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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

Vida Acaifa

ANÁLISE DAS CONTRAVENÇÕES PUNÍVEIS COM PENA DF PRISÃO NOS


TERMOS DO Nº 2 DO ARTIGO 420 E 441 DO CÓDIGO DO PROCESSO PENAL
FACE AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

NAMPULA
2021
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

Vida Acaifa

ANÁLISE DAS CONTRAVENÇÕES PUNÍVEIS COM PENA DF PRISÃO NOS


TERMOS DO Nº 2 DO ARTIGO 420 E 441 DO CÓDIGO DO PROCESSO PENAL FACE
AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Monografia para obtenção do grau de


licenciatura em direito na Universidade
Católica de Moçambique, Faculdade de
Direito sob a supervisão do docente Sezinho
Muachana.

NAMPULA
2021
Índice
Declaração........................................................................................................................................ii

Dedicatória......................................................................................................................................iii

Agradecimentos...............................................................................................................................iv

Resumo.............................................................................................................................................v

Introdução.........................................................................................................................................6

CAPÍTULO I:METODOLOGIA USA PARA ANÁLISE DAS CONTRAVENÇÕES PUNÍVEIS


COM PENA DE PRISÃO NOS TERMOS DO Nº 2 DO ARTIGO 420 E 441 DO CÓDIGO DO
PROCESSO PENAL FACE AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE................................................9

1.1. Metodologia...........................................................................................................................9

1.2. Pesquisa.............................................................................................................................9

1.2.1. Tipos de Pesquisa...........................................................................................................9

1.3. Tipo de pesquisa adoptada...............................................................................................10

1.4. Tipos de estudo................................................................................................................11

1.5. Método.............................................................................................................................11

1.5.1. Tipos de métodos......................................................................................................11

1.6. Técnicas de colecta de dados...........................................................................................11

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE ANÁLISE DAS


CONTRAVENÇÕES PUNÍVEIS COM PENA DE PRISÃO NOS TERMOS DO Nº 2 DO
ARTIGO 420 E 441 DO CÓDIGO DO PROCESSO PENAL FACE AO PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE...............................................................................................................................14

2.1. Conceito de crime............................................................................................................14

2.1.1. Conceito Material.....................................................................................................15

2.1.2. Conceito Formal.......................................................................................................17

2.1.3. Conceito Analítico....................................................................................................18

2.2. Tipicidade........................................................................................................................19
2.2.1. Conceito de tipo........................................................................................................19

2.2.2. Espécies de tipo........................................................................................................20

2.2.3. Conceito de tipicidade..............................................................................................21

2.2.4. Classificação dos crimes...........................................................................................21

2.3. Teoria Geral da Infracção Contravencional e Consequências Jurídicas das


Contravenções.............................................................................................................................24

2.3.1. Contravenção – Noções Gerais................................................................................24

2.3.2. Regras Privativas das Contravenções.......................................................................26

2.3.3. Elementos da Contravenção.....................................................................................26

2.3.4. Consequências Jurídicas das Contravenções...............................................................30

2.4. Processo...........................................................................................................................34

2.4.1. Formas do processo penal........................................................................................35

2.5. Princípios do Direito Processual Penal............................................................................37

2.5.1. Conceito....................................................................................................................37

2.5.2. Princípio da Oficialidade..........................................................................................39

2.5.3. Princípio da Legalidade e da Oportunidade.............................................................42

CAPÍTULO III: ANÁLISE DAS CONTRAVENÇÕES PUNÍVEIS COM PENA DE PRISÃO


NOS TERMOS DO Nº 2 DO ARTIGO 420 E 441 DO CÓDIGO DO PROCESSO PENAL
FACE AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.................................................................................60

3.1. A Problemática da Distinção entre Crimes e Contravenções no Direito Moçambicano. 60

3.2. Tipificação das Contravenções na Legislação Especial..................................................62

3.3. Do Carácter Substantivo da Punição das Contravenções................................................63

3.4. Da Inaplicabilidade das Normas Questionadas Nesta Pesquisa......................................65

3.4.1. Inaplicabilidade do n°. 2 do artigo 420º do CPP......................................................65

3.4.2. Inaplicabilidade do Artigo 441º do CPP...................................................................65

Conclusão.......................................................................................................................................67
Recomendação................................................................................................................................69

Bibliografia.....................................................................................................................................70
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO

Vida Acaifa

ANÁLISE DAS CONTRAVENÇÕES PUNÍVEIS COM PENA DF PRISÃO NOS


TERMOS DO Nº 2 DO ARTIGO 420 E 441 DO CÓDIGO DO PROCESSO PENAL FACE
AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Ficha de avaliação

Nampula aos____/____/ 2021

Resultados__________________________ valores

Membros do Júri________________________________________________________

Presidente______________________________________________________________

Supervisora_____________________________________________________________

Examinador_____________________________________________________________

Estudante_______________________________________________________________

i
Declaração
Declaro que o presente trabalho é o resultado da minha investigação pessoal e das orientações da
minha supervisora, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho nunca foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.

Nampula, Outubro de 2021

__________________________________________________________

Vida Acaifa

ii
Dedicatória
Dedico este trabalho a minha família

iii
Agradecimentos
Agradeço, em primeiro lugar a Deus por me ter proporcionado gozo de boa saúde e disposição
para a realização deste trabalho, a todos que directa ou indirectamente contribuíram para a
concretização e o sucesso deste trabalho, a começar pelo supervisor, docente Sezinho Muachana,
pela orientação e comunicabilidade estabelecida durante todo o processo da feitura do presente
trabalho.
A minha família, que sempre me deu amparo e forças para continuar, a quem agradeço por tudo
que sou e tenho, aos meus irmãos pela paciência e privações que passaram ao longo da minha
formação, a minha esposa, pelo amor, atenção e paciência desde a feitura do projecto até a
monografia,meus filhos, um especial agradecimento vai a todos amigos que não pude menciona-
los neste trabalho, manifestar a minha gratidão pelo apoio, carinho e encorajamento que por sua
causa nunca me faltou durante a formação.
Um apreço especial vai para os meus colegas de turma, aos meus grupos de estudo e a todos
docentes da UCM que tanto contribuíram para que eu desse o melhor de mim na aquisição de
competências académicas, profissionais e para a feitura deste trabalho.
A todos vai o meu muito obrigado por tudo.

iv
Resumo
O presente trabalho é realizado em cumprimento do currículo regido pela Universidade Católica de
Moçambique, para a aquisição do nível de Licenciatura em Direito. O trabalho encontra-se subordinado ao tema:
Análise das contravenções puníveis com pena de prisão nos termos do Nº 2 do artigo 420 e 441 do código do
processo penal face ao princípio da legalidade cujo faz parte do ramo de Direito Público, mas, precisamente no
Direito Processual Penal e tambem faz fronteiras com o Direito Penal. Mas, nos termos do número 2 do artigo 420
do código do processo penal, sob forma do processo sumario, são julgados da mesma forma os autores das infracções
de natureza contravencional puníveis com pena de prisão, quando tenham sido detidos em flagrante delito, e ainda, o
artigo 441 do código do processo penal diz que Serão julgados em processo de transgressões as contravenções
punidas com multa ou pena de prisão e multa, qualquer que seja a disposição legal em que estejam previstas, bem
como as transgressões a regulamentos, editais, posturas ou a quaisquer disposições que, atendendo à entidade que as
formula, devam qualificar-se de regulamentares. Dai coloca-se a seguinte questão: qual é o sentido e alcance ou
implicações práticas do artigo em análise tomando em consideração que não existem contravenções puníveis
com pena de prisão? A necessidade de escolha do presente tema dá-se em razão do desafio que este representa na
actualidade, mas acima de tudo pela importância que o mesmo tem na sociedade contemporânea buscando uma
coerência entre as normas substantivas e as normas adjectivas, ou seja, normas processuais. Acresce ainda a
importância de que nos fundamentos observados, verifica-se um certo défice de coerência legislativa na matéria
estudada, passível de prejudicar os princípios gerais da certeza e segurança jurídica, que informa o estado
democrático de direito. Ao nível social e juridicamente, a pesquisa contribui para a efectividade na salvaguarda dos
princípios fundamentais aplicados no âmbito do Direito Penal, sobretudo, o princípio da nulla poena sine praevia
lege, e ainda conformar o código de processo penal e o código penal recentemente aprovados. O trabalho tem como
objectivo geral: Analisar o Nº 2 do artigo 420 da Lei Nº 25/2019 de 26 de Dezembro que aprova o Código de
Processo Penal face ao Princípio da Legalidade. Ainda tem como objectivos especificos: Debruçar sobre as
contravenções; Aduzir a discrepância entre crime e as contravenções; Apresentar a natureza jurídica das
contravenções. A intenção é de realizar esta pesquisa de forma bibliográfica e documental, onde utilizarei como
fonte os manuais, assim como o diploma legal que regula o aspecto destacado para a elaboração do trabalho.
Empregando o método dedutivo para a partir dos elementos pesquisados poder chegar a uma resposta sobre as
motivações que obstam a que se utilize as formas mais eficazes de resolução de conflito optando as pessoas pelo
judiciário. . As técnicas usadas para o presente trabalho foram a análise da legislação da matéria sucessória e
consulta da bibliografia relacionada, a utilização de várias técnicas de recolha de dados na mesma pesquisa, só acaba
enriquecendo ainda mais o estudo.

PALAVRAS-CHAVE: DIREITO PROCESSUAL PENAL, CONTRAVENÇÕES, PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.

v
Introdução
O presente trabalho é realizado em cumprimento do currículo regido pela
Universidade Católica de Moçambique, para a aquisição do nível de Licenciatura em Direito. O
trabalho encontra-se subordinado ao tema: Análise das contravenções puníveis com pena de
prisão nos termos do Nº 2 do artigo 420 e 441 do código do processo penal face ao princípio
da legalidade cujo faz parte do ramo de Direito Público, mas, precisamente no Direito
Processual Penal e tambem faz fronteiras com o Direito Penal.
Nos termos do número 1 do artigo 14 do código penal, considera-se contravenção
o facto voluntário punível que unicamente consiste na violação ou na falta de observância das
disposições das leis e regulamentos, independentemente de toda intenção maléfica.
De acordo com o artigo 263 da Lei do Trabalho, aprovada pela lei nº 23/2007 de 1
de Agosto, contravenção é toda violação ou não cumprimento das normas do direito do trabalho
constantes das leis, instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, regulamentos e
determinações do Governo, designadamente nos domínios do emprego, formação profissional,
salários, higiene, segurança e saúde dos trabalhadores e da segurança social. Não obstante a
negligência nas contravenções laborais é sempre punível a luz do artigo 264 da Lei do Trabalho.
Neste âmbito do Trabalho, as contravencionais laborais são sempre sancionadas com pena de
multa aos agentes infractores por violação das normas estabelecidas na Lei do Trabalho e as
demais legislação laboral cujo regime sancionatório encontram-se previstos a partir dos artigos
265, 266, 267 268 todos da Lei do trabalho. As infracções contravencionais para o âmbito
ambiental, nossa Lei do Ambiente que é aprovada pela Lei nº 20/97 de 1 de Outubro no artigo 27
estabelece o seguinte: as infracções das contravenções relativas ao ambiente são de caracter
ambiental são objecto de previsão em legislação específica. O que de forma exclusiva no remete
ao decreto nº 45/2004 de 29 de Setembro que aprova o Regulamento sobre o Processo de
Avaliação do impacto Ambiental, no seu número 5 do artigo 1 define Avaliação do impacto
Ambienta (AIA) como sendo como sendo um instrumento de gestão ambiental preventiva que
consiste na identificação e análise prévia, qualitativa e quantitativa dos efeitos ambientais
benéficos e perniciosos de uma actividade proposta. O mesmo decreto antecipa que s infracções
cometidas contra o ambiente contidas neste decreto são sancionadas com pena de multa a luz do
artigo 26 do regulamento, bem como passiveis de ser serem graduadas seguidamente aos modos
6
previstos no artigo 27 do referido regulamento, também importa dizer que os valores das multas
estabelecidas neste decreto são actualizados sempre que se mostrar necessário, por diploma
ministerial conjunto dos ministros do plano e finanças para coordenação da acção ambiental reza
o artigo 28 do referente decreto.
No âmbito fiscal, olhando para aquilo que são as contravenções tributárias, não
obstando dos outros âmbitos, elas também culminam com pena de multa sob forma de sanção,
isto estabelecido pelo decreto nº 46/2002 de 26 de Dezembro que aprova regime geral das
infracções tributárias.
Mas, nos termos do número 2 do artigo 420 do código do processo penal, sob
forma do processo sumario, são julgados da mesma forma os autores das infracções de natureza
contravencional puníveis com pena de prisão, quando tenham sido detidos em flagrante delito, e
ainda, o artigo 441 do código do processo penal diz que Serão julgados em processo de
transgressões as contravenções punidas com multa ou pena de prisão e multa, qualquer que seja a
disposição legal em que estejam previstas, bem como as transgressões a regulamentos, editais,
posturas ou a quaisquer disposições que, atendendo à entidade que as formula, devam qualificar-
se de regulamentares. Dai coloca-se a seguinte questão: qual é o sentido e alcance ou
implicações práticas do artigo em análise tomando em consideração que não existem
contravenções puníveis com pena de prisão?
A necessidade de escolha do presente tema dá-se em razão do desafio que este
representa na actualidade, mas acima de tudo pela importância que o mesmo tem na sociedade
contemporânea buscando uma coerência entre as normas substantivas e as normas adjectivas, ou
seja, normas processuais. Acresce ainda a importância de que nos fundamentos observados,
verifica-se um certo défice de coerência legislativa na matéria estudada, passível de prejudicar os
princípios gerais da certeza e segurança jurídica, que informa o Estado Democrático de Direito.
O trabalho tem como objectivo geral:
 Análise das contravenções puníveis com pena de prisão nos termos do Nº 2 do artigo 420
e 441 do código do processo penal face ao princípio da legalidade.
Ainda tem como objectivos especificos:
 Debruçar sobre as contravenções;
 Aduzir a discrepância entre crime e as contravenções;
 Apresentar a natureza jurídica das contravenções.
7
Quanto à estrutura o trabalho está organizado da seguinte forma: introdução onde
constam os aspectos que serão abordados no decorrer da pesquisa. De seguida temos a parte do
desenvolvimento que é composto por 3 capítulos, cujo primeiro capítulo é referente à
metodologia onde narramos o caminho percorrido para realização do trabalho, o processo de
pesquisa o método e as técnicas usadas, o segundo capítulo é referente ao marco teórico. No
terceiro capítulo constam as informações referentes à discussão dos resultados. Temos também a
conclusão que é ai onde no final do trabalho iremos apresentar as conclusões correspondentes aos
objectivos projectados e apresentados na introdução, respondendo às questões colocadas. Mais
adiante temos as recomendações deixadas acerca do tema em análise e por fim a bibliografia.

8
CAPÍTULO I:METODOLOGIA USA PARA ANÁLISE DAS CONTRAVENÇÕES
PUNÍVEIS COM PENA DE PRISÃO NOS TERMOS DO Nº 2 DO ARTIGO
420 E 441 DO CÓDIGO DO PROCESSO PENAL FACE AO PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE

1.1. Metodologia
Partindo do princípio que metodologia é um conjunto de métodos e técnicas
utilizadas para a execução de pesquisas, neste capítulo é apresentada a abordagem que teremos na
feitura do trabalho, focando no tipo de pesquisa, dos métodos e técnicas de colecta de dados
usadas.
1.2. Pesquisa
No entender de Maria Lakatos, a pesquisa pode ser considerada um procedimento
formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui
no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais 1. Significa muito
mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões propostas, utilizando
métodos científicos.
1.2.1. Tipos de Pesquisa
Há vários tipos distintos de pesquisa para obtenção de dados, como a pesquisa
bibliográfica, o levantamento documental e a pesquisa de campo2.
Considera-se pesquisa bibliográfica o acto de fichar, relacionar, referenciar, ler,
arquivar, fazer resumos de tópicos relacionados com a pesquisa em questão.
Toda pesquisa implica o levantamento de dados de várias fontes, quaisquer que
sejam os métodos ou técnicas empregadas. Os dois processos pelos quais se podem obter os
dados são a documentação directa e a indirecta.
A documentação directa consiste, no levantamento de dados no próprio local onde
os fenómenos ocorrem. Esses dados podem ser conseguidos de duas maneiras: através de
pesquisa de campo ou da pesquisa de laboratório. Ambas se utilizam das técnicas de observação
directa intensiva (observação e entrevista) e de observação directa extensiva (questionário,
formulário, medidas de opinião e atitudes técnicas mercado lógicas)3.
1
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de trabalho científico. Pág. 43.
2
OLIVEIRA, Sílvio Luiz. Metodologia científica aplicada ao Direito. Pág. 63.
3
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de trabalho científico. Pág. 43.
9
A documentação indirecta serve-se de fontes de dados colectados por outras
pessoas, podendo constituir-se de material já elaborado ou não. Dessa forma, divide-se em
pesquisa documental ou de fontes primárias e pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias.
Os documentos de fonte primária são aquelas de primeira mão, provenientes dos próprios órgãos
que realizaram as observações.
Englobam todos os materiais, ainda não elaborados, escritos ou não, que podem
servir como fonte de informação para a pesquisa científica. Podem ser encontrados em arquivos
públicos ou particulares, assim como em fontes estatísticas compiladas por órgãos oficiais e
particulares. Incluem-se aqui como fontes não escritas: fotografias gravações, imprensa falada,
desenhos, pinturas, canções, indumentárias, objectos de arte, folclore etc.4
A pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias é a que especificamente
interessa a este trabalho. Trata-se de levantamento de toda bibliografia já publicada, em forma de
livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade é colocar o pesquisador em
contacto directo com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto, com objectivo de
permitir ao cientista o "reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas
informações5.
A bibliografia pertinente oferece meios para definir, resolver, não somente
problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas.
Os critérios para classificação dos tipos de pesquisa variam de acordo com o
enfoque dado pelo autor. A divisão obedece a interesses, condições, campos, metodologia,
situações, objectivos, objecto de estudo etc.
Na opinião de Rummel existem quatro divisões para o conceito de pesquisa, que são:
 Pesquisa bibliográfica. Quando utiliza materiais escritos;
 Pesquisa experimental. Quando tem como campo de actividade o laboratório;
 Pesquisa social. Quando visa melhorar a compreensão de ordem, de grupos, de
instituições sociais e etnias6;
1.3. Tipo de pesquisa adoptada
O nosso objectivo é realizar esta pesquisa de forma bibliográfica e documental,
onde serão utilizadas como fonte os manuais, assim como os diplomas legais que regulam a
4
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de trabalho científico. Pág. 43.
5
Idem, pág. 44.
6
Ibidem, pág. 47.
10
matéria relativa ao trabalho, respectivamente o código do processo penal e código penal, assim
como a consulta a dicionários e a pesquisa a internet com o devido cuidado e rigor.
1.4. Tipos de estudo
A pesquisa é do tipo investigação, pois o meu objectivo é a obtenção de uma
solução a um problema prático. Este tipo de estudo permite que haja um envolvimento entre o
pesquisador e o objecto da pesquisa. Esta pesquisa visa analisar as possíveis teorias existentes
sobre o problema e em descobrir respostas para o problema específico.
1.5. Método
Entende-se por método o caminho e os passos para se atingir um determinado
objectivo.
1.5.1. Tipos de métodos
Método indutivo: Cuja aproximação dos fenómenos caminha geralmente para
planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares as leis e teorias, em
outras palavras, parte do particular para o geral7.
Método dedutivo: que, partindo das teorias e leis, a maioria das vezes prediz a
ocorrência dos fenómenos particulares, ou seja, parte do geral para o particular.
Método hipotético dedutivo que se inicia pela percepção de uma lacuna nos
conhecimentos acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo de interferência dedutiva, testa
a predição da ocorrência de fenómenos abrangidos pela hipótese;
Método dialéctico que penetra o mundo dos fenómenos através de sua acção
recíproca, da contradição inerente ao fenómeno e da mudança dialéctica que ocorre na natureza e
na sociedade8.
O método usado na pesquisa é o método dedutivo, uma vez que visa descobrir
conhecimentos particulares através do conhecimento geral, pois empregando o método dedutivo
para a partir dos elementos que pudemos pesquisar poder chegar a uma resposta sobre o problema
patente.
1.6. Técnicas de colecta de dados
Técnicas são consideradas um conjunto de preceitos ou processos de que se serve
uma ciência; são, também, a habilidades para usar esses preceitos ou normas, obtenção de seus
propósitos. Correspondem, portanto, à parte prática de colecta de dados. Apresentam duas

