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FACULDADE DE DIREITO
Nampula, 2022
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO
Nampula, 2022
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO
Ficha de avaliação
Resultados__________________________ valores
Membros do Júri________________________________________________________
Presidente______________________________________________________________
Supervisora_____________________________________________________________
Examinador_____________________________________________________________
Estudante_______________________________________________________________
DECLARAÇÃO
Declaro que o presente trabalho é o resultado da minha investigação pessoal e das orientações da
minha supervisora, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho nunca foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.
__________________________________________________________
i
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família
ii
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao senhor omnipotente pela forca e energia que me concede todos os dias da minha
vida e pelo dom de ter-me posto nesta terra.
Agradeço grandiosamente aos meus pais, meus irmãos e especialmente ao meu filho Aivaldino
por terem-me dado a força, acompanhamento e principalmente assistência moral durante todo
processo de ensino e aprendizagem.
Em segundo plano estendo o meu agradecimento a minha supervisora, Dra. Rute dos Santos por
ter dedicado o seu escasso tempo para orientar-me durante todo processo e compilação deste
trabalho de pesquisa.
Por fim, agradeço a todos que de forma directa e indirecta contribuíram para que este trabalho se
tornasse uma realidade.
Muito obrigado a todos.
iii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Art……………………………………………..……………………………………………..Artigo
Cfr………………………………………………………………….…………………...….Conferir
Conj………………………………………………………………………………….…..Conjugado
CC………………………………………………………………….………………….Código Civil
LS………………………………………………………………………………..Lei das Sucessões
iv
RESUMO
O presente trabalho tem como tema: análise da aceitação e repúdio da herança no ordenamento
jurídico moçambicano, tema que se encontra inserido tematicamente no âmbito do direito privado, concretamente o
direito das sucessões e cruza também as fronteiras do direito civil. Este estudo resulta do facto da sucessão ser um
fenómeno de teor imprescindível para qualquer colectividade que se organize em um Estado, pois só através dela é
possível que as relações jurídicas de que faça parte qualquer pessoa não se extingam com a sua morte. Este
fenómeno opera-se essencialmente através dos institutos da aceitação e repúdio da herança, sendo importante
analisar as situações em que estes são constituídos em vício, situação que não é caracterizada por muita clarividência
em sede da legislação sucessória moçambicana. Como objectivo geral do trabalho pretendo determinar que
entendimento deve-se tirar do termo coacção (na legislação sucessória). Tendo em mente que a aceitação (assim
como o repúdio) está intimamente ligada com a aquisição sucessória, é preciso notar que, o facto de se dizer que a
aquisição sucessória pressupõe obrigatoriamente a aceitação, não significa que esta constitua um acto forçado para o
aceitante. Portanto sendo os casos em que é forcada constituídos em vício, o que deve ser possível reagir diante da
ordem jurídica. Mas quid iuris quando a norma não é clara quanto ao tipo de vício e qual é a sua consequência. É esta
a minha justificativa para a pesquisa deste tema. Na feitura do trabalho pretendo usar fontes bibliográficas como
manuais, assim como o diploma legal que regula a matéria da herança, respectivamente Lei das Sucessões, assim
como a consulta a dicionários e a pesquisa a internet com o devido cuidado e rigor. Como resultado da matéria sob
pesquisa, consegui chegar a três possíveis respostas, a analogia, a criação de uma norma, e a reforma dos dispositivos
normativos. A solução que nos parece ser mais coesa é a da reforma dos dispositivos normativos em análise, pois
elimina a ambiguidade em determinar se a sanção se refere a coacção moral ou física, prevendo ambas. E como
recomendação a norma para suprir esta falta de clarividência da lei e a consequente lacuna pode ser ainda mais clara
atribuindo a consequência jurídica apropriada a cada tipo de coacção (moral e física) respectivamente (a
anulabilidade e a nulidade).
v
ÍNDICE
DECLARAÇÃO................................................................................................................................i
DEDICATÓRIA...............................................................................................................................ii
AGRADECIMENTOS....................................................................................................................iii
RESUMO.......................................................................................................................................vii
INTRODUÇÃO................................................................................................................................1
1.1. Metodologia...........................................................................................................................3
1.2. Pesquisa.............................................................................................................................3
1.5. Método...............................................................................................................................5
2.3.4. A transmissão...........................................................................................................16
2.3.5.2. Natureza....................................................................................................................17
2.6. Herança............................................................................................................................19
2.12. Caducidade...................................................................................................................24
2.15.2. Cabeça-de-casal........................................................................................................27
RECOMENDAÇÕES.....................................................................................................................33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................34
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é realizado em cumprimento do currículo regido pela
Universidade Católica de Moçambique, para a aquisição do nível de Licenciatura em Direito.
Tema que tem como área temática o direito privado, respectivamente o direito das
sucessões e cruza também as fronteiras do direito civil.
No caso da aceitação, o art.43 da LS, sob a epigrafe estatui que: a aceitação da herança é
anulável por dolo ou coacção, mas não com fundamento em simples erro. Quanto ao dolo, não
existem problemas a respeito, mas em que sentido deveremos levar o termo coacção?
Quanto ao repúdio, a mesma situação ocorre, o que talvez seja um indicador que esta seja
uma lacuna voluntária ou de previsão por parte do legislador, no art.48 da LS: o repúdio da
herança é anulável por dolo ou coacção, mas não por simples erro, mais uma vez qual é o sentido
do termo coacção?
Podemos ir mais longe ainda e integrarmos esta lacuna por via de analogia aos negócios
jurídicos, e veremos que o tipo de coacção que tem como consequência a anulabilidade, é a
coacção moral, nesse caso quid iuris da aceitação ou repúdio da herança efectuados sob coacção
física?
Como objectivo geral do trabalho pretendo determinar que entendimento deve-se tirar do
termo coacção (na legislação sucessória).
1
Como objectivos específicos, defini os seguintes:
Investigar o método mais eficaz para integrar a lacuna de lei;
Aferir qual é o tratamento que se dá a estes institutos quando constituídos em vício?
Analisar é a solução que se deve arranjar quanto a aceitação e o repúdio da herança
quando feitas sob coacção física.
1.2. Pesquisa
No entender de Maria Lakatos, a pesquisa pode ser considerada um procedimento
formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui
no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais 1. Significa muito
mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões propostas, utilizando
métodos científicos.
