RÁO, Vicente. Ato Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema

do conflito entre os elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999.
p. 196.
96
fatos criadores de direitos. Sendo assim, ainda que seja um caminho árduo, vez a
conceituação de o instituto ser complexa, os juristas chegam ao seu conteúdo por
meio de análise de casos, bem como discernimento dos vários modelos de
comportamentos exigidos nas relações jurídicas353.

Segundo Karl Larentz, citado por Flávio Tartuce354, a boa-fé objetiva é


relacionada aos deveres anexos ou laterais de conduta, que são deveres inerentes a
qualquer contrato sem a necessidade de previsão no instrumento: dever de cuidado;
dever de respeito com a outra parte; dever de informar; dever de transparência; dever
de colaboração e cooperação; dever de confiança; e dever de agir honestamente e
dever de lealdade e probidade. A quebra dos deveres anexos gera a violação positiva
do contrato, que é uma nova modalidade de inadimplemento em que a
responsabilidade é objetiva355. Esse entendimento consta no enunciado doutrinário
nº. 24 do Conselho da Justiça Federal nas Jornadas de Direito Civil dispõe: “Art. 422:
em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a
violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento,
independentemente de culpa”.

Essa tese da violação positiva é uma tese nova do art. 1.908, que foi defendida
na Alemanha por um juiz denominado: Hermann Staub. Como exemplo pode ser
citado o credor que não retira o nome do devedor de cadastro de inadimplentes após
acordo ou pagamento da dívida, viola positivamente o contrato, por quebra da boa-fé
na fase pós-contratual, surgindo uma responsabilidade pós-contratual (pos- factum
finitum)356,357.

353 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 40.
354 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São

Paulo: Método, 2015. p. 94.


355 Idem, p. 95.
356 PEZZELLA, Maria Cristina Cereser. O princípio da boa-fé objetiva no direito privado alemão e

brasileiro. Revista de Direito do Consumidor, vol. 24, p. 199-224, jul.-dez. 1997. p. 5.


357 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2014. p. 55.


97
Menezes Cordeiro358 destaca que este princípio possui três pilares
estruturantes. Inicialmente uma função interpretativa e hermenêutica, a fim de
preencher lacunas; em um segundo momento a função delimitativa da autonomia
privada; e, por fim, uma função constitutiva de deveres anexos ou de proteção,
normatização desses deveres.

A tese dos deveres anexos, também chamados de laterais ou secundários foi


introduzia no Brasil por Clóvis do Couto e Silva, segundo o qual,

(...) os deveres secundários comportam tratamento que abranja


toda a relação jurídica. Assim, podem ser examinados durante o
curso ou o desenvolvimento da relação jurídica, e, em certos
casos, posteriormente ao adimplemento da obrigação principal.
Consistem em indicações, atos de proteção, como o dever de
afastar danos, atos de vigilância, da guarda de cooperação, de
assistência.359

Por isso tudo é possível afirmar que a questão da boa-fé é antiga no direito,
bem como seria essa um dever de estado ético, que deve ser atrelada à vida e
remetida ao caso a caso, e, apreciada pelos instrumentistas do direito.

Tanto é assim que se assegura o acolhimento do que é licito e a repulsa ao


ilícito, bem como pode incorporar elementos tais como uma estrutura normativa
dotada de prescritibilidade; um elemento de interpretação contratual; e um standart
comportamental.

Outro grande elemento, relacionada a boa-fé objetiva são os deveres anexos


ou laterais de conduta, que são deveres inerentes a qualquer contrato sem a
necessidade de previsão no instrumento: dever de cuidado; dever de respeito com a
outra parte; dever de informar; dever de transparência; dever de colaboração e

358 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:
Editora Almedina, 2011. p. 197.
359 SILVA, Clóvis Couto e. A obrigação como processo. reimp. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

98
cooperação; dever de confiança; e dever de agir honestamente e dever de lealdade e
probidade.

A quebra dos deveres anexos gera a violação positiva do contrato, que é uma
nova modalidade de inadimplemento em que a responsabilidade é objetiva.

Sendo assim, a obrigação não seria somente um dever jurídico principal – dar,
fazer ou não fazer -, mas tem ainda deveres anexos ou de proteção tão importantes
quanto o dever principal – como o dever de informar360 - , que quando descumpridos,
da mesma forma que o descumprimento do dever principal, pode gerar
responsabilidade civil podendo, essa obrigação ser denominada de relação jurídica
complexa361.

2.3.1. Análise histórica acerca da boa-fé

Conforme pode ser retirado dos melhores textos doutrinários362, na sociedade


romana a boa-fé significa senão a mera ausência de dolo ou má-fé, ou seja, não há
que se falar com conceito ético. Não obstante, deve ser registrada uma questão mais
profunda, uma vez não obstante a origem ser incerta, no Direito Romano o instituto foi
profundamente estudado363.

Tanto é assim, que no Império Romano, a ideia da fides364-365 dominou


recebendo longo e largo espectro de significados alguns deles citados, mas

360 LISBOA, Roberto Senise. Obrigação de informar. São Paulo: Editora Almedina, 2012.
361 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 197.
362 RÁO, Vicente. Ato Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema

do conflito entre os elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999.
p. 195.
363 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 47.


364 De acordo com Menezes Cordeiro a origem da fides é controversa, por não haver documentos

históricos que a comprove. ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito
Civil. 4ª reimp. Coimbra: Editora Almedina, 2011. p. 53.
365 Semanticamente transformada a fides passo a ser vista como uma “palavra dada”, e, passou à ser

bona fides quando desvinculou a palavra, para se tornar um agir segundo as intenções do negócio,
decorrente do consentimento, não da literalidade do acordo. CIGNACHI, Gustavo Chies. A fraude à
execução na perspectiva da boa-fé objetiva. São Paulo: USP, 2015. 240 f. Dissertação (Mestrado
em Direito) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. p. 13.
99
especificadamente na interpretação prudencial como conceito valorativo (fidei bonae
nomen), como cláusula de formular tutela de atividade negocial (opodere ex fide bona)
e a integração dos deveres contratuais (bonae fidei interpretativo e bonum et
aequum)366

Acerca da fides disserta Paulo Ferreira da Cunha367:

Nessa Roma que nos foi berço (e cegonha) de cultura, criadora


a um tempo da Humanitas e do Jus, a deusa FIDES presidia aos
contratos, às trocas, protegia a palavra dada, garantia os
juramentos e residia na palma da mão direita dos homens de
boa-fé. O geral respeito pelo prometido e pelo afirmado (pacta
sunt servanda...), é decerto fruto da disciplina de virtude cívicas,
políticas e jurídicas, escolas todas do carácter, verdadeiramente
espelha a feição característica da cultura romana clássica. A
FIDES romana é, além de um conceito jurídico, a síntese de uma
mundividência. Porque a vida é feita de pactos, de testemunhos,
de prestações, de cumprimentos, de reciprocidades, de falar
verdade (fidedignidade) ou mentida (infidelidade). Seja nos
negócios privados, seja nos assuntos públicos, seja no discurso
sobre o ser ou a verdade, seja no pacto artístico firmado entre
autor e público, é vital reafirmar esse pilar essencial da nossa
civilização, para mais em época de crepuscular descrença.
Herdeiros dos Romanos, temos que ser homens de palavra,
homens em quem se possa fazer fé”.

Porém não é só, um momento importante, - não obstante sutil - foi a


transformação do termo fides em bona fides368 que ocorrera por meio das negociações
com os estrangeiros, tendo em vista seu forte potencial comercial no século III A.C.

366 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 50.
367 CUNHA, Paulo. Ferreira. Fides, a Cultura e a Cultura Jurídica. “Fides. Direito e Humanidades”,

vol. I. Porto: Rés, 1990. p. 7.


368 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:

Editora Almedina, 2011. p. 70. De acordo com os doutrinadores portugueses: “Com a criação e sucesso
da fides bona, a fides, mantendo sempre as suas conotações afetivas, ficou novamente disponível para
100
A bona fides surge da lealdade à palavra data por parte de quem é titular da
fides, ou seja, das relações creditícias estabelecidas entre os sujeitos segundo o qual
a bona fides de debruça na condição de crença em manter a palavra dada na
realização de uma obrigação369.

Não obstante a construção da boa-fé objetiva iniciar seu fundamento no Direito


Romano, sua aplicação se enfraquece por uma complexa série de fatores minando
sua aplicação, bem como pode ser notada a transmutação do instituto para os direitos
reais, em especial para usucapião quanto ao aspecto de ignorância ou a intenção370.

De ser anotado, que dada situação se manteve durante todo o transcurso dos
demais séculos sob a influência do direito romano, isso pode ser apercebido
facilmente no Direito Canônico e Código Civil Napoleônico.

Lembra Fernando Araújo371 que análise econômica durante muito tempo


apresentou completa indiferença pela boa-fé contratual, tal situação se verifica da
origem do common law - que se alterou com o tempo -, bem como da inspiração da
boa-fé germânica, - em especial apresentada o BGB – quanto aos ditames
estabelecidos da boa-fé objetiva conforme já notado anteriormente.

2.3.2. Codificações anteriores e o Código Civil de 1916

O Código Civil pátrio, consagrado pelo Código Francês de Napoleão


incorporada nas codificações do século XIX era consequência de doutrina
individualista e voluntarista372. Nesta baila, antes da Codificação Civil de 1916

traduzier, tmbém, por incumbência, o sentido que lhe deu o Cristianismo nascente, e que se mantem:
fé.”
369 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 76.


370 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015.


371 ARAUJO, Fernando. Teoria Econômica. Coimbra: Almedina, 2007. p. 570 e seguintes.
372 BARBOSA, Elisandra Cristina. A boa-fé na relação contratual e o princípio da confiança. São

Paulo: PUC-SP, 2008. 148 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. p. 27.
101
somente há uma previsão da boa-fé, tida no Código Civil Comercial de 1850, artigo
130373:

As palavras dos contratos e convenções mercantis devem


inteiramente entender-se segundo o costume e uso recebido no
comércio, e pelo mesmo modo e sentido por que os negociantes
se costumam explicar, posto que entendidas de outra sorte
possam significar coisa diversa.

Lembra a doutrina374, que não obstante a importância do dispositivo, o mesmo


não foi devidamente referenciado, tão pouco aplicado como elemento tido como
“aberto” ou uma cláusula geral chegando até mesmo ser ignorado por grandes autores
como Miguel Maria Serpa Lopes375, Orlando Gomes, e Pontes de Miranda.

Em continuidade Diante do momento histórico qual se promulgou o Código Civil


de 1916, imperioso destacar que o organizador da nova codificação tratou de
regulamentar a atuação dos sujeitos de direito, e, precipuamente findar com as
ingerências feudais, a fim de ampliar a liberdade para contratar e assim circular
riquezas e aquisição de bens. Portanto, culminou no impedimento da intervenção,
principalmente do poder público, na circulação de riquezas376.

Ademais com esta nova codificação, houve o surgimento da segurança jurídica


em relação ao desenvolvimento econômico, bem como na firmação da propriedade,
entre os sujeitos de direito privado377.

373 O verbo foi indicado no passado, pois como se sabe o artigo em referência foi revogado pela atual
codificação civil de 2002.
374 MARTINS-COSTA, Judith. Os Campos Normativos da Boa-fé Objetiva: As três Perpectivas do

Direito Privado Brasileiro. In: AZEVEDO, Antonio Junqueira de; TORRES, Heleno Taveira; CARBONE,
Paolo. Princípio do Novo Código Civil Brasileiro e Outros Temas: Homenagem a Tullio Ascarelli.
São Paulo: Quarter Latin, 2010. p. 396.
375 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Algumas controvérsias sobre a hipoteca do domínio direto e do

domínio útil (excerpto do tratado dos registros públicos). Doutrinas Essenciais de Direito Registral,
vol. 5, p. 825-829, dez. 2011.
376 TEPEDINO, Gustavo. Premissas Metodológicas para a constitucionalização do direito civil. Revista

de Direito do Estado, nº 2, p. 37-53, abr.-jul. 2006. p. 38.


377 BARBOSA, Elisandra Cristina. A boa-fé na relação contratual e o princípio da confiança. São

Paulo: PUC-SP, 2008. 148 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. p. 28.
102
Portanto, no que se refere a Codificação Civil de 1916 e as codificações
anteriores somente há uma previsão da boa-fé, tida no Código Civil Comercial de 1850
que não prestigia de fato a boa-fé objetiva tendo em vista o momento histórico
apresentado.

2.3.4. A Constituição de 1988 e o Código Civil de 2002

Com base na tragédia resultante da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945),


qual culminou em ataques indistintos aos civis, ao holocausto, nasceu a necessidade
de realizar uma releitura às normas.

Nasce de forma cristalina a preocupação com a proteção ao caráter existencial


do ser humano, e assim, a premente indispensalidade em promulgar uma Constituição
tida como lei maior, composta por valores fundamentais ao sistema, sendo assim, o
Código Civil, não poderia mais ser considerado como o centro de sistemas e
normatizações para configurar regramento para a vida civil378.

Então, nos anos 80, a boa-fé foi fundamental em sua referência, não somente
o momento histórico, político e econômico, mas sim pelo novo tratamento
Constitucional que determinou a edição do Código de Defesa do Consumidor.

Referido diploma, tem como estrutura elementar campo de aplicação extenso,


com muitas disposições claras quanto ao protecionismo da premência quanto a boa-

378
BARBOSA, Elisandra Cristina. A boa-fé na relação contratual e o princípio da confiança. São
Paulo: PUC-SP, 2008. 148 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo.
103
fé379. Pode ser citado como exemplo os artigos 4º, inciso III 380 e 51, do Código de
Defesa do Consumidor381-382.

Diante do exposto, se faz possível afirmar a Constituição de 1988 e o Código


Civil de 2002 foram ferramentas de suma importância para confirmação da boa-fé
objetiva, que certamente decorreram dos fatos históricos, em especial na codificação
privada, segundo a qual se fez necessária uma nova codificação com base
principiológica distinta das anteriores. Isso devido ao crivo do legislador pátrio qual
balanceou valores individuais e sociais, resultando então na distribuição de justiça e
na inserção do ser humano, na sociedade383.

2.4. OS PRINCÍPIOS NORTEADORES: OPERABILIDADE; ETICIDADE E SOCIALIDADE

Como amplamente divulgado, a Codificação Civil de 2002 foi erigida de forma


muito distinta do regramento anterior, cuja relatoria se deu por Clóvis Beviláqua, esse
dividiu o Código Civil de 1916, em parte geral e especial, contudo, demonstrou incapaz
de tratar dos problemas de ordem social os quais devido às transformações e
evolução da sociedade predominamente agrícola que enfrentavam384. A atual

379 MARTINS-COSTA, Judith. O direito privado como um "sistema em construção" - as cláusulas gerais
no projeto do código civil brasileiro. Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 753, p. 24-48, 1998. p. 12.
380 art, 4, III do CDC Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o

atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a
proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada
pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995) “harmonização dos interesses dos participantes das relações de
consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica
(art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores”;
381 Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento

de produtos e serviços que: V - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem
o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
382 MARTINS-COSTA, Judith. Os Campos Normativos da Boa-fé Objetiva: As três Perpectivas do

Direito Privado Brasileiro. In: AZEVEDO, Antonio Junqueira de; TORRES, Heleno Taveira; CARBONE,
Paolo. Princípio do Novo Código Civil Brasileiro e Outros Temas: Homenagem a Tullio Ascarelli.
São Paulo: Quarter Latin, 2010. p. 399.
383 BARBOSA, Elisandra Cristina. A boa-fé na relação contratual e o princípio da confiança. São

Paulo: PUC-SP, 2008. 148 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. p. 31.
384 RACY, Vivien. A cláusula geral da boa-fé objetiva no Código Civil de 2002. São Paulo: PUC-SP,

2011. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 11.
104
codificação foi elaborada por uma comissão iniciada em 1975, capitaneada por Miguel
Reale e composta por membros temáticos385,386.

Dentro desse novo panorama, em 2002, entrou em vigor com estruturas bem
distintas de seu antecessor, deixando de ser prioristicamente, individualista e
patrimonialista, e passa a ter como valores básicos e fundamentais, quais sejam:
operabilidade; eticidade e socialidade.

Nesse sentido, pontua Roberto Senise Lisboa387:

Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, novos valores


foram consagrados pelo legislador: o princípio da eticidade, o
princípio da socialidade e o princípio da operabilidade. O Código
Civil atual optou pela valorização ética das relações jurídicas,
mediante a adoção das cláusulas negociais gerais (arts. 421 a
480, CC/2002) e a consagração da boa-fé objetiva como
princípio norteador aplicável.

Porém não é só, em continuidade, se pode afirmar que algumas premissas


foram estabelecidas conforme a exposição de motivos do Código Civil, sendo elas
basicamente três pilares. Inicialmente há o mantenimento, dentro do possível, da
codificação anterior tendo em vista sua excelência técnica, e continuidade de
posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais já existentes. O segundo pilar foi fazer
constar somente a orientação de matérias já consolidadas e debatidas, pois às
questões polêmicas deverão ser analisadas conforme a legislação especial. Assim,
levantaram questões muito criticadas por ausência de previsão, como o caso da
bioética, bio-direito e direito do espaço virtual, matérias as quais foram afastadas
propositalmente, pois o Código Civil não tinha como objetivo ser um diploma
revolucionário. Por fim, porém não menos importante valorização de um sistema

385 A referida comissão era formada por José Carlos Moreira Alves (Parte Geral), tendo, Agostinho de
Arruda Alvim (Direito das Obrigações), Sylvio Marcondes (Atividade Negocial), Ebert Vianna Chamoun
(Direito das Coisas), Clóvis do Couto e Silva (Direito de Família) e Torquato Castro (Direito das
Sucessões), criando assim, uma grande diversidade de pensamentos.
386 CASTRO, Torquato. Da causa no contrato. Recife: Universitária. 1966.
387 LISBOA, Roberto Senise. Dignidade e solidariedade civil-constitucional. Revista de Direito Privado,

vol. 42, p. 30-70, abr.-jun. 2010.


105
pautado em novos ditames principiológicos baseados preponderantemente na
operabilidade; eticidade e socialidade, que se passa a analisar.

Inicialmente tem-se o princípio mais relevante da atual codificação,


denominado de operabilidade388, este tem caráter eminentemente hermenêutico, ou
seja, seu objetivo em um primeiro momento é facilitar a interpretação da legislação,
tendo como melhor exemplo é a nova regulamentação da prescrição e decadência
conforme artigos 189 até 211, do Código Civil. Já em um segundo momento,
implementou-se o sistema de “cláusulas gerais”389 ou “sistema de janelas abertas”
aplicadas a concretude, ou seja, ao caso concreto, como é o exemplo dos artigos 421
e 422, do Código Civil390.

Tendo em vista a guinada hermenêutica, há quem afirme que este princípio é


autodestrutivo, pois poderá criar juízes ditadores, vez abrir margem para que o
magistrado crie direito391. Não obstante a referida crítica, este não é o entendimento,
tendo em vista a grande participação de todos os operadores do direito para
implementação deste sistema. Outro argumento forte é que o a cláusula geral
necessita de balizamento e fundamentação das decisões. Previsão essa, muito
prestigiada no novo Código de Processo Civil.

Por sua vez, a socialidade que têm nítida importância principiológica. Traduzia
na frase celebre de Miguel Reale acentua392 que: “...se não houve a vitória do
socialismo, houve o triunfo da socialidade.” Referido instituto jurídico, também recebe
o nome mais popular de função social, e sua natureza jurídica é transcender a
dicotomia da individualidade, para o coletivo. Nesse sentido, cria-se uma nova
denotação social ao Direito Civil, em várias esferas de conhecimento; como exemplo

388 RACY, Vivien. A cláusula geral da boa-fé objetiva no Código Civil de 2002. São Paulo: PUC-SP,
2011. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 23.
Pondera que a operabilidade de um princípio qual decorre em certa medida da eticidade, haja vistas
privilegiar o social em detrimento ao individualismo, advento pelo qual enaltece o ser humano e a
circunstância social em que este se situa e sobretudo, é um facilitador à aplicação das normas.
389 Idem, p. 13.
390 MARTINS-COSTA, Judith. O direito privado como um "sistema em construção" - as cláusulas gerais

no projeto do código civil brasileiro. Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 753, p. 24-48, 1998. p. 12-
13.
391 CAPPELLETTI, Mauro. Juízes legisladores? Porto Alegre: Editora SAFE, 1999.
392 REALE, Miguel. O Projeto do Novo Código Civil. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 7.

106
pode ser citado alguns dispositivos, como a função social da propriedade art. 1.228,
do Código Civil, função social dos contratos art. 421, do Código Civil; função
socioambiental da propriedade art. 1.228, do Código Civil segunda parte.

O último princípio não menos importante refere à eticidade. Elemento


intimamente ligado à boa-fé objetiva, que afasta a aplicação da simples vontade das
partes, bem como o pacta sunct servanda, para um sistema baseado da participação
de outros elementos, possibilitando o magistrado ter uma maior interpretação 393 do
caso concreto.

Um possível desvio do instituto apresentado é confundir esse, com outros


institutos principiológicos como da confiança ou autorresponsabilidade. Referidos
princípios têm relação ou são desdobramentos do princípio da autonomia privada,
cada qual com sua vertente. Nessa senda, no que se refere a confiança, verifica-se o
asseguramento de expectativa criada, ou seja, deriva da própria pessoa e sua
credibilidade de suas condutas. Já por sua vez, a autorresponsabilidade corresponde
à contrapartida necessária ao reconhecimento da autonomia privada, qual seja, toda
manifestação de vontade implica em uma autovinculação394.

Diferentemente do proposto acima, tem-se a boa-fé objetiva como ponto focal


do desdobramento ou direcionamento de comportamentos no trafego negocial395.
Assim, pode ser percebido que entre os princípios derivativos da autonomia privada
esses estão mais relacionados à causa, do que a boa-fé qual têm efeito negocial.

393 Se as partes aceitam, de maneira uniforme o significado de seus termos, nada mais lhes cumpre do
que agir de maneira fiel à palavra empenhada, ou seja, ao credor caberá exigir a prestação ajustada e
ao devedor tocará realizá-la. Se eventualmente se der o inadimplemento, intervirá o Estado, pelos
órgãos jurisdicionais, para impor à parte infratora do contrato, a execução específica da prestação
pactuada ou a sanção equivalente a seu descumprimento, quando este se tornar inexequível ou inútil
para o credor. Até aí tudo se passa no plano de dar efetividade à declaração de vontade conhecida e
incontroversa. Há, todavia, situações em que as declarações dos contratantes dão ensejo a dúvidas,
ou as partes não dão sentido unívoco aos termos do ajuste procurando cada uma extrair deles um
significado diferente. É nessas conjunturas que se impõe o recurso às técnicas da hermenêutica
contratual, para precisar o objeto do negócio jurídico, mediante fixação do sentido e do alcance jurídicos
da declaração de vontade dos contratantes. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Contrato. Interpretação.
Princípio Da Boa-Fé. Teoria do Ato Próprio ou da Vedação do Comportamento Contraditório. Revista
de Direito Privado, vol. 38, p. 149-175, abr.-jun. 2009. p. 3-4.
394MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 237.


395 Idem, p. 236.

107
Miguel Reale pontua que:

É claro que nenhum jurista pode ser contrário à elaboração de


“categorias jurídicas” destinadas à disciplina dos fatos sociais,
atendendo às exigências da igualdade entre fatos da mesma
espécie, mas o que é criticável é pretender que tal solução seja
obtida tão somente graças a fórmulas de natureza jurídica, sem
levar em conta os fins éticos e econômicos, por aqueles também
reclamados. O que aqui se critica é o exclusivismo jurídico
dominante na visão positivista do Direito, que se contenta com
princípios e regras de caráter empírico ou factual.396

A boa-fé objetiva incide vários artigos, os quais serão estudados e


aprofundamos nos próximos tópicos da presente tese. Dessa sorte, não é possível
confundir o presente instituto com o fenômeno da boa-fé subjetiva, segundo qual
seguindo os apontamentos de Martins-Costa397398,399,400 se faz necessário apresentar
os contornos da boa-fé objetiva e subjetiva delineando suas distinções. Inicialmente
sem medo de errar fica claro o critério de incidência.

Inicialmente a boa-fé subjetiva401 trata do estado de consciência caracterizado


pela ignorância de estar lesando direitos ou interesses alheios, assim como ter a
convicção de estar agindo em bom direto402. Pode ser evocado, por exemplo, nos

396 REALE, Miguel. A Boa-fé no Código Civil. [s.l.], 16 ago. 2003. Disponível em:
<http://www.miguelreale.com.br/artigos/boafe.htm>. Acesso em: 23 mar. 2017.
397 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 261 e seguintes.


398 SANTOS, Murilo Rezende dos. As funções da boa-fé objetiva na relação obrigacional. Revista de

Direito Privado, vol. 38, p. 204-263, abr.-jun. 2009.


399 SANTOS, Murilo Rezende dos. As funções da boa-fé objetiva na relação obrigacional. Doutrinas

Essenciais Obrigações e Contratos, vol. 1, p. 349-404, jun. 2011.


400 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015.MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua
aplicação. São Paulo: Marcial Pons, 2015, p. 261 e seguintes.
401 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:

Editora Almedina, 2011. p. 407. Ponderam que a boa-fé subjetiva trata de uma qualidade reportada ao
sujeito, que está ligada às regras de comportamento. A boa-fé subjetiva é utilizada em disposições
normativas as quais regulam as relações jurídicas reais ou aparentadas, ou seja, situações que
aproveitam aos direitos corpóreos, como posse, condições, locação e comodato, v.g. também é
depreendido que a boa-fé nasce em disposições remetidas aos atos jurídicos, como os negócios e os
contratos. Todavia, não descarta a dificuldade em depreender a sua presença diante de sua
complexidade.
402 Idem, p. 411.

108
casos da tutela da aparência como nos casamentos putativos, ou, nos casos de
negócios jurídicos realizados com herdeiro aparente403.

Anota Ruy Rosado de Aguiar Júnior que:

(...) a boa-fé subjetiva diz respeito ao conhecimento ou à


ignorância da pessoa relativamente a certos fatos, sendo levada
em consideração pelo direito, para os fins específicos da
situação regulada. Serve à proteção daquele que tem a
consciência de estar agindo conforme o direito, apesar de ser
outra a realidade.404

Um exemplo clássico se faz por meio do possuidor que ignorava um obstáculo


qual o impedia da aquisição de uma coisa, nos termos do art. 1.201 do Código Civil405.

Por sua vez, nos termos do anotado em outra banda, a boa-fé objetiva é um
modelo jurídico de direcionamento de conduta, qual direciona condutas com função
de valores ético-jurídicos como a honestidade, constrói modelos descritivos406.

Nessa senda, Tereza Negreiros407, distingue as duas espécies de boa-fé:

Ontologicamente, a boa-fé objetiva distancia-se da noção


subjetiva, pois consiste num dever contratual ativo, e não de um
estado psicológico experimentado pela pessoa do contratante;
obriga a um certo comportamento, ao invés de outro; obriga à
colaboração, não se satisfazendo com mera abstenção,
tampouco se limitando à função de justificar o gozo de benefícios

403 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 261.
404 AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. Extinção dos contratos por incumprimento do devedor. 2ª

ed. Rio de Janeiro: AIDE, 2003. p. 243.


405 Código Civil, Art. 1.201. “É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que

impede a aquisição da coisa”.


406 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 263 e 264.


407 NEGREIROS, Tereza. Teoria do contrato: Novos paradigmas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p.

122-123.
109
que, em princípio da boa-fé impõe um padrão de conduta a
ambos os contratantes no sentido da recíproca cooperação, com
consideração dos interesses um do outro, em vista de se
alcançar o efeito prático que justifica a existência do contrato
celebrado.

O princípio da boa-fé objetiva foi positivado pelo Código Civil de 2002, através
dos artigos 113, 187 e 422408, devido à junção de princípios e normas constitucionais
as quais culminaram na constitucionalização do direito privado, com destaque ao valor
da dignidade da pessoa humana e nos direitos fundamentais409-410-411.

Levando-se em consideração esses aspectos essa nova base principiológica,


foi percebida na Codificação Civil de 2002, com estruturas bem distintas de seu
antecessor, deixando de ser prioristicamente, individualista e patrimonialista, e passa
a ter como valores básicos e fundamentais.

Referidos valores são tidos como operabilidade; eticidade e socialidade. O


último princípio tem relação direta com à boa-fé objetiva, que afasta a aplicação da
simples vontade das partes, bem como o pacta sunct servanda, para um sistema
baseado da participação de outros elementos, possibilitando o magistrado ter uma
maior interpretação do caso concreto.

408 Art. 113, CC. “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar
de sua celebração”. Art. 187, CC. “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes”. Art. 422, CC. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
409 RACY, Vivien. A cláusula geral da boa-fé objetiva no Código Civil de 2002. São Paulo: PUC-SP,

2011. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 10.
410 Como é sabida a boa-fé está elencada no Codex vigente em vários dispositivos como nos arts. 128,

164, 166§2º, 765 entre outros, como os do próprio Texto Maior no art.5º, contudo, por corte
metodológico anunciou-se apenas os dispostos na presente. ALEM, Fabio Pedro. Contrato preliminar:
eficácia nos negócios jurídicos complexos. São Paulo: USP, 2009. 197 f. Dissertação (Mestrado em
Direito) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, USP.
411 O código civil traz em seus artigos 113 e 422 a boa-fé objetiva como cláusula geral no intuito de

trazer standards de conduta reta e proba para o mundo jurídico, sem que se inquira a subjetividade do
agente. Não importa se há vontade conforme ou não ao direito, o que importa é se foram tomados
padrões que juridicamente sejam aceitáveis e conformes aos valores que a ordem jurídica possui e
promove. Trata-se da institucionalização de padrões mínimos para o tráfego negocial. Sendo assim,
não há que se restringir esse mínimo ético ao campo das obrigações, como se fora desse âmbito não
fosse necessária uma atuação proba por parte do indivíduo. CARVALHO FILHO, Antonio Lopes de. A
boa-Fé como elemento integrador do Condomínio edilício. Revista Ética e Filosofia Política, Juiz de
Fora/MG, vol. 2, nº 15, p. 56-85, dez. 2012. p. 67 Disponível em: <http://www.ufjf.br/eticaefilosofia/
files/2009/08/15_2_filho_4.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2016. p. 67.
110
Deve ser registrado que referido princípio não pode ser com a confiança ou
autorresponsabilidade, pois esses são desdobramentos do princípio da autonomia
privada, cada qual com sua característica. Sendo que a confiança, verifica-se o
asseguramento de expectativa criada, ou seja, deriva da própria pessoa e sua
credibilidade de suas condutas. Já por sua vez, a autorresponsabilidade corresponde
à contrapartida necessária ao reconhecimento da autonomia privada, qual seja, toda
manifestação de vontade implica em uma autovinculação.

Outra anotação de pode ser percebida é a distinção do presente instituto com


a boa-fé subjetiva, segundo qual se trata do estado de consciência caracterizado pela
ignorância de estar lesando direitos ou interesses alheios, assim como ter a convicção
de estar agindo em bom direto.

Por sua vez, nos termos do anotado em outra banda, a boa-fé objetiva é um
modelo jurídico de direcionamento de conduta, qual direciona condutas com função
de valores ético-jurídicos como a honestidade, constrói modelos descritivos confirme
já pontuado, bem como foi positivado pelo Código Civil de 2002, através dos artigos
113, 187 e 422.

2.5. A BOA-FÉ E SUA SISTEMÁTICA HERMENÊUTICA

2.5.1. A boa-fé nos sistemas jurídico fechado e aberto

Como se faz notório, sempre houve uma grande preocupação de entender o


pensamento jurídico e sua aplicação412 A abordagem do Law and Economics tem
prestado um estudo interessante da distinção entre regras e princípios 413, segundo o

412 ENGISCH. Karl, Introdução ao pensamento jurídico. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
2008.
413 ARAUJO, Fernando. Teoria Econômica. Coimbra: Almedina, 2007. p. 549.

111
qual as cláusulas gerais e os princípios historicamente414 sempre foram vistos com
reserva pelos juristas415, tendo como base sua inevitável indeterminação de seu
conteúdo, assim evitando a intervenção do Estado nas relações privadas pelo juiz.

Não obstante, para uma sociedade em constante mudança, em especial na


massificação contratual e verificada a vulnerabilidade de uma das partes contratantes,
as normas dispositivas tidas como “abertas” são ferramentas hermenêuticas
indispensáveis e imprescritíveis416.

Dessa monta pondera Erik Frederico Gramstrup417 à importância da aplicação


dos princípios, das cláusulas e dos conceitos indeterminados, para tanto expõe que
princípio trata acerca de uma palavra no sentido aristotélico como algo que integra um
ente, além de ser algo que inicia alguma coisa, a origem. “(...) Gostamos de explorar
os dois sentidos ao nos referir aos princípios jurídicos: eles são tanto o início, a fonte
de água fresca onde corre o Direito e suas especializações, como também os
elementos imanentes da Justiça”. Quanto às cláusulas gerais, disserta haver uma
vagueza e liberdade para aplicar a norma, pode-se até mesmo operá-las como técnica
redacional para positivar princípios. Ademais, em relação aos conceitos gerais
indeterminados estes “exsurgem de labor doutrinário e legislativo com o propósito de
aplicar-se a variedade infindável de casos concretos”418.

Tanto é assim que registra Fernando Noronha419:

Tudo isso espelha, na área do contrato, nalgumas atitudes da


legifereção de que já temos dado conta: normas que visam

414 PAULA, Luiza Checchia Stuart Cunha de. Supressio e surrectio: natureza, efeitos, aplicabilidade
e análise comparativa com figuras jurídicas correlatas. São Paulo: PUC-SP, 2015. 192 f. Dissertação
(Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 22.
415 ARAUJO, Fernando. Teoria Econômica. Coimbra: Almedina, 2007. p. 552.
416 LOBO, Paulo Luiz. Condições Gerais dos Contratos e o Novo Código Civil Brasileiro. In: AZEVEDO,

Antonio Junqueira de; TORRES, Heleno Taveira; CARBONE, Paolo. Princípio do Novo Código Civil
Brasileiro e Outros Temas: Homenagem a Tullio Ascarelli. São Paulo: Quarter Latin, 2010. p. 550.
417 GRAMSTRUP, Erik Frederico. Prefácio. In: BATISTA, Alexandre Jamal. (Coord.). Princípios,

cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados nos institutos de direito privado. São
Paulo: IASP, 2017. p. 09-11.
418 GRAMSTRUP, Erik Frederico. Prefácio. In: BATISTA, Alexandre Jamal. (Coord.). Princípios,

cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados nos institutos de direito privado. São
Paulo: IASP, 2017. p. 10.
419 ARAUJO, Fernando. Teoria Econômica. Coimbra: Almedina, 2007. p. 552.

112
estimular a contratação, que incitam as partes a detalharem as
suas estipulações, que apoiam o inacabamento e a
autodisciplina relacional, que incentivam a relação e partilha da
informação, que privilegiam a supletividade, coexistindo
pacificamente com conceitos indeterminados e cláusulas gerais.

Não obstante ser uma ferramenta fundamental, cumpre registrar ainda, que um
dos trabalhos mais hercúleos da atualidade é conhecer a distinção conceitual entre as
normas, princípios e regras.

Tal apontamento a notória dissidência doutrinária especializada sobre o


tema420. Mas uma questão aparentemente clara deve ser anotada, tanta as regras
como princípios são normas421, desta forma estamos diante de espécies de normas422.

Desta forma, não obstante a importante tarefa conceitual, no presente trabalho


busca se prender mais com objeto, ou seja, com a descrição característica do instituto,
que com um eventual o enquadramento prévio classificativo.

Registra-se que não poderia ser de outra forma, a construção proposta pela
doutrina por vezes utiliza uma realidade distante da nacional distorcendo o mesmo
para fins de aplicação pratica423.

420 Pode ser citado os seguintes doutrinadores: SILVA, Luis Virgílio Afonso da Silva. Direitos
Fundamentais: Conteúdo Essencial, Restrições e Eficácia. São Paulo: Método, 2010; AVILA,
Humberto Bergmann. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. São
Paulo: Método, 2012; SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 28ª ed. São
Paulo: Editora Malheiros, 2007; STEINMETZ, Wilson. A vinculação dos particulares a direitos
fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2004.
421 “As normas são preceitos que tutelam situações subjetivas de vantagens ou de vínculo, ou seja,

reconhecem, por um lado, a pessoas ou a entidades a faculdade de realizar certos interesses por ato
próprio ou exigindo ação ou abstenção de outrem, e, por outro lado, vinculam pessoas ou entidades à
obrigação de submeterem-se às exigências de realizar uma prestação, ação ou abstenção em favor de
outrem”. SILVA, José Afonso da. Os Princípios Constitucionais Fundamentais. Revista do Tribunal
Regional Federal 1ª Região, Brasília, vol. 6, nº 4, p. 17-22, out.-dez. 1994. p. 18.
422 ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais: Tradução Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:

Malheiros, 2007. p. 87.


423 ALMEIDA, Luiz Eduardo de. Limites constitucionais dos direitos sociais na Constituição

Brasileira de 1988. São Paulo: USP, 2016. Tese (Doutorado em Direito) - Universidade de São Paulo.
113
2.5.1.1. Princípios.

Inicialmente, pode ser extraído da doutrina424 que os princípios são elementos


normativos, devem ser implementados na maior medida possível diante das situações
fáticas e jurídicas existentes.

Isso pode ser observado nas anotações de Humberto Bergmann Ávila 425 “os
princípios, ao contrário das normas (regras), não contêm diretamente ordens, mas
apenas fundamentos, critérios para justificação de uma ordem”.

Fernando Araújo426 lembra que à aplicação da regra é mais simples, pois


antevê a conduta humana, enquanto os princípios esperam a conduta para proceder
posteriormente sua definição.

Desta monta, seu critério de aplicação é complexo, pois depende muitas vezes
de um sistema de balizamento ou interpretação pelo magistrado ou do aplicador do
Direito427. Isso, somente ocorre, como é sabido, pois os princípios muitas das vezes
são conflitantes quando de sua aplicação428.

Isso pode ser observado em vários julgados recentes do Superior Tribunal de


Justiça:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. GREVE.


DESCONTO DOS DIAS NÃO TRABALHADOS.
POSSIBILIDADE. COMPENSAÇÃO DA JORNADA. INOVAÇÃO
RECURSAL. INVIABILIDADE. 1. Como antes afirmado, a
jurisprudência das Turmas que compõem a 1ª Seção é uníssona

424 SILVA, José Afonso da. Os Princípios Constitucionais Fundamentais. Revista do Tribunal Regional
Federal 1ª Região, Brasília, vol. 6, nº 4, p. 17-22, out.-dez. 1994. p. 18-22.
425 AVILA, Humberto Bergmann. A distinção entre princípios e regras e a redefinição do dever de

proporcionalidade. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, vol. 215, jan.-mar. 1999. p. 151
e seguintes.
426 ARAUJO, Fernando. Teoria Econômica. Coimbra: Almedina, 2007.
427 DIDIER, Fredie. Cláusulas gerais processuais. São Paulo, [s.d.]. Disponível em:
<http://www.frediedidier.com.br/pdf/clausulas-gerais-processuais.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2015.
428 NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. São Paulo: Método, 2009. p. 172.

114
no sentido de que, ainda que reconhecida a legalidade da greve,
podem ser descontados dos vencimentos dos servidores
públicos os dias não trabalhados, tendo em conta a suspensão
do contrato de trabalho 2. No que se refere à compensação da
jornada, não se mostra possível discutir em agravo regimental
matéria que não foi decidida pelo Tribunal de origem, tampouco
objeto das razões do recurso especial, por se tratar de inovação
recursal. Ademais, "deve prevalecer o poder discricionário da
Administração, a quem cabe definir pelo desconto,
compensação ou outras maneiras de administrar o conflito, sem
que isso implique qualquer ofensa aos princípios da
proporcionalidade ou razoabilidade." (MS 17.405/DF, Rel.
Ministro Felix Fischer, Corte Especial, julgado em 23/04/2012,
DJe 09/05/2012) 3. Não cabe ao Superior Tribunal de Justiça,
ainda que para fins de prequestionamento, examinar na via
especial suposta violação a dispositivos constitucionais, sob
pena de usurpação da competência do Supremo Tribunal
Federal. 4. Agravo regimental a que se nega provimento (STJ -
AgRg no REsp: 1256484 SE 2011/0122422-0, Relator: Ministro
SÉRGIO KUKINA, Data de Julgamento: 18/06/2013, T1 -
PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/06/2013)

Sendo assim, sem a pretensão de encerrar o assunto, Ronald Dworkin 429


pondera para os princípios não há um “tudo ou nada”, pois referida situação somente
ocorre com as regras.

429 DWORKIN, Ronald. Levando os Direito a sério. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
115
2.5.1.2. Regras

As regras430 são conteúdos normativos completos, que não necessitam de


interpretação ou complementação complexa por parte dos operadores do direito, em
especial os magistrados.

Essa é a regra apresentada nos sistemas pautados no Legal Law431,432, por


este motivo pode ser afirmado que o sistema normativo nacional, historicamente, em
especial nas codificações mais antigas, lança mão dessa ferramenta.

Como exemplo pode ser citado o art. 24, do Código Civil de 1916: “Para criar
uma fundação, far-lhe-á seu instituidor, por escritura pública ou testamento, dotação
especial de bens livres, especificando o fim a que a destina, e declarando, se quiser,
a maneira de administrá-la”

Fernando Araújo433 pondera serem as regras, elementos fundamentais no


quanto à culpa delitual, pois é muito mais latente quanto aos erros e incertezas
definindo um padrão claro de diligência.

Desta afirmação, fica claro que há uma grande vantagem das regras em
detrimento aos princípios, tendo em vista fornecendo maior precisão, menor margem
de erro e diminuindo da necessidade de expectativas de cooperação
autodisciplinadora434.

430 Para aplicar regras, é preciso um procedimento para comprovar a identidade entre o fato ocorrido e
aquele previsto por alguma delas. Todavia aplicar princípios requer um esforço maior. Nesse caso, “a
discussão gira menos em torno de fatos do que de valores”. E, à medida que aumenta a frequência
com que se recorre a princípios para solução de problemas jurídicos, cresce de importância o Direito
Processual, justamente por ser o ramo do Direito que disciplina os procedimentos, em continuidade,
define que procedimentos são: “séries de atos ordenados com a finalidade de propiciar a solução de
questões cuja dificuldade e/ou importância requer uma extensão do lapso temporal, para que se
considerem aspectos e implicações possíveis”. GUERRA FILHO, Willis Santiago. Da interpretação
especificamente constitucional. Revista de Informação Legislativa, v. 32, nº 128, out.-dez. 1995. p.
18-20.
431 Nesse sentido, DAVID, René. Os grandes sistemas de direito contemporâneo. São Paulo:

Martins Fontes, 2002.


432 E, REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 141.
433 ARAUJO, Fernando. Teoria Econômica. Coimbra: Almedina, 2007. p. 550.
434 Idem.

116
Nessa toada, pode ser afirmado que verificam um mandamento de otimização
e por sua vez, as regras se apresenta sempre como satisfeita ou não satisfeita, ou
seja, determinações no âmbito daquilo que é fática e juridicamente possível 435.

Somente com fim didático, podem ser diferenciados o instituto da regra e do


princípio com o seguinte exemplo automobilístico. São duas situações:

A primeira que dispõe ser proibido trafegar na via vicinal com velocidade
superior da 50 km/h, já a segunda que ao dirigir um veículo automotor o condutor deve
agir com prudência. Das duas situações, é possível afirmar que a primeira afirmativa
é uma regra, já a segunda um princípio.

Dado o exposto, no que se refere a boa-fé nos sistemas jurídico fechado e


aberto é fundamental ponderar a distinção entre regras e princípios. Não obstante ser
premente a distinção, cumpre registrar ainda, que um dos trabalhos mais árduos é
conhecer a distinção conceitual entre os princípios e regras. Assim como visto, optou-
se por prender mais com objeto, ou seja, com a descrição característica do instituto,
que com um eventual o enquadramento prévio classificativo436.

Desta forma quanto aos princípios, esses devem ser implementados na maior
medida possível diante das situações fáticas e jurídicas existentes, ou seja, os
princípios esperam a conduta para proceder posteriormente sua definição.

Por sua vez, as regras são conteúdos normativos completos, que não
necessitam de interpretação ou complementação complexa por parte dos operadores
do direito, em especial os magistrados.

Desta forma, há uma grande vantagem das regras em detrimento aos


princípios, tendo em vista fornecendo maior precisão, menor margem de erro e
diminuindo da necessidade de expectativas de cooperação.

435 ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais: Tradução Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:
Malheiros, 2007. p. 90.
436
ALMEIDA, Luiz Eduardo de. Limites constitucionais dos direitos sociais na Constituição
Brasileira de 1988. São Paulo: USP, 2016. Tese (Doutorado em Direito) - Universidade de São Paulo.
117
2.5.1.3. Cláusula Geral

Inegavelmente de origem alemã – parágrafo 242 do BGB437 - pode ser


entendido por sua própria formação gramatical, elementos intencionalmente vagos,
essa formação possibilita a implementação por meio de elementos externos a
incorporação de novos princípios, superando uma tipicidade438.

Desta maneira a cláusula geral pode ser tida como uma técnica legislativa
segundo a qual é uma espécie prescritiva caracterizada por uma estrutura peculiar
incompleta439.

Tal situação apresenta a disposição de novas formas de solução de conflitos,


diferentemente do que ocorreu na codificação anterior perpetuada pelo positivismo440,
ou seja, há uma concretude maior por parte da jurisprudência na aplicação do
Direito441.

Judith Martins-Costa442 lembra que há três tipos de cláusulas gerais: a)


restritiva vedando condutas e restringindo a liberdade contratual; b) regulatória que
dispõe sobre determinados domínios de casos, como a culpa na responsabilidade
civil; e extensiva, essa última que amplia sua regulamentação por meio de outras
ferramentas a efetivação principiológica e regra em outros textos.

Em continuidade, pode ser percebida a nítida aproximação da cláusula geral


com os princípios. Tanto é assim que existe um esforço muito grande da doutrina em
distinguir os referidos institutos.

437 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 121.
438 Idem, p. 100.
439 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 120.


440 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
441 ALVES, Gisele Borges. Cláusulas Gerais, Vinculatividade jurisprudencial e Uniformização de

Decisões: Amarras Decisórias. Revista Síntese, ano XII, nº 89, mai.-jun. 2014. p. 96 e seguintes.
442 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 127.


118
Nessa seara, vale citar Paulo Lôbo443 que em sua obra em determinados
momentos considera cláusula geral como um sinônimo de princípio, bem como em
outros determinados momentos, sua aplicação é mais restrita, em especial com a
aplicação de conteúdo concretizador da norma.

Já para Judith Martins-Costa444 entende que as cláusulas Gerais “não são


princípios, embora na maior parte dos casos os contenham, em seu enunciado, ou
permitam a sua formulação”.

Ainda nesse mesmo sentido, para Fredie Didier445, “Cláusula geral é uma
espécie de texto normativo, cujo antecedente (hipótese fática) é composto por termos
vagos e o consequente (efeito jurídico) é indeterminado.”

Nessa senda, tanto a hipótese fática apresentada pelo plano fático nunca
poderia sido regulamentada ou esperada pelo ordenamento, bem como o efeito
jurídico poderá ser modulado, ou seja, o juiz apresentará a melhor solução para o
caso concreto.

Não obstante, os demais elementos apresentados, me parece que tal


conceituação é elementar, pois diferencia o presente instituto dos princípios, claro que
mais abertos e genéricos conforme já apontado, bem como dos conceitos jurídicos
indeterminados446. Instituto esse, que será pontuado a seguir.

443 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Teoria Geral das Obrigações. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 78.
444 MARTINS-COSTA, Judith. O novo Código Civil Brasileiro: em Busca da “Ética da situação”. In:
MARTINS-COSTA, Judith; BRANCO, Gerson Luiz Carlos. Diretrizes Teóricas do Novo Código Civil
Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 100.
445 DIDIER, Fredie. Cláusulas gerais processuais. São Paulo, [s.d.]. Disponível em:
<http://www.frediedidier.com.br/pdf/clausulas-gerais-processuais.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2015.
446 Coaduna a respeito o seguinte apontamento: “(...) a função precípua das cláusulas gerais é a de

permitir, num sistema jurídico de direito escrito e fundado na separação das funções estatais, a criação
de normas jurídicas com alcance geral pelo juiz. Tal função, em última análise, permite que o Código
acompanhe a velocidade das mudanças sociais que ocorrem dia-a-dia em nosso país, mantendo-o
sempre atualizado”. LEÃO, Luís Gustavo de Paiva. As cláusulas gerais e os princípios gerais de direito.
Revista de Direito Privado, vol. 37, p. 148-168, jan.-mar. 2009. p. 5.
119
2.5.1.4. Conceito jurídico Indeterminado

O conceito jurídico indeterminado, sempre é pontuado de forma muito próxima


ou até mesmo similar à ideia de cláusula geral.

Rosa Maria de Andrade Nery447 transcreve a possibilidade de confusão ente o


conceito de cláusulas gerais e os conceitos legais indeterminados, para tanto expõe
haver uma “extrema vagueza e generalidade, que tem de ser preenchida com valores
pelo juiz”448. Assim, passa a pontuar449:

Quando a norma já prevê a consequência, houve determinação


de conceito legal indeterminado: a solução a ser dada pelo juiz
é aquela prevista previamente na norma. Ao contrário, quando a
norma não prevê a consequência, dando ao juiz a oportunidade
de criar a solução, dá-se ocasião de aplicação da cláusula geral:
a consequência não estava prevista na norma e foi criada pelo
juiz para o caso concreto.