7
OLIVEIRA, Sílvio Luiz, Metodologia científica aplicada ao Direito. Pág. 22.
8
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de trabalho científico. Pág. 109.
11
grandes divisões: documentação indirecta, abrangendo a pesquisa documental e bibliográfica e
documentação directa. Esta ultima subdivide-se em:
Observação directa intensiva, com técnicas da:
 Observação – utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não
consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar factos ou fenómenos que se
desejar estudar. Pode ser, sistemática, assistemática; participante, não participante;
individual, em equipa; na vida real, em laboratório.
 Entrevista – é uma conversação efectuada faca a face, de maneira metódica; proporciona
ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária. Tipos: padronizada ou
estruturada, despadronizada ou não estruturada, painel9.
Observação directa extensiva, apresentando as técnicas:
 Questionário – constituído por uma série de perguntas que devem ser respondidas por
escrito e sem presença do pesquisador;
 Formulário – roteiro de perguntas enunciadas pelo entrevistador preenchidas por ele com
as respostas do pesquisado;
 Medidas de opinião e de atitudes – instrumentos de “padronização”, por meio de qual se
pode assegurar a equivalência de diferentes opiniões e atitudes, com a finalidade de
compará-las;
 Testes – instrumentos utilizados com finalidade de obter dados que permitam medir o
rendimento, a frequência, a capacidade ou a conduta de indivíduos, de forma quantitativa;
 Sociometria – técnica quantitativa que procura explicar as relações pessoais entre
indivíduos de um grupo10;
 Análise de conteúdo – permite a descrição sistemática, objectiva e quantitativa do
conteúdo da comunicação;
 Historia de vida – tenta obter dados relativos à “experiencia intima” de alguém que tenha
significado importante para o conhecimento do objecto em estudo;
 Pesquisa de mercado – é a obtenção de informações sobre mercado, de maneira
organizada e sistemática, tendo em vista ajudar o processo decisivo nas empresas,
minimizando a margem de erros.

9
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de trabalho científico. Pág. 111.
10
Idem, pág. 111.
12
Neste trabalho em concreto será feito o uso da conjugação de várias técnicas de
recolha de dados também designada triangulação como forma de produzir um trabalho
enriquecido.
As técnicas usadas para a colecta de dados para esta pesquisa foram: a consulta
bibliográfica, manuais e principalmente a consulta às legislações. A razão da escolha destas
técnicas de colecta de dados surge na sequência de acreditarmos que com elas será possível
colectar os dados necessários para a pesquisa e a subsequente elaboração do trabalho de fim de
curso11.

11
MARCONI, Mariana de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Metodologia de trabalho científico. Pág. 111.
13
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE ANÁLISE DAS
CONTRAVENÇÕES PUNÍVEIS COM PENA DE PRISÃO NOS TERMOS
DO Nº 2 DO ARTIGO 420 E 441 DO CÓDIGO DO PROCESSO PENAL
FACE AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
2.1. Conceito de crime
Desde o surgimento do homem sobre a face da terra que o crime o segue como
uma sombra, assim assinala Magalhães Noronha: “A história do direito penal é a história da
humanidade. Ele surge com o homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o
crime, qual sombra sinistra, nunca dele se afastou”12.
As infracções penais dividem-se em crimes, delitos e contravenções
(classificação tripartida) ou somente crimes ou delitos e contravenções (classificação bipartida).
A primeira classificação é adoptada em países como França, Alemanha, Bélgica e outros. O
Direito Penal moçambicano adoptou a classificação bipartida, classificação também adoptada
na Itália, Portugal, etc.
Segundo Magalhães Noronha:“ a contravenção é um crime menor, menos grave
que o delito”13. A decisão de qual infracção é crime ou contravenção cabe ao
legislador,analisando o grau de significância dos interesses jurídicos violados na prática de tal
infracção.
A classificação dos crimes é feita, ora porque se atenta à gravidade do facto,
ora à forma de execução, ora ao resultado etc. A gravidade do facto é classificada por dois
sistemas: o tricotômico, que classifica as infracções penais em crimes, delitos e contravenções, e
o dicotómico, o qual classifica as infracções em crimes e contravenções, encarando crime e
delito como sinónimos14.
Infracção penal é gênero enquanto crime e contravenção são espécies, essas
espécies por sua vez, não possuem diferenças significativas entre si, são apenas
diferenças quantitativas (gravidade da conduta/pena), cabendo ao legislador a
qualificação de determinado facto como crime ou como contravenção15.
Assim sendo, costuma-se chamar a contravenção de um crime anão, um fato de
menor potencial lesivo para a sociedade. Porém, o que se considera uma contravenção pode vir
12
NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. Pág. 107
13
Idem. Pág. 108.
14
Ibidem. Pág. 108.
15
PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro. Pág. 239.
14
a transformar-se em um crime, Damásio E. de Jesus assim define: Não há diferença ontológica,
de essência, entre crime (ou delito) e contravenção. O mesmo facto pode ser considerado crime
ou contravenção pelo legislador, de acordo com a necessidade da prevenção social. Assim, um
fato que hoje é contravenção pode no futuro vir a ser definido como crime.
Em Moçambique, os legisladores preferiram adoptar uma classificação bipartida
ou dicotômica, ou seja, na legislação pátria a divisão é feita entre crimes e contravenções,
sendo o delito sinónimo de crime. A expressão infracção penal é utilizada, segundo a
classificação da lei, para abranger o crime e a contravenção.
Carrara apud Noronha define o crime como sendo: “ a infracção da lei do Estado,
promulgada para proteger a segurança dos cidadãos, resultante de um acto externo do homem,
positivo ou negativo, moralmente imputável e politicamente danoso”16.
O Código Penal vigente não relata um conceito de crime, pois deixou para a
doutrina a função de elaborá-lo. Desta forma, Mirabete destaca que: “Crime é uma conduta
(acção ou omissão) contrária ao direito, a que a lei atribui uma pena”17.
Observa-se no dizer de Mirabete que crime é a conduta humana que lesa ou
expõe a perigo um bem jurídico protegido, é contrário à lei e aos costumes, acarretando ao
Estado o
poder-dever de lhe aplicar uma sanção prevista antecipadamente na norma sancionadora18.

2.1.1. Conceito Material


O conceito material do crime pode ser estabelecido por meio do que a lei
determina, ou seja, no pensar de Carrara apud Noronha: “Visa o bem protegido pela lei”.10
Observa-se no exposto por Noronha, que o crime material nada mais é do
que a violação de um bem permanente.
Fragoso esclarece: em vista que o Estado tem o dever de proteger a colectividade,
mantendo a ordem, a harmonia e o equilíbrio social, sempre em busca da paz, segurança e da
estabilidade coletiva, para que isso ocorra é necessário valorar os bens coletivos, protegendo-os
através de lei penal19.

16
NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. Pág. 31
17
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. Pág. 95.
18
Idem. Pág. 95.
19
FRAGOSO, Cláudio Heleno. Lições de direito penal. Pág. 96.
15
Neste sentido o Estado tem que proteger o individual tanto quanto a coletividade,
para isto, deve-se manter a ordem social, valorando os bens individuais e coletivos, protegendo-
os mediante a lei penal, que será exercida por meio das sanções penais estabelecidas pela lei.
Mirabete descreve sobre o conceito de crime material: Crime é a acção ou
omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com valores ou interesses do corpo
social, de modo a exigir seja protegida sob ameaça de pena, ou que se considere afastável
somente através da sanção penal20.
No mesmo sentido Fernando Capez: é aquele que busca estabelecer a
essência do conceito, isto é, o porquê de determinado facto ser considerado criminoso e
outro não, sob esse enfoque, crime pode ser definido como todo facto humano que,
propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados
fundamentais para a existência da coletividade e da paz social21.
Como se pode notar, crime é qualquer ato do ser humano lesivo a outrem e a um
bem jurídico tutelado, afetando, assim, a normalidade da conservação e desenvolvimento da
sociedade.
Portanto, o acto do ser humano contra um bem jurídico tutelado só pode ser
penalizado quando atingir um bem jurídico da pessoa alheia ou da sociedade, não se
levando em consideração os atos praticados contra o próprio bem jurídico: não há razão para a
criminalização de comportamentos que não afectem terceiros. Se a conduta somente atinge bem
jurídico do próprio autor, sem que haja ofensa de interesses alheios, não se encontra razão para
a sua punição. Em consonância com este entendimento encontra-se o princípio da
alteridade pelo qual se proíbe a incriminação de comportamentos imorais ou puramente
internos que não ofendam interesses de terceiros. Assim, é vedada a tipificação de atitudes sem
exteriorização meramente subjectivas que não lesionem interesses alheios. Seguindo esta
orientação o próprio código penal não pune a autolesão, nem o suicídio, e considera atípica a
coação exercida para impedir suicídio.
O Estado tem por finalidade manter a normalidade, devendo promover a
aplicação das normas necessárias à harmonia e ao equilíbrio social, assim, por meio do Direito,
valoriza-se seus bens-interesses e, com as sanções penais, aplica-se a pena.

20
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. Pág. 96.
21
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Pág.112.
16
Segundo Costa Júnior apud Jesus menciona a respeito do crime material que:
Lançando olhar as profundezas das quais o legislador extrai elementos que dão conteúdo e
razão de ser ao esquema legal22.

2.1.2. Conceito Formal


O crime, no seu aspecto material, visa ao bem penalmente protegido pela lei;
partindo para uma visão formal, nada mais é do que a simples violação da norma penal, ou
seja, a violação do bem penalmente protegido.
Mirabete assim descreve o conceito de crime formal: É a contradição do facto, de
uma norma de direito, ou seja, sua ilegalidade como facto contrário à norma penal, contudo,
não penetram a fundo em sua essência em seu conteúdo, em sua matéria23.
Para José Geraldo Silva o conceito formal define-se: Crime é toda acção ou
omissão proibida pela lei, sob ameaça de pena24.
Assim, percebe-se que o conceito formal para o crime é toda a acção ou
omissão proibida por lei, ou seja, tudo aquilo que é proibido por lei, ou punível pela lei. Capez
define crime formal como sendo: “O conceito de crime resulta de mera subsunção da conduta ao
tipo legal e, portanto, considera-se infração penal tudo aquilo que o legislador descrever como
tal, pouco importando o seu conteúdo” 25.
Já em seu dicionário De Plácido e Silva esclarece o conceito de crime formal:
Em oposição ao crime material, o crime formal é o que considera constituído sem que levem
em consideração os resultados pretendidos pelo agente, mas simplesmente pela intenção, em
virtude do próprio ato material ou do meio que a lei incrimina26.
Nos dizeres de José Geraldo Silva, crime formal: é aquele em que não há
necessidade de realização daquilo que é pretendido pelo agente, e o resultado jurídico previsto
no tipo ocorre ao mesmo tempo em que se desenvolve a conduta, havendo separação lógica e
não cronológica entre a conduta e o resultado. A lei antecipa o resultado no tipo; por isso
não chamamos de consumação antecipada27.
22
JESUS, Damásio E. de. Direito penal. Pág. 151.
23
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. Pág. 95.
24
SILVA, José Geraldo. Teoria do crime. Pág. 137.
25
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Pág.112.
26
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Pág. 137.
27
SILVA, José Geraldo. Teoria do crime. Pág.147.

17
Assim, nota-se que para que haja o crime formal basta que o agente haja
contrário à lei, que faça algo proibido por lei, ou seja, crime é o facto típico e antijurídico,
como prevê Damásio.

2.1.3. Conceito Analítico


A questão do conceito analítico e seus requisitos reside na aceitação ou não
da culpabilidade como requisito do crime. Há unanimidade entre os doutrinadores em aceitar a
tipicidade e a antijuridicidade como requisitos do crime, porém, a discussão está na aceitação ou
não da culpabilidade.
Assim, os que aderem à corrente da teoria tripartida ou tricotómica definem o
crime como sendo o fato típico, antijurídico e culpável. Os que aderem à teoria bipartida
ou dicotômica, excluem a culpabilidade do conceito.
Entre os doutrinadores da teoria tricotômica estão: E. Magalhães Noronha,
Heleno Cláudio Fragoso, Paulo José da Costa, Francisco de Assis Toledo entre outros.
Entre os adeptos da teoria dicotômica podem ser citados: Damásio E. de Jesus,
Julio Fabbrini Mirabete, Celso Delmanto, Rogério Grego e outros.
Segundo o doutrinador Fernando Capez define o conceito analítico como sendo:
aquele que busca, sob um prisma jurídico, estabelecer os elementos estruturais do crime. A
finalidade deste enfoque é propiciar a correta e mais justa decisão sobre a infracção penal e seu
autor, fazendo com que o julgador ou intérprete desenvolva o seu raciocínio em etapas. Sob esse
ângulo, crime é todo facto típico e ilícito. Dessa maneira, em primeiro lugar deve ser observada
a tipicidade da conduta. Em caso positivo, e só neste caso, verifica-se se a mesma é ilícito ou
não. Sendo o facto típico e ilícito, já surge a infracção penal. A partir daí, é só verificar se o
autor foi ou não culpado pela sua prática, isto é, se deve ou não sofrer um juízo de reprovação
pelo crime que cometeu, para a existência da infração penal, portanto, é preciso que o facto
seja típico e ilícito.
No mesmo sentido Delmanto apud Mirabete expõe sobre o conceito analítico:
Que, quando presente um facto típico e antijurídico, teremos um crime, mas a aplicação de
pena ainda ficará condicionada à culpabilidade, que é a reprovação ao agente pela contradição
entre sua vontade e a vontade da lei 28. Desta forma, observa-se que o delito é uma conduta típica
e antijurídica (concepção dicotómica), podendo acarretar tanto a pena como a medida de
28
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. Pág. 138.
18
segurança, assim sendo, a culpabilidade - o pressuposto de pena; e a periculosidade - o
pressuposto de medida de segurança. Damásio assim observa: para que seja
considerado delituoso um comportamento e aplicada a sanção ao seu sujeito, é preciso que
constitua um facto típico e ilicitude. São pois, requisitos do crime: 1º) o facto típico e 2º) a
ilicitude29.
Para a teoria tricotómica, pode ser citado o conceito de Francisco de Assis Toledo:
o princípio da culpabilidade, fruto de lenta e penosa elaboração dos povos civilizados,
entendido como censurabilidade da formação e manifestação da vontade, constitui, ainda
hoje, a base irredutível de nosso sistema penal. E nada indica que venha a ser substituído em
futuro próximo30.
No mesmo sentido, ou seja, em defesa à teoria tricotómica, Noronha assim
menciona sobre a culpabilidade:Além de típica e ilicitude, deve a acção ser culpável. Trata-se
do elemento subjetivo do delito. O resultado lesivo ao direito, oriundo da acção do sujeito
activo, há de ser-lhe atribuído a título de culpa, em sentido amplo, isto é, dolo ou culpa31.