1
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de Trabalho Científico, pág. 43.
2
OLIVEIRA, Sílvio Luiz, Metodologia Científica Aplicada ao Direito, pág. 63.
3
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de Trabalho Científico, pág. 43.
3
A documentação indirecta serve-se de fontes de dados colectados por outras
pessoas, podendo constituir-se de material já elaborado ou não. Dessa forma, divide-se em
pesquisa documental ou de fontes primárias e pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias.
Os documentos de fonte primária são aquelas de primeira mão, provenientes dos próprios órgãos
que realizaram as observações.
Englobam todos os materiais, ainda não elaborados, escritos ou não, que podem
servir como fonte de informação para a pesquisa científica. Podem ser encontrados em arquivos
públicos ou particulares, assim como em fontes estatísticas compiladas por órgãos oficiais e
particulares. Incluem-se aqui como fontes não escritas: fotografias gravações, imprensa falada,
desenhos, pinturas, canções, indumentárias, objectos de arte, folclore etc4.
A pesquisa bibliográfica ou de fontes secundarias é a que especificamente
interessa a este trabalho. Trata-se de levantamento de toda bibliografia já publicada, em forma de
livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade é colocar o pesquisador em
contacto directo com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto, com objectivo de
permitir ao cientista o "reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas
informações5.
A bibliografia pertinente oferece meios para definir, resolver, não somente
problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas.
Os critérios para classificação dos tipos de pesquisa variam de acordo com o
enfoque dado pelo autor. A divisão obedece a interesses, condições, campos, metodologia,
situações, objectivos, objecto de estudo etc.
Na opinião de Rummel existem quatro divisões para o conceito de pesquisa, que são:
Pesquisa bibliográfica. Quando utiliza materiais escritos;
Pesquisa experimental. Quando tem como campo de actividade o laboratório;
Pesquisa social. Quando visa melhorar a compreensão de ordem, de grupos, de
instituições sociais e etnias6;
1.3. Tipo de pesquisa adoptada
O nosso objectivo é realizar esta pesquisa de forma bibliográfica e documental,
onde serão utilizadas como fonte os manuais, assim como os diplomas legais que regulam a
4
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de Trabalho Científico, pág. 43.
5
Idem, pág. 44.
6
Ibidem, pág. 7.
4
matéria relativa ao trabalho, respectivamente a Lei das sucessões, assim como a consulta a
dicionários e a pesquisa a internet com o devido cuidado e rigor.
1.5. Método
Entende-se por método o caminho e os passos para se atingir um determinado
objectivo.
7
OLIVEIRA, Sílvio Luiz, Metodologia Científica Aplicada ao Direito, pág. 22.
8
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de Trabalho Científico, pág. 109.
5
1.6. Técnicas de colecta de dados
Técnicas são consideradas um conjunto de preceitos ou processos de que se serve
uma ciência; são, também, a habilidades para usar esses preceitos ou normas, obtenção de seus
propósitos. Correspondem, portanto, à parte prática de colecta de dados. Apresentam duas
grandes divisões: documentação indirecta, abrangendo a pesquisa documental e bibliográfica e
documentação directa. Esta última subdivide-se em:
Observação directa intensiva, com técnicas da:
Observação – utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não
consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar factos ou fenómenos que se
desejar estudar. Pode ser, sistemática, assistemática; participante, não participante;
individual, em equipa; na vida real, em laboratório.
Entrevista – é uma conversação efectuada faca a face, de maneira metódica; proporciona
ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária. Tipos: padronizada ou
estruturada, despadronizada ou não estruturada, painel9.
Observação directa extensiva, apresentando as técnicas:
Questionário – constituído por uma série de perguntas que devem ser respondidas por
escrito e sem presença do pesquisador;
Formulário – roteiro de perguntas enunciadas pelo entrevistador preenchidas por ele com
as respostas do pesquisado;
Medidas de opinião e de atitudes – instrumentos de “padronização”, por meio de qual se
pode assegurar a equivalência de diferentes opiniões e atitudes, com a finalidade de
compará-las;
Testes – instrumentos utilizados com finalidade de obter dados que permitam medir o
rendimento, a frequência, a capacidade ou a conduta de indivíduos, de forma quantitativa;
Sociometria – técnica quantitativa que procura explicar as relações pessoais entre
indivíduos de um grupo10;
Análise de conteúdo – permite a descrição sistemática, objectiva e quantitativa do
conteúdo da comunicação;
9
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de Trabalho Científico, pág. 111.
10
Idem, pág. 111.
6
História de vida – tenta obter dados relativos à “experiencia intima” de alguém que tenha
significado importante para o conhecimento do objecto em estudo;
Pesquisa de mercado – é a obtenção de informações sobre mercado, de maneira
organizada e sistemática, tendo em vista ajudar o processo decisivo nas empresas,
minimizando a margem de erros11.
Neste trabalho em concreto será feito o uso da conjugação de várias técnicas de
recolha de dados também designados triangulação como forma de produzir um trabalho
enriquecido.
As técnicas usadas para a colecta de dados para esta pesquisa foram: a consulta
bibliográfica, manuais e principalmente a consulta às legislações. A razão da escolha destas
técnicas de colecta de dados surge na sequência de acreditarmos que com elas será possível
colectar os dados necessários para a pesquisa e a subsequente elaboração do trabalho de fim de
curso.
11
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de Trabalho Científico, pág. 111.
7
CAPÍTULO II: QUADRO TEÓRICO SOBRE ANÁLISE DA ANULAÇÃO
DA ACEITAÇÃO OU REPÚDIO DA HERANÇA POR DOLO OU
COACÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO MOÇAMBICANO
2.1. Abertura da sucessão
2.1.1. Conceito de abertura da sucessão
A sucessão consiste no sub ingresso de um novo sujeito na posição jurídica
anteriormente ocupada pela pessoa falecida. Ou por outra, há existência de direitos em relação
aos quais há um interesse objectivo em vê-los perdurar para além da morte do decujus.
Conforme alega SACRAMENTO e AMARAL, “o fenómeno sucessório constitui
um processo através do qual se verifica o ingresso de um novo sujeito na titularidade das
relações jurídicas do falecido”12.
E, este processo tem várias fases. Inicia-se com a morte do autor da herança e
culmina com a aceitação dos bens hereditários pelos sucessores do decujus.