Nesse ínterim, caberá ao magistrado aplicar a cláusula geral de forma


integrativa, com natureza determinativa vez que exerce função criadora ao se deparar
com uma relação jurídica material controvertida450.

Tanto é assim, que pontua Judith Martins-Costa 451 :

Esses novos tipos de normas buscam a formulação da hipótese


legal mediante o emprego de conceitos cujos termos têm
significados intencionalmente vagos e abertos, os chamados
"conceitos jurídicos indeterminados". Por vezes - e aí

447 NERY, Rosa Maria de Andrade. Introdução ao pensamento jurídico e à teoria geral do direito privado.
Revista dos Tribunais, São Paulo, 2008. p. 209-214.
448 NERY, Rosa Maria de Andrade. Introdução ao pensamento jurídico e à teoria geral do direito privado.

Revista dos Tribunais, São Paulo, 2008. p. 214.


449 Idem.
450 Idem.
451 MARTINS-COSTA, Judith. O direito privado como um "sistema em construção" - as cláusulas gerais

no projeto do código civil brasileiro. Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 753, p. 24-48, 1998. p. 28.
120
encontraremos as cláusulas gerais propriamente ditas -, o seu
enunciado, em vez de traçar pontualmente a hipótese e as suas
consequências, é desenhado como uma vaga moldura,
permitindo, pela vagueza semântica que caracteriza os seus
termos, a incorporação de princípios, diretrizes e máximas de
conduta originalmente estrangeiros ao corpus codificado, do que
resulta, mediante a atividade de concreção desses princípios,
diretrizes e máximas de conduta, a constante formulação de
novas normas.

Todavia, em grau de complementaridade, pode ser entendido, que utilizando


como base os ensinamentos já apontados o conceito jurídico indeterminado não
contém uma extensão tão ampla de vagueza452.

Nesse sentido, o elemento vago seria somente o plano fático, ou seja, o


antecedente. Já o consequente, o efeito jurídico ou resposta legislativa 453.

Levando-se em consideração os aspectos apresentados, as cláusulas gerais e


os conceitos jurídicos indeterminados também necessitam ser anotados. Segundo o
qual a cláusula geral pode ser tida como uma técnica legislativa segundo a qual é uma
espécie prescritiva caracterizada por uma estrutura peculiar incompleta com a
característica cujo antecedente (hipótese fática) é composto por termos vagos e o
consequente (efeito jurídico) é indeterminado. Já por sua vez, o conceito jurídico
Indeterminado o elemento vago seria somente o plano fático.

452 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 141.
453 NERY, Rosa Maria de Andrade. Introdução ao pensamento jurídico e à teoria geral do direito privado.

Revista dos Tribunais, São Paulo, 2008. p. 209.


121
2.5.2. Boa-fé como elemento autopoiético sistêmico e a contribuição dos
ensinamentos de Willis Santiago Guerra Filho

Os estudos apresentados entre os princípios, cláusulas gerais, conceitos


jurídicos indeterminados e regras à luz da boa-fé objetiva são de relevante contorno
para o Direito.

Não obstante, não se encerra, pois é perceptível que o fenômeno da boa-fé


objeta tem contornos externos da ciência jurídica, ou seja, diagramações com outras
áreas religiosas, históricas, sociais, psicológicas, antropológicas e sociológicas.

Para efeitos de direito negocial aduz ainda a doutrina que a boa-fé454 no sentido
da solução mais aceita pela doutrina é do momento propiciado pela ética social e não
alterado pelo direito, que o adota, ou seja, deve ser atrelada a vida e remetida ao caso
a caso e apreciada pelos instrumentistas do direito.

Em complemento ao que foi dito, lembra Vicente Ráo455 que mais que um
princípio a boa-fé reconhece o postulado moral e de segurança nas transações, bem
como criador de fatos criadores de direitos.

Tal fenômeno tem relação com o multiculturalismo e interculturalidade 456


perceptível em todo o Direito, tanto é assim que resta clara sua abrangência na
constituição na doutrina de Paulo Ferreira da Cunha457, anotando com base em seus
estudos, a uma nítida interdisciplinaridade interna na teoria da constituição, pois essa
verifica sua projeção na sociedade e na história.458

454 RÁO, Vicente. Ato Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema
do conflito entre os elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999.
p. 195.
455 RÁO, Vicente. Ato Jurídico: Noção, pressupostos, elementos essenciais e acidentais. O problema

do conflito entre os elementos volitivos e a vontade. Revista dos Tribunais, São Paulo, 4ª ed. 1999.
196.
456 LOPES, Ana Maria D'Ávila. Interculturalidade e Direitos Fundamentais Culturais. Revista de Direito

Constitucional e Internacional, vol. 63, p. 30-41, abr.-jun. 2008.


457 CUNHA, Paulo Ferreira da. Direito Constitucional Geral: Uma perspectiva Luso-Brasileira. São

Paulo: Método, 2007. p. 81.


458 Como marco referencial pode ser citada a Constituição Brasileira de 1988, que em seu arcabouço

– não restritivo - demonstrou uma nítida preocupação com os fatos históricos que à antecedeu. Dentre
muitos outros dispositivos, podem ser citados tantas quantas garantidas individuais, bem como os
direitos políticos assegurados aos agentes públicos.
122
Por isso tudo, se faz possível afirmar que a boa-fé objetiva são de relevante
contorno para o Direito tendo nítidos diálogos com outras áreas religiosas, históricas,
sociais, psicológicas, antropológicas e sociológicas.

Tanto assim que a boa-fé reconhece o postulado moral e de segurança nas


transações, bem como criador de fatos criadores de direitos relacionados a seu
momento histórico, cultural e social.

Nesse sentido, cada pessoa é responsável por sua conduta, e não pode
desconsiderar o sentido de sua ação representa perante aos outros, pois toda a
relação intersubjetiva pressupõe a existência da comunicação459.

Assim, a comunicação humana está cheia de significados implícitos e que


integram a linguagem460 e a boa-fé objetiva tem uma função de ressistematização e
formação de novos institutos461.

Paralelamente Luhmann - adepto de uma teoria particularmente própria


do pensamento sistémico462 -, teorizou a sociedade como um sistema autopoiético.
Teoria essa, que somente se tornou mais clara perceptível a luz dos estudos nacionais
por meio nos ensinamentos de Willis Santiago Guerra Filho463,464,465,466 no Brasil, ou

459 LISBOA, Roberto Senise. Obrigação de informar. São Paulo: Editora Almedina, 2012. p. 9.
460 VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral do Direito Civil. 4ª ed. Coimbra: Editora Almedina,
2007. p. 272.
461 Nesse sentido: “A função das cláusulas gerais não se limita a abrir o sistema jurídico às mudanças

de valoração. É que as cláusulas gerais, ao permitirem a sistematização dos novos casos, conotam ao
sistema também a característica de mobilidade internamente considerada”. MARTINS-COSTA, Judith.
A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo: Marcial Pons, 2015. p. 163.
462 Deve ser registrado que o estudo dos sistemas jurídicos é complexa e contém várias vertentes

dentes elas podem ser citados os estudos de LARENZ, Karl, Metodologia da Ciência do Direito. 5ª
ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009; FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao
Estudo do Direito: Técnica, Decisão, Dominação. 9ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016.
463 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Autopoiese do direito na sociedade pós-moderna introdução

a uma teoria social sistêmica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997.


464 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Imunologia: mudança no paradigma autopoiético? Passagens.

Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, Rio de Janeiro, vol. 6, nº 3, set.-dez.
2014. p. 584-603.
465 GUERRA FILHO, Willis Santiago; CANTARINI, Paola. Teoria Poética do Direito. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2014.


466 GUERRA FILHO, Willis. Santiago. Do Litisconsórcio Necessário nas Ações de Estado. São

Paulo: PUC-SP, 1986. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo.
123
seja, em linhas gerais a boa-fé objetiva não será somente um princípio, uma cláusula
geral, um conceito jurídico indeterminado ou uma regra, mas algo além que será a
seguir pontuado467.

Não obstante, ao longo dos estudos do presente, ao se deparar com pesquisas


mais aprofundadas sobre os sistemas sociais468,469,470, não é possível deixar
simplesmente de lado uma visão mais ampliada do objeto da presente tese, em
especial à luz de uma conduta social festejada em outras áreas do conhecimento.

Tanto é assim, que é possível notar que Luhmann se propôs a escrever sobre
uma teoria da sociedade e não do direito ou muito menos sobre um modelo de
interpretação jurídica471.

Tal justificativa tem como fundamento que ele não quer aperfeiçoar o
pensamento dogmático, mas sim compreender seu papel social, limites e
paradoxos472.

Nesse sentido, a teoria dos sistemas não poderia irritar473 ou estimular a


dogmática jurídica, mas sim atingir as operações do sistema jurídico como incentivar
a práxis ou a reflexão jurídica produzindo novas interpretações ou argumentos474.

467 Entrementes, deve restar claro que o objeto fundamental da presente tese, é a possibilidade da
aplicação da boa-fé objetiva aos direitos reais como forma de efetividade do direito.
468 FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão,

Dominação. 9ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016.


469 LUHMANN, Niklas. El Derecho de la Sociedad. Ciudad de Mexico: Herlder, 2009.
470 Deve-se registar que conceituar sistema é algo complexo tento em vista a etimologia da palavra,

bem como sua composição histórica, todavia na Grécia sys-istemi - já transmitia a ideia de algo
composto ou construído, conquanto não apresentasse as características de ordem e unidade da forma
como entendemos hoje. PEREIRA, Geailson Soares. O Direito como Sistema Autopoiético. Revista
CEJ, Brasília, ano XV, nº 55, out.-dez. 2011. p. 86-92.
471 VILLAS BOAS FILHO, Orlando; GONÇALVES, Guilherme Leite. Teoria dos sistemas sociais:

Direito e Sociedade na obra de Niklas Luhmann. São Paulo: Editora Saraiva, 2013. p. 16.
472 Nesse mesmo sentido pode ser anotado” a teoria da autopoiese é fruto da preocupação de um ramo

da Sociologia do Direito conduzido por, dentre outros, Niklas Luhmann, que visa, segundo uma análise
sistêmica funcional, tornar o Direito imune às injunções advindas das relações de conflito e consenso
sociais, de sorte a que reste resguardada a sua autonomia dentro do corpo social.” CALDAS, Roberto
Correia da Silva Gomes. O papel da constituição sob uma visão autopoiética do Direito. Revista de
Direito Constitucional e Internacional, São Paulo, vol. 20, p. 213-228, jul.-set. 1997.
473 O termo irritar está intimamente ligado a linguagem utilizada por Luhmann em suas obras.
474 VILLAS BOAS FILHO, Orlando; GONÇALVES, Guilherme Leite. Teoria dos sistemas sociais:

Direito e Sociedade na obra de Niklas Luhmann. São Paulo: Editora Saraiva, 2013. p. 17.
124
Assim, pode ser anotado que é notável e extensa a produção do citado autor,
obstante analisando a obra de Luhmann - de forma muito arrazoada - podem ser
definidas em três fases que permitem, de modo sucinto, descrever o seu trabalho 475:

a) no primeiro período, a produção luhmanniana sobre o direito


teria consistido em obras de jurista endereçadas a juristas, isto
é, obras que representariam uma auto-observação do sistema
jurídico; b) no segundo período, estariam as obras que poderiam
ser consideradas mais como trabalhos sociológicos sobre o
direito. Seriam uma observação externa sobre o direito em que
as análises do sociólogo substituíram as do jurista. Incluem
neste período as obras Sociologia do Direito I, Sociologia do
Direito II e Legitimação pelo Procedimento; c) no terceiro
período, houve a plena incorporação da autopoiésis na teoria
dos sistemas, sendo que a teoria sociológica de Luhmann
estaria fundamentada pela sistematização de uma teoria geral
da sociedade - com fundamento na grande obra intitulada
Sistemas Sociais, Esboço de uma Teoria Geral -, de modo que
o direito passou a ser visto como um sistema autorreferencial e
autopoiético.

A referida anotação parece relevante à luz da boa-fé objetiva uma vez que sua
realização tem um papel social relevante não somente quanto seu papel social, mas
sim como elemento integrante do próprio sistema jurídico476.

Mas para tanto, alguns aspectos devem ser tratados quanto ao pensamento
sistêmico de Luhmann, inicialmente tem se alguns conceitos fundamentais da teoria
dos sistemas.

475 GAMBA, Juliane Caravieri Martins. Direito e justiça sob a ótica da teoria dos sistemas de Niklas
Luhmann. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, São Paulo, vol. 29, p. 379-404, jan.-
jun. 2012.
476 Deve ser lembrado que a concepção de ordenamento como sistema tem como base a era moderna,

mas é possível afirmar que na Roma Antiga retirado do celebre Corpus Juris Civilis de Justiniano.
FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão, Dominação.
9ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016. p. 141.
125
O primeiro deles é a forma de construção tendo em vista a complexidade da
sociedade moderna, segundo o qual foi edificada sobre paradigmas antigos que
devem ser superados477.

Como exemplo construções478 como: a) o pressuposto que a sociedade é


construída de pessoas concretas ou relações entre pessoas – preconceito humanista
-; b) pressuposto de limites territoriais; c) pressuposto que a sociedade se estabelece
pelo consenso dos seres humanos e pela complementaridade de seus objetivos; e d)
do pressuposto que a sociedade poderia ser observada de fora.

Para Luhmann o sucesso de sua teoria479 – a capacidade heurística – esta


ligada a superação dessas premissas propondo três elementos básicos.

O primeiro deles a separação de sociedade – sistema social, cuja a autopoiese


opera com base na comunicação – e homem – sistema psíquico, cuja a autopoiese
tem por elemento a consciência – que, nesse sentido compõe um ambiente um para
o outro.

Deve ser registrado que o conceito de autopoiese formulado pelo biólogo


Humberto Maturana480 é utilizado por Luhmann segundo o qual é designado como
sistemas auto-referenciais, qual seja dotado de cláusula operacional segundo o qual
a reprodução de seus elementos ocorrerem recursivamente481, o que não pode ser
confundido com autohipóstasis que indica a possiblidade de um sistema subsistir por
si só482.

477 VILLAS BOAS FILHO, Orlando. Teoria dos sistemas e o Direito Brasileiro. São Paulo: Editora
Saraiva, 2009. p. 2.
478 VILLAS BOAS FILHO, Orlando; GONÇALVES, Guilherme Leite. Teoria dos sistemas sociais:

Direito e Sociedade na obra de Niklas Luhmann. São Paulo: Editora Saraiva, 2013. p. 24.
479 Idem, p. 25.
480 MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A Árvore do Conhecimento: as bases biológicas

da compreensão humana. Tradução de Humberto Mariotti e Lia Diskin, São Paulo: Palas Athena,
2001.
481 VILLAS BOAS FILHO, Orlando. Teoria dos sistemas e o Direito Brasileiro. São Paulo: Editora

Saraiva, 2009. p. 46.


482 Idem.

126
Nessa toada, pode ser retirada da conclusão que o ser vivo não é um conjunto
de moléculas, é uma dinâmica molecular, ou seja um processo ou uma rede de
elementos que se reproduzem representando uma dinâmica, assim Maturana criou
termo autopoiese, conforme a junção elementos "auto", que significa "si mesmo" e
"poiese", que pode ser entendida como "criação483.

Nesse sentido Willlis Santiago Guerra484 anota que:

Sistema autopoiético é aquele dotado de organização


autopoiética, onde há a (re)produção dos elementos de que se
compõe o sistema e que geram sua organização, pela relação
reiterativa, circular ("recursiva") entre eles. Esse sistema é
autônomo porque o que nele se passa não é determinado por
nenhum componente do ambiente mas sim por sua própria
organização, formada por seus elementos. Essa autonomia do
sistema tem por condição sua clausura, quer dizer, a
circunstância de o sistema ser "fechado", do ponto de vista de
sua organização, não havendo "entradas" (inputs) e "saídas"
(outputs) para o ambiente, pois os elementos interagem no e
através dele - não se trata, portanto,de uma “autarquia” do
sistema, pois ele depende dos elementos fornecidos pelo
ambiente.

Em um segundo lugar, a adoção de um conceito abrangente de sociedade –


definida como sociedade mundial – que englobaria diversas sociedades regionais sob
a luz de diferenciações de condição de vida no âmbito de um sistema global485.

483 MATTOS, Francisca. A Constituição como acoplamento estrutural entre os sistemas jurídico e
político e uma abordagem autopoiética do Direito. Revista de Direito Constitucional e Internacional,
vol. 57, p. 235-268, out.-dez. 2006.
484 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Imunologia: mudança no paradigma autopoiético? Passagens.

Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, Rio de Janeiro, vol. 6, nº 3, set.-dez.
2014. p. 584-603.
485 Nesse sentido: “A teoria social sistêmica, tal como foi desenvolvida, principalmente, por Luhmann,

assume, portanto, os seguintes pressupostos: (1º) substitui a contraposição entre sujeito e objeto,
enquanto princípio heurístico fundamental, pela “diferenciação sistêmica”, no mundo (Welt), entre o que
é “sistema” e seu meio ambiente (Umwelt). (...) (2º) “desumanizada”, não-antropocêntrica, já que os
seres humanos, enquanto sistemas biológicos, dotados de uma consciência, não fazem parte dos
127
Em um terceiro lugar, a rejeição da tese que a “integração consensual” poderia
ser um significado construtivo da sociedade.

Por fim, não menos importante a perspectiva teórica que a sociedade é um


sistema autorreferencial que descreve a sim mesmo, de modo que a sociologia
apareceria como uma autodescrição da sociedade.

No ordenamento jurídico tido momo sistêmico, deve conter um repertório, bem


como estrutura que guardam relação entre si486, porém para Luhmann o sistema do
direito é, para insistir nesse aspecto crucial, um subsistema da sociedade487.

Subsistema esse que pode ser aberto ou fechado conforme os ensinamentos


de Luhmann, segundo o qual o primeiro sistema está ligado com as normas que
estejam efetivamente em interação com a realidade social, já segundo sistema tem
como elemento caracterizar sua autonomia, que mantém constante a sua unidade 488,
ou seja, desprovido de inputs “entradas” e outputs “saidas” do ambiente489.

Em síntese, o sistema jurídico autopoiético é operacionalmente fechado, pois


tem seu desenvolvimento segundo regras próprias previamente estabelecidas490.

Complementa ainda, que a sociedade não é simplesmente o ambiente do


sistema legal, é mais sobretudo com realidades mentais e corpóreas do ser humano,

sistemas sociais integrantes do sistema global que é a sociedade, e sim, do seu meio ambiente – e o
“antropocentrismo”. GUERRA FILHO, Willis Santiago. Imunologia: mudança no paradigma
autopoiético? Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, Rio de
Janeiro, vol. 6, nº 3, set.-dez. 2014. p. 584-603.
486 FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão,

Dominação. 9ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016. p. 140.


487 LUHMANN, Niklas. El Derecho de la Sociedad. Ciudad de Mexico: Herlder. 2009. p. 79.
488 FURQUIM, Maria Célia de Araújo. A Constituição como Sistema. Revista de Direito Constitucional

e Internacional, vol. 20, p. 130-139, 1997.


489 GUERRA FILHO, Willis Santiago; CANTARINI, Paola. Teoria Poética do Direito. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2014. p. 73.


490 CALDAS, Roberto Correia da Silva Gomes. O papel da constituição sob uma visão autopoiética do

Direito. Revista de Direito Constitucional e Internacional, São Paulo, vol. 20, p. 213-228, jul.-set.
1997.
128
podendo ser químicas físicas e biológicas dependendo de extratos que o sistema de
direito declarar juridicamente relevantes491.

Não obstante para Lhumann há três grandes tipos de sistemas492, o vivo – que
é a vida -, o sistema psíquico – a consciência – e o sistema social tido como a
comunicação493 494.

Sendo assim, a comunicação495 é elemento fundamental na teoria dos


sistemas496 pela forma autopoiética, pois é por meio dela que há sua forma e
desenvolvimento497.

Atinente a comunicação Santiago Guerra498 pontua que:

Somente a comunicação se autoproduz, qualificando-se como


autopoiéticos os sistemas de comunicação da sociedade. O
sentido da comunicação varia de acordo com o sistema no qual
ela está sendo veiculada e as pessoas são meios (media)
dessas comunicações, assim como computadores, faxes,
telefones, etc. Esses componentes, contudo, não pertencem aos
sistemas sociais e, sim ao seu meio ambiente.

491 LUHMANN, Niklas. El Derecho de la Sociedad. Ciudad de Mexico: Herlder. 2009. p. 79.
492 Como foi dito esses são os grandes sistemas, pois há vários subsistemas dentre eles o Direito,
Economia, Ciência, Politica Educação dentre outros. GUERRA FILHO, Willis Santiago. Imunologia:
mudança no paradigma autopoiético? Passagens. Revista Internacional de História Política e
Cultura Jurídica, Rio de Janeiro, vol. 6, nº 3, set.-dez. 2014. p. 584-603.
493 VILLAS BOAS FILHO, Orlando; GONÇALVES, Guilherme Leite. Teoria dos sistemas sociais:

Direito e Sociedade na obra de Niklas Luhmann. São Paulo: Editora Saraiva, 2013. p. 54.
494 Idem, p. 6. Tal distinção é fundamental, pois como se percebe a autopoiese que se baseia na vida

como base elementos como células, cérebro e organismos, e por sua vez o sistema cuja autopoiese
está pautada no sentido se tem os sistemas sociais e psíquicos.
495 GUERRA FILHO, Willis. Santiago. Do Litisconsórcio Necessário nas Ações de Estado. São

Paulo: PUC-SP, 1986. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo.
496 LUHMANN, Niklas. El Derecho de la Sociedad. Ciudad de Mexico: Herlder. 2009. p. 50.
497 Pode ser notado assim que para Luhmann há uma nítida relação entre a teoria dos sistemas, teoria

da comunicação e da evolução. VILLAS BOAS FILHO, Orlando. Teoria dos sistemas e o Direito
Brasileiro. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. p. 45.
498 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Da epistemologia metafísico-teológica medieval à teoria de

sistemas sociais autopoiético. Revista eletrônica direito e sociedade, Canoas, vol. 1, nº 1, nov. 2013.
Disponível em: <http://www.revistas.unilasalle.edu.br/index.php/redes>. Acesso em: 07 set. 2016.
129
Conforme pode ser anotado, não é possível confundir a comunicação com
linguagem, pois aquela antecede essa e pode mudar estruturalmente 499,500. A
comunicação segundo Lhumann decorre de três elementos, a
mensagem/informação/compreensão, pois uma ver a mensagem sendo
compreendida a comunicação se completa, mas esse é um caminho longo, pois há
variantes entre a efetiva proposta – Alter - e seu respectivo aceite Ego.

Nesse ponto chegamos ao ponto de intersecção da tese com o pensamento de


Luhmann, pois ao aplicar o conceito dos sistemas autopoiéticos é possível mitigar a
complexidade social e entendem o fenômeno da boa-fé objetiva a partir de suas
operações próprias.

Tanto é assim, que a doutrina501 pondera que:

O direito pressupõe o entendimento da comunicação, mesmo


imperfeita, podendo provar sua aceitação ou recusa. Com efeito,
a fixação de sentido da comunicação se dá pela semântica. Por
meio da utilização dos signos, as normas reduzem a
contingência fixando a limitação do uso lingüístico, com vistas a
estabilizar as expectativas normativas. Revelar as expectativas
que tenham respaldo social é decerto atributo do direito.

Conforme pode ser apercebido, o sistema jurídico é uma máquina histórica,


uma vez que toda operação autopoiética modifica o sistema e coloca a máquina em
outra posição e assim, modifica condições iniciais para outras operações502.

A composição da autopoiese compreende três fases independentes:


autorreferência da base, a reflexidade e reflexão503.

499 WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala: A linguagem silenciosa da comunicação verbal.
72ª ed. São Paulo: Editora Vozes, 2000.
500 GLASS, Lillian. Eu sei o que você está pensando: Como decifrar pessoas observando gestos,

postura, voz e olhar, entre outros sinais. 4ª ed São Paulo: Editora Best Seller, 2004.
501 PEREIRA, Alexandre Pimenta Batista. Entre o individual e o social: O problema das expectativas

negociais à luz da teoria dos sistemas. Revista de Direito Privado, vol. 24, p. 9-20, out.-dez. 2005.
502 LUHMANN, Niklas. El Derecho de la Sociedad. Ciudad de Mexico: Herlder. 2009. p. 80.
503 VILLAS BOAS FILHO, Orlando; GONÇALVES, Guilherme Leite. Teoria dos sistemas sociais:

Direito e Sociedade na obra de Niklas Luhmann. São Paulo: Editora Saraiva, 2013. p. 50.
130
Na ordem proposta a primeira delas se entende como autoreprodução dos
elementos, pois como um elemento só existe de deparando com outro eles estão
ligados em rede – redes recursivas – que ao se diferenciar reduzem as alternativas
viáveis diminuindo a complexidade504,505.

Já em um segundo momento, essa fase está relacionada a autonomia de um


elemento por sí só, ou seja, um processo pode se submeter aos seus meios para
escolher seus atos.

Por fim, a última faze está ligada a autodescrição do sistema, ou seja, uma
necessidade de se descrever – a teoria do sistema no sistema - como um diferencial,
qual seja uma construção conceitual que demonstre sua identidade e demarque sua
diferença.

Assim é possível afirmar que o direito e em especial a boa-fé objetiva, em sua


máxima autopoiética cria e recria a com base nos seus próprios elementos e
fundamentos, em especial de seus deveres anexos506 como por exemplo da
confiança507 508.

Nesse sentido a doutrina509 já pontuou alguns elementos lineares nesse


sentido, em especial fazendo referência da boa-fé como ferramenta de reformulação
sistêmica tendo em vista a alternativa diferenciada em detrimento da aplicação da
subsunção do fato a norma, para verificar o conteúdo fático para adequação da norma.

504 LUHMANN, Niklas. El Derecho de la Sociedad. Ciudad de Mexico: Herlder. 2009.LUHMANN,


Niklas. El Derecho de la Sociedad. Ciudad de Mexico: Herlder. 2009, p. 77.
505 GUERRA FILHO, Willis. Santiago. Do Litisconsórcio Necessário nas Ações de Estado. São

Paulo: PUC-SP, 1986. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo.
506 PEREIRA, Alexandre Pimenta Batista. Entre o individual e o social: O problema das expectativas

negociais à luz da teoria dos sistemas. Revista de Direito Privado, vol. 24, p. 9-20, out.-dez. 2005.
507 LUHMANN, Niklas. Confianza. (Vertrauen) Tradução de Amada Flores, Barcelona: Anthropos,

1996.
508 LUHMANN, Niklas. La Sociedad de la Sociedad. Ciudad de Mexico: Herlder. 2006. p. 300.
509 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:

Editora Almedina, 2011. p. 1259.


131
Essa autorreferência tem forte relação com a proposta realizada por Luhmann
viabiliza que a boa-fé objetiva mude a sociedade se movendo no código binário lícito
e ilícito510, verificando assim, a formulação de um sistema jurídico vivo e equalizado
com à hipercomplexidade.

Tanto é assim, que nos termos da doutrina511: “O confiar é condição elementar


da convivência, o que traduz, em última medida, a redução da complexidade, em
assertiva Luhmanniana”.

Tendo em vista os aspectos observados a boa-fé objetiva como elemento que


compõe a comunicação tem papel fundamental para o direito e a sociedade. Tida
situação foi devidamente apercebida por Luhmann adepto de uma teoria
particularmente própria do pensamento sistémico e se propôs a escrever sobre uma
teoria da sociedade e não do direito

Referida teoria tem como objetivo atingir as operações do sistema jurídico como
incentivar a práxis ou a reflexão jurídica produzindo novas interpretações ou
argumentos.

Em virtude do que foi mencionado Luhmann, tem se alguns conceitos


fundamentais da teoria dos sistemas tidos como: uma construção tendo em vista a
complexidade da sociedade moderna; a adoção de um conceito abrangente de
sociedade; e a rejeição da tese que a “integração consensual” poderia ser um
significado construtivo da sociedade.

Porém não é só, uma vez o observado acima uma importante anotação é a
perspectiva teórica que a sociedade é um sistema autorreferencial que descreve a sim
mesmo, de modo que a sociologia apareceria como uma autodescrição da sociedade
e o direito tido como, um subsistema da sociedade que pode ser aberto ou fechado,
ou seja, desprovido de inputs “entradas” e outputs “saidas” do ambiente.

510
LUHMANN, Niklas. El Derecho de la Sociedad. Ciudad de Mexico: Herlder. 2009. p. 94.
511PEREIRA, Alexandre Pimenta Batista. Entre o individual e o social: O problema das expectativas
negociais à luz da teoria dos sistemas. Revista de Direito Privado, vol. 24, p. 9-20, out.-dez. 2005.
132
Nessa toada, o sistema jurídico autopoiético é operacionalmente fechado, pois
tem seu desenvolvimento segundo regras próprias previamente estabelecidas, bem
como orientado pela comunicação ponto esse encontro com o objeto da presente tese,
pois ao aplicar o conceito dos sistemas autopoiéticos é possível mitigar a
complexidade social e entendem o fenômeno da boa-fé objetiva a partir de suas
operações próprias.

Diante de todo o exposto se faz claro e lidimo a direito e em especial a boa-fé


objetiva, tendo em vista seus contornos autopoiético se reconstrói com base nos seus
próprios elementos e fundamentos, em especial de seus deveres anexos como por
exemplo o dever de confiança.

2.6. AS FUNÇÕES DA BOA-FÉ

Funções do princípio da boa-fé objetiva estão descritas de forma minuciosa por


Antônio Menezes Cordeiro, em sua obra boa-fé objetiva no direito civil.512

Destaca referido autor, que o a boa-fé possui uma função interpretativa e


hermenêutica, a fim de preencher lacunas; função delimitativa da autonomia privada;
função constitutiva de deveres anexos ou de proteção513,514.

Nos termos do já aventado em momento anterior, a normatização desses


deveres não tem apenas um dever jurídico principal – dar, fazer ou não fazer -, mas
deveres anexos ou de proteção tão importantes quanto o dever principal515.

512 Não obstante as nítidas funções alocadas por Menezes Cordeiro, lembra a doutrina que a boa-fé
pode desempenhar funções de “excluder”, de barreira contra condutas de má-fé; funções “expressivas”
de consolidação de práticas de honestidade e razoabilidade; e funções de resguardo contra
intervenções externas. ARAUJO, Fernando. Teoria Econômica. Coimbra: Almedina, 2007. p. 549.
513 Não obstante referida tricotomia apresentada, é conhecida outras formas de funções estabelecidas

pela doutrina, dentre elas a alemã, segundo a qual há as funções integrativa, de regulação, função
limitativa, correção de lacunas. STEINER, Renata. Descumprimento Contratual: Boa-fé e Violação
Positiva do Contrato. São Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 69.
514 Há também a tricotomia proposta como função hermenêutica, função colmatação de lacunas e

criação de deveres e por fim a função corretora. MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito
Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo: Marcial Pons, 2015.
515 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 43.


133
Conforme pode ser apercebido, será utilizada uma terceira via quanto as
funções apresentadas. Nesse sentido, o tema será colocado como três frentes básicas
na seguinte ordem de estudo, - sendo essas - função interpretativa, função sanção e
função integração.

2.6.1. Função interpretativa

Antes de efetivamente adentrar a hermenêutica da boa-fé objetiva se faz


necessário pontuar que na hermenêutica contratual em geral, se tem chamada de
Teoria da Confiança.

Enunciada teoria se apresenta como uma forma intermediária, localizada entre


a teoria da vontade e a teoria da declaração prevista no artigo 112 do Código Civil que
dispõe: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”.

Segundo a teoria da confiança, interpreta-se o contrato de acordo com a


vontade consubstanciada; verifica à vontade na declaração (implica numa presunção
relativa de vontade)516-517.

Referida teoria é fundamental para os negócios jurídicos, sem o qual não há


negócio sem manifestação de vontade, todavia em complemento dispõe o 113 do
Código Civil: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os
usos do lugar de sua celebração”

516 “A exata compreensão desse instituto não deve se limitar ao desenvolvimento de obrigações
negativas. Dito de outro modo: não basta que cada um dos figurantes da relação obrigacional se
abstenha de praticar atos que reduzam as possibilidades da outra parte de obter o máximo de proveito
da prestação; a boa-fé prescreve a obrigação de cada um dos sujeitos realizar tudo quanto esteja ao
seu alcance para assegurar à contraparte o resultado útil almejado, independentemente de tais
condutas estarem expressamente previstas no contrato”. EHRHARDT JUNIOR, Marcos. A boa-fé na
experiência jurídica brasileira. Revista de Direito Privado, vol. 55, p. 181-211, jul.-set. 2013. p. 4.
517 MILAGRES, Marcelo de Oliveira. Negociabilidade e boa-fé. Revista de Direito Privado, vol. 61, p.

107-124, jan.-mar. 2015. p. 4-5.


134
Interpretar sempre é necessário, assim como procura essa exprimir à regra seu
conteúdo, ou seja, é situar a lei na ordem social, “procurando a luz desta o seu
sentido”518-519.

Não obstante não é só, no exposto pela doutrina o estudo da interpretação é


complicado, tendo em vista suas teorias520 – objetivista e subjetivista - e métodos de
aplicação como a literal, ampliativa e restritiva521.

Todavia, no presente caso é mais complexo, pois há nítida insuficiência do


critério literal, e assim para que seja possível implementar o referido artigo de forma
adequada - tendo em vista seu elemento vago -, se faz necessário aventar algumas
funções aplicadas pelo judiciário nas últimas décadas, pois se assim não for há o risco
de a sua aplicação se esvaziar e ser somente um conjunto de palavras encantadas522.

518 ASCENSÃO, José de Oliveira. Introdução e Teoria Geral. 13ª ed. Coimbra: Almedina, 2005. p.
381.
519 Apesar de escapar dos objetivos do presente trabalho, não se pode deixar de registrar interessante

precedente que demonstra a aplicação do princípio da boa-fé no campo do direito processual em


relação às condutas do próprio magistrado que conduzia o processo preservando comportamento
prévio que criou nas partes uma legítima expectativa: “Recurso especial – Embargos à execução –
Preliminar de intempestividade – Inexistência – Art. 244 do Código de Processo Civil –
Prequestionamento – Ausência – Incidência da Súmula 211 (MIX\2010\1463)/STJ – Preparo –
Ausência – Intimação pessoal – Desnecessidade – Precedentes desta Corte Superior – Porém,
determinada a intimação para recolhimento do preparo e devidamente cumprido – Violação do princípio
da confiança (venire contra factum proprium) – Decisão que extingue a demanda, sem julgamento de
mérito – Princípio da boa-fé objetiva – Observância – Recurso especial parcialmente conhecido e,
nessa extensão, provido. (…) III – A jurisprudência desta Corte Superior proclama que, na hipótese de
oposição de embargos do devedor, sem a comprovação do recolhimento de preparo, o Juiz deve
determinar o cancelamento da distribuição do processo e o arquivamento dos respectivos autos,
independentemente de intimação pessoal. IV – Todavia, na espécie, a conduta do Juízo a quo revela-
se contraditória e viola o princípio insculpido na máxima nemo potest venire contra factum proprium, na
medida em que anteriormente determinou – quando não precisava fazê-lo – a intimação para
recolhimento do preparo e, ato contínuo, mesmo após o cumprimento de sua ordem, entendeu por bem
julgar extinta a demanda, sem julgamento de mérito. V – Tal atitude viola o princípio da boa-fé objetiva
porque criou, na parte autora, a legítima expectativa de que, após o recolhimento do preparo, dentro
do prazo estabelecido pelo Magistrado, suas razões iniciais seriam examinadas, observado-se o devido
processo legal. VI – Determinada a intimação para recolhimento do preparo e figurando este
devidamente cumprido, em tempo e modo oportunos, não é o caso de extinção dos embargos à
execução, com base no art. 267, IV, do CPC. VII – Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa
extensão, provido.”(REsp 1.116.574/ES, 3.ª T., j. 14.04.2011, rel. Min. Massami Uyeda, DJe
27.04.2011.). EHRHARDT JUNIOR, Marcos. A boa-fé na experiência jurídica brasileira. Revista de
Direito Privado, vol. 55, p. 181-211, jul.-set. 2013. p. 4.
520 LARENZ, Karl, Metodologia da Ciência do Direito. 5ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,

2009.
521 ENGISCH. Karl, Introdução ao pensamento jurídico. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,

2008.
522 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 441.


135
Tais funções podem ser sistematizadas em três frentes, claramente
ponderadas no presente trabalho, mas que sinteticamente podem ser traduzidas em:
uma função hermenêutica-integrativa (agregando as duas funções); uma função
limitativa (quanto a conduta das partes e correção de conteúdo contratual); e de
criação (de deveres estabelecidas nas partes contratantes)523-524,525.

Não obstante a remissão geral do art. 113, do Código Civil, existem outros
dispositivos que prestigiam o elemento interpretativo, como exemplo pode ser citado
o tocante aos contratos por adesão (art. 423, Código Civil).

Adota-se o princípio da interpretação favorável, mas segundo a doutrina, este


princípio não está voltado para as cláusulas ambíguas, que já eram interpretadas
favoravelmente ao aderente, mas sim casos em que haja afronta à boa-fé objetiva526.

Por fim, arremata Martins-Costa527 anotando que a boa-fé objetiva opera em


sua função hermenêutica busca direcionar o interprete na avaliação do contrato
(contexto contratual), bem como busca determinar o sentido ou intenção
consubstanciada declarada.

523 Idem, p. 444.


524 SANTOS, Murilo Rezende dos. As funções da boa-fé objetiva na relação obrigacional. Revista de
Direito Privado, vol. 38, p. 204-263, abr.-jun. 2009.
525 SANTOS, Murilo Rezende dos. As funções da boa-fé objetiva na relação obrigacional. Doutrinas

Essenciais Obrigações e Contratos, vol. 1, p. 349-404, jun. 2011. p. 9-12.


526 Nesse mesmo sentido pode ser citado o art. 47 do CDC que dispõe em sua redação: “As cláusulas

contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”.


527 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 508.


136
2.6.2. Função sanção, controladora ou reativa e o abuso do Direito

A função sanção, se faz elemento fundamental para realização da boa-fé


objetiva, pois conforme lembra a doutrina528, há duas vertentes da função corretora529-
530.

A primeira delas mais conhecida – denominada por função corretora de


exercício jurídico -, pois auxilia a corrigir o exercício jurídico direcionando-o para e
ajustando a ilicitude, tal situação pode ser observada nitidamente no art. 187, do
Código Civil531,532.

528 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 572.
529 Para Siebert (1934 apud ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito

Civil. 4ª reimp. Coimbra: Editora Almedina, 2011. p. 862.). Há dois vetores que explicam o fenómeno
na doutrina portuguesa, a primeira, para Siebert, trata ser do próprio direito subjetivo a expressão abuso
do direito, de forma unitária com base no caso concreto, visa evitar excessos, qual tem base em uma
norma; já o segundo vetor determina sua existência com base em um conteúdo e preceito que
delimitam as possibilidades de exercício, “dariam corpo ao fenômeno dito do abuso”.
530 “Do ponto de vista histórico, é certo que a teoria do abuso do direito vincula-se indistintamente à

noção de culpa ou dolo que caracteriza a teoria dos atos emulativos medieval, sob decisiva influência
do direito canônico. Nesse sentido, a noção de abuso é tributária da série de decisões francesas do
final do século XIX, e meados do século XX, nas quais, tendo-se em discussão o direito de propriedade,
questionava-se seu exercício pelo titular diante da ausência de utilidade no mesmo. São exemplos
célebres dessa jurisprudência os casos Lingard, Mercy e Lacante, relativos a fumos e maus cheiros de
fábricas, e o caso Grosheintz, que girou sobre escavações no terreno do próprio titular que provocaram
o desmoronamento do terreno vizinho. Ainda o caso Doerr, dizendo respeito à construção de uma
chaminé em terreno próprio com o fito exclusivo de retirar a luz do terreno vizinho; o caso Savart, em
que o proprietário de um terreno construiu uma estrutura de madeira com dez metros de altura, pintada
de negro, com o objetivo de sombrear e entristecer o terreno vizinho; e, talvez o mais citado deles, o
caso Clément-Bayard, em que o proprietário construiu em seu terreno um dispositivo de espigões de
ferro com o objetivo de destruir os aerostatos lançados pelo proprietário vizinho. Contudo, em sua
elaboração doutrinária seguinte, já se deverá identificar desde logo a possibilidade do reconhecimento
de limites objetivos ao exercício de direitos subjetivos, como por exemplo, a finalidade econômica e
social de um direito. Na atual quadra histórica do direito privado, e sob o influxo tanto da prática dos
tribunais, quanto das inovações legislativas mais recentes, e que incorporam às legislações elementos
característicos da teoria do abuso do direito, duas são as perguntas preliminares a serem enfrentadas
e respondidas para sustentar-se a atualidade e a utilidade da teoria do abuso do direito. Primeiro, em
que medida se dá a relação entre os conceitos de abuso do direito e ato ilícito. E segundo, a afirmação
da natureza objetivista do abuso do direito, que prescinde da presença de dolo ou culpa para sua
caracterização”. MIRAGEM, Bruno. Abuso do Direito: Ilicitude Objetiva no Direito Privado Brasileiro.
Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 842, p. 11-44, dez. 2005; e MIRAGEM, Bruno. Abuso do Direito:
Ilicitude Objetiva no Direito Privado Brasileiro. Doutrinas Essenciais Obrigações e Contratos, vol. 2,
p. 433-480, jun. 2011. p. 3.
531 SANTOS, Murilo Rezende dos. As funções da boa-fé objetiva na relação obrigacional. Revista de

Direito Privado, vol. 38, p. 204-263, abr.-jun. 2009.


532 SANTOS, Murilo Rezende dos. As funções da boa-fé objetiva na relação obrigacional. Doutrinas

Essenciais Obrigações e Contratos, vol. 1, p. 349-404, jun. 2011. p. 12.


137
Nesse sentido pontua Martins-Costa533 pontua ser “condutas de tráfico social,
a sua mais presente função será corretora no momento de exercício de direitos,
faculdades, pretensões, ações, e exceções e ônus”.

Já me um segundo momento – denominada por função de ajustamento do


conceito contratual -, pauta a própria correção do conteúdo contratual como casos de
abusividades e desequilíbrio contratual.

Referidos fenômenos atingem tanto a validade do negócio jurídico, pois esse


não podem ter em sua base o objeto ilícito (art. 166, II do Código Civil), bem como a
eficácia do negócio jurídico, pois tem o poder de rever os efeitos do adimplemento e
inadimplemento obrigacional.

Por esse exato motivo, entende-se que a onerosidade excessiva, bem como a
vulnerabilidade legalmente estabelecida tem forte relação com a boa-fé objetiva, mas
não somente com a função social dos contratos534.

Tanto é assim, que Martins-Costa535 pontua que: “no campo da função a ser
examinado, está localizado o maior número de figuras criadas pelo princípio e,
corretamente, o maior número de decisões jurisprudenciais”.

Derivativa dessa função constitutiva são os deveres anexos ou de proteção,


boa-fé objetiva normatiza deveres anexos implícitos em qualquer contrato. Esses
deveres anexos derivados da boa-fé objetiva são tão relevantes que o enunciado
doutrinário nº. 24 do Conselho da Justiça Federal nas Jornadas de Direito Civil
estabeleceu que, em caso de descumprimento, a responsabilidade civil é objetiva 536.

533 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 572.
534 MARTINS-COSTA, Judith. O direito privado como um "sistema em construção" - as cláusulas gerais

no projeto do código civil brasileiro. Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 753, p. 24-48, 1998. p. 11.
535 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 572.


536 Nesse sentido compreende: RÁO, Vicente. Abuso do Direito. Seu Conceito na Legislação Civil

Brasileira. Parecer. Doutrinas Essenciais de Direito Civil, vol. 4, p. 1019-1020, out. 2010. p. 1-2.
138
São alguns dos exemplos, pode ser citado o dever do advogado de prestar ao
seu cliente “ciência” do risco do processo, dever de sigilo e dever de informação537,538.

Lembrando que nos termos do já aventado, o descumprimento desses deveres


anexos é denominado pela doutrina539 de violação positiva do contrato.

Levando-se em consideração esses aspectos a função sanção tem duas


vertentenses tidas como função corretora de exercício jurídico, bem como função de
ajustamento do conceito contratual tidas como ferramentas fundamentais para a
devida aplicação da boa-fé objetiva.

2.6.3. Função integração

Função de integração tem como base elementar aplicar a boa-fé objetiva fazer
parte integrante de todos os momentos contratuais, ou seja, as fases contratuais: fase
pré-contratual, fase contratual e fase pós-contratual.

Antes de efetivamente adentar a função integração, deve ser registrado que à


formação do contrato, prescinde de vontade, ou seja, multo consenso, pois sem a
alteridade, não há contrato540, claro que sem prejuízo aos outros elementos
principiológicos já estudados.

Previsto no atual art. 422 do Código Civil tem a seguinte previsão: “Os
contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé”

537 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São
Paulo: Método, 2015. p. 25.
538 PEZZELLA, Maria Cristina Cereser. O princípio da boa-fé objetiva no direito privado alemão e

brasileiro. Revista de Direito do Consumidor, vol. 24, p. 199-224, jul.-dez. 1997. p. 9.


539 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. A boa-fé objetiva no

ordenamento jurídico e a jurisprudência contemporânea. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014.
p. 229.
540 MILAGRES, Marcelo de Oliveira. Negociabilidade e boa-fé. Revista de Direito Privado, vol. 61, p.

107-124, jan.-mar. 2015. p. 5.


139
Lembra a doutrina541, que referida função tem lugar de destaque e já foi objeto
de dois enunciados importantes do Conselho da Justiça Federal. Inicialmente o
enunciado nº 25 - dirigido ao juiz542 - e o enunciado nº 170 - dirigido às partes543 -.

A doutrina544 aponta quatro fases de formação: A primeira fase: negócios


preliminares ou pontuação; segunda fase: proposta ou policitação; terceira fase: fase
contrato preliminar; e quarta fase: contrato definitivo.

Resumidamente, na primeira fase de negócios preliminares ou pontuação,


ocorrem as tratativas iniciais visando contrato preliminar ou definitivo, o que não teria
força vinculativa, pois esta fase não consta da lei.

Esta análise é fundada no primeiro art. 427 do Código Civil que exclui esta fase.
Apesar da falta de previsão legal, gera uma bipartição na doutrina, havendo duas
escolas que possibilitam a responsabilização da parte que não observou a devida
diligencia.

Segundo entendimento majoritário, a quebra da boa-fé objetiva na fase das


tratativas, pode gerar uma responsabilidade pré-contratual, pois aplica-se neste caso
o art. 422 do Código Civil que trata da violação positiva do contrato prevista e
consolidada nos enunciados doutrinários nº. 25 e 170 do Conselho da Justiça Federal
nas Jornadas de Direito Civil já citados545.

Já em segundo entendimento, - contrário ao majoritário - afirma que nesta fase


de processos preliminares a responsabilidade tem natureza somente extracontratual,
pois não há contrato, aplica-se assim o art. 186 do Código Civil546.

541 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São
Paulo: Método, 2015. p. 99.
542 Enunciado 25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do

princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual.


543 Enunciado 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações

preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.
544 Todavia, há posicionamento importante no sentido a distinção é mais elementar, qual seja,

formação, desenvolvimento e extinção. MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado:


critérios para a sua aplicação. São Paulo: Marcial Pons, 2015. p. 43.
545 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Teoria Geral dos Contratos e Contratos em espécie. 12ª ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2017. p. 139


546 Idem.

140
A Segunda fase é composta pela proposta ou policitação que, pode ser
traduzida resumidamente pela oferta e aceitação entre as partes contratantes. Não
obstante apesar de estar previsto no Código Civil entre os arts. 427 a 435, também
está regulado nas relações consumeristas entre os arts. 30 ao 38 do Código de Defesa
do Consumidor.

Prosseguindo, a terceira fase tem como elemento constitutivo o pré-contrato547,


que tem força vinculativa e efeitos jurídicos maiores do que a fase anterior, sendo
facultativa e usualmente aplicada no mercado imobiliário para dar segurança ao
negócio.

Por fim, a fase de contrato definitivo é o aperfeiçoado o contrato, haverá força


vinculativa plena. Assim, havendo inadimplemento, surgirá a responsabilidade civil
contratual oriunda dos arts. 389 a 391 do Código Civil, bem como os princípios
contratuais como dos arts. 421 e 422 do Código Civil548.

Feitas as anotações é possível citar três exemplos de aplicação da boa-fé


objetiva, uma em cada fase do contrato.

a. Boa-fé objetiva na fase pré-contratual.

Retirada da experiência portuguesa, a doutrina aponta que a fase pré-


contratual não seja uma fase abandonada à malicia dos negociadores, pois não se faz
necessário que algum contrato venha a ser celebrado para esta relação não seja

547 ALEM, Fabio Pedro. Contrato preliminar: eficácia nos negócios jurídicos complexos. São Paulo:
USP, 2009. 197 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo, USP. p. 71.
548 O descumprimento desses deveres, na fase pré-contratual ou pós-contratual, gera responsabilidade

civil pelos danos eventualmente causados à outra parte. Na primeira fase, fala-se em culpa in
contrahendo e, na segunda, em culpa post pactum finitum. Se o descumprimento ocorrer no âmbito
contratual (conclusão e execução do contrato), ele poderá dar causa à rescisão ou resolução do
contrato, ou à declaração de nulidade ou ineficácia de cláusula contratual, conservando-se o contrato
nesta última hipótese, se possível, além do dever de reparação dos danos eventualmente causados
por esse descumprimento. ZANELLATO, Marco Antonio. Boa-fé objetiva: formas de expressão e
aplicações. Revista de Direito do Consumidor, vol. 100, p. 141-194, jul.-ago. 2015. p. 19.
141
relevante, verificando sim o dever de boa-fé na referida relação em três pilares
fundamentais: “segurança, informação e lealdade”549,550.