2.2. Tipicidade
2.2.1. Conceito de tipo
Segundo Cernicchiaro: Impõe-se descrição específica, individualizadora do
comportamento delituoso. Em outras palavras, a garantia há de ser real, efectiva. Uma lei
genérica, amplamente genérica, seria suficiente para, respeitando o princípio da legalidade,
definir-se como delito qualquer prejuízo ao património ou a outro bem jurídico. Não estaria,
porém, resguardado, efectivamente, o direito de liberdade. Qualquer conduta que conduzisse
àquele resultado estaria incluída no rol das infracções penais. Inviável, por exemplo, o tipo que
descrevesse: “ofender a honra de alguém” - Pena de “tanto a tanto”. O tipo exerce função de
garantia. A tipicidade (relação entre o tipo e a conduta) resulta do princípio da reserva legal.
Logicamente, o tipo há de ser preciso para que a acção seja bem identificada32.
A palavra tipo tem o significado de modelo ideal, algo que serve de medida ou
padrão para outras. No direito penal os tipos se referem sempre a condutas humanas, pois são
estas que constituem o seu objecto. Trata-se de modelos abstratos de comportamentos, os quais,

29
JESUS, Damásio E. de. Direito penal. Pág. 156.
30
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. Pág. 87
31
NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. Pág. 103.
32
CERNICCHIARO, Luiz Vicente. Direito penal na Constituição. Pág. 14.
19
em virtude de sua desvalorização ou valoração social, recebem o tratamento legislativo
adequado.

2.2.2. Espécies de tipo


a) Permissivos ou justificadores: são tipos penais que não descrevem factos
criminosos, mas hipóteses em que estes podem ser praticados. Por essa razão, denominam-se
permissivos. São tipos que permitem a prática de condutas descritas como criminosas. São os
que descrevem as causas de exclusão da ilicitude (artigo 51 CP), também conhecidas como
causas de justificação, como é o caso da legítima defesa, que se encontra no artigo 53 do Código

Penal33. De acordo com esse tipo, a legítima defesa é composta dos seguintes elementos:
agressão injusta + actual ou iminente + a direito próprio ou alheio + moderação + necessidade
dos meios empregados.
Assim, a lei permite que alguém realize um facto descrito como
delituoso na hipótese de estarem presentes todos os requisitos exigidos pelo tipo da legítima
defesa. Exemplo: matar alguém, em princípio, é uma conduta criminosa, pois está prevista em
um tipo incriminador, porém, em legítima defesa, a lei permite a realização da
conduta homicida.
b) lncriminadores: são os tipos que descrevem as condutas proibidas.
Todo facto enquadrável em tipo incriminador, em princípio, será ilícito, salvo se
também se enquadrar em algum tipo permissivo (causas de justificação)34.

2.2.3. Conceito de tipicidade


A tipicidade, segundo Capez, é a subsunção, justaposição, enquadramento,
amoldamento ou integral correspondência de uma conduta praticada no mundo real ao modelo
descritivo constante da lei (tipo legal).

33
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro, que Aprova o Código Penal, in Boletim
da República.
34
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Pág.162.
20
Para que a conduta humana seja considerada crime, é necessário que se ajuste a
um tipo legal. Temos, pois, de um lado, uma conduta da vida real e, de outro, o tipo legal de
crime constante da lei penal. A tipicidade consiste na correspondência entre ambos.

2.2.4. Classificação dos crimes


Existem diversos critérios de classificação de crimes, baseados nas diferentes
características que podem ter os delitos, ora porque se atenta à gravidade do facto, ora à forma de
execução, ora ao resultado etc. Por hora examinaremos as classificações que em primeiro lugar se
refere a todas as infracções penais, de modo a atender maior interesse prático nesse momento.
2.2.4.1. Quanto a qualidade especial do sujeito
2.2.4.1.1. Crimes comuns
São os delitos que podem ser cometidos por qualquer pessoa, ex.: homicídio
(artigo 159 CP).
2.2.4.1.2. Crimes próprios
São os crimes que exigem sujeito activo (autor) apresente uma qualidade pessoal
diferenciada, especial ou qualificada, que podem ser de facto referentes à natureza humana ou a
inserção social da pessoa35. Ex.: mãe no infanticídio (artigo 163 CP).
2.2.4.2. Quanto à conduta
2.2.4.2.1. Crimes comissivos
São os cometidos por intermédio de uma acção, que exigem actividade positiva
produtora do evento36, ex.: furto (artigo 270 CP).
2.2.4.2.2. Crimes omissivos
São aqueles praticados por meio de uma omissão (abstenção de comportamento) 37,
ex: (Omissão de apresentação à autoridade de menor exposto, artigo 267 CP).

2.2.4.3. Quanto à possibilidade de Fraccionamento da conduta típica


2.2.4.3.1. Crimes unissubsistentes
São os delitos que se perfazem com um único acto 38, ex.: injúria verbal (artigo 234
CP).
35
DUARTE, Ana Maria. Direito penal I. Pág. 53.
36
Idem. Pág. 54.
37
Ibidem. Pág. 54.
38
DUARTE, Ana Maria. Direito penal I. Pág. 54.
21
2.2.4.3.2. Crimes plurissubsistentes
É aquele que exige mais de um acto para sua realização, ex.: o homicídio (art. 159
CP).
2.2.4.4. Quanto ao momento consumativo
2.2.4.4.1. Crime consumado
É aquele em que o agente realizou todos os elementos constantes da definição do
crime,ex.: matou alguém – homicídio (artigo159 CP), subtraiu para si ou para outrem a coisa
alheia móvel (furto 270 CP).
2.2.4.4.2. Crime tentado
Ocorre quando o agente, embora tenha iniciado a execução do crime, não alcança
a consumação (resultado) por circunstâncias alheias à sua vontade39, ex.: atirou para matar, mas a
vítima não morreu (artigo 17 CP).
2.2.4.5. Quanto à objectividade jurídica
2.2.4.5.1. Crimes simples
São os que possuem somente um objecto jurídico, ou seja, quando o tipo penal é
único40, ex.: Homicídio (art.159 CP), lesão corporal (art. 171 e ss CP).
2.2.4.5.2. Crimes complexos
São aqueles que possuem dois objectos jurídicos ou resulta da fusão de dois ou
mais tipos penais41.
2.2.4.6. Quanto ao resultado
2.2.4.6.1. Crime material
São os crimes que se consumam com a produção de um resultado externo a acção,
descrito na lei42. Noronha o define como “aquele em cujo tipo se descrevem a acção e o
resultado”, ex.: morte no homicídio, a subtração no furto, a conjunção carnal no estúpro.
2.2.4.6.2. Crime formal
São aqueles em que o tipo não exige a produção do resultado para a consumação
do crime, embora seja possível a sua ocorrência. A consumação se dá no momento em que se
desenvolve a conduta43. A conduta e o resultado são separados cronologicamente, ou seja, a

39
Idem. Pág. 55.
40
Ibidem. Pág. 56.
41
Ibidem. Pág. 56.
42
Ibidem. Pág. 56.
43
DUARTE, Ana Maria. Direito penal I.. Pág. 56.
22
consumação dá-se com a prática do facto, não exigindo que a vítima realmente fique intimidada,
como por exemplo, evenenamento, (art.162 CP).
2.2.4.7. Quanto ao resultado jurídico ou normativo
2.2.4.7.1. Crimes de dano ou de lesão
Plasmado no artigo 310 CP, são os que só se consumam com a perda real ou
efetiva do bem jurídico tutelado. Trata-se da ocorrência de um prejuízo efetivo e perceptível
pelos sentidos humanos.
2.2.4.7.2. Crime de perigo
Artigo 306 CP, é os que se consumam com a probabilidade de lesão ao bem
jurídico tutelado. Divide-se em: Crimes de perigo concreto – são os que só se consumam com a
efetiva demonstração do perigo, ou seja, quando a probabilidade de ocorrência de dano precisa
ser investigada e provada; Crimes de perigo individual – quando a probabilidade de dano
abrange apenas uma pessoa ou grupo determinado de pessoas; Crimes de perigo colectivo –
quando a probabilidade de dano envolve número indeterminado de pessoas44.
2.2.4.8. Quanto ao elemento subjectivo ou normativo
2.2.4.8.1. Crime doloso
Quando o agente pratica a conduta querendo obter o resultado típico, também
quando ele não quer o resultado, mas assume, conscientemente, o risco de produzi-lo em razão da
conduta praticada45.
2.2.4.8.2. Crime culposo
Quando o agente não quer o resultado, não assume o risco de produzi-lo, mas a ele
deu causa em razão de descuido do agente por imprudência, negligência ou imperícia46.

2.2.4.8.3. Crime preterdoloso ou preterintencionais


Quando o agente pratica uma conduta dolosa e sobrevém um resultado mais grave
do que o desejado, sendo este resultado agravador na forma culposa. Diz-se conduta inicial
dolosa e resultado mais grave culposo47.

44
Idem. Pág. 55.
45
Ibidem. Pág. 58.
46
Ibidem. Pág. 58.
47
DUARTE, Ana Maria. Direito penal I.. Pág. 58.
23
2.3. Teoria Geral da Infracção Contravencional e Consequências Jurídicas das
Contravenções
É a teoria que tem por objecto o estudo das contravenções. O conjunto dos
pressupostos de punibilidade e de punição que são comuns a todas as contravenções, a todos os
factos tipificados na lei como contravenção48.
Os requisitos comuns é que um facto deve ter para ser considerado
contravencional e para que dele decorra uma responsabilidade jurídico-penal para o seu autor,
para o agente daquela contravenção.
Pode-se formalmente definir contravenção como um comportamento humano que
consiste numa acção penalmente relevante, acção essa que é típica, ilícita, culposa e punível49.
Esta teoria permite desde logo uma aplicação certa, segura e racional da lei penal.
Passa-se dum casuísmo, de verificar caso a caso o que é contravenção para através da teoria da
contravenção, ter-se uma vocação generalizadora de factos penalmente relevantes, de factos
contravencionais.
E através do estudo destas categorias analíticas pode-se determinar a
responsabilidade jurídico-penal duma pessoa, pode-se firmá-la ou excluía, através duma análise
de subsunção progressiva.

2.3.1. Contravenção – Noções Gerais


A noção legal de contravenção encontra-se no número 1 do artigo 14º do Código
Penal que considera contravenção o facto voluntário punível que unicamente consiste na violação
ou na falta de observância das disposições preventivas das leis e regulamentos,
independentemente de toda a intenção maléfica.
Como o crime, a contravenção é constituída por um facto externo, positivo ou
negativo, isto é, acção ou omissão; e, analogamente ao que sucede com aquele, e preciso, para
haver contravenção, que um diploma legal assim qualifique os factos.
Mas, ao passo que o crime só pode ser declarado punido pela lei, geral ou especial,
a contravenção pode sê-lo tanto pelas leis como pelos regulamentos.
A voluntariedade já, porem, não é, pela mesma forma e no mesmo grau, elemento
das duas categorias de factos criminosos. Assim, enquanto no crime, afora os casos especiais, em
48
DIAS, Jorge de Figueiredo, Criminologia, O Homem Delinquente e a Sociedade Criminógena, Pág. 127.
49
Idem. Pág. 128.
24
que a negligência é punida, é sempre precisa a intenção criminosa, nas contravenções a
voluntariedade e independente de toda a intenção maléfica, mas sempre punida a negligencia, seu
elemento essencial50.
Mas não é nisto que reside a diferença essencial e característica entre crime e
contravenção: aquele pode ser meramente culposo. Ela está em que o crime é uma violação ou
falta de observância das disposições repressivas e a contravenção das disposições preventivas -
aquelas as que punem um facto intrinsecamente imoral ou a simples intenção de fazer mal,
suficientemente revelada; estas as que punem um facto, que não é intrinsecamente imoral, mas
que pode ser causa ocasional de dano51.
Se o facto é punido em um regulamento, não há duvida que a sua natureza da contravencional,
visto que os crimes só por lei podem ser punidos; mas, se for incriminado por uma lei especial ou
pelo código penal, como distinguir?
Dizemos - pelo código penal, porque também nele são, indubitavelmente,
reguladas contravenções. Se é certo que o código não destinou nenhuma divisão especial ás
contravenções, incontestável que foi intuito do legislador dar a diversos factos previstos no
código o carácter de simples contravenções52.

2.3.2. Regras Privativas das Contravenções


Em virtude da natureza particular das contravenções, o legislador estabeleceu para elas algumas
regras privativas53:
 Nas contravenções é, como dissemos, sempre punida a negligência, ao passo que nos
crimes só o é nos casos especiais determinados na lei. A razão desta especialidade
encontra-se na respectiva natureza do crime e da contravenção.
 b) Nas contravenções não é punível a tentativa, nem os actos preparatórios, como não se
pune a contravenção frustrada.

50
ANDRADE, Manuel da Costa, Sobre as Proibições de Prova em Processo Penal, Pág. 84.
51
Idem, Pág. 86.
52
Ibidem, Pág. 88.
53
SANTOS, Manuel Simas e HENRIQUES, Manuel, Código Penal Anotado, Pág. 188.
25
2.3.3. Elementos da Contravenção
2.3.3.1. Acção Penalmente Relevante
É todo o comportamento humano dominado ou dominável pela vontade.
Através deste conceito, já se está a excluir a responsabilidade jurídico-penal de
comportamentos que provêm não de pessoas mas de animais.
Ter-se-á depois de verificar o seguinte: se está em presença de um comportamento humano
dominado pela vontade, tem de se ver se esse comportamento humano pode ser considerado
contravencional54.
Tem-se de ver se essa acção preenche a tipicidade de um dos tipos previstos na
parte especial do Código Penal, ou então em legislação penal extravagante.
Para isso é preciso verificar se essa acção é típica, isto é, é necessário verificar se estão
preenchidos os elementos objectivos e subjectivos de um tipo legal. Acção penalmente relevante
é todo o comportamento humano, com relevância no mundo exterior, que é dominado ou
dominável pela vontade. Fica logo excluído os comportamentos ou as acções das coisas, das
forças da natureza e dos animais irracionais.
Dentro do ponto de vista dos fins das penais, quer numa óptica retributiva, quer
numa óptica preventiva, não faz sentido criminalizar comportamentos que não sejam dominados
pela vontade.
Uma acção penalmente relevante pode consistir:
 Num comportamento positivo – num “facere”;
 Num comportamento negativo – num “non facere”.
Há duas formas de comportamento omissivo penalmente relevante, que se
diferenciam: São designadas omissões puras (ou próprias) e as omissões impuras (ou
impróprias)55.
Quando o legislador descreve as incriminações, através de normas proibitivas e de
normas que pressupõem um determinado resultado típico do tipo, para estar preenchido, para ser
consumado exige uma conduta e um resultado.
No caso das omissões impuras nem toda a gente pode incorrer em responsabilidade jurídico-penal
por omissão impura, porque o legislador só responsabiliza pelas omissões impuras aqueles sobre

54
Idem, Pág. 189.
55
BECCARIA, Cesare, Dos delitos e das penas. Pág. 58.
26
quem recaía ou impendia um dever jurídico que pessoalmente o obrigasse a evitar a produção do
resultado típico56.
2.3.3.2. Tipo ou Tipicidade
Por detrás de cada tipo incriminador, o legislador há-de pretender sempre a tutela
de um ou mais bens jurídicos, porque o direito penal encontra a sua justificação na tutela de bens
jurídicos fundamentais57.
O bem jurídico é algo distinto do chamado objecto do facto ou objecto da acção.
Enquanto que o bem é aquela realidade que não é uma realidade palpável, é um valor, um
interesse.
O objecto do facto ou da acção é o “quid” concreto sobre o qual incide a
actividade criminosa do agente58.
2.3.3.3. Estrutura do Tipo
Por detrás de cada tipo legal encontra-se sempre a tutela de um ou mais bens
jurídicos.
Os tipos têm na sua descrição elementos descritivos, predominantemente, mas
também é concebível que nalguns tipos apareçam elementos normativos. Aliás foram os Neo-
clássicos que chamaram à atenção para a existência destes elementos normativos do tipo.
Os elementos descritivos são aqueles elementos que expressam entidades do mundo real, quer no
foro exterior quer interior, quer para a sua cabal compreensão, não necessitam de nenhuma
valoração suplementar feita pelo recurso a uma norma.
Os elementos normativos são aqueles que, expressando também entidades do mundo real, para
seu cabal entendimento carecem do recurso a uma valoração suplementar, do recurso por
exemplo a outra norma.
Há quem diga, como IHERING, que não existem elementos puramente
descritivos: todos eles são mais ou menos normativos; postulam sempre, para seu cabal
entendimento e compreensão, uma valoração suplementar, seja ética, seja de ordem jurídica59.
O tipo é integrado sobretudo a partir duma abordagem finalista, por uma estrutura
mista: é composto por elementos objectivos e por elementos subjectivos.
56
Idem. Pág. 59.
57
Ibidem. Pág. 60.
58
Ibidem, Pág. 142.
59
DIAS, Jorge de Figueiredo, Comentário Conimbricense do Código Penal,Pág. 143.
27
Tem-se efectivamente de analisar esta categoria que é a tipicidade, tem-se de
verificar se aquela actuação humana se subsume ao tipo normativo na previsão dos seus
elementos objectivos e subjectivos60.
Depois, tem-se de ver se o elemento objectivo do tipo está preenchido.
O elemento subjectivo geral do tipo é o dolo. Tem-se de se ver então o que é o dolo: consiste na
consciência e vontade de realizar os elementos objectivos de um tipo legal61.
Estando preenchida a tipicidade, vai-se verificar que esta categoria analítica que é
composta por elementos subjectivos e objectivos, estando integralmente preenchida indicia a
ilicitude.
2.3.3.4. Ilicitude
A ilicitude num sentido formal, é a contrariedade à ordem jurídica na sua
globalidade, de um facto ilícito é um facto contrário à ordem jurídica, contrário ao direito62.
Mas numa óptica material, o facto ilícito consiste numa danosidade social, numa ofensa material
a bens jurídicos.
Em princípio da lei penal só tipifica factos que são contrários ao direito. Mas a
ilicitude indiciada pelo facto típico ou pela tipicidade pode ser excluída.
Pode estar excluída pela intervenção de normas remissivas, que vêem apagar o
juízo de ilicitude do facto típico, são as designadas causas de justificação que, a estarem
presentes, justificam o facto típico, excluindo a ilicitude indiciada pela própria tipicidade.
Mas pode acontecer, que preenchido um tipo mediante uma acção penalmente
relevante e a ilicitude indiciada pelo tipo, pode ser que não se verifique nenhuma causa de
justificação ou de exclusão da ilicitude63.
Na maior parte dos casos em que as pessoas cometem crimes não estão a actuar ao
abrigo de nenhuma causa de exclusão da ilicitude.
2.3.3.5. Culpa
É a categoria analítica da contravenção.
Sabendo-se que só se pode formular um juízo de censura de culpa sobre um
imputável, porque as penas só se aplicam a quem seja susceptível de um juízo de censura de
60
Idem. Pág. 146.
61
Ibidem. Pág. 172.
62
Ibidem. Pág. 174.
63
DIAS, Jorge de Figueiredo, Comentário Conimbricense do Código Penal, Pág. 179.
28
culpa; àquelas pessoas a quem não for susceptível formular um juízo de censura de culpa
aplicam-se medidas de segurança, é nomeadamente o caso dos inimputáveis e dos menores de 16
anos.
Logo, para que o juízo de culpa possa ser formulado é preciso que o agente tenha
capacidade de culpa. O agente não tem capacidade de culpa se tiver menos de 16 anos, ou se for
portador de uma anomalia psíquica ou de um estado patológico equiparado64.
Mas para além de ter capacidade de culpa, o agente também tem de ter consciência
da ilicitude do facto que pratica; e para além da capacidade de culpa e da consciência da ilicitude
é preciso, para se formular sobre o agente um juízo de censura de culpa, que o agente não tenha
actuado em circunstâncias tão extraordinárias que o desculpem.
2.3.3.6. Punibilidade
Para além de o facto ter consistido numa acção típica, ilícita e culposa, é ainda
preciso que seja punível65.
Então chega-se à conclusão que por vezes existem determinados factos praticados
no seio de acções penalmente relevantes, típicas, ilícitas culposas, mas contudo os agentes não
são punidos. E porquê é que não há punibilidade em sentido estrito?
 Ou porque não se verificam condições objectivas de punibilidade;
 Ou então porque se trata de uma isenção material, no caso de desistência;
 Ou porque se trata de uma causa pessoal de isenção de pena.
Porque é que se fala numa subsunção progressiva?
Porque quando se analisa a responsabilidade jurídico-penal de alguém, tem-se de
analisar detalhadamente todas estas categorias.
Ainda que intuitivamente se possa dar automaticamente a resposta, tem-se de
percorrer estas etapas porque, por hipótese, se chegar à conclusão que aquele comportamento não
foi dominado nem tão pouco era dominável pela vontade humana, imediatamente se nega a
responsabilidade criminal do agente.
2.3.4. Consequências Jurídicas das Contravenções
Os crimes contravencionais são punidos com pena de multa.
Nota histórica da pena de multa