O primeiro momento deste processo é justamente a abertura da sucessão, que
alude o artigo 7 da LS.
12
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões, 2ª Edição, Editora Livraria
Universitária, Maputo, 1997, pág. 29.
13
Idem. Pág. 111.
14
Ibidem. Pág. 114.
8
2.1.3. Lugar da abertura da sucessão
Há interesse em determinar-se o lugar da abertura da sucessão porque a ela se
ligam actos que devem ou podem ter que ser praticados.
Afirma ainda SACRAMENTO e AMARAL que, uma das razões que mostram a importância da
determinação do lugar da abertura da sucessão é para efeitos processuais, pois em matéria de
competência territorial, o n° 1 do artigo 77 CPC estabelece que: “O tribunal do lugar da abertura
da sucessão é o competente para o inventário e para a habilitação de uma pessoa como
sucessora por morte de outra15.
2.1.4. Sucessão em vida e sucessão por morte
Seguindo a linha de pensamento de SACRAMENTO e AMARAL, por sucessão
em vida designa-se ao fenómeno da modificação subjectiva de determinada relação jurídica,
ocorrendo esta ainda em vida do anterior sujeito”. Pelo contrário, na sucessão por morte tal
modificação subjectiva só se verifica após a morte do anterior sujeito (titular) do direito ou da
relação jurídica16.
2.1.5. Espécies de sucessão por morte
Pensam SACRAMENTO e AMARAL que, tendo presente o princípio adoptado
pela Lei das Sucessões, consideram os autores serem duas as grandes espécies de sucessão por
morte - a sucessão legal e a sucessão voluntária. E entendem que a distinção entre uma e outra
assenta no facto da primeira a decorrer duma norma legal e a segunda resultar de acto de vontade
do autor da sucessão17.
15
Ibidem., pág. 114.
16
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões, 2ª Edição, Editora Livraria
Universitária, Maputo, 1997, pág. 114.
17
Idem, Pág. 115.
9
Sucessão contratual e sucessão testamentária; e distinguem uma da outra
conforme o negócio jurídico que lhe serve de fonte.
Alegam ainda SACRAMENTO e AMARAL de que, como resulta evidente, a sucessão
voluntária resulta de um acto de manifestação de vontade do seu autor, acto de manifestação
concretizado num negócio jurídico, o qual poderá revestir carácter unilateral ou natureza
bilateral18.
Assim sendo, pode dizer-se que, na sucessão testamentária, a vocação sucessória
resulta dum negócio jurídico unilateral - um testamento, ao passo que, na sucessão contratual, a
vocação sucessória tem por base um negócio jurídico bilateral - um contrato 19.
Na sucessão testamentária, por que assenta numa manifestação de vontade
unilateral, o seu autor tem o poder de a alterar, a todo tempo.
18
Ibidem, Pág. 39.
19
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões, 2ª Edição, Editora Livraria
Universitária, Maputo, 1997, pág. 39.
20
Idem, pág. 169.
10
Um dos exemplos típicos da vocação subsequente verifica-se no caso de situações
de repúdio da herança.
Conforme alega SACRAMENTO e AMARAL, “É certo que a vocação originária
a mais habitual e frequente”. No entanto, situações há em que pode existir um chamamento ou
uma vocação subsequente. A vocação subsequente acha-se prevista no n° 2 do artigo 8 da LS”.
2.2.2. Vocação pura e simples e vocação condicional
Outra diferença que se pode estabelecer é entre a vocação pura e simples e a
vocação condicional.
A vocação pura e simples é a que se mostra isenta de qualquer condição, ao
contrário da vocação condicional que está sujeita a condição.
No concernente a vocação condicional, tendo presente que a condição pode ser
suspensiva ou resolutiva, naturalmente que a vocação condicional poderá revestir uma daquelas
formas de condição21.
Todavia, mostra-se de interesse referir que a vocação com condição suspensiva se
acha expressamente referenciada no n° 2 do artigo 219 da LS.
Neste caso, a produção dos efeitos próprios da vocação está condicionada à
verificação de um acontecimento futuro e incerto22.
A vocação sob condição resolutiva encontra-se expressamente indicada no n° 1 do
artigo 219 da LS.
21
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões, 2ª Edição, Editora Livraria
Universitária, Maputo, 1997, pág. 170.
22
Idem. Pág. 171.
23
Ibidem. Pág. 172.
11
um chamamento depois de não se ter operado o primeiro chamamento, ao passo que a
vocação indirecta tem lugar quando alguém não pode ou não quis suceder”.
2.3. Aquisição sucessória
Trata-se de um dos institutos do fenómeno sucessório. Esta abrange tanto a
aceitação, bem como o repúdio da Herança. Isso pelo facto que a aquisição sucessória se encontra
intimamente relacionada com o modo como o sucessível responde ao chamamento.
O que, na verdade acontece que nesta fase do fenómeno sucessório, o sucessível ou responde
positivamente ao chamamento, aceitando a herança e entra, nesse caso, no domínio e posse dos
bens da herança, nos termos do nº. 1º.do 33 da LS 24, ou responde negativamente e
consequentemente, desencadeia-se o chamamento de outro sucessível, por via de vocação
subsequente ou por via de vocação indirecta.
Estamos, sem sombra de dúvidas, diante de duas figuras bem diferentes, pese embora se refiram
ao mesmo fenómeno. Assim sendo vemos tratá-las separadamente.
24
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 23/2019 de 23 de Dezembro. Lei das Sucessões.
25
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões, 2ª Edição, Editora Livraria
Universitária, Maputo, 1997, pág. 208.
12
O caso em que o Estado é o herdeiro legítimo, como se encontra estabelecido no art. 134
da LS. Nesta situação, ao Estado, por força da lei, não se exige a aceitação, e não se
reconhece a possibilidade de repudiar;
E ainda o caso em que, em situação de direito de acrescer, em que a parte acrescida opera
por força da lei, sem que haja necessidade de aceitação por parte do beneficiário, segundo
consta do art 27 ad LS. Nesta última situação não se exclui a verdade de que o
beneficiário tenha manifestado a livre aceitação quando se pronunciara positivamente face
a herança ou o legado que lhe tocava26.