Nesse sentido, Eva Sónia Moreira da Silva551, em sua obra inicia com uma
referência fundamentando seus estudos com base nos ensinamentos de Rudolf Von
Jhering552, bem como lembrando da origem histórica da culpa in contrahendo553 e
seus desdobramentos históricos.

Em uma cadência lógica, fundamenta todo o seu trabalho na presente fase –


de formação dos – contratos, qual perfaz de forma cristalina o dever de informação
que tem mote referencial na estrutura do negócio no próprio direito civil português,
como nas demais legislações de unificação do direito privado europeu protegendo até
mesmo a autonomia privada554.

Como exemplo da doutrina555 pode ser citado os julgados entre 1991 e 1992;
qual envolveu a empresa “CICA”, que distribuía sementes à agricultores gaúchos com
o compromisso implícito de aquisição da produção. Como o fez de forma sucessiva
e continuada, adquirindo a produção, quando veio a quebrar abruptamente, sem
qualquer motivação propagada na época da colheita destas sementes, ao informar
aos agricultores que não faria a compra da safra, esses ingressaram em juízo e foram

549 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil Teoria Geral: Acções e factos Jurídicos. 3ª ed. São
Paulo: Editora Saraiva. 2010. Vol. II. p. 368.
550 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:

Editora Almedina, 2011. p. 530.


551 SILVA, Eva Sónia Moreira da Silva. Da responsabilidade Pré-contratual por Violação dos

Deveres de Informação. Coimbra: Libraria Almedina, 2006.


552 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:

Editora Almedina, 2011. p. 530. Resumem que “para Jhering, a culpa in contrahendo é um instituto da
responsabilidade civil pelo qual, havendo nulidade no contrato, uma das partes, que tenha ou devesse
ter conhecimento do óbice, deve indenizar a outra pelo interesse contratual negativo, em relação a este
entendimento”, verifica-se divergências com demais doutrinadores, mas pode abstrair que “a base do
instituto estaria no próprio contrato concluído com nulidade”.
553 Para Jhering (apud ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil.

4ª reimp. Coimbra: Editora Almedina, 2011. p. 532 e 539.) a culpa in contrahendo (embora criticada)
“compreendia, na sua imprecisão, elementos que possibilitariam dois tipos de desenvolvimentos: uma
saída de tipo negocial, com amparo na vontade das partes e uma busca de apoio direto em proposições
legais”. Ademais na mesma obra citada, verifica-se culpa quando houver violação de deveres pré-
contratuais impostos por lei.
554 SILVA, Eva Sónia Moreira da Silva. Da responsabilidade Pré-contratual por Violação dos

Deveres de Informação. Coimbra: Libraria Almedina, 2006.


555 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São

Paulo: Método, 2015. p. 99.


142
indenizados pelas perdas, pois a “CICA” não cumpriu com a boa-fé objetiva pré-
contratual (violação positiva do contrato).

Outro exemplo retirado dos julgados é o seguinte:

Reparação de danos materiais e morais. Responsabilidade pré-


contratual. Princípio da boa fé objetiva dos contratos.
Negociações preliminares a induzir os autores a deslocarem-se
até o Rio de Janeiro para a aquisição de veículo seminovo da ré,
na companhia de seu filho ainda bebê, gerando despesas.
Deslealdade nas informações prestadas, pois oferecido como
uma jóia de carro impecável, gerando falsas expectativas, pois
na verdade o veículo apresentava pintura mal feita, a revelar
envolvimento em acidente de trânsito. Omissão no fornecimento
do histórico do veículo que poderia confirmar as suspeitas de
tratar-se de veículo batido. Danos materiais, relativos às
passagens aéreas e estadia e danos morais decorrentes do
sentimento de desamparo, frustração e revolta diante da
proposta enganosa formulada. Sentença confirmada por seus
próprios fundamentos (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul,
Recurso Cível 71000531376, 2.ª Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais – JEC, rel. Juiz Ricardo Torres Hermann, j.
08.09.2004).

Conforme pode ser apercebido, com a deslealdade nas informações prestadas,


houve uma falsa expectativa e sendo assim, verifica nitidamente uma violação da boa-
fé objetiva frente ao adquirente do veículo.

A solução dessa controvérsia demanda, necessariamente, a


aplicação de um dos princípios fundamentais do direito privado,
o princípio da boa-fé objetiva, cuja função é estabelecer um
padrão ético de conduta para as partes ao longo de todas as
fases da relação obrigacional. Sobre esse princípio, tive
oportunidade de dissertar, em sede doutrinária: A boa-fé objetiva
143
constitui um modelo de conduta social ou um padrão ético de
comportamento, que impõe, concretamente, a todo o cidadão
que, na sua vida de relação, atue com honestidade, lealdade e
probidade. Não se deve confundir com a boa-fé subjetiva ('guten
Glauben'), que é o estado de consciência ou a crença do sujeito
de estar agindo em conformidade com as normas do
ordenamento jurídico (v. g. posse de boa-fé, adquirente de boa-
fé, cônjuge de boa-fé no casamento nulo). O princípio da boa-fé
objetiva ('Treu und Glauben') foi consagrado pelo § 242 do BGB,
estabelecendo simplesmente o seguinte: '§ 242. O devedor deve
cumprir a prestação tal como exige a boa-fé e os costumes do
tráfego social'. A partir, em especial, dessa cláusula geral de
boa-fé, a doutrina alemã desvendou esse novo princípio do
sistema de direito privado. A boa-fé objetiva ('Treu und Glauben')
apresenta-se em particular, como um modelo ideal de conduta,
que se exige de todos os integrantes da relação obrigacional
(devedor e credor) na busca do correto inadimplemento da
obrigação, que é a sua finalidade. Almeida Costa, após afirmar
que a boa-fé objetiva constitui um 'standard' de conduta ou um
padrão ético-jurídico, esclarece que ela estabelece que 'os
membros de uma comunidade jurídica devem agir de acordo
com a boa-fé, consubstanciando uma exigência de adotarem
uma linha de correção e probidade, tanto na constituição das
relações entre eles como no desempenho das relações
constituídas. E com o duplo sentido dos direitos e dos deveres
em que as relações jurídicas se analisam: importa que sejam
aqueles exercidos e estes cumpridos de boa-fé. Mais ainda:
tanto sob o ângulo positivo de se agir com lealdade, como sob o
ângulo negativo de não se agir com deslealdade'. Exatamente a
exigência ética fez com que, por meio de um modelo aberto,
fosse entregue à hermenêutica declarar o significado concreto
da boa-fé, cujos ditames devem ser seguidos desde a
estipulação de um contrato até o término de sua execução. Na
relação obrigacional a boa-fé exerce múltiplas funções, desde a
144
fase anterior à formação do vínculo, passando pela sua
execução, até a fase posterior ao adimplemento da obrigação:
interpretação das regras pactuada (função interpretativa),
criação de novas normas de conduta (função integrativa) e
limitação dos direitos subjetivos (função de controle contra o
abuso de direito). Em sua função interpretativa, prevista no art.
113 do Código Civil brasileiro, a boa-fé auxilia no processo de
interpretação das cláusulas contratuais. Colabora, dessa forma,
para uma análise objetiva das normas estipuladas no pacto. A
função integrativa da boa-fé, tendo por fonte o art. 422 do Código
Civil brasileiro, permite a identificação concreta, em face das
peculiaridades próprias de cada relação obrigacional, de novos
deveres, além daquelas que nascem diretamente da vontade
das partes. Ao lado dos deveres primários da prestação, surgem
os deveres secundários ou acidentais da prestação e, até
mesmo, deveres laterais ou acessórios de conduta. Enquanto os
deveres secundários vinculam-se ao correto cumprimento dos
deveres principais (v. g. dever de conservação da coisa até a
tradição), os deveres acessórios ligam-se diretamente ao correto
processamento da relação obrigacional (v. g. deveres de
cooperação, de informação, de sigilo, de cuidado). Entre os
deveres acessórios, situa-se a obrigação de garantir a
segurança do consumidor, fornecendo produtos e serviços não
defeituosos no mercado de consumo. Na sua função de controle,
limita o exercício dos direitos subjetivos, estabelecendo para o
credor, ao exercer o seu direito, o dever de ater-se aos limites,
traçados pela boa-fé, sob pena de uma atuação antijurídica,
consoante previsto no art. 187 do Código Civil brasileiro de 2002.
Evita-se, assim, o abuso de direito em todas as fases da relação
jurídica obrigacional, orientando a sua exigibilidade (pretensão)
ou o seu exercício coativo (ação). Desenvolveram-se fórmulas,
sintetizadas em brocardos latinos, que indicam tratamentos
típicos de exercícios inadmissíveis de direitos subjetivos, como
a 'supressio' (o não exercício de um direito durante longo tempo
145
poderá ensejar a sua extinção), a 'tuo quoque' (aquele que
infringiu uma regra de conduta não pode postular que se
recrimine em outrem o mesmo comportamento) e a 'venire
contra factum proprium' (exercício de uma posição jurídica em
contradição com o comportamento anterior do exercente). (...) O
princípio da boa-fé objetiva, como já dito, se aplica a todas as
fases da relação obrigacional. (STJ - REsp: 1367955 SP
2011/0262391-7, Relator: Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, Data de Julgamento: 18/03/2014, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/03/2014)

No julgado acima, o Superior Tribunal de Justiça no Recurso reconheceu a


responsabilidade civil da parte que rompeu as tratativas preliminares usando de meio
ardiloso e inidôneo. Restou clara a solução da controvérsia da demanda e a efetiva
aplicação do princípio da boa-fé objetiva, cuja função é estabelecer um padrão ético
de conduta para as partes ao longo de todas as fases da relação obrigacional. Isso
devido ao advento de que a boa-fé objetiva sucede desde a concepção do vínculo
obrigacional, antes mesmo de ser celebrado o negócio jurídico. Destarte culminou na
responsabilidade por perdas e danos, realçou ainda que a inexistência de negócio
jurídico não libera as partes dos deveres de cooperação556, devendo atuar com
honestidade, lealdade e probidade, não isenta o desrespeito ao padrão ético de
conduta.

Nesse sentido, pode ser afirmado desde as tratativas, as partes estão adstritas
a agir conforme os deveres de cada caso - embora não prevista positivamente na atual
legislação -, há um dever jurídico devidamente tutelado segundo o qual, uma vez
violado surge o dever de reparar o dano causado557.

b. Boa-fé objetiva contratual.

556 ALEM, Fabio Pedro. Contrato preliminar: eficácia nos negócios jurídicos complexos. São Paulo:
USP, 2009. 197 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo, USP. p. 67.
557 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 430.


146
No presente estágio contatual558, verifica-se o momento nuclear da execução,
obrigações e deveres das partes. Nitidamente é o momento mais sensível entre as
partes, pois o sinalágma contratual se presenta de forma latente.

Nesse sentido pontua Martins-Costa559: “tratar-se, portanto, do momento em


que devem ser desenvolvidas atividades que dão entidade concreta ao previsto no
acordo, efetivando o programa contratual ali desenhado”

Tanto é assim, que o exemplo a ser citado foi aquele o qual deu origem a
presente tese, ou seja, a questão da hipoteca firmada entre os construtores ou
incorporadores junto aos órgãos financeiros não podem ter eficácia perante aos
terceiros de boa-fé.

Questão sentida pela sociedade que foi sumulada sob número 308, do Superior
Tribunal de Justiça qual vale a transição “A hipoteca firmada entre a construtora e o
agente financeiro, anterior ou posterior à celebração do compromisso de compra e
venda não tem eficácia perante terceiros adquirentes do imóvel que estejam de boa-
fé”.

Pelo teor da súmula a boa-fé objetiva, caracterizada pela pontualidade


contratual vence a hipoteca, que deixa de ter efeitos erga omnes e passa ter efeitos
inter partes.

Anota-se seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça:

Direito do consumidor. Contrato de seguro de vida inserido em


contrato de plano de saúde. Falecimento da segurada.
Recebimento da quantia acordada. Operadora do plano de
saúde. Legitimidade passiva para a causa. Princípio da boa-fé
objetiva. Quebra de confiança. Os princípios da boa-fé e da

558 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. A boa-fé objetiva no
ordenamento jurídico e a jurisprudência contemporânea. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014.
p. 195.
559 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 431.


147
confiança protegem as expectativas do consumidor a respeito do
contrato de consumo. A operadora de plano de saúde, não
obstante figurar como estipulante no contrato de seguro de vida
inserido no contrato de plano de saúde, responde pelo
pagamento da quantia acordada para a hipótese de falecimento
do segurado se criou, no segurado e nos beneficiários do
seguro, a legítima expectativa de ela, operadora, ser
responsável por esse pagamento (Superior Tribunal de Justiça,
ACÓRDÃO: RESP 590.336/SC, Min. Rel. Fátima Nancy, j.
07.12.2004, 3.ª Turma, DJ 21.02.2005, p. 175). Quanto aos
danos morais presumidos (in re ipsa) pelo não pagamento da
indenização: REsp 657.717- RJ, DJ 12/12/2005; REsp 341.528-
MA, DJ 9/5/2005, e REsp 402.457-RO, DJ 5/5/2003, Ag 661.853-
SP, DJ 23/5/2005.

Tais ocorrências somente são possíveis, pois a boa-fé objetiva é preceito de


ordem pública560.

Porém não é só, deve ficar registado que conforme muito bem lembra Martins-
Costa561 a boa-fé objetiva teria duas funções interessantes. Inicialmente, a primeira
pautada no plano da validade – como exemplo acima, retira do sistema o ato
atentatório -, já em um segundo momento no plano da eficácia do negócio jurídico que
é modulado, por exemplo, por cláusulas penais indenizatórias.

c. Boa-fé objetiva na fase pós-contratual.

A última fase da relação contratual também deve ser lembrada, tanto é assim
que está prevista expressamente no art. 422 do Código Civil, segundo o qual ao

560 Nesse sentido: o Enunciado 363 – Art. 422. Os princípios da probidade e da confiança são de ordem
pública, estando a parte lesada somente obrigada a demonstrar a existência da violação
561 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 432.


148
término da relação estabelecida entre as partes, esses devem manter a probidade e
boa-fé em sua conclusão562.

Lembra a doutrina563, que a culpa post pactum finitum ingressou no direito


brasileiro por meio da jurisprudência, segundo o qual os contraentes devem mante
incólume os deveres de confidencialidade ou abstenção de condutas antissociais.

O primeiro exemplo elucidativo, cita-se o contrato de locação que existe


cláusula previa segundo a qual o locatário deveria devolver o imóvel pintado.

O locatário – no decorrer da locação supre um desafeto ao proprietário – atende


a cláusula, mas pinta o imóvel no interior todo da cor preta. No referido exemplo
ilustrativo o locatário cumpriu o contrato, mas houve quebra da boa-fé.

Por sua vez, bom exemplo extraído dos julgados se apresenta a seguir:

INSCRIÇÃO NO SPC. DÍVIDA PAGA POSTERIORMENTE.


DEVER DO CREDOR DE PROVIDENCIAR NA BAIXA DA
INSCRIÇÃO. DEVER DE PROTEÇÃO DOS INTERESSES DO
OUTRO CONTRATANTE, DERIVADO DO PRINCÍPIO DA BOA-
FÉ CONTRATUAL, QUE PERDURA INCLUSIVE APÓS A
EXECUÇÃO DO CONTRATO (RESPONSABILIDADE PÓS-
CONTRATUAL)” (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul,
NÚMERO DO PROCESSO: 71000614792, DATA: 01/03/2005,
ÓRGÃO JULGADOR: Terceira Turma Recursal Cível, JUIZ
RELATOR: Eugênio Facchini Neto, ORIGEM: Comarca de Porto
Alegre).

562 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. A boa-fé objetiva no
ordenamento jurídico e a jurisprudência contemporânea. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014.
p. 229.
563 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 433; e ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito
Civil. 4ª reimp. Coimbra: Editora Almedina, 2011. p. 625. Lembram que “a culpa post pactum finitum
corresponde à projeção simétrica da culpa in contrahendo no período pós-contratual. E, continua,
segundo Jhering e seus seguidores poderia, antes de ser concluído um contrato, constitui-se, a cargo
das partes, um dever de indenizar, por culpa contratual”.
149
Esse mesmo raciocínio foi adotado pelo Enunciado n. 26, dos Juizados
Especiais Cíveis do Tribunal de Justiça de São Paulo, pelo qual "O cancelamento de
inscrição em órgãos restritivos de crédito após o pagamento deve ser procedido pelo
responsável pela inscrição, em prazo razoável, não superior a 30 dias, sob pena de
importar em indenização por dano moral”

Por todos esses aspectos se faz possível afirmar que a função de integração
tem como base elementar aplicar a boa-fé objetiva tendo em vista sua aplicação em
todos os momentos contratuais, ou seja, a violação dos deveres pré-contratuais,
derivam do princípio da boa-fé objetiva, dos quais suscitam a responsabilidade civil
pré-contratual. Destarte, conclui que a responsabilidade tem como escopo afirmar a
confiança depositada pelas partes, no sentido de agirem com boa-fé durante as
tratativas negociais, assim, como na execução do contrato e após exauridos seus
efeitos.

Colocando termo final nas funções criadas pela doutrina, há o elemento


integração da boa-fé objetiva, possui ainda alguns conceitos derivativos do direito
comparado.

2.7. A BOA-FÉ E OS DEVERES SECUNDÁRIOS OU ANEXOS

Conforme extraído anteriormente, a boa-fé serve como uma ferramenta de


interpretação e integração de lacunas564. Referido estudo contém variações aplicadas
pela doutrina565, dentre elas podem ser citados como: deveres acessórios 566,
fiduciários, instrumentais e laterais.

564 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 507.
565 STEINER, Renata. Descumprimento Contratual: Boa-fé e Violação Positiva do Contrato. São

Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 87.


566 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:

Editora Almedina, 2011. p. 605. Nesse aspecto, referidos doutrinadores destacam em relação aos
deveres acessórios que as partes estão obrigadas, na vigência do contrato, mutuamente informarem
todos os aspectos de certa relação e, ainda, de todos os efeitos que venham advir. V.g. prestação de
serviços médicos. Esses depreendem por dever acessório a lealdade, informação, qual transcende a
regulação contratual e até mesmo autonomia privada e até mesmo a eficácia protetora de terceiros.
150
Dando seguimento ao tratamento dos deveres decorrentes à boa-fé objetiva se
faz necessária indicação do direito português, em especial do art. 334 do Código
Civil567, que trata do exercício de da tutela dos direitos, em especial do abuso do direito
dispondo que: “É ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda
manifestamente os limites impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou pelo fim
social ou económico desse direito”.

Conforme pode ser extraído do dispositivo, três são comandos gerais, a boa-
fé, os bons costumes e pelo fim econômico e social. Como é sabido, o que nos mais
interessa, por sua vez é o primeiro elemento.

Nos apontamentos doutrinários568 tem relação com velhos mandamentos,


dente eles: honeste agere, alterum non laedere e o afastamento do venire contra
factum proprium.

Assim, de forma muito pontual, a pessoa deve agir de maneira honesta, evitar
causar danos, bem como não frustrar expectativas criadas.

Desta monta, pode ser afirmado que há na relação obrigacional duas esferas
ou competências obrigacionais, a primeira denomina “deveres principais” tidos no o
núcleo da obrigação, bem como em um segundo momento os “deveres secundários”
que não relação direta com o objeto principal da obrigação, mas decorrem deste 569.

Sendo assim, há outros elementos instrumentais não pautados somente no


elemento intrínseco da obrigação. Os quais pontualmente são alocados alguns desses
abaixo.

567 PORTUGAL. Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de Novembro de 1966. Código Civil Português,


Supremo Tribunal de Justiça, Portugal, 1966. 553 f. Disponível em: <http://www.stj.pt/ficheiros/
fpstjptlp/portugal_codigocivil.pdf>. Acesso em: 22 set. 2016.
568 VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral do Direito Civil. 4ª ed. Coimbra: Editora Almedina,

2007. p. 267.
569 STEINER, Renata. Descumprimento Contratual: Boa-fé e Violação Positiva do Contrato. São

Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 89.


151
2.7.1. Dever de lealdade

Uma conduta pautada da lealdade pretende evitar a prejudicialidade em relação


à parte contrária. Ela está intimamente ligada à confiança depositada no outro em que
este e aquele ajam com ditames objetivos e de forma proba570-571.

Assim como depreende Niklas Luhmann572 a confiança nada mais é que um


facilitador das complexidades humanas. O dever de lealdade obriga as partes a
renunciarem condutas que gerem o desequilíbrio a relação contratual ou falseiem o
objetivo do negócio.

Nesta senda, a lealdade envolve a proteção jurídica das justas expectativas


nascidas das necessidades humanas573.

2.7.2. Dever de cooperação ou colaboração

Pode ser extraído da obra de Clovis Couto e Silva 574 que o dever de cooperação
faz parte determinante da obrigação como processo ou estrutura obrigacional. Nesse
sentido, a doutrina pondera que a cooperação tem nítida relação qualificada pela

570 RACY, Vivien. A cláusula geral da boa-fé objetiva no Código Civil de 2002. São Paulo: PUC-SP,
2011. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 65.
571 (...) “violação do dever de lealdade nem sempre se coloca no plano da informação, mas também no

do próprio comportamento. Pode-se dizer, de modo geral, que o dever de lealdade impõe às partes a
adoção de conduta insuscetível de fraudar a confiança da contraparte de que seu parceiro conduzir-
se-á com lealdade, pois é isso o que se pode esperar de quem atua no tráfico jurídico. Esse dever pode
ter conotações positivas e negativas. A feição positiva da lealdade manifesta-se no dever de atuar e
cooperar para o atingimento da finalidade essencial das tratativas: a conclusão do contrato. Nisso inclui-
se a necessidade da parte comunicar claramente as reais possibilidades, materiais e jurídicas, de
concluir o negócio, a fim de evitar despertar inultimente na outra a confiança legítima na celebração,
como ocorre quando alguém, mesmo sem ser titular de um bem, assegura vendê-lo a outrem, não lhe
informando, contudo, sobre a verdadeira titularidade do bem”, conforme pondera FRITZ, Karina Nunes.
A boa-fé objetiva e sua incidência na fase negocial: um estudo comparado com base na doutrina alemã.
Revista de Direito Privado, vol. 29, p. 201-237, jan.-mar. 2007. p. 22-24.
572 Niklas Luhmann (2005 apud RACY, Vivien. A cláusula geral da boa-fé objetiva no Código Civil

de 2002. São Paulo: PUC-SP, 2011. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. p. 65.)
573 RACY, Vivien. A cláusula geral da boa-fé objetiva no Código Civil de 2002. São Paulo: PUC-SP,

2011. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 69.
574 SILVA, Clóvis Couto e. A obrigação como processo. reimp. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

152
finalidade de alcançar um adimplemento satisfatório, ou seja, a obtenção da utilidade
do contrato575-576.

Dissertam Pablo Stolze e Pamplona Filho :

Dever de assistência – O dever de assistência, também,


conhecido como dever de cooperação, se refere à concepção de
que, se o contrato é feito para ser cumprido, aos contratantes
cabe colaborar para o correto adimplemento da sua prestação
principal, em toda a sua extensão”577.

Dever de cooperação visa apregoar às partes colaboração mútua, a fim de


permitir o bom andamento das relações obrigacionais578.

2.7.3. Dever de informação ou de esclarecimento

O dever de informação ou esclarecimento se faz de suma importância, para


realização do negócio jurídico, as informações segundo os quais se verificam o riscos
e efeitos da relação estabelecida, ventilando assim a dimensão do negócio 579.

575 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 523.
576 Há quem entenda que “o princípio da cooperação, por sua vez, instrumentaliza o princípio da

solidariedade na medida em que impõe que os contratantes cooperem mutuamente entre si, como
forma de otimizar a relação contratual tornando-a igualmente proveitosa para ambas as partes”.
SANTOS, Murilo Rezende dos. As funções da boa-fé objetiva na relação obrigacional. Revista de
Direito Privado, vol. 38, p. 204-263, abr.-jun. 2009; e SANTOS, Murilo Rezende dos. As funções da
boa-fé objetiva na relação obrigacional. Doutrinas Essenciais Obrigações e Contratos, vol. 1, p. 349-
404, jun. 2011. p. 23.
577 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral

1. 17ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. p. 108.


578 “Aqui se pode destacar outra questão de fundamental importância para a correta delimitação da

extensão dos deveres exigíveis numa relação obrigacional: até que ponto podem ser exigidos
sacrifícios do sujeito da relação jurídica obrigacional para que não reste violado o mencionado dever
de cooperação? O limite pode ser encontrado na preservação dos próprios interesses do sujeito, ou
seja, a pretexto de atendimento do dever de cooperação não se pode exigir sacrifício desmesurado,
causando nítido desequilíbrio entre as partes”, conforme pondera EHRHARDT JUNIOR, Marcos. A boa-
fé na experiência jurídica brasileira. Revista de Direito Privado, vol. 55, p. 181-211, jul.-set. 2013. p.
8.
579 O dever de informação é essencial para que o contratante possa obter antes, durante ou depois do

contrato, uma informação a que não teria acesso de outra forma. O contratante tem o dever, mesmo
sem a solicitação da contraparte, de informar certas circunstâncias que podem influenciar na
celebração do contrato. SANTOS, Murilo Rezende dos. As funções da boa-fé objetiva na relação
obrigacional. Revista de Direito Privado, vol. 38, p. 204-263, abr.-jun. 2009; e SANTOS, Murilo
153
A questão é de tal abrangência, que Roberto Senise Lisboa580 poderá que sua
fonte é multifacetária tendo em visa sua origem que pode ser da lei, do negócio jurídico
ou até mesmo do dever lateral derivativo da boa-fé.

Tendo como elemento funcional581 “promover a interação jurídica das partes de


tal forma a manter equilibrado o nível de conhecimento o nível de conhecimento
necessário sobre a relação contratual”.

Martins-Costa582 pondera ser esse dever um grupo polimorfo, pois a informação


deve ter relação com as circunstâncias da própria relação obrigacional.

O melhor exemplo do dever de informação vem da experiência do Código de


Defesa do Consumidor para boa-fé objetiva o art. 46 dispõe:

Os contratos que regulam as relações de consumo não


obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade
de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os
respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a
compreensão de seu sentido e alcance.

Diante do referido mandamento, há três situações distintas, inicialmente as


cláusulas desconhecidas, são tidas como abusivas, como exemplo pode ser citado a
reajuste de mensalidades obtidas por cálculos obscuros.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. SEGUROS. PLANO DE SAÚDE.


PRELIMINARES. PRESCRIÇÃO DECENAL E ÂNUA.
ILEGITIMIDADE ATIVA. AFASTADAS. REAJUSTE DA

Rezende dos. As funções da boa-fé objetiva na relação obrigacional. Doutrinas Essenciais


Obrigações e Contratos, vol. 1, p. 349-404, jun. 2011. p. 23.
580 LISBOA, Roberto Senise. Obrigação de informar. São Paulo: Editora Almedina, 2012. p. 21.
581 Idem, p. 39.
582 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 527.


154
MENSALIDADE. SINISTRALIDADE. INDICADOR OBTIDO
POR CÁLCULOS OBSCUROS E DESCONHECIDOS DO
CONSUMIDOR ABUSIVIDADE. NULIDADE DA CLÁUSULA.
NEGARAM PROVIMENTO A AMBOS OS APELOS. UNÂNIME.
(Apelação Cível Nº 70045689056, Sexta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Luís Augusto Coelho Braga, Julgado
em 20/06/2013) (TJ-RS - AC: 70045689056 RS , Relator: Luís
Augusto Coelho Braga, Data de Julgamento: 20/06/2013, Sexta
Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
24/06/2013)

Em um segundo momento a cláusula limitativa de direito como a própria


denominação propõe deve ser comunicada previamente sob pena de não vinculação.

CONSUMIDOR. SEGURO EMPRESARIAL CONTRA ROUBO E


FURTO CONTRATADO POR PESSOA JURÍDICA.
MICROEMPRESA QUE SE ENQUADRA NO CONCEITO DE
CONSUMIDOR. CLÁUSULA LIMITATIVA QUE RESTRINGE A
COBERTURA A FURTO QUALIFICADO. REPRODUÇÃO DA
LETRA DA LEI. INFORMAÇÃO PRECÁRIA. INCIDÊNCIA DO
ART. 54, § 4º, DO CDC. (...) Os arts. 6º, inciso III, e 54, § 4º, do
CDC, estabelecem que é direito do consumidor a informação
plena do objeto do contrato, garantindo-lhe, ademais, não
somente uma clareza física das cláusulas limitativas - o que é
atingido pelo simples destaque destas -, mas, sobretudo, clareza
semântica, um significado unívoco dessas cláusulas, que
deverão estar infensas a duplo sentido. 4. O esclarecimento
contido no contrato acerca da abrangência da cobertura
securitária que reproduz, em essência, a letra do art. 155 do
Código Penal, à evidência, não satisfaz o comando normativo
segundo o qual as cláusulas limitadoras devem ser claras, por
óbvio, aos olhos dos seus destinatários, os consumidores, cuja
hipossuficiência informacional é pressuposto do seu
155
enquadramento como tal. 5. Mostra-se inoperante a cláusula
contratual que, a pretexto de informar o consumidor sobre as
limitações da cobertura securitária, somente o remete para a
letra da Lei acerca da tipicidade do furto qualificado, cuja
interpretação, ademais, é por vezes controvertida até mesmo no
âmbito dos Tribunais e da doutrina criminalista. 6. Recurso
especial não conhecido.(STJ - REsp: 814060 RJ 2006/0014606-
0, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de
Julgamento: 06/04/2010, T4 - QUARTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 13/04/2010)

Por fim, porém não menos importante a cláusula incompreensível ou


ininteligível, são as cláusulas com intuito malicioso de enganar o consumidor.

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE


DE CLÁUSULA ABUSIVA DE COBRANÇA DE RESÍDUO -
CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA -
FINANCIAMENTO - PREVISÃO DE COBRANÇA DE SALDO
RESIDUAL APÓS A QUITAÇÃO DAS PARCELAS -
CONTEÚDO DEFICIENTE E INCOMPREENSÍVEL DO
CONTRATO - CLÁUSULA ABUSIVA - IMPROVIDO.(TJ-MS -
AC: 23623 MS 2007.023623-5, Relator: Des. Luiz Tadeu
Barbosa Silva, Data de Julgamento: 23/10/2008, 5ª Turma Cível,
Data de Publicação: 18/12/2008)

Pode ser verificado mais um exemplo interessante segundo o qual contrato de


seguro de automóvel que se faz redigida pela seguinte cláusula de perfil583: “O
segurado não terá direito à indenização se deixar de prestar informação que influa no
índice tarifário do risco”. Nos termos do apresentado, a cláusula assim redigida é
incompreensível, não vinculando o seu conteúdo.

583PEZZELLA, Maria Cristina Cereser. O princípio da boa-fé objetiva no direito privado alemão e
brasileiro. Revista de Direito do Consumidor, vol. 24, p. 199-224, jul.-dez. 1997. p. 9.
156
2.7.4. Dever de segurança e proteção

Também denominado de dever de proteção do participe contratual em sua


amplitude patrimonial e extrapatrimonial determina o respeito ao dever de cuidado e
proteção a pessoa, bens jurídicos e interesses das partes contratantes 584.

Esse dever, como salienta Menezes Cordeiro, embora decorra da relação


contratual, está em posição de independência em relação às prestações principais.
Ou, em suas palavras585:

Os deveres acessórios de proteção nada têm a ver com a


regulação contratual e com a sua execução fiel pelas partes.
Visam, na verdade, obstar a que, na ocasião do efectivar das
prestações e dadas as possibilidades reais de agressão e
ingerência provocadas por essa conjuntura, as partes se
venham a inflingir danos mútuos. A relação com o contrato, caso
exista e seja ela qual for, não explica nem orienta esses deveres:
eles radicam em níveis diversos da ordem jurídica, profundos
sem dúvida, mas alheios à autonomia privada.

2.7.5. Dever de prestação de contas

A prestação de contas se caracteriza como um dever derivativo da boa-fé


objetiva, tem forte relação com relação do dever de informação. Nesse sentido a
prestação de contas como regra geral tom como objetivo finalístico complementar dos
dados eventuais despesas, créditos, débitos, assim como o esclarecimento de
informações complementares que ao objeto da obrigação.

Nesse sentido:

584 STEINER, Renata. Descumprimento Contratual: Boa-fé e Violação Positiva do Contrato. São
Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 111.
585 CORDEIRO, Antônio Manuel da Rocha e Menezes. Da boa-fé no Direito Civil. Coimbra: Almedina,

2001. p. 615.
157
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REVISÃO
CONTRATUAL. ARRENDAMENTO MERCANTIL.
ANTECIPAÇÃO DE VRG. COBRANÇA DE ENCARGOS
REMUNERATÓRIOS SEM PREVISÃO EXPRESSA.
IMPOSSIBILIDADE. DEMONSTRAÇÃO ICTU OCULI PELO
RECORRENTE DA SUA EXISTÊNCIA. PACTUAÇÃO DE
TAXAS FINANCEIRAS TARDIAMENTE, APÓS O MOMENTO
DA CONTRATAÇÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 52 DO CDC.
OFENSA À BOA-FÉ OBJETIVA. PRESTAÇÃO DE CONTAS
POSTERIOR QUE NÃO POSSUI O CONDÃO DE
CONVALIDAR A NULIDADE DAS PRÁTICAS ABUSIVAS.
COBRANÇA DE TAC ILEGAL SEGUNDO O ENTENDIMENTO
DO STJ FIRMADO EM SEDE DE RECURSO REPETITIVO.
VRG: IMPOSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA DE JUROS
REMUNERATÓRIOS. ANTECIPAÇÃO A CARGO DA
ARRENDATÁRIA. CONVERGÊNCIA COM A AUSÊNCIA DE
DISPOSIÇÃO CONTRATUAL. PREJUÍZO LÓGICO DAS
DISCUSSÕES ACERCA DA CAPITALIZAÇÃO, DA
APLICAÇÃO DA TABELA PRICE E DA TAXA MÉDIA DE
MERCADO. NÃO PACTUAÇÃO DA COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. FIXAÇÃO DO LIMITE DE 12% AO ANO PARA
A TAXA DE JUROS PELO MAGISTRADO A QUO QUE
DIVERGE DA LÓGICA DA AUSÊNCIA DE PREVISÃO
CONTRATUAL. AUSÊNCIA DE REFORMATIO IN PEJUS.
IMPOSSIBILIDADE LÓGICA DE APLICAÇÃO DO LIMITE.
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. LIQUIDAÇÃO QUE
CHEGARIA A ZERO, NO QUE TANGE AOS JUROS.
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. ENCARGOS FINANCEIROS.
NULIDADE. QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA
COGNOSCÍVEIS DE OFÍCIO. AUSÊNCIA DE REFORMATIO IN
PEJUS, TAMBÉM NESSE PARTICULAR. CÁLCULO QUE SE
LIMITA À COBRANÇA DO VRG MÊS A MÊS, SEM INCIDÊNCIA
DE ENCARGO REMUNERATÓRIO. JUROS DE MORA
CONTRATADO QUE SE SUJEITA AO LIMITE LEGAL DE 1%
158
AO MÊS. MULTA DE MORA QUE SE LIMITA A 2% SOBRE O
VALOR DA PRESTAÇÃO, NOS TERMOS DO ART. 52, § 1º, DO
CDC. APENAS ASSISTE RAZÃO AO APELANTE, NO QUE
CONCERNE À NECESSIDADE DE REDUÇÃO DOS
HONORÁRIOS PARA 10% SOBRE O VALOR DA CAUSA.
RECURSO A QUE SE CONCEDE PARCIAL PROVIMENTO, EX
VI DO ART. 557, § 1º-A, DO CPC (TJ-RJ - APL:
00035001720128190045 RJ 0003500-17.2012.8.19.0045,
Relator: DES. GABRIEL DE OLIVEIRA ZEFIRO, Data de
Julgamento: 11/06/2015, DÉCIMA TERCEIRA CAMARA CIVEL,
Data de Publicação: 15/06/2015 00:00)

2.7.6. Dever de sigilo

O dever de sigilo, também denominado de dever de segredo, trata da proibição


em veicular informações sigilosas, a terceiros sem ou com interesse, acerca das
cláusulas contratuais, com fito de se favorecer, ao infringir este dever, concorre em
uma conduta danosa, ardilosa, má-fé, qual poderá incidir em reparação de danos586.

Há que pontuar a prestação de serviços de médicos, advogados, padres estão


vinculados ao dever de sigilo, ante suas informações privilegiadas acerca de
determinada causa, objeto, pessoa, por exemplo.

Quando o acordo de segredo é posto sem prazo determinado e as negociações


são abdicadas, continua este a produzir efeitos até que as informações sigiladas
sejam publicamente apregoadas ou percam sua potencialidade lesiva à contraparte.
Esse instrumento caracteriza-se, contudo, como verdadeiro contrato com obrigações

586“O dever de sigilo impõe a não divulgação de informações conhecidas por causa das negociações,
cuja difusão possa ser danosa à outra parte, como, por exemplo, a divulgação da difícil situação
econômica do parceiro negocial. Alguns autores, entretanto, não consideram a potencialidade danosa
da divulgação como requisito do dever de sigilo.(...) Não importam os motivos pelos quais o sigilo foi
quebrado, se para prejudicar a outra parte ou por benefício próprio. Estes aspectos poderão influir no
valor da indenização, mas não serão pressupostos para a responsabilidade”. FRITZ, Karina Nunes. A
boa-fé objetiva e sua incidência na fase negocial: um estudo comparado com base na doutrina alemã.
Revista de Direito Privado, vol. 29, p. 201-237, jan.-mar. 2007. p. 25.
159
definidas e sua violação gera, consequentemente, responsabilidade contratual, bem
diferente da responsabilidade pré-contratual, ora analisada587.

Em vista dos elementos apresentados quanto boa-fé e os deveres secundários


ou anexos também podem ser denominados de deveres acessórios, fiduciários,
instrumentais e laterais.

Ainda nesse mesmo sentido, não obstante suas atuais feições são tidos a muito
tempo pelo direito segundo o qual basicamente os agentes devem agir de maneira
honesta, evitar causar danos, bem como não frustrar expectativas criadas.

Dado o exposto, se faz possível afirmar que na relação obrigacional duas


esferas ou competências obrigacionais, quais sejam: os “deveres principais” tidos no
o núcleo da obrigação, bem como os “deveres secundários” que não relação direta
com o objeto principal da obrigação.

Dentre referidos deveres podem ser citados como elementos fundamentais os


deveres: de lealdade; dever de cooperação ou colaboração; informação ou de
esclarecimento, segurança e proteção; prestação de contas; sigilo.

2.7.7. Quebra dos deveres secundários ou anexos

Antes de adentrar à quebra dos deveres secundários, deve ser registrado que
o inadimplemento obrigacional é o dever que incumbe a certas pessoas a reparar o
dano causado por ato próprio ou ato de terceiro ou fato de coisas que dela
dependam588.

Trata-se do estudo da reparação do dano, bem como quanto às modalidades


de inadimplemento das obrigações, conforme Judith Martins Costa 589, temos o

587 Idem, p. 24-25.


588 ALBUQUERQUE, Pedro de; RAIMUNDO, Miguel Assis. Direito das Obrigações. 2ª ed. Coimbra:
Almedina, 2013. Vol. II.
589 MARTINS-COSTA, Judith. Os Campos Normativos da Boa-fé Objetiva: As três Perpectivas do

Direito Privado Brasileiro. In: AZEVEDO, Antonio Junqueira de; TORRES, Heleno Taveira; CARBONE,
160
Inadimplemento parcial e o Inadimplemento total que são que são de suma
importância para entender seus elementos e efeitos.

Inicialmente há o tratamento do Inadimplemento parcial, mora ou atraso: tem


como ponto principal o descumprimento parcial, atemporal que ainda pode ser
cumprida; assim como há o inadimplemento total ou absoluto: é aquele relacionado
com impossibilidade de cumprimento da obrigação, tornando-se esta inútil para o
credor.

Conforme pode ser apercebido, há uma violação negativa, ou seja, não


observância uma regra obrigacional ou contratual (dar, fazer e não fazer).

Por sua vez, a quebra dos deveres anexos gera a violação positiva do contrato,
que é uma modalidade intermediária de não realização obrigacional.

Nesse sentido, foi aprovado o enunciado doutrinário nº. 22 do Conselho da


Justiça Federal nas Jornadas de Direito Civil dispondo que: “Em virtude do princípio
da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos
constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa”,

Com inspiração da doutrina alemã, a violação positiva é uma tese defendia por
Hermann Staub em obra intitulada590 sobre as violações positivas do contrato e suas
consequências jurídicas em redação original "über die positiven vertragsverletzungen
und ihre rechtsfolgen"

O texto indicado traz a redação anterior ao BGB, havia uma lacuna, pois
somente haveria possiblidade de inadimplemento pela impossibilidade e pela mora.
Sendo assim, se fez necessária a aplicação da violação positiva por meio de casos
práticos.

Paolo. Princípio do Novo Código Civil Brasileiro e Outros Temas: Homenagem a Tullio Ascarelli.
São Paulo: Quarter Latin, 2010.
590 STEINER, Renata. Descumprimento Contratual: Boa-fé e Violação Positiva do Contrato. São

Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 199.


161
Esta expressão traduz o descumprimento dos deveres anexos, decorrentes da
boa-fé necessário para a devida aplicação no Direito Civil Brasileiro, uma vez que
existe entre o descumprimento da absoluto e relativo uma terceira via possível591.

Como exemplo pode ser citado o credor que não retira o nome do devedor de
cadastro de inadimplentes após acordo ou pagamento da dívida, ou ainda os
exemplos retirados dos julgados nacionais conforme segue.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA C/C OBRIGAÇÃO


DE FAZER. CONTA-CORRENTE NA MODALIDADE CONTA-
SALÁRIO. DÉBITO RELATIVO À COBRANÇA DE TARIFAS
BANCÁRIAS. ILEGALIDADE NA CONDUTA DO RÉU, EIS QUE
NÃO É PÓSSÍVEL A COBRANÇA DE TARIFAS PARA CONTA
QUE SÓ É UTILIZADA PARA RECEBER SALÁRIO. FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. VIOLAÇÃO POSITIVA DO
CONTRATO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANO
MORAL IN RE IPSA. QUANTUM INDENIZATÓRIO BEM
FIXADO, EM CONSONÂNCIA COM OS POSTULADOS DA
RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE.
DESPROVIMENTO DO RECURSO. TJRJ. Processo: AI
210558520128190000 RJ 0021055-85.2012.8.19.0000
Relator(a): DES. LUIZ FELIPE FRANCISCO Julgamento:
19/04/2012 Órgão Julgador: OITAVA CAMARA CIVEL Parte(s):
Agdo : AGUAS DAS AGULHAS NEGRAS S A Agte : JOAO
DELFINO DE REZENDE
DIREITO CIVIL. APELAÇAO CÍVEL. AÇAO DE COBRANÇA.
MENSALIDADE. CURSO NAO RECONHECIDO PELO
MINISTÉRIO DA EDUCAÇAO. VIOLAÇAO POSITIVA DO
CONTRATO. DEVERES ANEXOS. INADIMPLEMENTO.
IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA PELAS AULAS NAO
CURSADAS. RECURSO IMPROVIDO. 1) Antes de celebrar o
contrato de prestação de serviços educacionais, é dever da

591 Idem, p. 213.


162
instituição de ensino informar aos alunos as reais condições do
curso oferecido, principalmente o fato de que o curso não possui
registro junto ao MEC, circunstância que pode tornar
absolutamente inútil o serviço prestado. 2) Olvidando-se a
faculdade do seu dever de se comportar com a mais estrita
lealdade, de agir com probidade, de informar o outro contratante
sobre todo o conteúdo do negócio, há de se reconhecer a
violação positiva do contrato, hipótese de inadimplemento apto
a imputar responsabilidade contratual objetiva àquele que viola
um desses direitos anexos, nos termos do enunciado número 24
do Conselho Superior da Justiça Federal, aprovado na I Jornada
de Direito Civil. 3) Reconhecido o inadimplemento contratual
(violação positiva do contrato), o abandono do curso por parte
do aluno não poderá ensejar a cobrança das mensalidades
referentes a um período que sequer esteve presente em sala de
aula. Precedentes do STJ. 4) Recurso improvido. ACORDA a
Egrégia Segunda Câmara Cível, em conformidade da ata e
notas taquigráficas da sessão, que integram este julgado, à
unanimidade de votos, negar provimento ao recurso. Vitória, 11
de outubro de 2011. DESEMBARGADOR PRESIDENTE
DESEMBARGADOR RELATOR PROCURADOR DE JUSTIÇA
(TJES, Classe: Apelação Civel, 24100273697, Relator: JOSÉ
PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA - Relator Substituto :
VÂNIA MASSAD CAMPOS, Órgão julgador: SEGUNDA
CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento: 11/10/2011, Data da
Publicação no Diário: 24/10/2011) Processo: AC 24100273697
ES 24100273697 Relator(a): JOSÉ PAULO CALMON
NOGUEIRA DA GAMA Julgamento: 11/10/2011 Órgão Julgador:
SEGUNDA CÂMARA CÍVEL Publicação: 24/10/2011

Em virtude do que foi mencionado a quebra dos deveres secundários ou


anexos está embutida entre as duas modalidades clássicas de inadimplemento, - o
parcial e total, segundo o qual é realizada uma conduta violadora distinta da obrigação
de dar, fazer ou não fazer.
163
Como exemplo pode ser citado o credor que não retira o nome do devedor de
cadastro de inadimplentes após acordo ou pagamento da dívida, ou ainda os
exemplos retirados dos julgados nacionais conforme segue.

2.8. CONCEITOS PARCELARES DOUTRINÁRIOS E JURISPRUDENCIAIS DERIVATIVOS DA


FUNÇÃO INTEGRATIVA

Tendo em vista os deveres secundários da boa-fé, bem como a função de


integração da boa-fé objetiva alguns conceitos derivativos do direito comparado, os
quais são parcelas da boa-fé objetiva: tu quoque, exceptio doli, venire contra factum
proprium; supressio e surrectio; duty to mitigate the loss teoria do adimplemento
substancial; Droit de Suite; e Nachfrist 592-593-594-595-596.

2.8.1. Tu quoque

O elemento apresentado evita a ocorrência da invocação ou aproveitamento de


um ato ilícito por parte de quem o cometeu597. Com tom mais didático e marcando a

592 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São
Paulo: Método, 2015. p. 107.
593 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2014. p. 61.


594 Para a doutrina portuguesa, há intitutos da exceptio doli, venire contra factum proprium, tu quoque,

suppressio e surrectio, a inalegabilidade de nulidades formais e o desequilíbrio no exercício jurídico.


ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:
Editora Almedina, 2011.
595 DE-MATTIA, Fabio Maria. Droit de suite ou direito de sequência das obras intelectuais. Revista de

Informação Legislativa, Brasília, ano 34, nº 134, abr.-jun. 1997.


596 Art. 7º (1), da CISG: “Artigo 7 (1) Na interpretação desta Convenção ter-se-ão em conta seu caráter

internacional e a necessidade de promover a uniformidade de sua aplicação, bem como de assegurar


o respeito à boa fé no comércio internacional.” BRASIL. Decreto nº 8.327, de 16 de outubro de 2014.
Brasília, 16 out. 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Decreto/D8327.htm>. Acesso em 22 fev. 2017.
597 VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral do Direito Civil. 4ª ed. Coimbra: Editora Almedina,

2007. p. 275.
164
distinção do venire aponta Martins-Costa598 que enquanto esse está pautado na
confiança da primeira conduta, aquele vislumbra a repressão da malícia da parte.

Muito próximo ao instituto da traição no negócio jurídico, remonta ditames


romanos como a seguinte diretriz de Julio Cesar a Brutos, seu filho, seu traidor: “até
tu brutos - tu quoque Brute, mi file”, é a regra de ouro católica crista, “não faça contra
o outro o que você não faria contra você mesmo”599.

Como exemplo pode ser citado exceção de contrato não cumprido (ou, exceptio non
adimpleti contractus), trata de uma defesa indireta de mérito que visa impedir a
surpresa na relação contratual. Celebra-se contrato de empreitada com prazo de 20
dias, mas o contratante não entregou o material; contratante propõe ação exigindo o
objeto da empreitada; contratado opõe exceção de contrato não cumprido600.

Outro exemplo que pode ser citado é o tu quoque processual:

EMBARGOS DECLARATÓRIOS OMISSÃO VERIFICAÇÃO


LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ OCORRÊNCIA DE TU QUOQUE
AGRAVO DE INSTRUMENTO MERAMENTE PROTELATÓRIO
CONDENAÇÃO EMBARGOS ACOLHIDOS COM EFEITO
MODIFICATIVO. TJPR. Processo: 880467501 PR 880467-5/01
(Acórdão) Relator(a): Luiz Antônio Barry Julgamento:
05/06/2012 Órgão Julgador: 7ª Câmara Cível
APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS.
EMBARGOS À EXECUÇÃO. ALEGAÇÃO DE INEFICÁCIA DE
CONTRATO POR AUSÊNCIA DE ASSINATURA DE UM DOS
SÓCIOS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ. INCIDÊNCIA
DO TU QUOQUE. I. Recurso não conhecido na parte revisional
de cláusulas, haja vista tratar-se de inovação recursal. II. Não há

598 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:
Marcial Pons, 2015. p. 641.
599 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São

Paulo: Método, 2015. p. 108.