64
Idem. Pág. 180.
65
Ibidem. Pag. 184.
29
Os doutrinadores não divergem ao identificar que a pena tem origem desde a era
primitiva no sentimento de vingança do homem66.
Carrara já sustentava que a humanidade, pela própria lei da natureza, foi impelida
a encontrar sua “ordem”, e os homens primitivos foram levados pelo sentimento de vingança a
infringir um mal a quem causasse mal a um semelhante, sendo que
O sentimento inato da vingança privada foi elevado, nas sociedades primitivas, de sua natureza
de desejo à altura de um direito: direito exigível, direito hereditário, direito resgatável ao arbítrio
do ofendido, direito que por vários séculos foi considerado como exclusivo do ofendido e de sua
família. Tal é a origem histórica, ou seja, o processo histórico da penalidade67.
O certo é que a história da pena se confunde com a história da humanidade, e, nas
sociedades primitivas a primeira lei, antes de fixar direitos, aplicou penas. Com o tempo, advindo
o Estado, foi adaptada esta natureza de vingança, mudando-se o polo da ofensa à sociedade como
um todo, e não mais ao indivíduo particular. Assim, a pena passou de vingança privada à
vingança divina, para depois chegar à natureza de vingança pública. Carrara, expoente da Escola
Clássica, fundamentava a punição em uma lei natural, que conferiria aos homens direitos e meios
de tutela, o que chamava lei suprema de ordem, tendo sempre a ideia de Deus, como lei suprema,
verbis: o direito de punir, que tem a autoridade civil, emana da lei eterna da ordem, aplicada à
humanidade, o que vale dizer, emana da lei de natureza... existe uma lei eterna, absoluta,
constituída pelo complexo dos preceitos directos da conduta externa do homem, revelado por
Deus à humanidade, através da simples razão... Esta lei outorga ao homem certos direitos a ele
necessários. Da necessidade absoluta deste direito é consequência obrigatória o de, mesmo
coactivamente, exercer-lhes a tutela... nasce a ordem moral externa, desejada pela lei natural68.
Independentemente do contexto histórico da obra de Carrara, não se pode negar
que o Direito Penal está intimamente ligado a normas e conceitos morais, sendo que para o autor
sempre é assinalada a natureza inviolável dos conceitos jurídicos. Mais tarde Carnelutti também
afirmava que se os homens criaram leis, segundo as quais quem comete um delito é castigado,
“estas leys artificiales no pueden dejar de tener su modelo en una ley natural, de la cual la ley

66
CARRARA, Francesco. Programa de Direito Criminal – parte geral, Pág. 41.
67
Idem. Págs. 46 – 47.
68
CARRARA, Francesco. Programa de Direito Criminal – Parte geral, Págs. 58 – 60.
30
jurídica es una imitación”, e conclui que a lei natural constitui o fundamento das leis jurídicas
penais69.
Mas foi antes, com Beccaria, percussor das ideias clássicas, com sua obra Dos
Delitos e das Penas, que se assinalou a dialéctica consistente no soberano afirmando a violação
do contrato social, enquanto o acusado a negava, devendo existir um magistrado para dirimir a
controvérsia. Beccaria passou a defender o julgamento público, pronto e proporcional ao delito,
embasado em leis, sendo que a pena deveria ser prevista em lei, não podendo ficar ao arbítrio do
julgador. São ideias que foram consagradas pela Revolução Francesa, e aperfeiçoadas pela
própria Escola Clássica. E foi Carrara quem melhor apreendeu tais ideias, como autêntico
representante máximo da referida Escola Penal.
Assim, só chegaremos ao conceito de pena, como é concebida para o Direito
Penal, atentando-se para o seu carácter público, se abstraindo de consequências privadas, que
devem ser resguardadas para o contexto civil - indemnizatório. O certo é que o conceito de pena
está intimamente ligado e entrelaçado ao conceito do direito penal, no sentido de que este é um
conjunto de normas jurídicas que une certas consequências jurídicas (pena) a uma conduta
humana que é o delito. Destarte, a maior consequência jurídica da aplicação do Direito Penal é a
pena, e daí a própria denominação deste ramo do direito70.
Assim, o ius puniendi (poder punitivo estatal), que se contrapõe ao ius poenale
(direito penal objectivo), é a faculdade-poder do Estado de elevar certos fatos à categoria de
factos puníveis, sempre visando estabelecer uma pena, o que faz Maurach concluir que “el ius
poenale es luego, una consecuência del ius puniendi”. Etimologicamente, pode-se identificar a
origem do vocábulo pena do latim poena (castigo, suplício), de onde, aliás, adveio a
germanização peinliches, sendo que alguns sustentam a origem no grego ponus (trabalho, fadiga)
ou no sânscrito punya (pureza, virtude).
Na elaboração do conceito de Aníbal Bruno se vê a dificuldade de se conceituar a
pena sem referência ao direito de que é consequência, estando presente a natureza retributiva.
Na verdade, conforme já alertava Jeremias Benthan, a palavra pena, ou, para
evitar desde logo o equívoco, a palavra castigo, é uma daquelas que, à primeira vista, parece que
não tem necessidade de ser definida: que noção mais clara se lhe pode dar, do que a ideia, que

69
CARNELUTTI, Francesco. El problema de la pena. Pág. 60.
70
SOLER, Sebastián. Derecho Penal Argentino, Pág. 387.
31
todo o mundo concebe quando se repete a palavra? Todavia, esta noção geral, que parece tão
clara, fica sendo vaga, sem explicação; porque não distingue precisamente o acto de castigar de
outros muitos, que se assemelham com ele a certos respeitos71.
Como se vê o antigo jurisconsulto identifica pena com castigo, já detectando a
existência de outras formas de castigo que não correspondem estritamente a uma pena, o que
demonstra a veracidade da assertiva de que, para uma definição da pena, é imprescindível a inter-
relação como a natureza do direito que a aplica, pois só será pena, em um sentido estrito, aquela
prevista em leis penais, como consequência da prática de um crime ou contravenção.
Custódio de Azevedo Bouças, antecipando a dificuldade de estabelecer-se um
conceito, pois este sempre reflectirá a adopção filosófica de determinada Escola penal, afirma que
“pena é o castigo imposto pelo poder público e determinado pelas leis penais ao delinquente para
restabelecer a ordem jurídica, perturbada pela infracção, demonstrando o autor o parâmetro do
enfoque retributivo da Escola Clássica e da Escola Técnica-Jurídica Italiana72.
Nesta seara, outrossim, apresentamos o seguinte conceito: pena é a consequência
jurídica, prevista em lei, que advém da prática de um crime, exercida pelo Estado através do ius
puniendi, que visa retribuir a acção delituosa, prevenir futuras acções idênticas e ressocializar o
agente, tornando-o apto ao convívio social. Trata-se de conceito ecléctico que não se filia à
determinada escola penal, procurando ao contrário, extrair das mesmas a contribuição para
evolução do conceito, funções e fins precípuos da pena, pois todas contribuíram para a evolução e
compreensão do direito punitivo.
Como não poderia deixar de ser, a pena, através dos tempos, foi evoluindo, até
chegar à natureza, conceito e classificações atuais. Da função meramente reparatória perante uma
divindade, onde eram conhecidas as penas da perda da paz (banimento) e a vingança do
sangue (morte), à composição, substituindo a pena pelo pagamento e reparação do dano, acabou
por atingir o carácter infamante e vexatório, com sentenças executadas em praça pública,
voltando a imperar a pena de morte. Após, na Idade Média, voltou a ser substituída, em muitos
casos, a pena capital por reclusão em celas e mosteiros, surgindo a privação da liberdade, e, com
o Iluminismo, e a ideologia do Renascimento, mormente após a obra de Beccaria, a pena

71
BENTHAN, Jeremias. Teoria das penas legais, Pág. 161.
72
BOUÇAS, Custódio de Azevedo. Pena. In: Enciclopédia Saraiva do Direito, Págs. 399 - 400.
32
incorporou o fim utilitário, originando a Escola Clássica do Direito penal, a qual se contrapunha a
Escola Positiva, que dava ênfase à finalidade da ressocialização73.
2.3.5. Pena de Multa
É uma sanção penal consistente no pagamento de uma determinada quantia em
pecúniaria, previamente fixada em lei, destinada aos cofres dos tribunais74.
Das diferentes penas pecuniárias, a multa é a única prevista no ordenamento
jurídico moçambicano que segundo VELOSO, “é uma das penas mais antiga e universais,
amplamente atestada, ainda que sob formas muito variadas, nos Direitos primitivos e em todos os
Direitos históricos. Nos dias de hoje, tem incidência na repressão dos pequenos delitos e dos
delitos da actividade económica, adquirindo nestes últimos significado macro criminológico
crescente, em particular como instrumento natural de extensão da repressão penal à actividade
das empresas e outras pessoas colectivas". A pena de multa, através do louvável sistema dias de
multa, atende de forma mais adequada aos objectivos da pena, sem as nefastas consequências da
falida pena privativa de liberdade. É um dos institutos que inegavelmente, melhor responde aos
postulados da política criminal com grande potencial em termos de resultado em relação à
pequena a média criminalidade75.
Pela definição, nos termos das alíneas a) e b) do artigo 63 do Código Penal, a pena
de multa consiste no pagamento de quantia determinada ou a fixar entre um máximo e um
mínimo declarado na lei; de quantia proporcional aos proventos do condenado e dos seus
encargos pessoais, fixada em dias, sendo, em regra o limite mínimo de 3 dias e o máximo de 2
anos, correspondendo cada dia a uma quantia entre um centésimo de salário mínimo e 1 salário
mínimo.
O objectivo desta pena é de reparar ou ressarcir o dano sofrido pela vítima em face
da infracção penal, tendo a natureza de multa reparatória, assumindo assim a responsabilidade
ressarcitório e não patrimonial ou criminal.
O valor da multa é fixado pela sentença condenatória pelo juiz da causa,
observando o valor mínimo e máximo fixado, previsto na alínea b) do artigo 63 do Código Penal,
tendo em conta o valor do prejuízo da vítima. Poderá, de acordo com as circunstâncias do caso,

73
SHECARIA, Sérgio Salomão e outro. Pena e Constituição – aspectos relevantes, Págs.19-20.
74
DIAS, Jorge de Figueiredo, Comentário Conimbricense do Código Penal, Pág. 187.
75
Idem. Pág. 189.
33
agravantes ou atenuantes, o grau da culpa, a situação económica do condenado, determinar a
forma de pagamento.
A pena de multa alternativa deve ser proporcional a pena de prisão correspondente
e dos proventos do condenado. Contudo, a multa a ser aplicada deve ser fixada tendo em conta,
"a situação económica do condenado, de maneira que o seu quantitativo, dentro dos limites
legais, constitua pena correspondente à culpabilidade do delinquente" (artigo 63 e ss do Código
Penal)76.
À luz do artigo 63 e ss do Código Penal, a multa é uma pena fixa, pois admite
graduação da respectiva pena. Ao se fixar o quantitativo do valor da multa a se pagar, esta deve
ser canalizada aos Cofres do Estado como forma de reparar o dano ou prejuízo da infracção.
2.4. Processo
Para entendermos o que é processo penal é necessário primeiro buscar o
verdadeiro sentido de processo ou seja saber o que é um processo efectivamente. Segundo
TIMBANE,‘Etimologicamente processo é uma palavra latina “procedere” pro+cedere que
significa «avançar para», «caminhar para»,’ ou conjunto de medidas tomadas com finalidade de
atingir determinados objectivos77. A palavra processo, tem várias definições, mas oque nos
interessa é a palavra processo no âmbito do Direito.
TIMBANE afirma que: do ponto de vista do direito, processo é uma acção
judicial, a sequência de actos predefinidos de acordo com a lei, com o objetivo de alcançar um
resultado com relevância jurídica. Do ponto de vista técnico-jurídico, processo é uma sequência
de actos destinados á justa composição, por um órgão imparcial de autoridade [o tribunal], de
conflito de interesses ou litígio78.
A palavra processo é um termo que pode ter vários sentidos, pode-se referir a
processo um conjunto de actos, como também de um litígio pendente em um tribunal (tenho um
processo pendente em um tribunal), onde a palavra processo é usada como sinônimo de causa ou
demanda. Mas também pode se falar de processo de fabricação de qualquer produto, etc.
Podemos enfim, falar em processo como um conjunto dos actos a praticar em juizo na

76
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro, Lei de Revisão do Código Penal, in
Boletim da República, I série, n.° 248.

77
TIMBANE, Tomás, Lições de Processo Civil I. Pág. 57.
78
Idem. Pág. 57.
34
propositura e desenvolvimento das acções, considerando que tal actividade devem ser observadas
determinadas regras79.

2.4.1. Formas do processo penal


Após a entrada em vigor do novo Código de Processo Penal, aprovado pela Lei n°.
25/2019, Lei de Revisão do Codigo de Processo Penal os processo passaram a reger-se da
seguinte forma: de acordo com o n°. 1 do artigo 305º do CPP, os processos podem ser comum ou
especial. Aplicam-se ao processo especial os casos expressamente designados na lei, e aplicam-
se o processo comum, todos os casos a que não corresponda processo especial (n°. 2 do artigo
305º do CPP)80.
2.4.1.1. Forma do processo especial
São processos especiais (art. 306 do CPP):
 O processo sumário;
 O processo sumaríssimo;
 O processo por difamação, calúnia e injúrias; e
 O processo de transgressões.
2.4.1.1.1. Processo Sumário
Conforme reza a luz do n°. 1 do artigo 420º do CPP, “São julgados em processo
sumário os detidos em flagrante delito por crime punível com pena de prisão cujo limite máximo
não seja superior a 5 anos, quando a detenção tiver procedido qualquer autoridade judiciária ou
entidade policial e a audiência se iniciar no máximo de 48 horas...”81.
2.4.1.1.2. Processo Sumaríssimo
Dispõe o artigo 431º do CPP, “Em caso de crime punível com pena de prisão não
superior a um ano, ainda que com multa, ou só com pena de multa, e se o procedimento não
depender de acusação particular, o Ministério Público, quando entender que ao caso deve ser
concretamente aplicada pena remete a participação ou auto de notícia ao tribunal competente
para julgamento em processo sumaríssimo”82.

79
Ibidem. Pág. 63.
80
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei Nº 25/2019 DE 26 de Dezembro que Aprova o Código de Processo Penal,
in Boletim da República.
81
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei Nº 25/2019 DE 26 de Dezembro que Aprova o Código de Processo Penal,
in Boletim da República.
82
Idem.
35
2.4.1.1.3. Processo Por Difamação, Calúnia e Injúria
São processos especiais relativos a infracções que têm de comum alguém imputar
a outrem factos ofensivos de sua honra e consideração. Consoante o agente se dirija a terceiros ou
directamente ao ofendido, assim teremos a difamação ou a injúria83.
Nos termos do artigo 436º do CPP, “os processos por difamação, injúrias e
calúnia, seguirão termos do processo comum, com as especificidades previstas nos artigos
seguintes”. Neste caso a própria lei remete um a tramitação de um processo especial aos termos
do processo comum, não havendo neste caso uma contradição ou contrariedade, pois a própria lei
processual já estabelece que os processos especiais podem ser regulados pelas normas próprias,
pelas normas gerais e comuns, em tudo quanto não estiver prevenido numas e noutras, observar-
se-á o que se acha estabelecido para o processo comum, nos termos do n°. 3 do artigo 305º do
CPP.
2.4.1.1.4. Processo de Transgressão
Prevê o artigo 441º do CPP, que: “Serão julgados em processo de transgressões
as contravenções punidas com multa ou pena de prisão e multa, qualquer que seja a disposição
legal em que estejam previstas, bem como as transgressões a regulamentos, editais, posturas ou
a quaisquer disposições que, atendendo à entidade que as formula, devam qualificar-se de
regulamentares”84.
2.4.2. Forma do processo comum
Prevê a parte final do n°. 2 do artigo 305º do CPP, que: “o processo comum é
aplicável a todos os casos a que não corresponda processo especial” sendo o processo comum
neste caso, o mais amplo e abrangente comparativamente aos processos especias85.