2.3.1.2. Quanto à natureza da aceitação
De facto, a aceitação ela possui uma natureza jurídica, com características
próprias. Trata-se de um acto jurídico unilateral não receptício, dado que não carece de ser
dirigido ou levado ao conhecimento de pessoa determinada, ao qual se aplicam os princípios
estabelecidos no art. 295º.do CC27, no tocante aos negócios jurídicos (capacidade, vícios da
vontade), em tudo aquilo que não contrarie o disposto especialmente quanto à aceitação ou ao
repúdio da herança.
Esta aceitação, enquanto acto jurídico unilateral não receptício possuí os seguintes caracteres:
É individual, nos termos do art.34 da LS;
É irrevogável: nos termos do art. 44 da LS;
É puro e simples: nos termos do art. 37 da LS;
Indivisível: nos termos dos arts. 37 e 38 da LS.
Que significado tem a afirmação de que a aceitação da herança seja um acto puro
simples?
A esse propósito que assim se designa porque se pretende dizer essa aceitação não
se pode fazer sob condição (suspensiva ou resolutiva) ou a termo.
Relativamente à aceitação, importa referir que, a regra geral é de que ela não pode ser feita só em
parte, segundo estabelece o nº. 2 do art. 37 da LS, cuja a confirmação podemos encontrar no nº. 1
primeira parte do art. 38 da LS.
Ao invés, a segunda parte do nº.1 e nº. 2 do art 38 da LS, apresentam duas
excepções:
26
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 23/2019 de 23 de Dezembro. Lei das Sucessões.
27
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-lei no 47 344 de 25 de Novembro de 1966 – Código Civil.
13
1ª. Excepção: é aquele que se dá quando o sucessível tenha sido chamado à herança, por via
testamentária e por via legal, caso esse em que a lei admite que a aceitação se faça só em parte,
desde que aquele sucessível desconhecesse a existência do testamento;
2ª. Excepção: tem lugar no caso chamado ser, ao mesmo tempo, sucessível legitimário e
sucessível testamentário. Acontecendo isso, a lei admite que o sucessível aceite a quota parte da
herança, que se integra na legítima, e repudie a deixa testamentária, que se ache completada na
quota testamentária.
2.3.2. Espécies e modos de aceitação
2.3.2.1. Espécies de aceitação
Existem, basicamente, nos termos do nº. 1 do art. 39 LS, duas espécies de
aceitação: de forma expressa e de forma tácita.
De acordo com o nº.2º do art. 39 da LS, diz que a aceitação expressa quando em
algum documento escrito o sucessível chamado à sucessão declara aceitar a herança ou assume o
título de herdeiro com intenção de adquirir28.
Por sua vez a aceitação tácita, é aquela que se infere de factos concludentes, utilizando para tanto
as regras do art.217º. nº.1do CC.
Há que referir que os actos de administração, praticados pelo sucessível não implicam nem
significam aceitação tácita da herança, como bem determinam o art. 39 da LS. Nº. 3 29.
2.3.2.2. Modos de aceitação
Quanto aos modos de aceitação: em conformidade com o nº. 1 do art. 35 da LS, a
aceitação pode ser:
-Puro e simples: é aquele que se dá quando o sucessível aceita a herança sem restrições e
independentemente de processo judicial de inventário.
Sobre o sucessível recai o ónus de provar, que na herança não existem valores suficientes para a
satisfação dos encargos, apesar do facto da sua responsabilidade nunca poder exceder o valor dos
bens deixados, segundo consta do art. 54 nº.2º da LS30.
-e a benefício do inventário: que consiste em o sucessível aceitar a herança, após estarem
satisfeitos os encargos que sobre ela recaírem. Mas reserva-se o direito de só receber o seu saldo
líquido.
28
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 23/2019 de 23 de Dezembro. Lei das Sucessões.
29
Idem.
30
Ibidem.
14
Qual é a condição para a concretização deste modo de inventário?
De referir que este modo, se concretiza mediante o requerimento do inventário judicial ou
mediante a intervenção de inventário pendente, segundo reza o art. 36 da LS, no seu nº. 2.
Assim sendo, a aceitação a benefício de inventário tem lugar em duas circunstâncias, a saber:
-no momento em que o sucessível requer que se proceda a inventário, ou quando intervém em
processo de inventário a correr de acordo com os arts. 1326 2 1334º. Do CPC, na qualidade.
É daí que se diz que o herdeiro obtém uma inventariação dos bens e eventual liquidação e partilha
da herança judicialmente fiscalizada. Também é aqui que se obtém a separação do seu património
pessoal relativamente ao património da herança.
Ora, segundo o nº. 1 o art. 36 da LS, de modo obrigatório, a aceitação da herança a benefício de
inventário, tem lugar nestas situações31:
Quando se defira a menores:
Quando se defira a interditos;
No caso que seja deferida a inabilitados;
Ou quando se defira a pessoas colectivas.
2.3.5.2. Natureza
Também o repúdio, como o é aceitação, é um acto jurídico unilateral não
receptício. Enquanto esse tipo de acto, o repúdio apresenta os seguintes caracteres:
É individual, nos termos do art. 34 da LS;
É pessoal, entretanto, deverá ter-se presente a excepção resultante do disposto do art. 50
da LS;
É irrevogável: isso nos termos do art. 49 da LS;
É puro e simples, de acordo com o art.47 nº.1 da LS. A este propósito, remete-se o que se
diz em relação a este carácter, mas referente à aceitação da herança;
É indivisível, segundo estabelecem, nº.2 do art. 47 e art. 38 da LS.
34
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 23/2019 de 23 de Dezembro. Lei das Sucessões.
35
Idem.
16
2.5.3. Forma de repúdio
Segundo o estatuído pelo art, 46, o repúdio da herança está sujeito à forma exigida
para a alienação da herança.
Segundo este artigo, entende-se que a manifestação de repúdio terá de obedecer à
forma exigida pela lei, para a alienação dos bens que integram a herança, conforme se extrai do
art. 111 da LS que estabelece: nº. 1: a alienação da herança ou do quinhão hereditário será
feita por escritura pública, se existirem bens cuja alienação deva ser feita por essa forma; é o
caso em que estejamos diante de um bem imóvel, em que o repúdio tem de ser de acordo o
estabelecido nos arts. 46 e 111 nº. 1 da LS36.
Importa dizer que o requisito de forma constitui uma condição essencial para a
validade do repúdio, acto jurídico que é.