600 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 1: parte geral. 12ª ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2014. p. 62.


165
dúvidas de que deve a boa-fé objetiva imperar entre as
contratações como verdadeira fonte obrigacional. O instituto,
previsto no art. 422 do Código Civil, representa regra de conduta
adequada às relações negociais, correspondendo às
expectativas legítimas que as partes depositam na negociação,
ou seja, o que dela é esperado. No caso, houve violação à boa-
fé, haja vista que um dos sócios, furtando-se do que previu o
contrato social da empresa que faz parte, tomou empréstimo e
recebeu valores para a empresa, mesmo sabedor - e estipulador
- de que havia a necessidade da anuência do outro sócio. III.
Além de violar a boa-fé contratual, pois se presume que os
sócios tenham affectio societatis, incide o princípio do tu quoque,
a respeito do qual se objetiva a vedação de dois pesos e duas
medidas, ou seja, da adoção de comportamentos contraditórios
no interior de relações obrigacionais com referência a
determinado direito subjetivo derivado do contrato. Ora, a
empresa, representada por um sócio (que era conhecedor do
contrato social), não pode agora alegar nulidade de um pacto em
razão de desrespeito por uma regra por ela própria criada.
RECURSO CONHECIDO EM PARTE E DESPROVIDO NA
PARTE CONHECIDA. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70059105403, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Liege Puricelli Pires, Julgado em 29/05/2014)

Nessa senda, pondera a doutrina portuguesa que a tu quoque traduz no


afloramento de uma regra qual um indivíduo que viole uma norma jurídica não poderia,
sem abuso, exercer a situação jurídica que essa mesma norma lhe tivesse
atribuído601, ou seja, o abuso ocorre na medida em que determinada parte obriga a
realizada de uma obrigação, sem realizar a sua contraprestação nos termos
avençados.602

601 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:
Editora Almedina, 2011. p. 837.
602 RACY, Vivien. A cláusula geral da boa-fé objetiva no Código Civil de 2002. São Paulo: PUC-SP,

2011. Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 84.
166
2.8.2. Exceptio Doli

Nos termos do apresentado pela doutrina603, é o mais antigo elemento em


reação da boa-fé com base no direito romano tem como fundamento a legis actiones
e dos judicia bonae fidei604.

É a defesa contra o dolo alheio, previsto como exemplo do art. 476, do Código
Civil da exceção do contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus), ou
seja, uma parte não pode exigir que a outra cumprisse com a sua obrigação, se não
cumprir com a própria605.

CIVIL E PROCESSO CIVIL. EXCEPTIO NON ADIMPLETI


CONTRACTUS. EFEITO PROCESSUAL. A exceção de contrato
não cumprido constitui defesa indireta de mérito (exceção
substancial); quando acolhida, implica a improcedência do
pedido, porque é uma das espécies de fato impeditivo do direito
do autor, oponível como preliminar de mérito na contestação
(CPC, art. 326). Recurso especial conhecido e provido. STJ.
Processo: REsp 673773 RN 2004/0092899-9 Relator(a):
Ministra NANCY ANDRIGHI Julgamento: 14/03/2007 Órgão
Julgador: T3 - TERCEIRA TURMA Publicação: DJ 23.04.2007 p.
256

603 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:
Editora Almedina, 2011. p. 719-720. Conforme pontuam: “A exceptio doli, utiliza como categoria
dogmática actual, situa-se na área desta última noção: é o poder que uma pessoa tem de repelir a
pretensão do autor, por este ter incorrido em dolo”.
604 VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral do Direito Civil. 4ª ed. Coimbra: Editora Almedina,

2007. p. 272.
605 Nesse sentido: TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie.

10ª ed. São Paulo: Método, 2015. p. 109; e PAULA, Luiza Checchia Stuart Cunha de. Supressio e
surrectio: natureza, efeitos, aplicabilidade e análise comparativa com figuras jurídicas correlatas. São
Paulo: PUC-SP, 2015. 192 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. p. 173.
167
Pode ser anotado sem medo de errar que tanto o tu quoque quanto os direitos
de exceção - exceptio non adimpleti contractus e exceptio non rite adimpleti contractus
– operam na mesma ideia, ou seja, a comutatividade e sua força do sinalágma
contratual.

2.8.3. Venire contra factum proprium non valet606

Inicialmente lembra a doutrina607 que como tipo de abuso, o venire contra


factum proprium non potest encontra um fundamento duplo608, negocial e ético, pois
as pessoas devem confiar nas expectativas criadas e que essas sejam atendidas pela
Direito609-610.

Martins-Costa611 anota que: “Relaciona-se o venire com boa-fé objetiva porque


não se pressupõe a má-fé como elemento da expectativa criada na contra parte (...)
O objeto imediato da valoração jurídica é a fides, confiança investida”.

606 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. A boa-fé objetiva no
ordenamento jurídico e a jurisprudência contemporânea. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014.
p. 65.
607 O venire contra factum proprium traduz o exercício de uma posição jurídica em contradição com o

comportamento anteriormente assumido pelo exercente. São, como já dito anteriormente, dois
comportamentos, ambos lícitos, que acontecem sucessivamente, contudo, o segundo comportamento
é contrário ao primeiro. PENTEADO, Luciano de Camargo. Venire contra factum proprium: uma análise
comparativa da utilização da figura pela jurisprudência brasileira e italiana. Revista de Direito Privado,
vol. 61, p. 145-172, jan.-mar. 2015.
608 “A expressão em análise, portanto, denota uma evidente contradição, não sendo admitido pelo

sistema “comportar-se contra os seus próprios atos”, em face da falta de coerência, não obstante este
não seja o seu único elemento característico. Ponto decisivo é a demonstração da deslealdade, uma
vez que a finalidade aqui perseguida é a proteção de quem confiou, em termos justificados, na primeira
conduta. Anote-se que quando isoladamente considerado, nenhum dos comportamentos em análise
se mostra ilícito, razão pela qual somente é possível delimitar o campo de incidência do instituto se a
conduta for considerada como o conjunto dos dois comportamentos mencionados. Apesar disso, faz-
se necessário que o segundo comportamento não corresponda à violação de uma obrigação decorrente
do primeiro (senão haveria hipótese de mero inadimplemento), que exige do intérprete considerar, no
conjunto da obra, dois comportamentos que de per si são autônomos, vinculados entre si apenas pelo
contexto da situação”, conforme pondera: EHRHARDT JUNIOR, Marcos. A boa-fé na experiência
jurídica brasileira. Revista de Direito Privado, vol. 55, p. 181-211, jul.-set. 2013. p.9-10.
609 VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral do Direito Civil. 4ª ed. Coimbra: Editora Almedina,

2007. p. 273.
610 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:

Editora Almedina, 2011. p. 745. Depreendem que “venire contra facum proprium postula dois
comportamentos da mesma pessoa, lícitos em si e diferidos no tempo. O primeiro – o factum proprium
– é, porém, contrariado pelo segundo. Esta fórmula provoca, à partida, reacçõs afectivas que devem
ser evitadas”.
611 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 619.


168
Por sua vez Menezes Cordeiro indica a seguinte definição:

A locução venire contra factum proprium traduz o exercício de


uma posição jurídica em contradição com o comportamento
assumido anteriormente pelo exercente. Esse exercício é tido,
sem contestação por parte da doutrina que o conhece, como
inadmissível.612

É a vedação do comportamento contraditório que é extraída da tutela da


confiança e da teoria dos atos próprios, conforme enunciado doutrinário nº. 362 do
Conselho da Justiça Federal nas Jornadas de Direito Civil. Conforme este dispositivo,
ir contra um fato próprio, não é possível613.

O primeiro exemplo é do Superior Tribunal de Justiça, Resp. 95.539/SP, na


vigência do Código Civil de 16614 o marido vendeu o imóvel sem outorga da esposa,
que era motivo de nulidade. A esposa como testemunha em uma ação afirmou que
concordava tacitamente com a venda (comportamento um), após 17 anos após a
venda ingressou a esposas com a ação de nulidade (comportamento dois), a ação foi
julgada improcedente diante dos comportamentos contraditórios.

Este princípio é aplicado no direito internacional sob a denominação de cláusula


de estoppel615. Que é uma espécie de venire contra factum proprium aplicável para
casos de direito internacional, em contratos que envolvam Estados. “Estoppel” tem
origem francesa, designa “parar”616.

612 CORDEIRO, Antônio Manuel da Rocha e Menezes. Da boa-fé no Direito Civil. Coimbra: Almedina,
2001.
613 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São

Paulo: Método, 2015. p. 110.


614 Idem, p. 111.
615 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. A boa-fé objetiva no

ordenamento jurídico e a jurisprudência contemporânea. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014.
p. 55.
616 Esta função da boa-fé é de manter o equilíbrio do sinalagma contratual. É de muita importância para

contratos de cumprimento diferido em relação ao momento da sua celebração. Entretanto, interessa-


nos mais, por ora, o papel da boa-fé na medida em que pode vedar o chamado venire contra factum
proprium. Literalmente, venire contra factum proprium significa vir contra um fato próprio. Quando o
ministro, no seu voto, invoca a teoria dos atos próprios, está falando desta vedação, ou seja, da
proibição do comportamento contraditório - esta razão é implícita a toda a sua argumentação e,
portanto, fundamento da decisão, quer se tome a palavra em seu sentido lógico, quer se tome a palavra
169
2.8.4. Supressio (Verwirkung) e surrectio (Erwirkung)

São em sua construção, uma variação do venire contra factum proprium, pois
traduzem um comportamento contraditório, não obstante nitidamente demonstrado
após de uma longa abstenção617.

Nas palavras de Menezes Cordeiro, “diz-se supressio a situação do direito que,


não tendo sido, em certas circunstâncias, exercido durante um determinado lapso de
tempo, não possa mais sê-lo por, de outra forma, se contrariar a boa-fé”.618

Assim o supressio é a perda de um direito ou de uma posição jurídica pelo não


exercício no tempo619, ou seja, pela supressão620, já por sua vez o surrectio se
apresenta como outro lado da moeda do supressio, trata do surgimento de um direito
diante de práticas usos e costumes621.

em seu sentido axiológico. O significado desta teoria é o de que ninguém estaria autorizado a contrariar
um comportamento por si mesmo praticado anteriormente, desde que este tenha uma função
orientativa, ou seja, na medida em que dirija a conduta dos sujeitos ou implique na tomada de decisão
por parte deles. Na exata proporção em que é informação relevante e necessária para o agir, o ato
próprio vincula, de modo que não pode ser contrariado sob pena de esta mudança de orientação
quebrar a lealdade. Em determinados jogos iterados, o próprio comportamento dos agentes passa a
integrar as regras do jogo, principalmente naqueles que exigem de per si cooperação. Por conta de que
a vinculatividade pessoal deriva de ato próprio daquele contra quem se invoca o venire, a teoria que o
visa coibir é também conhecida como teoria dos atos próprios. Nota-se uma verdadeira eficácia
vinculativa de atos, ainda que não atos jurídicos em sentido estrito. A parte que os pratica gerando
confiança na outra parte de que aquela orientação de conduta seria mantida, ao alterar o
comportamento, imprimindo-lhe direção oposta àquela original, frustra a expectativa de confiança e
viola a boa-fé objetiva. Tal fenômeno agrava-se nas situações em que há legítimo investimento
econômico pautado por aquela expectativa, pois então verifica-se ainda com maior intensidade o dano
jurídico a merecer prevenção ou reparação, conforme ao caso em que se afigure. PENTEADO, Luciano
de Camargo Penteado. Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum proprium. Revista
de Direito Privado, vol. 27, p. 252-278, jul.-set. 2006. p. 6-7.
617 VASCONCELOS, Pedro Pais de. Teoria Geral do Direito Civil. 4ª ed. Coimbra: Editora Almedina,

2007. p. 274.
618 CORDEIRO, Antônio Manuel da Rocha e Menezes. Da boa-fé no Direito Civil. Coimbra: Almedina,

2001.
619 Em outras palavras, trata de um mecanismo jurídico baseado na boa-fé o qual enfraquece o poder

vinculativo de um direito quando este, por não ter sido exercido em um lapso temporal considerável,
não atingido pela prescrição e decadência, tenha o seu exercício como contrário à confiança que a
contraparte tenha legitimamente criado. PAULA, Luiza Checchia Stuart Cunha de. Supressio e
surrectio: natureza, efeitos, aplicabilidade e análise comparativa com figuras jurídicas correlatas. São
Paulo: PUC-SP, 2015. 192 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. p. 73.
620 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São

Paulo: Método, 2015. p. 107.


621 Idem.

170
Como exemplo de ambos os casos, podemos citar o art. 330, do Código Civil
qual dispõe sendo o pagamento feito reiteradamente em outro local, faz-se presumir
renúncia do credor relativamente do que consta do contrato. O referido artigo tem dois
aspectos, o supressio contra o credor e o surrectio em favor do devedor622.

O eixo central, está na afronta à boa-fé como regra de lealdade na legítima


expectativa, pois visa minorar os efeitos de uma surpresa desleal623.

Outro exemplo, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul negou


prisão do devedor de alimentos que por 12 anos nunca tinha sido cobrado, verificando
assim o instituto da supressio.

Agravo de instrumento. execução de alimentos. prisão. rito artigo


733. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO OBRIGACIONAL PELO
COMPORTAMENTO CONTINUADO NO TEMPO. CRIAÇÃO
DE DIREITO SUBJETIVO QUE CONTRARIA FRONTALMENTE
A REGRA DA BOA-FÉ OBJETIVA. SUPRESSIO. Em atenção
a boa-fé objetiva, o credor de alimentos que não recebeu nada
do devedor por mais de 12 anos permitiu com sua conduta a
criação de uma legítima expectativa no devedor e na efetividade
social de que não haveria mais pagamento e cobrança. A inércia
do credor em exercer seu direito subjetivo de crédito por tão
longo tempo, e a consequente expectativa que esse
comportamento gera no devedor, em interpretação conforme a
boa-fé objetiva, leva ao desaparecimento do direito, com base
no instituto da supressio. Precedentes doutrinários e
jurisprudenciais. No caso, o filho deixou de exercer seu direito a
alimentos, por mais de 12 anos, admitindo sua representante
legal que a paternidade e auxílio econômico ao filho era exercido
pelo seu novo esposo. Caso em que se mostra ilegal o decreto

622 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. A boa-fé objetiva no
ordenamento jurídico e a jurisprudência contemporânea. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014.
p. 64.
623 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 619.


171
prisional com base naquele vetusto título alimentar. DERAM
PROVIMENTO. Unânime. Des. Rui Portanova (RELATOR) AI Nº
70042234179

A fim de elucidar acerca do instituto da surrectio, arrola logo abaixo uma


decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo qual conferiu a plausalidade
e a aplicabilidade:

PLANO DE SAÚDE – EX-EMPREGADO – MANUTENÇÃO DO


CONTRATO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA – APLICABILIDADE
DO ART. 30 E NÃO DO ART. 31 DA LEI 9.656/98 –
OBSERVÂNCIA, TODAVIA, DO INSTITUTO DA SURRECTIO.
Nada obstante estar correto o entendimento do magistrado a
quo, quanto à inaplicabilidade do art. 31 da Lei 9.656/98, uma
vez que o autor se aposentou em 2001, cerca de 6 (seis) anos
após a rescisão do contrato de trabalho, o fato da ex-
empregadora ter arcado com a integralidade do pagamento do
prêmio, apesar de não obrigada, por período muito superior ao
prazo de vinte e quatro meses estabelecido na Lei 9.656/98, fez
surgir o direito do ex-empregado à manutenção do plano nos
mesmo moldes, uma vez que a lei substantiva veda o
comportamento contraditório. Surrectio caracterizada.
Precedentes. Sentença reformada. RESULTADO: apelação
provida. (APL 09403269420128260506 SP 0940326-
94.2012.8.26.0506, 8ª Câmara de Direito Privado,
Publicação22/03/2016, Julgamento 16 de Março de 2016,
Relator Alexandre Coelho)

Destarte, depreende ser a suppressio uma circunstância do direito que, não


tendo sido exercido durante um determinado lapso de tempo, não possa mais sê-lo
por, de outra forma, se contrariar a boa-fé, ademais, esta é prejudicada pela

172
ocorrência dos fatores voluntários que interrompem ou suspendem o decurso do prazo
de prescrição ou de caducidade624.

Ao revés, em relação à suppressio insta fixar se tratar de um direito que surgiu


juridicamente (embora antes não existisse), mas que na efetividade social era tido
como presente625.

2.8.5. Doctrine of mitigation ou duty to mitigate the loss

Decorre do dever de mitigar as perdas da outra parte quando da execução do


contrato, ou seja, todas as devidas medidas plausíveis para mitigar o dano do devedor
devem ser implementadas626.

Lembra a doutrina627, que sua fundamentação pode ser apercebida do


enunciado doutrinário nº. 169 do Conselho da Justiça Federal nas Jornadas de Direito
Civil, bem como tem relação a boa-fé a imposição do credor de mitigar o próprio
prejuízo.

Nesse sentido:

RECURSO APELAÇÃO - ACIDENTE/SEGURO DE VEÍCULO


INDENIZAÇÃO. AÇÃO REGRESSIVA. Violação do dever de
parada obrigatória. Presunção de culpa não ilidida pelo apelante,
como lhe competia diante da regra do artigo 333, inciso II,
do Código de Processo Civil. Inaplicabilidade, ademais, do "duty
to mitigate the loss", restrito ao direito contratual. Procedência.
Sentença mantida. Recurso não provido. TJSP. APL

624 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:
Editora Almedina, 2011. p. 797-812.
625 ROCHA, António Manuel da; CORDEIRO, Menezes. Da boa-fé no direito Civil. 4ª reimp. Coimbra:

Editora Almedina, 2011. p. 816.


626 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 553.


627 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 3: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. São

Paulo: Método, 2015. p. 113.


173
208631220118260577 SP 0020863-12.2011.8.26.0577
Relator(a): Marcondes D'Angelo Julgamento: 29/08/2012 Órgão
Julgador: 25ª Câmara de Direito Privado Publicação: 04/09/2012

Como exemplo havendo inadimplemento de mútuo bancário, aplica-se este


conceito, ou seja, a dívida deve ser reduzia incidindo em juros legais.

ESTABILIDADE. REINTEGRAÇÃO. AUSÊNCIA DE


COMUNICAÇÃO. INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA AO
PERÍODO DE AFASTAMENTO. DEVER DE MITIGAR AS
PRÓPRIAS PERDAS ("DUTY TO MITIGATE THE LOSS").
RESPONSABILIDADE CIVIL NÃO CONFIGURADA. O silencio
da autora acerca de eventual gravidez, por ocasião de sua
demissão, com o escopo de aguardar, sem trabalhar, a tutela
jurisdicional do Estado configura ofensa ao dever de mitigar os
próprios prejuízos, posto que, mês a mês, agravou o dever de
indenizar da reclamada. Tal conduta colide frontalmente com os
imperativos da boa-fé objetiva devendo a autora, portanto,
suportar as conseqüências de natureza econômica oriundas de
sua recusa injustificada de retornar ao trabalho. Pelo não
provimento do recurso ordinário. (TRT-2 - RO: 22015620125020
SP 20130026104, Relator: MERCIA TOMAZINHO, Data de
Julgamento: 07/05/2013, 3ª TURMA, Data de Publicação:
15/05/2013)

Outro exemplo trata do dever de cuidado em que as partes devem tomar


medidas necessárias e possíveis para estancar um dano, haja vistas que a parte que
a perda aproveita não pode permanecer deliberadamente inerte diante do dano.

DIREITO CIVIL. CONTRATOS. BOA-FÉ OBJETIVA.


STANDARD ÉTICO-JURÍDICO. OBSERVÂNCIA PELAS
PARTES CONTRATANTES. DEVERES ANEXOS. DUTY TO
MITIGATE THE LOSS. DEVER DE MITIGAR O PRÓPRIO

174
PREJUÍZO. INÉRCIA DO CREDOR. AGRAVAMENTO DO
DANO. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. RECURSO
IMPROVIDO. 1. Boa-fé objetiva. Standard ético-jurídico.
Observância pelos contratantes em todas as fases. Condutas
pautadas pela probidade, cooperação e lealdade. 2. Relações
obrigacionais. Atuação das partes. Preservação dos direitos dos
contratantes na consecução dos fins. Impossibilidade de
violação aos preceitos éticos insertos no ordenamento jurídico.
3. Preceito decorrente da boa-fé objetiva. Duty to mitigate the
loss: o dever de mitigar o próprio prejuízo. Os contratantes
devem tomar as medidas necessárias e possíveis para que o
dano não seja agravado. A parte a que a perda aproveita não
pode permanecer deliberadamente inerte diante do dano.
Agravamento do prejuízo, em razão da inércia do credor.
Infringência aos deveres de cooperação e lealdade. 4. Lição da
doutrinadora Véra Maria Jacob de Fradera. Descuido com o
dever de mitigar o prejuízo sofrido. O fato de ter deixado o
devedor na posse do imóvel por quase 7 (sete) anos, sem que
este cumprisse com o seu dever contratual (pagamento das
prestações relativas ao contrato de compra e venda), evidencia
a ausência de zelo com o patrimônio do credor, com o
consequente agravamento significativo das perdas, uma vez que
a realização mais célere dos atos de defesa possessória
diminuiriam a extensão do dano. 5. Violação ao princípio da boa-
fé objetiva. Caracterização de inadimplemento contratual a
justificar a penalidade imposta pela Corte originária, (exclusão
de um ano de ressarcimento). 6. Recurso improvido. (STJ -
REsp: 758518 PR 2005/0096775-4, Relator: Ministro VASCO
DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/RS), Data de Julgamento: 17/06/2010, T3 - TERCEIRA
TURMA, Data de Publicação: DJe 28/06/2010 REPDJe
01/07/2010)

175
O instituto descrito deriva da cláusula geral da boa-fé e serve como limitadores
ao exercício abusivo dos direitos no campo das relações obrigacionais, destarte,
condutas ilícitas coaduna a não aplicação da boa-fé, advento qual concorrera em
responsabilidade.

2.8.6. Teoria do adimplemento substancial

Nas hipóteses em que o contrato foi parcialmente cumprido e a mora tida como
irrisória, não caberá à extinção e sim outros efeitos jurídicos628.

Pode ser apercebido, que essa figura não tem previsão nem na codificação civil
anterior ou atual, sua porta de entrada é a boa-fé objetiva, confundindo-se com lesão,
enriquecimento sem justa causa, a função social do contrato ou mesmo o equilíbrio
contratual629.

É oriunda da teoria inglesa substantial perfornace, bem como previsto no


Código Civil Italiano. Esta teoria tem relação direta com a função social do contrato,
conservação e boa-fé objetiva.

AGRAVO REGIMENTAL. VENDA COM RESERVA DE


DOMÍNIO. BUSCA E APREENSÃO. INDEFERIMENTO.
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO.
COMPROVAÇÃO. REEXAME DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. 1.

628 Nesse sentido, acrescenta: “A teoria do adimplemento substancial nega a possibilidade de resolução
do contrato quando, tendo o devedor cumprido quase a totalidade da prestação a que estava obrigado,
deixou apenas de cumprir uma pequena parte dela. Nesse caso, considera-se solvida a obrigação, não
se aplicando ao devedor os efeitos da mora, restando ao credor apenas o direito de cobrar o
cumprimento da parte final da obrigação ou a justa compensação. Portanto, embora fique assegurado
ao credor cobrar, pelas vias próprias, o saldo devedor, não é dado a ele deixar de cumprir a sua
prestação. Igualmente, não tem aplicação a casos dessa natureza o art. 389 do CC/2002, segundo o
qual, não cumprida a obrigação, o devedor responde por perdas e danos”. SANTOS, Murilo Rezende
dos. As funções da boa-fé objetiva na relação obrigacional. Revista de Direito Privado, vol. 38, p. 204-
263, abr.-jun. 2009; e SANTOS, Murilo Rezende dos. As funções da boa-fé objetiva na relação
obrigacional. Doutrinas Essenciais Obrigações e Contratos, vol. 1, p. 349-404, jun. 2011. p.12-13.
629 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 680.


176
Tendo o decisum do Tribunal de origem reconhecido o não
cabimento da busca e apreensão em razão do adimplemento
substancial do contrato, a apreciação da controvérsia importa
em reexame do conjunto probatório dos autos, razão por que
não pode ser conhecida em sede de recurso especial, ut súmula
07/STJ. 2. Agravo regimental não provido”.(STJ, AgRg no Ag
607.406/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,
QUARTA TURMA, julgado em 09.11.2004, DJ 29.11.2004 p.
346)
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. Busca e apreensão. Deferimento
liminar. Adimplemento substancial. Não viola a lei a decisão que
indefere o pedido liminar de busca e apreensão considerando o
pequeno valor da dívida em relação ao valor do bem e o fato de
que este é essencial à atividade da devedora. Recurso não
conhecido (STJ, REsp 469.577/SC, Rel. Ministro RUY ROSADO
DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 25.03.2003, DJ
05.05.2003 p. 310)

Com efeito, o descumprimento dos deveres anexos por conta de seu conteúdo
ético é tão grave, que o enunciado doutrinário nº. 24 do Conselho da Justiça Federal
nas Jornadas de Direito Civil630 estabeleceu que a responsabilidade civil do infrator é
objetiva.

Nesse sentido, poderá os seguintes julgados:

AGRAVO REGIMENTAL. VENDA COM RESERVA DE


DOMÍNIO. BUSCA E APREENSÃO. INDEFERIMENTO.
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO.
COMPROVAÇÃO. REEXAME DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. 1.
Tendo o decisum do Tribunal de origem reconhecido o não
cabimento da busca e apreensão em razão do adimplemento
substancial do contrato, a apreciação da controvérsia importa

630 “24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a
violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.”
177
em reexame do conjunto probatório dos autos, razão por que
não pode ser conhecida em sede de recurso especial, ut súmula
07/STJ. 2. Agravo regimental não provido”.(STJ, AgRg no Ag
607.406/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,
QUARTA TURMA, julgado em 09.11.2004, DJ 29.11.2004 p.
346)
“ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. Busca e apreensão. Deferimento
liminar. Adimplemento substancial. Não viola a lei a decisão que
indefere o pedido liminar de busca e apreensão considerando o
pequeno valor da dívida em relação ao valor do bem e o fato de
que este é essencial à atividade da devedora. Recurso não
conhecido” (STJ, REsp 469.577/SC, Rel. Ministro RUY
ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em
25.03.2003, DJ 05.05.2003 p. 310)
DIREITO CIVIL. CONTRATO DE ARRENDAMENTO
MERCANTIL PARA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO (LEASING ).
PAGAMENTO DE TRINTA E UMA DAS TRINTA E SEIS
PARCELAS DEVIDAS. RESOLUÇÃO DO CONTRATO. AÇÃO
DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DESCABIMENTO.
MEDIDAS DESPROPORCIONAIS DIANTE DO DÉBITO
REMANESCENTE. APLICAÇÃO DA TEORIA DO
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. 1. É pela lente das cláusulas
gerais previstas no Código Civil de 2002, sobretudo a da boa-fé
objetiva e da função social, que deve ser lido o art. 475, segundo
o qual "[a] parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a
resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento,
cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e
danos". 2. Nessa linha de entendimento, a teoria do substancial
adimplemento visa a impedir o uso desequilibrado do direito de
resolução por parte do credor, preterindo desfazimentos
desnecessários em prol da preservação da avença, com vistas
à realização dos princípios da boa-fé e da função social do
contrato. 3. No caso em apreço, é de se aplicar a da teoria do
adimplemento substancial dos contratos, porquanto o réu pagou:
178
"31 das 36 prestações contratadas, 86% da obrigação total
(contraprestação e VRG parcelado) e mais R$ 10.500,44 de
valor residual garantido". O mencionado descumprimento
contratual é inapto a ensejar a reintegração de posse pretendida
e, consequentemente, a resolução do contrato de arrendamento
mercantil, medidas desproporcionais diante do substancial
adimplemento da avença. 4. Não se está a afirmar que a dívida
não paga desaparece, o que seria um convite a toda sorte de
fraudes. Apenas se afirma que o meio de realização do crédito
por que optou a instituição financeira não se mostra consentâneo
com a extensão do inadimplemento e, de resto, com os ventos
do Código Civil de 2002. Pode, certamente, o credor valer-se de
meios menos gravosos e proporcionalmente mais adequados à
persecução do crédito remanescente, como, por exemplo, a
execução do título. 5. Recurso especial não conhecido.
RECURSO ESPECIAL Nº 1.051.270 - RS (2008/0089345-5) (f)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO

2.8.7. Droit de Suite

De origem francesa também denominado de Direito de Sequência631 é


reconhecido ao artista plástico e seus sucessores um crédito – ou participação - no
aumento do preço nas sucessivas revendas da obra de arte.

Desta forma, nas relações obrigacionais futuras, em razão do princípio da


eticidade, reconhece-se a participação do contratante originário. No Brasil, há
expressa previsão na Lei n. 9610/98, em especial no artigo 38 que dispõe: “O autor
tem o direito, irrenunciável e inalienável, de perceber, no mínimo, cinco por cento
sobre o aumento do preço eventualmente verificável em cada revenda de obra de arte
ou manuscrito, sendo originais, que houver alienado”, bem como resoluções do CNDA
– Conselho Nacional de Direito Autoral.

631DE-MATTIA, Fabio Maria. Droit de suite ou direito de sequência das obras intelectuais. Revista de
Informação Legislativa, Brasília, ano 34, nº 134, abr.-jun. 1997.
179
Referido direito tem forte relação com a boa-fé objetiva uma vez que o autor
fique premido ou impedido de participar da transferência de uma obra de arte que
atualmente tem previsão em muitos países632.

Quanto a experiencia jurisprudencial o Superior Tribunal de Justiça já se


manifestou acerca do tema, em especial para reconhecer a extensão da palavra autor
aos herdeiros mesmo após a primeira venda das peças.

Nesse sentido:

CIVIL E PROCESSO CIVIL. DIREITO DE SEQÜÊNCIA (DROIT


DE SUITE) DE HERDEIROS. POSSIBILIDADE.
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE, POR ESTA CORTE, DA
SUPOSTA VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL.
DANOS MORAIS. REVISÃO DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO. 1. O direito de
sequência, ou droit de suite, consiste no direito do autor da obra
original, ou seus herdeiros, em caráter irrenunciável e
inalienável, de participação na "mais valia" que advier das
vendas subsequentes dos objetos que decorrem de sua criação.
Objetiva a proteção do criador intelectual e sua família em
relação à exploração econômica da obra. 2. Os
artigos 39 e 42 da Lei 5988/73 c/c artigo 14, ter, do Decreto
75.699/75 não afastam o direito de sequência quando a peça
original é alienada, pela primeira vez, por herdeiro do autor
intelectual da obra, pois a própria norma define que, em caso de
morte, os herdeiros gozarão do mesmo direito. 3. O direito de
sequência tem natureza jurídica patrimonial, e como tal passível
de transmissão causa mortis aos herdeiros (art. 42, § 1º, da
Lei 5.988/73). 4. É cabível, portanto, a indenização aos

632 Idem.
180
herdeiros decorrente da "mais valia" pela venda posterior da
obra de arte, quando obtida vantagem econômica substancial
pela exploração econômica da criação. 5. Em relação ao
alegado dano moral, a revisão das conclusões realizadas com
base no arcabouço fático-probatório delineado nas instâncias
ordinárias é vedada em sede de recurso especial. Incidência da
Súmula 7/STJ. 6. Não tendo o recorrente apontado nenhum
dispositivo legal supostamente violado em relação à alegada
preclusão da decisão saneadora que teria enfrentado a questão
da decadência, incide as Súmulas 282 e 356/STF. 7. É vedada
a esta Corte apreciar violação a dispositivos constitucionais, sob
pena de usurpação da competência do Supremo Tribunal
Federal 8. A não realização do necessário cotejo analítico dos
acórdãos, com indicação das circunstâncias que identifiquem as
semelhanças entres o aresto recorrido e os paradigmas implica
o desatendimento de requisitos indispensáveis à comprovação
do dissídio jurisprudencial. 9. Recurso especial conhecido em
parte e, no ponto, provido RECURSO ESPECIAL Nº REsp
594526 RJ 2003/0172940-5 (f) RELATOR: MINISTRO LUIS
FELIPE SALOMÃO. DJe 13/04/2009

2.8.8. Nachfrist

Com previsão expressa no art. 7º, da Convenção de Convenção de Viena 633


sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CISG ou CVIM) -

633 Art. 7º (1), da CISG: “Artigo 7 (1) Na interpretação desta Convenção ter-se-ão em conta seu caráter
internacional e a necessidade de promover a uniformidade de sua aplicação, bem como de assegurar
o respeito à boa fé no comércio internacional.” BRASIL. Decreto nº 8.327, de 16 de outubro de 2014.
Brasília, 16 out. 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/
Decreto/D8327.htm>. Acesso em 22 fev. 2017.
181
634, parte da doutrina entende se tratar de uma variação do doctrine of mitigation ou
duty to mitigate the loss635.

Não obstante, parte da doutrina, entende ser referido instituto um conceito


parcelar autônomo tendo em vista sua especificidade636.

Nesse sentido, para configuração verificação do instituto deve ser evidenciado


um prazo suplementar para entrega da mercadoria/objeto objetivando o adimplemento
obrigacional, pois a resolução nos contratos de compra e venda internacional deve
ser a ultima ratio com base no princípio do mantenimento do contrato.

A doutrina nacional pondera637:

(...) que autoriza a utilização da resolução contratual é a


extrapolação do prazo suplementar conferido pelo comprador ao
vendedor para a entrega dos bens, no caso específico de estes
não terem sido entregues (non delivery). Em atenção ao
princípio de preservação do contrato e utilização do remédio
resolutório como ultima ratio, a CISG prevê que, antes de se
possibilitar a resolução, deve o lesado fixar um prazo
suplementar para cumprimento da obrigação, ou seja, para
purgação da mora.

634 TERASHIMA, Eduardo Ono. O princípio da boa-fé na Convenção das Nações Unidas sobre
contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias – GISG. São Paulo: PUC-SP, 2016.
Dissertação (Mestrado em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 27. Acrescenta
em tratar que a CISG trouxe ao país signatário benefícios como, segurança jurídica, previsibilidade,
uniformização e otimização de regras, entre outros.
635 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 559.


636 STEINER, Renata Carlos. Resolução Do Contrato E Reparação De Danos Na Convenção Das

Nações Unidas Sobre Contratos De Compra E Venda Internacional De Mercadorias (Cisg).


Curitiba, 2014. 42 f. Disponível em: <www.cisgbrasil.net/downloads/concurso/RenataSteiner.pdf>.
Acesso em: 17 jul. 2017.
637 Idem.

182
Quanto ao entendimento jurisprudencial638, no Brasil há a primeira da aplicação
da Convenção de Viena das Nações Unidas, de 1980, sobre Compra e Venda
Internacional de Mercadorias (CISG), em vigor no Brasil desde 2014 tida como “O
“caso dos pés de galinha”.

Não obstante não se verifique expressamente o termo Nachfrist, bem como sua
aplicação. Nos termos que verificado, tratava-se de uma compra e venda internacional
que após pago o preço a compradora o declarou rescindido e ajuizou uma ação
indenizatória tendo em vista a não entrega da mercadoria.

No referido caso, tendo em vista a ausência dos requisitos para sua aplicação
o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul confirmou a decisão de primeira instância,
para declarar rescindido o Contrato e condenar a vendedora ao ressarcimento dos
valores pagos pela compradora639.

Diante de todo acima exposto, pode ser observado que a boa-fé objetiva se
amolda em diversas figuras que dão funcionalidade estruturante640.

638 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Processo n°
70072362940. Rel. Min. Mario Crespo, Rio Grande do Sul, j. 14 fev. 2017.
639 KUYVEN, Fernando; PIGNATTA, Francisco. Judiciário brasileiro aplica pela primeira vez a CISG.

Consultor Jurídico, [s.l.], 19 abr. 2017. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2017-abr-


19/judiciario-brasileiro-aplica-primeira-vez-cisg>. Acesso em: 17 jul. 2017.
640 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no Direito Privado: critérios para a sua aplicação. São Paulo:

Marcial Pons, 2015. p. 693.


183
CAPITULO 3 – DIREITO REAIS EM ESPÉCIE ANÁLISE ACERCA DA
APLICAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA

Referido tópico, se faz o mais importante da presente tese. Nesse sentido, deve
ser observado que não será proposto como uma reprodução de conceitos,
características e efeitos dos Direitos Reais, mas sim, uma verificação cientifica da
análise das situações jurídicas reais à luz da aplicação da boa-fé objetiva na
Legislação Civil hodierna, incialmente tendo como base a experiência doutrinaria 641.

Assim como fez Luciano Camargo Penteado642, se faz necessário enquadrar


os direitos reais em uma situação jurídica. Nesse sentido, a proposição no presente
trabalho se deu nos termos do artigo 1.225 do Código Civil, segundo o qual há direitos
reais próprios, direitos reais de gozo, direitos reais do promitente comprado e por fim
direitos reais de garantia.

Deve ser registrado que a porta de entrada da boa-fé objetiva nos Direitos
Reais, pode ser extraída do artigo 1.228, §2º, do Código Civil de 2002, combinado
com art. 187 do Código Civil643,644, segundo o qual, o exercício do direito de
propriedade deve ser exercido nos termos da boa-fé; no referido caso é tida como
objetiva645, conforme abaixo será demonstrado.

Nesse entender646:

641 Não obstante, como é sabido, parte da doutrina entende que há aplicação da boa-fé nos direitos
reais tem campo de aplicação restrito do Direito Obrigacional, pois sua aplicação somente teria como
base por exemplo a proteção da posse ou abuso de direito. LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes.
Direitos Reais. 5ª ed. Coimbra: Editora Almedina, 2015. p. 25.
642 PENTEADO, Luciano de Camargo. Direito das Coisas. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2ª ed,

p. 93, 2008.
643 CAMBI, Eduardo. Algumas Inovações e Críticas ao Livro dos “Direitos das Coisas” no novo Código

Civil. Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 823, p. 11-66, mai. 2004.
644 MAZZEI, Rodrigo Reis. Introdução Crítica ao Código Civil. São Paulo: Editora Forense, 2006. p.

346.
645 LUPO, Rogerio Russo: A função social como agente limitador-conformativo da propriedade.

São Paulo: PUC-SP, 2007. 150 f. Dissertação (Mestrado em Direito Civil) – Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
646 MORAES, Paulo Ricardo Silva de. O princípio da boa-fé e os negócios jurídicos imobiliários.

[s.l.], 20 jun. 2015. Disponível em: <http://docslide.com.br/documents/oprincipiodaboa-fe.html>. Acesso


em: 23 mar. 2017.
184
(...) aplica-se a boa-fé, nos negócios imobiliários, em todos os
seus aspectos e fases, abrangendo desde as tratativas pré-
negociais, a formação do contrato e, culminando, com a
execução ou adimplemento contratual. Em todos estes estágios,
devem o negociadores e, ulteriormente, os contratantes pautar-
se, em tudo quanto diga respeito às relações recíprocas, pela
honestidade, lealdade e probidade, atributos estes que devem
orientar, em qualquer tempo, o tráfego de todos os negócios
jurídicos e, porque não dizer, de todas as relações humanas,
com vistas à construção de uma sociedade livre, justa e
solidária, através, dentre outras ações, da promoção do bem
comum, que se fará sempre com fundamento na dignidade da
pessoa humana e nos valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa (arts. 1º e 3º, da CRFB/1988).

Em um segundo momento, será utilizado o critério empírico, segundo o qual


tem os seguintes critérios de pesquisa:

Pesquisou-se no site do Superior Tribunal de Justiça, Acórdãos Repetitivos,


Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou Informativos
de Jurisprudência que apresentassem relação temática aos tópicos da presente tese,
bem como, da existência ou não do reconhecimento da boa-fé objetiva.

A premissa inicial para ensejar a busca dos temas, ou seja, dos julgados
relacionados à tese, foi entrar em contato com o departamento central de pesquisa de
jurisprudência do site: http://www.stj.jus.br.

Nesse departamento obteve a informação de que a busca deveria se pautar em


restringir a pesquisa, pela utilização da informação a partir da vigência do Código Civil
de 2002, ademais, deveria contar com a conjunção “e” a fim de que as palavras
buscadas não fossem variáveis.

Desta forma, a pesquisa realizada, obteve como palavras chave “boa-fé


objetiva e propriedade”, “boa-fé objetiva e condomínio edilício”, “boa-fé objetiva e
185
loteamentos fechados”, “boa-fé objetiva e propriedade resolúvel” etc., conforme os
termos indicados pela central de pesquisas do Superior Tribunal de Justiça, para
busca de julgados.

Assim, foram 156 (cento e cinquenta e seis) resultados obtidos, ora as palavras-
chave buscadas apresentavam relação temática, ora não, ora apresentava a
indicação da presença da boa-fé, ora não.

Portanto, a fim de restringir a temática, os casos em que nas buscas não


apresentaram relação temática, este resultado negativo foi imediatamente descartado
quanto da insignificância da existência da boa-fé ou não.

Todavia, se da busca realizada houvesse a apresentação de Acórdãos,


Decisões ou Informativos de jurisprudência, por exemplo, foi verificada a existência
ou não do julgamento pautado na boa-fé, ou não. Ou seja, analisou se o Superior
Tribunal de Justiça pauta suas decisões - desde que com relação temática - às vistas
da boa-fé objetiva.

Ademais imperioso destacar que a busca foi realizada como data final o dia
01/07/2017, momento qual findou a pesquisa junto ao site do Superior Tribunal de
Justiça. Sendo essas considerações iniciais, passamos às temáticas.

3.1. PROPRIEDADE

O primeiro direito real por excelência nos termos do artigo 1.225 do Código Civil
é a propriedade. Deve ser chamada a atenção da redação do, § 2º, do artigo 1.228.

Deferido dispositivo, visa proibir os atos que não trazem ao proprietário


qualquer comodidade, utilidade ou vantagem e sejam motivados pela intenção de
prejudicar outrem.

186
Insta salientar, que este dispositivo, vai de encontro ao abuso do direito previsto
no art. 187 do Código Civil de 2002, e sendo assim, necessárias algumas ponderações
quanto a temática. Inicialmente, bem como tendo em vista o descompasso do artigo
1.228, § 2º com o artigo 187, ambos do Código Civil, anota Rodrigo Mazzei 647:

Contudo, apesar do campo para comentários e críticas


envolvendo as figuras jurídicas ser muito grande, desafiando
estudos próprios para tal mister, há no Código Civil de 2002 um
ponto comum que une a propriedade e o abuso do direito em
contradição inesperada

Em decorrência disto, alguns elementos devem ser alocados, o primeiro deles


um comparativo entre o artigo 1.228, § 2° e o novo artigo 187, para vislumbra melhor
a distinção:

Art. 187 Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao


exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu
fim econômico ou social, pela boa- fé ou pelos bons costumes.
Art. 1.228 O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor
da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha. (....) § 2º - São defesos os
atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou
utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.

Dada a distorção entre os institutos, têm-se duas correntes teóricas que tratam
da referida temática no tocante da vontade do agente, ou seja, a teoria objetivista e
subjetivista.

Nos termos do que pode ser extraído, a teoria subjetivista, o abuso de direito
configura-se quando um sujeito causar dano a outrem, exigindo-se ainda, para
configuração deste o ânimo de prejudicar outrem. Já para segunda corrente, os

647MAZZEI, Rodrigo Reis. Introdução Crítica ao Código Civil. São Paulo: Editora Forense, 2006. p.
346.
187
objetivistas, segundo qual se volta à satisfação de interesses ilegítimos, ou em
desconformidade com sua destinação econômica, social boa-fé e bons costumes.648

Desta forma o ato emulativo não necessita de vantagem para sua configuração,
como exemplo se pode citar julgado que condena preposto do síndico que perturba a
paz condominial, sem ter nenhuma vantagem patrimonial. Nesse sentido:

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. DIREITO CIVIL.


RESPONSABILIDADE CIVIL. INGRESSO EM PROPRIEDADE
PRIVADA. CONDOMÍNIO. LIMITAÇÃO DO DIREITO DE
LOCOMOÇÃO. ABUSO DE DIREITO. DANO MORAL
CONFIGURADO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Restou
incontroverso que o portão do condomínio foi fechado, a mando
da pessoa responsável pela administração, impedindo a saída
dos autores sob a condição de que apagassem de seus
aparelhos as fotos tiradas das áreas comuns do condomínio. 2.
A conduta da preposta do réu de fechar o portão de saída,
impedido a saída dos autores, excede os limites do seu direito
de dar efetividade às normas condominiais ao criar uma situação
vexatória para os autores diante das pessoas que ali passavam
no momento. Abuso de direito configurado e suficiente para
autorizar a indenização por dano moral, em razão da ofensa aos
direitos da personalidade dos autores. 3. Valor da indenização,
fixados em R$ 1.000,00, para cada autor, a título de dano moral,
mostra-se proporcional e razoável à extensão do dano, bem
como em relação à capacidade financeira dos envolvidos. 4.
Recurso conhecido e desprovido. Sentença mantida pelos
próprios fundamentos. Custas e honorários advocatícios, fixados

648 Neste sentido, o Decágono Ministro César Peloso dispõe: “Parte da doutrina entendia que o preceito
consagrava a figura citada, por uma interpretação contra sensu. Duas tradicionais correntes – a
subjetiva e a objetiva – procuram justificar e dar os contornos da teoria do abuso de direito. (...) Para
os subjetivistas, consiste a figura no uso de um direito com o fim de causar dano a outrem, exigindo-se
o ânimo de prejudicar, ou, em tendência mais tênue, ao menos o exercício culposo do abuso do direito.
(...) para os objetivistas, há abuso de direito sempre que o exercício se volta a satisfação de interesses
ilegítimos, ou em desconformidade com sua destinação econômica ou social. Código Civil Comentado,
doutrina e jurisprudência.” PELUSO, Cezar et al. Código Civil comentado. São Paulo: Manole, 2007.
p. 1048.
188
em 10% sobre o valor da condenação, pelo recorrente. (TJ-DF -
ACJ: 20140610066373 DF 0006637-89.2014.8.07.0006,
Relator: LEANDRO BORGES DE FIGUEIREDO, Data de
Julgamento: 16/12/2014, 1ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de Publicação:
Publicado no DJE : 21/01/2015 . Pág.: 581)

Ao correlacionar o artigo 187 e o § 2º, do artigo 1.228 do Código Civil, temos


uma clara incompatibilidade quanto à intenção do sujeito. Neste diapasão, - Rodrigo
Mazzei acrescenta649:

(...) dois critérios absolutamente diferentes (objetivo no art. 187


e subjetivo no art. 1.228, § 2º), a contradição criada no ponto de
contato entre o abuso do direito e a propriedade merece ser
solucionada.

Sobre a aplicabilidade do referido dispositivo Cezar Peloso, dispõe que650:

O preceito em exame inclina-se de modo claro pela corrente


subjetiva, exigindo, para configuração do abuso do direito,
consistente em uma conduta que não traga proveito, vantagem
ou utilidade ao proprietário; o segundo requisito é subjetivo,
consistente no ânimo do proprietário de com tal conduta
prejudicar outrem. A regra em exame, contudo, deve ser
examinada sistematicamente com a figura do abuso do direito
prevista na parte geral (...) que positivou o princípio como
cláusula geral, de modo amplo e operativo. Não resta dúvida de
se aplica ao instituto da propriedade tanto a teoria subjetiva

649 MAZZEI, Rodrigo Reis. Introdução Crítica ao Código Civil. São Paulo: Editora Forense, 2006. p.
346.
650 PELUSO, Cezar et al. Código Civil comentado. São Paulo: Manole, 2007. p. 1048.

189
como a objetiva do art. 187, muito mais operativa ao conceber o
instituto como violação ao espírito do direito ou seu fim social.

Corroborando esta ideia da aplicabilidade da teoria objetiva ao artigo 1.228,


§2º, verifica-se o enunciado doutrinário nº. 49 do Conselho da Justiça Federal nas
Jornadas de Direito Civil que dispõe: Art. 1.228, § 2º - Enunciado 49: A regra do art.
1.228, § 2º, do novo Código Civil interpreta-se restritivamente, em harmonia com o
princípio da função social da propriedade e com o disposto no art. 187.

Rodrigo Mazzei651 vai além e propõe:

A melhor solução para a problema é a reforma legislativa, com a


retirada do disposto no § 2º, do art. 1.288 do Código Civil, pois
se eliminará a norma conflituosa, sendo o art. 187 do mesmo
diploma suficiente para regular o abuso do direito, em qualquer
relação ou figura privada, abrangendo os atos decorrentes do
exercício dos poderes inerentes à propriedade.

Diante do exposto é confirmada a aplicação da boa-fé objetiva no exercício da


propriedade, bem como nesse mesmo sentido, o resultado obtido por meio da
pesquisa nos moldes da metodologia proposta, com busca nas palavras “Boa-fé
objetiva e propriedade” demonstram que houve apenas um único Acórdão repetitivo
encontrado, cujo qual não obteve relação temática.