2.5. Princípios do Direito Processual Penal


2.5.1. Conceito
Existe uma clássica diferenciação feita por J. J. Gomes Canotilho entre regras e
princípios, os quais são espécies do gênero normas jurídicas. É assim que o autor afirma que a
Constituição é um sistema aberto de regras e princípios, ou seja, a Constituição, norma
fundamental, seria o gênero e as regras e os princípios suas espécies.

83
Ibidem.
84
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei Nº 25/2019 DE 26 de Dezembro que Aprova o Código de Processo Penal,
in Boletim da República.
85
Idem.
36
Essa diferença entre regras e princípios, embora atualmente seja criticada por
alguns constitucionalistas, é muito útil para o nosso estudo de direito processual penal.
Os princípios, como o próprio nome já diz, são o início, representam os valores fundamentais,
fundamentos primordiais de um determinado ramo do direito.
Veja a seguinte definição: Podemos didaticamente, dizer que princípios de direito são normas de
caráter geral, que se constituem em diretrizes do ordenamento jurídico e exigem sua optimização,
possibilitando um balanceamento entre valores e interesses86.
As regras, por outro lado, tem um grau de abstração menor e por causa disso elas
não podem conviver em caso de colisão. Assim, nessa situação, em que duas regras colidem em
um mesmo ordenamento, uma deverá prevalecer sobre a outra. No direito penal, essa análise
ocorre por intermédio dos princípios da especialidade, temporariedade, entre outros.
As regras costumam usar a fórmula “se... então”, ou seja, existe uma previsão de
uma conduta pelo legislador, e a previsão de uma possível consequência à violação da regra. O
direito penal, em sua parte especial, no que diz respeito às normas penais incriminadoras,
costuma usar as regras, segundo a fórmula de preceito primário (conduta típica) e preceito
secundário (sanção penal).
Em relação aos princípios, caso haja uma aparente colisão entre eles, também
chamada de colisão de direitos fundamentais, não se obedece à regra do tudo ou nada, mas haverá
uma ponderação dos princípios, devendo prevalecer um deles à luz do caso concreto, sem que
ocorra a exclusão do outro princípio. Os princípios, portanto, possuem um grau maior de
abstração em relação às regras. Os princípios possuem natureza normogenética, ou seja, são a
origem, a gênese das demais normas87.
Assim, por exemplo, quando se aborda o princípio da publicidade, o legislador
constituinte traz o preceito de que todos os atos judiciais serão públicos, mas não traz nenhuma
consequência à sua violação, utilizando, portanto, uma fórmula aberta.
Os direitos fundamentais, com sua natureza principiológica, ou seja, constituem
princípios e não meras regras, não possuem caráter absoluto, isto é, nenhum direito fundamental é

86
PACHECO, Denilson Feitosa. Direito Processual Penal: teoria, crítica e práxis. Pág. 155.

87
Diniz, Geilza. Direito Processual Penal. Pág. 86.

37
absoluto, do que decorre que eles podem ser restringidos à luz do caso concreto, desde que não se
esvazie o princípio, ou melhor, que não se viole o núcleo essencial do princípio.
O direitos fundamentais do acusado, no processo penal, são previstos
especialmente na Constituição, possuindo natureza principiológica e assim se diferenciando das
regras.
Em suma, é possível concluir que possuem maior grau de abstração, natureza
normogenética (dão origem a outras regras e princípios) e em caso de colisão não se aplica a
lógica do tudo ou nada (comum às regras), devendo o conflito ser solucionado apenas no caso
concreto, segundo a técnica de ponderação dos valores. Como todo direito fundamental, são
relativos e podem ser restringidos desde que não se viole o seu núcleo essencial.
Os princípios têm, especialmente, três possíveis funções:
 Fundamentadora: constituem fundamento de validade de outras normas jurídicas,
possuindo assim eficácia diretiva de outras normas;
 Interpretativa: orientam a interpretação das demais normas jurídicas, por serem valores
fundamentais do ordenamento jurídico e, em especial, do ramo do direito a que se
relacionam;
 Supletiva: os princípios podem ser utilizados, como regra geral, para suprir ou integrar as
lacunas do direito. Assim, o art. 12 do Código de Processo Penal dispõe88.

2.5.2. Princípio da Oficialidade


Segundo esse princípio, a iniciativa e a prossecução processual pertencem ao
Estado.
Porém, o Estado não tem unicamente a pretensão penal material, mas, também, o
direito e o dever de perseguir criminalmente os criminosos e realiza a sua pretensão por si
mesmo, isto é, sem consideração pela vontade dos ofendidos, diz-se que o Estado intervém ex-
officio em todos os factos puníveis, conforme artigo 52 e ss do Código do Processo Penal, o que
significa que atribuem ao Ministério Público a plena legitimidade para promover o processo
penal89.

88
Diniz, Geilza. Direito Processual Penal. Pág. 86.
89
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei Nº 25/2019 DE 26 de Dezembro que Aprova o Código do Processo Penal,
in Boletim da República.
38
Estabelece GUEDES VALENTE, “o princípio da oficialidade ganha alcance que,
hoje, o caracteriza, considerando os particulares como meros auxiliares subordinados do
Ministério Público, que passam a ser assistentes em vez de partes acusadoras”90.
Consagração do princípio da oficialidade, determina que o Ministério Público
adquire notícia do crime por conhecimento próprio, por intermédio dos órgãos de Polícia
Criminal, ou então mediante o mecanismo da Denúncia, e competindo-lhe, em especial, receber
as denúncias, as queixas e as participações e apreciar o seguimento a dar-lhes, cabendo também
ao MP a direcção do inquérito e decidir pela dedução da acusação e sustentá-la efectivamente na
instrução e no julgamento.
O princípio da oficialidade funda-se também na promoção de uma justiça penal
isenta de quaisquer arbitrariedades e da influência quer directa como mediática dos detentores do
poder económico, social, religioso e político. Nesta ordem de ideia, a justiça penal tem de se
fundar em valores e princípios estritamente corolários e enformadores da ideia de justiça tais
como: igualdade, imparcialidade, independência, liberdade, proporcionalidade, solidariedade e
respeito pela personalidade individual91.
Destaca CLAUS ROXIN, “o princípio da oficialidade é consequência da
concepção do direito penal como instrumento de controlo social pelo Estado dos seus habitantes e
surgiu na Europa Continental com a formação e fortalecimento do poder Político Central.
Segundo o autor, com essa transformação política, a composição transformou-se numa pena de
Direito Público para cuja imposição se organizou um procedimento estatal de prossecução
penal”. A inquisição significou, politicamente, a transferência para um poder central do controlo
social sobre os súbditos para conservar o tipo de organização comunitária, no Estado Absoluto o
princípio da oficialidade é elevado ao extremo, não obstante a transformação do direito penal
pelo liberalismo do século XVIII, o princípio da oficialidade até aos nossos dias, embora com
excepções relevantes”.
À actual concepção de Estado, prosseguindo a tarefa e o dever de administrar e
realizar a justiça penal, permite que se retire do livre arbítrio dos particulares a aplicação das
reacções penais aos casos concretos, sendo aquela revestida de carácter solene e público, e o
princípio da oficialidade promove um processo penal público, extinguindo-se a privatização

90
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo Penal. Pág. 238.
91
Idem. Pág. 238.
39
extrema do processo penal como fruto do princípio da acção popular do direito Romano, apesar
de não se ter afastado quer deste instituto quer do instituto de acusação privada, que, ainda hoje,
funcionam como ponto de partida para a promoção penal quando a natureza do crime não é
pública.
Entretanto, a iniciativa e a prossecução processual, ao ser cometida a um ente
público, o qual tem, sob pena de nulidade, de fundamentar a suas decisões, visa também em
segundo plano a transparência do processo, que é público e, necessariamente, se credibiliza,
evitando-se que a efectiva aplicação da justiça penal caia no livre arbítrio dos particulares. Desta
feita, a arbitrariedade é o trilho para o derrube da sociedade que se edifica em valores e princípios
fulcrais como o da justiça, devendo pois o Estado assumir um papel equilibrador e de superação
das desigualdades geradas pelo arbítrio92.
2.5.2.1. Limites e Excepções ao Princípio da Oficialidade
O princípio da oficialidade tem limitações, derivadas atendendo a natureza do
crime, que restringe a legitimidade de promoção processual. Nos crimes de natureza semi-
pública, o impulso da investigação penal depende da apresentação de queixa por parte do titular
dos interesses em que a Lei quis proteger com a incriminação ou por outras pessoas93.
Segundo GERMANO MARQUES DA SILVA, “por várias razões, alguns crimes
só são perseguidos criminalmente se certas pessoas se apresentarem queixa, isto é nos crimes
(Semi-públicos e particulares), e prosseguirá para a fase seguinte o julgamento se deduzirem
acusação particular (crimes particulares)”. Defende o autor, “as razões para este condicionamento
do exercício da acção pelo Ministério Público são de várias ordens. Umas de índole pragmáticas,
por se entender que se os ofendidos ou quem os represente se desinteressarem da perseguição
penal não se justifica a intervenção do Estado, no interesse dos próprios ofendidos, outras, por se
entender que o processo e sua publicidade podem agravar mais a ofensa do que repará-la”94.
Existem crimes de natureza particular, aqueles em que o ofendido ou outras
pessoas têm que se constituírem assistentes e deduzirem a acusação particular.Cabe ao Ministério
Público proceder oficiosamente a quaisquer diligências que entender indispensáveis à descoberta
da verdade e estiverem dentro da sua competência, pode participar em todos os actos processuais
em que intervier a acusação particular, acusa conjuntamente com esta e recorre automaticamente

92
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo Penal. Pág. 238
93
MARQUES da SILVA, Germano. Direito Processual Penal Português. Pág.82.
94
Idem. Pág. 82.
40
das decisões judiciais uma vez que a acusação do Ministério Público é facultativa. Porém, Os
Crimes Semi-públicos são uma limitação ao princípio da oficialidade, na medida em que somente
limitam o início da investigação, cabendo ao Ministério Público a decisão, que é autónoma de
qualquer decisão do ofendido ou de outras pessoas, de submeter ou não a julgamento a infracção,
enquanto os Crimes Particulares são uma excepção ao Princípio da Oficialidade uma vez que se
encontra na esfera do particular a decisão de se investigar ou não o Crime e, ainda, a decisão de o
submeter ou não a julgamento95.
As limitações ao princípio da oficialidade protagonizadas pelos crimes de natureza
semi-pública “fundamentam-se na razão de ser e na essência da própria conduta desviante, que,
apesar de violar bens jurídicos relevantes e fundamentais da comunidade, não atingem directa e
imediatamente aquela de tal modo que lhe insira a necessidade da mesma reagir contra o agente
da conduta, prevalecendo assim a sua insignificância e a decisão do arguido de «fazer valer a
exigência de retribuição». Portanto, a excepção ao princípio da oficialidade, tem por objectivo
evitar que se promova um processo «contra ou sem a vontade do ofendido que poderá ser
inconveniente ou mesmo prejudicial para os interesses dignos de consideração, porque
estreitamente relacionados com a sua esfera íntima e familiar, concedendo o legislador a
prevalência aos interesses dos particulares, ficando protegido de vexames e opiniões
estigmatizantes e de proscrição”.
O princípio da oficialidade deve reger-se pelos princípios da legalidade, isenção,
de objectividade, de colaboração com o Tribunal na descoberta da verdade e por conseguinte a
realização do direito, cujas decisões estão implicadas a fiscalização hierárquica e judicial,
consideramos ser, um garante dos direitos, liberdades, e garantias do arguido. Desta feita, o
princípio da oficialidade funciona como garante e estimulador de alcance da paz jurídica que será
materializada e consolidada com uma acção penal independente e imparcial, que impede a
vingança privada e a violência.

2.5.3. Princípio da Legalidade e da Oportunidade.


2.5.3.1. Do Princípio da Legalidade
Este princípio encontra fundamento em artigo 1 do Código Penal96.

95
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo Penal. Pág. 242.
96
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro, que Aprova o Código Penal, in Boletim
da República.
41
Como correlativo do princípio da oficialidade, que traduz no monopólio de
poderes do Ministério Público para a abertura oficiosa do processo, é o princípio da legalidade,
segundo o qual o Ministério Público deverá proceder sempre que sejam observados os
pressupostos jurídico-factuais da incriminação e processuais da acção penal.
Destaca GERMANO MARQUES DA SILVA, “tenha-se, porém, em atenção que
o princípio da legalidade pretendendo afastar a discricionariedade do Ministério Público, não é de
realização automática, na medida em que implica a formulação de juízos por parte do Ministério
Público, por começar desde logo sobre a própria qualificação do crime, e depois no que tange a
suficiência dos indícios de se ter verificado crime e de quem foi o seu agente e sobre outros
pressupostos processuais. Entretanto, esses juízos são, porém, apenas de subsunção dos factos à
lei; desde que deva promover-se o processo, o Ministério Público não pode deixar de promover
sob pena de arguir a ilegalidade de actuação, de omissão de um dever, que pode mesmo constituir
crime de denegação de justiça”97.
Continuando com o Autor, “entende-se a grande importância que assume na
estrutura do processo a possibilidade de controlo da actuação do Ministério Público para a
fiscalização da legalidade da sua actuação no processo, controlo que pode ser feito por intermédio
de dois mecanismos: Hierárquica, uma, Judicial outra. Sendo a Magistratura do Ministério
Público, uma Magistratura hierarquizada, dos seus actos é possível reclamar hierarquicamente
para o superior hierárquico e este pode intervir também oficiosamente, é ainda possível a
Fiscalização Judicial, em certos casos, como sucede, com requerimento para a abertura da
instrução pelo assistente relativamente aos factos objecto da notícia do crime dos quais o MP não
tiver deduzido acusação”.
A análise sobre o valor de cada um dos sistemas da legalidade ou da oportunidade
é de origem clássica e permanece actualmente, pelo que o princípio da legalidade seria no
entendimento de uns o que corresponderia à natureza do processo penal, na medida em que à
“vontade imperativa da lei não deve sobrepor-se a apreciação casuística da utilidade da mesma
por parte do Ministério Público”, além de que seria uma garantia de igualdade perante a lei e o
factor de prevenção geral. Para outros, consideram que o princípio da oportunidade seria

97
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Pág. 83.
42
aconselhável por razões de operacionalidade dos tribunais, por facilitar a melhor individualização
da perseguição penal e também a uma melhor realização dos fins do Direito Penal98.
“Ao Estado cabe a perseguição oficiosa dos crimes como dever de administração e
realização da justiça penal, que apenas alcançam-se quando só e apenas são condenados os
culpados e não os inocentes. Face a actual estrutura do processo, em obediência ao princípio do
acusatório, determina que actuação dos operadores judiciários seja oficiosa, pelo que essa
actuação esteja subordinada ao princípio da legalidade, traduzindo-se na obrigatoriedade do
Ministério Público promover o processo penal após a notícia da ocorrência de um crime dará
sempre lugar a abertura do inquérito e de deduzir a acusação, se, no decurso do inquérito, tiverem
sido recolhidos indícios suficientes de se ter verificado crime e quem foi o seu agente”99.
O princípio da legalidade, como extraordinária expressão de justiça, consagrado
pela Lei positiva Alemã em 1877, “impele a intervenção obrigatória do Ministério Público nas
situações em que sejam verificados os pressupostos jurídico-factuais da incriminação e
processuais do exercício da acção penal. Portanto, Não é suficiente a notícia do crime para que o
inquérito seja aberto, nem basta que se tenham recolhidos indícios suficientes que determinaram
a verificação do crime e quem foi o seu agente, é imprescindível que ao Ministério Público lhe
assista a legitimidade da acção penal, o que é indiscutível quando o crime é público, dependendo
de denúncia quando o crime é semi-público, e também dependendo de denúncia e de acusação
particular quando o crime for de natureza particular”100.
O princípio da legalidade impõe que o Ministério público “actue quando estiverem
presente os pressupostos da legitimidade da sua actuação, cabendo-lhe, desta forma, o dever de
investigar e o dever de acusar, essa imperiosa obrigação de promoção e prossecução processual
nesta vertente, tem como consequência inevitável a indisponibilidade não só do objecto do
processo, mas também do próprio processo, porque a acusação pública não poder ser retirada a
partir do momento em que o tribunal é chamado a decidir sobre ela. Realça-se também, que o
princípio da legalidade acarreta necessariamente o Princípio da Imutabilidade - na medida em
que impossibilita consequentemente a renúncia desistência da acusação, bem como quaisquer
negociações que envolvem ao seu conteúdo”101.

98
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Pág. 83.
99
Idem. Pág. 84.
100
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Págs. 83 – 84.
101
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo Penal. Pág. 206.
43
A consagração do princípio da legalidade merece aplausos no sentido de que ela
preserva um dos fundamentos essenciais do Estado de Direito, enquanto põe a justiça penal a
coberto de suspeitas e de tentações de parcialidade e arbítrio, evitando o surgimento de
influências externas, da ordem mais diversa, na administração da justiça penal e o
desaparecimento da confiança da comunidade na incondicional objectividade daquela
administração. Todavia, a obrigatoriedade da fundamentação das decisões e do exame crítico das
provas que serviram para a convicção do tribunal, aparecem como nobres guardiões do princípio
da legalidade.
O princípio da legalidade, como garantia jurídica de que os cidadãos se podem
arrogar como defesa contra os arbítrios estatais, impõe a igualdade da aplicação do direito,
máxima consagrada no texto constitucional (artigo 2 CRM)102. Ao titular público da promoção
processual impõe-se que “exerça os seus poderes que lhe são conferidos pela Lei, sem atentar no
estado ou nas qualidades da pessoa, ou nos interesses terceiros” ou seja, todo o facto passível de
punibilidade terá de ser investigada independentemente das análises de conveniência no que toca
ao seu agente, melhor, a promoção e a prossecução penal estão limitadas a considerações pura e
objectiva.
O princípio da legalidade não significa, que a realização da justiça penal no caso,
tenha que passar necessariamente pela submissão a julgamento de todos quantos sejam indiciados
pela prática de um crime, não o impõe os textos constitucionais e as mais modernas correntes
doutrinárias aceitam que a tutela dos bens jurídicos penalmente protegidos e a ressocialização dos
delinquentes seja alcançada, em certos casos por outros meios adequados que sejam diferentes
das penas criminais ou a necessária submissão a julgamento, por mais que sejam verificados os
pressupostos legais da acusação. Do ponto de vista da função de garantia do princípio da
legalidade impõe-se através das ideias do Estado de Direito, sendo o enquadramento e instituinte
limitação jurídica do poder103.
Neste contexto, o princípio da legalidade, enquanto garantia do cidadão isto é
(limitação) e enquanto legitimação normativa - constitucional do ius puniendi, cujas acções
estatais, de índole preventiva da polícia e repressiva entregue ao Ministério Público, encontram a

102
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei nº 1/2018 de 12 de Junho _ Revisão Pontual da Constituição da
República de Moçambique.