Contrariamente de quando se trate de um bem móvel, o repúdio pode ser feito mediante um
escrito particular, como estabelecem os arts. 46 e 111 nº. 1 da LS.
2.5.4. Anulabilidade
Tal como acontece com a aceitação a herança, também o repúdio dá lugar à
anulabilidade.
36
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 23/2019 de 23 de Dezembro. Lei das Sucessões.
37
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-lei no 47 344 de 25 de Novembro de 1966 – Código Civil.
17
Nos termos do nº.2 deste artigo estabelece-se o prazo de seis meses para que os
credores comecem a exercer esse direito, cuja contagem do prazo começa a partir do dia em que
aqueles tiverem conhecimento do repúdio.
Ao passo que o nº.3 desse mesmo dispositivo, estabelece que é conferido aos
credores tal direito apenas como meio de se garantir o pagamento dos seus créditos. Razão pela
qual mostrando-se liquidados, a diferença não lhes aproveitará e reverte-se o remanescente para
os herdeiros imediatos do repudiante.
2.5.6. Repúdio sob condição ou a termo
Do art. 47 nº.1 da LS de forma expressa resulta que o repúdio não pode ser feito
sob condição nem a termo.
Mais ainda, a lei não admite que o repúdio a herança seja em parte. Porém,
excepcionalmente a lei admite que isso acontece, nos termos do nº. 2 do art. 47 e do art. 38 da
LS.
Não pensamos ter esgotado a reflexão sobre o repúdio a herança. Muito se pode ainda dizer.
Contudo ficamos por aqui com a nossa reflexão, desejando, a quem quiser e puder de continuar
essa actividade.
2.6. Herança
2.6.1. Critério legal de distinção:
A própria lei cuida de definir o que deva entender-se por herdeiro e por legatário
e, por outro lado, procura estabelecer o critério de distinção entre estas duas figuras jurídicas.
Guiando-se na linha de pensamento de SACRAMENTO e AMARAL nota-se que
“neste sentido que o n° 2 do artigo 6 da LS se consagra de forma expressa: “Diz-se herdeiro o
que sucede na totalidade ou numa quota do património do falecido e legatário o que sucede em
bens ou valores determinados”38.
38
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões, 2ª Edição, Editora Livraria
Universitária, Maputo, 1997, Pág. 45.
18
direito estende-se real ou, pelo menos, virtualmente à totalidade da herança ou a uma quota-
parte dela39.
E bem se compreende que assim seja, uma vez que não sendo atribuídos aos
herdeiros bens determinados, forçosamente que estes têm interesse em ver determinado o
conjunto patrimonial a que tem direito, ou seja, que lhes pertence.
Pelo contrário, com os legatários esta situação não se coloca, tendo em conta que
estes, desde o início do fenómeno sucessório, conhecem os bens que, concretamente, lhes foram
dados atribuídos, porquanto se trata de bens certos e determinados. A esta última situação, nota-
se mais adequado o seu enquadramento no que tange ao direito de exigir divisão na medida
em que o mesmo respeita concretamente a bens determinados que, porém, se acham em
situações de indivisibilidade.
39
Idem. Pág. 45.
40
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões, 2ª Edição, Editora Livraria
Universitária, Maputo, 1997, pág. 61.
19
Alega SACRAMENTO e AMARAL que, O direito de exigir partilha está
intimamente relacionado com o momento da liquidação da herança, mais concretamente com a
partilha do património hereditário, de modo a possibilitar o ingresso de cada sucessível na
titularidade das relações jurídico-patrimoniais, que pertenciam o decujus41.
2.8. Responsabilidades pelos encargos da herança
Relativamente a esta questão estriamo-nos a referir em torno das prioridades que a
herança teria uma vez deixada a disposição de novos ingressos a sua titularidade.
Entrando no pensamento de SACRAMENTO e AMARAL podemos constatar que, na verdade, o
artigo 51 da LS estabelece que:” A herança responde pelas despesas com o funeral e sufrágios
do seu autor, com os encargos com a testamentária, administração e liquidação do património
hereditário, pelo pagamento das dívidas do falecido, e pelo cumprimento dos legados”42.
Como se pode ver deste preceito legal, o herdeiro não só responde pelas dívidas
do autor da herança, como também pelas despesas relacionadas com o funeral, missas e outras
cerimónias fúnebres, bem como ainda com as relativas à administração e liquidação do
património, entre outras.
Nas palavras de SACRAMENTO e AMARAL, “é verdade que o herdeiro
responde por todos estes encargos, mas só dentro do limite das forças da herança, isto é, até onde
o património hereditário puder suportar as respectivas despesas, encargos e dívidas”43.
Em torno disso, diz SACRAMENTO e AMARAL que, a propósito de responsabilidade deste
tipo de sucessível, importa destacar, porém, que competirá ao herdeiro provar que não existem
outros bens da herança, que possam responder pelos seus encargos, conforme a herança seja
aceite a benefício de inventário ou aceite pura e simplesmente44.
Já, no que toca ao legatário, a situação é bem diversa, pois este só responde pelos
encargos da herança, dentro dos limites da coisa que lhe foi legada, conforme resulta do disposto
pelo n° 1 do artigo 259 da LS.
Assim, nota-se que o legatário não responde pelos encargos da herança, mas antes
pelos encargos do legado.
41
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões, 2ª Edição, Editora Livraria
Universitária, Maputo, 1997, Pág. 62.
42
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões, 2ª Edição, Editora Livraria
Universitária, Maputo, 1997. pág. 64.
43
Idem. pág. 64
44
Ibidem. pág. 65
20
2.9. Direito de preferência na venda da herança
A este respeito, de forma expressa, afirma-se na lei, n° 1 do artigo 2130 do CC:
quando seja vendido ou dado em cumprimento a estranhos um quinhão hereditário, os co-
herdeiros gozam de direito de preferência nos termos em que este direito assiste aos
comproprietários45.
Decorre daqui que a lei concede aos herdeiros, e só a eles, o direito de preferência
na venda da herança.
É ainda afirmado por (SACRAMENTO e AMARAL) que “Daquele mesmo
preceito legal é necessário concluir que, para operar o direito de preferência, é necessária a
verificação de dois requisitos, a saber:”
Que o adquirente do quinhão seja uma terceira pessoa, e que se trate de uma
alienação a título oneroso.