Foram encontrados 39 (trinta e nove) Acórdãos, dos quais 27 (vinte e sete)


detêm e 12 (doze) não detêm relação temática652. Dos 27 (vinte e sete) Acórdãos que
detêm relação temática, 21 (vinte e um) apresentaram reconhecimento da boa-fé
objetiva e 6 (seis) não apresentaram o reconhecimento da boa-fé objetiva. Outrossim
em relação aos 10 (dez) Informativos de Jurisprudências encontrados 05 (cinco)
detêm relação temática, e 05 (cinco) não detêm relação temática. Ademais em relação
aos 05 (cinco) Informativos de Jurisprudências que possuem relação temática,

651 MAZZEI, Rodrigo Reis. Introdução Crítica ao Código Civil. São Paulo: Editora Forense, 2006. p.
346.
652 Vide Anexo I.

190
também apresentaram reconhecimento da boa-fé objetiva. Nesse ínterim, conclui-se
que o Superior Tribunal de Justiça julga pela prevalência da boa-fé nas relações
havidas a partir da propriedade.

Sendo assim, no que se refere a propriedade, o exposto a redação do, § 2º, do


artigo 1.228 do Código Civil é de suma importância, pois pode ser concluído que o
mesmo visa proibir os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade,
utilidade ou vantagem e sejam motivados pela intenção de prejudicar outrem.

Outro dispositivo que deve ser referenciado se refere ao 187 do Código Civil
que não obstante um possível descompasso, devem ser aplicados em conjunto,
verificando um possível dialogo das fontes653 segundo o qual deve ser prestigiar a
boa-fé objetiva na quanto ao exercício do direito de propriedade que devidamente foi
confirmado pelos julgados do Superior Tribunal de Justiça.

3.2. PROPRIEDADE ESPECIAIS

Segundo o que foi proposto, conforme é apontado pela doutrina, o direito de


propriedade é uma relação jurídica complexa, segundo qual, referido direito é
complexo e elástico, existindo assim, várias modalidades especiais de propriedade654.

3.2.1. Condomínio Geral

No condomínio geral ou simples, a primeira questão tem como base a


administração do Condomínio voluntário - arts. 1.323 a 1.326, do Código Civil de 2002.

Nos termos do art. 1.323 do Código Civil de 2002, deliberando a maioria - que
será levado em conta são os quinhões - sobre a administração da coisa comum,

653 MARQUES, Cláudia Lima; BENJAMIN, Antônio Herman; MIRAGEM, Bruno. Código de Defesa ao
Consumidor. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2ª ed. 2006.
654 GOMES JUNIOR, Luiz Manoel. A posse é um direito real? Diferença entre os direitos reais e os

pessoais. Revista de Direito Privado, São Paulo, vol. 5, p. 160 - 191, jan-mar, 2001.
191
escolherá o administrador, que poderá ser estranho ao condomínio; resolvendo alugá-
la, preferir-se-á, em condições iguais a um condômino ou não.

Nesta situação, o condômino que administrar sem oposição dos outros,


presume-se representante comum mediante contrato de mandato tácito, bem como,
todas as tomadas de decisões serão calculadas pelo valor dos quinhões de forma
absoluta e, em não havendo maioria absoluta, decidirá o juiz, a requerimento de
qualquer condômino, ouvidos os outros.

Quando não houver convencimento dos condôminos minoritários, estes


podem, a qualquer tempo, pedir a extinção do condomínio, pela sua divisão (bem
divisível), alienação judicial ou divisão pelo valor apurado (coisa indivisível). Não
obstante, a legislação não verifique tal hipótese, podem os condôminos cobrar
daquele que o administra de forma ruinosa, o bem em comum, por perdas e danos,
nos termos do art. 404, do Código Civil de 2002, incorrendo até mesmo em violação
de deveres anexos da boa-fé objetiva, como dever de informação e lealdade na
condução da coisa comum.

Não é só, quando da ocorrência de um único condômino utilizar o imóvel é


possível os demais requerem a este aluguel de suas cotas correspondentes. Neste
sentido:

Recurso especial. Civil. Ação de cobrança de aluguel. Utilização


exclusiva de imóvel em condomínio. Possibilidade. - É possível
a cobrança de alugueres pelo uso exclusivo de imóvel em
condomínio quando houver resistência do ocupante à fruição
concomitante do imóvel. - Igualmente factível essa cobrança,
quando a simples ocupação dobem por um dos consortes
representar impedimento de cunho concreto, ou mesmo
psicológico, à utilização simultânea pelos demais condôminos,
circunstância exemplificada na utilização de imóvel comum por
cônjuge após a separação e antes da partilha, situação quere
presenta óbvio impedimento prático ao usufruto comum do bem.
192
- Na ausência dessas possibilidades, o que ocorre no caso
concreto, caracteriza-se o desinteresse dos condôminos não-
ocupantes em usufruir da coisa em comum, o que inviabiliza a
posterior cobrança de alugueres. Recurso especial provido. STJ
- REsp: 622472 RJ 2004/0011075-6, Relator: Ministra NANCY
ANDRIGHI, Data de Julgamento: 19/08/2004, T3 - TERCEIRA
TURMA, Data de Publicação: DJ 20/09/2004 p. 293.

Tal fenômeno é muito comum ao término dos relacionamentos conjugais,


lembrando que também é possível esta cobrança aos bens decorrentes de
condomínio na referida situação, pois, ao exercer a propriedade não poderá ocorrer o
abuso de direito em detrimento de outro cônjuge.

Assim, ao término do casamento, sendo o imóvel ocupado por somente um dos


cônjuges é possível à cobrança de valor locatício.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. ARBITRAMENTO DE ALUGUEL. IMÓVEL DE
PROPRIEDADE COMUM DOS CÔNJUGES. SEPARAÇÃO
JUDICIAL EM CURSO. INEXISTÊNCIA DE PARTILHA DE
BENS. IMPOSSIBILIDADE DA COBRANÇA DE ALUGUEL.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DO
ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA N. 283/STF. DECISÃO
MANTIDA. 1. De acordo com a jurisprudência desta Corte, é
possível o pedido de arbitramento de aluguel pela ocupação
exclusiva do imóvel por um dos ex-cônjuges somente após a
separação judicial e a partilha dos bens. Precedentes. 2. O
recurso especial que não impugna fundamento do acórdão
recorrido suficiente para mantê-lo não deve ser admitido, a teor
da Súmula n. 283/STF. 3. Agravo regimental a que se nega
provimento. (STJ - AgRg no REsp: 1278071 MG 2011/0151459-
7, Relator: Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de

193
Julgamento: 11/06/2013, T4 - QUARTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 21/06/2013)

Por fim, porém não menos importante, da pesquisa realizada junto ao sítio
eletrônico do Superior Tribunal de Justiça, verificou que dos 3 (três) Acórdãos
encontrados, todos apresentaram relação temática e reconhecimento da boa-fé
objetiva, portanto, conclui-se que o Superior Tribunal de Justiça julga pela prevalência
da boa-fé nas relações havidas a partir da propriedade655.

Diante de todo o exposto, tendo em vista os aspectos observados no que se


refere o condomínio geral ou simples são duas frentes claras quanto a aplicação da
boa-fé objetiva a primeira delas, a primeira questão tem como base a administração
do condomínio voluntário que deve ser exercido da luz da boa-fé objetiva, bem como
em um segundo momento, quando da ocorrência de um único condômino utilizar o
imóvel não prejudicar os demais, que devidamente foi confirmado pelos julgados do
Superior Tribunal de Justiça.

3.2.2. Condomínio Edilício

Conforme é sabido, dois são os elementos objetivos do Condomínio Edilício,


sendo elas denominadas unidade autônoma e áreas comuns. Quanto as primeiras,
verifica-se que estas têm o caráter individual decorrente do direito de propriedade,
sendo seu uso regulamento pela livre disposição656.

Nitidamente, conforme será arrolado abaixo, vários são os aspectos atinentes


ao Condomínio Edilício, bem como a boa-fé, registra-se por sinal que esse ponto é o
mais latente quanto a não observância ou confirmação da aplicação da boa-fé
objetiva, no que se refere a convenção de condomínio657. Esse é o entendimento do
próprio Superior Tribunal de Justiça segundo o qual:

655 Vide Anexo II.


656 BATISTA LOPES, João. Condomínio. São Paulo, Revista dos Tribunais, 7ª ed. 2000.
657 CARVALHO FILHO, Antonio Lopes de. A boa-Fé como elemento integrador do Condomínio edilício.

Revista Ética e Filosofia Política, Juiz de Fora/MG, vol. 2, nº 15, p. 56-85, dez. 2012. Disponível em:
194
CIVIL. CONDOMÍNIO. É POSSÍVEL A UTILIZAÇÃO, PELOS
CONDÔMINOS, EM CARÁTER EXCLUSIVO, DE PARTE DE
ÁREA COMUM, QUANDO AUTORIZADOS POR ASSEMBLÉIA
GERAL, NOS TERMOS DO ART. 9º,§ 2º, DA LEI Nº 4.591/64.
A DECISÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM, BASEADA NO
CONJUNTO PROBATÓRIO, NÃO PODE SER REEXAMINADA,
EM FACE DA SÚMULA 7/STJ. 1. O Tribunal "a quo" decidiu a
questão com base nas provas dos autos, por isso a análise do
recurso foge à mera interpretação da Lei de Condomínios, eis
que a circunstância fática influi na solução do litígio. Incidência
da Súmula 07/STJ. 2. O alcance da regra do art. 3º, da Lei nº
4.591/64, que em sua parte final dispõe que as áreas de uso
comum são insuscetíveis de utilização exclusiva por qualquer
condômino", esbarra na determinação da própria lei de que a
convenção de condomínio deve estabelecer o"modo de usar as
coisas e serviços comuns", art. 3º, § 3º, c, da mencionada Lei.
Obedecido o quorum prescrito no art. 9º, § 2º da Lei de
Condomínio, não há falar em nulidade da convenção. 3.
Consoante precedentes desta Casa: "o princípio da boa-fé
objetiva tempera a regra do art. 3º da Lei nº 4.591/64" e
recomenda a manutenção das situações consolidadas há vários
anos.(Resp' nº.s 214680/SP e 356.821/RJ, dentre outros).
Recurso especial não conhecido. (STJ - REsp: 281290 RJ
2000/0102074-9, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
Data de Julgamento: 02/10/2008, T4 - QUARTA TURMA, Data
de Publicação: --> DJe 13/10/2008)

Sendo assim a primeira questão pontuada, e que se questiona, gira em torno


de ser possível a usucapião de em condomínios edilícios. Aparentemente a resposta
seria bastante simples, pois, nos termos do art. 3º da Lei nº 4.591/64 é inadmissível
usucapião de área comum de condomínio edilício.

<http://www.ufjf.br/eticaefilosofia/files/2009/08/15_2_filho_4.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2016.


195
Não obstante, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido possível a
aquisição da propriedade por meio do instituto do supressio e surrectio, anotando
expressamente a aplicação da boa-fé objetiva:

PROCESSUAL. CIVIL. CONDOMÍNIO. ÁREA COMUM.


UTILIZAÇÃO EXCLUSIVA. USOPROLONGADO.
AUTORIZAÇÃO DA ASSEMBLÉIA CONDOMINIAL. PRINCÍPIO
DABOA-FÉ OBJETIVA. RAZÃO PONDERÁVEL.
INOCORRÊNCIA. - Detenção concedida pelo condomínio para
que determinado condôminoanexe à respectiva unidade, um
fundo de corredor inútil para usocoletivo. Decorrido longo tempo
e constatada a boa-fé, o condomínio,sem demonstrar fato novo,
não pode retomar a área objeto dapermissão. (STJ - REsp:
325870 RJ 2001/0056794-4, Relator: Ministro HUMBERTO
GOMES DE BARROS, Data de Julgamento: 14/06/2004, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 20/09/2004 p. 280)

A segunda hipótese de aplicação tem verificação no tu quoque que pode ser


aplicada nas às relações condominiais, em especial impedindo que condômino
invoque normas da convenção de condomínio, após ele mesmo descumpri-las.

Nesse sentido:

DIREITO CIVIL. CONDOMÍNIO. ASSEMBLEIA. ELEIÇÃO DE


SÍNDICO E FIXAÇÃO DE PRÓ-LABORE. NULIDADE.
DESCABIMENTO. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
INSTITUTOS DO TU QUOQUE E DA SURRECTIO. Se o
pagamento de pró-labore já vinha sendo feito há anos pelo
condomínio, ainda que a convenção condominial preveja que tal
ofício não seja remunerado. Diante da prática reiterada do ato, o
não preenchimento do quórum previsto na convenção para
alterá-la não tem o condão de infirmar a assembléia impugnada.
196
Aplicação da teoria da surrectio, segundo a qual o perdurar da
situação faz com que aquele que não seria titular de um direito
acabe por adquiri-lo. As verbas que supostamente causaram
irresignação no condomínio foram igualmente revertidas à
síndica anterior, em face de quem não foi proposta nenhuma
demanda judicial. Reprimenda em graus diversos a condutas de
mesma gravidade que enseja a aplicação da teoria do tu quoque.
Recurso que se conhece e ao qual se nega provimento. (TJ-RJ
- APL: 00048861020078190061 RIO DE JANEIRO
TERESOPOLIS 1 VARA CIVEL, Relator: ROGERIO DE
OLIVEIRA SOUZA, Data de Julgamento: 20/10/2009, NONA
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 27/10/2009.)

Seguindo as hipóteses de aplicação da boa-fé objetiva, há na atual codificação


o instituto da aplicação das sanções por condutas antissociais, segundo a qual, o
condômino que, por seu reiterado comportamento antissocial gerar incompatibilidade
de convivência com os demais condôminos, poderá ser constrangido a pagar multa
correspondente ao 10 vezes o valor atribuído à contribuição para as despesas
condominiais (1.337, parágrafo único do Código Civil).

Não obstante, aparentemente a multa pecuniária ser muito severa, a mesma


pode se tornar ineficaz em determinados casos, como a situação segundo a qual o
proprietário é abastado economicamente.

Sendo assim, para boa parte da doutrina, em complementaridade a esta


sanção, em casos extremos é admissível a possibilidade de impedir o proprietário de
utilizar a sua unidade autônoma, ou seja, o proprietário não se vê tolhido da
propriedade, mas fica impedido de utilizá-la.

197
Em contrapartida, há doutrinadores658 que entendem não ser possível esta
situação, pois viola o direito fundamental da propriedade previsto na Constituição
Federal.

Referente a esta temática, foram aprovados dois enunciados doutrinários do


Conselho da Justiça Federal nas Jornadas de Direito Civil. Inicialmente o enunciado
92 que aponta ser “As sanções do art. 1.337 do novo Código Civil não podem ser
aplicadas sem que se garanta direito de defesa ao condômino nocivo”

O primeiro enunciado é de suma importância, pois garante ao condômino o


direito de ampla defesa e contraditório nas relações condominiais. Todavia, um
segundo enunciado foi aprovado, esse com base na boa-fé, em especial na vedação
do abuso de direito de propriedade que pontua:

E n. 508 CJF/STJ: Verificando-se que a sanção pecuniária


mostrou-se ineficaz, a garantia fundamental da função social da
propriedade (arts. 5º, XXIII, da CRFB e 1.228, § 1º, do CC) e a
vedação ao abuso do direito (arts. 187 e 1.228, § 2º, do CC)
justificam a exclusão do condômino antissocial, desde que a
ulterior assembleia prevista na parte final do parágrafo único do
art. 1.337 do Código Civil delibere a propositura de ação judicial
com esse fim, asseguradas todas as garantias inerentes ao
devido processo legal.

Prosseguindo, outra disposição prevista na convenção ou regimento interno


que deve ser observada a luz da boa-fé é a questão da disposição quanto os animais,
tendo três as situações, quais são: a convenção ou regimento proíbe, a convenção ou
regimento permite e convenção ou regimento é silente.

Conforme se verificam, na doutrina e jurisprudência é possível a vedação de


animais em áreas comuns ou ainda dentro da unidade autônoma.

658 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Direito das Coisas. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 341.
198
Não obstante, a questão vai além e deve ser debatida quanto ao nível de
sossego, insalubridade e periculosidade (art. 1.336, IV), bem como da livre disposição
quanto sua unidade autônoma (art. 1.335, IV).

Sendo assim, a questão deve ser ponderada e a vedação de animais sem


fundamentação nestes dois dispositivos é abusiva.

Como exemplo, podemos citar a necessidade de um portador de deficiência


visual em ter um Labrador, bem como um aquário com peixes pequenos. Nesse
mesmo sentido o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais dispõe:

Ação cominatória – Condomínio – Criação de animal em


apartamento – Ausência de prova da perturbação ao sossego,
saúde e segurança dos demais condôminos – Proibição contida
em norma interna – Inaplicabilidade. O condomínio pode
estabelecer regras limitativas do direito de vizinhança, conforme
autoriza a Lei 4.591/1964. A regra interna do Condomínio que
proíbe a criação de animais deve ser interpretada
teleologicamente, apenas se aplicando quando restar
demonstrado que está ocorrendo perturbação ao sossego,
saúde e segurança dos demais moradores. – Inexistindo provas
de que tais danos estão ocorrendo, permite-se a criação dos
animais, não se justificando a aplicação de qualquer penalidade
por esse motivo (Tribunal de Justiça de Minas Gerais – Processo
TJ/MG 2.0000.00.488929-4/000(1) – Rel. Des. Heloísa Combat
– j. 09.03.2006).

Nesse sentido foi aprovado o enunciado doutrinário nº. 566 do Conselho da


Justiça Federal nas Jornadas de Direito Civil que dispõe:

A cláusula convencional que restringe a permanência de animais


em unidades autônomas residenciais deve ser valorada à luz
dos parâmetros legais de sossego, insalubridade e

199
periculosidade. Referência legislativa: Código Civil, art. 1.335, I,
e Lei n. 4.591/1964, art. 19

Assim, conforme pode ser apercebido, muitas são as questões relacionadas ao


condomínio edilício e a boa-fé objetiva. Dentre as referidas aplicações, uma das mais
latentes é a cobrança das cotas condominiais.

Inicialmente, deve ser anotado que é possível a indicação da lista de devedores


em boleto encaminhado individualmente aos apartamentos, tendo em vista o direito
de informação oriundo do dever da boa-fé objetiva quanto às contas condominiais.

INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. DÉBITO DE DESPESAS


CONDOMINIAIS. INCLUSÃO DO NÚMERO DO
APARTAMENTO INADIMPLENTE EM PREVISÃO MENSAL DE
GASTOS DO CONDOMÍNIO, COM NOME DA INTERESSADA
EM DOCUMENTO INTERNO. IMPOSSIBILIDADE DE
CANDIDATURA DE INADIMPLENTES AO CARGO DE
SÍNDICO E SUBSÍNDICO EM ASSEMBLÉIA. EXERCÍCIO
REGULAR DO DIREITO QUE NÃO EXPÔS INADIMPLENTE A
CONSTRANGIMENTO. Cumprimento do dever de prestar
contas perante todos os condôminos e justificar o aumento da
quota condominial mensal inclusive em razão dos débitos
daquela unidade. Recurso da autora improvido. (TJSP; APL
992.05.070861-8; Ac. 4635729; Ribeirão Preto; Vigésima Sétima
Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Campos Petroni; Julg.
10/08/2010; DJESP 27/08/2010).

Todavia, o exercício do referido direito, bem como eventuais falhas da cobrança


podem referenciar a violação da boa-fé objetiva, nesse sentido se o nome constar
indevidamente junto ao boleto há verificação de dano moral:

INDENIZATÓRIA. DANO MORAL. AÇÃO AJUIZADA POR


MORADORA, REPRESENTANDO OS PROPRIETÁRIOS,
CONTRA O CONDOMÍNIO. Lançamento indevido da unidade

200
autônoma na lista de inadimplentes do condomínio, embora
houvesse sido paga a despesa condominial, mas com exclusão
da multa por infração da convenção. Discussão que também
envolve a cobrança da multa que, ademais, foi objeto de acordo
perante o Juizado Especial. Constrangimento moral
caracterizado. Redução do dano moral para R$ 3.000,00, com
correção monetária que deve incidir a partir do acórdão e juros
de mora de 1% a partir da citação. Recurso adesivo provido em
parte. Apelo da autora provido parcialmente. (TJSP; APL-Rev
453.436.4/3; Ac. 3499339; Santos; Quinta Câmara de Direito
Privado; Rel. Des. Silvério Ribeiro; Julg. 04/03/2009; DJESP
25/03/2009)

Ainda nesse sentido, não se permite cobrança abusiva colocar nome do


inadimplente no elevador, nem suspensão de serviço comum proibição de uso de
elevador, de coleta de lixo etc. Esse é o entendimento do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul segundo o qual:

Apelação cível – Ação de indenização – Condomínio – Cobrança


vexatória – Desligamento do elevador social com intenção de
constranger os inadimplentes – Dano moral – Ofensa aos
direitos fundamentais – Responsabilidade solidária da síndica.
1. Em que pese inadimplentes os condôminos autores, mostra-
se abusivo e ilícito o desligamento dos dois elevadores sociais
que atendiam seu andar, comprovado que tal desligamento
ocorreu em represália à inadimplência. Assim, caracteriza-se
inequivocamente o dano moral, até mesmo por ser o varão
pessoa idosa, além de consistir em violação aos direitos
fundamentais (restrição indevida à liberdade e à propriedade
privada). 2. A síndica responde subsidiariamente com o
condomínio, pois o ato foi praticado no interesse deste. 3. Dadas
as circunstâncias do caso e havendo violação de direitos
fundamentais, mostra-se adequada a indenização no valor de
R$ 2.000,00, corrigidos pelo IGP-M, desde a fixação do quantum
201
debeatur para atender ao binômio ‘reparação/punição’, sem
enriquecimento indevido, acrescidos. 4. Juros moratórios
incidem a partir da data em que se iniciou a lesão (Súmula 54 do
STJ), pela taxa de 1% ao mês. A correção monetária pelo IGP-
M a partir da data da decisão que fixou seu quantum debeatur,
ou seja, na data do presente julgamento. Deram provimento.
Unânime” (TJRS – Apelação Cível 70014295000 – Décima
Oitava Câmara Cível – Tribunal de Justiça do RS – Relator:
Mario Rocha Lopes Filho – j. 10.05.2007).

Quanto à vedação de utilização das áreas de lazer em comum, desde que


previamente verificado na convenção não há consenso na jurisprudência, pois
inicialmente quanto ao não cabimento de indenização:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CONDOMÍNIO. PROIBIÇÃO AO


USO DE ÁREA COMUM EM RAZÃO DE INADIMPLÊNCIA DE
MULTAS CONDOMINIAIS. INEXISTÊNCIA DE ATO ILÍCITO.
DANO MORAL INOCORRENTE. Autora restou proibida de
utilizar o salão de festas em razão de estar inadimplente com o
pagamento de multas aplicadas pelo condomínio. Inexistência
de ato ilícito. Regra que constava expressamente no Regimento
Interno do Condomínio. Dano moral inocorrente, visto constituir
fato normal os moradores terem conhecimento sobre os
condôminos inadimplentes com as cotas e multas condominiais.
Sentença mantida pelos seus próprios fundamentos. RECURSO
IMPROVIDO”. (TJRS; RCiv 71002449692; Porto Alegre;
Primeira Turma Recursal Cível; Rel. Des. Fábio Vieira Heerdt;
Julg. 12/08/2010; DJERS 19/08/2010)

Já em sentido contrário:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CONDOMÍNIO. COBRANÇA


VEXATÓRIA. PROIBIÇÃO AO USO DE ÁREA COMUM COM O

202
NÍTIDO INTUITO DE CONSTRANGER A CONDÔMINA
INADIMPLENTE. DANO MORAL CARACTERIZADO. Ainda que
seja confessa a inadimplência da autora, não pode, o requerido,
proibir a utilização do estacionamento, como forma de buscar
seu crédito. Exposição pública que se revela abusiva e configura
verdadeira represália ao inadimplemento, atingindo a honra da
demandante. Abalo moral sofrido que autoriza a indenização.
Que, no caso, tem efeito reparador para atenuar o mal sofrido e
servir como efeito pedagógico ao ofensor. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. MAJORAÇÃO. DESCABIMENTO. Condenação
que bem atenta ao caráter punitivo-pedagógico. Redução do
valor arbitrado em sentença para R$ 1.000,00 - um mil reais.
APELO DA AUTORA DESPROVIDO. APELO DO RÉU
PARCIALMENTE PROVIDO”. (TJRS; AC 70021221452; Porto
Alegre; Vigésima Câmara Cível; Rel. Des. José Aquino Flôres de
Camargo; Julg. 28/11/2007; DOERS 31/01/2008; Pág. 44 ).

Ainda quanto à temática da cota condominial, nas cobranças condominiais, já


se ventilou a possibilidade de aplicar o desconto de pontualidade que uma vez previsto
na convenção e no regimento interno tem como objetivo verificar um abatimento da
taxa condominial na data prevista, tal situação tem gerado uma grande divergência
doutrinaria e jurisprudencial.

Os julgados mais antigos, em especial Superior Tribunal de Justiça659


entendem que é possível, porém os novos julgados em decorrência da redução da
multa de 20% para 2%, tem entendido que há dupla sanção e não redução por
merecimento, neste sentido Súmula n.° 36 do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro e outro julgados estaduais.

Sendo assim, foi aprovado o enunciado doutrinário nº. 505 do Conselho da


Justiça Federal nas Jornadas de Direito Civil que dispõe:

659O desconto para o pagamento antecipado de cotas condominiais não é penalidade, representando
estímulo correto em épocas de alta inflação, como no caso. 2. Recurso especial conhecido, mas
improvido. RIO DE JANEIRO. Superior Tribunal de Justiça. REsp. 236828/ RJ. RECURSO ESPECIAL
1999/0099268-7. Min. Carlos Alberto Menezes, T3 – Terceira Turma, dj 12 out. 2000. p. 137.
203
É nula a estipulação que, dissimulando ou embutindo multa
acima de 2%, confere suposto desconto de pontualidade no
pagamento da taxa condominial, pois configura fraude à lei
(Código Civil, art. 1336, § 1º), e não redução por merecimento.

Por fim, porém não menos importante, deve ser registrado que a boa-fé é uma
mão de duas vias, tanto é que e assim o condômino deve respeitar também o exercício
do seu direito.

Tanto é assim, que o devedor contumaz, nos casos que a dívida supera o valor
do bem, que renuncia a propriedade abusa do seu direito, pois causa danos aos
condôminos660.

Muito embora tenha sido realizada a pesquisa nos moldes da metodologia


proposta, no site do Superior Tribunal de Justiça com as palavras chave: “Boa-fé
objetiva e condomínio edilício”, verificou-se não haver Acórdãos Repetitivos, Súmulas,
Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou Informativos de
Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco, reconhecimento da boa-fé
objetiva661.

Levando-se em consideração todos os elementos e aspectos no que se refere


o Condomínio Edilício, pode se concluir que as questões relacionadas com a boa-fé
objetiva são latentes.

Sendo muitos os aspectos relacionados, são dois os pontos mais relevantes, o


primeiro deles é atinente às relações condominiais mais genéricas como aquisição de
área em comum, questões dos atos constitutivos em geral como a questão dos
animais. Já em um segundo momento desdobramentos quanto as cobranças das
taxas condominiais também podem incidir em violação da boa-fé objetiva.

660 BRANDÃO, Tom Alexandre. A Contribuição ao estudo das obrigações Propter Rem e Institutos
Correlatos. São Paulo: PUC-SP, 2009. 121 f. Dissertação (Mestrado em Direito Civil) – Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
661 Vide Anexo III.

204
Diante de todo o exposto, deve ser registrado que a boa-fé é uma mão de duas
vias, tanto é que e assim o condômino deve respeitar também o exercício do seu
direito. Tanto é assim, que o devedor contumaz, nos casos que a dívida supera o valor
do bem, que renuncia a propriedade abusa do seu direito, pois causa danos aos
condôminos662.

3.2.3. Loteamentos Fechados

A figura do loteamento fechado não pode ser confundida com o condomínio,


pois, aquele é regulamentado pela Lei de parcelamento do solo urbano n° 6.766/79,
havendo o desdobro de gleba sem abertura de vias públicas ou loteamento que são
as subdivisões com abertura de vias públicas.

Neste segundo caso, as vias públicas e áreas institucionais pertencem ao


município, que mediante autorização são fechadas663, criando assim o que
vulgarmente é denominado de condomínios fechados664.

Neste caso, conforme maior parte da doutrina aplicar-se-á as regras no que for
possível o do condomínio edilício665, porém, na sua grande maioria, são criadas as
associações de moradores.

662 BRANDÃO, Tom Alexandre. A Contribuição ao estudo das obrigações Propter Rem e Institutos
Correlatos. São Paulo: PUC-SP, 2009. 121 f. Dissertação (Mestrado em Direito Civil) – Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
663 Deve ser pontuado que são vários os argumentos – positivos e negativos – quanto fechamento dos

loteamentos. Referente aos argumentos: SARMENTO FILHO, Eduardo Sócrates Castanheira.


Loteamento Fechado ou Condomínio de Fato. Curitiba: Juruá, 2012; e PIRES, Luis Manuel Fonseca.
Loteamentos Urbanos: Natureza Jurídica. São Paulo: Quartier Latin, 2006.
664 Não obstante deve ser registado que por meio da Lei 13.465/2017, uma nova modalidade de

loteamentos tido como “Do Condômino de Lotes” aplicando as mesmas regras do Condomínio Edilício.
Nesse sentido: Do Condomínio de Lotes ‘Art. 1.358-A. Pode haver, em terrenos, partes designadas de
lotes que são propriedade exclusiva e partes que são propriedade comum dos condôminos. § 1o A
fração ideal de cada condômino poderá ser proporcional à área do solo de cada unidade autônoma, ao
respectivo potencial construtivo ou a outros critérios indicados no ato de instituição. § 2o Aplica-se, no
que couber, ao condomínio de lotes o disposto sobre condomínio edilício neste Capítulo, respeitada a
legislação urbanística. § 3o Para fins de incorporação imobiliária, a implantação de toda a infraestrutura
ficará a cargo do empreendedor.”
665 Nesse sentido enunciado doutrinário nº. 89 do Conselho da Justiça Federal nas Jornadas de Direito

Civil que dispõe “Art. 1.331: O disposto nos arts. 1.331 a 1.358 do novo Código Civil aplica-se, no que
couber, aos condomínios assemelhados, tais como loteamentos fechados, multipropriedade imobiliária
e clubes de campo”.
205
O grande problema está relacionado aos “débitos condominiais” ou a taxa
associativa, pois, em um primeiro momento, entende-se que é livre o direito de
associação, não sendo devido a cobrança de taxa condominiais. Esse entendimento
foi pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça por meio do Recurso Repetitivo
conforme abaixo.

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA


CONTROVÉRSIA - ART. 543-C DO CPC - ASSOCIAÇÃO DE
MORADORES - CONDOMÍNIO DE FATO - COBRANÇA DE
TAXA DE MANUTENÇÃO DE NÃO ASSOCIADO OU QUE A
ELA NÃO ANUIU - IMPOSSIBILIDADE. 1. Para efeitos do art.
543-C do CPC, firma-se a seguinte tese: "As taxas de
manutenção criadas por associações de moradores não obrigam
os não associados ou que a elas não anuíram". 2. No caso
concreto, recurso especial provido para julgar improcedente a
ação de cobrança. REsp 1280871 / SP RECURSO ESPECIAL
2011/0189659-0. Relator Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA (1147) S2 - SEGUNDA SEÇÃO. Data do Julgamento
11/03/2015. Fata da Publicação DJe 22/05/2015

Não obstante, o não pagamento destas taxas e o aproveitamento destas sem


a devida contraprestação geram o enriquecimento sem causa e a violação da boa-fé
objetiva. Nesse sentido o próprio Superior Tribunal de Justiça em outrora já decidiu:

CIVIL - AÇÃO DE COBRANÇA - COTAS CONDOMINIAIS -


CONVENÇÃO DECONDOMÍNIO NÃO REGISTRADA -
LOTEAMENTO - CONDOMÍNIO HORIZONTAL. I - O Registro
da Convenção de Condomínio tem por finalidade precípua
imprimir-lhe validade contra terceiros, não sendo requisito "inter
partes". Por isso não pode o condômino sob este
fundamentorecusar-se a cumprir os seus termos ou a pagar as
taxas para sua manutenção. II - Um condomínio, ainda que
atípico, caracteriza uma comunhão e não se afigura justo, nem
206
jurídico, em tal circunstância que umparticipante, aproveitando-
se do "esforço" dessa comunhão e beneficiando-se dos serviços
e das benfeitorias realizadas e suportadas pelos outros
condôminos, dela não participe contributivamente, III - Recurso
conhecido e provido. REsp 139952 (ACÓRDÃO) Ministro
WALDEMAR ZVEITER DJ 19/04/1999 p. 134 Decisão:
23/02/1999
LOTEAMENTO. ASSOCIAÇÃO DE MORADORES. DESPESAS
COMUNS. RECURSO ESPECIAL COM BASE NA ALÍNEA “C”.
– Não-cumprimento das exigências previstas nos arts. 541,
parágrafo único, do CPC, e 255, § 2º, do RISTJ. Dissonância
interpretativa indemonstrada. – Cabe ao proprietário de imóvel
integrante de loteamento administrado por entidade que presta
serviços no interesse da comunidade contribuir para as
despesas comuns, sob pena de enriquecimento injusto.
Precedentes do STJ. Recurso especial não conhecido. AgRg no
REsp 490419 (ACÓRDÃO) Ministra NANCY ANDRIGHI DJ
30/06/2003 p. 248 Decisão: 10/06/2003

Não obstante deve restar claro que a questão não foi encerrada, pois há em
andamento o Recurso Extraordinário 695.911 sob o tema 492 da lista da repercussão
geral.

Segundo o qual, a Procuradoria Geral da República já se manifestou favorável


a cobrança sob o fundamento da violação de princípios constitucionais como da
equidade, eticidade, vedação de enriquecimento sem causa e da sociedade livre, justa
e solidária.

Não obstante todo esse movimento jurisprudencial, a reforma estabelecida pela


lei 13.465/17 verifica uma modificação sensível na matéria, em especial indicando a
seguinte redação a lei 6.766/79, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 36-A. As atividades desenvolvidas pelas associações de


proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em
207
loteamentos ou empreendimentos assemelhados, desde que
não tenham fins lucrativos, bem como pelas entidades civis
organizadas em função da solidariedade de interesses coletivos
desse público com o objetivo de administração, conservação,
manutenção, disciplina de utilização e convivência, visando à
valorização dos imóveis que compõem o empreendimento,
tendo em vista a sua natureza jurídica, vinculam-se, por critérios
de afinidade, similitude e conexão, à atividade de administração
de imóveis.
Parágrafo único. A administração de imóveis na forma
do caput deste artigo sujeita seus titulares à normatização e à
disciplina constantes de seus atos constitutivos, cotizando-se na
forma desses atos para suportar a consecução dos seus
objetivos.”

Nos termos da alteração, aparentemente há a confirmação do ônus quanto a


consecução dos seus objetivos do loteamento e a obrigação definitiva quanto ao
pagamento da taxa666.

Logo a figura do loteamento fechado - que nos termos do já afixado não pode
ser confundido com o condomínio - também contém seus contornos quanto a boa-fé
objetiva, não obstante outros contornos possíveis o grande problema está relacionado
aos “débitos condominiais” ou a taxa associativa que não obstante o entendimento
dos tribunais se confirma ser devida por conta da última alteração legislativa.

Ademais, verificou-se que da pesquisa realizada junto ao site do Superior


Tribunal de Justiça, a qual contou com as palavras “Boa-fé objetiva e loteamentos
fechados”, não houve nenhum Acórdão Repetitivo, Súmula, Acórdão, Decisão de
Afetação, Decisão Monocrática, ou Informativo de Jurisprudência que detenha relação
temática, tampouco, reconhecimento da boa-fé objetiva667.

666 TARTUCE, Flávio. Resumo das principais alterações da Lei 13.465, de julho de 2017. Impactos para
o Direito das Coisas. Jusbrasil, [s.l.], jul. 2017. Disponível em: <https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/
noticias/477452385/resumo-das-principais-alteracoes-da-lei-13465-de-julho-de-2017-impactos-para-
o-direito-das-coisas>. Acesso em: 17 jul. 2017.
667 Vide Anexo IV.

208
3.2.4. Propriedade Resolúvel.

Trata daquela extinta em decorrência de uma condição - futuro incerto -, bem


como termo - futuro certo668 -, sendo que há várias ocorrências deste instituo no Direito
Civil, conforme arts. 1.359 e 1.360, do Código Civil de 2002.

Como exemplo pode ser citada a compra e venda com cláusula de retrovenda
- vendedor por reaver a coisa no prazo de 3 anos -, conforme art. 505 a 508 do Código
Civil de 2002; Compra e venda com reserva de domínio - casos em venda à prazo -,
conforme art. 521 a 527, do Código Civil; Doação com cláusula de reversão - aquela
decorrente de um encargo -, conforme art. 547 do Código Civil; e a propriedade
fiduciária arts 1.361 a 1.368-A do Código Civil, combinado da legislação especial.

Em todos estes casos, conforme se verifica é possível afirmar que em todas as


situações há a incidência dos planos da existência e da validade do negócio jurídico,
porém, o ponto mais marcante é a propriedade resolúvel segundo a qual está alocada
no plano da eficácia dos negócios jurídicos, isso encontra-se muito claramente no art.
1.359 do Código Civil de 2002 segundo o qual:

Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da


condição ou pelo advento do termo, entendem-se também
resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o
proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar
a coisa do poder de quem a possua ou detenha.

Deve ser registado, que em todas as modalidades apresentadas se faz


necessário o prestígio da boa-fé objetiva, nas modalidades apresentadas.

Tanto é assim, que nos termos do art. 1.364 do Código Civil de 2002, vencida
a dívida e não paga fica o credor obrigado a vender judicial ou extrajudicialmente a

668 CHALHUB, Melhin Namen. Direitos Reais. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2ª ed., 2014. p. 147.
209
coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de
cobrança, e, a entregar o saldo, se houver, ao devedor, ou seja, tendo em vista que o
bem pertence ao credor fiduciário, o mesmo pode alienar o bem sem maiores
restrições.

Referido dispositivo merece anotações especiais, dentre elas, a questão


inicialmente de abusos decorrente de credor fiduciário que vendem o imóvel sem
tomar os devidos cuidados, ou ainda, vender o bem de forma vil devendo a questão
ser analisada sempre a luz do enriquecimento sem causa previsto no arts. 884 a 886
do Código Civil de 2002.

Nesse sentido:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA.


(...) ALIENAÇÃO DE IMÓVEL PELO CREDOR FIDUCIÁRIO
POR PREÇO VIL (20% DO VALOR DA AVALIAÇÃO).
PREVALÊNCIA DO PRINCÍPIO SOCIAL DA EMPRESA, DA
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO E DA PROPRIEDADE
SOBRE INTERESSE PRIVATISTA ESPECULATIVO
IMOBILIÁRIO. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO IMPROVIDO. 1.
No particular, a alienação de imóvel por quantia equivalente a
20% (vinte por cento) do valor da avaliação, conquanto
formalmente permitida por lei ordinária (Lei 9.514⁄97),
caracteriza, a priori, verdadeira lesão ao patrimônio devedor e,
além de ofensa ao devido processo legal substantivo
constitucional, aparente enriquecimento sem causa do
agravante. 2. O leilão público autorizado pela Lei 9.514⁄97 não
pode ser utilizado pelo credor e⁄ou pelo eventual arrematante
(agravante) como veículo para lesar o patrimônio dos devedores
fiduciários. (...) (TJ/ES, Agravo de Instrumento nº 24089001390,
1ª Câmara Cível, Rel. Des. Arnaldo Santos Souza, J.
28.04.2009, DJ 03.06.2009).

210
Tanto é assim, que a doutrina669 aponta acertadamente:

A ausência de boa-fé objetiva do credor fiduciário proporciona


um desequilíbrio contratual que passa despercebido pelo
devedor fiduciante, considerando sua fragilidade e nulo poder de
negociação quando da contratação do crédito. Para solucionar
esse problema, entende-se cabível medida judicial para
reavaliação do bem com suspensão dos leilões, fundamentada
no abuso de direito do credor fiduciário (conforme art. 187 do
Código Civil), que, privilegiado quanto ao poder de negociação
do contrato, ainda age diversamente da conduta esperada (boa-
fé objetiva), super ou subestimando a avaliação do bem em
garantia em seu exclusivo benefício,ou seja, “excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes” (art. 187, do Código
Civil).

Outro aspecto importante é a proteção do devedor fiduciante nas relações de


consumo em que proíbe a conhecida cláusula de decaimento, ou seja, a perda de
todas as parcelas pagas em compra à prazo (art. 53 do Código de Defesa do
Consumidor) que tem forte prestígio na boa-fé objetiva corroborada em sendo vários
os julgados nesse sentido o Superior Tribunal de Justiça entende:

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. APELAÇÃO.


EFEITOS. NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL. PERDA
DAS PRESTAÇÕES PAGAS. - Nos termos do art. 3º, § 5º, do
Decreto-Lei n. 911, de 1º.10.1969, a apelação interposta no
pedido de busca e apreensão possui efeito tão-somente
devolutivo. - No contrato de alienação fiduciária, o credor tem o
direito de receber o valor do financiamento, o que pode obter
mediante a venda extrajudicial do bem apreendido, e o devedor
tem o direito de receber o saldo apurado, mas não a restituição

669GRAMSTRUP, Erik Frederico; BARROS, Paula Cristina Lippi Pereira de. Alienação Fiduciária De
Imóvel: Aporias Na Contratação. Revista Direito e Liberdade, vol. 18, nº 1, p. 121-159, jan.-abr. 2016.
211
integral do preço pago. Precedentes. Recurso especial não
conhecido. REsp 401702 (ACÓRDÃO) Ministro BARROS
MONTEIRO DJ 29/08/2005 p. 346 Decisão: 07/06/2005TJ Resp
401. 702/DF.

Por fim, porém não menos importante, a aplicação da teoria do adimplemento


substancial nos casos de alienação fiduciária em garantia impede a medida de busca
e apreensão670, com base no enunciado doutrinário nº. 361 do Conselho da Justiça
Federal nas Jornadas de Direito Civil671, bem como entendimento do Superior Tribunal
de Justiça: 469.577/SC672.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. Busca e apreensão. Deferimento


liminar. Adimplemento substancial. Não viola a lei a decisão que
indefere o pedido liminar de busca e apreensão considerando o
pequeno valor da dívida em relação ao valor do bem e o fato de
que este é essencial à atividade da devedora. Recurso não
conhecido. REsp 469577 (ACÓRDÃO) Ministro RUY ROSADO
DE AGUIAR DJ 05/05/2003 p. 310. RNDJ vol. 43 p.
122 Decisão: 25/03/2003

Em vista dos apontamentos apresentados a questão relacionada a Propriedade


Resolúvel mais uma vez pode ser confirmada a aplicação da boa-fé objetiva, em
especial quanto ao exercício do credor fiduciário devendo esse manter no exercício
do direito de consolidação da propriedade os ditames de cuidado, lealdade com o
devedor fiduciário.

670 JEREISSATI, Régis Gurgel do Amaral; ROCHA, Amélia Soares da. O adimplemento substancial em
contrato de alienação fiduciária em relação de consumo e a (im)possibilidade de ação de busca e
apreensão. Revista de Direito do Consumidor, vol. 104, p 445-470, mar.-abr. 2016.
671 361 – Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais,

de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a
aplicação do art. 475.
672 Não obstante, entender-se correta a decisão citada, bem como o Enunciado doutrinário deve ser

registrado que recente julgado o último posicionamento do Superior Tribunal de Justiça por meio do
REsp. 1.622.555/MG, Rel. Ministro MARCO BUZZI, Rel. p/ Acórdão Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/02/2017, DJe 16/03/2017 entendeu pela não aplicação
da teoria do adimplemento substancial nos casos de alienação fiduciária em garantia.
212
Por fim, nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos
Repetitivos, Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou
Informativos de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco,
reconhecimento da boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e propriedade
resolúvel”673.

3.2.5. Exercício do direito de Vizinhança

Nos termos do apontado pela doutrina, o estudo do direito de vizinhança gira


em torno da instituição de uma situação de fato, que não necessariamente decorrem
de prédios contíguos, mas repercutem um no outro.

Nesse sentido, José Alberto Gonzales674 lembra que as relações de vizinhança


são incluídas no âmbito das limitações à propriedade, como uma espécie de restrição
de interesse privado, assim como a proteção é de natureza particular675.

Este elemento do direito tem como objeto claras limitações quanto ao direito de
propriedade em prol da paz social, bem como tendo como fonte normativa, o diálogo
entre as fontes materiais e processuais civis e demais leis extravagantes, como
Estatuto da Cidade e Estatuto da Terra676.

Os fundamentos do Direito de Vizinhança são tidos com uma grande binômio,


lealdade e Boa-fé, bem como função Social. As normas relativas ao direito da
vizinhança constituem claras limitações ao direito de propriedade, em prol do bem
comum e da paz social677. Sendo assim, o principal elemento relacionado ao direito

673 Vide Anexo V.


674 GONZÁLES, José Alberto. Restrições de Vizinhança (de interesse particular). Lisboa: Editora
Quid Juris, 2010.
675 Não obstante o referido posicionamento Maurucio Bunazar entende que o direito de vizinhança é

um direito autônomo, que existe mesmo sem propriedade, vide o exemplo, ainda que extremo de
estatização total da propriedade, segundo o qual o direito de vizinhança ainda persiste. BUNAZAR.
Maurício. Obrigação Propter Rem: Aspectos Teóricos e Práticos. São Paulo: Editora Atlas, 2014.
676 GUERRA, Willis Santiago. Noções Práticas de Direito de Construir. Fortaleza: Universidade

Federal do Ceará, 1976. p. 51.


677 Idem.

213
de vizinhança é o uso anormal da propriedade previsto nos arts. 1.277 a 1.281, do
Código Civil de 2002.

Conforme os referidos dispositivos, é ampla a proteção do direito de vizinhança.


Esta pode abarcar conforme se verifica nestes dispositivos, interferências prejudiciais
à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de
propriedade vizinha tanto no aspecto de uma conduta positiva como negativa de seu
agente678.

Nesse sentido enunciado doutrinário nº. 319 do Conselho da Justiça Federal


nas Jornadas de Direito Civil. “A condução e a solução das causas envolvendo
conflitos de vizinhança devem guardar estreita sintonia com os princípios
constitucionais da intimidade, da inviolabilidade da vida privada e da proteção do meio
ambiente”

Como exemplo prático, determinada organização religiosa que não respeita os


limites de ruídos.

Nesse sentido:

Apelação. Ação de indenização com preceito cominatório.


Direito de vizinhança. Ruídos produzidos por culto religioso.
Ilícito configurado. Perturbação da tranqüilidade e do sossego
alheios. Dano moral caracterizado. Comprovação nin re ipsa.".
Juízo prudencial na fixação da indenização. Sentença de parcial
procedência mantida Recurso desprovido. Recurso adesivo.
Majoração do valor da indenização e honorários de advogado
indevida. Indenização prudentemente arbitrada de acordo com
critérios da razoabilidade. (TJ-SP - APL: 992070179491 SP,
Relator: Pereira Calças, Data de Julgamento: 03/02/2010, 29ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 10/02/2010)

678GONZÁLES, José Alberto. Restrições de Vizinhança (de interesse particular). Lisboa: Editora
Quid Juris, 2010.
214
O resultado obtido por meio da pesquisa679 nos moldes da metodologia
proposta “Boa-fé objetiva e exercício de vizinhança” demonstrou que em relação aos
2 (dois) Acórdãos encontrados, apenas 1 (um) apresenta relação temática e o
reconhecimento da boa-fé objetiva680.

Portanto no que se refere ao exercício do direito de vizinhança há uma espécie


de restrição de interesse privado em prol da paz social por fundamentos boa-fé e
função social como exemplo os limites de perturbações sonoras e visuais, que
devidamente foi confirmado pelos julgados do Superior Tribunal de Justiça.

3.2.6. Bem de família

O art. 1º da Lei n. 8.009/90, em seu parágrafo único, descreve os bens


abrangidos pela proteção legal, enquanto o seu art. 2º descreve aqueles excluídos da
impenhorabilidade.

Nos termos da lei a impenhorabilidade não é absoluta, eis que a própria, em


seu art. 3º, estabelece exceções à impenhorabilidade legal que, por interpretação
doutrinária, também se aplicam ao bem de família voluntário.

No que tange a boa-fé objetiva, o art. 3, II e V, da Lei é pertinente e deve ser


anotada:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de


execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, salvo se movido: II - pelo titular do crédito decorrente
do financiamento destinado à construção ou à aquisição do
imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em
função do respectivo contrato; e V - para execução de hipoteca

679No presente tópico, a pesquisa empírica restou limitada somente quanto ao termo “boa-fé objetiva e
exercício de vizinhança”. Tal apontamento tem como fundamento o número elevado de situações
jurídicas de direito de vizinhança apresentadas na atual codificação civil.
680 Vide Anexo VI.