103
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo Penal. Pág. 206.
44
sua legitimidade positiva ou negativa na Constituição, dum modo especial na defesa e garantia
dos direitos e liberdades fundamentais pessoais do cidadão, assume-se como medula do princípio
do Estado de direito assente na juridicidade, na constitucionalidade e nos direitos fundamentais,
que se afirmam como fruto dos valores político-criminais da sociedade104.
O princípio da legalidade no plano político-criminal, não se esgota na previsão
legal do tipo legal de crime ou no meio de obtenção de prova, impõem-se uma relação de
legitimidade e de eficácia dentro do quadro dogmático jurídico - criminal, não esgota-se na
existência de um texto que defina previamente a infracção e sanção a que se chama “legalidade
formal”, impõe-se a precisão do texto que incrimina e sanciona, denominada “Legalidade
Material”. Esta precisão implica sobretudo a existência de conformidade constitucional do texto,
desde a Necessidade, a Subsidiariedade, a Indispensabilidade, a Proporcionalidade, a Adequação,
a Exigibilidade, e Proporcionalidade stricto sensu, a Eficácia, bem como a máxima de “última et
extrema ratio” da opção pela incriminação e da sanção da conduta aos pilares do Estado de
Direito Democrático, efectivando-se assim neste sentido o respeito da dignidade da pessoa
humana e vontade popular105.
Fala-se de uma legalidade que na linha de GUEDES VALENTE, “englobe o
respeito pelos princípios da intervenção mínima do Direito Penal, “assim como da afirmação do
seu carácter fragmentário na tutela dos bens jurídicos” na opção da criminalização de uma
conduta ou comportamento humano, desdobrando-se em necessidade, subsidiariedade,
indispensabilidade, dogmática que respeite os valores e preposições de cariz político -criminais
constitucionais e supra constitucionais”106.
Sublinha JOSÉ DA COSTA PIMENTA, o princípio da legalidade e o princípio da
oportunidade “têm por âmbito de incidência, a função decisória de introdução ou não introdução
do feito em juízo, relevada pelos termos acusar e não acusar107. Introduzir o feito em juízo, é, pois
activar e requerer a intervenção dos juízes nos casos concretos, nessa medida, o titular desse
poder tem de decidir a questão de não propor ou de propor ao tribunal a apreciação de um tema à
realização de uma pretensão punitiva do Estado”. Para o Autor, “o princípio da legalidade do
ponto de vista Técnico - Jurídico, tem sido justificado através de várias considerações, assim,

104
Idem. Pág. 206.
105
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Pág. 90.
106
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo Penal. Pág. 140.
107
PIMENTA, José da Costa. Processo Penal Sistema e Princípios. Pág. 207.
45
quanto à sua incidência sobre o impulso inicial do processo, isto é, sobre a operação de
instauração do mesmo”:
a) “Actua como prevenção geral - Todos os prevaricadores ficam a saber que serão apuradas
as suas responsabilidades, tendo necessariamente de prestar contas à justiça formal”;
b) “Constitui exigência do princípio omnibus lex una- Significando que, todos são iguais
perante a lei, afastando-se a ideia de alguns serem mais iguais”;
c) “Configura uma garantia contra o arbítrio estatal e uma justiça politizada, neste sentido, o
Ministério Público, titular da promoção processual, fica, por um lado, a coberto de
pressões externas; por outro lado, não poderá, por injunção interna do Governo abafar
certos casos polémicos, ou favorecer alguns criminosos altamente colocados”.
Defende o autor, no que concerne ao impulso sucessivo, também, têm sido destacadas
pelo menos duas razões a favor do princípio da legalidade que são:
1) “Projecção externa de uma imagem de imparcialidade dos tribunais, pondo a justiça e o
seu sistema a coberto de suspeitas, numa operação de relações públicas”;
2) “Garantia de independência das jurisdições de instrução e julgamento, sendo apenas estas,
e não o promotor do processo, pode pôr fim à causa, pronunciando as decisões legalmente
cabíveis no seguimento de uma tramitação processual regularmente conduzida até seu
termo”.
2.5.3.2. Do Princípio da Oportunidade
Como contraponto do princípio da legalidade, surge assim o Princípio da
Oportunidade ou da Conveniência, segundo o qual o Ministério Público pode ou não promover o
processo penal em razão do juízo que formule sobre a sua conveniência108.
Para GUEDES VALENTE, “o recurso a esse princípio tem como fundamentos
originários quer queiramos quer não queiramos aceitar tal fuga para frente, apesar de pôr termo a
outros escopos, como a promoção das finalidades do processo penal tais como: a paz jurídica, a
defesa dos direitos fundamentais e a morosidade da justiça”109.
O princípio da oportunidade, como limite ao princípio da legalidade, poderá ser
uma alternância e útil. Pelo que, não apoiamos como a maior parte da doutrina assim o considera
um princípio geral de oportunidade, deixando a promoção e prossecução da acção penal à
discricionariedade do Ministério Público, estando a criar-se um eminente perigo para os direitos
108
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Pág.83.
109
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo Penal. Págs.212 – 213.
46
fundamentais do cidadão, caso se proclamasse este princípio como um princípio geral do
processo penal.
Segundo GUEDES VALENTE, o princípio da oportunidade apresenta três
concepções que são:
1) A ampla e Institucional - que recorre a todos os modos de implementação de vias de
resolução de litígios na disponibilidade das mais diversas entidades à citar: Governo,
Provedores, Escolas e Igrejas, etc;
2) A Intermédia e Horizontal - que Consubstancia-se na devolução do litígio às partes em
que a composição do mesmo decorre num plano informal;
3) A Restrita e Vertical - que respeita às formas procedimentais e processuais, expedidas e
simplificadas de resolução de litígio, por iniciativa do Ministério Público nos seguintes
moldes: a) enquanto dominus da acção penal (cuja discricionariedade pode abranger a
averiguação e iniciação de inquérito, a promoção investigatória e o destino dos processos
e, consequentemente, regulador do próprio ius puniendi, b) atendendo ao grau menor e
razoável, pelo encaminhamento para as vias processuais disponíveis em alternativa à
dedução da acusação.
A Oportunidade numa perspectiva das entidades que a podem exercer defende o
autor,“poder-se-á reflectir em vários níveis: o da Intervenção Político - Legal, o da Intervenção
Político - Administrativa do Governo, o de um Organismo Específico ou Intermédio, ou o da
Intervenção do Detentor da Acção Penal. Só neste último nível se centram os debates do
exercício de oportunidade. Portanto, neste plano a oportunidade pretende “ser: legal, infra -
sistema, casuística e real, ou seja, retira-se de uma “legalidade aberta que permite uma
oportunidade legalmente admissível”110.
O princípio da oportunidade procura, indirectamente, promover a celeridade
processual, evitando, que uma suspeita que recaia sobre um cidadão inocente permaneça no ar ao
longo de anos, evitando-se esse mal colhem-se vantagens para vítima, para o Estado, e para o
delinquente, esperando-se que o delinquente se ressocialize e reintegre, prosseguindo-se desta
forma os fins de interesse público e o fim primordial da aplicação do ius puniendi. Portanto, a
morosidade processual provoca um sentido de desconfiança e descrédito por parte da vítima que
pretende ver os seus danos reparados, provoca uma estigmatização do arguido, quantas vezes

110
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo Penal. Págs. 221 – 222.
47
inocente, provoca um efeito contrário da prevenção geral: o sentimento de impunidade
generalizado.
Defende GUEDES VALENTE, “o princípio da oportunidade deve ser tido como
uma porta aberta que permita, através de métodos mais vantajosos do que a aplicação da pena,
alcançar os fins que norteiam a qualificação penal de um comportamento ilícito, tendo sempre
por base uma conciliação entre o interesse público e os direitos, liberdades e garantias do arguido.
Seguimos o autor ao afirmar que, a tese de que as medidas de oportunidade pretendem assim
aliviar o sistema formal de controlo, facilitar a socialização do delinquente e diminuir ou eliminar
o efeito estigmatizante que a pena exerce sobre ele e cuja consagração está ainda subordinada ao
entendimento de que o Ministério Público deverá ser tendencialmente o órgão de topo da política
criminal no que tange à pequena e média criminalidade”.
2.5.3.3. Das Manifestações do Princípio da Oportunidade
A nosso ver o código de processo penal moçambicano não consagra o princípio da
oportunidade do processo. Mas pensamos que a implementação no processo penal Angolano do
princípio de oportunidade mitigado como manifestação limitativa do princípio da legalidade
como defende GUEDES VALENTE, poderá “aliviar o sistema formal de controlo, facilitar a
socialização do delinquente e diminuir ou eliminar o efeito estigmatizante que a pena exerce
sobre o arguido, e se alcançará os fins que norteiam a qualificação penal de uma conduta, tendo
sempre por base uma conciliação entre o interesse público e os direitos, liberdades e garantias do
arguido”.
Diferentemente do que sucede no código de processo penal moçambicano, há
códigos de processo penal como por exemplo, português, consagrou “um princípio de
oportunidade mitigado como manifestação limitativa do princípio da legalidade, estipulando-se
uma legalidade aberta ao consenso e à oportunidade, em que a Suspensão Provisória do Processo.
O arquivamento do Inquérito em caso de Dispensa da Pena ou Isenção da Pena, o Processo
Sumaríssimo e a limitação dos poderes jurisdicionais preconizadas pelo Ministério Público
demonstram as manifestações do princípio da oportunidade no processo penal Português”111.
2.5.3.4. Princípio da Acusação
O princípio encontra-se plasmado nos artigos 330 do CPP e ss.

111
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo Penal. Pág. 222 – 227.
48
Estabelece GERMANO M. DA SILVA, “o princípio da acusação limita o objecto
da decisão jurisdicional e essa limitação é considerada sob o ponto de vista da imparcialidade e
de defesa do arguido. Imparcialidade do tribunal na medida em que apenas terá que julgar os
factos objecto da acusação, não tendo qualquer responsabilidade pelas eventuais deficiências da
acusação, e garantia de defesa do arguido na medida em que a partir da acusação sabe de que é
que tem de se defender, não podendo ser surpreendido com novos factos ou novas perspectivas
dos mesmos factos para os quais não estruturou a defesa. Neste contexto, a acusação define o
objecto do processo no plano objectivo e no plano subjectivo, ou seja, define os factos e as
pessoas que há-de ser julgados, limitando desse modo o poder jurisdicional”112.
Destacam MANUEL SIMAS SANTOS, MANUEL LEAL HENRIQUES e JÕAO
SIMAS SANTOS, “sem acusação não há, pois, julgamento e acusação serve não só para
introduzir o efeito em juízo, mas também para delimitar o objecto desse mesmo julgamento, pois,
em regra, será dentro dela e só dela que o poder jurisdicional vai actuar, não podendo, assim,
condenar fatos distintos daqueles lhe foram levados através do petitório afirmando-se assim a
regra da vinculação temática do juiz”.
Descreve que, “o princípio da acusação significa no seu conteúdo essencial, que o
processo deve ser estruturado de modo a que caibam a entidades distintas a função de investigar,
a função de acusar ou de pronunciar, e a função de julgar.
Defende-se, neste quadro, impõe-se desde logo, a existência de uma separação
clara entre a fase de investigação e acusação e a fase de julgamento, pelo que aquele que julga
não se confunde com aquele que investiga e acusa, de forma a garantir a imparcialidade do órgão
julgador, portanto, o julgamento e a anterior investigação feito pelo juiz de julgamento realizar-
se-á apenas se tiver existido acusação, e conter-se-á, em regra, dentro dos limites traçados pela
acusação, não podendo haver condenação por fatos distintos daqueles que lhe foram levados
através dos petitório «Princípio da Vinculação Temática do Juiz», e exige-se, ainda, a garantia do
direito do arguido conhecer a imputação que lhe é formulada”113.
A imparcialidade e objectividade, conjugado com a independência, são condições
indispensáveis de uma autêntica decisão judicial, só estarão asseguradas quando a entidade
julgadora não tenha também funções de investigação preliminar e acusações de infracções, mas
112
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Pág. 86.
113
SANTOS, Manuel Simas; LEAL- HENRIQUES, Manuel; SANTOS, João Simas. Noções de Processo Penal. Pág.
43.
49
antes apenas investigar e julgar dentro dos limites lhe são postos por uma acusação fundamentada
e deduzida por um órgão diferenciado que em regra é o Ministério Público ou um juiz de
instrução.
Estabelece a autora, o princípio da acusação em si mesmo põe termo a três
importantes implicações:
1) “Como primeira implicação diz respeito à imposição de que quem julga não pode, por sua
iniciativa, começar uma investigação tendente ao esclarecimento de um crime e à
determinação dos seus agentes, esta investigação deverá ocorrer numa outra fase cuja
iniciativa e direcção compete a uma entidade diferente”;
2) “A segunda implicação consiste no fato de a dedução da acusação (ou pronúncia, se tiver
tido lugar a fase da instrução) ser pressuposto de toda a actividade jurisdicional de
investigação, conhecimento da decisão”;
3) “A terceira e última implicação consiste em, caiba à acusação definir e fixar, perante o
tribunal, o objecto do processo. Portanto, este corolário do princípio da acusação traduz a
ideia de que o tribunal está vinculado tematicamente ao objecto do processo, e em razão
do princípio do acusatório, não pode, pois, haver julgamento sem prévio exercício da
acção penal, o objecto do processo penal consiste no objecto da acusação, que delimita e
fixa os poderes cognitivos do tribunal e a extensão do caso julgado”.
Estabelece FIGUEIREDO DIAS, “deve-se pois firmar-se que o objecto do
processo penal é o objecto da acusação, sendo este que, por sua vez, vem delimitar e fixar os
poderes de cognição do tribunal (actividade cognitória) e a extensão do caso julgado (actividade
decisória), sendo a este efeito que se chama a Vinculação Temática do Tribunal e é nele em que
se consubstanciam os princípios da Identidade, da Unidade ou Indivisibilidade e da Consunção
do objecto do processo penal, isto é, nos termos dos quais o objecto do processo deve manter-se o
mesmo da acusação até o trânsito em julgado da sentença, uma vez que deve ser conhecido e
julgado na sua totalidade de forma unitária e indivisível, e mesmo quando o não tenha sido dever-
se-á considerar irrepetivelmente decidido114.
Os valores e interesses subjacentes a esta vinculação temática do tribunal, que se
encontra implicada pelo princípio da acusação, é de fácil compreensão quando se pense que ela
constitui a pedra angular de um efectivo e consistente direito de defesa do arguido, sem o qual o

114
DIAS, Jorge De Figueiredo. Direito Processual Penal. Pág.145.
50
fim do processo será inalcançável, que assim se vê protegido contra arbitrários alargamento da
actividade cognitória e decisória do tribunal e assegura os seus direitos de contraditoriedade e
audiência, e quando se pense também que só neste sentido o Estado pode ter esperança de realizar
os interesses de punir só verdadeiramente os culpados e atendendo a economia processual,
perante processos que pressupõe um real direito de defesa do arguido.
Por fim, estabelece GUEDES VALENTE de que, “a identificação do objecto do
processo com a acusação - exigência do processo penal de estrutura acusatória, típica de um
estado de direito democrático e não de um Estado autoritário ou policial ou império dos juízes
constitui-se como uma garantia do cidadão no sentido de que, por um lado, deve saber de que
acusação ter-se-á de defender, de que não será julgado para além do objecto inicial, de que pode
preparar uma defesa pertinente e eficaz, sem surpresas e deslealdades, e, por outro, deve não
frustrar uma averiguação e um julgamento justo e adequados da infracção causada”.