Pressupostos estes que tem de se verificar cumulativamente.
No que respeita ao legatário a situação é bem diferente.
Seguido a linha de pensamento de SACRAMENTO e AMARAL, no caso do legado, só poderá
operar o direito de preferência entre co-legatários, que tenham sido nomeados sobre o mesmo
bem ou coisa. Se tal acontecer, uma vez aberta a sucessão, se um deles quiser vender a sua quota
indivisa, os restantes co-legatários já poderão exercer o direito de preferência, na medida em
que se está na presença de verdadeira compropriedade, conforme ressalta do n° 1 do artigo
1409° do CC46.
Assim sendo, importa referir que o legatário não detém qualquer direito de
preferência em relação ao restante património hereditário, ou mesmo relativamente a outros
legados.
2.10. Petição da herança
Foi já referido que o processo sucessório é um processo que pode ser mais ou
menos longo e complexo.
PINHEIRO afirma que, a expressão acima referida justifica-se pelo facto de existir situações em
que podem não se verificar nenhuma situação que embarace o ingresso do sucessível na
titularidade das relações jurídicas patrimoniais de que era titular o decujus, como também
pode acontecer que, no desenvolvimento do processo que conduz o chamado a ingressar no
45
Ibidem, pág. 67.
46
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota, Ob. Cit., pág. 68.
21
património da pessoa falecida, surjam entraves que impossibilitem de assumir a plenitude do
direito de propriedade sobre os bens hereditários47.
É precisamente para a hipótese de ocorrer tal tipo de situação que a lei tinha que
encontrar a necessária solução.
Guiando-se no fio de pensamento de SACRAMENTO e AMARAL, por isso mesmo se
estabelece no n° 1 do artigo 2075° do C. Civil que o herdeiro pode pedir judicialmente o
reconhecimento da sua qualidade sucessória, e a consequente restituição de todos os bens da
herança ou de parte deles, contra quem os possua como herdeiro, por outro título, ou mesmo
sem título48.
Ainda a propósito da noção da petição da herança, (SACRAMENTO e AMARAL
apud SOUSA) estabelece que, “não se confunde quer com a habilitação quer com a aceitação da
herança”, embora considere que este tipo de acção tem incorporada “uma das modalidades
judiciais de habilitação e possa traduzir-se numa aceitação expressa ou tácita da herança.
Alega ASCENÇÃO que, para a propositura da Acção de petição da herança, havendo mais do
que um herdeiro, qualquer um deles tem legitimidade para pedir separadamente a totalidade dos
bens que estejam em poder de terceiro, não podendo opor-se este a devolução, com fundamento
em que aqueles não lhe pertencem por inteiro, cfr. n° 1 do artigo 2078° do CC49.
No entanto, nota-se que, uma vez operada a restituição, não significa que
automaticamente o demandante seja considerado por este facto administrador dos bens, visto que
o cargo de administração legal dos bens da herança está cometida tão-somente ao cabeça de
casal, que é o administrador por excelência, razão pela qual a lei lhe confere o direito de pedir a
entrega do que deve administrar.
Repare-se também que, nos termos da lei, a acção pode ser proposta não só
contra o possuidor dos bens, como ainda contra o adquirente no caso de aquele os ter alienado a
este - cfr. n° 1 do artigo 2076 do C. Civil.
O n° 2 do artigo 2076° do CC salvaguarda a situação do adquirente que haja
adquirido bens determinados de herdeiro aparente, por título oneroso e estando de boa-fé, ao
estabelecer que, quando tal ocorra, a Acção não pode proceder50.
47
PINHEIRO, Jorge Duarte, O Direito das Sucessões Contemporâneo, Editora Coimbra, Lisboa, 2011, pág. 92.
48
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota, Ob. Cit., pág. 218.
49
ASCENCÃO, José de Oliveira, Direito Civil das Sucessões, 5ª Edição, Editora Coimbra, 2000, Pág. 132.
50
ASCENCÃO, José de Oliveira, Ob. Cit., pág. 134.
22
Com isto importa referir, que o herdeiro aparente, já responderá perante o herdeiro
pelo valor dos bens que tenha alienado, quando esteja de má-fé. Regra esta que se infere da parte
final do n° 1 do artigo 2076° do CC.
A Acção de petição da herança obedece à forma de processo comum declarativo,
já que a lei não estabelece qualquer forma especial de processo. E relativamente ao prazo para a
propositura da acção de petição de herança, o n° 2 do artigo 2075 do C. Civil estabelece que ela
pode ser intentada a todo tempo51.
2.12. Caducidade
De forma expressa a lei, no n° 1 do artigo 42 da LS, estabelece que o direito de
aceitar a herança caduca ao fim de dez anos.
Ao fim de tal prazo, considera-se o sucessível como inexistente, razão pela qual se
verificará um novo chamamento, começando então a correr novo prazo para o chamado.
Assim, e porque o primeiro sucessível se tem por inexistente, este passa a ser
entendido como o chamado que não pode ou não quis aceitar a herança, sendo por via disso,
chamado o sucessível imediato dentro da mesma classe, seguindo-se procedimento idêntico daí
em diante.
Ainda continua SACRAMENTO e AMARAL afirmando que, o prazo de caducidade contar-
se-á a partir da data em que o sucessível tomou conhecimento de que foi chamado a
sucessão, e para outros casos, o n° 2 do artigo 42 da LS indica a data a partir da qual se deve
iniciar a contagem do prazo de caducidade; trata-se assim nos casos de instituição de herdeiro
sob condição suspensiva52.
51
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota, Direito das Sucessões. .Pág. 220.
52
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões. Pág. 214.
23
2.13. Alienação da herança
Na Lei das Sucessões, o capítulo respeitante à alienação da herança vem tratado
depois da administração da herança e da sua liquidação e partilha.
Pode acontecer que antes da liquidação e partilha se desencadeie a alienação da
herança razão pela qual tratamos desta matéria neste momento.
Logo após se ter verificado o chamamento, tendo o sucessível respondido
afirmativamente, aceitando a herança, pelo menos virtualmente o herdeiro passa a deter um
direito de propriedade, em abstracto, sobre a globalidade da herança ou sobre a quota-parte que
lhe pertencerá53.
Dai que possa admitir a possibilidade de poder transmitir a terceiro o seu direito a
herança ou ao quinhão, quer a título oneroso quer a título gratuito. Transmissão esta que se
inscreverá no âmbito do direito de disposição, que a lei confere a qualquer proprietário.