215
sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela
entidade familiar;

A questão da exceção colocada pela doutrina tem como base a teoria dos atos
contraditórios, ou seja, o venire contra factum próprio. Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ANULATÓRIA - HIPOTECA - BEM


DE FAMÍLIA - PENHORA - POSSIBILIDADE - GARANTIA REAL
EMPENHADA PELO CASAL - EXCEÇÃO PREVISTA NO ART.
3º, INCISO V, DA LEI Nº 8.009/90 - LIVRE MANIFESTAÇÃO DE
VONTADE - RESPEITO AOS PRINCÍPIOS PACTA SUNT
SERVANDA E DA BOA-FÉ OBJETIVA - SENTENÇA
REFORMADA - RECURSO PROVIDO. - O bem dado em
garantia real pelo casal, ainda que seja considerado bem de
família, insere-se nas hipóteses excepcionais à
impenhorabilidade, conforme previsão contida no art. 3º, inciso
V, da Lei nº 8.009/90. - A atual alegação de impenhorabilidade
do imóvel hipotecado ofende o princípio do pacta sunt servanda
e da boa-fé objetiva, já que foi oferecido voluntariamente,
implicando em renúncia à proteção conferida pela lei. - A
sentença que entendeu de forma diversa deve ser reformada e
o recurso provido. (TJ-MG - AC: 10271110093504001 MG,
Relator: Mariângela Meyer, Data de Julgamento: 13/08/2013,
Câmaras Cíveis / 10ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
23/08/2013)

Porém, deve ficar claro que o inciso V, do art. 3º, se refere a bem dado em
hipoteca, voluntariamente, pelo proprietário do bem de família. Caso diverso é aquele
em que o devedor indica seu bem à penhora.

O Superior Tribunal de Justiça, tem firme como entendimento, que em se


tratando de simples indicação do bem à penhora, a proteção da Lei n. 8.009/90, pode
ser posteriormente invocada.

216
Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL.


BEM DE FAMÍLIA OFERECIDO À PENHORA. RENÚNCIA AO
BENEFÍCIO ASSEGURADO PELA LEI. 8.009/90.
IMPOSSIBILIDADE. 1. A indicação do bem de família à penhora
não implica em renúncia ao benefício conferido pela Lei
8.009/90, máxime por tratar-se de norma cogente que contém
princípio de ordem pública, consoante a jurisprudência assente
neste STJ. 2. Dessarte, a indicação do bem à penhora não
produz efeito capaz de elidir o benefício assegurado pela Lei
8.009/90. Precedentes: REsp 684.587 - TO, Relator Ministro
ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Quarta Turma, DJ de 13 de
março de 2005; REsp 242.175 - PR, Relator Ministro RUY
ROSADO DE AGUIAR, Quarta Turma, DJ de 08 de maio de
2.000; REsp 205.040 - SP, Relator Ministro EDUARDO
RIBEIRO, Terceira Turma, DJ de 15 de abril de 1.999) 3. As
exceções à impenhorabilidade devem decorrer de expressa
previsão legal. 4. Agravo Regimental provido para dar
provimento ao Recurso Especial. (STJ - AgRg no REsp: 813546
DF 2006/0019218-8, Relator: Ministro FRANCISCO FALCÃO,
Data de Julgamento: 10/04/2007, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data
de Publicação: DJ 04/06/2007 p. 314RDDP vol. 55 p. 152RNDJ
vol. 92 p. 81)

Em continuidade, o resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da


metodologia proposta “Boa-fé objetiva e bem de família” demonstrou que em Em
relação aos 16 (dezesseis) Acórdãos pesquisados: 7 (sete) detêm relação temática 9
(nove) não detêm relação temática 681. Sendo que dos Dos 7 (sete) Acórdãos que
detêm relação temática 5 (cinco) apresentaram reconhecimento da boa-fé objetiva 2
(onze) não apresentaram o reconhecimento da boa-fé objetiva. Por fim, em relação 4

681 Vide Anexo VII.


217
(quatro) Informativos de Jurisprudências encontrados, todos não detiveram relação
temática nem reconhecimento da boa-fé objetiva.

Diante do exposto, por sua vez o bem de família também apresenta seus
contornos quanto a boa-fé objetiva seja na situação do bem dado em hipoteca de
forma voluntária ou em matéria de defesa o dever de lealdade e informação sempre
devem ser latentes.

3.3. DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR

Referido instituto também é conhecido como direito real de aquisição (art. 1225,
VII, do Código Civil de 2002). O tratamento legislativo foi erigido inicialmente pelo
Código Civil de 1916, que deu tratamento obrigacional, bem como posteriormente
pelas leis de parcelamento de solo urbano (Decreto nº 58/37 e Lei nº 6.766/73) que
verificou o caráter real com instituto682.

O principal ponto que correlação do presente instituto com a boa-fé objetiva


está ligada à extinção do compromisso de venda e compra registrado que poderá
ocorrer de três formas: o cumprimento, o arrependimento e o inadimplemento.

Cumpre registrar que o arrependimento, tem como objetivo afastar a


irrevogabilidade do instrumento, tornando o mesmo retratável.

Referido direito ainda está regulamentado no art. 420 do Código Civil, aplicando
as regras especificas do instituto das arras penitencias. Instituto esse, que tem
objetivo a função indenizatória, não sendo necessária a prova do referido dano, bem
como não pode ser abusiva.

682A própria natureza jurídica do instituto é complexa, pois referida afirmação - direito real de aquisição
- não é pacifica na doutrina. Silvio Rodriges, acompanhado por Silvio de Salvo Venosa entende que na
verdade referido direito é um direito real de gozo, pois há uma prerrogativa em favor do comprador. Já
Darcy Bessone entende que referido instituto é um direito real de garantia, pois existe na verdade um
poder jurídico direto e imediato, sem intermediação sobre a coisa. Na verdade, não se trata de um
instituto nem de outro tendo em vista o que está previsto no art. 1.417 do CC, bem como os
apontamentos do Flavio Monteiro de Barros no sentido que não é garantia, pois o negócio jurídico é
principal, bem como não é de gozo tendo em vista a transferência do domínio.
218
Quanto ao prazo para o arrependimento não há previsão legal, vez que o
legislador não previu, assim o direito ao arrependimento poderia ser exercido a
qualquer tempo.

No entanto, haverá supressio se o vendedor gerou a expectativa de que não se


retrataria e mais, conforme doutrina o mesmo entende que ainda que exista a cláusula
de arrependimento, uma vez iniciada a prestação não é possível a desistência tendo
em vista o venire contra factum proprium.

Por fim, não menos importante, uma vez se tratando de venda de imóveis
derivados de loteamento (art. 25, do Decreto Lei nº 58/37), bem como a venda de
imóveis objeto de incorporação (art. 32, §2º, da Lei nº 4.591/64) as cláusulas são
obrigatoriamente irretratáveis.

Quanto ao instituto do direito real de aquisição, o principal ponto que correlação


do presente instituto com a boa-fé objetiva está ligada à extinção do compromisso de
venda e compra registrado, em especial com o direito de arrependimento, pois não há
prazo para o exercício do mencionado arrependimento nos termos da lei aplicando o
instituto em referência.

Nos termos do resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da


metodologia proposta foram localizados dos acórdãos relacionando “Boa-fé objetiva e
promitente comprador” demonstrou que ambos os Acórdãos possuem relação
temática e reconhecimento da boa-fé objetiva683.

683 Vide Anexo VIII.


219
3.4. DIREITOS REAIS DE GOZO

3.4.1. Superfície

Tendo em vista a forte natureza contratual do instituto, é facilmente perceptível


a aplicação da boa-fé objetiva, em especial no adimplemento ou inadimplemento dos
nos direitos e obrigações das partes contratantes.

Não obstante, não existir julgados que referenciam a ações relacionadas no


presente contrato, se faz possível afirmar a forte tendência contratual do instituto, bem
como envolve grandes prospecções econômicas tendo em vista o investimento para
realização do projeto envolver construção civil.

Um grande exemplo da problemática enfrentada das relações intersubjetivas


pode ser extraída do direito de superfície envolvendo Palmeiras e WTorre na Arena
Allianz Parque684.

Um dos pontos mais latentes quanto ao direito de superfície pode ser extraído
do pagamento dos os encargos e tributos, pois nos termos do artigo 1.371 685 do
Código Civil de 2002, o superficiário tem o dever de pagar os encargos e tributos
inerentes ao imóvel.686

Todavia, verifica-se uma disparidade legal na legislação em vigor, o artigo 21,


§ 3º, do Estatuto da Cidade687, dispõe em sentido complementar, que não obstante

684 RÍMOLI, Cosme. A guerra judicial entre Palmeiras e WTorre vai piorar. O clube e a construtora se
tornaram rivais. Competem com planos diferentes de sócios-torcedores. Da mesma arena. Absurdo…
R7-Blog do Cosme Rímoli, [s.l.], 11 mar. 2016. Disponível em: <http://esportes.r7.com/blogs/cosme-
rimoli/a-guerra-judicial-entre-palmeiras-e-wtorre-vai-piorar-o-clube-e-a-construtora-se-tornaram-rivais-
competem-com-planos-diferentes-de-socios-torcedores-da-mesma-arena-absurdo-
11032016/?commentpage=2#comments>. Acesso em: 15 mar. 2017.
685 Art. 1.371. O superficiário responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel.
686 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da

Cidade. Curitiba: Juruá, 2009. p. 151.


687 Art. 21. O proprietário urbano poderá conceder a outrem o direito de superfície do seu terreno, por

tempo determinado ou indeterminado, mediante escritura pública registrada no cartório de registro de


imóveis.... § 3º O superficiário responderá integralmente pelos encargos e tributos que incidirem sobre
a propriedade superficiária, arcando, ainda, proporcionalmente à sua parcela de ocupação efetiva, com
220
esta obrigação seja inicialmente do superficiário, deverá o proprietário do imóvel,
arcar, ainda, proporcionalmente à sua parcela de ocupação efetiva, com os encargos
e tributos sobre a área objeto da concessão do direito de superfície, salvo disposição
em contrário do contrato respectivo.

Uma forma de solucionar a presente questão se apresenta no enunciado


doutrinário nº. 94 do Conselho da Justiça Federal nas Jornadas de Direito Civil, que
dispõe: “As partes têm plena liberdade para deliberar, no contrato respectivo, sobre o
rateio dos encargos e tributos que incidirão sobre a área objeto da concessão do
direito de superfície”.

Assim, pode ser extraído a nítida disposição de negócio jurídico contratual688,


onde as partes podem avençar a melhor alternativa, ou, a melhor forma de contratar
pontuando assertivamente a responsabilidade sob o pagamento de encargos e
tributos devendo evitar não somente o inadimplemento da obrigação, mas também,
todos os demais deveres inerentes derivativos da boa-fé objetiva.

Outro ponto fundamental é a cobrança ou inclusão de cláusula de pagamento


do laudêmio ou qualquer outro similar quando da constituição ou transferência por ato
oneroso do direito de superfície689. Assim, dispõe o artigo 1.372 nos seguintes termos:
“O direito de superfície pode transferir-se a terceiros e, por morte do superficiário, aos
seus herdeiros. Parágrafo único. Não poderá ser estipulado pelo concedente, a
nenhum título, qualquer pagamento pela transferência”.

Pode ser extraído do referido dispositivo que não há que se falar em aplicação
ou pagamento de laudêmio, referida disposição legal prevista no artigo supracitado é

os encargos e tributos sobre a área objeto da concessão do direito de superfície, salvo disposição em
contrário do contrato respectivo.
688 Deve ficar registrado que referida disposição não tem natureza jurídica tributária, ou seja, não indica

o sujeito passivo, mas apenas a distribuição final de encargos. Nesse sentido: Nota-se que o
cometimento dessa obrigação vale entre particulares e não altera a hipótese de incidência do imposto
sobre o imóvel perante o Fisco, a responsabilidade será definida por lei tributária. GRAMSTRUP, Erik
Frederico. Questões intrigantes sobre o direito real de superfície. In: ALVES, Jones Figueiredo;
DELGADO, Mario Luiz. (Coords.). Novo Código Civil: questões controvertidas: Direito das Coisas.
São Paulo: Método, 2008.
689 TEIXEIRA, José Guilherme Braga. O Direito Real de Superfície. Revista dos Tribunais, São Paulo,

1993. p. 83.
221
louvável tendo em vista o instituto do laudêmio sempre sofreu severas críticas por boa
parte da doutrina nacional, por diversos motivos relevantes690 e sua inclusão em
cláusulas negociais viola nitidamente a boa-fé objetiva.

Outro aspecto que recentemente foi objeto de alteração legislativa 691 refere-se
à superfície em segundo grau, sobre-elevação ou direito de laje. O eixo central do
instituto é a possibilidade de constituição da denominada sobre-elevação da
superfície, ou seja, a instituição de outra superfície sobre uma já existente.692

Havia um grande esforço da doutrina em reconhecer o referido instituto, pois


não havia disposição legal que trata da desta matéria, bem como e posteriormente,
embasam-se na tese do rol do artigo 1.225 do Código Civil, seria somente
exemplificativo, o que resultaria na possibilidade da instituição de qualquer e novel
direito real – seja qual for – que no presente caso seria a superfície em segundo grau.

Todavia, com o reconhecimento do direito de laje no inciso XIII do art. 1.225,


do Código Civil de 2002 acaba a problemática existente quanto à possiblidade de
constituição, mas, deve ser registrado que referido instituo é somente um
desdobramento do direito de superfície693 e sendo assim, sofre a regência da boa-fé
objetiva. Nesse sentido:

REINTEGRAÇÃO DE POSSE – Imóvel objeto que foi construído


em cima da laje de outro já existente – Dúvida sobre quem
efetivamente o edificou – Hipótese em que ambas as partes
pugnaram pela instrução oral – Julgamento antecipado incabível
na espécie – Evidente cerceamento de defesa – Controvérsia

690 Neste sentido: TEIXEIRA, José Guilherme Braga. Da propriedade, da superfície e das servidões.
Arts. 1.277 a 1.389. In: ALVIM, José Manuel de Arruda; ALVIM Thereza (org.). Comentários ao Código
Civil Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2004. Vol. 12. p. 269.
691 Lei 13.465, de julho de 2017: Dispõe sobre a regularização fundiária rural e urbana, sobre a

liquidação de créditos concedidos aos assentados da reforma agrária e sobre a regularização fundiária
no âmbito da Amazônia Legal; institui mecanismos para aprimorar a eficiência dos procedimentos de
alienação de imóveis da União, e dá outras providências
692 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação

urbana. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 305-306.


693 STOLZE, Pablo. Direito Real de Laje: Primeiras impressões. Jusbrasil, [s.l.], fev. 2017. Disponível

em: <https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/417476632/direito-real-de-laje-primeiras-
impressoes>. Acesso em: 15 mar. 2017.
222
que pode tocar disciplina simétrica à do direito real de superfície
– Recurso provido para anular a r. sentença, com observação e
determinação. (TJ-SP - APL: 00071009620118260009 SP
0007100-96.2011.8.26.0009, Relator: Ferreira da Cruz, Data de
Julgamento: 22/10/2015, 24ª Câmara de Direito Privado, Data
de Publicação: 28/10/2015)

Por fim, o último tópico a ser anotado se refere a extinção do contrato de


superfície, segundo o qual inicialmente poderá ocorrer o inadimplemento das
obrigações assumidas pelas partes, pois como já afirmado anteriormente, o direito de
superfície tem como base elementar um negócio jurídico, onde haverá obrigações
signalagmáticas694 entre as partes contratantes e assim, respeitando, todos as suas
diretrizes gerais – do direito obrigacional e dos contratos – como as específicas do
próprio instituto.695

Porém não pode ser deixado de lado as obrigações estabelecidas entre as


partes devem ser pautados pelos princípios da probidade e da boa-fé previstos no
artigo 422 do Código Civil.

Tanto é assim, que ao analisar o Código Civil de 2002, diferentemente do que


se verifica no Estatuto da Cidade, não está previsto a extinção do contrato de
concessão pelo descumprimento das obrigações assumidas pelo superficiário e, mais,
pontualmente pelo não pagamento do preço do cânon superficiário.696

Porém, nos termos do disposto específicos que tratam desta matéria, como o
dos artigos 23, inciso II e 24, § 1.º, do Estatuto da Cidade dispõe:

Art. 23. Extingue-se o direito de superfície: I – pelo advento do


termo; II – pelo descumprimento das obrigações contratuais
assumidas pelo superficiário. (..) Art. 24. § 1o Antes do termo

694 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da
Cidade. Curitiba: Juruá, 2009. p. 143.
695 LIMA, Frederico Henrique Viegas de. O direito de superfície como instrumento de planificação

urbana. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 305.


696 ANDRADE, Marcus Vinícius dos Santos. Superfície à luz do Código Civil e do Estatuto da

Cidade. Curitiba: Juruá, 2009. p. 161.


223
final do contrato, extinguir-se-á o direito de superfície se o
superficiário der ao terreno destinação diversa daquela para a
qual for concedida.

Ao analisar os referidos dispositivos, podemos afirmar com clareza que o tanto


o descumprimento das obrigações contratuais assumidas, bem como o desvio de
finalidade da superfície são causas de descumprimentos dos deveres assumidos
cabendo sua extinção.

Todavia, quando verificada a ocorrência de inadimplemento do cânon


superficiário,697 tendo em vista a boa-fé objetiva, caso não esteja previsto no contrato
deve ser dado ao superficiário o direito de purgar a mora698. Nesse sentido:

Direito processual civil. Aplicação do art. 557 do Digesto


Processual e do art. 31, VIII, do Regimento Interno do Tribunal
de Justiça. Recurso manifestamente improcedente. Direito
processual civil. Agravo de instrumento. Alienação fiduciária.
Busca e apreensão. Decisão que deferiu a purga da mora.
Inobstante a nova redação do art. 3.º, § 2.º, do Dec.-lei 911/69,
não restou vedada a possibilidade do devedor efetuar o
pagamento das prestações vencidas nos contratos de alienação
fiduciária, pois da expressão poderá pagar ressai tal
possibilidade. Princípio da probidade e boa-fé nos contratos.
Arts. 422 e 423 do CC. Manutenção dos contratos. A par da
prioridade que se confere à manutenção do contrato, até mesmo
em caso de onerosidade excessiva (CC/2002 (LGL\2002\400),
art. 479), a mora em contratos dessa espécie enseja a
possibilidade de purgação, circunstância que faz convalescer o
contrato, só se admitindo a resolução depois de esgotadas todas

697 Diferentemente do direito pátrio, o inadimplemento do cânon não é caso de extinção e sim de
aplicação de penalidade, nestes termos dispõe o Artigo 1531.º (Pagamento das prestações anuais) 1.
Ao pagamento das prestações anuais é aplicável o disposto nos artigos 1505.º e 1506.º, com as
necessárias adaptações. 2. Havendo mora no cumprimento, o proprietário do solo tem o direito de exigir
o triplo das prestações em dívida.
698 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Direito das Coisas. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. Vol. 5. p.

396.
224
as oportunidades de emenda da mora. Apesar de a dívida ser
considerada una, o direito positivo consagrou a purgação
mediante pagamento das parcelas vencidas em atenção à
função econômica e social do contrato de crédito e de venda
com pagamento parcelado, sobretudo os que envolvam
situações de maior densidade social. Recurso a que se nega
seguimento pela manifesta improcedência" (TJRJ, 6ª Câm. Cív.,
AgIn 2007.002.34.397, rel. Des. Nagib Slaibi Filho, j. 13.12.2007)

Dado o exposto, nos termos do apresentado tendo em vista a forte natureza


contratual do instituto, é possível concluir pela perceptível a aplicação da boa-fé
objetiva quanto ao que se refere o direito de superfície. Tal afirmação tem como
fundamento os direitos e obrigações das partes contratantes. Pode ser citadas
questões como pagamento dos os encargos e tributos cláusula de pagamento do
laudêmio o direito de lajeou até mesmo a própria.

Nesse ínterim, conclui-se que o Superior Tribunal de Justiça não julgou ações
que tratem acerca da boa-fé nas relações havidas a partir da superfície699.

3.4.2. Enfiteuse

Ainda que não possam ser instituídas novas Enfiteuses, deve ser registrado as
já constituídas a luz da codificação anterior, que são mantidas até sua efetiva extinção.
Sendo assim, na presente situação é possível verificar situações segundo a qual não
é observada a boa-fé objetiva.

Havendo previsão contratual pelo laudêmio no valor do terreno e benfeitorias,


com a entrada em vigor da nova codificação, houve a vedação de tal possibilidade,
devendo o laudêmio ser cobrado somente sob o valor do terreno. O comprador se
insurge contra afirmando a impossibilidade da cobrança. A decisão do tribunal não
conhece as fundamentações do autor indicando que há nítida violação da boa-fé

699 Vide Anexo IX.


225
objetiva pela violação da boa-fé objetiva na modalidade venire contra factum proprium
conforme segue:

Apelação. Repetição de Indébito. Contrato de Compra e Venda


de imóvel objeto de Enfiteuse. Base de cálculo do Laudêmio.
Direito de Preferência. Direito adquirido e ato jurídico perfeito. 1-
Enfiteuse- Instituto jurídico extinto pelo atual Código Civil.
Tratamento das enfiteuses já existentes segundo o Código Civil
de 1916. Observância da regra de transição contida no art.
2.038, § 1o, do CC. Eficácia imediata. 2- Laudêmio. Base de
cálculo que deve considerar apenas o valor do terreno, sendo
defeso o cômputo das construções e plantações. 3- Inexistência
de violação ao Ato Jurídico Perfeito ou a Direito Adquirido. 4-
Direito de preferência precluso diante da opção pelo
recebimento do laudêmio. Comportamento contraditório que
reflete violação ao princípio da boa-fé objetiva. 5- Precedentes
no sentido do posicionamento adotado pelo sentenciante. 6-
Apelo desprovido. (TJ-RJ - APL: 00129542520158190042 RIO
DE JANEIRO PETROPOLIS 2 VARA CIVEL, Relator: RICARDO
COUTO DE CASTRO, Data de Julgamento: 14/09/2016,
SETIMA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 19/09/2016)

Outro problema grave quanto ao referido instituto gira em torno do dever de


informação, segundo o qual uma vez ser confirmada a existência incontroversa de
ônus real que recai sobre o imóvel, ainda que não registrada na matrícula, se faz
necessário o dever de informação. Entendimento esse confirmado pelo Superior
Tribunal de Justiça700, destarte passa a transcrevê-lo:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


FUNDAMENTO INATACADO. BOA-FÉ OBJETIVA. REGISTRO
DE AFORAMENTO. 1. O eg. Tribunal de origem reconheceu, a

700
Muito embora tenha sido o recurso improvido, este só o foi por descumprimento de Súmula (283,
Supremo Tribunal Federal) e não quanto à matéria que versa sobre o desrespeito da boa-fé objetiva,
em relação ao dever de informar, qual, resta cristalina o dever de sua aplicação.
226
despeito da inexistência de registro do aforamento, que os
agravantes não observaram o princípio da boa-fé objetiva, ao
omitir dos agravados o gravame existente sobre o imóvel
negociado. 2. Tal fundamento fático, entretanto, ficou incólume
nas razões do recurso especial, circunstância que atrai o óbice
da Súmula 283 do STF, segundo a qual: "É inadmissível o
recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em
mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange
todos eles." 3. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no
REsp: 1177616 RJ 2010/0017213-5, Relator: Ministro RAUL
ARAÚJO, Data de Julgamento: 23/04/2013, T4 - QUARTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 27/05/2013)

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta


verifica que o único resultado obteve relação temática e reconhecimento da boa-fé
objetiva quanto a “Boa-fé objetiva e enfiteuse”701.

Em virtude do que foi mencionado pode ser concluído que determinadas


questões podem ser observadas quanto a boa-fé objetiva quanto a vedação de atos
contraditórios já firmados em compra e venda, bem como em torno do dever de
informação quando da existência incontroversa de ônus real que recai sobre o imóvel.

3.4.3. Servidões

Inicialmente cumpre salientar que o exercício deve se dar de maneira menos


gravosa ao prédio serviente, referida situação é uma nítida disposição da
preponderância da boa-fé objetiva.

Neste sentido, cabe ao prédio dominante às despesas quanto à conservação e


uso do objeto da servidão (art. 1.380, do Código Civil de 2002), bem como quanto a
sua execução quando não estabelecido de forma diversa (art. 1.381, do Código Civil

701 Vide Anexo X.


227
de 2002). Tanto é assim, que esta responsabilidade poderá ser do prédio serviente,
que no caso da sua não assunção este pode abandonar o imóvel, em benefício do
prédio dominante (1.382 do Código Civil).

Assim, o prédio serviente não pode embaraçar de nenhuma forma o exercício


da servidão (art. 1.383 do Código Civil), verificando ainda ao prédio serviente algumas
prerrogativas evitando-se, quanto possível, agravar o encargo ao prédio serviente (art.
1.385 do Código Civil). Como exemplo, pode ser extraída da situação abaixo, segundo
a qual a obstrução configura na nítida violação da boa-fé objetiva.

Possessórias. Ação de reintegração de posse. Utilização de


parte do imóvel do autor como passagem. Atos de mera
tolerância não induzem posse. Imóvel não encravado.
Obstrução inopinada do caminho que não pode ser permitida, à
luz da boa-fé objetiva. Precedentes desta Câmara. No caso
concreto, a utilização de trecho situado na propriedade do réu,
pelas autoras, ocorreu por mera tolerância. É cediço que não
induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância (CC,
art. 1.208). Portanto, não há falar em servidão de passagem,
nem registrada, nem aparente. Tampouco se está a tratar de
passagem forçada, porque o encravamento do imóvel ocupado
pelas autoras é apenas aparente. Se o imóvel ocupado pelas
autoras não é encravado, e o acesso da rua à casa depende tão
somente de realização de obras, não há motivo razoável para
exigir que o réu suporte limitação desnecessária ao seu direito
de propriedade e ao exercício de sua posse. Porém, embora não
se possa falar em exercício de posse pelas autoras, nem de
passagem forçada, o réu não poderia, sem prévio aviso, sem
concessão de prazo razoável, impedir a utilização da rampa. A
obstrução da passagem, in casu, revela nítida violação da boa-
fé objetiva. Assim, autoriza-se a utilização da rampa pelas
autoras, pelo prazo máximo de cento e vinte dias, contados da
data de publicação desta decisão, período suficiente à
consecução das obras destinadas a garantir acesso livre da casa
228
à rua sem passar pelo imóvel do réu. Apelação provida, com
determinação. (TJ-SP - APL: 00122822820088260281 SP
0012282-28.2008.8.26.0281, Relator: Sandra Galhardo
Esteves, Data de Julgamento: 29/08/2014, 12ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 29/08/2014)

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos


Repetitivos, Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou
Informativos de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco,
reconhecimento da boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e servidões”702.

No que se refere ao direito se servidão pode ser concluído que o exercício do


deve se dar de maneira menos gravosa ao prédio serviente, tal cláusula geral é uma
confirmação da boa-fé objetiva. Assim, o prédio serviente não pode embaraçar de
nenhuma forma o exercício da servidão, a qual a obstrução configura na nítida
violação da boa-fé objetiva.

3.4.4. Usufruto

A boa-fé objetiva, como nas relações anteriores tem forte relação com os
Direitos do usufrutuário previsto no art. 1.403, do Código Civil de 2002. Nesse sentido
as obrigações acessórias devem ser realizadas por quem assumiu a principal:

OBRIGAÇÃO DE FAZER Acordo firmado no âmbito de


separação judicial Estipulada doação de imóvel aos filhos com
usufruto vitalício em favor do genitor, ora réu Interpretação de
cláusula que, ante o contexto fático, indica que a obrigação foi
assumida pelo último Princípio da boa-fé objetiva - Custo da
averbação da doação a ser suportado pelo réu - Sentença
confirmada Incidência do art. 252 do Regimento Interno deste
Tribunal RECURSO NÃO PROVIDO. (TJ-SP - APL:
00561242720058260002 SP 0056124-27.2005.8.26.0002,

702 Vide Anexo XI.


229
Relator: Elcio Trujillo, Data de Julgamento: 07/05/2013, 10ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 07/05/2013)

Não obstante não é só, o usufrutuário tem direito à posse, uso, administração
e percepção dos frutos (Art. 1.394, do Código Civil de 2002), bem como não é obrigado
a pagar as deteriorações resultantes do exercício regular do usufruto (art. 1.402, do
Código Civil). Todavia, no caso em apreço, houve uma situação pontual, segundo a
qual a locatária utilizou de forma gratuita por oito meses imóvel, sem cobrança, e foi
surpreendida com uma ação. Nesse ínterim o entendimento do tribunal é pela violação
da boa-fé por parte do proprietário.

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AÇÃO CAUTELAR.


LOCAÇÃO DE IMÓVEL NÃO RESIDENCIAL. UTILIZAÇÃO DE
ÁREA COMUM. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO
CONTRATUAL. BOA-FÉ DA LOCATÁRIA. ALEGAÇÃO DE
CONTRATO VERBAL. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO
VÍNCULO. RECURSO IMPROVIDO. I. A boa-fé contratual é
cláusula geral de caráter elástico e dinâmico, que atribui ao
julgador uma pauta de valoração do comportamento das partes,
sem a necessidade de um conceito excessivamente
determinado, que engessa o julgamento da demanda.
II.Inexistindo cláusula contratual tratando da possibilidade de
usufruto pela locatária da área externa ao estabelecimento por
ela alugado, a controvérsia posta a julgamento deve ser dirimida
à luz da boa-fé objetiva, que, na espécie, está a albergar a
locatária, a qual durante os 08 (oito) meses seguintes à
celebração da avença locatícia desfrutou de tal espaço sem
qualquer interferência do locador, que somente após esse
interstício decidiu cobrar o aluguel pretérito da referida área. III.
Insubsistente se afigura a alegação de existência de pacto verbal
entre as litigantes, se ausente nos fólios acervo probatório
mínimo que comprove o aludido contrato. IV. Agravo improvido.
(TJ-MA - AI: 0611412013 MA 0012951-22.2013.8.10.0000,
Relator: VICENTE DE PAULA GOMES DE CASTRO, Data de
230
Julgamento: 22/07/2014, SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 23/07/2014)

Já por sua vez, são deveres do usufrutuário nos termos do art. 1.403, do Código
Civil de 2002 as despesas ordinárias de conservação dos bens no estado em que os
recebeu, bem como, as prestações e os tributos devidos - IPTU Imposto Predial e
Territorial Urbano e ITR Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - pela posse ou
rendimento da coisa usufruída703.

Por fim, uma nítida violação da boa-fé por parte da locatária segundo a qual
afirma nu-proprietária não ser legitimada para cobrança de alugueis após dois anos
de utilização do bem. Como não poderia ser de outra forma há violação da boa-fé
objetiva pela locatária.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


CIVIL. LOCAÇÃO. IMÓVEL LOCADO PELO NU-
PROPRIETÁRIO. BOA-FÉ OBJETIVA. LEGITIMIDADE DO
LOCADOR PARA EXECUTAR OS ALUGUÉIS EM ATRASO.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Na espécie, não se
aplicam os Enunciados 5 e 7 da Súmula do Superior Tribunal de
Justiça, porquanto a decisão agravada, ao decidir a matéria, não
interpretou cláusula contratual nem reexaminou o quadro fático
dos autos, pois cingiu-se a analisar a legitimidade do nu-
proprietário para executar débitos relativos a contrato de locação
de imóvel objeto de usufruto. 2. Uma das funções da boa-fé
objetiva é impedir que o contratante adote comportamento que
contrarie o conteúdo de manifestação anterior, cuja seriedade o
outro pactuante confiou. 3. Celebrado contrato de locação de
imóvel objeto de usufruto, fere a boa-fé objetiva a atitude da

703 Mais uma vez, que deve ficar registrado que - assim como na superfície - referida disposição não
tem natureza jurídica tributária, ou seja, não indica o sujeito passivo, mas apenas a distribuição final de
encargos. Nesse sentido: Nota-se que o cometimento dessa obrigação vale entre particulares e não
altera a hipótese de incidência do imposto sobre o imóvel perante o Fisco, a responsabilidade será
definida por lei tributária. GRAMSTRUP, Erik Frederico. Questões intrigantes sobre o direito real de
superfície. In: ALVES, Jones Figueiredo; DELGADO, Mario Luiz. (Coords.). Novo Código Civil:
questões controvertidas: Direito das Coisas. São Paulo: Método, 2008.
231
locatária que, após exercer a posse direta do imóvel por mais de
dois anos, alega que o locador, por ser o nú-proprietário do bem,
não detém legitimidade para promover a execução dos aluguéis
não adimplidos. 4. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no
AgRg no Ag: 610607 MG 2004/0074476-0, Relator: Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento:
25/06/2009, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: --> DJe
17/08/2009)

Diante do exposto, a boa-fé objetiva também permeia as relações decorrentes


do usufruto uma vez que determinadas condutas não foram observadas nos
documentos constitutivos, situações como ausência de regra para pagamento de
despesas de utilização, bem como o exercício de direitos e deveres devem sempre
ser norteados pela lealdade e informação.

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta,


verifica que de 2 (dois) resultados apresentados, apenas um obteve relação temática
e o reconhecimento da boa-fé em relação ao tema: “Boa-fé objetiva e usufruto”704.

3.4.5. Uso

Este instituto, também conhecido como usufruto reduzido, observa que o


usuário só recebe os frutos necessários às suas necessidades e às de sua família, o
que inclui cônjuge, filhos solteiros e serviçais domésticos conforme art. 1.412, §2°, do
Código Civil de 2002, sendo possível nos casos de bens moveis e imóveis.

Conforme doutrina705, sua aplicação é praticamente nula, tendo em vista os


critérios subjetivos de aplicação em especial quando a mensuração que auferida de
acordo com os elementos fáticos, conforme art. 1.412, §1°, do Código Civil de 2002,
ou seja, temos uma cláusula geral aberta, pelo qual o magistrado poderá
complementá-la de acordo com os elementos subjetivos.

704 Vide Anexo XII.


705 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Direito das Coisas. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
232
Pelo artigo 1.413, do Código Civil de 2002, ao direito de uso, aplicam-se no que
couberem, as regras do usufruto, cabendo assim, a violação da boa-fé objetiva quanto
da não observância dos deveres anexos.

Nesse sentido, pode ser citado o caso abaixo, ao qual foi impedida a
reintegração de posse tendo em vista os elementos fáticos apresentados.

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO DE


REINTEGRAÇÃO DE POSSE. CONTRATO DE CONCESSÃO
DE DIREITO REAL DE USO COM OPÇÃO DE COMPRA.
ESBULHO POSSESSÓRIO. CESSÃO DE IMÓVEL A
TERCEIROS. BOA-FÉ OBJETIVA. 1. Muito embora se saiba
que o imóvel público cuja posse foi adquirida por concessão de
uso não possa ser alienado pelo concessionário, tampouco
cedido a terceiro sem autorização da pessoa jurídica
concedente, o termo de Acordo firmado entre os herdeiros da
cessionária e os terceiros adquirentes do imóvel, reconhecendo
a cessão de direitos sobre o mesmo para terceiros e se
comprometendo perante eles a empreender esforços para a
outorga da competente escritura pública de compra e venda,
reforçam a boa-fé dos respectivos adquirentes, impossibilitando-
se, portanto, a reintegração de posse pleiteada. 2. A nulidade
existente nas cessões de direitos anteriores no presente
contexto não se reveste de qualquer irregularidade capaz de
macular o negócio, uma vez que o fim colimado pelo ajuste
firmado entre o herdeiro da cessionária e os terceiros era
justamente, ao final, transferir a propriedade para os réus. 3.
Assim, diante da ausência de justo título que fundamente a
alegada posse e não havendo esbulho possessório atribuível
aos réus, não há alteração a ser feita na sentença, devendo ela
ser mantida por seus próprios fundamentos. 4. Recurso
improvido. (TJ-DF - APC: 20130110317030, Relator: JOÃO

233
EGMONT, Data de Julgamento: 10/06/2015, 2ª Turma Cível,
Data de Publicação: Publicado no DJE : 18/06/2015 . Pág.: 143)

Nos termos do apresentado, bem como tendo forte influência do direito real de
usufruto se fez possível afirmar a aplicação da boa-fé objetiva quanto da não
observância dos deveres anexos.

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta,


“Boa-fé objetiva e uso” demonstraram relação com 41 (quarenta e um) Acórdãos
pesquisados, sendo 2 (dois) com relação temática, bem como, somente 1 (um) aplica
a boa-fé objetiva.

3.4.6. Habitação

Para o Direito Real de Habitação, aplica-se conforme art. 1.416, do Código Civil
de 2002 as disposições relativas ao usufruto no que for possível, bem como, o termo
gratuitamente deve ser entendido que beneficiário do direito real de habitação não
terá uma contrapartida junto ao proprietário, ou seja, ainda que ocupe imóvel alheio
não pagará pela sua ocupação.

Não obstante deve ser registrado que o beneficiário deve arcar com as
despesas de conservação da coisa, incluindo os tributos como, por exemplo, o
pagamento o condomínio.

Nesse sentido, há controvérsia conforme anota a doutrina, está relacionada à


possibilidade de utilização do imóvel para fins comerciais específicos da habitação,
como uma prestação de serviços.

Para maior parte da doutrina não seria possível qualquer tipo de atividade no
imóvel objeto do direito real de habitação, sendo resguardada somente a moradia da
pessoa determinada, todavia, sob o fundamento da boa-fé objetiva – preocupação
para com outro consorte - tal situação seria possível em caráter excepcional.

234
Sendo assim, atividades como ensino particular de música e demais disciplinas
curriculares do ensino médio e fundamental, bem como atividades de costura,
artesanato dentre outras não teria um aspecto de utilização do gozo do próprio bem,
mas sim o fomento para o exercício de uma atividade laborativa como forma de
subsistência e mantenimento próprio bem.

Por fim, do resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia
proposta, “Boa-fé objetiva e habitação” demonstrou que em relação aos 9 (nove)
Acórdãos pesquisados, assim como os 2 (dois) Informativos de Jurisprudências
encontrados, nenhum obteve relação temática706.

3.5. DIREITOS REAIS DE GARANTIA

3.5.1. Penhor

À boa-fé objetiva pode também ser relacionada ao penhor, o ponto mais


relevante é a incidência do desaparecimento do bem ofertado em garanta, sendo
aquele que em razão deste contrato, o depositário se nega a entregá-lo quanto
exigido. Assim, se faz como consideração infiel o depositário por quebrar a confiança
do contratante, que é a base do contrato.

Após divergência histórica entre o Superior Tribunal de Justiça, que não admitia
a prisão no caso de depósito atípico e o Supremo Tribunal Federal que admitia, no
ano de 2008, esse último alterou seu entendimento nos seguintes termos:

PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO INFIEL EM FACE DOS


TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS.
INTERPRETAÇÃO DA PARTE FINAL DO INCISO LXVII DO
ART. 5O DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988.

706 Vide Anexo XIV.


235
POSIÇÃO HIERÁRQUICO-NORMATIVA DOS TRATADOS
INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. Desde a adesão do
Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre
Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7),
ambos no ano de 1992, não há mais base legal para prisão civil
do depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas
internacionais sobre direitos humanos lhes reserva lugar
específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da
Constituição, porém acima da legislação interna. O status
normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos
humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação
infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou
posterior ao ato de adesão. Assim ocorreu com o art. 1.287 do
Código Civil de 1916 e com o Decreto-Lei nº 911/69, assim como
em relação ao art. 652 do Novo Código Civil (Lei nº
10.406/2002). ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA.
DECRETO-LEI Nº 911/69. EQUIPAÇÃO DO DEVEDOR-
FIDUCIANTE AO DEPOSITÁRIO. PRISÃO CIVIL DO
DEVEDOR-FIDUCIANTE EM FACE DO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE. A prisão civil do devedor-fiduciante no
âmbito do contrato de alienação fiduciária em garantia viola o
princípio da proporcionalidade, visto que: a) o ordenamento
jurídico prevê outros meios processuais-executórios postos à
disposição do credor-fiduciário para a garantia do crédito, de
forma que a prisão civil, como medida extrema de coerção do
devedor inadimplente, não passa no exame da
proporcionalidade como proibição de excesso, em sua tríplice
configuração: adequação, necessidade e proporcionalidade em
sentido estrito; e b) o Decreto-Lei nº 911/69, ao instituir uma
ficção jurídica, equiparando o devedor-fiduciante ao depositário,
para todos os efeitos previstos nas leis civis e penais, criou uma
figura atípica de depósito, transbordando os limites do conteúdo
236
semântico da expressão "depositário infiel" insculpida no art. 5º,
inciso LXVII, da Constituição e, dessa forma, desfigurando o
instituto do depósito em sua conformação constitucional, o que
perfaz a violação ao princípio da reserva legal proporcional.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. (STF - RE: 349703 RS, Relator: Min. CARLOS
BRITTO, Data de Julgamento: 03/12/2008, Tribunal Pleno, Data
de Publicação: DJe-104 DIVULG 04-06-2009 PUBLIC 05-06-
2009 EMENT VOL-02363-04 PP-00675)

Desta forma, a prisão não é possível no sistema brasileiro, uma vez que o país
assinou e ratificou o pacto de São José da Costa Rica - Tratado Internacional de
Direitos Humanos -, não se admitindo a prisão de depositário. Cumpre registrar que o
tratado tem status normativo supralegal, o que torna aplicável toda a legislação
infraconstitucional conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de ratificação.

Com a decisão, foi cancelada a Súmula 619, do próprio Supremo Tribunal


Federal, que permitia a prisão do depositário judicial, atendendo à ideia de
repersonalização em que a liberdade prevalece sobre o patrimônio, tese essa que
corrobora com a aplicação da boa-fé nas relações intersubjetivas.

Porém não é só, outras situações podem ser referenciadas quanto a


inobservância da boa-fé objetiva. Em especial, quando a atitude do banco – que
concede financiamento -, exige garantia real a ser depositada em armazém por ela
credenciado, sem escolha pelo mutuário, vindo a desaparecer referida mercadoria.
Conforme pode ser observado:

APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. FINANCIAMENTO.


CÉDULA RURAL PIGNORATÍCIA. GARANTIA REAL. SACAS
DE CAFÉ. PENHOR. DEPÓSITO. ARMAZÉNS GERAIS.
CADASTRAMENTO PRÉVIO PELA COOPERATIVA DE
CRÉDITO. ROL FECHADO. AUSÊNCIA DE ESCOLHA PELO
MUTUÁRIO. DESAPARECIMENTO DA MERCADORIA.
CORRESPONSABILIDADE. BOA-FÉ. ART. 422 DO CC.
237
OBRIGAÇÃO PÓS CONTRATUAL. CONFIANÇA. LEALDADE.
COOPERAÇÃO. INADIMPLEMENTO. ENUNCIADO CJF Nº 24.
PERDAS E DANOS. ART. 389 DO CC. - A boa-fé objetiva traz
consigo o dever de observância dos deveres anexos, tais como
a lealdade, cooperação, informação e proteção. - A violação da
boa-fé negocial configura inadimplemento obrigacional, devendo
a parte responder por perdas e danos. - Constitui
comportamento contraditório (violador da boa-fé) a atitude do
banco que, ao conceder financiamento, exige garantia real a ser
depositada em armazém por ela credenciado, sem escolha pelo
mutuário, vindo a desaparecer referida mercadoria, se negando,
posteriormente, a responder pelo sinistro. (TJ-MG - AC:
10451110001927001 MG, Relator: Cláudia Maia, Data de
Julgamento: 27/02/2014, Câmaras Cíveis / 13ª CÂMARA CÍVEL,
Data de Publicação: 12/03/2014)

Em continuidade, outro aspecto muito comum é o exercício da teoria dos atos


contraditórios, segundo o qual empresa contrata para si penhor, utiliza o dinheiro e
por fim indica que o contrato é nulo por não respeitar a assinatura de todos os sócios.
Nesse sentido:

APELAÇÃO. Embargos à execução. Sentença de


improcedência. Irresignação dos embargantes. Descabimento.
Alegação de que o contrato é nulo, pois assinado somente por
um dos sócios da sociedade. Utilização do crédito que configura
comportamento contraditório. "non venire contra factum
proprium". Aplicação do princípio da boa-fé objetiva. Cláusula
que prevê a garantia de penhor que foi devidamente informada
e redigida. Sentença mantida. Recurso não provido. (TJ-SP -
APL: 00048585220098260360 SP 0004858-52.2009.8.26.0360,
Relator: Lidia Conceição, Data de Julgamento: 05/11/2014, 12ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 06/11/2014)

238
Nos termos do apresentado, se verifica inegável a aplicação da boa-fé objetiva
relacionada ao penhor em vários aspectos, dentre eles, o dever de lealdade dos
contratantes se faz inegável, segundo o qual não é possível no sistema brasileiro a
prisão do depositário infiel, bem como a verificação de atos que obstam a execução
ou o devido mantenimento do devido cuidado com o objeto da garantia.

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos


Repetitivos, Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou
Informativos de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco,
reconhecimento da boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e penhor”707.

3.5.2. Hipoteca

A hipoteca, assim como os outros direitos reais, também mantém seus


elementos da publicidade, o efeito erga omnes, bem como o direito de sequela.
Todavia, em especial nos direitos reais de garantia, esses elementos são mais
marcantes.

Tal apontamento tem como fundamento o conhecimento prévio da restrição, o


efeito contra qualquer pessoa, bem como possibilita a busca do bem onde quer se
encontre este, bem como com quem se encontre, ou seja, a venda de um determinado
bem, a um terceiro a mantém incólume não afastando a eficácia real.

Sendo assim, há uma obrigação imperfeita, ou seja, onde há responsabilidade,


mas não há dívida - Haftung sem Schud -, sendo o terceiro adquirente obrigado pela
dívida. Não obstante, sua principal virtude do instituto de direito real não pode ser
exercida não observando a boa-fé objetiva.

Assim, o direito de sequela deve ser ventilado à luz da boa-fé objetiva,


posicionamento esse que objetiva alinhar a aplicação do direito de sequela como, por

707 Vide Anexo XV.


239
exemplo, busca e apreensão, reintegração, imissão de posse ou propriedade dentro
de ditames da eticidade.

Tal aponto, a priori tem como fundamento a aplicação da Súmula 308, do


Superior Tribunal de Justiça, em que “A hipoteca firmada entre a construtora e o
agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda,
não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel”.

Referida Súmula708, prestigia o sistema baseado no respeito aos interesses do


terceiro adquirente de boa-fé, que realizou todos os seus compromissos obrigacionais,
e não pode ser preterido em detrimento ao credor hipotecário709.

Da interpretação da referida Súmula, podemos notar que especialmente neste


caso, o direito de sequela que possui efeito erga omnes, passa a ter efeito inter partes,
em detrimento a boa-fé objetiva710.

708 Cumpre registar que o primeiro precedente sobre o caso incorporadora Encol S/A contraiu, perante
o Banco Itaú, empréstimo, oferecendo, como garantia, a hipoteca do terreno de em suas incorporações.
SOUZA, Thiago Guntzel de. Incorporação imobiliária, hipoteca e a Súmula nº 308 do Superior
Tribunal de Justiça no contexto do novo paradigma dos contratos. Brasília: UNB, 2014. 121 f.
Monografia (Bacharelado em Direito) -Faculdade de Direito da Universidade de Brasília.
709 Nesse sentido o Supremo Tribunal Federal já se manifestou prevalecendo a boa-fé objetiva em

detrimento do direito de sequela: DECISÃO AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CIVIL.


CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO:
SÚMULAS NS. 282 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE DO REEXAME
DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS E DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO: SÚMULAS NS. 279 E
454 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO. (..)
“DIREITO CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. INCORPORAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE
PRÉDIO RESIDENCIAL MEDIANTE FINANCIAMENTO GARANTIDO POR HIPOTECA. ACÓRDÃO
QUE CONSIDEROU AS RESPECTIVAS UNIDADES HABITACIONAIS IMUNES AOS EFEITOS DA
GARANTIA, EM FACE DO DISPOSTO NAS LEIS NºS 8.009/90 E 4.864/64 E DO PRINCÍPIO DA BOA-
FÉ. ALEGADA OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DO ATO JURÍDICO PERFEITO. O
recurso, pela alegação de ofensa ao princípio da legalidade, seria de ser provido, em face do último
fundamento do acórdão que, no ponto, estaria a impor ao credor hipotecário obrigação não prevista em
lei, ou seja, a de abster-se de exercitar o direito de sequela que constitui o principal atributo da hipoteca.
Irresignação, todavia, insuscetível de ser apreciada, quanto ao mais, pelo STF, na via do recurso
extraordinário, tendo em vista não apenas o óbice da Súmula 454, mas também a circunstância de que
eventual contrariedade à Constituição teria ocorrido, no caso, de forma reflexa e indireta, não ensejando
o apelo extremo. Recurso não conhecido” (RE 354.257, Relator o Ministro Ilmar Galvão, Primeira
Turma, DJ 21.2.2003, grifos nossos). Nada há a prover quanto às alegações da Agravante. 8. Pelo
exposto, nego seguimento ao agravo (art. 544, § 4º, inc. II, al. a, do Código de Processo Civil e art. 21,
§ 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). Publique-se. Brasília, 9 de fevereiro de 2015.
Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora (STF - ARE: 862121 SP - SÃO PAULO 0002567-91.2012.8.26.0128,
Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 09/02/2015)
710 TARTUCE, Flávio. A função social dos contratos, a boa-fé objetiva e as recentes súmulas do

STJ. Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina, 08 jul. 2006. Disponível em:
<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/8716-8715-1-PB.htm>. Acesso em 24 ago.
2016.
240
São muitos os precedentes da referida corte, o qual registra-se o seguinte:

CIVIL E PROCESSUAL. ACÓRDÃO ESTADUAL. NULIDADE


NÃO CONFIGURADA. COMPRA E VENDA. IMÓVEL DADO EM
HIPOTECA PELA CONSTRUTORA A AGENTE FINANCEIRO.
QUITAÇÃO DO PREÇO PELO ADQUIRENTE. OUTORGA DE
ESCRITURA DEFINITIVA POR DETERMINAÇÃO JUDICIAL.
LIBERAÇÃO DO ÔNUS REAL. SÚMULA N. 308-STJ. I. Não se
configura nulidade em acórdão que enfrenta suficientemente as
questões essenciais ao deslinde da controvérsia, apenas que
desfavoravelmente à parte. II. "A hipoteca firmada entre a
construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à
celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia
perante os adquirentes do imóvel" - Súmula 308 -STJ. III.
Recurso especial parcialmente conhecido e provido, para
cancelar a hipoteca incidente sobre o imóvel.
REsp 248781 (ACÓRDÃO) Ministro ALDIR PASSARINHO
JUNIOR DJ 04/09/2006 p. 272 Decisão: 29/06/2006.