2.5.3.5. Princípio do Contraditório


Este princípio encontra-se fundamentado no artigos 5 e 372 do CPP.
Este princípio traduz o direito que tem a acusação como a defesa, de oferecerem
provas para provarem as suas teses processuais e pronunciarem sobre as alegações, as iniciativas,
os actos ou quaisquer atitudes processuais de qualquer delas. Afirma GERMANO M. DA
SILVA, “o princípio do contraditório traduz-se na estruturação da audiência em termos de um
debate ou discussão entre os pontos de vista da acusação e da defesa, em que cada um dos
titulares é assim chamado a aduzir as suas razões de fato e de direito, bem como a oferecer as
suas provas, a controlar as provas contra si apresentadas e a discretear sobre o resultado de umas
e outras. Portanto, o princípio do contraditório tem grande importância, na medida em que as
provas devem ser objecto de apreciação em contraditório na audiência, ficando assim excluída a
possibilidade de decisão com base em elementos de prova que nela não tenham sido apresentados
e discutidos”115.
Para GUEDES VALENTE, “o princípio do contraditório é um dos princípios
estruturantes do processo penal de modelo acusatório, e visa conduzir o juiz a tomar uma decisão
baseada numa convicção justa sobre a situação sub-judice que será o resultado de uma verdade,

115
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Pág. 86-87.
51
melhor, da verdade processual que é o resultado probatório processual válido, isto é, a convicção
de que certa alegação singular de facto é justificavelmente aceitável como pressuposto da
decisão, por ter sido obtida por meios processualmente válidos”116.
Segundo o autor, o princípio contraditório relativamente aos seus destinatários significa:
1) “Dever de o juiz ouvir as razões das partes (da acusação e da defesa) em relação a
assuntos sobre os quais tenha de proferir uma decisão”;
2) “Direito de Audiência de todos os sujeitos processuais que possam vir a ser afectados pela
decisão, de forma a garantir-lhes uma influência efectiva no desenvolvimento do
processo”;
3) “Em particular, direito do arguido de intervir no processo e de se pronunciar e contraditar
todos testemunhos, depoimentos ou outros elementos de prova ou argumentos jurídicos
trazidos ao processo, o que impõe designadamente que ele seja o último a intervir no
processo”.
No que se refere à fase do julgamento, o princípio do contraditório aparece de
forma mais correcta e mais acabada nos artigos 415 CPP e 423 CPP. Quanto à fase chamada
“acusação e defesa” a contrariedade aparece sobretudo nos artigos 379 CPP e ss: 390 CPP e 398
CPP, sendo ela própria o autêntico fundamento da fase da instrução contraditória (artigos 326 e ss
CPP).
2.5.3.6. Princípio da Investigação
Esse princípio traduz-se no poder - dever que incumbe ao tribunal de esclarecer e
instruir autonomamente, para além das contribuições da acusação e da defesa, o facto sujeito a
julgamento, criando o próprio tribunal as bases importantes à sua decisão117.
Para HENRIQUE EIRAS, “o princípio da investigação respeita à prossecução
processual mas em especial, no que tange a matéria da prova, é também conhecido por princípio
inquisitório, instrutório ou da verdade material. Afirma o autor, não utilizar-se-á a terminologia
princípio do inquisitório, porque poder-se-ia pensar que se está a referir-se ao antigo processo de
estrutura inquisitória, também não utilizar-se-á princípio da instrução, porque poderia induzir em
erro, ligando-se ao termo à fase de instrução, crendo-se que se tratava de princípio aplicável

116
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo Penal. Pág. 133.
117
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. P. 88.
52
somente a essa fase, já no que tange a terminologia verdade material ela é por si adequada na
medida em que, procura-se rejeitar uma verdade meramente formal”118.
Para GERMANO M. DA SILVA, “o princípio da investigação é geralmente
justificado pela procura da verdade material com o que se pretende que o tribunal descubra até
onde lhe for possível, mesmo tomando a iniciativa na produção da prova, a verdade histórica dos
factos submetidos a julgamento”. Segundo o autor, “o princípio da investigação judicial ou
verdade constitui apenas uma opção político - organizatória porque, a intencionalidade da
verdade pode estar presente quer com um julgador activo na indagação, quer em paradigmas
antagónicos de matriz dialéctico - argumentativa”119.
Segundo HENRIQUE EIRAS, o princípio da investigação não é absoluto, sofre
limites e excepções de três ordens, a saber:
1) “Da acusação, porque esta limita o objecto do processo”;
2) “Dos meios de prova, porque o juiz não pode utilizar os meios de provas não permitidos”;
3) “Da exclusão do conhecimento privado do juiz”.
Defende o autor, não parece que se trata de verdadeiros limites ao princípio da
investigação na medida em que: “O princípio da investigação, como o entendemos, não significa
que o processo penal seja dominado pelo princípio do inquisitório, relembramos aqui de que
estamos num sistema em que funciona o princípio do acusatório, uma vez que, o tema do
processo é definido pela acusação e é no âmbito do tema assim delimitado que o princípio da
investigação funciona, o tribunal tem poderes para investigar os fatos mas sem exorbitar ou sair
do âmbito do objecto do processo”.
No que concerne à legalidade dos meios de prova, significa que “não podem ser
utilizadas provas proibidas. Todavia, não estamos perante os limites ao princípio da investigação
«as regras sobre proibições de prova constituem condições de validade processual da prova”.
Quanto a terceira ordem de limites, em que consubstancia a exclusão de
conhecimentos privados do juiz, esta exclusão não pode ser tida como sendo um limite ao
princípio da investigação porque “a decisão só pode assentar com base nas provas constantes do
processo, tendo em atenção as regras gerais de produção de prova não permitem que a decisão

118
EIRAS, Henriques. Processo Penal Elementar. P. 60.
119
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. P.89.
53
seja tomada com base em provas que não foram levadas ao processo e que sobre os quais não foi
concedida às partes à possibilidade de se pronunciarem”120.
Destaca GERMANO M. DA SILVA, “o princípio da investigação tem sido alvo
de críticas pelo facto de representar uma limitação à estrutura acusatória pura do processo,
considerando os críticos que a participação do juiz na produção da prova pode pôr em causa a
igualdade das partes e a imparcialidade do juiz”121.
Considera-se este princípio jurídico que “melhor caracteriza a natureza, a estrutura
e os limites da prova no processo penal, designadamente por contraposição ao processo civil.
Sufraga o autor que, em termos gerais de prossecução processual, existe basicamente dois
caminhos”:
“As partes processuais em litígio, perante uma relação jurídico - material controvertida
em que só a elas diz respeito e que pretendem ver resolvida por via judicial, dispõem do processo,
nele discutem e apresentam as suas razões isto é provas e contraprova, cariando aos autos a
meteria de facto que entenderem oportuna e necessária a servir de base e fundamento à decisão
jurisdicional pedida”.
“O julgador, fica de tal modo, vinculado ao princípio da limitação objectiva da decisão, uma vez
que, apenas apreciará e decidirá com base na matéria de fato trazida aos autos pelas partes. Nesta
vertente, a actuação do tribunal circunscreve-se deste modo, à verdade formal, ou seja, à verdade
querida e comprovada pelas partes”122.
2.5.3.7. Princípio da Suficiência
Este princípio vem consagrado no artigo 13 do Código do processo Penal.
De harmonia com esse princípio, no processo penal resolver-se-ão todas as
questões que interessam à decisão da causa, qualquer que seja a sua natureza. A luz desse
princípio, se para se decidir a questão crime for necessário decidir previamente outra questão que
não seja de natureza penal (civil, laborar, fiscal, etc.) de que aquela dependa, o tribunal penal
decide-a só para efeitos da decisão penal. Por outro lado, este princípio tem excepções derivadas
das denominadas Questões Prejudiciais.
Segundo JORGE DE FIGUEIREDO DIAS, “o processo penal é, em princípio, o
lugar adequado ao conhecimento de todas as questões cuja solução se revele necessária à decisão

120
EIRAS, Henriques. Processo Penal Elementar. Pág. 62.
121
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Págs.88-89.
122
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Pág.101.
54
a proferir, e no iter que conduz a esta decisão podem, na verdade, surgir questões de diversa
natureza que não seja penal, cuja resolução condiciona o ulterior desenvolvimento do iter, dando
a lei a competência ao juiz penal para delas às conhecer, revela a sua intenção primacial de
considerar que o processo penal a si mesmo se basta, que é auto - suficiente”. Portanto, para o
autor, “o princípio da suficiência traduz, ao afirmar que «a acção penal pode ser exercida julgada
independentemente de qualquer outra acção, e no processo penal resolver-se-ão todas as questões
que interessam à decisão da causa qualquer que seja a sua natureza ressalvando os casos
exceptuados na lei”123.
O tema da suficiência remete-nos para as Questões Prejudiciais em processo penal
que vamos nos parágrafos seguintes analisa-las.
Para GERMANO M. DA SILVA, “as Questões Prejudiciais são aquelas questões
jurídicas concretas que sendo embora autónomas no seu objecto relativamente à questão principal
do processo em que surgem e por isso, são susceptíveis de constituírem objecto próprio de um
outro processo, e se vêm a revelar como questões cujo conhecimento é condicionante da decisão
sobre a questão principal. Sufraga o autor, as questões prejudiciais são antecedentes lógicos da
resolução da questão prejudicada, consistem em pressupostos substantivos da própria decisão da
questão prejudicada, fazendo parte do juízo da própria decisão sobre o mérito da questão
principal do processo em que surgem”.
As questões prejudicais distinguem-se das Questões Prévias, pois enquanto estas
têm natureza processual, aquelas têm natureza substantiva, as questões prejudiciais Prévias
condicionam o conhecimento do mérito, enquanto se referem à válida constituição ou
desenvolvimento do próprio processo, como por exemplo: competência do tribunal, legitimidade
da acusação, prescrição do procedimento criminal bem como outras questões de validade e
pressupostos processuais, já as questões prejudiciais condicionam o conhecimento do mérito
porque estão integradas no próprio juízo lógico da decisão da questão prejudicada124.
Para GIL MOREIRA DOS SANTOS, “no decurso da marcha do processo para o
apuramento da própria ilicitude, como da culpabilidade, surgem questões que podendo em si
mesma constituir objecto de um processo autónomo em jurisdição especializada, exigem que o

123
DIAS, Jorge De Figueiredo Direito Processual Penal. Pág. 164.
124
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Págs.124 – 125.
55
julgador penal face a elas tome expressa posição para concluir a existência da infracção ou da sua
imputação a um cidadão”125.
Estabelece GERMANO M. DA SILVA, “tem-se indicado como característica
prejudicial: a Antecedência Lógico - Jurídico, a Autonomia e a Necessidade”. “Fala-se em
Antecedência lógico - jurídico enquanto a decisão da questão prejudicial condiciona logicamente
a decisão da questão prejudicada (ambas questões substantivas), pois que participa no silogismo
desta última, no que tange a Autonomia, é idónea para constituir objecto de um processo
autónomo, e tocante a Necessidade, pelo facto de a resolução prévia da questão prejudicial é
indispensável à resolução da questão prejudicada”. Por exemplo, no crime de violência doméstica
entre cônjuge, a decisão para verificar se o agressor e o agredido são cônjuge é logicamente
antecedente da decisão da existência daquele crime, pois essa decisão é necessária uma vez que
essa qualidade é essencial para existência do crime, a questão sobre se o agressor e o agredido
são ou não cônjuge pode ser objecto de um processo autónomo. Porém, pode-se constatar, que
esta necessidade não significa que a questão prejudicial respeite sempre a um elemento essencial
da factualidade típica ou do crime pode também respeitar a circunstância acidental, sendo embora
ainda útil para a decisão sobre a gravidade do crime e o quantum da pena. As questões
prejudiciais segundo o autor podem agrupar-se em três tipos:
Questões Criminais em Processo Penal; Questões Criminais em Processo não Penal; Questões
não Criminais em Processo Penal.
Não obstante a questão prejudicial ser autónoma e muitas vezes até tem
apresentado natureza material distinta, devendo, por isso, em regra, ser competente para a sua
decisão um tribunal diverso do competente para o julgamento da questão prejudicada,
certamente, por várias razões, nomeadamente a íntima conexão entre ambas as questões e
sobretudo por razões ligadas a celeridade processual, pode ser conveniente a sua decisão pelo
tribunal competente para decidir a questão prejudicada.
GERMANO MARQUES DA SILVA propõe as seguintes possíveis soluções: “A
devolução obrigatória para o tribunal que seria competente para a questão prejudicial, caso ela
não surgisse no processo em que a questão principal é a questão prejudicada”; “Extensão da
competência do tribunal competente para a questão prejudicada à decisão sobre a questão
prejudicial”; “Um sistema misto, isto é, considerando apenas algumas questões prejudiciais de

125
MOREIRA Dos Santos, Gil. Direito Processual Penal. Pág. 68.
56
devolução obrigatória, ou então considerando a devolução dependente da ponderação caso a caso
pelo tribunal competente para decidir a questão prejudicada126. “Caso as questões prejudiciais
forem julgadas em processo diferente, isso acarreta uma prejudicialidade processual, que acresce
à prejudicialidade substantiva, que existe sempre: o que fará que o processo principal seja
suspenso para aguardar a decisão da questão prejudicial no processo próprio. Neste sentido, se as
questões prejudiciais forem julgadas juntamente com a questão prejudicada que delas depende
não se verificará a prejudicialidade processual”.
As questões prejudiciais que dão origem à prejudicialidade processual tomam a
denominação de “Questões Prejudiciais Próprias, ao contrário, as que dão origem a
prejudicialidade e consequentemente à suspensão do processo da questão prejudicada, porque
nele são julgadas conjuntamente as questões prejudiciais e a prejudicada, denominam-se
Questões Prejudiciais Impróprias. Com efeito, a distinção é relevante porque, para além da
suspensão ou não do processo principal, como mais adiante abordaremos, os efeitos da decisão
prejudicial são diversos”.
O código de processo penal moçambicano, apenas se refere directamente às
questões prejudiciais de natureza não penal em processo penal. Quanto a estas questões
prejudiciais afirma o Autor, “é sempre possível ao tribunal penal assumir a competência normal
de outros tribunais. Porém, a questão prejudicial será processualmente imprópria quando o
tribunal assume a faculdade que lhe é atribuída, e no próprio processo da questão prejudicada
resolve a questão prejudicial seja julgada noutro processo, no tribunal normalmente competente,
que até ser mesmo, mas em processo diferente”.
GERMANO M. DA SILVA defende que, “a primeira nota a ter em conta é que a
suspensão do processo-crime para que uma questão prejudicial seja julgada no tribunal
competente a que denomina-se Prejudicialidade Própria só pode ter lugar se a prejudicialidade
se referir a um elemento essencial do crime, em segundo lugar, a suspensão do processo penal só
terá lugar se a questão prejudicial não poder ser convenientemente resolvida no processo penal. A
regra, portanto, é que a questão prejudicial será resolvida no processo penal, será
processualmente imprópria e só se não puder ser convenientemente resolvida nesse processo é
que o juiz pode remeter a sua resolução para o processo e no tribunal próprios”127.

126
MARQUES Da Silva, Germano. Direito Processual Penal Português. Pág. 127.
127
MARQUES da SILVA, Germano. Direito Processual Penal Português. Pág.127.
57
2.5.3.8. Princípio da concentração
O artigo 473 do CPP, consagra o principio da concentração no que toca à sua
manifestação temporal de continuidade da audiência.
Este princípio consagra que, os actos processuais devem sempre que possível
praticar-se em uma só audiência ou em audiências, de tal modo, próximas no tempo que as
impressões do juiz colhidas na audiência não se apaguem da sua memória.
O princípio da concentração está estritamente relacionado com os princípios da
oralidade e da imediação das provas, e o juiz, atingirá melhor a verdade e proferirá sentença mais
justa, se puder decidir a questão, enquanto mantiver vivas as impressões que lhe causaram as
provas produzidas em audiência, por esse motivo, não deveria passar ao estudo e julgamento de
outra questão, enquanto não decidisse a que tem em suas mãos. Por detrás da concentração e da
continuidade estão, ainda, razões ligadas ao prestígio da organização judicial e dos tribunais, a
exigências de prevenção criminal e à necessidade de acautelar os interesses das partes, dum modo
especial, os do arguido, seriamente afectado pela sua situação processual128.
FIGUEIREDO DIAS considera que “o princípio da concentração do processo
penal, exige uma prossecução tanto quanto possível unitária e continuada de todos os termos e
actos processuais, devendo o complexo destes, em todas as fases do processo, desenvolver-se na
medida de possível concentradamente, seja no espaço seja no tempo. Segundo o autor, tomado
neste amplo, o princípio enforma, com efeito, todo o decurso ou prossecução do processo penal e
é, em geral, fundado pela necessidade de que se não suscitem obstáculos ou impedimentos ao
exercício do processo”129.
Este princípio ganha o seu maior e autónomo relevo no que diz respeito à
audiência de discussão e julgamento, ligando-se aí aos princípios da forma, enquanto corolário
dos princípios da oralidade e da imediação. Defende FIGUEIREDO DIAS, “a Concentração
Espacial ou Princípio da Localização - exige que a audiência se desenvolva por inteiro em um
mesmo local, apropriado ao fim que com ela se pretende obter e aonde devem ser trazidos todos
os participantes processuais, isto é, a Sala de Audiência, já, a Concentração Temporal, exige que
uma vez iniciada a audiência ela deve decorrer sem solução de continuidade até final”130.

128
Idem. Pág. 102.
129
DIAS, Jorge De Figueiredo, Direito Processual Penal. Pág.183.
130
Idem. Págs. 183 – 184.
58
59
CAPÍTULO III: ANÁLISE DAS CONTRAVENÇÕES PUNÍVEIS COM
PENA DE PRISÃO NOS TERMOS DO Nº 2 DO ARTIGO 420 E 441 DO
CÓDIGO DO PROCESSO PENAL FACE AO PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE
3.1. A Problemática da Distinção entre Crimes e Contravenções no Direito
Moçambicano
Vejamos, todavia, como se põe o problema da distinção em face do nosso direito
actual.
O nosso legislador adoptou uma classificação bipartida das infracções: crimes e
contravenções. Simplesmente, em vez de indicar a natureza das contravenções pela respectiva
pena ou pelo seu agrupamento ou classificação individual, formulou no n°. 1 do artigo 14º do CP,
Considera-se contravenção o facto voluntário punível que unicamente consiste na violação ou na
falta de observância das disposições preventivas das leis e regulamentos, independentemente de
toda a intenção maléfica.
Ponhamos de parte a expressão “facto voluntario”, só compreensível se se quer
dizer que o facto contravencional deve traduzir-se numa manifestação de vontade.
Negativamente, pois, que não seja um puro acto reflexo.
E analisamos o primeiro elemento do conceito contravenção que o nosso
legislador nos fornece: violação ou inobservância das disposições preventivas.
O que se quer significar com isto?
Deve acentuar-se que todas as penas têm um fim de prevenção, evitar que os
factos criminosos se pratiquem. A isto pode, porém, acrescentar-se que se trata aqui de prevenir
factos que não lesam directamente interesses mas que constituem um perigo dessa lesão.
Só que, por este caminho, ainda não se da uma interpretação exacta à
expressão.Com efeito, há evidentemente crimes de perigo, ou seja, factos que põem em perigo a
ofensas de certos interesses e são como tais punidos. Assim, por exemplo, o caso de tentativa e da
frustração. E nem sequer, por vezes é necessário a verificação concreta do perigo: há crimes de
perigo presumido ou abstracto, como, por exemplo, a falsificação de moeda ou escrito.
Os factos que se procuram prevenir e evitar com a punição das contravenções são
portanto outros. Mas quais?