Mais antes de mais, deve-se ter presente, que somente se pode proceder à
alienação da herança quando verificados dois pressupostos essenciais:
No fio de pensamento de SACRAMENTO e AMARAL tais pressupostos podem ser, em
primeiro lugar, é necessário que se ache aberta a sucessão, pois como já sabemos o artigo 158 da
LS proíbe a disposição de sucessão de outrem ainda não aberto; em segundo lugar 54, é necessário
que o herdeiro tenha aceitado a herança, na medida em que só então terá adquirido a plenitude
do direito sobre aquela, nos termos do disposto pelo artigo 33 da LS.
53
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota. Direito das Sucessões. Pág. 223.
54
Idem. Pág.223.
24
Se o bem hereditário é composto por um bem imóvel e se a alienação se traduz em
contrato de compra e venda, para efeitos da alienação estará sujeito às regras próprias daquele
tipo de negócio jurídico, inclusive no que respeita as regras relativas a forma.
2.14.1. A sonegação de bens da herança
A administração da herança encera com o artigo 79 da LS, atinente à
sonegação de bens da herança. A sonegação de bens da herança corresponde a um acto doloso de
ocultação da existência de bens compreendidos no património hereditário.
O herdeiro que sonegar bens da herança é considerado mero detentor dos bens
sonegados e perde em benefício dos co-herdeiros o direito que possa ter a qualquer parte dos
bens sonegados, além de incorrer nas demais sanções que forem aplicáveis55.
Se a sonegação tiver sido praticada por Cabeça-de-casal, há fundamento para
remoção do cargo cfr. al. a) do nº 1 do Art. 69 da LS.
2.15. Administração da herança
No que tange a administração da herança, a lei não resolve expressamente a
questão, diferente do que acontece em relação ao seu termo.
Na verdade, quanto a este último, no artigo 62 da LS, a lei estabelece que a
administração da herança perdura até que se verifique a sua liquidação e partilha.
Embora a lei não se refira o momento em que se inicia o fenómeno da
administração da herança, em todo o caso, este prende-se com o exercício do cargo de Cabeça de
Casal.
Conquanto não haja referência expressa na lei, pode dizer-se que a administração
da herança se inicia sempre que não se mostre possível proceder à imediata devolução dos bens
hereditários aos sucessíveis56.
Com a administração da herança pretende-se evitar a depreciação e o extravio dos
bens e garantir, deste modo, os interesses, quer de herdeiros, quer de eventuais credores, ou
mesmo de quaisquer outros interessados57.
Esmiúça PINHEIRO que, cabeça-de-casal é a pessoa que tem a competência, por excelência de
administrar a herança antes da partilha e liquidação. Em termos gerais, o órgão principal da
administração da herança é o Cabeça-de-casal, a quem compete a prática da generalidade dos
55
PINHEIRO, Jorge Duarte, O Direito das Sucessões Contemporâneo. Pág. 447.
56
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota, Direito das Sucessões. Pág. 229.
57
Idem. Pág. 229.
25
actos de administração. O cargo de Cabeça-de-casal é deferido por lei a certa categoria de
pessoas obedecendo a uma determinada hierarquia, que esta prevista no artigo 63 da LS 58.
No entanto, deve ter-se em devida atenção que embora a lei tenha pecado na sua
regulamentação ou por outra o legislador não tenha levado em conta o princípio da igualdade de
género que foi ferido no n˚4 do artigo 63 da LS, o que temos que levar em consideração é que
com a administração da herança pretende-se evitar a depreciação e o extravio dos bens e
garantir deste modo, os interesses quer dos herdeiros, quer de eventuais credores, ou mesmo de
outros quaisquer sucessíveis.
2.15.1. A Estrutura da Administração da Herança e seus Órgão
Segundo SACRAMENTO E AMARAL, em termos gerais, o órgão principal da
administração da herança é o Cabeça-de-casal, a quem compete a prática da generalidade dos
actos de administração. Todavia, no artigo 74 da LS, a lei estabelece que certos actos só podem
ser praticados por todos os herdeiros conjuntamente, actos esses relacionados com os direitos
relativos a herança. Por outro lado, no próprio testamento o autor da sucessão pode estipular a
existência de um outro órgão - o testamenteiro, encarregado de controlar o cumprimento das
suas disposições testamentárias59.
2.15.2. Cabeça-de-casal
SACRAMENTO e AMARAL argumentam que “o Cabeça-de-casal é um
administrador da herança no seu todo, enquanto o Testamenteiro é um controlador do
cumprimento das disposições testamentárias e um executor destas”60.
O testador não pode indicar ou afastar o Cabeça-de-casal, na medida em que, no
artigo 63 da LS, a lei estabelece a hierarquia a que se tem de obedecer para o deferimento do
cargo.
Essa é uma conclusão que se tira do preceito legal agora referido, mas que não
resulta expressamente da lei. Por isso não obsta essa posição ser aceite pela maioria da doutrina,
outros autores pendem para entender que o decujus pode designar o Cabeça-de-casal.
Segundo PINHEIRO, a aquisição sucessória, por si só, não atribui ao adquirente (herdeiro ou
legatário) poderes de administração. De acordo com o artigo 62 da LS, a administração da
58
PINHEIRO, Jorge Duarte, O Direito das Sucessões Contemporâneo. Pág. 219.
59
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota, Direito das Sucessões. Pág. 231.
60
Idem. Pág. 234.
26
herança, ate a sua liquidação e partilha, pertence ao Cabeça-de-casal. E, neste domínio, importa
considerar ainda o papel do testamenteiro e do colectivo de herdeiros. O Cabeça- de-casal
constitui o órgão normal de administração da herança adquirida cfr. O artigo acima esmiuçado.
Mas na falta de acordo, a designação é feita nos termos do artigo 63 da LS61.
61
PINHEIRO, Jorge Duarte, O Direito das Sucessões Contemporâneo. Pág. 435.
62
SACRAMENTO, Luiz Filipe; AMARAL Aires José Mota, Direito das Sucessões. Pág. 235.
63
Idem, Pág. 235.
27
Fácil é entender os motivos que orientaram o legislador a introduzir uma tal regra,
subjacente à introdução dessa regra imperativa esta fundamentalmente uma razão de ordem
acautelatória dos interesses dos herdeiros, dos legatários e de outros presumíveis interessados.