Segunda questão de deve ser aventada, em especial quanto a indivisibilidade


da hipoteca, segundo a qual, essa deve ceder quando em confronto da boa-fé objetiva,
sobretudo, nos casos em que se verifique o adimplemento substancial do débito e o
gravame, ainda que reduzido, seja suficiente para a garantia do crédito
remanescente711.

Conforme aponta a doutrina, a indivisibilidade da garantia, prevista no art. 1.421


do Código Civil, não é uma característica inerente ao instituto da hipoteca, mas sim
foi instituído apenas com objetivo central propiciar ao crédito uma base mais sólida.

711 BUFFOLIN, Augusto Passamani. Hipoteca Constituição, Eficácia e Extinção. Revista dos
Tribunais, São Paulo, 2011.
241
Ainda nesse mesmo sentido indivisibilidade da garantia deve ser afastada
quando da violação da boa-fé objetiva.712 O Superior Tribunal de Justiça apreciou o
tema indiretamente:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL.


NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
FUNDAMENTO INATACADO. I - Tendo encontrado motivação
suficiente para fundar a decisão, não fica o órgão julgador
obrigado a responder, um a um, os questionamentos suscitados
pelas partes, mormente se notório seu caráter de infringência do
julgado. II - Inadmissível o recurso especial quando há, no
acórdão recorrido, fundamento não impugnado, apto por si só a
manter a conclusão a que chegou o tribunal a quo (Súmula 283
do Supremo Tribunal Federal). Agravo de instrumento
improvido. RELATÓRIO E DECISÃO RUBEM SILVA DE
OLIVEIRA e outra propuseram ação, em desfavor de MAXI RIO
EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA e BANCO
BRADESCO S/A, objetivando a transferência do domínio de
imóvel, bem como o cancelamento da hipoteca existente sobre
o referido bem. O pedido foi julgado parcialmente procedente.
(...) Ressalte-se, ademais, que o recorrente não cuidou de
impugnar o acórdão atacado, mormente quanto ao fundamento
de que, in casu, o princípio da boa-fé objetiva, previsto no código
de Defesa do Consumidor, prevalece sobre o da indivisibilidade
da hipoteca. Registro que a parte, ao recorrer, deve buscar
demonstrar o desacerto do decisum contra o qual se insurge,
refutando todos os óbices por ele levantados, sob pena de vê-lo
mantido. Logo, sendo o fundamento suficiente, por si só, para
manter o julgado, fica inviabilizado o recurso especial, incidindo
o comando da Súmula nº 283 do Supremo Tribunal Federal. Pelo
exposto, nego provimento ao agravo. Intimem-se. Brasília, 24 de

712
FRADERA, Vera Maria Jacob de (coord.). O Direito Privado brasileiro na visão de Clóvis do
Couto e Silva. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. p. 161.
242
abril de 2003. MINISTRO CASTRO FILHO Relator (Ministro
CASTRO FILHO, 02/05/2003)

Conforme pode ser percebido foi mantido o acórdão do Tribunal de Justiça do


Rio de Janeiro que afirmara que a boa-fé objetiva, previsto no Código de Defesa do
Consumidor, prevalece sobre o da indivisibilidade da hipoteca.

Por fim, outro elemento fundamental se refere à teoria do adimplemento


substancial, oriunda da teoria inglesa substantial perfornace que tem relação direta
com os princípios da conservação contratual e boa-fé objetiva.

Nessa esteira, a presente teoria entende ser abusivo o prosseguimento da ação


de busca e apreensão, reintegração, imissão ou excussão ou outro procedimento
similar na cobrança de pequeno valor remanescente devido nos autos do processo
sendo numerosos os precedentes corroboram o apresentado713,714,715.

Assim, nas hipóteses em que o contrato esteja “quase todo cumprido”, e a mora
for irrisória, não caberá à extinção do contrato, e sim outros efeitos jurídicos coercitivos
como forma de cobrança.

Por fim, o resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia
proposta “Boa-fé objetiva e hipoteca” demonstrou que em relação aos 11 (onze)
Acórdãos pesquisados, 8 (oito) detêm relação temática e 3 (três) não detêm relação
temática716. Dos 8 (oito) Acórdãos que detêm relação temática, 7 (sete) apresentaram
reconhecimento da boa-fé objetiva e 1 (um) não apresentou o reconhecimento da boa-
fé objetiva. Ademais, em relação ao único Informativo de Jurisprudência encontrado,
este apresentou relação temática e reconhecimento da boa-fé objetiva. Nesse ínterim,
conclui-se que o Superior Tribunal de Justiça julga pela prevalência da boa-fé nas
relações havidas a partir da hipoteca.

713 BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Ag 607.406/RS. Rel. Min. Fernando Gonçalves,
Quarta Turma, j. 09 nov. 2004, dj 29 nov. .2004..
714 BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. REsp 469.577/SC. Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, Quarta

Turma, j. 25 mar. 2003, dj 05 mai. 2003.


715 BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. REsp 912697/RO. Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, Quarta

Turma, j. 07 out. 2010, DJe 25 out. 2010.


716 Vide Anexo XVI.

243
Por isso tudo, a hipoteca, assim como os outros direitos reais também deve ser
referenciado à luz da boa-fé objetiva o melhor exemplo disso é a icônica Súmula 308
que prestigia o sistema baseado no respeito aos interesses do terceiro adquirente de
boa-fé. Porém não é só, a boa-fé objetiva também pode ser ventilada no que se a
indivisibilidade da hipoteca, bem como à teoria do adimplemento substancial, com os
princípios da conservação contratual e boa-fé objetiva.

3.5.3. Anticrese

A anticrese exige a entrega do bem, ao credor anticrético que deve prestar


contas para que o devedor saiba quanto foi amortizado da dívida. A ação de prestação
de contas tem caráter dúplice, pois além de ser uma ferramenta derivativa do dever
de informação também possibilita a execução.

Outro ônus previsto ao credor está inscrito no art. 1.508, do Código Civil de
2002 impõe a este, que responsabilidade pelas deteriorações que, por culpa sua, o
imóvel vier a sofrer, e pelos frutos e rendimentos que, por sua negligência, deixar de
perceber.

Porém, um dos grandes inconvenientes referido instituto, é limitar o direito de


preferência do credor, bem como é mantida a vedação do pacto comissório.

Sendo assim, a aplicação do referido instituto é residual e sua aplicação muito


restrita. Tanto é assim que em busca jurisprudencial somente há incidência do instituto
por meio do art. 11 Decreto 3.431/2000, é possível a utilização da anticrese como
forma de garantia para participação do REFIS - Federal conforme interpretação literal
do art. 111 do Código Tributário Nacional. Neste sentido Superior Tribunal de Justiça
já analisou a questão

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.


ADESÃO AO REFIS. GARANTIA. ADMISSIBILIDADE DA
ANTICRESE, DESDE QUE COMPROVADA A PROPRIEDADE
244
DO BEM. ART. 11 DO DECRETO 3.431/2000.
INTERPRETAÇÃO LITERAL (ART. 111 DO CTN). TITULAR DO
DIREITO DE OCUPAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. RECUSA DA
SEGUNDA GARANTIA. FUNDAMENTO NÃO IMPUGNADO
SUFICIENTE À MANUTENÇÃO DA DECISÃO. SÚMULA 283
DO STF. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO
CONFIGURADA. REsp 1103639 (ACÓRDÃO) Ministro LUIZ
FUX DJe 30/11/2010 Decisão: 18/11/2010

Não obstante, uma boa forma e exemplo prático de aplicação do instituto seria
a utilização do mesmo em dívidas de condomínio edilício, segundo a qual ao invés de
executar o bem de família quanto aos débitos, a sindicância assumiria instituiria o
direito real de anticrese alugando o imóvel dos valores extraídos e abateriam o valor
do débito, para ao final o devedor retomar a propriedade plena do imóvel.

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos


Repetitivos, Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou
Informativos de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco
reconhecimento da boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e anticrese”717.

717 Vide Anexo XVII.


245
CONCLUSÃO

Inicialmente é possível concluir que o Direito Real está calcado na matéria do


Direito Civil e apresenta extrema complexidade e nuances para compreendê-la,
ademais esta, se relaciona com outros direitos. Nesse sentido, tem-se que há forte
relação entre bem e coisa, pois convergem na ideia de ser o bem gênero, e, a coisa
espécie, sendo o segundo as coisas são corpóreas ou materiais.

Outrossim, observa-se haver uma questão peculiar no Direito Nacional, quanto


da terminologia, pois, os Direito das Coisas e os Direitos Reais não podem ser
confundidos; haja vistas que Direito das Coisas não trata somente dos direitos reais,
mas, abrange o instituto da posse. Assim, os Direitos Reais tratam de uma fração do
campo de atuação do Direito das Coisas.

Dentre uma das complexidades do conceito de propriedade, se infere na


própria tentativa de conceituá-la, embora não positivada no ordenamento jurídico, e,
embora a doutrina se esforce para fazê-lo, trata de um instituto o qual está em
constante construção, pois se calca e se complementa junto à evolução do fenômeno
econômico-jurídico, que deve observar nos termos do fato histórico e social, qual
também deve ser acompanhado para os Direitos Reais.

Em continuidade, o domínio e o patrimônio também são institutos diferentes da


propriedade. A propriedade, conforme aludido, recai sobre coisas corpóreas e
incorpóreas; por sua vez, o domínio incide exclusivamente sobre coisas corpóreas, e
por fim, o patrimônio trata do poder exercido, por uma pessoa, sobre a propriedade e
o domínio.

No que tange a evolução histórica, desde o Direito Romano não havia o


conceito de Direito Real, mas sim as actiones in rem (dentre outras, a ação
reivindicatória) e, as actiones in personam (trata do exercício de uma ação). Assim,
conclui-se que a categoria de Direito Reais tem origem nas actiones in rem, qual
reflete em todo o desenvolvimento posterior.

246
Porém não é só, outra constatação importante que se extrai do Direito Romano
relaciona-se ao poder e legitimação atribuído ao iudex, para decidir o litígio. Este
detinha legitimidade para apreciar os fatos livremente, podendo inclusive julgar de
acordo com a boa-fé, com a ex fide bona.

Quanto à evolução histórica dos Direitos Reais pautada no Direito Medieval,


até a pré-codificação nacional, verificam-se duas fortes frentes, a primeira delas
corresponde a ação que tem por pressuposto um direito, ou seja, desloca-se a questão
para o direito subjetivo, iniciando a ideia da ius in rem e ius in personam, sendo assim,
o direito recai sobre uma coisa ou uma determinada prestação.

Já em segundo momento, conclui-se que os direitos reais no referido período,


se confunde com a propriedade, houveram dois movimentos claros tidos como
anterior e posterior à Revolução Francesa, segundo qual, o servo inicialmente não
tinha direito algum sobre a terra, para ao final se tornar proprietário pleno.

Ao avançar na evolução histórica, chega-se então na pré-codificação nacional,


qual sofreu intensa fluência dos diplomas legais de Portugal, em especial as
Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, que de forma pontual contribuíram aos
direitos reais, com os institutos das sesmarias, da enfiteuse e os arredamentos.

Os Direitos Reais no Brasil começaram a traçar suas linhas com a entrada em


vigor da Constituição Imperial de 25 de março de 1824, dada à necessidade de criação
de uma nova codificação. Tal codificação de fato somente ocorreria em 1916, pela Lei
nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Todavia, não pode ser deixada de lado a
contribuição da obra de Teixeira de Freitas qual influenciou não somente a referida
codificação, mas também a legislação de outros países.

Pode ser concluído ainda na atual codificação, previsão expressa no art. 1.225
do Código Civil de 2002, quanto aos Direitos Reais, porém, o instituto não possui um
rol taxativo, vez haver outros direitos reais não alocados no referido dispositivo. Porém
não é só, deve ser registrado que a Constituição de 1988, passou a regular de forma
incisiva as relações de Direito Privado, abarcando temáticas como a dignidade,
solidariedade, liberdade e igualdade fundamentais nas relações intersubjetivas.
247
Nos termos do já aventado anteriormente, desde a doutrina clássica até a mais
moderna quanto ao fundamento e teorias acerca dos direitos reais, há de se citar que
tidos direitos são regulamentações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas,
determináveis e determinadas, tendo como fundamento inicial, o direito de
propriedade que pode ser pleno ou restrito.

Desta monta, é possível afirmar que na atualidade a obrigação é a relação


jurídica transitória, existente entre o sujeito ativo e passivo, denominado credor e
devedor, o conjunto de atividades necessárias à satisfação do credor, seja essa
positiva ou negativa, as quais levam ao adimplemento, porém todas estas fases
interdependentes norteadas pela boa-fé, ou seja, atos aglutinadores de reação de
cooperação entre os obrigados.

Diferente dos direitos obrigacionais, os Direitos Reais possuem três elementos


norteadores, como a ideia de ser um direito absoluto; a forte relação do direito real
como objeto imediato ligado à coisa corpórea ou incorpórea e, por fim, sua criação ser
restringida aos modelos previamente estabelecidos em lei, ou seja, há uma dicotomia
existente entre os direitos reais e os direitos pessoais, atribuindo a cada um deles
feição principiológica característica para cada um deles.

Ademais, quanto aos efeitos dos Direitos Reais, tem-se a oponibilidade erga
omnes, direito de sequela, direito de preferência, taxatividade, possibilidade de
abandono; viabilidade de incorporação pelo meio da posse; previsão da usucapião
como um meio de sua aquisição; regência pelo princípio da publicidade dos atos
tradição e registro, perpetuidade, são dotados de elasticidade e da consolidação.

Do exposto, pode ser concluído ainda, não obstante os elementos delineadores


dos direitos reais serem de suma importância, alguns desses efeitos são contestados
pela doutrina e pela jurisprudência contemporânea diante da notória aproximação
entre os Direitos Pessoais e Reais.

Em primeiro momento, a primeira crítica ao tratado acima, da aproximação


entre os Direitos Pessoais e Reais, corresponde em haver contratos os quais não tem
248
como base somente o direito obrigacional, mas sim elementos multisistêmicos.
Aqueles, com feições próprias, em especial no direito das coisas, os quais criam
situações jurídicas absolutas ou relações jurídicas reais deixando de existir a distinção
entre os direitos obrigacionais e reais. Esta tendência merece mais reflexão, haja
vistas que seu prisma coloca em xeque toda a divisão metodológica dos direitos reais
e pessoais.

Outro aspecto, também criticado e pontuado, refere-se quanto ao efeito do


absolutismo, tal elemento não significa dizer em empregar os atributos do direito de
propriedade – art. 1.228 do Código Civil de 2002 - de forma isolada, pois há outros
direitos ou valores mais relevantes que o direito real que devem ser ponderados.

Por fim, a última crítica conclusiva tem relação ao efeito erga omnes, em
especial o direito de sequela, uma das principais virtudes dos Direitos Reais, encontra
limitação de outros direitos, em especial a boa-fé objetiva.

Em vista dos elementos apresentados, pode ser concluído quanto da questão


da taxatividade ou não dos direitos reais, haver quatro correntes quando da criação
dos Direitos Reais, quais sejam: rol numerus clausus, numerus apertus, modulação
dos direitos reais existentes, e, por fim, a doutrina da contratualização.

Superada a questão precípua dos Direitos Reais, passa a desenvolver as


conclusões quanto a que se referem o negócio jurídico e a boa-fé objetiva.

O negócio jurídico pode ser analisado com o viés das ocorrências emanadas
pela autonomia privada lícita do homem, em razão dos quais seus efeitos no direito
nascem, se modificam, ou se extinguem em decorrência desta vontade, em um
vínculo correspondente, sendo assim, será válido quando a vontade interna é causa
da vontade externa. Se houver desarmonia entre a vontade interna e externa,
provavelmente houve vício de vontade.

Pode ser concluído ainda a necessidade do dever de ser o negócio jurídico


interpretado. Pois, este deve ser “claro”, de modo a transparecer após a interpretação

249
do negócio jurídico, haja vistas que a própria clareza é relativa e pode variar a cada
interlocutor.

Assim, levando-se em conta o que foi observado quanto à interpretação do


negócio jurídico, há uma importante ambivalência pela qual a teoria da Confiança,
prevista na atual codificação no art. 112, do Código Civil, bem como a boa-fé e os
costumes anotada no art. 113, do Código Civil, são elementos delineadores dos
negócios jurídicos.

Dado exposto verifica-se historicamente os elementos do negócio jurídico


pautados em três fases: elementos essenciais, elementos naturais e, por fim,
elementos acidentais. Não obstante, para fins didáticos, o caminho escolhido na
presente Tese, foi o da doutrina de Pontes de Miranda, segundo a qual o negócio
jurídico também contém em seu enquadramento três planos, quais sejam, plano da
existência, o da validade e o da eficiência, os quais seguem logo abaixo.

Em virtude do mencionado quanto ao primeiro plano, da existência, decorre de


estudo dos requisitos ou elementos constitutivos indispensáveis à existência do
Negócio jurídico. Estão os elementos mínimos de um contrato, os pressupostos de
existência, que formarão o suporte fático tido como: Partes, Vontade, Objeto e Forma.
Assim, se faz possível concluir ser o plano da existência aquele qual deriva da
congruência da vontade das partes, a finalidade negocial e um objeto idôneo.

Dado o exposto, de forma distinta do plano anterior, a invalidade do negócio


jurídico é a sua desqualificação, ou seja, o negócio existe, mas não tem aptidão para
produzir efeitos. Quanto ao segundo plano, da validade, esse se demonstra de forma
muito clara na atual legislação, em especial no art. 104, do Código Civil. Por fim,
encerrando o estudo os negócios jurídicos, observação dos aspectos analisados
quanto ao último plano, se faz possível afirmar às consequências práticas dos
negócios jurídicos estão previstas.

Referidos elementos estão previstos como exemplo, na condição, no termo e


no encargo ou modo, tidos como cláusulas acrescentadas nos negócios jurídicos
destinadas a modificar as suas consequências naturais. Bem como, nesse plano,
250
estão ainda, as consequências práticas dos contratos como inadimplemento –
resolução -; juros; multa ou cláusula penal e registro imobiliário.

Finda as notas conclusivas acerca do negócio jurídico, passa-se a explanar


quanto à boa-fé objetiva. Nesse diapasão, é possível afirmar que a questão da boa-fé
é antiga no direito, bem como seria essa um dever de estado ético, que deve ser
atrelada à vida e remetida ao caso a caso, e, apreciada pelos instrumentistas do
direito.

O conceito de boa-fé afastou-se do plano intencional, tida como boa-fé


subjetiva. Tanto é assim que se assegura o acolhimento do que é licito e repulsa o
ilícito, bem como, pode incorporar elementos tais como uma estrutura normativa
dotada de prescritibilidade; um elemento de interpretação contratual; e um standart
comportamental.

Levando-se em conta do quanto observado, a boa-fé objetiva infere aos


deveres anexos ou laterais de conduta, que são deveres inerentes a qualquer
contrato, sem a necessidade de previsão no instrumento, como: dever de cuidado;
dever de respeito com a outra parte; dever de informar; dever de transparência; dever
de colaboração/cooperação; dever de confiança; e dever de agir honestamente e
dever de lealdade/probidade.

A quebra dos deveres anexos gera a violação positiva do contrato, que é uma
nova modalidade de inadimplemento em que a responsabilidade é objetiva. Isto
posto, a obrigação não seria somente um dever jurídico principal – dar, fazer ou não
fazer -, mas, tem ainda deveres anexos ou de proteção tão importantes quanto o dever
principal – como o dever de informar, que quando descumprido, da mesma forma que
o descumprimento do dever principal, pode gerar responsabilidade civil e ser essa
obrigação denominada de relação jurídica complexa.

Em virtude do quanto mencionado, se faz possível afirmar a Constituição de


1988 e o Código Civil de 2002 são ferramentas de suma importância para confirmação
da boa-fé objetiva, que certamente decorreram dos fatos históricos, em especial na
codificação privada, segundo a qual se fez necessária uma nova codificação com base
251
principiológica distinta das anteriores. Isso devido ao crivo do legislador pátrio qual
balanceou valores individuais e sociais, resultando então na distribuição de justiça e
na inserção do ser humano, na sociedade.

Nesse diapasão, nos termos do anotado, em outra banda, a boa-fé objetiva é


um modelo jurídico de direcionamento de conduta, qual direciona condutas com
função de valores ético-jurídicos como a honestidade, constrói modelos descritivos
confirme já pontuado, bem como foi positivado pelo Código Civil de 2002, através dos
artigos 113, 187 e 422.

No que se refere à boa-fé nos sistemas jurídicos fechados e abertos é possível


concluir a distinção entre regras e princípios. Não obstante ser premente a distinção
cumpre registrar ainda, que um dos trabalhos mais árduos é conhecer a distinção
conceitual entre os princípios e regras. Assim como visto, optou-se por prender mais
com objeto, ou seja, com a descrição característica do instituto, que com um eventual
o enquadramento prévio classificativo.

Logo, quanto aos princípios, esses devem ser implementados na maior medida
possível diante das situações fáticas e jurídicas existentes, ou seja, os princípios
esperam a conduta para proceder posteriormente sua definição. Por sua vez, as
regras são conteúdos normativos completos, que não necessitam de interpretação ou
complementação complexa por parte dos operadores do direito, em especial os
magistrados.

Por fim, as cláusulas gerais e os conceitos jurídicos indeterminados também


necessitam ser anotados, estes acham-se entre os princípios e as regras. A cláusula
geral pode ser tida como uma técnica legislativa, segundo a qual é uma espécie
prescritiva caracterizada por uma estrutura peculiar incompleta com a característica
cujo antecedente (hipótese fática) é composto por termos vagos e o consequente
(efeito jurídico) é indeterminado. Já por sua vez, o conceito jurídico Indeterminado o
elemento vago seria somente o plano fático.

Por isso tudo, pode ser concluído que a boa-fé objetiva tem relevante contorno
para o Direito, tendo nítidos diálogos com outras áreas religiosas, históricas, sociais,
252
psicológicas, antropológicas e sociológicas. Tanto assim que a boa-fé reconhece o
postulado moral e de segurança nas transações, bem como criador de direitos
relacionados a seu momento histórico, cultural e social.

Portanto, a boa-fé objetiva tem como elemento a comunicação, esta tem papel
fundamental para o direito e a sociedade. Referida situação foi devidamente
apercebida por Luhmann adepto de uma teoria particularmente própria
do pensamento sistémico e se propôs a escrever sobre uma teoria da sociedade e
não do direito.

Referida teoria tem como objetivo atingir as operações do sistema jurídico como
incentivar a práxis ou a reflexão jurídica produzindo novas interpretações ou
argumentos. Em virtude do que foi mencionado, Luhmann, tem alguns conceitos
fundamentais da teoria dos sistemas tidos como: uma construção tendo em vista a
complexidade da sociedade moderna; a adoção de um conceito abrangente de
sociedade; e a rejeição da tese que a “integração consensual” poderia ser um
significado construtivo da sociedade.

Porém não é só, uma vez o observado acima uma importante conclusão é a
perspectiva teórica que a sociedade é um sistema autorreferencial que descreve a sim
mesmo, de modo que a sociologia apareceria como uma autodescrição da sociedade
e o direito tido como, um subsistema da sociedade que pode ser aberto ou fechado,
ou seja, desprovido de inputs “entradas” e outputs “saídas” do ambiente.

Nessa toada, conclui ser o sistema jurídico autopoiético, e operacionalmente


fechado, pois tem seu desenvolvimento segundo regras próprias previamente
estabelecidas, bem como, orientado pela comunicação ponto esse encontro com o
objeto da presente tese, pois ao aplicar o conceito dos sistemas autopoiéticos é
possível mitigar a complexidade social e entendem o fenômeno da boa-fé objetiva a
partir de suas operações próprias.

Diante de todo o exposto se faz claro e lídimo, o direito, e, em especial a boa-


fé objetiva, tem contorno autopoiético e, se reconstrói com base nos seus próprios

253
elementos e fundamentos, em especial de seus deveres anexos como, por exemplo,
os deveres de confiança, lealdade e informação.

Em continuidade, conclui-se haverem três frentes básicas, frente à boa-fé,


quais sejam a função interpretativa, função sanção e função integração.

Portanto, a boa-fé objetiva opera em sua função hermenêutica, qual busca


direcionar o interprete na avaliação do contrato (contexto contratual), bem como busca
determinar o sentido ou intenção consubstanciada declarada. Levando em
consideração esses aspectos à função sanção, que tem duas vertentenses tidas como
função corretora de exercício jurídico, bem como função de ajustamento do conceito
contratual tidas como ferramentas fundamentais para a devida aplicação da boa-fé
objetiva.

Por sua vez, quanto à função integração, há como base elementar a aplicação
da boa-fé objetiva com vistas a todos os momentos contratuais, bem como, cria
deveres secundários ou anexos, os quais também podem ser denominados de
deveres acessórios, fiduciários, instrumentais e laterais.

Dado o exposto, se faz possível afirmar que na relação obrigacional há duas


esferas ou competências obrigacionais, quais sejam: os “deveres principais” tidos no
o núcleo da obrigação, bem como os “deveres secundários” que não relação direta
com o objeto principal da obrigação.

Tendo em vista os deveres secundários da boa-fé, bem como a Função de


integração da boa-fé objetiva alguns conceitos derivativos do direito comparado, os
quais são parcelas da boa-fé objetiva: tu quoque, exceptio doli, venire contra factum
proprium; supressio e surrectio; duty to mitigate the loss teoria do adimplemento
substancial; Droit de Suite; e Nachfrist. Sendo assim, em virtude do que foi
mencionado a quebra dos deveres secundários ou anexos está embutida entre as
duas modalidades clássicas de inadimplemento, - o parcial e total, segundo o qual é
realizada uma conduta violadora distinta da obrigação de dar, fazer ou não fazer.

254
Diante de todo acima exposto, pode ser observado que a boa-fé objetiva se
amolda em diversas figuras que dão funcionalidade estruturante.

Concluído o estudo da boa-fé objetiva de forma autônoma, dado o objeto da


presente tese, anota-se o momento mais importante, segundo o qual foi observada
uma verificação científica da análise das situações jurídicas reais à luz da aplicação
da boa-fé objetiva, tendo em vista sua porta de entrada pelos artigos 1.228, §2º e 187,
ambos do Código Civil.

Do quanto ventilado, passa a tratar pontualmente acerca da propriedade plena.


Sendo assim, no que se refere à propriedade, do exposto à redação do, § 2º, do artigo
1.228, do Código Civil, pode ser concluído que o mesmo visa proibir os atos que não
trazem ao proprietário qualquer comodidade, utilidade ou vantagem e sejam
motivados pela intenção de prejudicar outrem.

Outro dispositivo de suma importância, se refere ao 187, do Código Civil que


não obstante um possível descompasso ao artigo 1.228, do Código Civil, ambos
devem ser aplicados em conjunto, verificando um possível dialogo das fontes, a fim
de prestigiar a boa-fé objetiva quanto ao exercício do direito de propriedade, qual
verificou a aplicação do instituto pelos julgados do Superior Tribunal de Justiça.

Por sua vez, pode ser concluído quanto ao condomínio geral ou simples, duas
frentes claras quanto a aplicação da boa-fé objetiva. A primeira delas, tem como base
a administração do condomínio voluntário que deve ser exercido da luz da boa-fé
objetiva, bem como em um segundo momento, quando da ocorrência de um único
condômino utilizar o imóvel não prejudicar os demais, que devidamente foi confirmado
pelos julgados do Superior Tribunal de Justiça.

No que se refere o Condomínio Edilício, pode se concluir que as questões


relacionadas com a boa-fé objetiva não houveram resultados, quanto da pesquisa
empírica realizada. Não obstante, são muitos os aspectos relacionados à boa-fé.
Dentre eles dois os pontos relevantes a se destacar, o primeiro deles é atinente às
relações condominiais mais genéricas como aquisição de área em comum, questões
dos atos constitutivos em geral como a questão dos animais. Já em um segundo
255
momento desdobramentos quanto as cobranças das taxas condominiais também
podem incidir em violação da boa-fé objetiva.

Quanto da pesquisa realizada frente a figura do loteamento fechado, não


houveram resultados, quanto da pesquisa empírica realizada. Contudo, também
contém seus contornos quanto à boa-fé objetiva, não obstante outras incidências
possíveis, o grande problema está relacionado aos “débitos condominiais” ou a taxa
associativa que não obstante o entendimento dos tribunais se confirma ser devida por
conta da última alteração legislativa.

Em relação à pesquisa empírica realizada, quanto a Propriedade Resolúvel,


não houveram resultados, todavia, mais uma vez pode ser confirmada a aplicação da
boa-fé objetiva, em especial quanto ao exercício do credor fiduciário devendo esse
manter no exercício do direito de consolidação da propriedade os ditames de cuidado,
lealdade com o devedor fiduciário.

Em relação ao direito de vizinhança houveram dois resultados da pesquisa


empírica realizada, sendo assim, verificou-se a aplicação da boa-fé objetiva, portanto,
há uma espécie de restrição de interesse privado em prol da paz social por
fundamentos boa-fé e função social. Como exemplo os limites de perturbações
sonoras e visuais.

No que se infere ao bem de família, também se concluiu pela aplicação e seus


contornos quanto à boa-fé objetiva, seja na situação do bem dado em hipoteca de
forma voluntária ou em matéria de defesa o dever de lealdade e informação, portanto,
o resultado a da pesquisa empírica realizada verificou a aplicação do instituto pelos
julgados do Superior Tribunal de Justiça.

Quanto ao instituto do direito real de aquisição, o principal ponto de correlação


do presente instituto com a boa-fé objetiva está ligado à extinção do compromisso de
venda e compra registrado, em especial com o direito de arrependimento, pois não há
prazo para o exercício do mencionado arrependimento nos termos da lei aplicando o
instituto em referência. Sendo assim, nos termos do resultado obtido por meio da
pesquisa realizada, demonstrou a aplicação da boa-fé objetiva.
256
Em relação à pesquisa empírica realizada, quanto ao direito de superfície,
constatou não haver resultados acerca da boa-fé, todavia é passível concluir pela
perceptível aplicação da boa-fé objetiva. Tal afirmação tem como fundamento os
direitos e obrigações das partes contratantes.

Quanto da pesquisa realizada, de forma empírica, conclui-se pela aplicação da


boa-fé objetiva, em relação à enfiteuse. Em virtude do que foi mencionado pode ser
concluído que determinadas questões podem ser observadas quanto à boa-fé
objetiva, quanto da vedação de atos contraditórios já firmados em compra e venda,
bem como em torno do dever de informação quando da existência incontroversa de
ônus real que recai sobre o imóvel.

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver resultado em relação


às servidões e a aplicação da boa-fé objetiva. Porém, pode ser concluído que o
exercício do deve se dar de maneira menos gravosa ao prédio serviente, tal cláusula
geral é uma confirmação da boa-fé objetiva. Assim, o prédio serviente não pode
embaraçar de nenhuma forma o exercício da servidão, a qual a obstrução configura
na nítida violação da boa-fé objetiva.

Em relação ao usufruto conclui que houve dois resultados da pesquisa empírica


realizada. Sendo assim, verificou a aplicação da boa-fé objetiva, em um dos
resultados. Não obstante, a boa-fé objetiva permeia determinadas condutas que não
foram observadas nos documentos constitutivos, situações como ausência de regra
para pagamento de despesas de utilização, bem como o exercício de direitos e
deveres devem sempre ser norteados pela lealdade e informação.

Nos termos do apresentado, conclui que o direito real de uso, sofre forte
influência do direito real de usufruto, sendo então possível afirmar a aplicação da boa-
fé objetiva quanto da não observância dos deveres anexos.

Conclui-se em relação ao direito real de habitação, quanto da pesquisa


realizada de forma empírica, não houve resultados frente à aplicação da boa-fé
objetiva. Contudo, para maior parte da doutrina não seria possível qualquer tipo de
257
atividade no imóvel objeto do direito real de habitação, sendo resguardada somente a
moradia da pessoa determinada, todavia, sob o fundamento da boa-fé objetiva –
preocupação para com outro consorte - tal situação seria possível em caráter
excepcional.

Quanto ao penhor, a pesquisa empírica realizada demonstrou não haver


resultados acerca da aplicação da boa-fé objetiva. Porém é inegável sua aplicação,
vez estar relacionada em vários aspectos, dentre eles, o dever de lealdade dos
contratantes, segundo o qual não é possível no sistema brasileiro, a prisão do
depositário infiel, bem como a verificação de atos que obstam a execução ou o devido
mantenimento do devido cuidado com o objeto da garantia.

No que tange à hipoteca, a pesquisa realizada concluiu pela preponderância


da aplicação da boa-fé objetiva. Assim, como os outros direitos reais também deve
ser referenciado à luz da boa-fé objetiva, o melhor exemplo disso é a icônica Súmula
308, do Superior Tribunal de Justiça que prestigia o sistema baseado no respeito aos
interesses do terceiro adquirente de boa-fé. Porém não é só, a boa-fé objetiva também
pode ser ventilada no que se a indivisibilidade da hipoteca, bem como à teoria do
adimplemento substancial, com os princípios da conservação contratual e boa-fé
objetiva.

Por fim, porém não menos importante, a anticrese, frente à pesquisa empírica
realizada não obteve resultado quanto da aplicação da boa-fé objetiva. Não obstante,
uma boa forma e exemplo prático de aplicação do instituto seria a utilização do mesmo
em dívidas de condomínio edilício, segundo a qual ao invés de executar o bem de
família quanto aos débitos, a sindicância assumiria instituiria o direito real de anticrese
alugando o imóvel dos valores extraídos e abateriam o valor do débito, para ao final o
devedor retomar a propriedade plena do imóvel.

De todo o exposto, é possível então por fim concluir que tidos Direitos Reais
são situações jurídicas intersubjetivas, as quais são norteadas pela boa-fé objetiva.

258
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295
ANEXOS

ANEXO I – BOA-FÉ OBJETIVA E PROPRIEDADE

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos 1 documento(s) encontrado(s)


Súmulas Nenhum documento encontrado
Acórdãos 39 documento(s) encontrado(s)
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado
Informativos de Jurisprudência 10 documento(s) encontrado(s)

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto tratado Relação Reconhecime


Documento Objeto central do Temática nto da Boa-fé
Julgamento Objetiva
Acórdão de REsp CORREÇÃO Não Não
Repetitivos 1112524 / DF MONETÁRIA.
Ministro LUIZ EXPURGOS
FUX INFLACIONÁRIOS
DJe: APLICAÇÃO.
30/09/2010 PRINCÍPIO DA
Decisão: ISONOMIA.
01/09/2010 TRIBUTÁRIO
Acórdão REsp RECURSO Sim Sim
1412662 / RS ESPECIAL.
Ministro LUIS COMPROMISSO
FELIPE DE COMPRA E
SALOMÃO VENDA DE
DJe: IMÓVEL.
28/09/2016 REVISÃO DE
Decisão: CONTRATOS
01/09/2016 FINDOS.
POSSIBILIDADE.
DISTRATO À LUZ
DO CÓDIGO DE
DEFESA DO
CONSUMIDOR.

296
REsp PERDA DO Sim Sim
Acórdão 1551595 /SP DOMÍNIO E DOS
Ministro DIREITOS
HUMBERTO INERENTES À
MARTINS PROPRIEDADE
DJe:
28/06/2016
Decisão:
21/06/2016
AgRg no DEMARCAÇÃO DE
Acórdão REsp RESERVA Sim Sim
1460503/SC INDÍGENA
AGRAVO
REGIMENTA
LNO REsp
2014/0142807
-3
Ministro
HUMBERTO
MARTINS
DJe:
22/03/2016
Decisão:
15/03/2016
Acórdão REsp REINTEGRAÇÃO Sim Sim
1401233 / RS DE POSSE. TAXA
Resp DE OCUPAÇÃO
2013/0291403
-0
Ministro
PAULO DE
TARSO
SANSEVERIN
O
DJe:
26/11/2015
Decisão:
17/11/2015
Acórdão REsp ALIENAÇÃO Sim Sim
1449967 / CE FIDUCIÁRIA DE
RECURSO COISA IMÓVEL
ESPECIAL
2014/0090303
-7
Ministro
RICARDO
VILLAS BÔAS
CUEVA

297
DJe:
26/11/2015
Decisão:
17/09/2015
Acórdão Rcl 3904 / RJ EXISTÊNCIA DE Sim Sim
RECLAMAÇÃ DECISÕES
O JUDICIAIS
2010/0015481 CONFLITANTES.
-0
Ministro
LEOPOLDO
DE ARRUDA
RAPOSO
DJe:
15/09/2015
Decisão:
24/06/2015
Acórdão EDcl no AgRg INVASÃO Sim Sim
no AREsp DE ÁREA
18092 / MA PARTICULAR.
Ministro LOTEAMENTO.
HUMBERTO
MARTINS
DJe:
16/11/2015
Decisão:
07/04/2015
Acórdão REsp REPRODUÇÃO Não Não
1237752 / PR PARCIAL DA
Ministro LUIS MARCA
FELIPE PRÉ-REGISTRADA
SALOMÃO – PROPRIEDADE
DJe: INTELECTUAL
27/05/2015
Decisão:
05/03/2015
Acórdão REsp GARANTIA. Sim Não
1422466 / DF HIPOTECA.
RECURSO BEM IMÓVEL.
ESPECIAL PROPRIEDADE.
2013/0383704 OUTRA. PESSOA
-0 Ministro JURÍDICA
MOURA
RIBEIRO
DJe:
13/03/2015
Decisão:
03/02/2015
Acórdão REsp CONCORRÊNCIA Não Não
1316149 / SP DESLEAL.
298
Ministro INTERVENÇÃO
PAULO DE EM CONTRATO
TARSO ALHEIO
SANSEVERIN
O
DJe:
27⁄06/2014
Decisão:
03/06/2014
Acórdão EDcl no AgRg PROTESTO Sim Sim
nos EDcl nos CONTRA
EDcl no REsp ALIENAÇÃO DE
1302959 / SP BENS.
Ministro AVERBAÇÃO.
JOÃO
OTÁVIO DE
NORONHA
DJe:
19/05/2014
Decisão:
08/05/2014
Acórdão REsp AÇÃO Sim Sim
1224007 / RJ RENOVATÓRIA.
Ministro LUIS LOCAÇÃO
FELIPE COMERCIAL.
SALOMÃO
DJe:
08/05/2014
Decisão:
24/04/2014
Acórdão REsp ARRENDAMENTO Sim Sim
1175438 / PR RURAL. VENDA E
Ministro LUIS COMPRA DO
FELIPE IMÓVEL POR
SALOMÃO TERCEIROS.
DJe:
05/05/2014
Decisão:
23/04/2014
Acórdão REsp PROVA Não Não
1342955 / RS DE EFETIVA
Ministra CONFUSÃO DO
NANCY CONSUMIDOR.
ANDRIGHI
DJe:
31/03/2014
Decisão:
18/02/2014
Acórdão REsp IMPOSSIBILIDADE Sim Sim
DE O
299
1035778 / SP USO EXCLUSIVO
Ministro DE ÁREA COMUM
MARCO (TERRAÇO)
BUZZI
DJe:
03/03/2015
Decisão:
05/12/2013

Acórdão REsp SUPRESSÃO DE Sim Não


1362456 / MS ÁREA DE
Ministro PRESERVAÇÃO
MAURO PERMANENTE
CAMPBELL FORA DAS
MARQUES HIPÓTESES
DJe: RESTRITIVAMENT
28/06/2013 E
Decisão: TRAÇADAS NA
20/06/2013 LEGISLAÇÃO
AMBIENTAL.
Acórdão REsp CONSÓRCIO. Não Não
1224160 / RS RESPONSABILIDA
Ministro DE ENTRE
RICARDO CONSORCIADOS
VILLAS BÔAS E DE
CUEVA TERCEIROS.
DJe:
14/06/2013
Decisão:
14/05/2013

Acórdão REsp ABUSO DO Sim Sim


1200112 / RJ DIREITO DE
Ministro PROPRIEDADE E
CASTRO MÁ-FÉ
MEIRA DO
DJe: PROPRIETÁRIO,
21/08/2012 QUE OFERTOU O
Decisão: BEM EM
07/08/2012 GARANTIA PARA
INGRESSO NO
REFIS.
Acórdão REsp PROVA DE QUE O Sim Sim
988915 / SP IMÓVEL
Ministro RAUL PENHORADO É O
ARAÚJO ÚNICO DE
DJe: PROPRIEDADE
08/06/2012 DO DEVEDOR.
Decisão:
15/05/2012
300
Acórdão REsp SEGURO DE Não Não
1177479 / PR AUTOMÓVEL.
Ministro LUIS APÓLICE DE
FELIPE COBERTURA
SALOMÃO CONTRA
DJe: ROUBO E FURTO.
19/06/2012
Decisão:
15/05/2012

Acórdão REsp RESPONSABILIDA Não Não


1114889 / DF DE CIVIL.
Ministro MICROSOFT.
PAULO DE SUSPEITA DE
TARSO PIRATARIA DE
SANSEVERIN SOFTWARE.
O
DJe:
30/10/2012
Decisão:
15/05/2012
Acórdão REsp AÇÃO DE BUSCA Sim Não
1287402 / PR E APREENSÃO.
Ministro ALIENAÇÃO
MARCO FIDUCIÁRIA EM
BUZZI GARANTIA.
DJe:
18/06/2013
Decisão:
03/05/2012

Acórdão REsp USUCAPIÃO. Sim Sim


941464 / SC INSTRUMENTO
Ministro LUIS QUE ATENDE AO
FELIPE REQUISITO DE
SALOMÃO JUSTO TÍTULO E
DJe: INDUZ A BOA-FÉ
24/04/2012 DO ADQUIRENTE
Decisão:
29/06/2012

Acórdão REsp CORREÇÃO Não Não


1112524 / DF MONETÁRIA.
Ministro LUIZ INEXISTÊNCIA DE
FUX PEDIDO
DJe: EXPRESSO DO
30/09/2010 AUTOR DA
Decisão: DEMANDA.
01/09/2010
301
Acórdão REsp RESTRIÇÕES Sim Não
302906 / SP URBANÍSTICO-
Ministro AMBIENTAIS
HERMAN CONVENCIONAIS
BENJAMIN ESTABELECIDAS
DJe: PELO LOTEADOR
01/12/2010
Decisão:
26/08/2010

Acórdão REsp AÇÃO Não Não


617428 / SP DISCRIMINATÓRI
Ministro A. PONTAL DO
HERMAN PARANAPANEMA.
BENJAMIN
DJe:
27/04/2011
Decisão:
26/08/2010
Acórdão REsp DANOS Sim Não
1090968 / SP AMBIENTAIS.
Ministro LUIZ AÇÃO CIVIL
FUX PÚBLICA.
DJe: RESPONSABILIDA
15/06/2010 DE DO
Decisão: ADQUIRENTE.
03/08/2010 TERRAS RURAIS.

Acórdão AgRg no AQUISIÇÃO DE Sim Sim


REsp 556478 IMÓVEL APÓS
/ SP IMPOSIÇÃO DE
Ministro LIMITAÇÃO
HERMAN ADMINISTRATIVA.
BENJAMIN
DJe:
02/02/2010
Decisão:
17/12/2009
Acórdão REsp SISTEMA Sim Sim
573806 / SP CANTAREIRA.
Ministro AQUISIÇÃO
HERMAN POSTERIOR À
BENJAMIN VIGÊNCIA DAS
DJe: NORMAS
05/05/2011
Decisão:
17/12/2009
Acórdão REsp DIREITO CIVIL. Não Não
992749 / MS FAMÍLIA E
302
Ministra SUCESSÕES.
NANCY INVENTÁRIO E
ANDRIGHI PARTILHA.
DJe:
05/02/2010
Decisão:
01/12/2009
Acórdão REsp CONTRATO DE Sim Não
1014547 / DF COMPRA E
Ministro VENDA DE
JOÃO VEÍCULO
OTÁVIO DE
NORONHA
DJe:
07/12/2009
Decisão:
25/08/2009
Acórdão AgRg nos AÇÃO DE Sim Sim
EDcl nos EDcl DESPEJO. PROVA
no Ag 704933 DA
/ SP PROPRIEDADE
Ministra OU DO
MARIA COMPROMISSO
THEREZA DE REGISTRADO.
ASSIS
MOURA
DJe:
14/09/2009
Decisão:
24/08/2009
Acórdão REsp ADMINISTRATIVO. Não Não
808708 / RJ JARDIM
Ministro BOTÂNICO DO
HERMAN RIO DE JANEIRO.
BENJAMIN BEM PÚBLICO.
DJe:
04/05/2011
Decisão:
18/08/2009
Acórdão REsp OCUPAÇÃO DE Sim Sim
945055 / DF ÁREA PÚBLICA
Ministro POR
HERMAN PARTICULARES.
BENJAMIN CONSTRUÇÃO.
DJe: BENFEITORIAS.
20/08/2009
Decisão:
02/06/2009
Acórdão REsp IMÓVEL INVADIDO Sim Sim
963499 / PR POR
303
Ministro INTEGRANTES DE
HERMAN MOVIMENTO DE
BENJAMIN FAMÍLIAS SEM-
DJe: TERRA
13/12/2009
Decisão:
19/03/2009
Acórdão REsp DEVER DO Sim Sim
613387 / MG RETENTOR DE
Ministra INDENIZAR O
NANCY PROPRIETÁRIO
ANDRIGHI COMO SE
DJe: ALUGUEL
10/12/2008 HOUVESSE.
Decisão:
02/10/2008
Acórdão REsp SINISTRO: FALTA Não Não
917356 / ES DE DEVOLUÇÃO
Ministra AO SEGURADO
NANCY DE VEÍCULO
ANDRIGHI QUE EMPRESTOU
DJe: A UM AMIGO
22/08/2008
Decisão:
17/06/2008

Acórdão AgRg no CORREÇÃO Não Não


REsp 841942 MONETÁRIA.
/ RJ POSSIBILIDADE.
Ministro LUIZ PEDIDO
FUX IMPLÍCITO.
DJe:
16/06/2008
Decisão:
13/05/2008

Acórdão REsp PARQUE Sim Sim


686410 / SP ESTADUAL DA
Ministro SERRA DO MAR.
HERMAN AQUISIÇÃO DE
BENJAMIN IMÓVEL
(1132) APÓS IMPOSIÇÃO
DJe: DE LIMITAÇÃO
11/11/2009 ADMINISTRATIVA.
Decisão:
06/11/2007
Informativo Informativo nº EMPRESA RURAL Não Não
de 0583 DE GRANDE
Período: 13 a PORTE NÃO TEM
304
Jurisprudên 26 de maio de DIREITO DE
cia 2016. PREFERÊNCIA
REsp PREVISTO NO
1.447.082-TO, ESTATUTO DA
Rel. Min. TERRA.
Paulo de
Tarso
Sanseverino,
julgado em
10/5/2016,
DJe
13/5/2016.
Informativo Informativo nº NÃO SUJEIÇÃO A Não Não
de 0578 RECUPERAÇÃO
Jurisprudên Período: 3 a JUDICIAL DE
cia 16 de março DIREITOS DE
de 2016. CRÉDITO
REsp CEDIDOS
1.412.529-SP, FIDUCIARIAMENT
Rel. Min. E.
Paulo de
Tarso
Sanseverino,
Rel. para
acórdão Min.
Marco
Aurélio
Bellizze,
julgado em
17/12/2015,
DJe 2/3/2016.
Informativo Informativo nº TERMO INICIAL Sim Sim
de 0574 DA TAXA DE
Jurisprudên Período: 26 OCUPAÇÃO DE
cia de novembro IMÓVEL
a 18 de ALIENADO
dezembro de FIDUCIARIAMENT
2015. REsp E NO ÂMBITO DO
1.401.233-RS, SFH.
Rel. Min.
Paulo de
Tarso
Sanseverino,
julgado em
17/11/2015,
DJe
26/11/2015.
Informativo Informativo nº APLICAÇÃO DE Sim Sim
de 0573 MULTAS
Período: 12 a SANCIONATÓRIA
305
Jurisprudên 25 de E MORATÓRIA
cia novembro de POR
2015. REsp INADIMPLÊNCIA
1.247.020-DF, CONDOMINIAL
Rel. Min. Luis CONTUMAZ.
Felipe
Salomão,
julgado em
15/10/2015,
DJe
11/11/2015.
Informativo Informativo nº LEGITIMIDADE Não Sim
de 0515 DO LOCADOR
Jurisprudên Período: 3 de PARA A
cia abril de 2013. PROPOSITURA
REsp DE AÇÃO DE
1.196.824-AL, DESPEJO.
Rel. Min.
Ricardo
Villas Bôas
Cueva,
julgado em
19/2/2013.
Informativo Informativo nº ITR. IMÓVEL. Não Sim
de 0411 INVASÃO.
Jurisprudên Período: 12 a MOVIMENTO
cia 16 de outubro "SEM-TERRA".
de 2009.
REsp
1.144.982-PR,
Rel. Min.
Mauro
Campbell
Marques,
julgado em
13/10/2009.
Informativo Informativo nº ITR. INVASÃO. Não Sim
de 0387 SEM-TERRAS.
Jurisprudên Período: 16 a
cia 20 de março
de 2009. .
REsp
963.499-PR,
Rel. Min.
Herman
Benjamin,
julgado em
19/3/2009.