60
Naturalmente aqueles que constituem um perigo longínquo, remoto, não directo e
imediato, embora concreto ou presumido, da lesão de interesse. E não de certos interesses. Mas
de um grupo de interesses indeterminados.
Deste modo, a nossa lei parece consagrar a expressão formal do critério que faz a
distinção entre crimes e contravenções com base na actividade administrativa do Estado.
Não abrange, porém, a chamada actividade administrativa social, o sub-interesse
propulsor da administração.
Dizendo-se, com efeito, que as disposições preventivas são aquelas que abrangem
a reacção contra factos que constituem um perigo remoto e indeterminado de bens jurídicos,
ficam excluídas aquelas disposições que visam promover o bem-estar e o progresso social, as
normas que punem a distribuição de bens próprios considerados de valor arqueológicos, ou
aquelas outras que fixam a obrigação de respeitar os horários de trabalho.
Sendo assim vem, por outro lado, a mostrar-se que a distinção consagrada no
nosso código não coincide com a distinção entre ilícito administrativo e de justiça no critério de
Goldschmidt. As contravenções, no nosso direito, não coincidem, na verdade, inteiramente, com
os factos que violam as disposições que procuram promover o progresso e desenvolvimento
social, esses mesmos que, justamente, no critério de Goldschmidt, constituem o ilícito criminal
administrativo.
O critério conceitual de ofensa não é porém isoladamente apontado pelo legislador
no n°. 1 do artigo 14º do CP. Este acrescenta:“…independentemente de toda a intenção
maléfica”.
Que se deve entender por isso?
Seriamos tentados a dizer, “primo conspectu”, que esta formulação legal traduz o
recurso do legislador ao critério do elemento subjectivo, que apontamos como elemento de
diferenciação entre os crimes e as contravenções: ao contrário do que se passaria nos crimes, não
seria essencial o dolo como elemento de punição das contravenções.
A interpretação seria, porém, errada. É sabido, com efeito, que a lei prevê a
imputação subjectiva dos crimes por negligência.
Pode então pensar-se em dizer que a intenção maléfica é irrelevante nas
contravenções. Não importa que o agente procedesse com dolo ou não, ou que este fosse mais ou
menos grave.
61
A verdade, porém, é não há nenhuma razão para não graduar a culpa consoante os
seus elementos e graus, tanto nos crimes como nas contravenções.
Uma outra interpretação possível é a de a segunda parte do artigo significar a
consagração, pelo legislador, de um certo critério ético. As contravenções seriam eticamente
indiferentes, e, por consequência, não seria possível, na sua imputação a titulo de dolo, encontrar
qualquer referencia a elementos éticos.
3.2. Tipificação das Contravenções na Legislação Especial
De acordo com o artigo 263º da Lei do Trabalho, aprovada pela lei nº 23/2007 de
1 de Agosto, “contravenção é toda violação ou não cumprimento das normas do direito do
trabalho constantes das leis, instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, regulamentos
e determinações do Governo, designadamente nos domínios do emprego, formação profissional,
salários, higiene, segurança e saúde dos trabalhadores e da segurança social”. Não obstante a
negligência nas contravenções laborais é sempre punível a luz do artigo 264º da Lei do Trabalho.
Neste âmbito do Trabalho, as contravencionais laborais são sempre sancionadas com pena de
multa aos agentes infractores por violação das normas estabelecidas na Lei do Trabalho e as
demais legislação laboral cujo regime sancionatório encontram-se previstos a partir dos artigos
265º, 266º, 267º e 268º todos da Lei do trabalho.
Podemos alastrar os aspectos referentes as infracções contravencionais para o
âmbito ambiental, na qual a nossa Lei do Ambiente aprovada pela Lei nº 20/97 de 1 de Outubro
no seu artigo 27º estabelece o seguinte: “as infracções das contravenções relativas ao ambiente
são de carácter ambiental são objecto de previsão em legislação específica. O que de forma
exclusiva nos remete ao decreto nº 45/2004 de 29 de Setembro que aprova o Regulamento sobre
o Processo de Avaliação do impacto Ambiental, no seu número 5 do artigo 1º define Avaliação
do impacto Ambienta (AIA) como sendo um instrumento de gestão ambiental preventiva que
consiste na identificação e análise prévia, qualitativa e quantitativa dos efeitos ambientais
benéficos e perniciosos de uma actividade proposta. O mesmo decreto antecipa que as infracções
cometidas contra o ambiente contidas neste decreto são sancionadas com pena de multa a luz do
artigo 26º do regulamento, bem como passíveis de serem graduadas seguidamente aos modos
previstos no artigo 27º do referido regulamento, também importa dizer que os valores das multas
estabelecidas neste decreto são actualizados sempre que se mostrar necessário, por diploma

62
ministerial conjunto dos ministros do plano e finanças para coordenação da acção ambiental
conforme reza a luz do artigo 28º do referente decreto.
No âmbito fiscal, olhando para aquilo que são as contravenções tributárias, não
obstando dos outros âmbitos, elas também culminam com pena de multa sob forma de sanção,
isto estabelecido pelo decreto nº 46/2002 de 26 de Dezembro que aprova regime geral das
infracções tributárias.
Em sede do código de estrada aprovado pelo Decreto-Lei nº 1/2011 de 23 de
Março, baseado no seu artigo 137º define que constitui contravenção rodoviária todo facto ilícito
e censurável, para o qual se comine com uma multa, que preencha um tipo legal correspondente a
violação de norma do código de estrada ou de legislação complementar, bem como de legislação
especial cuja aplicação esteja cometida ao INAV. Dito isto implica dizer que as infracções de
natureza contravencional sempre culmina com pena de multa, nos termos dos artigos 138º, 141º e
142º todos do referido código de estrada, que significa pena pecuniária fixada nos termos da lei.
Neste contexto, fácil é de notar que toda a legislação específica no que diz respeito
as infracções contravencionais que naturalmente são as infracções de carácter meramente
administrativas, sempre nos remete a uma pena de multa, que consiste numa quantia determinada
ou a fixar nos termos da alínea a) do n.° 1 do artigo 63º do CP.
3.3. Do Carácter Substantivo da Punição das Contravenções
O Princípio da Legalidade do direito penal assenta na ideia de que também o
direito penal está sujeito a limites que visam evitar uma intervenção do Estado arbitrária ou
excessiva no domínio da definição dos crimes e das penas.
Desta dimensão do princípio da legalidade resulta ainda ser completamente
vedado ao juiz criar instrumentos sancionatórios criminais que não se encontrem expressamente
previstos em anterior lei em sentido formal, por mais louváveis que possam ser os propósitos
jurídico-criminais que o motivem. Neste sentido, posicionou-se muito bem o nosso legislador ao
estabelecer no n.° 2 do artigo 1º do CP que “Não podem ser aplicadas medidas ou penas que não
estejam previstas na lei”.
Na tradicional definição do Direito Penal como norma substantiva assenta-se na
ideia de que o Direito Penal é o ramo do Direito Público que define as infracções criminais e fixa
as respectivas penas e medidas de segurança. Dito de outra forma, é o conjunto de normas

63
jurídicas que ligam certos comportamentos (crimes) a certas consequências (penas e medidas de
segurança). Apoiando-se desta definição, o mesmo podemos dizer quanto as contravenções.
Ora vejamos, o direito penal assim como as demais legislações específicas como
são a Lei de Trabalho, a Lei de Ambiente, a Lei Fiscal, o Codigo de Estrada entre outras, como
normas substantivas, são estas as que prevê e punem as contravenções, não sendo, contudo, esta a
missão do processo penal que tem como função, disciplinar a investigação e o esclarecimento do
crime ou da contravenção em concreto e permite a aplicação da pena ou medida de segurança a
àquele que, com a sua conduta realizou um tipo de crime ou a contravenção.
Todavia, o grande problema nos surge quando o legislador ordinário prevê no n.°
2 do artigo 420º do CPP estabelecendo que “são julgados da mesma forma os autores de
infracções de natureza contravencional puníveis com pena de prisão, quando tenham sido detidos
em flagrante delito” e no artigo 441º que “Serão julgados em processo de transgressões as
contravenções punidas com multa ou pena de prisão e multa, qualquer que seja a disposição legal
em que estejam previstas, bem como as transgressões a regulamentos, editais, posturas ou a
quaisquer disposições que, atendendo à entidade que as formula, devam qualificar-se de
regulamentares”. Ora, conforme entende a doutrina, para que o processo penal realize a aplicação
de uma determinada pena é necessário que antes tal conduta esteja prevista em norma
substantiva, prevendo determinada conduta (contravenção ou transgressão) e consequentemente
estatuindo a sua consequência (a respectiva multa). O que não sucede quanto ao que diz respeito
ao n.° 2 do artigo 420º do CPP, ou seja, temos a previsão de aplicação de uma pena de prisão a
uma infracção contravencional na lei processual penal como norma adjectiva e instrumental, a
qual não encontramos a sua previsão e a respectiva estatuição na norma penal e nas demais
legislações especificas como normas substantivas, contrariando assim a relação de
complementaridade existente entre o Direito Penal e o Direito Processual Penal.
Neste sentido, entendemos nos, que o legislador ordinário andou mal ao
estabelecer na norma adjectiva e instrumental (processo penal) uma pena de prisão a infracções
contravencionais e de transgressão sem antes estabelecer na norma substantiva quais as
infracções contravencionais ou transgressões que se pode cominar uma pena de prisão, não
obedecendo deste modo o principio da legalidade penal que proíbe a aplicação de medidas ou
penas criminais que não estejam previstas na lei, conforme se depreende do n.° 2 do artigo 1º do
CP, até porque, conforme nos posicionamos acima, a lei penal assim como as demais legislações
64
especificas sempre nos remetem as penas de multa quando se trata de infracções contravencionais
e transgressões. E a punição das contravenções e transgressões é prevista pelas normas
substantivas e não pelas normas adjectivas.
3.4. Da Inaplicabilidade das Normas Questionadas Nesta Pesquisa
3.4.1. Inaplicabilidade do n°. 2 do artigo 420º do CPP
Embora o n°. 2 do artigo 420º que depõe: “São julgados da mesma forma os
autores de infracções de natureza contravencional puníveis com a pena de prisão, quando tenham
sido detidos em flagrante delito” remete ainda a um caso específico de processos em que serão
julgados obedecendo a forma de processo sumário, ao qual entendemos nos de que o legislador
ordinário não foi feliz ao estabelecer tal norma uma vez que as contravenções são, no nosso
ordenamento jurídico punidas com pena de multa e não com pena de prisão como se posicionou o
legislador originário.
Entende-se que a pena de prisão é hoje inaplicável às contravenções, nunca
poderão tais infracções determinar a aplicabilidade da forma de processo sumário, que pressupõe
uma prisão em flagrante delito, só possível em relação a infracções punidas com pena de prisão.
O flagrante delito em sentido estrito tem lugar quando o agente é surpreendido na
execução do crime. O seu elemento essencial é a actualidade dos crimes e não a sua visibilidade.
O quase flagrante delito tem lugar quando o agente é surpreendido no local da infracção quando
findou a execução do crime, resultando da sua surpresa a evidência da infracção e do seu autor.
O fundamento da forma de processo sumário reside, precisamente, no facto de o
réu ter sido preso em flagrante delito, pelo que, estando praticamente feita a investigação, pode
ser julgado sumariamente e imediatamente a seguir à prisão, por só assim se manterem as provas
colhidas em flagrante, não sendo o caso das contravenções.

3.4.2. Inaplicabilidade do Artigo 441º do CPP


Prevê o artigo 441º do CPP, que: “Serão julgados em processo de transgressões
as contravenções punidas com multa ou pena de prisão e multa, qualquer que seja a disposição
legal em que estejam previstas, bem como as transgressões a regulamentos, editais, posturas ou
a quaisquer disposições que, atendendo à entidade que as formula, devam qualificar-se de
regulamentares”. Este é um outro caso que, de acordo com o nosso entendimento, o legislador

65
não foi feliz, uma vez que, entende-se que a pena de prisão é hoje inaplicável às transgressões,
atentos ao facto da natureza das suas infracções.
A doutrina apresenta alguma distinção entre contravenção e transgressão.
Contravenções seriam as previstas na lei, transgressões as constantes de regulamentos emanados
do poder regulamentar da Administração, naturalmente que não podemos aceitar esta distinção,
até porque, a própria lei quando fala de transgressões nos remete a contravenções, “… qualquer
que seja a disposição legal em que estejam previstas…” dando assim, a entender que as
transgressões tanto podem ser previstas por regulamentos administrativos bem como por leis nos
termos do artigo 441º do CPP.
Mas será que as transgressões constituem materialmente algo de diferente das
contravenções para o legislador ter tido necessidade de as prever expressamente?
Segundo o ensinamento de EDUARDO CORREIA, as transgressões abrangem as
ofensas ao interesse propulsor da Administração, aos comandos através dos quais a
Administração visa promover a realização da finalidade satulista de propulsão do bem-estar e
progresso social. Por sua vez, as contravenções integram a designada actividade jurídica da
Administração, ou seja a actividade de mera prevenção, abrangendo as ofensas ao interesse
preventivo da Administração que ponham em causa interesses determinados.
Sendo, pois, distintos os conceitos de contravenção e transgressão (embora integradores
do mesmo ilícito) às “transgressões”, por só assim se abrangerem aquelas infracções, que, por
envolverem ofensa ao fim propulsor da Administração, não são subsumíveis ao conceito legal de
contravenção.
Acresce-se ainda, ser inteiramente justificável que a mesma forma de processo abranja as
contravenções e as transgressões “não só porque estão materialmente próximas mais ainda
porque tais delitos aparecem frequentemente previstos e regulados nos mesmos diplomas.
Para finalizar, convêm não confundir o leitor quando nos propomos a defender a
inaplicabilidade das normas acima citadas, pois a nossa defesa cinge-se apenas ao quesito relativo
a aplicação da pena de prisão as infracções contravencionais e transgressões, e não quando são
aplicadas penas de multa, como prevê o nosso ordenamento jurídico, até porque nestes casos o
legislador andou muito bem.

66
Conclusão
Chegados a este momento e percorrido o caminho que havíamos nos
comprometido a trilhar, em gesto de conclusão, na presente pesquisa pudemos concluir o
seguinte:

No que diz respeito a problemática apresentada, ou seja, quanto ao instituto


jurídico das infracções contravencionais a doutrina tanto nacional assim como a internacional é
relativamente escassa, o que de algum modo, ainda que de forma superficial, dificultou ao
pesquisador na elaboração do trabalho.

De uma forma generalizada, Considera-se contravenção o facto voluntário punível


que unicamente consiste na violação ou na falta de observância das disposições preventivas das
leis e regulamentos, independentemente de toda a intenção maléfica. Esta definição adapta-se em
conformidade com o alcance em que se pretende regulamentar nos diferentes ramos de direito,
seja ele o Laboral, Ambiental, Fiscal, Rodoviário entre outros ramos.

No que diz respeito as discrepâncias entre crime e contravenção, sucede o


seguinte: Como o crime, a contravenção é constituída por um facto externo, positivo ou negativo,
isto é, acção ou omissão; e, analogamente ao que sucede com aquele, e preciso, para haver
contravenção, que um diploma legal assim qualifique os factos. Mas, ao passo que o crime só
pode ser declarado punido pela lei, geral ou especial, a contravenção pode sê-lo tanto pelas leis
como pelos regulamentos. Mas não é nisto que reside a diferença essencial e característica entre
crime e contravenção: aquele pode ser meramente culposo. Ela está em que o crime é uma
violação ou falta de observância das disposições repressivas e a contravenção das disposições
preventivas - aquelas as que punem um facto intrinsecamente imoral ou a simples intenção de
fazer mal, suficientemente revelada; estas as que punem um facto, que não é intrinsecamente
imoral, mas que pode ser causa ocasional de dano.

Concluímos ainda que as infracções contravencionais são de natureza meramente


administrativas, uma vez que consistem na violação da lei ou de regulamentos administrativos o
que qualifica-os como ilícitos administrativos.

67
Contudo, respondendo a questão de partida, entendemos nos, que o legislador
ordinário andou mal ao estabelecer na norma adjectiva e instrumental (processo penal) uma pena
de prisão a infracções contravencionais sem antes estabelecer na norma substantiva quais as
infracções contravencionais que se pode cominar uma pena de prisão, não obedecendo deste
modo o principio da legalidade penal que proíbe a aplicação de medidas ou penas criminais que
não estejam previstas na lei, conforme se depreende do n.° 2 do artigo 1º do CP, até porque,
conforme nos posicionamos acima, a lei penal assim como as demais legislações especificas
sempre nos remetem as penas de multa quando se trata de infracções contravencionais.

68
Recomendação

Após uma grande reflexão sobre a problemática em questão, não seria


academicamente ético e correcto não apresentar as recomendações das questões que foram
constatadas, assim sendo, a presente pesquisa não irá trilhar um caminho diferente, neste contexto
apresentamos as seguintes recomendações:

 Que a norma questionada nesta pesquisa (n.° 2 do artigo 420º do CPP) seja derrogada
do Codigo de Processo Penal por violação do principio da Legalidade Penal e por não
ter enquadramento legal nas normas substantivas.
 Que o legislador ordinário seja mais atencioso no âmbito da elaboração das normas de
modo a que possa proporcionar maior coerência legislativa.

69
Bibliografia
 Legislação
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei nº 1/2018 de 12 de Junho _ Revisão Pontual da
Constituição da República de Moçambique.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto-lei n o 47 344 de 25 de Novembro de 1966 – Código
Civil.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro, que Aprova o Código
Penal, in Boletim da República.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei Nº 25/2019 DE 26 de Dezembro que Aprova o Código
de Processo Penal, in Boletim da República.

 Doutrina
ANDRADE, Manuel da Costa, Sobre as Proibições de Prova em Processo Penal, 2ª Edição,
Coimbra Editora, 1992.
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