Ainda a propósito da administração dos bens comuns do falecido, a que se refere o
nº1 do artigo 70 da LS, convirá ter presente que este princípio só funcionará, se o falecido fosse
casado segundo o regime da comunhão geral de bens ou segundo o regime da comunhão de
adquiridos. Como se sabe, só neste caso poderá haver lugar à meação de bens do casal.
28
CAPÍTULO III ANÁLISE DA ANULAÇÃO DA ACEITAÇÃO OU
REPÚDIO DA HERANÇA POR DOLO OU COACÇÃO NO
ORDENAMENTO JURÍDICO MOÇAMBICANO
3.1. Análise das soluções
De facto a primeira solução que facilmente podemos recorrer no caso da
existência de uma lacuna de lei (uma imperfeição insatisfatória dentro da totalidade jurídica, que
representa uma falha ou deficiência de um sistema jurídico) 64, é a analogia que de forma muito
simples significa aplicar a um caso não regulado, uma norma que se enquadra em um caso
semelhante. Esta é uma técnica de integração de lacunas (actividade destinada a encontrar a
solução jurídica para uma lacuna). Esta é uma necessidade imperiosa pois há uma proibição ao
juiz de deixar de resolver um caso por falta de enquadramento legal. No nosso ordenamento
jurídico este recurso se encontra estatuído nos números 1 e 2 do art. 10 do C.C.
Podemos observar a nível da doutrina que o recurso analógico não é recente. Já no
direito romano era conhecida a tarefa supletiva da analogia65.
O processo analógico consiste em aplicar uma disposição legal a um caso não
qualificado normativamente, mas que possui algo semelhante com o facto-tipo por ela previsto.
Porém, para que tal se dê deve-se considerar como relevante alguma propriedade que seja comum
a ambos66.
Onde nas palavras do prof. Pereira Coelho, citado por Filipe Sacramento 67, vão se
aplicar em termos gerais, àquela (aceitação ou repúdio) todas as demais causas de anulabilidade
dos negócios jurídicos e no caso da coacção que é o foco deste estudo será a coacção moral
(art.255o do C.C), com excepção do simples erro, já que quanto a este, a lei não o admite (art.43,
48 da LS).
Portanto aqui já terá sido solucionada a questão da falta de claridade ou
ambiguidade da norma, mas cria uma outra questão, quid iuris da aceitação ou repúdio da
herança efectuados sob coacção física?
2 – Quanto a segunda solução, que é da criação de uma norma ad hoc, não me parece ser o
caminho por optar, pois resolve-se o caso objectivamente, mas esta solução não é permanente
64
DINIZ, Maria Helena, As lacunas no direito. Pág. 69
65
Ibidem. Pág. 141
66
Idem. Pág. 142
67
SACRAMENTO, Luís Filipe, AMARAL, Aires José Mota. Direito das Sucessões. Pág. 213
29
pois a lacuna não deixa de existir no ordenamento jurídico, mas sim em sede de aplicação da lei
naquele caso concreto.
3 – Quanto a reforma deste dispositivo normativo, parece-me ser a alternativa mais prática
pelos seguintes motivos:
Com a reforma destes dispositivos normativos, haveria uma clarificação da ambiguidade
do termo coacção nos mesmos (art.43,48 todos da LS)68;
Seria estatuído o tratamento a aplicar, no caso de aceitação ou repúdio de herança feito
sob coacção física;
Haveria a solução ao problema de lacunas de leis.
68
Boletim da República de Moçambique, Decreto-lei no 47 344 de 25 de Novembro de 1966.
30
CONCLUSÃO
A solução que nos parece ser mais coesa é a da reforma dos dispositivos que
regulam o tratamento jurídico a aplicar no caso em que tanto a aceitação ou repúdio da herança
são efectuados com vícios, pois isso elimina a ambiguidade em determinar se se trata de coacção
moral a física, como prevê o tratamento jurídico a ambas, visto que a invalidade envolve tanto a
anulabilidade como a nulidade.
Todavia, existem alguns obstáculos para se poder fazer uma reforma desse
dispositivo, e na verdade a toda legislação sucessória, que é uma legislação que se encontra
totalmente descontextualizada com a realidade de facto que se vivem em Moçambique, mas
nunca se parece fazer nada nesse sentido, e achamos entre outros ser pelos seguintes motivos:
Existem várias culturas e subculturas, cada uma com os seus dogmas, crenças e
superstições profundamente enraizados em cada povo. Não se poderia criar leis que pudessem ser
aplicadas universalmente a todos, pois se estaria de certo modo a violar a dignidade da pessoa
humana, ao se negar um tipo de cultura ou pratica costumeira em detrimento de outra que fosse
juridicamente consensual.
E também não se poderia criar normas específicas para cada tipo de cultura, pois
não só seria de difícil implementação como também vai contra o princípio da generalidade das
normas jurídicas. Portanto são esses os factos que creio serem os principais impedimentos a
reforma da legislação sucessória. Mas a par destas questões da reforma destes dispositivos
normativos adviriam certas consequências.
31
RECOMENDAÇÕES
A solução pela reforma dos dispositivos normativos do tratamento jurídico do
repúdio ou aceitação da herança efectuados com um vício, ainda nos parece ser coerente e mais
adequada por se optar, mas nenhuma solução atinge o grau de perfeição, sendo sempre sujeitas a
melhorias, e até agora, é possível notar que a norma para suprir esta falta de clarividência da lei e
a consequente lacuna pode ser ainda mais clara atribuindo a consequência jurídica apropriada a
cada tipo de coacção (moral e física) respectivamente (a anulabilidade e a nulidade).
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A. Legislação
REREPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-lei no 47 344 de 25 de Novembro de 1966 –
Código Civil.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 23/2019 de 23 de Dezembro. Lei das Sucessões.
B. Doutrina
ASCENCÃO, José de Oliveira, Direito Civil das Sucessões, 5ª Edição, revista, Editora Coimbra,
2000.
BEMBELE, Manuel Uache, Introdução ao estudo de Direito: Guia de estudo, Maputo, 2012.
CAMPOS, Diogo Leite de, Lições de Direito da Família e das Sucessões, 2ª ed. Rev. e At., Del
Rey, 2011.
34