306
Informativo Informativo nº RETENÇÃO. Sim Sim
de 0370 BENFEITORIAS.
Jurisprudên Período: 29 ALUGUEL
cia de setembro a
3 de outubro
de 2008.
REsp
613.387-MG,
Rel. Min.
Nancy
Andrighi,
julgado em
2/10/2008.
Informativo Informativo nº EMBARGOS DE Sim Sim
de 0288 DIVERGÊNCIA.
Jurisprudên Período: 12 a registrou que a
cia 16 de junho arrematante agiu
2006. EREsp com boa-fé
511.637-SP, subjetiva, confiada
Rel. Min. na venda judicial e
Hélio Quaglia no registro de
Barbosa, imóveis e atendeu
julgados em às exigências da
14/6/2006. boa-fé objetiva
Informativo Informativo nº HIPOTECA. SFH. Sim Sim
de 0210 CONSTRUÇÃO.
Jurisprudên Período: 24 a IMÓVEIS.
cia 28 de maio de ADQUIRENTE.
2004. EREsp UNIDADE
415.667-SP, AUTÔNOMA.
Rel.Min.
Castro Filho,
julgados em
26/5/2004.
Resultado final – Observações

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta “Boa-
fé objetiva e propriedade” demonstrou que:

a) em relação ao único Acórdão repetitivo encontrado, a boa-fé objetiva e a


propriedade não obtiveram relação temática.

b) em relação aos 39 (trinta e nove) Acórdãos pesquisados:


. 27 (vinte e sete) detêm relação temática
. 12 (doze) não detêm relação temática

307
Dos 27 (vinte e sete) Acórdãos que detêm relação temática:
. 21 (vinte e um) apresentaram reconhecimento da boa-fé objetiva
. 6 (seis) não apresentaram o reconhecimento da boa-fé objetiva

c) em relação aos 10 (dez) Informativos de Jurisprudências encontrados:


. 05 (cinco) detêm relação temática
. 05 (cinco) não detêm relação temática

Todos os 05 (cinco) Informativos de Jurisprudências que possuem relação temática,


também apresentaram reconhecimento da boa-fé objetiva.

308
ANEXO II – BOA-FÉ OBJETIVA E CONDOMÍNIO GERAL

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos 3 documento(s) encontrado(s)
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto tratado/ Relação Reconheciment


Documento Objeto central do Temátic o da Boa-fé
Julgamento a Objetiva

Acórdão AgRg no REsp EMPREENDIMEN Sim Sim


1006765 TO IMOBILIÁRIO
Ministro EM CONDOMÍNIO
RICARDO
VILLAS BÔAS
CUEVA
DJe:
12/05/2014
Decisão:
18/03/2014
Acórdão REsp RECONHECIMEN Sim Sim
1035778 / SP TO DA
Ministro NULIDADE DA
MARCO BUZZI ASSEMBLÉIA DE
DJe: CONDOMÍNIO
03/03/2015
Decisão:
05/12/2013

309
Acórdão REsp UTILIZAÇÃO, Sim Sim
281290 / RJ PELOS
Ministro LUIS CONDÔMINOS,
FELIPE EM
SALOMÃO CARÁTER
DJe: EXCLUSIVO, DE
13/10/2008 PARTE DE ÁREA
Decisão: COMUM
02/10/2008

Resultado final – Observações:

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta “Boa-
fé objetiva e condomínio geral” demonstrou que em relação aos 3 (três) Acórdãos
encontrados, todos apresentaram relação temática e reconhecimento da boa-fé
objetiva.

310
ANEXO III – BOA-FÉ OBJETIVA E CONDOMÍNIO EDILÍCIO

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos Nenhum documento encontrado.
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto Relação Reconhecimento


Document tratado/ Temática da Boa-fé Objetiva
o Objeto
central do
Julgamento

Resultado final – Observações

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos Repetitivos,


Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou Informativos
de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco, reconhecimento da
boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e condomínio edilício”.

311
ANEXO IV – BOA-FÉ OBJETIVA E LOTEAMENTOS FECHADOS

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos Nenhum documento encontrado.
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto tratado Relação Reconhecimento


Documento – Objeto central Temática da Boa-fé
do Julgamento Objetiva

Resultado final – Observações

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos Repetitivos,


Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou Informativos
de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco, reconhecimento da
boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e loteamentos fechados”.

312
ANEXO V – BOA-FÉ OBJETIVA E PROPRIEDADE RESOLÚVEL

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos Nenhum documento encontrado.
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto tratado Relação Reconhecimento


Documento – Objeto central Temática da Boa-fé
do Julgamento Objetiva

Resultado final – Observações

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos Repetitivos,


Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou Informativos
de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco, reconhecimento da
boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e propriedade resolúvel”.

313
ANEXO VI – BOA-FÉ OBJETIVA E EXERCÍCIO DE VIZINHANÇA

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos 2 documento(s) encontrado(s)
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Document Número do Assunto Relação Reconheciment


o Documento tratado – Temátic o da Boa-fé
Objeto central a Objetiva
do Julgamento
Acórdão REsp 302906 / LOTEAMENTO Não Não
SPMinistro CITY LAPA.
HERMAN AÇÃO CIVIL
BENJAMIN PÚBLICA.
DJe 01/12/20010 AÇÃO DE
Decisão26/08/201 NUNCIAÇÃO
0 DE OBRA
NOVA.

Acordão REsp 1096639 / VIZINHANÇA. Sim Sim


DFMinistra INSTALAÇÃO
NANCY DE
ANDRIGHI DJe EQUIPAMENT
12/02/2009 O POR
Decisão09/12/200 CONDÔMINO
8 QUE CAUSA
RUÍDO

314
Resultado final – Observações

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta “Boa-
fé objetiva e exercício de vizinhança” demonstrou que em relação aos 2 (dois)
Acórdãos encontrados, apenas 1 (um) apresenta relação temática e o
reconhecimento da boa-fé objetiva.

315
ANEXO VII – BOA-FÉ OBJETIVA E BEM DE FAMÍLIA

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos 16 documento(s) encontrado(s)
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência 4 documento(s) encontrado(s)

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto Relação Reconhecimento da


Documento tratado/ Temática Boa-fé Objetiva
Objeto central
do
Julgamento
Acórdão REsp RECURSO Sim Sim
1620710 / ESPECIAL.
GO DIREITO DE
Ministro FAMÍLIA.
RICARDO UNIÃO
VILLAS ESTÁVEL.
BÔAS PARTILHA.
CUEVA ACORDO
DJe: EXTRAJUDICI
21/03/2017 AL. ART.
Decisão: 1.575 DO
14/03/2017 CÓDIGO
CIVIL DE
2002.
HOMOLOGAÇ
ÃO EM
JUÍZO.
RENÚNCIA
TÁCITA.
ARTS. 471 E
474 DO
CÓDIGO DE
PROCESSO
CIVIL DE
1973.
PRECLUSÃO

316
CONSUMATIV
A. BOA-FÉ
OBJETIVA.
Acórdão AgRg no EMBARGOS Não Não
REsp DE TERCEIRO
1507413 / SP EM
Ministro VIRTUDE DE
MARCO AÇÃO DE
BUZZI DESPEJO E
DJe: COBRANÇA
11/09/2015 DE ALUGUÉIS
Decisão:
01/09/2015
Acórdão REsp IMPENHORAB Sim Sim
1422466 / DF ILIDADE. BEM
Ministro DE FAMÍLIA
MOURA
RIBEIRO
DJe
13/03/2015
Decisão
03/02/2015

Acórdão REsp DIREITO DE Não Não


1164887 / RS FAMÍLIA.
Ministro REGIME
RICARDO DE BENS.
VILLAS COMUNHÃO
BÔAS DE BENS.
CUEVA DOAÇÃO.
DJe:
29/04/2014
Decisão:
24/04/2014
Acórdão REsp EMBARGOS À Não Não
1365418 / SP ADJUDICAÇÃ
Ministro O-
MARCO INDICAÇÃO
BUZZI DE
DJe: BEM À
16/04/2013 PENHORA
Decisão: PELO
04/04/2013 DEVEDOR

Acórdão REsp IMPENHORAB Não Não


1313053 / DF ILIDADE DE
Ministro LUIS BEM DE
FELIPE FAMÍLIA.
SALOMÃO INVIABILIDAD
E.
317
DJe: ARREMATAÇ
15/03/2013 ÃO
Decisã: EFETUADA
04/12/2012
Acórdão REsp PROCESSUAL Sim Não
1345483 / SP CIVIL. BEM
Ministro DE FAMÍLIA.
RICARDO IMPENHORAB
VILLAS ILIDADE.
BÔAS EMBARGOS À
CUEVA ARREMATAÇ
DJe: ÃO.
16/10/2012
Decisão:
09/10/2012
Acórdão REsp BEM DE Sim Sim
1200112 / RJ FAMÍLIA.
Ministro IMPENHORAB
CASTRO ILIDADE.
MEIRA ABUSO DO
DJe: DIREITO DE
21/08/2012 PROPRIEDAD
Decisão: E E MÁ-FÉ
07/08/2012 DO
PROPRIETÁRI
O,
Acórdão REsp EXECUÇÃO. Sim Não
988915 / SP IMÓVEL. BEM
Ministro DE
RAUL FAMÍLIA.
ARAÚJO IMPENHORAB
DJe:08/06/20 ILIDADE.
12
Decisão:
15/05/2012
Acórdão HC 187156 / HABEAS Não Não
DF CORPUS.
Ministra EXECUÇÃO
LAURITA PENAL.
VAZ PACIENTE
DJe: QUE CUMPRE
07/03/2012 PENA NO
Decisão: REGIME
28/12/2012 ABERTO, EM
PRISÃO
DOMICILIAR.

Acórdão AgRg no IMÓVEL Sim Sim


REsp 709372 PENHORADO.
/ RJ Ministro
318
PAULO DE BEM DE
TARSO FAMÍLIA.
SANSEVERI
NO
DJe:
03/06/2011
Decisão:
24/05/2011
Acórdão REsp DIREITO Não Não
992749 / MS CIVIL.
Ministra FAMÍLIA E
NANCY SUCESSÕES.
ANDRIGHI RECURSO
DJe: ESPECIAL.
05/02/2010 INVENTÁRIO
Decisão: E
01/12/2009 PARTILHA.

Acórdão REsp CUBATÃO-SP. Não Não


853713 / SP DESAPROPRI
Ministro AÇÃO PARA
HERMAN RETIRADA DE
BENJAMIN FAMÍLIAS DE
DJe: ÁREA DE
27/04/2011 ALTÍSSIMA
Decisão: POLUIÇÃO
06/08/2009 AMBIENTAL E
RISCO
COMPROVAD
O À SAÚDE.
Acórdão REsp IMÓVEL Não Não
963499 / PR INVADIDO
Ministro POR
HERMAN INTEGRANTE
BENJAMIN S DE
DJe: MOVIMENTO
14/12/2009 DE
Decisão: FAMÍLIAS
19/03/2009 SEM-TERRA.
AÇÃO
DECLARATÓR
IA.

Acórdão REsp AÇÃO DE Não Não


513895 / RN RECONHECIM
Ministro ENTO E
CESAR DISSOLUÇÃO
ASFOR DE
ROCHA SOCIEDADE
DE FATO
319
DJe:
29/03/2010
Decisão:
10/06/2008
Acórdão REsp BEM DE Sim Sim
554622 / RS FAMÍLIA.
Ministro ARI PRINCÍPIO
PARGENDLE DA BOA-FÉ
R OBJETIVA.
DJe:
01/02/2006
Decisão:
17/11/2005
Informativo Informativo nº Direito de Não Não
de 0604 família. Ação
Jurisprudênci Publicação: negatória de
a 21 de junho paternidade.
de 2017. Pretensão de
REsp relativização
1.562.239- da coisa
MS, Rel. Min. julgada
Paulo de formada em
Tarso anterior
Sanseverino, demanda de
por investigação
unanimidade, de
julgado em paternidade.
9/5/2017, DJe Impossibilida
16/5/2017. de.
Informativo Informativo nº DIREITO Não Não
de 0590 CIVIL.
Jurisprudênci Período: 16 INDENIZAÇÃ
a de setembro O
a 3 de SECURITÁRIA
outubro de E ATRASO
2016. REsp NA
1.546.178- COMUNICAÇ
SP, Rel. Min. ÃO DO
Ricardo Villas SINISTRO.
Bôas Cueva,
julgado em
13/9/2016,
DJe
19/9/2016.
Informativo Informativo nº EMPRESA Não Não
de 0583 RURAL DE
Jurisprudênci Período: 13 a GRANDE
a 26 de maio PORTE NÃO
de 2016. TEM DIREITO
REsp DE
320
1.447.082- PREFERÊNCI
TO, Rel. Min. A PREVISTO
Paulo de NO
Tarso ESTATUTO
Sanseverino, DA TERRA.
julgado em
10/5/2016,
DJe
13/5/2016.
Informativo Informativo nº ITR. Não Não
de 0387 INVASÃO.
Jurisprudênci Período: 16 a SEM-
a 20 de março TERRAS.
de 2009.
REsp
963.499-PR,
Rel. Min.
Herman
Benjamin,
julgado em
19/3/2009.

Resultado final – Observações

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta “Boa-
fé objetiva e bem de família” demonstrou que:

a) Em relação aos 16 (dezesseis) Acórdãos pesquisados:


. 7 (sete) detêm relação temática
. 9 (nove) não detêm relação temática

Dos 7 (sete) Acórdãos que detêm relação temática:


. 5 (cinco) apresentaram reconhecimento da boa-fé objetiva
. 2 (onze) não apresentaram o reconhecimento da boa-fé objetiva

b) em relação 4 (quatro) Informativos de Jurisprudências encontrados, todos não


detiveram relação temática nem reconhecimento da boa-fé objetiva.

321
ANEXO VIII – BOA-FÉ OBJETIVA E DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos 2 documento(s) encontrado(s)
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Document Número do Assunto tratado Relação Reconheciment


o Documento – Objeto central Temátic o da Boa-fé
do Julgamento a Objetiva
Acórdão REsp PROMESSA DE Sim Sim
941464 / COMPRA E
SC Ministro LUIS VENDA.
FELIPE INSTRUMENTO
SALOMÃO QUE ATENDE
DJe: 29/06/2012 AO REQUISITO
Decisão: 24/04/20 DE
12 JUSTO TÍTULO E
INDUZ A BOA-FÉ
DO
ADQUIRENTE

Acórdão REsp 617045 / GO INSTITUIÇÃO DE Sim Sim


Ministro LUIS ÔNUS REAL
FELIPE SOBRE O
SALOMÃO IMÓVEL, SEM O
DJ17/12/2004 p. CONSENTIMENT
539 O DO
Decisão: 28/10/20 PROMITENTE-
04 COMPRADOR

Resultado final – Observações

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta “Boa-
fé objetiva e promitente comprador” demonstrou que ambos os Acórdãos possuem
relação temática e reconhecimento da boa-fé objetiva.

322
ANEXO IX – BOA-FÉ OBJETIVA E SUPERFÍCIE

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos Nenhum documento encontrado.
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto Relação Reconhecimento


Documento tratado – Temática da Boa-fé
Objeto central Objetiva
do
Julgamento

Resultado final – Observações

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos Repetitivos,


Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou Informativos
de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco, reconhecimento da
boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e superfície”.

323
ANEXO X – BOA-FÉ OBJETIVA E ENFITEUSE

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos 1 documento(s) encontrado(s)
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Document Número do Assunto Relação Reconheciment


o Documento tratado – Temátic o da Boa-fé
Objeto central a Objetiva
do
Julgamento
Acórdão AgRg no REsp BOA-FÉ Sim Sim
1177616 / RJ OBJETIVA.
Ministro RAUL REGISTRO DE
ARAÚJO AFORAMENTO
DJe: 27/05/2013 .
Decisão: 23/04/201
3

Resultado final – Observações

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta


verifica que o único resultado obteve relação temática e reconhecimento da boa-fé
objetiva quanto a “Boa-fé objetiva e enfiteuse”.

324
ANEXO XI – BOA-FÉ OBJETIVA E SERVIDÕES

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos Nenhum documento encontrado.
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto tratado Relação Reconhecimento


Documento – Objeto central Temática da Boa-fé Objetiva
do Julgamento

Resultado final – Observações

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos Repetitivos,


Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou Informativos
de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco, reconhecimento da
boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e servidões”.

325
ANEXO XII – BOA-FÉ OBJETIVA E USUFRUTO

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos 2 documento(s) encontrado(s)
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto tratado Relação Reconhecimento


Documento – Objeto central Temática da Boa-fé
do Julgamento Objetiva
Acórdão REsp ICMS – Não Não
1119205 / DIFERIMENTO
MG Ministra RESPONSABILI
ELIANA DADE
CALMON SUBSIDIÁRIA
DJe DO ALIENANTE
15/12/2009
Decisão
03/12/2009
Acórdão AgRg no IMÓVEL Sim Sim
AgRg no Ag LOCADO PELO
610607 / MG NU-
Ministra PROPRIETÁRIO
MARIA . BOA-FÉ
THEREZA OBJETIVA.
DE ASSIS
MOURA
DJe
17/08/2009
Decisão
25/06/2009

326
Resultado final – Observações

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta,


verifica que de 2 (dois) resultados apresentados, apenas um obteve relação
temática e o reconhecimento da boa-fé em relação ao tema: “Boa-fé objetiva e
usufruto”.

327
ANEXO XIII – BOA-FÉ OBJETIVA E USO

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos 41 documento(s) encontrado(s)
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência 10 documento(s) encontrado(s)

Indicadores – Julgados do STJ

Document Número do Assunto tratado Relação Reconhecim


o Documento – Objeto central Temática ento da Boa-
do Julgamento fé Objetiva
Acórdão REsp 1520995 / RECURSO Não Não
SP Ministro ESPECIAL. CIVIL
PAULO DE E PROCESSUAL
TARSO CIVIL.
SANSEVERINO CONTRATO
DJe 22/06/2017 VERBAL
Decisão: ATÍPICO.
13/06/2017 USO DO NOME
DE
ECONOMISTA
POR EMPRESA.
DESCABIMENTO
.
COMPORTAMEN
TO
DESINTERESSA
DO DO
ECONOMISTA.
EXPECTATIVA
LEGÍTIMA DA
CONTRAPARTE.
EXTINÇÃO DO
DIREITO DE
EXIGIR
CONTRAPREST
AÇÃO. BOA-FÉ
OBJETIVA.
'SUPPRESSIO'.
Acórdão EDcl no REsp EMBARGOS DE Não Não
1606781 / RJ DECLARAÇÃO

328
Ministro NO RECURSO
RICARDO ESPECIAL.
VILLAS BÔAS CONCORRÊNCI
CUEVA DJe A DESLEAL.
02/02/2017 DESVIO DE
Decisão: CLIENTELA.
13/12/2016
Acórdão REsp 1464975 / RECURSO Não Não
PR Ministra ESPECIAL.
NANCY AÇÃO
ANDRIGHI DJe ANULATÓRIA
14/12/2016 DE REGISTRO.
Decisão: MARCA.
01/12/2016 DIREITO DE
PRECEDÊNCIA.
Acórdão REsp 1391271 / ADMINISTRATIV Sim Sim
RJ Ministro O. DIREITO A
HERMAN CIDADE
BENJAMIN DJe: SUSTENTÁVEL.
28/09/2016 LOTEAMENTO.
Decisão: MEMORIAL.
03/11/2015 ESPAÇO LIVRE.
ESTACIONAMEN
TO. BEM
PÚBLICO. BOA-
FÉ OBJETIVA.
Acórdão REsp 1241630 / ADMINISTRATIV Sim Não
PR Ministro O. DIREITO
HERMAN AMBIENTAL.
BENJAMIN ÁREA DE
DJe: 19/04/2017 PRESERVAÇÃO
Decisão: PERMANENTE -
23/06/2015 APP. RIO
SANTO
ANTÔNIO.
LIMITAÇÃO
ADMINISTRATIV
A.
INEXISTÊNCIA
DE
DIREITO À
INDENIZAÇÃO.
DANOS
AMBIENTAIS.
OBRIGAÇÃO
PROPTER REM.
PRAZO
PRESCRICIONA
L. VACATIO

329
LEGIS NÃO SE
PRESUME.
Acórdão REsp 1349188 / CONTRATOS Não Não
RJ Ministro BANCÁRIOS.
LUIS FELIPE CONFECÇÃO
SALOMÃO NO MÉTODO
DJe 22/06/2016 BRAILLE.
Decisão
10/05/2016
Acórdão AgRg no HC ASSISTÊNCIA Não Não
339782 / ES EM HABEAS
Ministro CORPUS.
ROGERIO INVIABILIDADE.
SCHIETTI DENUNCIAÇÃO
CRUZ CALUNIOSA.
DJe 12/05/2016
Decisão
03/05/2016
Acórdão REsp 1380630 / DIREITOS Não Não
RJ Ministro AUTORAIS.
LUIS FELIPE O ESTRANHO
SALOMÃO NÃO TEM
DJe 27/10/2015 DIREITO DE
Decisão USO SOBRE A
13/10/2015 OBRA AUTORAL.

Acórdão Rcl 3904 / RJ RECLAMAÇÃO Não Não


Ministro PREVALÊNCIA
LEOPOLDO DE DAQUELA QUE
ARRUDA PRESERVA A
RAPOSO LIVRE
DJe 15/09/2015 MANIFESTAÇÃO
Decisão DA VONTADE
24/06/2015 DOS
TRANSATORES
EO
PRINCÍPIO DA
BOA-FÉ
OBJETIVA

Acórdão REsp 1365609 / RESPONSABILID Não Não


SP Ministro ADE OBJETIVA.
LUIS FELIPE USO DA MARCA.
SALOMÃO LEGÍTIMA
DJe 25/05/2015 EXPECTATIVA
Decisão DO
28/04/2015 CONSUMIDOR

Acórdão REsp 1237752 / AÇÃO DE Não Não


PR Ministro OBRIGAÇÃO DE
330
LUIS FELIPE FAZER C/C
SALOMÃO REPARAÇÃO DE
DJe 27/05/2015 DANOS
Decisão - USO DE
05/03/2015 VOCÁBULO
"CURITIBA",
INTEGRANTE DE
MARCA MISTA
DEVIDAMENTE
REGISTRADA
NO INSTITUTO
NACIONAL DE
PROPRIEDADE
INDUSTRIAL
(INPI),

Acórdão REsp 1224007 / LOCAÇÕES. Não Não


RJ Ministro AÇÃO
LUIS FELIPE RENOVATÓRIA.
SALOMÃO LOCAÇÃO
DJe 08/05/2014 COMERCIAL.
Decisão CONAB. IMÓVEL
24/04/2014 DE EMPRESA
PÚBLICA.

Acórdão REsp 1203153 / CONTRATO DE Não Não


SP Ministro PRESTAÇÃO DE
PAULO DE SERVIÇOS E
TARSO CESSÃO DO
SANSEVERINO USO DA
DJe 25/08/2014 IMAGEM E VOZ
Decisão COM CLÁUSULA
03/06/2014 DE
EXCLUSIVIDADE
.

Acórdão REsp 1175438 / ARRENDAMENT Não Sim


PR Ministro O RURAL.
LUIS FELIPE VENDA E
SALOMÃO COMPRA DO
DJe 05/05/2014 IMÓVEL POR
Decisão TERCEIROS.
25/03/2014 FALTA DE
NOTIFICAÇÃO
AO
ARRENDATÁRIO
.

331
Acórdão REsp 1035778 / PRETENSÃO DE Não Sim
SP Ministro ANULAR
MARCO BUZZI ASSEMBLÉIA
DJe 03/03/2015 CONDOMINIAL
Decisão QUE,
05/12/2013 POR MAIS DE
DOIS TERÇOS
DOS VOTOS,
EXPLICITOU A
IMPOSSIBILIDAD
E DE O
USO
EXCLUSIVO DE
ÁREA COMUM
(TERRAÇO)

Acórdão AgRg no AREsp DESERÇÃO. Não Não


249395 / SC COMPROVAÇÃO
Ministro PAULO DE PAGAMENTO
DE TARSO DE
SANSEVERINO CONTA/TRIBUT
DJe 25/02/2014 O. NÃO
Decisão ACEITAÇÃO DO
12/11/2013 COMPROVANTE
EXTRAÍDO DA
INTERNET.

Acórdão AgRg no AREsp COMPROVAÇÃO Não Não


274631 / SC DE PAGAMENTO
Ministro PAULO DE
DE TARSO CONTA/TRIBUT
SANSEVERINO O. NÃO
DJe 28/02/2014 ACEITAÇÃO DO
Decisão COMPROVANTE
12/11/2013 EXTRAÍDO DA
INTERNET. E

Acórdão REsp 1362456 / INVIABILIDADE. Não Não


MS Ministro AUSÊNCIA DE
MAURO LICENÇA
CAMPBELL AMBIENTAL
MARQUES PRÉVIA VÁLIDA.
DJe 28/06/2013 NORMAS
Decisão AMBIENTAIS.
20/06/2013
Acórdão REsp 1358615 / FATO DO Não Não
SP Ministro PRODUTO.
LUIS FELIPE DERMATITE
SALOMÃO DE CONTATO.
DJe 01/07/2013 MAU USO DO
332
Decisão PRODUTO.
02/05/2013 CULPA
EXCLUSIVA DA
VÍTIMA.

Acórdão REsp 1324432 / ANDAMENTO Não Não


SC Ministro PROCESSUAL
HERMAN DISPONIBILIZAD
BENJAMIN O PELA
DJe 10/05/2013 INTERNET.
Decisão CONTAGEM DE
17/12/2012 PRAZO. BOA-FÉ.

Acórdão REsp 984106 / AÇÃO DE Não Não


SC Ministro COBRANÇA
LUIS FELIPE AJUIZADA PELO
SALOMÃO FORNECEDOR.
DJe 20/11/2012 VÍCIO DO
Decisão PRODUTO.
04/10/2012 MANIFESTAÇÃO
FORA DO
PRAZO DE
GARANTIA.

Acórdão REsp 1200112 / EXCLUSÃO. Não Não


RJ Ministro EXECUÇÃO DA
CASTRO GARANTIA.
MEIRA PENHORA.
DJe 21/08/2012 INAPLICABILIDA
Decisão DE DA REGRA
07/08/2012 PROTETIVA.

Acórdão REsp 1124506 / SERVIDÃO DE Não Sim


RJ Ministra ÁGUA.
NANCY EXTINÇÃO PELA
ANDRIGHI AUTOSSUFICIÊN
DJe 14/11/2012 CIA
Decisão EM CAPTAÇÃO
19/06/2012 DA ÁGUA PELO
PRÉDIO
DOMINANTE,
POR FONTE
INDEPENDENTE.

Acórdão REsp 1013976 / EXECUÇÃO DE Não Não


SP Ministro CONTRATO
LUIS FELIPE INTERPRETAÇÃ
SALOMÃO O QUE
DJe 29/05/2012 PRIVILEGIA A

333
Decisão INTENÇÃO DOS
17/05/2012 CONTRATANTE
S, A BOA-FÉ
OBJETIVA E OS
USOS E
COSTUMES.

Acórdão REsp 1177479 / SEGURO DE Não Não


PR Ministro AUTOMÓVEL.
LUIS FELIPE APÓLICE DE
SALOMÃO COBERTURA
DJe 19/06/2012 CONTRA
Decisão ROUBO E
15/05/2012 FURTO.
VEÍCULO
UTILIZADO POR
EMPREGADO
DA EMPRESA
SEGURADA.

Acórdão REsp 1287402 / AÇÃO DE Não Não


PR Ministro BUSCA E
MARCO BUZZI APREENSÃO.
DJe 18/06/2013 ALIENAÇÃO
Decisão FIDUCIÁRIA EM
03/05/2012 GARANTIA.

Acórdão REsp 877965 / PREVIDÊNCIA Não Não


SP Ministro PRIVADA.
LUIS FELIPE PLANO DE
SALOMÃO PECÚLIO POR
DJe 01/02/2012 MORTE.
Decisão NATUREZA DO
22/11/2011 CONTRATO.
SEGURO DE
VIDA.

Acórdão REsp 1051270 / CONTRATO DE Não Não


RS Ministro ARRENDAMENT
LUIS FELIPE O MERCANTIL
SALOMÃO PARA
DJe 05/09/2011 AQUISIÇÃO DE
Decisão VEÍCULO
04/08/2011 (LEASING).

Acórdão REsp 1181643 / ORDEM Não Não


RS Ministro ECONÔMICA.
HERMAN PORTOS.
BENJAMIN TARIFA DE
DJe 20/05/2011 ARMAZENAGEM.
334
Decisão CARGA PÁTIO.
01/03/2011 COBRANÇA
ABUSIVA
PRINCÍPIO DA
BOA-FÉ
OBJETIVA.

Acórdão REsp 302906 / AÇÃO DE Não Não


SP Ministro NUNCIAÇÃO DE
HERMAN OBRA
BENJAMIN NOVA.
DJe 01/12/2010 RESTRIÇÕES
Decisão URBANÍSTICO-
26/08/2010 AMBIENTAIS
CONVENCIONAI
S
ESTABELECIDA
S
PELO
LOTEADOR.

Acórdão REsp 776790 / CONTRATOS Não Não


AC Ministro ADMINISTRATIV
MAURO OS. AUMENTO
CAMPBELL DE ENCARGOS
MARQUES TRIBUTÁRIOS E
DJe 28/10/2009 TRABALHISTAS.
Decisão TEORIA DA
15/10/2009 IMPREVISÃO.

Acórdão REsp 830526 / EMBARGOS DO Não Não


RJ Ministra DEVEDOR.
NANCY EXECUÇÃO DE
ANDRIGHI HONORÁRIOS
DJe 29/10/2009 ADVOCATÍCIOS
Decisão CONTRATUAIS.
03/09/2009
Acórdão REsp 808708 / JARDIM Não Não
RJ Ministro BOTÂNICO DO
HERMAN RIO DE
BENJAMIN JANEIRO. BEM
DJe 04/05/2011 PÚBLICO.
Decisão DECRETO-LEI
18/08/2009 9.760/46
PATRIMÔNIO
HISTÓRICO E
ARTÍSTICO
NACIONAL.

335
Acórdão REsp 853713 / O ATO Não Sim
SP Ministro EXPROPRIATÓR
HERMAN IO PREVIA A
BENJAMIN CRIAÇÃO DE
DJe 27/04/2011 "PARQUE
Decisão: 06/08/ ECOLÓGICO",
2009 MAS O
MUNICÍPIO,
APESAR DE
MANTER O
DOMÍNIO DO
IMÓVEL, CEDEU
SEU USO
PARA
IMPLANTAÇÃO
DE CENTRO DE
PESQUISAS,
PARQUE
INDUSTRIAL E
TERMINAL DE
CARGAS.

Acórdão REsp 963499 / PERDA Não Não


PR Ministro ANTECIPADA DA
HERMAN POSSE SEM O
BENJAMIN DEVIDO
DJe 14/12/2009 PROCESSO DE
Decisão: 19/03/ DESAPROPRIAÇ
2009 ÃO.

Acórdão REsp 1096639 / CONDOMÍNIO Não Não


DF Ministra COMERCIAL
NANCY QUE ADMITE
ANDRIGHI UTILIZAÇÃO
DJe 12/02/2009 MISTA DE SUAS
Decisão UNIDADES
09/12/2008 AUTÔNOMAS.
INSTALAÇÃO DE
EQUIPAMENTO
POR
CONDÔMINO
QUE CAUSA
RUÍDO.

Acórdão REsp 281290 / É POSSÍVEL A Não Sim


RJ Ministro UTILIZAÇÃO,
LUIS FELIPE PELOS
SALOMÃO CONDÔMINOS,
DJe 13/10/2008 EM

336
Decisão CARÁTER
02/10/2008 EXCLUSIVO, DE
PARTE DE ÁREA
COMUM,
QUANDO
AUTORIZADOS
POR
ASSEMBLÉIA
GERAL, NOS
TERMOS DO
ART. 9º, § 2º, DA
LEI Nº 4.591/64.

Acórdão REsp 613387 / POSSE DE BOA- Não Sim


MG Ministra FÉ. DIREITO DE
NANCY RETENÇÃO QUE
ANDRIGHI SE TORNAR
DJe 10/12/2008 IRREGULAR
Decisão: 02/10/ COM O USO DA
2008 COISA.

Acórdão REsp 650728 / NATUREZA Não Não


SC Ministro JURÍDICA DOS
HERMAN MANGUEZAIS E
BENJAMIN MARISMAS.
DJe 02/12/2009 TERRENOS DE
Decisão MARINHA. ÁREA
23/10/2007 DE
PRESERVAÇÃO
PERMANENTE.
ATERRO ILEGAL
DE LIXO. DANO
AMBIENTAL.

Acórdão REsp 586316 / NORMAS DE Não Não


MG Ministro PROTEÇÃO E
HERMAN DEFESA
BENJAMIN DO
DJe 19/03/2009 CONSUMIDOR.
Decisão ORDEM
17/04/2007 PÚBLICA E
INTERESSE
SOCIAL.
PRINCÍPIO DA
VULNERABILIDA
DE DO
CONSUMIDOR.
PRINCÍPIO DA
TRANSPARÊNCI
A. PRINCÍPIO
337
DA BOA-FÉ
OBJETIVA.

Acórdão AgRg na MC CADASTRO DE Não Não


10015 / DF PROTEÇÃO AO
Ministro ARI CRÉDITO.
PARGENDLER INSCRIÇÃO.
DJ 22/08/2005
p. 258
Decisão
02/08/2005
Acórdão REsp 325870 / ÁREA COMUM. Não Sim
RJ Ministro UTILIZAÇÃO
HUMBERTO EXCLUSIVA.
GOMES DE USO
BARROS PROLONGADO.
DJ 20/09/2004 AUTORIZAÇÃO
p. 280 DA ASSEMBLÉIA
Decisão CONDOMINIAL.
14/06/2004 PRINCÍPIO DA
BOA-FÉ
OBJETIVA.

Informativo Informativo nº DIREITO CIVIL. Não Não


de 0583 EMPRESA
Jurisprudên Período: 13 a RURAL DE
cia 26 de maio de GRANDE PORTE
2016. REsp NÃO TEM
1.447.082-TO, DIREITO DE
Rel. Min. Paulo PREFERÊNCIA
de Tarso PREVISTO NO
Sanseverino, ESTATUTO DA
julgado em TERRA.
10/5/2016, DJe
13/5/2016.
Informativo Informativo nº PROTESTO POR Não Não
de 0579 TABELIONATO
Jurisprudên Período: 17 de DE COMARCA
cia março a 1º de DIVERSA DO
abril de 2016. DOMICÍLIO DO
REsp DEVEDOR E
1.398.356-MG, ESGOTAMENTO
Rel. Min. Paulo DOS MEIOS DE
de Tarso LOCALIZAÇÃO
Sanseverino, PARA A
Rel. para INTIMAÇÃO DO
acórdão Min. DEVEDOR POR
Luis Felipe EDITAL
Salomão,
Segunda
338
Seção, julgado
em 24/2/2016,
DJe 30/3/2016.
Informativo Informativo nº DIREITO DO Não Não
de 0524 CONSUMIDOR.
Jurisprudên Período: 28 de VÍCIO DE
cia agosto de 2013. QUANTIDADE
REsp DE PRODUTO
1.364.915-MG, NO CASO DE
Rel. Min. REDUÇÃO DO
Humberto VOLUME DE
Martins, MERCADORIA.
julgado em
14/5/2013.
Informativo Informativo nº DIREITO DO Não Não
de 0524 CONSUMIDOR.
Jurisprudên Período: 28 de VIOLAÇÃO DO
cia agosto de 2013. DEVER DE
REsp INFORMAÇÃO
1.358.615-SP, PELO
Rel. Min. Luis FORNECEDOR.
Felipe
Salomão,
julgado em
2/5/2013
Informativo Informativo nº DIREITO DO Não Não
de 0506 CONSUMIDOR.
Jurisprudên Período: 4 a 17 VÍCIO OCULTO.
cia de outubro de DEFEITO
2012. REsp MANIFESTADO
984.106-SC, APÓS O
Rel. Min. Luis TÉRMINO DA
Felipe GARANTIA
Salomão, CONTRATUAL.
julgado em OBSERVÂNCIA
4/10/2012. DA VIDA ÚTIL
DO PRODUTO.
Informativo Informativo nº ARRENDAMENT Não Não
de 0500 O MERCANTIL.
Jurisprudên Período: 18 a 29REINTEGRAÇÃO
cia de junho de DE POSSE.
2012. REsp ADIMPLEMENTO
1.200.105-AM, SUBSTANCIAL
Rel. Min. Paulo
de Tarso
Sanseverino,
julgado em
19/6/2012.
Informativo Informativo nº PREVIDÊNCIA Não Não
de 0488 PRIVADA.
339
Jurisprudên Período: 21 de PECÚLIO.
cia novembro a 2 MORA.
de dezembro de CANCELAMENT
2011. REsp O
877.965-SP,
Rel. Min. Luis
Felipe
Salomão,
julgado em
22/11/2011.
Informativo Informativo nº ITR. IMÓVEL. Não Sim
de 0411 INVASÃO.
Jurisprudên Período: 12 a 16 MOVIMENTO
cia de outubro de "SEM-TERRA".
2009. REsp
1.144.982-PR,
Rel. Min. Mauro
Campbell
Marques,
julgado em
13/10/2009.
Informativo Informativo nº ITR. INVASÃO. Não Sim
de 0387 SEM-TERRAS.
Jurisprudên Período: 16 a 20
cia de março de
2009. REsp
963.499-PR,
Rel. Min.
Herman
Benjamin,
julgado em
19/3/2009.
Informativo Informativo nº RETENÇÃO. Não Sim
de 0370 BENFEITORIAS.
Jurisprudên Período: 29 de ALUGUEL
cia setembro a 3 de
outubro de
2008. REsp
613.387-MG,
Rel. Min.
Nancy
Andrighi,
julgado em
2/10/2008.

340
Resultado final – Observações

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta, “Boa-
fé objetiva e uso” demonstrou que:

a) Em relação aos 41 (quarenta e um) Acórdãos pesquisados:


. 2 (dois) detêm relação temática
. 39 (trinta e nove) não detêm relação temática

Dos 2 (dois) Acórdãos que detêm relação temática, somente um deles aplica a boa-
fé objetiva.

341
ANEXO XIV – BOA-FÉ OBJETIVA E HABITAÇÃO

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos 10 documento(s) encontrado(s).
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência 2 documento(s) encontrado(s).

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto tratado – Relação Reconheciment


Documento Objeto central do Temátic o da Boa-fé
Julgamento a Objetiva
Acórdão REsp 1376199 ADMINISTRATIVO. Não Não
/ SP Ministro AMBIENTAL.
HERMAN AÇÃO CIVIL
BENJAMIN PÚBLICA.
DJe: RECURSOS
07/11/2016 HÍDRICOS.
Decisão: PRIORIDADE
19/08/2014 DO
ABASTECIMENTO
PÚBLICO. LEI
9.433/1997.

Acórdão REsp 1401233 SISTEMA Não Não


/ RS Ministro FINANCEIRO DA
PAULO DE HABITAÇÃO -
TARSO SFH.
SANSEVERIN REINTEGRAÇÃO
O DJe DE POSSE. TAXA
26/11/2015 DE OCUPAÇÃO
Decisão
17/11/2015
Acórdão REsp 1216853 SISTEMA Não Não
/ PR Ministro FINANCEIRO DE
LUIS FELIPE HABITAÇÃO.
SALOMÃO VIOLAÇÃO AO
DJe ART.
23/11/2015 535 DO CPC. NÃO
OCORRÊNCIA.
342
Decisão
05/11/2015
Acórdão REsp 1080678 SISTEMA Não Não
/ SC Ministro FINANCEIRO DA
SIDNEI HABITAÇÃO.
BENETI DJe PRIMEIRO
15/10/2010 RECURSO.
Decisão
07/10/2010
Acórdão REsp 853713 / DESAPROPRIAÇÃ Não Não
SP Ministro O PARA
HERMAN RETIRADA DE
BENJAMIN FAMÍLIAS DE
DJe ÁREA DE
27/04/2011 ALTÍSSIMA
Decisão POLUIÇÃO
06/08/2009 AMBIENTAL
Acórdão REsp 972890 / SISTEMA Não Não
DF Ministro FINANCEIRO DE
LUIZ FUX DJe HABITAÇÃO
17/08/2009 (SFH).
Decisão COBRANÇA
16/06/2009 INDEVIDA DE
PARCELA
Acórdão REsp 468062 / SISTEMA Não Não
CE Ministro FINANCEIRO DA
HUMBERTO HABITAÇÃO -
MARTINS DJe FCVS - CAUÇÃO
01/12/2008 DE TÍTULOS
Decisão
11/11/2008

Acórdão REsp 908835 / SISTEMA Não Não


SP Ministra FINANCEIRO DA
NANCY HABITAÇÃO.
ANDRIGHI COMPRA E
DJe VENDA DE
20/06/2008 IMÓVEL
Decisão
27/05/2008

Acórdão REsp 554622 / CIVIL. BEM DE Não Não


RS Ministro FAMÍLIA. LEI Nº
ARI 8.009, DE 1990.
PARGENDLE
R DJ
01/02/2006 p.
527 Decisão
17/11/2005

343
Acórdão REsp 617045 / SFH. CONTRATO Não Não
GO Ministro DE
CASTRO FINANCIAMENTO.
FILHO DJ UNIDADE DE
17/12/2004 p. APARTAMENTOS.
539 Decisão
28/10/2004

Informativo Informativo nº DIREITO CIVIL. Não Não


de 0574 TERMO INICIAL
Jurisprudênci Período: 26 de DA TAXA DE
a novembro a 18 OCUPAÇÃO DE
de dezembro IMÓVEL
de 2015. REsp ALIENADO
1.401.233-RS, FIDUCIARIAMENT
Rel. Min. E NO ÂMBITO DO
Paulo de SFH.
Tarso
Sanseverino,
julgado em
17/11/2015,
DJe
26/11/2015.
Informativo Informativo nº HIPOTECA. SFH. Não Não
de 0210 CONSTRUÇÃO.
Jurisprudênci Período: 24 a IMÓVEIS.
a 28 de maio de ADQUIRENTE.
2004 UNIDADE
AUTÔNOMA

Resultado final – Observações

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta, “Boa-
fé objetiva e habitação” demonstrou que em relação aos 10 (dez) Acórdãos
pesquisados, assim como os 2 (dois) Informativos de Jurisprudências encontrados,
nenhum obteve relação temática.

344
ANEXO XV – BOA-FÉ OBJETIVA E PENHOR

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos Nenhum documento encontrado.
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto tratado Relação Reconhecimento


Documento – Objeto central Temática da Boa-fé
do Julgamento Objetiva

Resultado final – Observações

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos Repetitivos,


Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou
Informativos de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco,
reconhecimento da boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e penhor”.

345
ANEXO XVI – BOA-FÉ OBJETIVA E HIPOTECA

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos 11 documento(s) encontrado(s)
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência 1 documento(s) encontrado(s).

Indicadores – Julgados do STJ

Document Número do Assunto Relação Reconhecime


o Documento tratado – Temátic nto da Boa-fé
Objeto central a Objetiva
do
Julgamento
Acórdão REsp 1478814 / DF RECURSO Sim Sim
Ministro PAULO DE ESPECIAL.
TARSO CIVIL E
SANSEVERINO PROCESSUAL
DJe: 15/12/2016 CIVIL
Decisão: 06/12/2016 (CPC/1973).
INCORPORAÇ
ÃO
IMOBILIÁRIA.
ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA
EM
GARANTIA.
UNIDADE
HABITACIONA
L
JÁ QUITADA.
APLICAÇÃO
DA SÚMULA
308/STJ.
MATÉRIA
AFETADA AO
RITO DOS
RECURSOS
ESPECIAIS
REPETITIVOS.
TEMA 573.

346
VIOLAÇÃO À
BOA-FÉ
OBJETIVA
E À FUNÇÃO
SOCIAL DO
CONTRATO.
INEFICÁCIA
DA GARANTIA
PERANTE O
ADQUIRENTE.
Acórdão REsp 1216853/PR ( HIPOTECA Sim Sim
ACÓRDÃO) Ministro FIRMADA
LUIS FELIPE ENTRE A
SALOMÃO DJe CONSTRUTOR
23/11/2015 Decisão: A E O AGENTE
05/11/2015 FINANCEIRO

Acórdão REsp 1422466 / DF GARANTIA. Sim Sim


Ministro MOURA HIPOTECA.
RIBEIRO DJe BEM IMÓVEL.
13/03/2015 Decisão PROPRIEDAD
03/02/2015 E. OUTRA.
PESSOA
JURÍDICA
Acórdão REsp 1046453 / RJ CONFISSÃO Sim Sim
Ministro RAUL DE DÍVIDA
ARAÚJO FEITA POR
DJe 01/07/2013 MEIO DE
Decisão: 25/06/2013 INSTRUMENT
O PÚBLICO
DE
ESCRITURA
DE MÚTUO
COM
GARANTIA
HIPOTECÁRIA.

Acórdão REsp 1313053 / DF EXECUÇÃO. Não Não


Ministro LUIS PROCESSO
FELIPE SALOMÃO QUE TRAMITA
DJe 15/03/2013 POR CONTA E
Decisão 04/12/2012 RISCO DO
EXEQUENTE.
Acórdão REsp 1200112 / RJ ABUSO DO Sim Sim
Ministro CASTRO DIREITO DE
MEIRA PROPRIEDAD
DJe 21/08/2012 E E MÁ-FÉ
Decisão: 07/08/2012 DO
PROPRIETÁRI
O, QUE
347
OFERTOU O
BEM EM
GARANTIA
PARA
INGRESSO NO
REFIS.

Acórdão REsp 988915 / SP EXECUÇÃO. Não Não


Ministro RAUL IMÓVEL. BEM
ARAÚJO DJe DE
08/06/2012 Decisão FAMÍLIA.
15/05/2012 IMPENHORABI
LIDADE.
Acórdão REsp 941464 / SC HIPOTECA Sim Sim
Ministro LUIS CONSTITUÍDA
FELIPE SALOMÃO PELO
DJe 29/06/2012 VENDEDOR
Decisão 24/04/2012 EM GARANTIA
DO
FINANCIAMEN
TO DA OBRA.

Acórdão REsp 972890 / DF SISTEMA Não Não


Ministro LUIZ FUX FINANCEIRO
DJe 17/08/2009 DE
Decisão 16/06/2009 HABITAÇÃO
(SFH).
COBRANÇA
INDEVIDA DE
PARCELA
RELATIVA AO
FUNDO DE
COMPENSAÇ
ÃO
Acórdão REsp 591917 / GO EFEITOS DA Sim Sim
Ministra NANCY HIPOTECA.
ANDRIGHI TERCEIRO
DJ 01/02/2005 p. ADQUIRENTE.
546
Decisão 16/12/2004

Acórdão REsp 617045 / GO HIPOTECA Sim Não


Ministro CASTRO CONSTITUÍDA
FILHO SOBRE
DJ 17/12/2004 p. IMÓVEL JÁ
539 PROMETIDO À
Decisão 28/10/2004 VENDA E
QUITADO.

348
Informativo Informativo n. HIPOTECA. Sim Sim
de 0210Período: 24 a SFH.
Jurisprudên 28 de maio de 2004. CONSTRUÇÃ
cia O. IMÓVEIS.
ADQUIRENTE.
UNIDADE
AUTÔNOMA

Resultado final – Observações

O resultado obtido por meio da pesquisa nos moldes da metodologia proposta “Boa-
fé objetiva e hipoteca” demonstrou que:

a) em relação aos 11 (onze) Acórdãos pesquisados:


. 8 (oito) detêm relação temática
. 3 (três) não detêm relação temática

Dos 8 (oito) Acórdãos que detêm relação temática:


. 7 (sete) apresentaram reconhecimento da boa-fé objetiva
. 1 (um) não apresentou o reconhecimento da boa-fé objetiva

b) em relação ao único Informativo de Jurisprudência encontrado, este apresentou


relação temática e reconhecimento da boa-fé objetiva.

349
ANEXO XVII – BOA-FÉ OBJETIVA E ANTICRESE

Resultado – Julgados do STJ

Acórdãos de Repetitivos Nenhum documento encontrado.


Súmulas Nenhum documento encontrado.
Acórdãos Nenhum documento encontrado.
Decisões de Afetação (Recursos Nenhum documento encontrado.
Repetitivos)
Decisões Monocráticas Nenhum documento encontrado.
Informativos de Jurisprudência Nenhum documento encontrado.

Indicadores – Julgados do STJ

Documento Número do Assunto tratado Relação Reconhecimento


Documento – Objeto central Temática da Boa-fé
do Julgamento Objetiva

Resultado final – Observações

Nos moldes da metodologia proposta, verificou não haver Acórdãos Repetitivos,


Súmulas, Acórdãos, Decisões de Afetação, Decisões Monocráticas, ou Informativos
de Jurisprudência que detenham relação temática, tampouco reconhecimento da
boa-fé objetiva quanto ao tema “Boa-fé objetiva e anticrese”.

350

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